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Atos Ineficazes e Revogáveis na Falência

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DIREITO EMPRESARIAL APLICADO II 
Aula 14/15 
 
 
 
 
Professora Maria Lucia de Azevedo 
 
Email: advmalus@yahoo.com.br 
 
Atos ineficazes e Atos revogáveis 
Ações Incidentais: 
Ineficácia dos atos realizados pelo falido 
Ação Revocatória; 
Liquidação do Ativo na Falência: 
Formas de liquidação; 
Atuação do Comitê de Credores 
Ausência de Sucessão Trabalhista e Tributária 
Pagamento do Passivo na Falência; 
Restituições; 
Créditos Extraconcursais; 
Preferência dos Créditos Concursais; 
Encerramento da Falência 
Extinção das Obrigações 
Reabilitação da atividade empresarial; 
Crimes Falimentares 
INEFICÁCIA DOS ATOS PRATICADOS ANTES 
DA FALÊNCIA 
►A ação revocatória, com previsão visa a “tirar o efeito de determinados atos praticados 
pelo devedor, destituindo-os de eficácia, mas tão-somente em relação à massa falida, sem 
anulá-los ou desconstituí-los totalmente 
 
► OBJETIVO: Recomposição do patrimônio do devedor falido, normalmente dilapidado 
por atos durante o estado de insolvência 
 
►Caio Mário da Silva Pereira, ineficácia “é a recusa de efeitos quando, observados embora os 
requisitos legais, intercorre obstáculo extrínseco, que impede se complete o ciclo de perfeição do 
ato.” Ainda conforme os ensinamentos do professor Caio Mário, tal ineficácia pode ser “originária ou 
superveniente, conforme o fato impeditivo de produção de efeitos seja simultâneo à constituição do 
ato ou ocorra posteriormente, operando, contudo, retroativamente” 
 
 
 
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INEFICÁCIA DOS ATOS PRATICADOS ANTES 
DA FALÊNCIA 
► O objetivo da ação sob análise pode ser extraído da própria 
etimologia da palavra revocatória, a qual é derivada do verbo 
revocar, que não significa desfazer ou tornar nulo, mas sim 
chamar para si, trazer de volta - Requião 
► A declaração de ineficácia do ato não se confunde com ação para 
revogação do negócio jurídico praticado, tampouco para 
decretação de nulidade ou anulação do ato jurídico, mas sim de 
ação que tem como finalidade a reintegração do patrimônio do 
devedor, restituindo bens que indevidamente foram por ele 
transferidos, mediante a prática de algum ato com objetivo de 
prejudicar credores. 
► Espécies 
A) Objetiva – art. 129 
B) Subjetiva – art. 130 
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DA INEFICÁCIA OBJETIVA – ART. 129 
► Desnecessidade de comprovação do 
elemento subjetivo – consilium fraudis 
 
► É admissível, embora dispiciendo, a 
propositura de ação revocatória para ver 
declarado ineficaz um ato contido no rol do 
artigo 129, na chamada ria de ineficácia 
relativa”. 
 
► A decisão judicial que reconhece a ineficácia 
objetiva tem natureza meramente declaratória 
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INEFICÁCIA OBJETIVA 
► O art. 129 trata das hipóteses em que caberá 
ação revocatória independentemente de ter o 
devedor agido com fraude, já que cuida de atos 
que presumidamente causam danos à massa 
falida. 
► A ação revocatória não será a única via para se 
obter a declaração de ineficácia dos atos 
elencados nos incisos do referido dispositivo 
legal, já que o seu parágrafo único prevê a 
possibilidade de declaração da ineficácia de 
ofício pelo juiz, alegada em defesa, em ação 
própria ou incidentalmente no curso do processo. 
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DA INEFICÁCIA SUBJETIVA – ART. 130 
► Embora o artigo utilize a expressão “são revogáveis”, 
a análise do negócio também se situa no plano de 
eficácia, ou seja, mesmo quando procedente o 
pedido, o ato permanece íntegro e válido, mas não 
surtirá efeitos em relação à massa. 
► Necessidade da propositura da ação revocatória. 
► Prova do consilium fraudeis eventus damni. 
► A sentença é constitutiva negativa, pois desconstitui 
o ato. 
► Pontes de Miranda chama esta ação de: ação 
revocatória falencial. 
 
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AÇÃO REVOCATÓRIA 
► Conceito da Ação Revocatória: É a ação por meio da qual se retira a eficácia de 
certos atos praticados pelo devedor, antes da declaração de falência, em relação à 
massa falida. 
► Competência: A ação revocatória é julgada no juízo universal da falência e 
processada pelo rito ordinário 
► Diferença da Ação Revocatória e Ação Pauliana: 
 A ação pauliana torna o ato ineficaz apenas em relação ao credor que intentou a 
ação, já na ação revocatória o ato é ineficaz em relação à Massa. 
 Na ação pauliana só o credor quirografário é legitimado. Na ação revocatória a 
legitimidade ativa é ampla, conforme item a seguir. 
► Legitimidade Ativa: Administrador Judicial, Ministério Público e qualquer credor podem 
ajuizar a ação revocatória, consoante artigo 132, da LF, desde que em até 3 anos a 
contar da quebra. 
► Legitimados Passivos: O artigo 133, da LF. indica de forma clara quem são as pessoas 
que DEVEM figurar no pólo passivo desta ação. A expressão “pode” prevista nesse artigo 
tem que ser interpretada como “deve” (litisconsórcio passivo necessário). 
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AÇÃO REVOCATÓRIA 
► Procedimento da Ação Revocatória - por determinação do art. 134 da nova Lei de Falências, a ação ordinária 
submete-se ao procedimento ordinário. Aplicam-se, portanto, os artigos 282 e seguintes do Código de Processo Civil 
Brasileiro. 
 
►Prazo para propositura - art. 132 in fine da nova Lei de Falências prevê que a ação revocatória deverá ser proposta 
no prazo de três anos contados da decretação da falência. 
 
► Efeitos - As partes retornarão ao estado anterior e “o contratante de boa-fé terá direito à restituição dos bens ou 
valores entregues ao devedor”.Essa regra, contudo, é excepcionada pelo parágrafo 1o do art. 136 da Nova Lei de 
Falências, que dispõe que “na hipótese de securitização de créditos do devedor, não será declarada a ineficácia ou 
revogado o ato de cessão em prejuízo dos direitos dos portadores de valores mobiliários emitidos pelo securitizador.O 
art. 136 do referido diploma legal prevê também, em seu parágrafo 2o, que o terceiro de boa-fé terá ação contra o 
devedor ou seus garantes para se ressarcir de eventuais perdas e danos decorrentes da declaração de ineficácia ou 
revogação. 
 
 
 
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EFEITOS DA SENTENÇA EM RELAÇÃO 
AOS BENS DO FALIDO 
ARRECADAÇÃO DOS BENS 
 
► Após a assinatura do termo de compromisso pelo administrador ( art. 33 LF), deve este 
arrecadar todos os bens do falido e dos sócios falidos sob pena de responsabilidade 
pessoal – art. 103 e 108 
 
► Direito do falido de acompanhar a arrecadação e avaliação dos bens - art. 108,§3º 
 
► Bens penhorados ou apreendidos em outro juízo – art. 108,§3º , salvo em execução 
fiscal 
 
► Negociação com bens arrecadados - necessidade de autorização judicial ex. 
locação 
 
 
 
 
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GUARDA DOS BENS 
ARRECADADOS 
 
► Art. 108,§1º, LF - guarda dos bens 
arrecadados – apostila pág. 177 
 
► Regra- guarda do administrador. A lei 
admite a nomeação de outro 
depositário (falido ou representantes da 
sociedade falida), não excluída a 
responsabilidade do administrador 
 
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BENS EXCLUÍDOS DA ARRECADAÇÃO 
 
 Bens absolutamente impenhoráveis (art. 108, 
§4º, da LF c/c art. 649, do CPC). 
 Bens legalmente impenhoráveis (ex. bem de 
família - Lei 8009/90). 
 Bens inalienáveis por ato de vontade, isto é, 
voluntariamente inalienáveis. Só é possível nas 
declarações de última vontade e nas doações- 
art. 1.676 CC/02 
 
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PROCEDIMENTO DA ARRECADAÇÃO 
 
 
►Art. 108 - “ATO CONTÍNUO À ASSINATURA DO TERMO DE COMPROMISSO, O 
ADMINISTRADOR JUDICIAL EFETUARÁ A ARRECADAÇÃO DOS BENS E DOCUMENTOS E A 
AVALIAÇÃO DOS BENS, SEPARADAMENTE OU EM BLOCO, NO LOCAL EM QUE SE 
ENCONTREM, REQUERENDO AO JUIZ, PARA ESSES FINS, AS MEDIDAS NECESSÁRIAS”. 
 
► A ARRECADAÇÃO DEVE SER DAR APÓS A ASSINATURA DO TERMO DE COMPROMISO 
PELO ADMINISTRADOR( ART. 33 LF), SOB PENA DE RESPONSABILIDADE PESSOAL 
 
► ART. 110, LF – COM A ARRECADAÇÃO DEVE SER LAVRADO UM AUTO DE ARRECADAÇÃO 
 
► O AUTO DE ARRECADAÇÃO DOS BENS DEVE CONTER O TERMO DE INVENTÁRIO DOS 
BENS E LAUDO DE AVALIAÇÃO 
 
► ART. 110,§2º - ELEMENTOS ESSENCIAIS DO INVENTÁRIO 
 
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PROCEDIMENTO DA ARRECADAÇÃO 
 
► POSSIBILIDADE DA CONTRATAÇÃO DE AVALIADORES PELO 
ADMINISTRADOR, MEDIANTE AUTORIZAÇÃO JUDICIAL – ART. 22, III, “h” LF 
 
► POSSILIDADE DA AVALIAÇÃO DOS BENS EM BLOCO – EXCEÇÃO – BENS 
COM GARANTIA REAL – ESTES CRÉDITOS CONCORRERÃO NESSA CLASSE 
ATÉ O LIMITE DA GARANTIA 
 
► ART. 110,§1º,LF - CONCESSÃO DE DILAÇÃO DE PRAZO PARA 
APRESENTAÇÃO DO LAUDO DE AVALIAÇÃO, A QUAL NÃO PODE EXCEDER 
30 DIAS DA APRESENTAÇÃO DO AUTO DE ARRECADAÇÃO 
 
► NÃO HÁ MAIS EXIGÊNCIA LEGAL DA PARTICIPAÇÃO DO MP NA 
ARRCADAÇÃO 
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VENDA ANTECIPADA DE BENS 
► ART. 139 – REGRA – A VENDA DOS BENS DEVE SE DAR LOGO APÓS A JUNTADA DO 
AUTO DE ARRECADAÇÃO AO PROCESSO 
 
EXCEÇÕES: ART. 75 – CERLERIDAE E ECONOMIA PROCESSUAL 
 
 A) ART. 111, LF- AQUISIÇÃO OU ADJUDICAÇAO DOS BENS PELOS CREDORES, PELO 
VALOR DA AVALIAÇÃO 
 
► OBS: ULHOA – CHAMDADA VENDA SUMÁRIA DE BENS – VALOR IRRISÓRIO DOS BENS 
ARRECADADOS 
 
 B) ART. 113,LF – BENS PERECÍVEIS OU DE FÁCIO DETERIORAÇÃO – LIBERDADE DO JUIZ 
PARA DEFINIR O MEIO MAIS ADEQUADO, DIFERENTE DA LEI ANTERIOR QUE IMPUNHA QUE 
A VENDA SE DESSE ATRAVÉS DE LEILÃO ( ART. 73 DEC.) 
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PEDIDO DE RESTITUIÇÃO 
► Pedido de restituição – ação incidental proposta pelo titular de bem 
indevidamente arrecadado, que se encontre na posse do falido. Também 
poderá pedir restituição aquele que houver vendido algo a crédito ao falido, 
desde que o bem tenha sido entregue nos 15 dias anteriores ao requerimento 
de sua falência e ainda não tenha sido procedida a alienação 
►Procedimento - arts. 87/90 
► Indisponibilidade -art. 91 
► Entrega antecipada do bem – 90 § único c/c 273 CPC. 
► Recurso – apelação com efeito suspensivo – artigo 90, caput. 
OBS: Autor do pedido (credor separatista ou reivindicante )que quiser 
receber o bem antes do trânsito em julgado deve prestar caução 
 
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PEDIDO DE RESTITUIÇÃO 
► RESTITUIÇÃO IN NATURA – ART. 85. Súmula 417 (“de” dinheiro) do STF 
 
► RESTITUIÇÃO EXCEPCIONAL – Súmulas 193 (entrega efetiva) e 495 
(desde que arrecadado), do STF 
 
► RESTITUIÇÃO EM DINHEIRO – ART. 86 
OBS. Diferença entre restituição DE e EM dinheiro. 
 
► EMBARGOS (art. 93) – bens imateriais/liminar 
 
► Alienação fiduciária e similares - art. 117 
 
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PEDIDO DE RESTITUIÇÃO 
Procedimento – arts. 87/90 
 
1º autuação do pedido em separado 
2º intimação do falido, Comitê, credores e administarador para manifestação 
no prazo sucessivo de 5 dias 
3º - possibilidade da designação de AIJ 
4º - acolhimento do pedido – entrega da coisa no prazo de 48 hs, com o 
ressarcimeto à massa das despesas relativas à conservação do bem 
devolvido – art. 88 
OBS: acolhimento do pedido sem contetação da massa – descabimento na 
condenação em honorários 
5º - desacolhimento do pedido – possibilidade de inclusão do autor no quadro 
geral de credores, na classificação que lhe couber 
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PEDIDO DE RESTITUIÇÃO 
• E o imposto de renda? Duas posições. Isso pq a lei não trata do tema. A 1ª 
(majoritária) é melhor para a Fazenda Nacional no sentido de que é cabível o 
pedido de restituição por 2 motivos: 
• a) a Súmula 417, STF permite; 
• b) interpretação por analogia do art. 51, Lei 8212/91. 
• A 2ª posição (Cláudio Márcio - ?) entende que não é admissível a restituição 
para imposto de renda. Entende que deve ser pago pelo art. 83, LF. Isso pq: 
• a) o instituto da restituição foi deturpado em sua origem de ser aplicável a 
bens fungíveis (a restituição está servindo, em verdade, para beneficiar a 
terceiros). 
• b) diante disso, tal anomalia deveria ter vindo expressa em lei. Ora, a lei da 
Previdência prevê, mas quanto ao IR não há lei própria; 
• c) (oriundo este argumento de Carlos Maximiliano) não se admite analogia 
para criar privilégios. Ora, se aplicamos a analogia o art. 51, Lei 8212/91 
admitiremos a restituição e concederemos privilégio à Fazenda Nacional. 
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Liquidação do Ativo na Falência. 
 
DA REALIZAÇÃO DO ATIVO 
 
A realização do ativo consiste, em regra, na venda dos bens arrecadados 
pelo administrador judicial, para que o dinheiro obtido seja empregado no 
pagamento dos credores. 
A realização do ativo inicia-se logo após a arrecadação dos bens, com a 
juntada do respectivo auto ao processo de falência, ainda que não esteja 
consolidado o quadro-geral de credores (arts. 139 e 140, § 2º). 
Essa medida é positiva, pois diferentemente do que ocorria no sistema 
anterior, os bens não ficam por muito tempo depositados, sujeitos à 
deterioração ou perda de valor, evitando-se, ainda, oneração à massa com 
gastos com depósito ou manutenção desses bens. 
De modo excepcional, a lei permite ao juiz que, ouvido o Comitê, autorize 
os credores, de forma individual ou coletiva, em razão dos custos e no 
interesse da massa falida, a adquirir ou adjudicar, de imediato, os bens 
arrecadados, pelo valor da avaliação, atendida a regra de classificação 
e preferência entre eles. Excluindo-se a forma excepcional acima 
mencionada, a realização do ativo consistirá na alienação dos bens a 
terceiro 
Essa alienação poderá dar se por várias formas, de 
acordo com a ordem de preferência descrita no art. 
140: 
1) alienação da empresa, com a venda de seus estabelecimentos em 
bloco; 
2) alienação da empresa, com a venda de suas filiais ou unidades 
produtivas isoladamente; 
3) alienação em bloco dos bens que integram cada um dos 
estabelecimentos do devedor; 
4) alienação dos bens individualmente considerados. 
A alienação da empresa terá por objeto o conjunto de determinados 
bens necessários à operação rentável da unidade de produção, que 
poderá compreender a transferência de contratos específicos. 
Nas transmissões de bens alienados que dependam de registro 
público, a este servirá como título aquisitivo suficiente o 
mandado judicial respectivo. Claro que se convier à realização do 
ativo, ou em razão de oportunidade, podem ser adotadas mais de uma 
dessas formas de alienação (art. 140, § 1º). 
Formas de Liquidação 
O juiz, ouvido o administrador judicial e atendendo à orientação do Comitê, se houver, 
ordenará que a alienação se proceda sob uma das seguintes modalidades (art. 142): 
1) leilão, por lances orais, em que se aplicam, no que couber, as regras do Código de 
Processo Civil; 
2) propostas fechadas, mediante a entrega, em cartório e sob recibo, de envelopes 
lacrados, a serem abertos pelo juiz, no dia, hora e local designados no edital, lavrando 
o escrivão o auto respectivo, assinado pelos presentes, e juntando as propostas aos 
autos da falência; 
3) pregão, que constitui modalidade híbrida das anteriores, e que comporta duas fases: 
a) recebimento de propostas fechadas; b) leilão, por lances orais, do qual 
participarão somente aqueles que apresentarem propostas não inferiores a 90% da maior 
proposta ofertada, ainda que inferior ao valor de avaliação. Nessa hipótese, recebidas 
e abertas as propostas, o juiz ordenará a notificação dos ofertantes, cujas propostas 
atendam ao requisito da letra b, para comparecer ao leilão. O valor de abertura do 
leilão será o da proposta recebida do maior ofertante presente, considerando-se esse 
valor como lance, ao qual ele fica obrigado. Caso não compareça ao leilão o ofertante 
da maior proposta e não seja dado lance igual ou superior ao valor por ele ofertado, 
fica obrigado a prestar a diferençaverificada, constituindo a respectiva certidão do 
juízo título executivo para a cobrança dos valores pelo administrador judicial. 
OBS: Independentemente da modalidade de alienação eleita, deverá ser antecedida de 
anúncio publicado em jornal de ampla circulação, com 15 dias de antecedência, em se 
tratando de bens imóveis, e com 30 dias na alienação da empresa ou de bens imóveis, 
facultada a divulgação por outros meios que contribuam para o amplo conhecimento da 
venda. Além disso, o Ministério Público será sempre intimado pessoalmente, devendo 
estar presente ao ato, sob pena de nulidade. 
Atuação do Comitê de Credores. 
O juiz, ouvido o administrador judicial e atendendo à 
orientação do Comitê de Credores, se houver, ordenará 
que a alienação se proceda sob uma das seguintes 
modalidades (art. 142): 
IV. Ausência de Sucessão Trabalhista e Tributária. 
O artigo 141, II deixa claro que o objeto da alienação 
estará livre de qualquer ônus e não haverá sucessão do 
arrematante nas obrigações do devedor, até mesmo as de 
natureza tributária, as derivadas da legislação do 
trabalho e as decorrentes de acidentes de trabalho, 
salvo quando o arrematante for: sócio da sociedade 
falida, ou sociedade controlada pelo falido; parente, 
em linha reta ou colateral até o 4º grau, consanguíneo 
ou afim, do falido ou de sócio da sociedade falida; ou 
identificado como agente do falido com o objetivo de 
fraudar a sucessão. 
PAGAMENTO DO PASSIVO NA FALÊNCIA 
O dinheiro resultante da realização do ativo deverá ser depositado pelo administrador 
judicial, em 24 horas, em instituição financeira, obedecidas as normas da Corregedoria 
Geral de Justiça de cada Estado. Enquanto não iniciado o pagamento, o dinheiro 
depositado deve ser aplicado em algum tipo de investimento financeiro para a 
preservação de seu valor frente à inflação. 
Com o dinheiro em caixa, o administrador pode começar a fazer os pagamentos, através 
de uma de duas formas, de acordo com a escolha do juiz: 
• Cheques nominativos 
• Mandados de levantamento do juiz 
Os pagamentos, na falência, serão feitos pelo administrador judicial com observância da 
ordem legal, que distingue os credores em espécies e classes. 
 
As espécies de credores são quatro: 
a) credores da massa CRÉDITOS CONSTITUÍDOS APÓS A FALÊNCIA 
b) restituições em dinheiro PARA BENS QUE NÃO PERTENCEM A MASSA 
c) credores da falida CRÉDITOS VENCIDOS OU VINCENDOS CONSTITUIDOS ANTES DA 
FALÊNCIA 
d) sócios ou acionistas ULTIMOS A RECEBER NA FALÊNCIA TB CRÉDORES SUBORDINADOS 
São duas as espécies de créditos extraconcursais: 
 • os relacionados à administração da falência 
• as restituições em dinheiro 
RESTITUIÇÃO – ART 85 
 
 Os pedidos de restituições devem ser atendidos em dinheiro 
quando têm por objeto bem dessa natureza (contribuição do 
empregado para o INSS, adiantamento com base num contrato de 
câmbio, compensação de contratante de boa fé pelos prejuízos 
derivados da declaração de ineficácia de ato da falida etc.) ou se o 
bem (sic), após a arrecadação, foi roubado, furtado ou perdido. 
 
CRÉDITOS EXTRACONCURSAIS – ART. 84 
As despesas com a administração da falência, inclusive a 
remuneração do administrador judicial, são créditos extraconcursais 
no sentido de que devem ser satisfeitos antes do pagamento dos 
credores da sociedade falida como se observa no art. 83 da LRF. 
 
PREFERENCIA DOS CRÉDITOS CONCURSAIS ART 83 
A ordem de classificação dos credores da falida distingue essa espécie em oito classes: 
A. Empregados e equiparados 
Entre os credores da falida, o primeiro pagamento deve beneficiar, em rateio, os titulares de direito à 
indenização por acidente de trabalho causado por culpa ou dolo do empregador (esse crédito não se 
confunde com o benefício, devido pelo INSS, em razão do mesmo acidente), de créditos trabalhistas e os 
equiparados (representante comercial autônomo e a Caixa Econômica Federal pelo crédito do FGTS). A 
lei estabelece um limite de valor ao definir os créditos dessa classe. O limite é 150 salários mínimos por 
credor. (...) aquele que possui crédito maior que o teto indicado participa do concurso em duas classes: 
pelo valor de 150 salários mínimos na dos empregados e equiparados, e pelo que exceder, na dos 
quirografários. Outra medida de amparo do pequeno assalariado adotada pela lei é a antecipação de 
parte do crédito titulado. Art. 151. Os créditos trabalhistas de natureza estritamente salarial vencidos 
nos 3 (três) meses anteriores à decretação da falência, até o limite de 5 (cinco) salários mínimos por 
trabalhador, serão pagos tão logo haja disponibilidade em caixa. 
 
B. Credores com garantia real 
Os titulares de garantia real integram a categoria dos credores não sujeitos a rateio. Têm o seu direito 
creditício atendido com o produto da venda de certos bens sobre os quais recai a garantia real (ou o 
privilégio especial). A garantia real decorre de ato de vontade das partes. 
O Código Civil brasileiro contempla as seguintes modalidades de garantia: 
• o penhor (CC, art. 1.419) 
• a hipoteca (CC, art. 1.419) 
• a anticrese (CC, art. 1.419) 
• a alienação fiduciária (CC, art. 1.361) 
C. Fisco 
Na classe dos créditos públicos, encontram-se duas categorias: fiscais e parafiscais. A primeira 
compreende todos os direitos titularizados pelo Poder Público inscritos na dívida ativa. São créditos 
tributários (impostos, taxas e contribuições) ou não tributários (obrigações contratuais ou 
extracontratuais). Na categoria dos créditos parafiscais estão os de entidades privadas que prestam 
serviços de interesse social (Sesc, Senai etc.). 
Existem 3 subclasses dos credores públicos: 
1. Créditos à União e suas autarquias (ex. impostos e taxas federais, contribuição devida pela falida à 
Seguridade Social e anuidades cobradas por órgão profissional) e os créditos parafiscais (Sesc, Sesi, PIS 
etc.) 
2. Créditos aos Estados, DF, Territórios e autarquias 
3. Créditos aos Municípios e suas autarquias 
O crédito fiscal goza da garantia de não participar de concurso de credores. Assim, a execução fiscal 
ajuizada antes da decretação da falência não se suspende, nem se encontra o fisco inibido de promovê-
la mesmo após a quebra da devedora. Em decorrência, dependendo da tramitação dos feitos, pode 
ocorrer de o credor público ter o seu direito atendido antes dos trabalhistas e equiparados. 
Penas pecuniárias por infração administrativa ou desrespeito à lei penal impostas por autoridade 
federal, estadual ou municipal, inclusive as multas tributárias são classificadas como crédito 
subquirografário. 
D. Credores com privilégio especial 
Os credores com privilégio especial integram a categoria dos credores não sujeitos a rateio. Têm o seu 
direito creditício atendido com o produto da venda de certos bens sobre os quais recai o privilégio 
especial. Na classe dos credores com privilégio especial, o crédito será satisfeito preferencialmente com 
o produto da venda de determinados bens da sociedade falida. O saldo eventualmente não coberto por 
esse produto é reclassificado como quirografário. 
São exemplos de credores dessa classe: 
• Credor por benfeitorias necessárias ou úteis sobre a coisa beneficiada (CC, art. 964, III) 
• O autor da obra, pelos direitos do contrato de edição, sobre os exemplares desta, na falência da sociedade 
editora (CC, art. 964, VII) 
• Os credores titulares de direito de retenção sobre a coisa retida, como, por exemplo, os armazéns gerais 
 
• Os subscritores ou candidatos à aquisição de unidade condominial sobre as quantias pagas ao 
incorporador falido 
• aqueles em favor dos microempreendedores individuais e das microempresas e empresas de pequeno 
porte * LC 147/2014 
• entre outros. 
 
E. Credores com privilégio geral 
• Debenturistas com debêntures flutuantes 
 • Advogado (na falência de sociedade cliente ou sucumbente) 
F. QuirografáriosSão exemplos: 
• Credores por títulos de crédito 
• Debenturistas sem garantia 
• Credores por obrigação extracontratual, como indenização por ato ilícito 
• Reclassificações de créditos não sujeitos a rateio 
• Créditos públicos não inscritos na dívida ativa 
 São exemplos Subquirografários 
• Titulares de crédito por ato ilícito (São os titulares de crédito derivados de multas 
contratuais e penas pecuniárias por infração à lei penal ou administrativa). 
• Credores subordinados 
 
G. Titulares de crédito derivados de multas contratuais e penas pecuniárias 
H. Credores subordinados 
• Debenturistas titulares de debêntures subordinadas 
• Diretores ou administradores da sociedade falida sem vínculo empregatício 
• Os sócios ou acionistas da sociedade falida, por créditos de qualquer natureza 
 
ENCERRAMENTO DA FALÊNCIA 
 
Após fazer o último pagamento, o administrador judicial deve apresentar sua 
prestação de contas, em até 30 dias. 
Processadas e julgadas as contas, ele tem 10 dias para submeter ao juiz seu 
relatório final, onde informará o valor do ativo e o do produto de sua realização, 
bem como o do passivo e o dos pagamentos feitos aos credores. Informará, 
também, o saldo não pago dos créditos admitidos. 
Ao receber o relatório final do administrador, não havendo nenhuma outra 
pendência, o juiz profere a sentença de encerramento da falência. Contra essa 
decisão terminativa do processo falimentar cabe apelação. 
 
EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇOES DO FALIDO 
A extinção das obrigações ocorre quando: 
• todos os créditos são pagos. 
• é feito o rateio de mais de 50% do passivo (quirografários), após a realização de todo o ativo, sendo 
facultado o depósito da quantia necessária para atingir essa percentagem. 
• há o decurso do prazo de 5 anos após o encerramento da falência se o falido não foi condenado por 
crime falimentar e ainda quando: 
• há o decurso do prazo de 10 anos após o encerramento da falência se houve condenação penal do 
falido. 
• acontece a prescrição de todas as obrigações anteriormente ao decurso dos prazos decadenciais de 5 
ou 10 anos. 
 
REABILITAÇÃO DA ATIVIDADE EMPRESARIAL 
O falido que deseja voltar a exercer atividade econômica deve requerer ao juiz da falência a reabilitação 
civil, mediante sentença declarando a extinção das obrigações. Se foi também condenado pela prática 
de crime falimentar, deverá ainda obter a reabilitação penal. O requerimento de declaração de extinção 
das obrigações deve ser apresentado pelo falido, acompanhado da prova de quitação de todos os 
tributos por ele devidos e será publicado por edital, no órgão oficial e em jornal de grande circulação, 
com prazo de 30 dias para possibilitar a oposição dos credores. A decisão judicial que declara a extinção 
das obrigações é publicada e comunicada aos mesmos agente e órgãos públicos que receberam a 
sentença declaratória da falência. 
OBS: O pressuposto da reabilitação penal é o transcurso do prazo de 2 anos, contados do término do 
cumprimento da pena, prazo que vigora desde a reforma da Parte Geral ocorrida em 1984. A petição da 
reabilitação será dirigida ao juiz que proferiu a condenação penal, que decidirá após a oitiva do 
representante do Ministério Público. 
CRIMES FALIMENTARES 
 
Os “crimes falimentares” estão dispostos na Lei 11.101/2005 no 
Capítulo VII, sob o título “Disposições penais”, na seção “Crimes em 
espécie”. 
9. CONCEITO E CARACTERÍSTICAS 
Os crimes falimentares são aqueles tipificados nos 
artigos 168 a 178 da Lei de Falências (Lei n.º 11.101/05), classificados 
como crimes dolosos muito embora não possuam definição 
específica no ordenamento jurídico brasileiro. 
São, portanto, crimes falimentares: fraude a credores; violação de 
sigilo empresarial; divulgação de informações falsas; indução a erro; 
favorecimento de credores; desvio, ocultação ou apropriação de 
bens; aquisição, recebimento ou uso ilegal de bens; habilitação ilegal 
de crédito; exercício ilegal de atividade; violação de impedimento; e 
omissão dos documentos contábeis. 
Pressupõe: 
• um devedor empresário ou sociedade empresária, 
• uma sentença declaratória de falência ou concessiva de recuperação judicial ou extrajudicial 
e 
• a ocorrência dos atos e fatos enumerados nos artigos 168 a 178. 
• Fraude a credores – art. 168 
• Violação de sigilo empresarial – art. 169 
• Divulgação de informações falsas – art. 170 
• Indução a erro – art. 171 
• Favorecimento de credores – art. 172 
• Desvio, ocultação ou apropriação de bens – art. 173 
• Aquisição, recebimento ou uso ilegal de bens – art. 174 
• Habilitação ilegal de crédito – art. 175 
• Exercício ilegal de atividade – art. 176• Violação de impedimento – art. 177 
• Omissão dos documentos contábeis obrigatórios – art. 178 
 
Art. 180. A sentença que decreta a falência, concede a recuperação judicial ou concede a 
recuperação 
extrajudicial de que trata o art. 163 desta Lei é condição objetiva de punibilidade das infrações 
penais descritas nesta Lei. 
 
Art. 181. São efeitos da condenação por crime previsto nesta Lei: 
I – a inabilitação para o exercício de atividade empresarial; 
II – o impedimento para o exercício de cargo ou função em conselho de administração, diretoria 
ou gerência das sociedades sujeitas a esta Lei; 
III – a impossibilidade de gerir empresa por mandato ou por gestão de negócio. 
 
 
 
ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO 
 
Art. 187. Intimado da sentença que decreta a falência 
ou concede a recuperação judicial, o 
Ministério Público, verificando a ocorrência de 
qualquer crime previsto nesta Lei, promoverá 
imediatamente a competente ação penal ou, se 
entender necessário, requisitará a abertura de 
inquérito policial.

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