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Deficiência Intelectual: Fundamentos e Adequações Metodológicas e Curriculares Eliana Nunes Maciel Bastos Artigo científico DEFICIÊNCIA INTELECTUAL: FUNDAMENTOS E ADEQUAÇÕES METODOLÓGICAS E CURRICULARES Eliana Nunes Maciel Bastos* RESUMO O objetivo do vigente artigo consiste em apresentar abordagens teóricas que caracterizam a Deficiência Intelectual (DI) como um transtorno do desenvolvimento intelectual, discutindo sobre os fundamentos e adequações metodológicas e curriculares que compreendem a prática pedagógica com os educandos que possuem a DI. A priori, faz-se os destaques para os aspectos legais, históricos e políticos que envolvem a educação inclusiva no Brasil. Em seguida, os aspectos conceituais da DI são postos de forma geral, aguçando, posteriormente, discussões acerca dos processos de diagnóstico, a investigação das causas e as características e suas relevâncias para a constituição de um ensino inclusivo. Por fim, a prática pedagógica inclusiva é sublinhada, destacando alguns pontos culminantes para que a vivência escolar com o educando DI seja repleta de possibilidades concretas, as quais possam eliminar as barreiras à aquisição da aprendizagem, neste interim, abordam-se as possibilidades de trabalhos inclusivos realizados no Atendimento Educacional Especializado (AEE), e a relevância dos instrumentos inclusivos, tais como adaptação curricular e avaliação inclusiva. O trabalho colaborativo também é destacado como uma possibilidade para constituição de um processo de ensino e aprendizagem menos desigual, mais humano, em que seja propagado a participação efetiva dos profissionais responsáveis mediante a feitura de uma educação que prima pelo desenvolvimento integral do seu educando. Para a fundamentação teórica de tais discussões cita-se autores, como: Alarcão (2000); Mantoan (2003); Freire (2003); Morin (2000), entre outros. Busca-se enaltecer o papel da educação inclusiva na feitura de um processo qualitativo de ensino para a pessoa com DI. Palavras-chave: Deficiência Intelectual. Educação Inclusiva. Educando. Professor. Inclusão. INTRODUÇÃO A compreensão da Deficiência Intelectual (DI) perpassa pelos parâmetros da designação da nomenclatura, a qual se remete para usualidade neste século XXI, denotando, assim, imensas lacunas de luta inclusiva na historicidade da educação brasileira, ou seja, grandes são as inconstâncias mediante a inclusão das pessoas tidas como excepcionais ou com deficiências no decorrer do tempo no Brasil, pois enorme era a exclusão de tais pessoas frente o direito ao estudo, ou mesmo a frequentar uma instituição de ensino. * Mestre em Educação pelo Instituto Federal do Paraná – Campus Curitiba. Professora e Pedagoga no município de Pinhais/PR. Professora em EAD de cursos técnicos, graduação e pós-graduação. E-mail: elianamaciel1982@gmail.com mailto:elianamaciel1982@gmail.com Será uma abordagem histórica e política da educação especial, no Brasil, a fim de sublinhar as características pungentes que permeiam a DI na atualidade. Um primeiro aspecto relevante a tratar é que a DI já foi reconhecida como deficiência mental, retardo, entre outros termos que expressam preconceito disseminados ao léu pelo senso comum, sendo que tais conceitos carregavam as características históricas e políticas de uma determinada época cultural. A DI na atualidade está respaldada nos conceitos revolucionários da educação inclusiva, de que a escola deve se modificar para receber os seus educandos e, não estes se adaptarem à organização da escola. Os processos de diagnóstico da DI, suas causas e características são relevantes para a formação do professor inclusivo, porém, para além deste conhecimento técnico da dita deficiência o professor e professora precisam conhecer a pessoa com DI, suas especificidades como ser humano. A prática pedagógica inclusiva deve ser a premissa de todo o trabalho educativo com o educando DI, buscando sempre estratégias que possam atender suas singularidades, por meio da postura dialógica e amorosa dos docentes. O trabalho no AEE tem a função de complementar e/ou suplementar o ensino regular, deve ser ofertado no contraturno, buscando eliminar as barreiras frente à constituição da aprendizagem dos sujeitos com DI. A adaptação curricular, o processo de avaliação inclusivo e o trabalho colaborativo são explicitados como instrumentos na constituição de uma escola mais inclusiva, na qual seja possível respeitar o educando com DI em sua integralidade. Sem dúvidas, busca-se enaltecer os anseios de uma escola inclusiva contemporânea que valoriza as pessoas em suas essências e, que necessita de professores engajados na feitura de uma escola mais democrática, reflexiva, quiçá mais humana. 1 INFERÊNCIAS LEGAIS, HISTÓRICAS E POLÍTICAS QUE FUNDAMENTAM O SABER ACERCA DA DEFICIÊNCIA INTELECTUAL Na contemporaneidade a inclusão pode ser considerada como um requisito primordial no processo da feitura de uma educação mais igualitária, qualitativa e/ou significativa para a vida dos educandos. Para tanto, sublinha-se os valores da inclusão como ferramentas imprescindíveis na constituição de ambientes educacionais mais democráticos, onde todos os sujeitos, sem exceção, possam desenvolver-se de acordo com suas singularidades. E nessa perspectiva de compreensão inclusiva os saberes sobre a DI são muito importantes para que haja o respeito necessário às pessoas, mediante a realização dos processos de ensino e aprendizagem no contexto da escola. É certo que nenhum profissional da educação possui todas as respostas diante das dificuldades de aprendizagens apresentadas pelas pessoas durante o cotidiano escolar, mas a responsabilidade de compreender as pessoas em suas singulares características, isto é, de fato uma obrigação do professor e professora inclusivos, que respeitam e se preparam constantemente, para atender todos os estudantes em suas reais necessidades de desenvolvimento. O conceito de inclusão construído nas últimas décadas na sociedade contemporânea vem desconstruindo muitos modelos didáticos postos numa história intensa de educação, a qual foi enraizada em pressupostos teóricos e técnicos seletivos, nos quais as pessoas deviam comprovar suas competências culturais, cognitivas, sociais, entre outras, para inserirem-se nos ambientes escolares e continuarem neles. Desta feita, construir e reconstruir ambientes de inclusão em meio a uma educação tão enraizada nos saberes tradicionais, nos quais os professores transmitem o conhecimento exercendo um autoritarismo extremo e, tem sido uma tarefa árdua efetivada nas ambiências escolares contemporâneas, mediante as práticas instauradas, bem como no mundo acadêmico em geral com tantas produções científicas, as quais permeiam as constituições dos educadores e educadoras em toda a nação das últimas décadas, buscando corroborar com a construção coletiva de uma educação inclusiva de fato e de direito, em conformidade com as legislações vigentes no país desde sua democratização constitucionalizada. É mister remeter-se constantemente à Constituição Federal1 de 1988 que promulga a educação como direito de todos, e todos devem ser compreendidos em sua significância inclusiva, igualitária, em outras palavras pode-se sublinhar que a formação docente precisa levar em consideração de maneira incessante toda a conjuntura da inclusão, lembrando que ninguém é igual a ninguém na perspectiva das características de ser humano e, sim deve-se ter igualdade em relação aos direitos na sociabilidade compartilhada por tais seres, no entanto, dentro do processo educativo todos os estudantes devem ser respeitados em suas individualidades, para então, o professor poder valorizar a diversidade natural das salas de aula é, portanto, primordial entender a inclusão como um valor que ressalta a feiturade uma educação menos desigual, que intensifica a qualidade dos processos, promovendo a permanência e êxito2 de todos nos ambientes educativos assim como designa a Carta Magna da democracia do Brasil. Mais especificamente sobre a educação especial inclusiva a Constituição Federal (CF)3 traz em seu artigo 208 a especificação sobre o Atendimento Educacional Especializado (AEE), sublinhando que deve acontecer de forma preferencial na rede regular de ensino, ou seja, que os estudantes com necessidades educacionais especiais devem frequentar as escolas regulares, tendo atendimentos educativos, de acordo com suas necessidades de aprendizagens, tais aspectos levaram a muitas ações de políticas públicas até os dias atuais, visando à formação de professores para o atendimento de tais educandos, bem como a busca por meios que tornassem as escolas regulares acessíveis aos educandos com necessidades especiais. Muitos foram e são os desafios que permeiam esse campo da educação, contendo diversas e complexas contradições, as quais precisam ser desvencilhadas por profissionais dotados de vontade e coragem frente a realização de uma educação menos desumana. Dois anos após a promulgação da CF têm-se a criação da Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990, que trata do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, 1990, 1 Para ler a Constituição Federal de 1988, na íntegra, acesse: <http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/legislacaoConstituicao/anexo/CF.pdf>. 2 O Artigo 206 da Constituição Federal explicita os princípios que deverão ser seguidos na ministração do ensino no Brasil, em seu inciso I destaca a “igualdade de condições para o acesso e permanência na escola.” 3 O Artigo 208 da Constituição Federal em seu inciso III diz que o Estado deve garantir o “atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino.” http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/legislacaoConstituicao/anexo/CF.pdf on-line)4 () que estabelece “diretrizes muito claras acerca dos direitos de tais cidadãos brasileiros, denominando-os como sujeitos de direitos”. Acerca da política da inclusão educacional brasileira destaca-se o artigo 54 que traz o AEE5 em seu teor, destacando que deve acontecer de preferência na rede regular de ensino aos seus estudantes, corroborando assim, com a democratização do ensino inclusivo, tornando mais intensas as discussões e ações acerca da educação especial em todos os aspectos do ensino nacional. Os princípios organizativos que regem a CF estão presentes anos mais tarde na Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDBEN)6. Tal legislação rege toda a educação vigente no país, a qual traz todo um capítulo do seu texto sobre a Educação Especial7 (Capítulo V) deliberando assim várias diretrizes acerca da organização da educação especial no país sob a ótica da educação inclusiva, fato que corrobora com todas as lutas legislativas instauradas em virtude da construção de uma educação mais igualitária para todos os cidadãos. Depreende-se que a Educação Especial é tida como uma modalidade da educação nacional, definição sublinhada na LDBEN, que direciona todas as ações organizativas contemporâneas acerca do atendimento das pessoas que necessitam serem ensinadas de maneira especial, tal inferência é muito importante para a continuidade virtuosa do estudo sobre a DI, lembrando que a pessoa com DI tem o seu atendimento especial legitimado pela carta magna legislativa educacional vigente no Brasil, em outras palavras, é possível afirmar que os documentos legais destacados são imprescindíveis na construção do conhecimento sobre a DI, levando em consideração a importância de que a teoria implica diretamente, na efetivação da prática educacional com os educandos. A LDBEN corrobora com os processos construtivos educacionais que almejam o atendimento democrático e qualitativo para todos os educandos, sem exceção. Salienta-se, ainda, sua grande contribuição para as ações políticas, sociais, institucionais, coletivas que se estabeleceram na sociabilidade contemporânea, com o intuito de traçar melhores caminhos educacionais em prol do ensino a todas as pessoas que necessitam serem atendidas de forma especial nos cotidianos das escolas regulares, por exemplo. Mais recentemente têm-se um outro grande passo na constituição legislativa nacional sobre as pessoas com necessidades especiais que é a Lei n. 13.146, de 06 de julho de 2015, a qual é denominada como a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência)8. Tal legislação chega de maneira concisa nos âmbitos das lutas inclusivas, tanto nos espaços escolares quanto nos sociais afins, porém, traz em si mais legitimação frente as 4 Para ler a Lei n. 8.069/1990, na íntegra, acesse: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm>. 5 O Artigo 54 do Estatuto da Criança e do Adolescente em seu inciso III diz que é dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente o “atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino.” 6 Para ler a Lei n. 9.394/1996, na íntegra, acesse: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm>. 7“Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou Superdotação.” (Artigo 58 da LDBEN do Capítulo V – Redação dada pela Lei n. 12.796, de 2013). 8Para ler a Lei n. 13.146/2015, na íntegra, acesse: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015- 2018/2015/lei/l13146.htm>. lutas instauradas por tantos autores renomados e anônimos no país, os quais acreditam e lutam diariamente, em seus ambientes de atuação para a configuração da igualdade entre os semelhantes que necessitam ser respeitados mediante suas necessidades especiais. Já em seu primeiro artigo o Estatuto da Pessoa com Deficiência sublinha o seu objetivo em promover a inclusão social e cidadã da pessoa com deficiência no Brasil. Em seu capítulo IV sobre o direito à educação os destaques são acerca da qualidade como princípio para a ministração do ensino às pessoas com deficiência, sendo que a educação inclusiva precisa permear todos os níveis e modalidades da educação nacional9. A ordem é aprimorar cada vez mais os sistemas de ensino no país para alcançar uma inclusão plena10, na qual todos e todas, sem exceção, possam ter o seu direito garantido à uma educação de qualidade. É relevante ainda destacar que, no texto desta lei, é defendida a ideia de que deve ser assegurado o sistema inclusivo de educação ao longo de toda a vida da pessoa com deficiência, sob esse ponto de vista urge uma formação ética e constante de todos àqueles profissionais, os quais, lutam e acreditam numa educação como ferramenta para transformação de vidas. Outro ponto de destaque para o estudo das legislações que regem a inclusão contemporânea no Brasil é a Lei n. 13.005, vigente desde 2014, que trata o Plano Nacional de Educação (PNE)11 – traz em sua meta12 número 4 (quatro) a proposta de intensificar o trabalho inclusivo com os estudantes que “possuem deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, assim o PNE corrobora com as diretrizes legislativas nacionais no que diz respeito às lutas em favor da educação inclusiva nas ambiências escolares” (BRASIL, 2004, on-line). O texto da lei utiliza o verbo universalizar, numa conotação de democracia, equidade, respeito supremo às pessoas humanas que constituem os processos educativos, especificamente, a lei trata da população da educação básica nacional. Sobretudo, o PNE em vigência legitima as ações e reflexões realizadas no meio educacional, a fim de que haja consciência coletiva de todos os profissionais da educação frentea realização de um ensino qualitativo de todas as pessoas com necessidades especiais. Isto posto, as legislações sublinhadas neste compêndio têm o objetivo de aguçar a compreensão e a apreensão dos saberes necessários para uma formação docente pautada na feitura de uma educação emancipatória, democrática, em suma inclusiva de todos os partícipes do mundo educacional. 9 Artigo 27 do Estatuto da Pessoa com Deficiência: “A educação constitui direito da pessoa com deficiência, assegurados sistema educacional inclusivo em todos os níveis e aprendizado ao longo de toda a vida, de forma a alcançar o máximo desenvolvimento possível de seus talentos e habilidades físicas, sensoriais, intelectuais e sociais, segundo suas características, interesses e necessidades de aprendizagem.” 10 Artigo 28 no inciso II do Estatuto da Pessoa com Deficiência: “aprimoramento dos sistemas educacionais, visando a garantir condições de acesso, permanência, participação e aprendizagem, por meio da oferta de serviços e de recursos de acessibilidade que eliminem as barreiras e promovam a inclusão plena.” 11 Para ler a Lei n. 13.005/2014, na íntegra, acesse: <http://pne.mec.gov.br/18-planos-subnacionais- de-educacao/543-plano-nacional-de-educacao-lei-n-13-005-2014>. 12 Meta 4 do PNE: “Universalizar, para a população de 4 (quatro) a 17 (dezessete) anos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou Superdotação, o acesso à educação básica e ao atendimento educacional especializado, preferencialmente na rede regular de ensino, com a garantia de sistema educacional inclusivo, de salas de recursos multifuncionais, classes, escolas ou serviços especializados, públicos ou conveniados.” 1.1 Fatos históricos que delineiam o conceito da Deficiência Intelectual contemporâneo Os movimentos internacionais influenciaram e influenciam toda a organização da educação inclusiva nacional desde os primórdios. A Declaração Universal dos Direitos Humanos (UNICEF, 1948) é o primeiro grande exemplo disto no século XX, pois ao final da Segunda Guerra Mundial (1945) com o mundo europeu, principalmente, devastado, era necessário repensar o comportamento da humanidade, os seus valores. E assim, a DUDH torna-se um símbolo mundial da luta pela igualdade de direitos para todas as pessoas, independentemente, das suas origens culturais. Neste documento a educação é sublinhada como direito de toda a pessoa, sendo uma ferramenta primordial na reconstrução de tantos e tantos lugares no pós-guerra, pois era necessário educar as gerações sobreviventes, as crianças eram a esperança da construção de um mundo melhor, ou onde fosse mais fácil conviver entre os semelhantes, as discussões e ações em favor da educação foram imensas, e grandes foram as influências educacionais na reconstrução de muitos lugares na Europa, por exemplo. Fundamentados na DUDH acontece a “Conferência Mundial sobre Educação para todos” em Jontien (UNICEF, 1990), na Tailândia de 05 a 09 de março de 1990 intensifica as discussões sobre a educação igualitária no mundo, tal documento é uma diretriz para as políticas públicas instauradas no Brasil na década de 90 do século XX. Infere-se na declaração que a educação “pode contribuir para conquistar um mundo mais seguro, mais sadio, mais próspero e ambientalmente mais puro, e que, ao mesmo tempo, favoreça o progresso social, econômico e cultural, a tolerância e a cooperação internacional” (UNICEF, 1990, on-line). Sem dúvidas, tal documento inspira as lutas instauradas no final do século XX frente a organização de uma educação inclusiva. Destarte, têm-se a Declaração de Salamanca, na Espanha em 1994, como um marco importantíssimo para a propagação dos princípios da educação inclusiva, tal documento expressa ideias sobre as políticas e práticas na área das necessidades educativas especiais, como por exemplo, cita a escola inclusiva como um espaço onde todos os educandos devem aprender juntos independentemente, de quaisquer dificuldades ou distinções (BRASIL, 1994). Há várias reflexões interessantes na Declaração de Salamanca, uma delas é de que existem muitos adultos deficientes no mundo que não tiveram acesso à educação nem se quer de forma rudimentar, tais sujeitos estão em seus ambientes sociais de forma excluída, pois não conseguem participar como cidadãos, e é um ponto crucial para a concepção de práticas educativas que pensem e repensem a condição de tais pessoas, as quais possuem o direito à educação, precisando serem atendidos de acordo com suas reais necessidades, neste exemplo, pode-se sublinhar as organizações da Educação de Jovens e Adultos (EJA) que devem ensinar as pessoas com deficiências, incluindo-as nos processos educativos com maestria. Enfim, todos os sujeitos, sem exceção, em quaisquer que sejam os níveis ou modalidades da educação necessitam ser atendidos de acordo com suas especificidades, nessa percepção de entendimento educativo não cabe uma postura tradicional de ministração de aulas, o professor contemporâneo precisa e deve se reinventar constantemente, por intermédio de práticas que privilegiem o diálogo com os seus partícipes, a fim de que haja interação construtiva entre todos no contexto de construção do processo de ensino e aprendizagem. Outro marco importantíssimo no processo de constituição da aprendizagem sobre as pessoas com deficiência é a Convenção Interamericana para a Eliminação de todas as formas de Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência, que aconteceu na Guatemala em 28 de maio de 1999. Esse documento sublinha a deficiência em seu artigo I como “uma restrição física, mental ou sensorial, de natureza permanente ou transitória, que limita a capacidade de exercer uma ou mais atividades essenciais da vida diária, causada ou agravada pelo ambiente econômico e social”. (BRASIL, 1999, on-line). O Decreto n. 3.95613, de 08 de outubro de 2001, outorgado pelo Presidente da República, de acordo com a atribuição lhe dada pela CF em seu artigo 84, inciso VIII14, considera o documento gerado na Convenção realizada na Guatemala como uma diretriz para a organização das políticas públicas inclusivas no país. Passo muito relevante para as ações que se seguiram no âmbito da nação em virtude do atendimento educacional especializado (AEE), por exemplo, como, também, no desenvolvimento de pesquisas acerca da valorização das pessoas com deficiência, ampliando assim, as possibilidades de democratização nestes espaços sociais, levando em consideração o indivíduo humano e suas singularidades. No palco internacional a Declaração de Dakar, evento que aconteceu em Senegal, na África, de 26 a 28 de abril de 2000 é outro passo importante do início do século XXI em virtude de todos os esforços mundiais para a propagação e aquisição de uma educação mais igualitária, em um mundo em que tantos seres humanos ainda possuem imensas dificuldades em adquirir um direito básico à sua existência em sociedade (UNESCO, 2000). Neste interim são reforçados os compromissos assumidos pelos encontros mundiais anteriores (final do século XX), a fim de intensificar os esforços em virtude de uma educação cada vez menos desigual, onde as pessoas são o foco principal de todo o trabalho, deve-se estabelecer estratégias que primem pela inclusão de todos num processo, que realmente, promova o desenvolvimento significativo dos estudantes. E de maneira muito significativa o encontro mundial do Canadá em outubro de 2004 marca a construção e/ou definição do conceito teórico vigente da DI, pois no título do documento elaborado no encontro já se tem uma clareza acerca dos objetivos centrais que permeiam o respectivo evento: “Declaração de Montreal sobre Inclusão” ou nomeada também como Declaração de Montreal sobre a Deficiência Intelectual (PARANÁ, 2004, on-line). Neste momento histórico para a inclusão trata-se com muita clareza sobre a DI: “A deficiência intelectual, assimcomo outras características humanas constitui parte integral da experiência e da diversidade humana.” (PARANÁ, 2004, on-line). Outro ponto relevante da Declaração de Montreal é a recomendação de que deve-se “reconhecer as pessoas com deficiências intelectuais como cidadãos e cidadãs plenos da sociedade” (PARANÁ, 2004, on-line), sobretudo, as reflexões propostas neste evento vão além dos muros escolares, compreende o dever de propagar os saberes propícios aos homens e mulheres, crianças e adolescentes, jovens, enfim, todos e todas que possuem a DI para atuarem em seus mundos sociais e políticos, de acordo com suas especificidades, buscando uma 13 Para ler o Decreto n. 3.956/2001, na integra, acesse: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2001/D3956.htm>. 14 O Artigo 84 da CF e inciso VIII diz respectivamente, que: “Compete privativamente ao Presidente da República (...) celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional.” Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 11 maio 2020. aprendizagem que condiga com suas condições físicas, mentais e psicológicas, enfim, aos professores e professoras contemporâneos cabe o desafio de aprender e reaprender quantas vezes forem necessários as dinâmicas coerentes que precisam ser efetivadas diante dos educandos com DI, a fim de alcançarem resultados virtuosos na constituição de uma educação inclusiva com êxito, sem excluir ninguém. Salienta-se ainda, sobre a Declaração de Montreal, que a nomenclatura: Deficiência Intelectual passa a ser divulgada a partir de então. Contribuindo assim, para a desconstrução de paradigmas15 postos acerca de compreensões que colaboravam com a exclusão total dos sujeitos, como por exemplo de senso comum16: a crença de que os “retardados mentais” não deviam frequentar a escola, pois não tinham condições de aprender nada, sendo nomeados popularmente, como dementes e assim por diante. Tais saberes assistemáticos17 foram disseminados por muito tempo, geralmente pela falta de conhecimentos coesos acerca de tantas enfermidades que afetam as pessoas com necessidades especiais. Porém, as organizações mundiais em prol da educação muito contribuíram nas últimas décadas para a propagação de saberes sistemáticos18, os quais têm sido de grande valia na formação dos professores contemporâneos para atuarem na educação especial. Sobretudo, os documentos advindos dos movimentos internacionais em prol da educação inclusiva culminam com a constatação de que as práticas de ensino devem primar pelas singularidades das pessoas, suas características peculiares, valorizando assim, a diversidade preeminente dos grupos formados por seres humanos. O Decreto n. 5.296/200419 é um outro destaque interessante a ser feito na constituição da educação especial no Brasil, também conhecido como o “Decreto da Acessibilidade”; o qual entra em vigor após a Declaração de Montreal, trazendo influências desse evento mundial em seu texto. Sublinha-se o parágrafo 1º em sua alínea d, que caracteriza a deficiência intelectual, muito embora, ainda use no texto a nomenclatura de deficiência mental, é notório a influência teórica propensa à concepção de DI da atualidade: (...) funcionamento intelectual significativamente inferior à média, com manifestação antes dos dezoito anos e limitações associadas a duas ou mais áreas de habilidades adaptativas, tais como comunicação; cuidado pessoal; habilidades sociais; utilização dos recursos da comunidade; saúde e segurança; habilidades acadêmicas; lazer e trabalho (BRASIL, 2004, on-line). É certo que essa definição de DI contribui para progressivas evoluções realizadas no decorrer do tempo no campo científico, que fundamenta o estudo 15 Paradigmas podem ser definidos como modelos de comportamentos que regem uma determinada sociedade. 16 Senso comum consiste na maneira predominante de pensar pela grande maioria das pessoas que convivem numa referida sociedade. 17 Os saberes assistemáticos são àqueles construídos na livre convivência entre as pessoas em suas sociabilidades, na constituição de suas culturas e/ou costumes. 18 Os saberes sistemáticos são àqueles adquiridos dentro de um sistema, com uma organização, um modo, um método. Assim, os saberes constituídos dentro do sistema escolar são denominados como sistemáticos. 19Para ler o Decreto n. 5.296/2004, na íntegra, acesse: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/decreto/d5296.htm>. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/decreto/d5296.htm sobre tal temática. Porém, o mais importante a ressaltar neste ponto de reflexão do vigente texto é que para compreender os aspectos que contribuem a DI é primordial considerar a pessoa com DI em sua especificidade, e tal atitude está para além do entendimento do diagnóstico efetivado por profissionais da saúde é preciso que o docente dialogue com o estudante, com sua família, com os profissionais envolvidos em seu atendimento, enfim, todos estes aspectos e muitos outros que serão explicitados no desenvolvimento deste compêndio deverão ser levados em consideração diante do processo de um atendimento pelo viés da inclusão. Afinal de contas o indivíduo humano é complexo, repleto de difusas e diversas características, e esse fato é indiferente ao sujeito ter necessidades especiais ou não, pois trata-se de uma característica humana. Na perspectiva de análise legal e histórica, como também política da educação inclusiva em prol de uma formação concisa do docente, busca-se costurar ideias com firmeza, as quais possam ser flexíveis diante da feitura de uma prática cada vez mais humana, na qual as pessoas sejam vistas em suas singularidades, mormente, neste vigente estudo o intuito é promover um entendimento virtuoso sobre a DI, para que a atuação dos profissionais frente tais pessoas seja cada vez mais assertivo no que diz respeito à constituição de aprendizagens que tenham sentido e significado para os sujeitos estudantis. No documento elaborado pelo Ministério da Educação (MEC) após a Convenção sobre o direito das pessoas com deficiência que aconteceu em Nova York, nos Estados Unidos em 2007 está explícito que: “pessoas com deficiências são, inicialmente, pessoas. Pessoas como quaisquer outras, com protagonismos, peculiaridades, contradições e singularidades” (BRASIL, 2011, on-line). 1.2 Fatos conceituais da Deficiência Intelectual Desde a Declaração de Montreal (2004) que a nomenclatura DI vem sendo substituída progressivamente, nos meios de estudos e pesquisa acerca dessa categoria de necessidade especial, lembrando que outrora se usava (ainda é encontrado em documentos legais e produções científicas) o termo Deficiência Mental – DM. Almeida (2012) explica a evolução frente a utilização do termo DI no continente americano: Desde sua fundação, em 1876, a Associação Americana de Retardo Mental – AAMR, atualmente denominada Associação Americana em Deficiência Intelectual e do Desenvolvimento – AAIDD, tem se preocupado em compreender, definir e classificar o campo da deficiência intelectual. Vários manuais foram publicados sobre a definição e classificação da deficiência intelectual, sendo que o último, lançado em 2010 pela AAIDD, traz a mudança da terminologia “retardo mental” para “deficiência intelectual”. Essa alteração estava em estudos, mas somente em 2010 é que houve um consenso sobre o termo que melhor poderia identificar essa deficiência. (...) Vale ressaltar que, apesar de a “Declaração de Montreal sobre Deficiência Intelectual” ter sido aprovada em Montreal, no Canadá, em 2004, o termo só foi mudado oficialmente em janeiro de 2007, ocasião em que a AAMR muda para AAIDD. Porém, o novo manual só foi publicado em 2010, na sua 11ª edição, com o título Deficiência Intelectual – Definição, Classificação e Sistemas de Suporte (ALMEIDA, 2012, p. 51).A redação de tais fatores mostra um caminhar longo em virtude do engajamento de atores sociais que almejaram tornar menos ofensivo os processos de diagnósticos das pessoas com deficiência, conotando assim, maior abrangência do contexto de vida da pessoa, a partir de uma análise mais específica sobre o todo existencial do sujeito em avaliação, por exemplo, é considerado toda a conjectura de vida do indivíduo que é observado mediante suas características peculiares, no que diz respeito as influências sociais e ambientais que estão envoltas em sua vivência. Destarte, a mudança na terminologia denota uma evolução inclusiva na busca por compreender e conviver com as pessoas que possuem DI. Tal atitude de alteração na nomenclatura traz novas perspectivas de discussões, reflexões, tratamentos frente às pessoas com DI, a fim de tornar os processos de relacionamentos, que envolvem estes casos, em oportunidades reais de desenvolvimento humano, considerando com maestria todas as pessoas em suas singularidades, potencializando tais sujeitos em desenvolver suas habilidades. Afinal, tais anseios devem mover todos os objetivos do mundo educacional inclusivo. O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais em sua versão de 2014 (DSM-5)20 traz a seguinte definição: A deficiência intelectual (transtorno do desenvolvimento intelectual) caracteriza-se por déficits em capacidades mentais genéricas, como raciocínio, solução de problemas, planejamento, pensamento abstrato, juízo, aprendizagem acadêmica e aprendizagem pela experiência. Os déficits resultam em prejuízos no funcionamento adaptativo, de modo que o indivíduo não consegue atingir padrões de independência pessoal e responsabilidade social em um ou mais aspectos da vida diária, incluindo comunicação, participação social, funcionamento acadêmico ou profissional e independência pessoal em casa ou na comunidade (DSM-5, 2014, p. 31). O conceito sublinhado no DSM-5 corrobora com os ideários disseminados no discorrer dos fatos que permeiam a historicidade política e social da DI, sob a ótica de que é necessário compreender tal característica na pessoa de forma global, considerando todos os aspectos de seus desenvolvimentos em vida, pois diagnosticar a DI é uma ação que permeia vários aspectos dinâmicos da vida dos sujeitos. A nomenclatura DI carrega em sua totalidade a intenção de conceber a pessoa com tal característica como alguém que possui suas particularidades de pensamentos, tendo assim uma forma peculiar de ver o mundo, e dentro desta condição específica a pessoa deve ser valorizada e estimulada para se desenvolver da melhor maneira possível por meio de suas possibilidades cognitivas. A utilização do termo DI fica também justificada quando se delineia que o intelecto é o foco da análise para a formulação do possível diagnóstico da pessoa, ou seja, está sendo levado em consideração toda a faculdade de compreender as circunstâncias à sua volta, sendo que a priori, quando se utilizava o termo DM essa 20 “Na atualidade existem cinco versões do Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), o qual foi publicado pela primeira vez em 1952 (século XX). O Manual é feito pela Associação Americana de Psiquiatria” (DSM-5, 2014, p. 31). ação ficava restrita à compreensão dos possíveis problemas mentais e não atendia globalmente aos aspectos que envolvem as peculiaridades da pessoa em questão. Para tanto, a DI consiste num transtorno do neurodesenvolvimento21 humano, de causas distintas, as quais são muitas vezes difíceis de serem constatadas de forma fidedigna. Assim, é muito importante considerar sempre o trabalho de uma equipe de profissionais da saúde, visando a elaboração de um diagnóstico responsável. Lembrando que tal diagnóstico é muito relevante para a feitura de um processo educacional inclusivo. Muito embora, o docente comprometido com a educação inclusiva deve realizar sua tarefa em virtude das singularidades do seu educando, conhecendo-o diariamente, num processo de interação dialógica22 e humanística23. Pois acredita-se que “a inclusão escolar, para ser exitosa, requer esforços que necessariamente demandam olhares diversos, questionamento a certos paradigmas relacionados à maneira de conceber a deficiência e entender os processos de ensino e aprendizagem.” (DENARI, 2008, p. 35). 2 ASPECTOS GERAIS DA DEFICIÊNCIA INTELECTUAL A DI implica uma gama de complexidade, que necessita ser objeto de investigação por diversas áreas do conhecimento, a fim que se tenha um diagnóstico efetivo da pessoa em questão, sempre levando em consideração todos os aspectos que envolvem a vida da pessoa, pois essa deve ser concebida em sua individualidade e diversidade intrínsecas. É mister reinterpretar os conceitos postos sobre a DI no decorrer do tempo para reestruturar as maneiras de lidar com as pessoas deficientes, aprendendo como profissionais da educação a reinventar os seus métodos diante do atendimento das pessoas com DI, oportunizando de fato uma aprendizagem que tenha sentido e significado para os sujeitos. É certo que os paradigmas postos pelo conservadorismo no sistema escolar há tanto tempo é um grande desafio a ser superado mediante os ideários da educação inclusiva, tão somente profissionais da educação comprometidos com o seu fazer, comumente, com o desenvolvimento ímpar do seu semelhante pode e deve construir um trabalho exitoso em virtude das pessoas com DI, em especial. Para tanto, faz-se imprescindível conhecer as características da DI, suas causas e, paulatinamente, ir descobrindo as maneiras de trabalhar com tais pessoas, pautados no respeito humano integral, desvencilhando os padrões idealizados de estudantes pelas escolas tradicionais, para então, descobrir quais as realidades de objetivos possíveis para serem alcançados com a específica pessoa com DI. Deve-se sempre lembrar que a arte do ensino é um ato coletivo, que deve ser realizado sem excluir ninguém. O sistema escolar deve proporcionar condições para que os docentes possam conduzir o seu trabalho de ensino da melhor maneira possível, incluindo todos os educandos, sem exceção. No entanto, políticas 21 Desenvolvimento do sistema nervoso incluindo a motricidade, a manipulação, a comunicação e a linguagem, os comportamentos, as competências sensoriais e cognitivas, os afetos e as emoções. 22 O diálogo é tido como a ferramenta primordial em todo o tempo de relação no processo de ensino e aprendizagem, tanto educador e educandos sãos sujeitos no movimento de aprender o conhecimento. 23 O indivíduo é o âmago de todo o desenvolvimento do trabalho educativo, pois para ele e com ele se faz o processo educacional, visando uma formação plena do educando, tornando-o um cidadão autônomo, protagonista de sua história. públicas são imprescindíveis, como por exemplo, reduzir o número de estudantes por sala de aula, proporcionar condições básicas estruturais nos ambientes de trabalho para o professor, enfim, muitos são os desafios físicos e/ou estruturais que ainda persistem nos âmbitos escolares no século XXI, sobretudo, cabe aos profissionais da educação (todos, não só os professores e professoras) reinventarem essa tal educação, os quais estão envolvidos no propósito de uma educação inclusiva, que consiste no atendimento de vidas humanas, as quais muitas vezes têm a escola como principal ou única possibilidade de desenvolvimento. A ação de modificar as práticas no ambiente escolar que preconizam a discriminação é algo que tem sido feito com muito esmero por muitos profissionais da educação nas últimas décadas, e tal experiência leva tempo e investimento de recursos afins. Porém, a cooperação, a solidariedade, o espírito coletivo, o trabalho mútuo, o respeito supremo à humanidade das pessoas, estas e tantas outras virtudes são itens primordiais na construção de uma escola inclusiva, onde as pessoas com DI tenham reaisoportunidades de se desenvolverem conforme suas características peculiares de humanos que são. Cabe aqui ressaltar a autora Mantoan (2003) que, tanto tem contribuído para a construção científica nacional acerca da educação especial inclusiva e em seus escritos sempre exorta, quanto para realizar a inclusão de fato é necessário estar com as pessoas. Fundamentados na leitura da autora é possível inferir que para efetivar uma educação inclusiva eficaz faz-se imprescindível caminhar ao lado das pessoas. Assim, para que seja possível efetivar uma caminhada dialógica com as pessoas nos ínterins dos espaços escolares inclusivos é necessário conhecê-las, como também deve-se conhecer as características de suas necessidades especiais, a fim de que haja uma organização de trabalho pedagógico consistente. Com o intuito de caracterizar e/ou conceituar a DI far-se-á um apanhado teórico das publicações contemporâneas, as quais corroboram com o discorrer das ideias aqui abordadas. Sublinha-se a explicação contida no DSM-5 (2014): A deficiência intelectual é uma condição heterogênea com múltiplas causas. Pode haver dificuldades associadas ao juízo social; à avaliação de riscos; ao autocontrole do comportamento, emoções ou relações interpessoais; ou à motivação na escola ou nos ambientes de trabalho. Falta de habilidades de comunicação pode predispor a comportamentos disruptivos ou agressivos. A credulidade costuma ser uma característica, envolvendo ingenuidade em situações sociais e tendência a ser facilmente conduzido pelos outros. Credulidade e falta de consciência sobre riscos podem resultar em exploração por outros e possível vitimização, fraude, envolvimento criminal não intencional, falsas confissões e risco de abuso físico e sexual (DSM-5, 2014, p. 38). Estas inferências sobre a postura da pessoa com DI têm grande valia para a construção de práticas educativas nos espaços cotidianos da escola. O ato de pensar que os sujeitos não conseguem ter autonomia de decisão mediante suas relações no interim da escola, por exemplo, deve provocar na instituição o desenvolvimento de um processo organizacional que valorize o acompanhamento de tais sujeitos, fazendo com que os educandos sejam ensinados a desenvolverem suas autonomias, de acordo com suas peculiaridades. A observância de que os sujeitos com DI são muito ingênuos diante das percepções de perigo, é outro fato que requer muito cuidado mediante a organização pedagógica escolar, pois as ações devem ser efetivadas em consonância com a preocupação de cuidar, educar e ensinar. Lembrando que o ensino deve ter sentido e significado para a vida do estudante, quer seja um público estudantil com necessidades especiais ou não. As dificuldades na comunicação intrínsecas às pessoas com DI são outra característica muito valiosa diante de um processo educacional que visa ser concebido mediante as diretrizes inclusivas, pois o ensino na escola tradicionalmente, é construído por meio da socialização, do diálogo, e estes são atos que ficam prejudicados diante da ação didática com os estudantes que possuem DI, neste instante é preciso que os docentes exerçam a criatividade e, só é possível por intermédio do conhecimento prévio teórico, como também, da iniciativa em conversar e conhecer melhor o educando, em sua especificidade, a coragem diante dos desafios para a pesquisa constante dos assuntos que permeiam a DI. Em outras palavras, é necessário dizer, que para agir com destreza diante das necessidades especiais da pessoa com DI o profissional da educação deve ter disposição ética para se reinventar, diariamente, na busca por estratégias que possam derrubar as barreiras contidas na vida das pessoas com DI no espaço escolar. Romper as barreiras contidas nos caminhos acadêmicos das pessoas com DI consiste em encontrar meios para que tais pessoas aprendam, já que os seus processos de desenvolvimentos intelectuais estão comprometidos, então, é necessário que os professores inclusivos encontrem alternativas de comunicação para tais estudantes, por exemplo, maneiras diferentes de avaliar, inovadoras formas de fazer a educação sistemática. Em continuidade com a leitura do DSM-5 é possível conceber que o sujeito com DI apresenta problemas em seu raciocínio, em resolver problemas comuns do cotidiano, na abstração de informações no planejamento de suas ações simples de vivência (organizar as atividades diárias), na compreensão do que é certo ou errado, na aprendizagem de experiências. Assim, o sujeito não consegue agir em seu mundo com naturalidade e segue demonstrando essa deficiência no decorrer de sua convivência em seu meio social, desde a mais tenra infância. (DSM-5, 2014). O DSM-5 estabelece que a DI é um “transtorno do desenvolvimento intelectual com início no período do desenvolvimento que inclui déficits funcionais, tanto intelectuais quanto adaptativos, nos domínios conceitual, social e prático.” (DSM-5, 2014, p. 38). Nessa fluidez de raciocínio destaca-se o conceito de DI especificado no documento brasileiro subsidiário à Política de Inclusão: “Deficiência intelectual – definida por alterações significativas, tanto no desenvolvimento intelectual como na conduta adaptativa, na forma expressa em habilidades práticas, sociais e conceituais.” (BRASIL, 2015, p. 46). À guisa de compreensão a DI abrange os aspectos comportamentais das pessoas acometidas por tal transtorno, e tais comportamentos são perceptíveis durante o desenvolvimento de vida, a priori na infância, e, assim progressivamente, a pessoa vai dando sinais de suas limitações adaptativas ou sociais perante suas convivências com seus semelhantes, admite-se que até os 18 anos a pessoa manifesta todos os indícios que são necessários para concluir um diagnóstico de DI. As características da DI são plurais assim como a concepção do indivíduo humano é complexa, então, existem muitas discussões acerca do processo de diagnóstico de uma pessoa, sendo que tal procedimento deve acontecer por uma equipe de profissionais que, coletivamente, encontrarão as devidas características nos sujeitos por meio de exames e testes específicos, observando com perspicácia as características singulares que envolvem a vida da pessoa. Somente então, ou com todo o cuidado possível e conhecimento técnico e teórico é que se pode elaborar e concluir um diagnóstico de DI. Tal reflexão é muito relevante frente a realidade escolar contemporânea, na qual muitas vezes as pessoas envolvidas numa produção de trabalho incessante, de maneira automatizada vão conjecturando adjetivos patológicos aos seus educandos, conferindo assim, projetos e ações de trabalhos pedagógicos equivocados mediante as reais necessidades dos seus sujeitos estudantis. 2.1 Considerações acerca das causas e diagnósticos da Deficiência Intelectual Segundo o DSM-5 (2014), existem uma gama muito complexa de possíveis causas da DI, porém explicita que os fatores de riscos estão inseridos nos aspectos genéticos e fisiológicos, mas também podem existir influências ambientais, para estas são consideradas o uso de substâncias entorpecentes em geral. As influências ambientais são notórias em regiões com alto índice de vulnerabilidade social, já existem pesquisas que investigam a incidência dos casos de DI nesses ambientes escolares inseridos em comunidades carentes, nas quais são notórios o aumento de casos de DI nos últimos anos. Algumas questões sobre esse aspecto permeiam os diálogos dos docentes contemporâneos: O número de pessoas com necessidades especiais na escola aumentou? Ou foi a acessibilidade ao ensino inclusivo que possibilitou estes educandos a frequentarem a escola? A caracterização das sociedades contemporâneas tem influenciado no aumento de pessoas com DI? Enfim, estas e outras questões são comuns em meio aos processos de formação e atuação dos professores contemporâneos, e neste momento de construção teórica sobreo assunto é importante fazer essa reflexão, para então, instigar uma produção de saber conciso que contribua para a reinvenção de uma prática educacional que tenha sentido e significado para todos os seus partícipes, podendo ser realmente, uma ferramenta para a transformação de vidas dos sujeitos que necessitam de atendimento especial, principalmente. Neste grupo de fatores de riscos podem ser considerados muitas opções para as possíveis causa da DI como as variações dos genes no processo de formação dos fetos, os problemas cromossômicos também advindos durante o processo de formação do indivíduo humano, as malformações do cérebro ainda no ambiente uterino, doenças maternas que podem interferir no desenvolvimento do feto. Além dos fatores de riscos, a DI pode ocorrer devido a consequências de: “uma lesão adquirida no período do desenvolvimento, decorrente, por exemplo, de traumatismo craniano grave, situação na qual um transtorno neurocognitivo também pode ser diagnosticado.” (DSM-5, 2014, p. 75). Esse fator é, infelizmente, algo notório em muitos adultos que retornam aos estudos após muito tempo, e frequentam a turma da EJA, na qual necessitam ser atendidos em suas especificidades, e muitas vezes essa modalidade educacional, ainda na atualidade, não possui os recursos básicos necessários para atender o jovem, adulto, ou idoso com DI. Sendo mais um grande exemplo dos exacerbados desafios existentes na contemporaneidade da educação especial inclusiva. Outras causas descritas no DSM-5 são os acidentes que podem acontecer na hora do parto, por exemplo, quando a criança precisa ser retirada à força da barriga maternal (parto fórceps), no qual o bebê pode sofrer danos cerebrais por algum tipo de procedimento mais brusco, ou mesmo a falta de oxigênio provocada pela morosidade do processo de parto, enfim todas estas possibilidades podem causar danos cerebrais no indivíduo, provocando assim consequências que geram a DI. Via de regra estas informações devem ser requeridas das famílias quando chegam à escola para realizar matrícula, por ocasião do preenchimento da anamnese24, por exemplo. Mas, tais informações também são elencadas nos diagnósticos organizados pelas equipes de saúde que atendem a pessoa com DI. Porém, na maioria dos casos da escola, a DI é descoberta ou investigada pelos docentes que atentamente, observam o comportamento das crianças ainda na educação infantil, neste período inicia-se uma observação perspicaz25 por vários profissionais e, normalmente, o diagnóstico é concluído no ensino fundamental, após um processo longo em que profissionais da saúde e da educação se unem para construir a avaliação psicopedagógica26 do educando. O método aconselhável de processo diagnóstico da DI é, sem sombra de dúvida, que aconteça por uma equipe de multiprofissionais, como é um transtorno do neurodesenvolvimento, que pode envolver vários aspectos da vivência da pessoa, faz-se imprescindível que profissionais como psicólogo, pedagogo, médico neurologista, médico geneticista, fonoaudiólogo, entre outros. façam parte da equipe que observará e estudará o caso com intrepidez. É tudo muito impreciso no estudo da pessoa com DI, pois as causas do transtorno são diversas e podem variar muito conforme os fatores que estão inseridos na vivência da pessoa em questão, assim, a postura dialógica deve permear todas as atitudes profissionais, os quais devem sempre valorizar a pessoa em sua singularidade, desvencilhando-se de todas as formas de preconceito, analisando as situações sob a ótica da humanização de todos os atos, sempre, afinal de contas busca-se a concretização de uma inclusão social, na qual os sujeitos com DI sintam-se pertencentes aos seus mundos, agindo com autonomia de acordo com suas condições. A primazia pela coletividade e dialogicidade na construção dos diagnósticos da pessoa com DI é uma atitude que legitima todos os esforços em prol do respeito pleno à pessoa em questão, pois a primeira está relacionada ao trabalho entre os profissionais que juntos se preocupam com o bem-estar da pessoa, estruturando ações para que a pessoa com DI tenha condições reais para se desenvolver plenamente, e a segunda relaciona-se aos atos dialógicos que devem fazer parte de todo o trabalho em favor do atendimento das pessoas com DI, quer sejam nas posturas ouvintes e reflexivas diante das famílias, dos educandos, dos parceiros de 24 A anamnese é um termo utilizado para definir entrevistas que tenham conhecimentos científicos como embasamento, o profissional deve abordar o entrevistado com habilidades objetivas, de acordo com o teor do seu contexto de trabalho quer seja ele numa clínica médica como terapeuta, por exemplo, ou quer esteja no ambiente escolar no papel do pedagogo e/ou orientador educacional. Neste instrumento contém informações confidenciais do educando e deve ser utilizado para construir um trabalho pedagógico que contemple as singularidades do sujeito. 25 Consiste numa observação inteligente, sagaz que enxerga bem, vê ao longe, enfim estas e outras virtudes cabíveis devem constar na observação do profissional envolvido na construção de uma educação inclusiva. 26 Instrumento utilizado normalmente, quando o educando vai ser inserido no Atendimento Educacional Especializado (AEE), no qual consta as caraterísticas psicológicas e pedagógicas do estudante que são necessárias para o atendimento inclusivo. A avaliação é realizada normalmente por pedagogos, psicopedagogos, psicólogos e fonoaudiólogos. profissão, enfim, em todos os aspectos, em todos os contextos, o diálogo é item imprescindível para a realização de uma inclusão efetiva. O DSM-5 ainda destaca alguns exemplos de causas pós-natais que incluem “lesão isquêmica hipóxica27, lesão cerebral traumática, infecções, doenças convulsivas como espasmos infantis, privação social grave e crônica, síndromes metabólicas tóxicas e intoxicações com chumbo e mercúrio.” (DSM-5, 2014, p. 39). Para melhor organizar as diretrizes de diagnóstico o DSM-5 classifica a DI em níveis e os seus respectivos códigos: Leve – F70; Moderada – F71; Grave – F 72; Profunda – F73. O objetivo desta organização é direcionar com mais assertividade os diagnósticos elaborados pelos profissionais da saúde responsáveis para tal tarefa. No âmbito educacional o conhecimento de tal subdivisão é também importante para o docente se inteirar melhor dos documentos legais do educando, quando chega à escola, por exemplo, com seu diagnóstico completo, trazendo consigo relatórios que são importantes na formulação do projeto de trabalho inclusivo com o respectivo estudante. E em outro aspecto o conhecimento sempre traz autonomia para quem o detém, neste caso da DI o profissional da educação pode ter ciência que existem diferentes níveis do transtorno, entendendo que nenhuma pessoa com DI é igual a outra e, portanto, deve ser tratada de acordo com suas singularidades. Esse é um fator imprescindível na configuração de uma formação docente inclusiva eficaz. Abordar-se-á de maneira sucinta, porém dialógica, as principais ideias contidas na caracterização dos níveis da DI, as quais estão especificadas no DSM- 5 (2014, p. 33): 1. Nível de gravidade leve compreende as crianças na idade escolar que não conseguem aprender com naturalidade os conteúdos da leitura, escrita, as noções matemáticas de tempo ou dinheiro. Quando na idade pré-escolar essa percepção é muito difícil de ser observada se tratando de sujeitos neste nível de DI. E os adultos possuem dificuldades no pensamento abstrato, na memória a curto prazo, na leitura e no controle de dinheiro. Nos aspectos sociais as pessoas são facilmente manipuladas por outras. No cotidiano estas pessoas que necessitam de apoio para realizarem as tarefas rotineiras mais complexas. 2. Nível de gravidade moderada é perceptível a lentidão nos processos de aprendizagens desde a fase pré-escolar, e tal dificuldade persistepor toda a vida. Os adultos necessitam de pessoas para auxiliá- los nas tarefas diárias e de alguém que assuma suas responsabilidades. Possui grandes limitações na interpretação dos fatos da vida. Tem imensa dificuldade em se comunicar. Até pode desenvolver relações afetivas de amizades, ou mesmo ter o seu par romântico, porém, necessita de acompanhamento constante de um responsável para ser mais bem orientado e compreendido em seus âmbitos de convivência social. A pessoa consegue aprender atividades básicas para sua sobrevivência após muito trabalho, dentro de um período longo, necessitando sempre da supervisão de outra pessoa. Na maioria dos casos de DI neste nível as pessoas conseguem desenvolver uma certa autonomia em suas etapas de vida adulta. Uma pequena minoria desenvolve maus comportamentos que provocam problemas em seus âmbitos sociais. 3. Nível grave da DI compreende aquelas pessoas com sérios comprometimentos em seus domínios conceituais e sociais, ou seja, não conseguem realizar suas atividades básicas sozinhas, necessitam de cuidadores por toda a vida. A fala é bastante limitada, normalmente, sua 27 Lesão que provoca falta de sangue e oxigênio. oralidade é composta por expressões muito simples. As relações de intimidade com as pessoas da família são a grande fonte de vida para os sujeitos com DI neste nível. O sujeito necessita de supervisão de um responsável por toda a vida, em uma minoria significativa é notório o comportamento “mal adaptativo” e as incidências de autolesão. 4. Nível de Gravidade Profunda da DI predomina as pessoas com extremas dificuldades de compreender os fatos que as rodeiam, como também não conseguem se comunicar. Existem prejuízos muito sérios nos aspectos motores e sensoriais. As relações com os semelhantes ficam muito difíceis, pois na maioria das vezes não conseguem se quer segurar objetos para realizar algum tipo de comunicação. Na grande maioria das vezes desenvolvem uma empatia comovente com os seus respectivos cuidadores. Estas pessoas dependem dos seus cuidadores em todo o tempo e por toda a vida, a fim de que tenham maior segurança e saúde (DSM-5, 2014, p. 33). O diagnóstico do Atraso Global do Desenvolvimento – F88, também, compõe o grupo do transtorno do neurodesenvolvimento no DSM-5 é designado essa nomenclatura porque as crianças muito pequenas (menores que 5 anos) não tem condições de participarem dos testes que geram o diagnóstico da DI, assim tais crianças são inseridas neste diagnóstico quando apresentam características pontuais referentes ao vigente transtorno, de acordo com a avaliação da equipe profissional responsável, e, normalmente, passarão por avaliações posteriores, a fim de concluir um diagnóstico conciso. E o Transtorno do Desenvolvimento Intelectual (DI) Não Especificada – F79 é outro diagnóstico utilizado em situações excepcionais quando não é possível realizar os testes relativos aos níveis da DI devido a problemas de saúde: cegueira, surdez, deficiência locomotora ou comorbidade.28 Os níveis de gravidade da DI especificados no DSM-5 são definidos com base no “funcionamento adaptativo e, não em escores de QI” (Quoficiente de Inteligência), ou seja, as pessoas devem ser analisadas em suas formas de ser e estar no mundo, é a convivência da pessoa com os seus iguais que manifesta os indícios necessários para que seja possível a construção de um diagnóstico mais preciso da DI. (DSM-5, 2014, p. 33). Neste aspecto, pode-se analisar o modo como a pessoa se adapta em seu meio, e esse ponto é fundamental para considerar os especificadores teóricos e práticos que constituem elementos para a caracterização de uma pessoa com DI. Na Classificação Internacional de Doenças (CID), o termo diagnóstico deficiência intelectual (DI) equivale ao CID – 11 de transtornos do desenvolvimento intelectual. Sobre o tema o DSM-5 explica: A CID-11 (em desenvolvimento à época desta publicação) utiliza o termo transtornos do desenvolvimento intelectual para indicar que se está falando de transtornos que envolvem função cerebral prejudicada precocemente na vida. Esses transtornos estão descritos na CID-11 como uma metassíndrome que ocorre no período do desenvolvimento análoga à demência ou ao transtorno neurocognitivo em fases posteriores da vida. Existem quatro subtipos na CID-11: leve, moderado, grave e profundo. (DSM-5, 2014, p. 40). Assim, os documentos organizativos internacionais coadunam os seus saberes frente o diagnóstico da DI. 28 Consiste no ajuntamento de doenças. Destaca-se as questões diagnósticas da DI relativas à cultura contidas no DSM-5: A deficiência intelectual ocorre em todas as raças e culturas. Sensibilidade e conhecimento culturais são necessários durante a avaliação, devendo ser considerados antecedentes étnicos, culturais e linguísticos individuais, experiências disponíveis e funcionamento adaptativo na comunidade e no cenário cultural individuais (DSM-5, 2014, p. 39). Sublinha-se a menção da palavra sensibilidade no texto do documento supracitado, ponto que culmina com toda a vigente tessitura, enaltecendo assim, a necessidade de que os profissionais envolvidos no atendimento da pessoa com DI não fiquem presos aos padrões estipulados para diagnósticos ou acompanhamentos médicos, como também não se limitem no ambiente educacional aos paradigmas didáticos da educação especial, sobretudo, deve ser compreendido que toda a construção teórica e técnica acerca da DI são diretrizes basilares para a realização de um atendimento que contemple as características singulares da pessoa, ou que atenda com êxito as reais necessidades da pessoa com DI dentro de sua realidade de vida, e isto é válido para os âmbitos da saúde e educação. Em suma, é necessário que o profissional frente ao atendimento da pessoa com DI esteja totalmente, sensível às características culturais, sociais, físicas, psicológicas, enfim, precisa estar atento a tudo que compreende a vida da pessoa, a fim de atendê-la com maestria. Outro dado relevante no DSM-5 é a informação sobre as questões diagnósticas da DI concernentes ao gênero: Indivíduos do sexo masculino, em geral, têm mais propensão do que os do sexo feminino para receber diagnóstico de formas moderadas (razão média masculino/feminino 1,6:1) e graves (razão média masculino/feminino 1,2:1) de deficiência intelectual. As proporções de gênero, todavia, variam muito em estudos relatados. Fatores genéticos associados ao sexo e vulnerabilidade do sexo masculino a lesões no cérebro podem responder por algumas diferenças de gênero (DSM-5, 2014, p. 39). Estes dados culminam com as inferências postas acerca da complexidade que envolve o processo de diagnóstico da DI, como também a constatação das causas do transtorno. Os fatores genéticos são associados, freneticamente às causas da DI, conjecturando assim, uma gama de possibilidades para que a pessoa tenha desenvolvido o transtorno. No entanto, tais fatores exacerbam a complexidade do processo de construção do diagnóstico assertivo da pessoa com DI. Nota-se que os meninos têm maior probabilidade de desenvolver a DI do que as meninas, segundo os estudos e/ou pesquisas realizados, os quais fundamentam a elaboração do DSM-5. Contudo, as complexidades causais que permeiam o diagnóstico da DI exigem uma elaboração contundente de avaliação, e esse instrumento é conceituado no DSM-5 (2014) da seguinte forma: Uma avaliação abrangente inclui avaliação da capacidade intelectual e do funcionamento adaptativo; identificação de etiologias genéticas e não genéticas; avaliação da existência ou não de condições médicas associadas (p. ex., paralisia cerebral, epilepsia), e avaliação de transtornos mentais, emocionais e comportamentais comórbidos. Os componentes da avaliação podem incluir história médica pré-natal e perinatal, genograma familiar incluindo três gerações, exames físicos, avaliaçãogenética (p. ex., cariótipo ou análise cromossômica por microarray e testes para detecção de síndromes genéticas específicas), bem como triagem metabólica e investigação por neuroimagem (DSM-5, 2014, p. 39). Não obstante, os aspectos de análise sobre o processo de avaliação da pessoa com DI convergem com a defesa da ideia, que para exercer um trabalho exitoso frente a necessidade das pessoas com DI é primordial desenvolver uma postura sensível, observadora, criativa, dialógica, em suma humana, no valor mais essencial deste termo. Colocando-se empaticamente, no lugar do outro, buscando compreender todos os aspectos que envolvem a vida da pessoa, para atendê-la com humanidade. Acreditando ser factível realizar um atendimento cada vez mais humano perante as necessidades da pessoa com DI destacar-se-á mais um conceito importante sobre as características que compreendem tal transtorno: Pessoas com diagnóstico de deficiência intelectual, com transtornos mentais comórbidos apresentam risco de suicídio. Elas pensam em suicídio, fazem tentativas suicidas e podem morrer em decorrência delas. Assim, é essencial a investigação de pensamentos suicidas no processo de avaliação. Em decorrência da falta da consciência de riscos e perigos, taxas de lesões acidentais podem ser elevadas. (DSM-5, 2014, p. 38). O objetivo de sublinhar tal característica do transtorno neste interim do vigente compêndio é enaltecer a relevância do papel da avaliação e/ou observação da pessoa com DI durante o atendimento, seja no âmbito da saúde ou educacional, visando sempre colaborar cada vez mais com práticas humanas perante o trato com a DI. Para se obter uma postura cuidadosa faz-se necessário conhecer as características gerais do transtorno, porém jamais deve ser desprezado o que a pessoa com DI demonstra no cotidiano da convivência, buscando sempre inovar as ações para estimular a evolução da pessoa em todos os aspectos do desenvolvimento que lhe apraz, agindo com esperança e/ou otimismo perante as adversidades e/ou barreiras que persistem em dificultar os caminhos para a inclusão global do sujeito com necessidade especial. Grandissimamente, os detalhamentos acerca das causas, diagnósticos e características contidas no DSM-5 (2014) demonstram a construção de uma tarefa imensa em virtude de beneficiar o tratamento das pessoas com DI, é certo que nessa quinta edição do documento têm-se uma grande evolução nos aspectos humanos da organização dos conceitos, dos processos que viabilizam o diagnóstico. Muito embora, existem muitas críticas frente a estrutura de tal manual, que tem sido referência de pesquisa e um instrumento que norteia o trabalho dos profissionais da saúde no continente americano. É salutar para o processo de construção pedagógica os saberes contidos no DSM-5, entendendo que estes são indicadores para a construção de um projeto de trabalho com as pessoas que necessitam de atendimento educacional especializado, porque faz-se necessário os conhecimentos teóricos, os quais compreendem os transtornos, por exemplo, para então, observar, analisar, dialogar e conhecer a pessoa com deficiência num processo de inclusão, a fim de que se construa uma estratégia inclusiva educacional, que realmente produza aprendizagens significativas para o desenvolvimento dos sujeitos em seus mundos sociais. 3 A PRÁTICA PEDAGÓGICA FRENTE OS ESTUDANTES COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL A princípio, sublinha-se a exortação de que: “Não existem “receitas” prontas para o trabalho com alunos tanto com deficiência intelectual, ou com outra deficiência, quanto com os sem deficiência” (HONORA; FRIZANCO, 2008, p. 108). Sobretudo, pretende-se apresentar diretrizes que estão intrínsecas nos fundamentos legais e teóricos que regem a educação especial brasileira, a fim de que possam contribuir com maestria na formação profissional do docente que realiza a prática cotidiana com os estudantes. Desta feita, defende-se a ideia de que “a educação inclusiva compreende uma mudança de concepção política, pedagógica e legal, que tem se intensificado no âmbito internacional” (BRASIL, 2015, p. 46). Agir inclusivamente na ambiência escolar consiste em promover mudanças nas práticas aplicadas aos educandos, privilegiando constantemente, o respeito às diferenças, ampliando o olhar frente as necessidades de todos. A autora Mantoan (2003, p. 12) explica: A escola se entupiu do formalismo da racionalidade e cindiu-se em modalidades de ensino, tipos de serviço, grades curriculares, burocracia. Uma ruptura de base em sua estrutura organizacional, como propõe a inclusão, é uma saída para que a escola possa fluir, novamente, espalhando sua ação formadora por todos os que dela participam. A inclusão, portanto, implica mudança desse atual paradigma educacional (...) As diferenças culturais, sociais, étnicas, religiosas, de gênero, enfim, a diversidade humana está sendo cada vez mais desvelada e destacada e é condição imprescindível para se entender como aprendemos e como compreendemos o mundo e a nós mesmos (MANTOAN, 2003, p. 12). A prática na escola inclusiva precisa ser exercida por profissionais da educação que estejam dispostos a criarem oportunidades de aprendizagens para os seus educandos cotidianamente, a partir da pesquisa necessária e das mudanças dos modelos construídos tradicionalmente, os quais precisam ser modificados ou substituídos por estratégias que correspondam com as reais necessidades educativas dos sujeitos. Frente os desafios de ensinar os sujeitos com DI o entendimento da inclusão como uma concepção educacional faz-se imprescindível, pois é necessário incluir o educando com DI na vivência escolar, de acordo com suas condições físicas, sociais e psicológicas, assim, as atividades precisam ser repensadas, reestruturadas. Sobretudo, as estratégias didáticas necessitam ser aplicadas de forma dialógica e flexível, em todo o tempo o profissional da educação deve estar apto para as mudanças necessárias que a escola inclusiva exige, compreendendo que todos estão em processo de construção, ninguém está pronto e acabado, concebendo assim, a ideia do inacabamento humano contida nos ideários do Mestre Paulo Freire (2003), de que é essencial reconhecer humildemente, o estado constante de evolução humana, para àqueles e àquelas que se permitem evoluir em meio às dinâmicas incessantes do fazer educacional. Os documentos legais em vigência propagam o ideário de uma prática inclusiva que desconstrua os pragmatismos tradicionais, avançando em favor de um processo pedagógico que contemple o estudante de forma integral como destaca-se a seguir: A inclusão não prevê a utilização de práticas de ensino escolar específicas para essa ou aquela deficiência, mas sim recursos, ferramentas que podem auxiliar os processos de ensino e de aprendizagem. Os alunos aprendem até o limite em que conseguem chegar, se o ensino for de qualidade, isto é, se o professor considerar as possibilidades de desenvolvimento de cada aluno e explorar sua capacidade de aprender. Isso pode ocorrer por meio de atividades abertas, nas quais cada aluno se envolve na medida de seus interesses e necessidades, seja para construir uma ideia, resolver um problema ou realizar uma tarefa. Esse é um grande desafio a ser enfrentado pelas escolas regulares tradicionais, cujo modelo é baseado na transmissão dos conhecimentos. (BRASIL, 2004, p. 35). O desafio da prática inclusiva consiste em persistir na aprendizagem do educando, respeitando as singularidades de cada um, construindo assim, estratégias de ensino que possam colaborar para que os sujeitos se desenvolvam com integralidade. Entretanto, cabe aos docentes repensarem suas práticas a partir dos recursos e/ou ferramentas que a escola inclusiva oferece, por exemplo, as produções científicas acerca do trabalho pautado no acolhimento que serve de base teórica para a construção do trabalho prático,os jogos educativos que auxiliam na linguagem lúdica com àqueles que não conseguem se expressar por meio da escrita, recursos didáticos em Braille etc. A prática pedagógica com as pessoas de DI em qualquer fase educacional necessita de atitudes criativas, inovadoras, tão somente, os profissionais da educação precisam refletir sobre suas ações em todo o tempo para utilizar os recursos pedagógicos possíveis em prol do atendimento ideal para o respectivo estudante. Pois, acreditar na inclusão como uma alternativa para o desenvolvimento pleno dos sujeitos com DI é, indubitavelmente, explorar todas as possibilidades que o educando apresenta em aprender, considerando as condições concretas, mas sempre buscando superar todas as expectativas que compreendem os anseios do desenvolvimento pleno do estudante em questão. Cada educando é único no trabalho pedagógico, sendo assim o projeto de trabalho do professor e professora precisa ser elaborado de forma flexível com várias opções de atividades, por exemplo, um único tema de estudo deve ser aplicado de formas diferentes na sala de aula, ou seja, precisa existir vários níveis de atividades (complexas, menos complexas e assim por diante), a fim de que todos os educandos possam expressar suas aprendizagens mediante o conteúdo ministrado, de acordo com suas condições concretas de aprender. Esse é um exercício que atende aos anseios da construção de uma educação inclusiva, onde todos e todas possuem o mesmo direito de aprender e se desenvolver com êxito, sejam pessoas com necessidades especiais ou não. Na lida com a DI no interior das salas de aula é mister que os docentes elaborem estrategicamente, um plano de trabalho adaptado às circunstâncias de aprendizagem que a pessoa necessita, sendo que as informações sobre as peculiaridades do sujeito devem estar em seus laudos médicos ou diagnósticos, como também vão sendo conhecidas à medida que aconteça os diálogos necessários frente a família da pessoa com DI, ou mesmo a observação constante na convivência da escola, fato que, geralmente, fornece muitos subsídios para o trabalho com os educandos especiais. O acolhimento ao estudante é um grande ensinamento que os ideários da escola inclusiva tem dissipado nas últimas décadas, porque entende-se que antes de mais nada é primordial desenvolver uma interação empática com o educando, quando se trata da pessoa com DI (ou com qualquer outra necessidade especial) esse ato é culminante para o desenvolvimento de uma prática pedagógica valorosa. Sobretudo, “o sentido desse acolhimento não é a aceitação passiva das possibilidades de cada aluno, mas o de sermos receptivos aos níveis diferentes de desenvolvimento das crianças e dos jovens.” (BRASIL, 2004, p. 34). O ato de acolher pressupõe a intencionalidade educativa de fazer a diferença na vida das pessoas, estruturando-se cotidianamente, como profissional da educação que se preocupa com o desenvolvimento autônomo dos seus sujeitos estudantis, tendo a premissa do diálogo com os seus pares, porque um projeto pedagógico eficaz implica a participação de todos da equipe escolar, uma escola inclusiva não é feita somente pelo professor na sua relação com os educandos especiais, mas sim, com o engajamento de todos (comunidade escolar) que juntos se comprometem em construir uma cultura inclusiva. Todavia, a contemporaneidade educacional requer uma prática de ensino acolhedora perante as pessoas com DI, “afinal, as escolas existem para formar as novas gerações e não apenas alguns de seus futuros membros, os mais privilegiados." (BRASIL, 2004, p. 34). As propostas pedagógicas dialógicas pressupõem maior liberdade em sala de aula, novas maneiras de organizar o espaço físico das salas, professores mais flexíveis em seus atos, que promovem momentos ternos de imensas conversas com os seus educandos, as organizações dos trabalhos em grupo, as atividades são feitas em conjunto, viabilizando assim, a participação de todos os estudantes. Neste movimento intenso de relações os educandos com DI são inseridos, e vão se envolvendo na dinâmica das aulas, relacionando-se com seus colegas, nos casos mais graves de DI, estes podem se sentir mais acolhidos em ambientes mais harmoniosos e alegres. Ou seja, entende-se que quaisquer que forem as condições da pessoa com DI, essa necessita de ambientes pedagógicos entusiásticos, atrativos, repletos de relações humanas amistosas, em que os professores agem como mediadores do processo de conhecimento. Consequentemente, “não há como acolher todos os alunos em escolas que selecionam, reprovam, marginalizam o ensino de alguns alunos em classes e programas à parte dos demais colegas.” (BRASIL, 2004, p. 47). Depreende-se que urge praticar ações inclusivas, democráticas, humanizadoras, em que haja a desconstrução necessária dos paradigmas que limitam a progressão dos atos inclusivos. Cabe aqui ressaltar as palavras de Morin (2000, p. 50): “Compreender o humano é compreender sua unidade na diversidade, sua diversidade na unidade. É preciso conceber a unidade do múltiplo, a multiplicidade do uno.” O autor ao discorrer acerca da educação do futuro faz essa brilhante inferência, ressaltando assim, que a escola precisa respeitar os seus sujeitos com integralidade, para tanto, é necessário promover o diálogo em prol das diferenças comuns em grupos compostos por humanos, sem esquecer de enaltecer a boniteza da diversidade intrínseca em tais grupos, fato que contribui para a multiplicidade na escola, assim, quando o trabalho inclusivo sublinha o valor da diversidade humana, fica mais fácil caminhar em prol de uma inclusão favorável a todos os reclamos da sociabilidade vigente. Por sua vez Alarcão (2000, p. 20) corrobora com esse ideário de valorização das pessoas em suas singularidades e diversidades: Uma escola sem pessoas seria um edifício sem vida. Quem a torna viva são as pessoas: os alunos, os professores, os funcionários e os pais que não estando lá permanentemente, com ela interagem. As pessoas são o sentido da sua existência. Para elas existem os espaços, com elas se vive o tempo. As pessoas socializam-se no contexto que elas próprias criam e recriam. (ALARCÃO, 2000, p. 20). O processo de valorização das pessoas é um exercício diário da escola inclusiva, que busca construir ambientes ternos de relacionamentos fraternos entre os semelhantes, os quais de maneira responsável buscam o cumprimento dos seus papeis como sujeitos no contexto educativo. E essa tal valorização é bastante relevante quando se trata das pessoas com DI, as quais estão tentando se relacionar melhor consigo mesmas, na maioria das vezes, e com os seus pares. É preciso sublinhar sempre que as pessoas são o verdadeiro sentido de todo o trabalho pedagógico desenvolvido na escola. A postura reflexiva e humana apregoada pela autora Alarcão em seus escritos coadunam com a objetividade do trabalho pedagógico diante das pessoas com DI, pois a organização do planejamento, a aplicação de atividades, o relacionamento cotidiano, todos estes e muitos mais aspectos inseridos numa dinâmica diversa e difusa são passíveis de reflexão e humanização. A prática com estudante DI precisa estar fundamentada em ações que sejam pensadas com ética, vislumbrando o desenvolvimento da pessoa em sua totalidade, em outras palavras, pode-se dizer que o docente perante o atendimento da pessoa com DI deve buscar explorar todas as condições que tal estudante apresenta para aprender, e uma atividade só pode ser finalizada quando a pessoa conseguir êxito na realização autônoma, assim deve-se esgotar todas as possibilidades para tal realização, por exemplo, se está sendo trabalhado noções básicas da matemática com um específico educando com DI é preciso utilizar vários recursos como: jogos, materiais lúdicos, materiais manipuláveis, recursos tecnológicos afins, mídias etc. É claro que, o docente deve insistir até os limites de
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