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O significado das primeiras situações de angustia no desenvolvimento do ego Psicanálise da criança, cap 10 (1932) Melanie Klein Um dos principais problemas da psicanálise é o da angustia e suas modificações. As várias doenças humanas psiconeuróticas surgem do maior ou menor capacidade para dominar angustia Mas, ao lado dos métodos patológicos para modificar a angústia, há uma série de métodos normais no desenvolvimento do ego. Os sonhos e o brincar Os sonhos e o brincar são atividades que deslocam processos intrapsíquicos para o exterior. O brincar oferece à criança a oportunidade de superar suas experiências desagradáveis. Freud descreveu como uma criança dezoito meses procurou consolar-se da ausência temporária da mãe atirando inúmeras vezes um carretel de madeira atado a um barbante, de forma a fazê-lo desaparecer para m seguida puxá-lo fazendo-o reaparecer. (fort-da) Jogo do Fort Da É também conhecido como jogo do carretel. A filha de Freud, precisando ausentar-se de casa por um curto período, pediu ao pai para cuidar do neto pequeno. Freud observou que o menino não chorou e que passou a brincar jogando um carretel, preso a um fio, de dentro do berço para fora, de modo que o carretel desaparecia sob a cama. Repetia esse jogo inúmeras vezes. Quando jogava fora conseguia articular um som: ó...ó...ó, e quando puxava o fio e recuperava o carretel dizia: dá...dá...dá com expressão de alegria. Freud intitulou como FORT - palavra alemã que significa "fora", "ir embora" e DÁ que significa aqui, e percebeu que o menino tratava de simbolizar a mãe por meio do brinquedo, expressando sua saída (fort) e a felicidade de seu retorno (dá). Revista Psique,número 40. Postado por falandopsi Freud reconheceu neste comportamento uma função de importância geral no jogo da criança. Através dele, a criança transforma experiências que suportou passivamente em um desempenho ativo e transforma a dor em prazer, ao dar á experiências originalmente dolorosas, um final feliz. A análise inicial mostra que no jogo, a criança não só supera uma realidade dolorosa, mas também domina seus medos instintivos e perigos internos projetando para o mundo exterior. O ego é submetido à pressão de situações de angustias iniciais. exposto de um lado pelas demandas violentas do id e por outro pelas ameaças de um superego severo, e deve exercer as suas habilidades para satisfazer a ambos. Busca superar angustia tanto da realidade externa como dos medos instintivos Desloca angustia para o exterior. Desta forma: 1) deflete o instinto destrutivo (de morte) para fora ( se alivia); 2) Acentua a importância dos objetos em relação ao qual serão ativados tanto os impulsos destrutivos como as tendências positivas. Assim, os objetos tornam-se maus- fonte de perigo para a criança, Os sentidos como bons, -refugio contra a angústia O objeto projetado para fora: Possibilita alívio; A pulsão epistemofílica + aspectos sádicos que estavam voltados para o interior do corpo da mãe, quando se volta para o objeto externo, permite à criança descobrir e superar suas angustias.conhecer os danos causados ao objeto e repará-los Em consequência da interação entre os mecanismos de introjeção e projeção: a criança encontra uma refutação aos seus temores no mundo exterior; através da introjeção de seus bons objetos reais, encontra alívio para sua angustia; A presença e o amor seus objetos reais, ajudam a criancinha a diminuir seus medo dos objetos introjetados e sentimento de culpa. Seu medo aos perigos internos reforça sua fixação à mãe e sua necessidade de amor e de proteção. Sentir-se solitário sem a pessoa amada, sentir a perda de um amor ou objeto como perigo, ter receio de ficar a sós no escuro com outra pessoa são formas modificadas das primeiras situações de angustia, isto é, do medo da criancinha em face de seus perigosos objetos internalizados e externos. Em um estágio posterior do desenvolvimento soma-se ao medo do objeto, o medo pelo objeto A criança teme que sua mãe venha morrer em consequência de seus ataques imaginários contra ela e teme ser abandonada e desamparada. Freud diz sobre isso: "A criança ainda não consegue distinguir entre a ausência temporária e a perda permanente. Quando sua mãe não aparece, ele se comporta como se nunca mais fosse vê-la, e só a experiência repetida lhe ensina que os desaparecimentos desta natureza são seguidos por um retorno seguro”. Para Klein, a razão pela qual a criança precisa ter sempre a mãe ao seu lado, é não só para se assegurar que sobreviveu aos seus ataques, mas que ela não é a mãe "má" que ataca. Requer a presença de um objeto real para combater o medo que lhe inspiram seu superego e os terríveis objetos introjetados. Conclusão À medida em que progridem suas relações com a realidade, a criança passa a utilizar cada vez mais suas relações objetais e suas diversas atividades e sublimações como pontos de apoio contra o medo ao superego e seus impulsos destrutivos. A angustia estimula o desenvolvimento do ego. Isso se dá porque em seus esforços para dominar a angústia, o ego da criança convoca o auxílio de suas relações com os objetos e com a realidade. Esses esforços são, portanto, fundamentais na adaptação da criança à realidade e no desenvolvimento do seu ego. Como as primeiras situações ansiogênicas influem na formação do ego Na criança, o ego é frágil, não sendo capaz de estabelecer equilíbrio entre superego e id. Assim, se utiliza de atividades lúdicas para vencer perigos internos e externos. Através do brincar, põe em comunicação imaginação e realidade. Meninas: ao brincar de bonecadesejo de ser consolada e reassegurada contra a ameaça da mãe má. A posse das bonecas garante-lhe que a mãe não tomou seus bebês. Meninos : ao brincar com carros, trens, etc. estão simbolicamente efetuando uma penetração no interior do corpo da mãe. Jogos de competição combate com o pai no interior da mãe LATÊNCIA No começo da latência, a organização libidinal e a formação do superego chegam a seu termo; O ego mais forte coloca-se de acordo com o superego para dominar o id e lidar com as exigências do mundo exterior e objetos reais; os brinquedos perdem conteúdo imaginativo e cedem lugar aos trabalhos escolares; O cuidado escolar permite a aprovação dos mais velhos minimizando as situações de perigo; ideal do ego dar satisfação para os pais e professores. PUBERDADE O equilíbrio da latência é rompido com o despertar da libido que reforça as exigências do id e portanto, também as do superego; Os impulsos instintivos não podem ser refreados e contidos como na latência; O ego experimenta mais angústias pois agora há mais possibilidades de realização dos desejos instintivos e mais graves poderão ser as consequências; O ego procura livrar-se de seus primeiros objetos de amor. Entra em desavença com seu ambiente em busca de novos objetos; Desprende-se das pessoas substituindo-as por objetos menos pessoais e abstratos, como ideias e princípios. No rapaz: Novas imagos paternas, novos princípios, distanciando-se dos objetos primitivos; Através destas novas imagos, revive o pai amado e admirado; na relação com estes, recebe apoio e identifica-se, reforça a confiança em sua capacidade construtiva e virilidade ; Por clivagem (cisão), outra imagem paterna ( o pai verdadeiro ou substitutos) atraem o ódio intenso nesta fase; na relação com estes é agressivo, coloca-se em plano de igualdade (rivalidade, medir forças), não teme represálias. Na menina A menina continua a orientação da latência para eliminar a angústia; O desejo de agradar a seus objetos estende-se às ocupações e realizações intelectuais; A preocupação com a beleza física, a busca de perfeição do trabalho são formas de desmentir o temor da mãe que destrói o interior e leva os bebês; Para a redução da angústia, a aprovação e o amor dos homens têm muita importância. CONCLUSÃO As angustias primitivassó se estabilizam definitivamente após a puberdade, quando ego e superego entram em acordo para criar normas adultas; O indivíduo adapta-se a um universo mais amplo, reconhece os direitos como expressão de seus próprios valores internos; CONCLUSÃO O processo normal que leva à eliminação da angustia depende de vários fatores que dependem do fator quantitativo do sadismo, angústia, grau de tolerância do ego com relação à angustia. A ação conjugada destes fatores pode levar à modificação considerável da angustia, desenvolver adequadamente o ego e permitir a saúde mental; A angustia nunca é excluída definitivamente; Tensões excessivas de origem interna ou externa (doença ou fracasso) podem reavivar situações ansiogênicas antes abandonadas; “se todo sujeito sadio pode tornar-se vítima de uma neurose, é porque necessariamente suas antigas situações ansiogênicas jamais foram totalmente resolvidas”.