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Seminário II CONTROLE PROCESSUAL DA INCIDÊNCIA: DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE Questões Quais as espécies de controle de constitucionalidade existentes no ordenamento jurídico brasileiro? Explicar as diferentes técnicas de interpretação adotadas pelo STF no controle de constitucionalidade (parcial com redução de texto, sem redução de texto, interpretação conforme à Constituição). Explicar a modulação de efeitos prescrita no art. 27 da Lei n. 9.868/99. Quais os impactos da atribuição de efeitos erga omnes ao recurso extraordinário repetitivos nos termos do CPC/15 sobre o controle de constitucionalidade? Para que haja o controle de constitucionalidade, o ordenamento jurídico brasileiro utiliza os seguintes instrumentos: - O controle na forma difusa, em que todo e qualquer tribunal ou juiz pode fazer a análise de um ato normativo se este encontra compatibilidade com a CF, em um caso concreto e - O controle na forma concentrada, que visa garantir o banimento de lei inconstitucional do ordenamento jurídico, por meios das seguintes ações previstas na Constituição Federal: Ação Direta de Inconstitucionalidade genérica (art. 102, I, a), Ação Direta de Inconstitucionalidade Interventiva (art. 36, III), Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão (art. 103, §2º), Ação Declaratória de Constitucionalidade (art. 102, I,a) e Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (art. 102, §1º). A respeito das técnicas utilizadas pelo Supremo Tribunal Federal para o controle de constitucionalidade, tem-se as seguintes: parcial com redução de texto, sem redução de texto, interpretação conforme à Constituição. Quando o STF declara a constitucionalidade de uma norma, ele utiliza a técnica de interpretação conforme à Constituição, pois a norma tem que se adequar com o texto constitucional. Quando da utilização da técnica parcial com redução de texto, há a declaração de inconstitucionalidade, que suprime parte ou todo o texto. Há, também, a declaração de inconstitucionalidade sem redução de texto, em que todo o texto é considerado inconstitucional na aplicação específica ao caso. O art. 27 da Lei n. 9.868/99 prevê a modulação dos efeitos, que diz: Art. 27. Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois terços de seus membros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado. Ou seja, o STF pode declarar que a inconstitucionalidade ocorrerá somente a partir do trânsito em julgado da decisão, efeito ex nunc, pode declarar a inconstitucionalidade com a suspensão dos efeitos por algum tempo, a ser fixado na sentença, que é o efeito pro futuro e também pode declarar a inconstitucionalidade sem a pronúncia da nulidade, permitindo que se opere a suspensão de aplicação da lei e dos processos em curso até que o legislador, dentro de um prazo que seja razoável, se manifeste sobre a inconstitucionalidade. Em que pese a atribuição de efeitos erga omnes aos recursos extraordinários repetitivos, nos termos do CPC/15, sobre o controle de constitucionalidade, enseja na impossibilidade do tribunal alterar sua posição mediante a matéria questionada. A decisão de mérito que trata sobre a constitucionalidade ou inconstitucionalidade da matéria tem efeito universal, erga omnes, o que assegura a autoridade da decisão do STF em todos os processos que tratem daquela matéria, ainda que não estejam submetidos àquele tribunal. _________________________________________________________________ Os conceitos de controle concreto e abstrato de constitucionalidade podem ser equiparados aos conceitos de controle difuso e concentrado, respectivamente? Que espécie de controle de constitucionalidade o STF exerce ao analisar pretensão deduzida em reclamação (art. 102, I, “l”, da CF)? Concreto ou abstrato, difuso ou concentrado? Em relação aos conceitos de controle concreto e abstrato serem equiparados, respectivamente, aos conceitos de difuso e concentrado, entendo que sim, pois o controle concreto ou difuso é exercitável perante um caso concreto, a ser decidido pelo poder Judiciário. Já o controle abstrato ou concentrado, visa declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, independentemente de caso concreto. Quando da análise de reclamação, o Supremo Tribunal Federal utiliza-se do controle abstrato ou concentrado, inclusive segundo entendimento de Pedro Lenza, que diz: “A fim de garantir a autoridade da decisão proferida pelo STF, em sede de controle concentrado de constitucionalidade, a Excelsa Corte admite o ajuizamento de reclamação, nos termos do art. 102, I, “I” ...” (LENZA, Pedro. 2010, p. 295). Ocorre que o STF considera parte legítima para a propositura de reclamação todos que forem atingidos por decisões contrárias ao entendimento firmado pela Suprema Corte, no julgamento de mérito proferido em ação direta de inconstitucionalidade, em consonância com o parágrafo único do art. 28 da Lei 9.868/99, sendo, portanto, claro que é um controle abstrato ou concentrado, conforme se vê. _________________________________________________________________ Que significa afirmar que as sentenças produzidas em ADIN e ADECON possuem “efeito dúplice”? As decisões proferidas em ADIN e ADECON sempre vinculam os demais órgãos do Poder Executivo e Judiciário? E os órgãos do Poder Legislativo? O efeito vinculante da súmula referida no art. 103-A, da CF/88, introduzido pela EC n. 45/04, é o mesmo da ADIN? Justifique sua resposta. Afirmar que as sentenças produzidas em ADIN e ADECON possuem “efeito dúplice”, significa dizer que elas produzem o mesmo resultado, que pode ser a declaração de constitucionalidade ou inconstitucionalidade de atos normativos e leis. Em que pese as decisões proferidas pela ADIN e ADECON vincular os demais órgãos do Poder Executivo e Judiciário, de fato, vinculam, inclusive com supedâneo no art. 102, §2º, da CF, que diz: § 2º As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal, nas ações diretas de inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de constitucionalidade produzirão eficácia contra todos e efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal. No entanto, mister ressaltar que o Poder Legislativo não é vinculado às decisões das referidas ações, visto que, conforme Pedro Lenza, o Poder Legislativo “...poderá, inclusive, editar nova lei em sentido contrário da decisão dada pelo STF em controle de constitucionalidade concentrado ou edição de súmula vinculante”. Em relação ao efeito vinculante da súmula referida no art. 103-A, da CF, introduzida pela EC n. 45/04, é o mesmo da ADIN. E, da mesma forma, não vincula o Poder Legislativo! _________________________________________________________________ O STF tem a prerrogativa de rever seus posicionamentos ou também está inexoravelmente vinculado às decisões por ele produzidas em controle abstrato de constitucionalidade? Se determinada lei tributária, num dado momento histórico, é declarada constitucional em ADECON, poderá, futuramente, após mudança substancial dos membros desse tribunal, ser declarada inconstitucional em ADIN? É cabível a modulação de efeitos neste caso? Analisar a questão levando-se em conta os princípios da segurança jurídica, coisa julgada e as disposições do art. 927, § 3o, do CPC/15. O Supremo Tribunal Federal, quando produz uma súmula vinculante, não vincula a si próprio, portanto, não há que se falar na impossibilidade da Suprema Corte rever suas próprias decisões/ seus posicionamentos. Até mesmo porque, o direito acompanha a evolução social, ele não é perene. Em relação à lei tributária que foi declara constitucional em uma ADECON, num dado momento histórico, nada impede que esta sejadeclarada inconstitucional em ADIN, futuramente. Ademais, a ADIN poderá modular seus efeitos, conforme prevê o art. 27 da Lei 9.868/99, conforme já tratado anteriormente. Aliás, a modulação dos efeitos se dá, justamente, para que haja a garantia da segurança jurídica e interesse social. _________________________________________________________________ O art. 535, §5º, do CPC/15 prevê a possibilidade de desconstituição, por meio de impugnação ao cumprimento de sentença, de título executivo fundado em lei ou ato normativo declarados inconstitucionais pelo STF ou em aplicação ou interpretação tidas por incompatíveis com a Constituição Federal em controle concentrado ou difuso. Pergunta-se: (i) É necessário que a declaração de inconstitucionalidade seja anterior à formação do título executivo? E se for posterior, poderá ser alegada? Se sim, por qual meio? Há prazo para esta alegação? Em relação ao caso apresentado, não é necessário que a declaração de inconstitucionalidade seja anterior à formação do título. Caso seja posterior, poderá ser alegada se seus efeitos tiverem sido modulados, de maneira que retroajam até a data de sua formação. A alegação da constitucionalidade que sobreveio à formação do título deverá ser alegada em impugnação ao cumprimento de sentença se a decisão da Suprema Corte for anterior ao trânsito em julgado da decisão que está sendo executada ou, se for posterior, terá que ser por meio de ação rescisória, num prazo de 2 anos a contar do trânsito em julgado. _________________________________________________________________ Contribuinte ajuíza ação declaratória de inexistência de relação jurídico-tributária que o obrigue em relação a tributo cuja lei instituidora seria, em seu sentir, inconstitucional (porque violadora do princípio da anterioridade). Paralelamente a isso, o STF, em ADIN, declara constitucional a mesma lei, fazendo-o, contudo, em relação a argumento diverso. Pergunta-se: Como deve o juiz da ação declaratória agir: examinar o mérito da ação ou extingui-la, sem julgamento de mérito (sem análise do direito material), por força dos efeitos erga omnes da decisão em controle de constitucionalidade abstrato? O juiz não poderá examinar o mérito e deverá extingui-la sem resolução de mérito, visto que as decisões que são proferidas em sede de controle de constitucionalidade abstrato possuem efeito erga omnes, conforme já tratado anteriormente, e, assim, todos os demais órgãos do judiciário são vinculados a essa decisão. Se o STF tivesse se pronunciado sobre o mesmo argumento veiculado na ação declaratória (violação do princípio da anterioridade), qual solução se colocaria adequada? Neste caso, o juiz deveria extinguir a ação com resolução de mérito, uma vez que o STF se pronunciou sobre o mesmo argumento veiculado na ação declaratória. _________________________________________________________________ Se a referida ação declaratória já tivesse sido definitivamente julgada, poder-se-ia falar em ação rescisória com base no julgamento do STF (art. 966 CPC/15)? Qual o termo inicial do prazo para ajuizamento da ação rescisória? E se o prazo para propositura dessa ação (2 anos) houver exaurido? Haveria alguma outra medida a ser adotada pelo Fisco objetivando desconstituir a coisa julgada, diante desse último cenário (exaurimento do prazo de 2 anos da ação rescisória)? Vide art. 505, I do CPC/15. Uma vez que a ação declaratória já tivesse sido definitivamente julgada, então poder-se-ia falar em ação rescisória com base no julgamento do STF. No entanto, se o prazo de 2 anos tiver exaurido, haverá que se respeitar a coisa julgada, pois é necessário que se respeite o devido processo legal, a razoável duração do processo e o princípio da segurança jurídico.