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Resenha Crítica - Aimé Césaire e Hannah Arendt

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Universidade Federal do Rio de Janeiro 
Instituto de Relações Internacionais e Defesa 
Departamento de Relações Internacionais 
 
 
 
Michel Zanin Zonin 
 
 
 
Resenha Crítica dos textos “Discurso sobre o Colonialismo” e “Origens do Totalitarismo”, 
referente à Semana IV. 
 
 
Rio de Janeiro 
2019 
A presente resenha crítica irá apresentar os livros “Discurso sobre o Colonialismo” e 
“Origens do Totalitarismo”, referente à Semana IV e em seguida fazer uma breve análise 
comparativa. Em o Discurso sobre o Colonialismo de Aimé Césaire, o autor faz um apanhado 
interessante e nada ortodoxo. Aborda de forma fluida o assunto e com certa ironia. Expõe a 
visão branca, europeia e burguesa que temos da história da colonização. Mostra como a 
sociedade é hipócrita e carrega o racismo estrutural em todas as suas esferas. A colonização 
sempre virá marcada pelo genocídio. Ela carrega o racismo em sua composição. A 
“civilização” europeia roubou o direito à cultura e pior ainda, o direito natural dos povos à 
identidade. Já em Origens do Totalitarismo de Hannah Arendt, a autora apresenta uma leitura 
mais complexa e densa. Também tem uma visão não ortodoxa e bastante interessante sobre o 
imperialismo e as vertentes totalitárias ao longo da história da exploração e colonização dos 
povos. 
Dando prosseguimento, no primeiro texto trabalhado, Césaire inicia seu pensamento já 
com uma forte crítica aos povos colonizadores, indiretamente as define como uma civilização 
decadente, enferma e moribunda. O autor, em princípio questiona o que é a colonização e 
parte do pressuposto do que ela não é: nem evangelização; nem empresa filantrópica; nem 
melhora de situação; propagação de Deus ou extensão do Direito. 
A Igreja teve um papel crucial na deturpação da ideia de civilização quando 
caracteriza o cristianismo como civilizado e o paganismo como selvageria, que através de 
ideologias coloniais e racistas, exterminaram em massa Índios, Amarelos e Negros. A 
tentativa de hegemonização nas colônias foi um fator importante do genocídio, pois permitiu 
que o diferente do padrão europeu fosse tratado como uma ameaça à civilização e legitimou o 
genocídio dos povos originários. 
Césaire trabalha com a ideia de que a colonização nunca será inocente. Ninguém 
coloniza sem consciência daquilo que está fazendo. Uma sociedade que justifica a 
colonização – isto é, o uso da força –, já é uma sociedade doente e com uma moral em 
decadência. 
Para o autor, a colonização desumaniza o homem que passa a ver o colonizado como 
animal e acaba agindo como um. Além disso, ela “coisifica”. Faz dos povos originários 
apenas um produto de exploração e apropriação. 
Não há espaço entre o explorado e o explorador além do trabalho forçado, da 
intimidação, da pressão, de toda forma de violação e também de toda forma de desprezo e ar 
soberbo das, segundo Césaire, elites descerebradas. A colonização suprimiu dos povos 
explorados todas as possibilidades extraordinárias que poderiam ter vindo a ser o futuro das 
nações. 
Césaire levanta a crítica: são apresentados dados, estatísticas e mais informações 
vazias que para ele não servem, ele dialoga com milhares de homens sacrificados, povos que 
ainda trabalham em condições precárias e ainda são privados de sua própria identidade. 
Jogam-lhe mais números de exportação de bens em detrimento de economias naturais que 
harmonizavam com o ambiente e não serviam apenas para alimentar o capital. As sociedades 
antigas eram comunitárias, jamais de todos para alguns. Não eram apenas pré-capitalistas 
como eram também anticapitalistas, democráticas, cooperativas e fraternais. Mesmo assim, 
eram subjugadas selvagens e por isso, deveriam ser “domadas”. O autor é sutil demais ao falar 
indiretamente sobre o racismo estrutural nas sociedades modernas que evoca o passado 
sombrio desde a colonização. 
Césaire comenta sobre as sociedades originárias serem o oposto do que os 
colonizadores nos impuseram. Elas preservavam esperança. Por outro lado, os 
empreendimentos europeus fora da Europa só podem ser caracterizados, segundo o autor, com 
as palavras derrota e calamidade. 
O problema da África não foi o contato tardio com o resto do mundo, mas a maneira 
como esse contato aconteceu, que se sucedeu no período em que a Europa foi dominada pelos 
financeiros e capitães da indústria. Parafraseando Césaire, a Europa tem contas a prestar 
perante a comunidade humana pela maior pilha de cadáveres da história. 
O autor ainda expõe que a colonização europeia revogou toda e qualquer possibilidade 
das sociedades colonizadas escreverem sua própria história, sem a “bota da Europa”. Cita o 
exemplo do Japão como uma das pouquíssimas civilizações que cursaram seu próprio rumo 
sem (pelo menos, diretamente) influência da dominação europeia. Césaire critica arduamente 
também que a mesma Europa colonizadora e dita civilizada, nega aos indígenas e negros seus 
direitos básicos. O colonizado quer progredir e o colonizador o detém. 
Por fim, no excerto estudado do livro, Césaire afirma que pior do que a barbárie da 
Europa Ocidental, é a barbárie americana. O progresso pautado hoje é visto através de lentes 
da moral cristã – defasada e hipócrita –, mostrando que a crueldade, a mentira, a baixeza e a 
corrupção contaminam perfeitamente a alma da burguesia europeia. 
O autor nos mostra que o que na verdade precisamos criar é uma nova sociedade com 
os valores que foram perdidos das sociedades primitivas, isto é, com ideais cooperativos, 
fraternais e plurais... “Civilizados até à medula! A ideia do negro bárbaro é uma invenção 
europeia. O pequeno burguês não quer ouvir mais nada. Com um bater de orelhas, afugenta a 
ideia. A ideia, a mosca importuna.” (CÉSAIRE, 1978, p.37). 
Começaremos agora a análise do excerto de Origens do Totalitarismo de Hannah 
Arendt. Durante as primeiras décadas do colonialismo, novos mecanismos e formas de 
dominação foram descobertas, dentre elas, a raça como organização política e a burocracia 
como princípio da dominação exterior. A raça foi descoberta na África e a burocracia na 
Argélia, Egito e Índia. A raça surgiu como uma tentativa de explicar a existência de formas e 
feições distintas das até então conhecidas em que os europeus sentiam-se ameaçados. Disso 
vem a legitimação para o extermínio e massacre em peso desses povos. “O complicado jogo 
de políticas de investimentos de longo alcance exigia a subjugação de um povo, não em 
virtude das suas riquezas, como anteriormente, mas das riquezas de um outro país.” 
(ARENDT, 2012, p. 268); “Embora fossem múltiplas as relações entre o racismo e a 
burocracia, ambos foram descobertos e se desenvolveram independentemente.” (ARENDT, 
2012 p. 268-269). A raça foi o esquivo da irresponsabilidade sob qualquer aspecto humano. Já 
a burocracia foi uma consequência da tentativa de assumir a responsabilidade que nenhum 
homem ou povo pode assumir pelo outro. 
Para Hannah Arendt, as lendas são o verdadeiro começo da história humana, pois é a 
partir delas que inúmeros povos construíram seus alicerces religiosos e identidades culturais. 
A lenda mostra-se como “uma lembrança além da memória”. 
O imperialismo foi a única escola formadora de caráter na política moderna. O 
Império Britânico foi caracterizado como superior e detentor do conhecimento o que, fazendo 
um recorte amplo além-livro, recorda a teoria geopolítica de Paul Vidal de La Blache quando 
caracteriza povos superiores a outros através de aspectos culturais, Arendt critica a soberba 
britânica, já La Blache defende a cultura francesa como sendo a mais evoluída. Duas ideias 
iguais com perspectivas divergentes. 
Os imperialistas não mediram esforços. Os inglesesnem tentaram justificar sua 
expansão com motivos “sensatos”. Hannah Arendt cita os governos de Lorde Cromer e Cecil 
Rhodes, respectivamente no Egito e na África do Sul. Ambos britânicos que não viam os 
países como fins, os viam apenas como meios para uma suposta finalidade “mais elevada”. A 
dominação britânica foi a mais indiferente e déspota com seus oprimidos. 
Hannah cita em seu livro diversos exemplos, mas em suma, os imperialistas na África 
e Índia preferiam o anonimato para governar e exerciam influências informais, justamente 
para não ficarem presos a uma legislação concreta e definida que viria a limitar o exercício 
dos exploradores. Uma lei geral não permite que haja um deus dentre os homens, pois todos 
têm que obedecê-la, “É óbvio que esses agentes secretos ou anônimos da força expansionista 
não tinham o menor senso de obediência às leis humanas. A única „lei‟ que seguiam era a „lei‟ 
da expansão, e a única prova de sua „legalidade‟ era o sucesso.” (ARENDT, 2012, p.306). 
No trecho selecionado do livro, Arendt fala sobre a denominação de “Grande Jogo”, 
sendo toda essa jogada imperialista e política. É feita uma analogia com a vida, o jogo só 
acaba quando todos morrem, são liquidados. “O que faz o jogo tão perigosamente semelhante 
à própria vida é o fato de não ter um objetivo final.” (ARENDT, 2012, p.308). Esse sistema 
era tão abominável que só acabava em catástrofes e era capaz de destruir os próprios 
financiadores de todo o esquema. 
Por fim, a autora comenta sobre a destruição de valores e personalidades. No fim, 
todos os heróis tornam-se apenas “homens brancos”, seres munidos de nenhum senso de 
justiça e igualdade. Nessa Grande Guerra, a crueldade assumiu um papel secundário, dando 
destaque à moderação em meio a loucura, pois apesar da barbárie, sempre se preservou o 
mínimo de direitos humanos, transformando mais tarde a nação inglesa em uma “Comunidade 
de povos ingleses”, devido à sua expansão ultramar. 
A partir da exposição anterior, infere-se que ambos os autores abordam assuntos 
coloniais e imperiais e traçam uma linha de raciocínio semelhante no que diz respeito ao 
racismo e hipocrisia do homem branco europeu de classe burguesa. É interessante a leitura 
que os autores fazem, pois ambos têm uma visão contra hegemônica, ambos estão em lugares 
de fala onde não lhe são abertos muitas possibilidades. Trata-se de um autor negro – Césaire – 
escrevendo sobre o colonialismo que aterrorizou seus antepassados. Hannah é uma mulher 
judia que fala sobre totalitarismo pós-fuga da Alemanha nazista. É importante estuda-los, pois 
nos tira do comodismo e da visão unilateral eurocêntrica imposta desde os primórdios dos 
estudos da academia. 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
Césaire, Aimé. Discurso sobre o colonialismo. Lisboa: Livraria Sá da Costa, 1978, pp 13-37. 
Arendt, Hannah. “Imperialismo”. In Origens do totalitarismo: anti-semitismo, imperialismo, 
totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, pp 267-269; 294-313.

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