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Maria Beatriz Machado SAÚDE MENTAL – AULA TEÓRICA 13 – TRATAMENTO DOS TRANSTORNOS DE HUMOR (DEPRESSÃO E TAB) Como médicos generalistas devemos saber fazer as medidas iniciais do tratamento de depressão e TAB para encaminhamento ao psiquiatra, e depois receber esses pacientes de volta para fazer manutenção do tratamento e acompanhamento quando eles estiverem estabilizados. OBS: Se a depressão for de menor gravidade, podemos abordar somente na atenção básica, muitas vezes não precisamos encaminhar para o psiquiatra. 1. TRATAMENTO DA DEPRESSÃO 1.1. HIPÓTESE MONOAMINÉRGICA Essa é a hipótese que justifica o funcionamento das drogas utilizadas para tratamento da depressão. Temos as vias: Dopaminérgica, serotoninérgica e noradrenérgica Quando as vias funcionam corretamente, elas liberam neurotransmissores em quantidade correta. Na hipótese monoaminérgica teríamos uma produção menor de monoaminas (serotonina, dopamina e noradrenalina), e isso faria com que a população de receptores aumentasse para tentar compensar a falta delas (suprarregulação). Portanto, na depressão teríamos poucos neurotransmissores monoaminérgicos e muitos receptores. Se formos tratar a depressão de acordo com essa hipótese, não basta que aumentemos a quantidade de neurotransmissores. Nós precisamos também corrigir a quantidade de receptores. Isso é importante porque justifica o mecanismo de ação da maioria dos antidepressivos, sendo ele: INIBIR/BLOQUEAR a recaptação de uma ou mais monoaminas, fazendo com que permaneça uma quantidade maior de neurotransmissores na fenda, e com o tempo a população de receptores que estava aumentada vai diminuir. Esse mecanismo também ajuda a explicar porque os antidepressivos demoram para ter efeito: Quando começamos a tomar esses medicamentos, as monoaminas ficam aumentadas na fenda, porém os receptores ainda não estão regularizados, e por isso temos muitos efeitos colaterais. Após cerca de 20 dias, os receptores se regulam, e assim temos os efeitos corretos dos medicamentos. OBS: Como nesse começo temos muitas monoaminas e muitos receptores, os pacientes podem acabar apresentando efeitos ansiosos. Depois isso diminui quando a quantidade de receptores e monoaminas se regulam. 1.2. TENTATIVAS TERAPÊUTICAS E REMISSÃO COMPLETA A chance dos pacientes responderem a primeira tentativa terapêutica é de 33% (melhor chance) Esperamos cerca de 8 a 12 semanas para mudar o medicamento e tentar outra terapêutica. A chance dos pacientes responderem a segunda tentativa terapêutica é de 20% e a terceira/quarta tentativa é de 6-7% Os demais pacientes não terão melhora, ou terão melhora mas terão sintomas residuais Os sintomas residuais mais comuns são insônia, fadiga, falta de interesse e de concentração. Mesmo nos pacientes que não remitem completamente, há uma melhora dos sintomas mais graves. OBS: O ministério da saúde preconiza que o primeiro episódio depressivo seja tratado com psicoterapia, porém não existe chance de dar esse tratamento para todos os pacientes, portanto devemos utilizar os medicamentos e colocar o paciente na fila da psicoterapia. OBS: Depois do terceiro episódio depressivo a recomendação é não suspender mais o tratamento porque a chance de recorrência é maior que 90%. 2. ANTIDEPRESSIVOS Inibidores seletivos de recaptação da serotonina (ISRS) Inibidores de recaptação de serotonina e noradrenalina (duais) (IRSN) Inibidores de recaptação de noradrenalina e dopamina Maria Beatriz Machado Antagonistas alfa2 Tricíclicos Antagonista/inibidor da recaptação de serotonina Trazodona Multimodal Inibidores da MAO 2.1. INIBIDORES SELETIVOS DE RECAPTAÇÃO DE SEROTONINA (ISRS) Fluoxetina: É a mais antiga e é bastante eficaz. É melhor no tratamento de depressão do que ansiedade (a ansiedade inicial que os antidepressivos dão é maior com a fluoxetina). Paroxetina: Especialmente eficaz nos transtornos ansiosos, mas também é boa para transtornos depressivos. Sertralina: É eficaz tanto para transtornos ansiosos quanto depressivos. Tem um perfil de segurança muito bom. Citalopram: Já foi tido como uma droga muito segura, porém hoje sabemos que não é assim. Pode ser usado nos transtornos ansiosos e depressivos. Escitalopram: Evolução da molécula do citalopram. Pode ser usado nos transtornos ansiosos e depressivos. Fluvoxamina: Medicamento mais caro que os demais do grupo. Tem uso reservado praticamente no tratamento do TOC, apesar de ser bom para tratamento de transtornos ansiosos e depressivos. 2.1.1. MECANISMO DE AÇÃO Quando aumentamos a serotonina para tratamento da depressão, devemos lembrar que ela tem diversos receptores, e quando ela aumenta como um todo, ela atinge todos esses receptores. Os receptores que mais respondem pelos efeitos antidepressivos: Receptor 5HT1A: É o mais responsável pelos efeitos terapêuticos na depressão e ansiedade. Receptor 5HT2A: Causa certa agitação e ansiedade no início do tratamento. Causa insônia e disfunção sexual. Receptor 5HT3: Disfunção gastrointestinal e cefaleia, porém também ajuda nos efeitos antidepressivos. 2.1.2. REAÇÕES ADVERSAS Disfunção sexual (50 a 80%): Redução de libido, atraso no orgasmo e anorgasmia (alguns casos) Esse efeito é mais causado pela paroxetina (por isso ela é utilizada para tratar casos de ejaculação precoce) Efeitos gastrointestinais (receptor 5HT3): Náusea, diarreia e flatulência Ocorre mais nas primeiras semanas, porém com a diminuição dos receptores, tende a desaparecer Existe mais persistência desse efeito com a sertralina. Maria Beatriz Machado Os efeitos gastrointestinais são piores quando o medicamento é tomado sem uma refeição. Cefaleia (18 a 20%): Tende a desaparecer quando começa o efeito terapêutico do medicamento Efeitos anticolinérgicos: Boca seca, constipação.. Sistema nervoso central: Ansiedade inicial Insônia e sedação (25%): Ocorre muita variação individual entre os pacientes. Geralmente prescrevemos para que o paciente tome de manhã, e caso fique com muito sono, que tome a noite. Devemos lembrar de prescrever para que o paciente tome após alguma refeição para minimizar os efeitos gastrointestinais. Comportamento suicida: Pode ocorrer no início do tratamento principalmente nos jovens Uma das explicações para isso seria: O paciente tem ideação suicida, mas ele tem adinamia e não tem força para se levantar e se matar. Porém, a adinamia melhora antes da ideação, e por isso o paciente tem força para se levantar e se matar. É preciso esclarecer isso pra a família e dizer que é preciso ter maior supervisão desse paciente no início do tratamento (não deixar que ele tranque portas, que fique sozinho muito tempo..) Pode aumentar a ideação suicida e as tentativas de suicídio, porém não aumenta as taxas de suicídio. Alterações do apetite e peso: A fluoxetina ajuda a perder peso na grande maioria dos pacientes, porém é um efeito que desaparece após cerca de 20 semanas. A sertralina e fluvoxamina não alteram peso geralmente. A Paroxetina é a que mais aumenta a vontade de comer doce na maior parte dos pacientes. O citalopram e escitalopram podem causar aumento da vontade de comer doce, porém não é na maior parte dos pacientes. Comprometimento da agregação plaquetária: A serotonina participa da agregação plaquetária, e quando utilizamos essas drogas, as plaquetas se tornam pobres em serotonina, o que pode dificultar a agregação Por isso devemos evitar essas drogas nos pacientes que já tomam anticoagulante. Se aparecerem hematomasno paciente, pode ser devido a esse efeito causado por essas drogas. Aumento da prolactina Síndrome serotoninérgica: É rara e ocorre por excesso de serotonina Se estivermos usando um antidepressivo em dose terapêutica, a chance de ocorrer é praticamente nula. Ocorre se fizermos associações indevidas entre os fármacos EX: Fluoxetina + antidepressivo tricíclico, porque a fluoxetina pode aumentar em até 5x a dose do antidepressivo tricíclico. Quando a serotonina começa a aumentar muito, o paciente geralmente já procura ajuda rápido, e por isso é raro ver essa síndrome. Sintomas: Diarreia Inquietação Agitação, hiperreflexia, instabilidade autonômica Mioclonias, convulsões, hipertermia, calafrios, rigidez Delirium, coma, estado de mal epiléptico, colapso cardiovascular e morte Deve ser tratada em sala de emergência OBS: Como diferenciar da síndrome neuroléptica maligna? Devemos verificar o que o paciente está utilizando. Se for antipsicótico, é síndrome neuroléptica maligna, e se for antidepressivo, é síndrome serotoninérgica. Maria Beatriz Machado 2.1.3. DOSES DOS ISRS Devemos sempre iniciar com doses baixas Se for comprimido, devemos iniciar com metade da dose mínima da droga por 4 a 7 dias, e depois aumentamos. Fluoxetina: 20 – 80mg/dia (mais interações) Paroxetina: 20 – 60mg/dia Sertralina: 50 – 200mg/dia (menos interações) Citalopram: 20 – 40mg/dia Acima de 40mg tem alto risco de alterar o ECG, alargando o intervalo QT Escitalopram: 10 – 20mg/dia Fluvoxamina: 100 – 300mg/dia OBS: A dra Célia disse que para as questões dela NÃO precisamos saber das doses dos medicamentos, porém o Dr Samuel disse que precisamos saber as doses devido as condutas nas emergências. 2.2. INIBIDORES SELETIVOS DA RECAPTAÇÃO DE SEROTONINA E NORADRENALINA (DUAIS) Venlafaxina Desvenlafaxina Duloxetina OBS: Qual seria a vantagem de um dual sobre um ISRS? Se temos paciente com predomínio de adinamia e anedonia, o dual é primeira escolha para tratar. Geralmente a primeira escolha para tratar o paciente antidepressivo é o ISRS, porque ele combina melhor eficácia e custo (é barato, eficaz e dá menos reações adversas). 2.2.1. REAÇÕES ADVERSAS Efeitos serotonérgicos Efeitos noradrenérgicos: Reações cardiovasculares (alterações de PA, arritmias..) Isso não é contraindicação para utilizar no paciente hipertenso, desde que ele esteja com a PA controlada. Náusea: Principalmente a venlafaxina Menor disfunção sexual (30 a 40% dos pacientes) Não tem ação anticolinérgica Abstinência: Os efeitos são mais intensos do que nos ISRS Intoxicação 2.2.2. DOSES DOS DUAIS Venlafaxina: 75 – 375mg/dia A vantagem é que ela segue a regra de quanto maior a dose, maior o efeito (se dobra a dose, dobra o efeito). Ela só possui efeitos noradrenérgicos acima de 100mg. Muito boa como antidepressivo e no tratamento de transtornos ansiosos. O aumento deve ser feito de semana a semana: 1ª semana 37,5mg Sem efeito 2ª semana 75mg 3ª semana 150mg OBS: Isso se quisermos ação noradrenérgica (ação antidepressiva dual). Se estivermos trocando outro antidepressivo pela venlafaxina devido a disfunção sexual, por exemplo, podemos utilizar 75mg. Maria Beatriz Machado Desvenlafaxina: 50 – 200mg/dia A melhor resposta desse medicamento é com 50mg (com 200mg não temos muito ganho). Se o paciente não melhora com 50mg, não adianta passar para 100mg, devemos trocar a droga. Funciona melhor na depressão do que nos transtornos ansiosos É o antidepressivo com menos interações É indicada para tratamento de fogachos (ondas de calor) na menopausa, independentemente de ter depressão ou não Possui um efeito um pouco superior no tratamento da depressão devido a menopausa Duloxetina: 60 – 120 mg/dia Seu diferencial é que ela é mais noradrenérgica, e por isso ela tem indicação especial nos quadros dolorosos crônicos (fibromialgia, por exemplo). A apresentação de 30mg não tem ação noradrenérgica, e por isso não tem eficácia na dor (só apresenta esse efeito com 60mg ou mais). Como antidepressivo tem um efeito um pouco abaixo dos demais da classe. 2.3. ANTIDEPRESSIVOS TRICÍCLICOS Amitriptilina Imipramina Clomipramina Nortriptilina 2.3.1. OBSERVAÇÃO São drogas mais antigas, e que foram “substituídas” porque causam muitos efeitos adversos. Porém, quando temos um quadro depressivo que não está respondendo a outras drogas, utilizamos os tricíclicos. 2.3.2. MECANISMO DE AÇÃO São bloqueadores da receptação de serotonina e noradrenalina (efeito antidepressivo) São bloqueadores de receptor H1 (receptores histamínicos) São bloqueadores de receptor alfa 1 São bloqueadores de receptor M1 (receptores muscarínicos) São bloqueadores de alguns canais de sódio Lembrar que os canais de sódio são antiarrítmicos 2.3.3. REAÇÕES ADVERSAS Sonolência e aumento de peso: Devido ao bloqueio do receptor H1 Hipotensão postural: Devido ao bloqueio do receptor alfa 1 Constipação e boca seca: Devido ao bloqueio do receptor M1 Arritmias: Devido ao bloqueio de canais de sódio Disfunção sexual Tremor Redução do limiar convulsivo Intoxicação grave Maria Beatriz Machado OBS: Se estivermos no pronto-socorro e chegarem duas tentativas de suicídio ao mesmo tempo, uma com clonazepam e uma com amitriptilina. Qual delas devemos tratar primeiro? A de amitriptilina porque há risco de arritmia e parada cardíaca Os antidepressivos em dose alta matam, principalmente os tricíclicos e duais. Veremos na próxima aula porque a intoxicação por benzodiazepínico SOZINHA dificilmente mata um paciente Mata quando associamos a outras drogas, como álcool, por exemplo. 2.3.4. DOSES DOS TRICÍCLICOS Iniciar sempre com doses baixas devido as reações adversas Amitriptilina: 75 a 300mg/dia Imipramina: 75 a 300mg/dia Clomipramina: 75 a 250mg/dia Muito boa para transtornos ansiosos Nortriptilina: 50 a 150mg/dia OBS: Utilizamos muito os tricíclicos na atenção básica para tratamento da dor crônica e profilaxia de enxaqueca Nesses casos utilizamos doses baixas do que as utilizadas para tratamento dos transtornos depressivos 2.4. ANTAGONISTA ALFA2 Mirtazapina 2.4.1. MECANISMO DE AÇÃO Bloqueia o receptor alfa-2 (pré-sináptico) e por isso acaba aumentando a liberação de serotonina e noradrenalina, funcionando como um antidepressivo dual, apesar de não interferir na receptação de serotonina e noradrenalina. Bloqueia receptores H1 Bloqueia receptores de serotonina 2.4.2. REAÇÕES ADVERSAS Aumento do apetite e ganho de peso: Devido ao bloqueio dos receptores H1 Aumenta MUITO o apetite. Sedação excessiva e sonolência: Quanto maior a dose, MENOS sono vai dar, porque os efeitos adrenérgicos vão se sobrepondo à sonolência. Boca seca Constipação Tontura Causa menos disfunção sexual (receptor 5HT2A) e menos efeitos gastrointestinais (receptor 5HT3) 2.4.3. OBSERVAÇÕES Tem pouca interação medicamentosa A mirtazapina tem um bom efeito antidepressivo, porém ela aumenta muito o apetite, e o sono. Portanto, para qual paciente ela é muito bem indicada? Idosos Pacientes com neoplasias ou HIV 2.4.4. DOSE DO ANTAGONISTA ALFA-2 Dose terapêutica: 15 – 60mg/dia. A dose antidepressiva é acima de 30mg/dia Maria Beatriz Machado 2.5. INIBIDOR DA RECAPTAÇÃO DE NORADRENALINA E DOPAMINA Bupropiona 2.5.1. INDICAÇÕES Muito utilizadana depressão com predomínio de anedonia e adinamia Utilizada na depressão em associação com ISRS com o objetivo de aumentar a noradrenalina, dopamina e serotonina. NÃO É INDICADA para tratar TRANSTORNOS ANSIOSOS: Ela pode piorar a ansiedade na maior parte dos quadros. Apesar de ser um bom antidepressivo, a bupropiona é mais importante no tratamento contra o tabagismo e outras dependências. 2.5.2. MECANISMO DE AÇÃO É mais importante para tratar tabagismo e outras dependências porque: As substâncias capazes de causar dependência atuam na via da recompensa (via dopaminérgica). Quanto mais rápida e intensa for a estimulação dessa via, maior a dependência. A via da recompensa existe porque o homem precisa ser estimulado a se alimentar e se reproduzir (e ambas as coisas devem causar prazer para que sejam feitas). A bupropiona não estimula a via da recompensa tanto quanto uma droga de abuso ou tabaco, não sendo capaz de causar dependência. Apesar de diminuir a estimulação da via e desejo pela droga/tabaco, ela não retira completamente a vontade de utilizar. 2.5.3. REAÇÕES ADVERSAS Cefaleia, insônia, tremor e náusea Piora a ansiedade Hipertensão (raramente) Redução do limiar convulsivo: Em doses terapêuticas dificilmente causa epilepsia. OBS: Não causa disfunção sexual, hipotensão ortostática, efeitos anticolinérgicos, ganho de peso e sonolência. 2.5.4. DOSE DO INIBIDOR DA RECAPTAÇÃO DE NORADRENALINA E DOPAMINA Dose terapêutica 150 – 450mg Dose ideal de 300mg/dia No tabagismo: Iniciar ainda enquanto o paciente está fumando, e depois que ele parar de fumar devemos manter de 3 a 4 meses. 3. TRATAMENTO DO TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR 3.1. PAPEL DO MÉDICO GENERALISTA Como médicos generalistas não precisamos saber tratar detalhadamente o TAB, mas precisamos saber como iniciar o tratamento do paciente, encaminhá-lo e depois recebe-lo de volta para tratamento de manutenção quando o paciente estiver estabilizado. 3.2. INTRODUÇÃO No TAB teremos períodos onde o paciente apresenta uma elevação no humor, e períodos de depressão do humor. Por esse motivo não podemos ter apenas drogas depressoras ou drogas estimuladoras, precisamos ter as drogas estabilizadoras de humor. Maria Beatriz Machado Drogas que estabilizem o humor de baixo para cima: São as drogas que utilizamos no paciente com depressão bipolar, elas elevam o humor dele. Drogas que estabilizem o humor de cima para baixo: São as drogas que utilizamos no paciente em mania/hipomania, elas deprimem o humor dele. Temos muito mais drogas que estabilizam o paciente de cima para baixo (hipomania/mania) do que de baixo para cima (depressão bipolar) As principais drogas utilizadas para tratar o TAB são: Estabilizadores de humor: Carbonato de lítio e anticonvulsivantes (não são todos) Antipsicóticos (especialmente os atípicos) Aula teórica 08 – tratamento farmacológico dos transtornos psicóticos 4. CARBONATO DE LÍTIO – ESTABILIZADOR DE HUMOR É o estabilizador de humor mais antigo que temos. Indicações: TAB: É indicado para qualquer fase em que o paciente esteja (mania, hipomania ou depressão bipolar) porque ele consegue estabilizar de cima para baixo e de baixo para cima o humor do paciente. Possui melhor efeito na mania e hipomania, porém também funciona na depressão É muito útil na manutenção do tratamento, porque o paciente com TAB nunca deve deixar de se tratar para evitar que apresente novos episódios. Transtorno depressivo: O lítio ajuda a prevenir novos episódios depressivos. O lítio é um dos melhores POTENCIALIZADORES dos antidepressivos, e por isso muitas vezes associamos ambos os medicamentos (utilizamos isso como profilaxia) EX: Utilizamos o antidepressivo no paciente, e ele teve uma boa resposta, porém não totalmente satisfatória, então colocamos o lítio para potencializar o efeito do antidepressivo. Diminuir risco de suicídio: O lítio é a única medicação que melhora a ideação suicida no paciente tanto na depressão unipolar quanto no transtorno afetivo bipolar Não sabemos porque o lítio tem esse efeito. Mecanismo de ação: Ainda não é totalmente conhecido Maria Beatriz Machado Dose: Comprimido de 300mg Devemos aumentar a dose conforme os dias: 1º dia: 300mg 2º dia: 600mg 3º dia: 900mg OBS: Pode variar a quantidade de dias para aumento da dose porque depende da tolerância do paciente, mas geralmente é feito assim. Posologia: Tomar as doses ao longo do dia ou tomar todas a noite. Dose terapêutica: Entre 900-1200mg/dia Geralmente nenhum paciente possui resposta terapêutica com menos de 900mg/dia, ele só apresenta efeitos colaterais. Litemia: Lembrar que a nossa litemia normal é zero! Quando falamos sobre o lítio, mais importante do que a dosagem que o paciente ingere no dia, é a litemia dele, porque os efeitos do lítio são diretamente proporcionais à litemia para estabilizar o humor. Quadros agudos (depressão ou mania/hipomania): 0,8 – 1,2 mEq/L Manutenção do tratamento: 0,4 – 0,8 mEq/L OBS: Na manutenção podemos utilizar doses mais baixas de lítio para manter essa litemia menor. EX: Paciente está com quadro agudo de mania, e está tomando 2 comprimidos (600mg/dia) de lítio. Porém ao fazer a litemia dele, verificamos que ele está com apenas 0,4, então entendemos que cada comprimido de lítio causa nele um aumento de 0,2. Assim, devemos aumentar a dose para que ele chegue a litemia de pelo menos 0,8, então passamos para 4 comprimidos (1200mg/dia). Intoxicação por Lítio: Como o lítio possui uma janela terapêutica muito pequena, é muito fácil atingir a dose tóxica dele. Geralmente quando a litemia está > 1,2 começam a surgir os efeitos tóxicos Quando a litemia está > 4 a intoxicação é muito séria e o paciente precisa ir para a diálise porque há risco de vida Reações Adversas: Gastrointestinais: Náusea, vômito, diarreia Por isso é necessário que o lítio seja introduzido de maneira gradual Neurológicos: Não tóxicos: Falta de espontaneidade (paciente fica se sentindo meio sem graça) e tremor postural Geralmente o paciente que apresenta a falta de espontaneidade acaba não aderindo ao tratamento com o lítio. Tóxicos: Tremor grosseiro, disartria, ataxia, irritabilidade neuromuscular (cãibras e espasmos), convulsões, coma e morte Quadro de intoxicação Hipotireoidismo Arritmias Renais: Poliúria com polidipsia e insuficiência renal (fibrose intersticial) Dermatológicas: Acne, queda de cabelo, psoríase e exantema Aumento de peso Gestação: Pode aumentar o risco de anomalias cardiovasculares Portanto, o melhor a se fazer é retirar o lítio e tratar a gestante com antipsicóticos. Maria Beatriz Machado Exames iniciais e semestrais/anuais (monitoramento): O lítio causa muitas reações adversas, e por isso precisamos acompanhar o paciente com exames: Litemia Hemograma Creatinina Eletrólitos TSH e T4 ECG se for indicado para o paciente OBS: O ideal era que estes exames fossem feitos antes do início do tratamento com lítio, porém na realidade SUS não é possível, então fazemos após o início do tratamento para acompanhar o paciente. 5. ANTICONVULSIVANTES – ESTABILIZADORES DE HUMOR NÃO são todos os anticonvulsivantes que atuam como estabilizadores de humor! Os que apresentam ação de estabilização de humor são: Ácido valpróico/valproato: PRINCIPAL Carbamazepina Oxcarbamazepina Lamotrigina Topiramato: Não atua muito bem como estabilizador de humor, porém é a única oportunidade para se falardele na psiquiatria Mecanismo de ação: Não temos apenas um mecanismo de ação, porém o que precisamos saber é que todos eles apresentam ação depressora, inibindo canais de sódio, reforçando as ações do GABA e interagindo com outros canais iônicos. O que varia é a intensidade de cada uma dessas ações dependendo da droga 5.1. ÁCIDO VALPROICO Uso terapêutico: TAB: Em monoterapia ele funciona bem na mania e hipomania (de cima para baixo), porém não funciona muito bem na depressão bipolar (de baixo para cima) É bom para o tratamento de manutenção (apesar do lítio ser melhor) Transtorno de conduta Transtorno de personalidade borderline Crises convulsivas Enxaqueca Reações Adversas: Comuns: Náusea, sedação, tremor, ganho de peso, perda de cabelo Incomuns: Vômitos, diarreia, ataxia, disartria, aumento de transminases hepáticas (um pequeno aumento acontece em grande parte dos pacientes) e ovário policístico Raros (preocupantes): Hepatotoxicidade fatal, trombocitopenia reversível, distúrbios de coagulação, edema, pancreatite hemorrágica, encefalopatia (coma), fraqueza muscular, insuficiência respiratória Teratogênico Evitar dar ácido valpróico para mulheres em idade fértil porque elas podem acabar engravidando, não perceber, e o bebê apresentar malformações (essas malformações estão ligadas ao defeito de fechamento do tubo neural). Maria Beatriz Machado Monitoramento: Hemograma Função hepática completa: Albumina, TGO, TGP, tempo de protrombina, fosfatase alcalina, gama GT, bilirrubina total e frações Beta-HCG OBS: O ideal era que estes exames fossem feitos antes do início do tratamento com o ácido valpróico, porém na realidade SUS não é possível, então fazemos após o início do tratamento para acompanhar o paciente. 5.2. CARBAMAZEPINA Damos preferência para outros anticonvulsivantes se possível Comprimido de 200mg A dose terapêutica é cerca de 600mg/dia Uso terapêutico: TAB: Mania, hipomania e manutenção do tratamento Síndrome de abstinência de álcool Nos pacientes que não podem utilizar benzodiazepínicos Crise convulsiva Dor neuropática Desvantagens: Indutora enzimática potente: Acelera o metabolismo de outras drogas, reduzindo o efeito delas Ocorre muito esse efeito quando ela é utilizada com os antipsicóticos, e por isso precisamos aumentar a dose deles. Teratogênica: Espinha bífida, meningocele e mielomeningocele (defeitos de fechamento do tubo neural) Reações Adversas: Relacionadas com a dose: Caso aconteçam essas reações nós devemos diminuir a dose Visão dupla ou turva Vertigem Distúrbios gastrointestinais Comprometimento na execução de tarefas Efeitos hematológicos Hiponatremia Idiossincrásicas: Não temos como prever se vai acontecer ou não Agranulocitose Anemia aplástica Síndrome de Stevens Johnson: Começa com um exantema que atinge pele e mucosas, e depois pode evoluir para dermatite e necrose destes locais (culminando com perda de pele) O tratamento é a proteção para não desidratar e infeccionar os locais com perda de pele Exantema: Pode ser ou não grave Insuficiência hepática Pancreatite Necrólise epidérmica tóxica: A área com perda de pele é maior ainda do que na síndrome de Stevens Johnson Maria Beatriz Machado Monitoramento: Hemograma Função hepática: Bilirrubina total e frações, TGO, TGP, fosfatase alcalina, gama GT Eletrólitos Dosagem de carbamazepina 5.3. OXCARBAZEPINA É uma evolução da molécula de carbamazepina Não temos no SUS, mas quando há possibilidade, fazemos a troca da carbamazepina pela oxcarbazepina Vantagens em relação a carbamazepina: Não é indutora enzimática Baixo risco de interação medicamentosa Baixo risco de discrasia sanguínea Baixa frequência de exantemas Desvantagens: Também é teratogênica Maior risco de hiponatremia do que a carbamazepina Reações Adversas: Mais frequentes: Sedação, náusea, vômitos, diplopia, cefaleia, fadiga Menos frequentes: Ataxia, nistagmo, tontura, tremor, hiponatremia, acne, alopecia e hepatotoxidade Monitoramento: Hemograma Sódio 5.4. LAMOTRIGINA É um dos poucos psicofármacos que não engorda e não causa disfunção sexual Uso terapêutico TAB: Usada nos episódios depressivos bipolares e na manutenção do tratamento para evitar esses episódios depressivos É uma das poucas drogas que estabiliza o paciente com TAB de baixo para cima Transtorno de personalidade borderline: Pode ajudar a estabilizar Crises convulsivas Reações Adversas Tontura, ataxia, sonolência, cefaleia, diplopia, visão turva, náusea, dores nas costas Exantema Exantema maculopapular benigno Exantema grave: Mais raro (0,08% dos pacientes em monoterapia e 0,13% em associação) Pode evoluir com necrólise epidérmica tóxica Dose Dose terapêutica 150 – 200mg/dia (começa a ter efeito acima de 100mg) Maria Beatriz Machado Como começar o tratamento: 14 dias: 25mg 14 dias: 50mg E vai aumentando assim para diminuir o risco de causar exantema grave e necrólise epidérmica tóxica nos pacientes Para obter o efeito esperado do medicamento, leva cerca de 2 ou 3 meses Monitoramento: Função hepática TGO, TGP, gama GT, fosfatase alcalina, bilirrubina total e frações 5.5. TOPIRAMATO Não é muito bom como estabilizador de humor, por isso consideramos como adjuvante. A grande indicação dele na psiquiatria é para controle do comportamento compulsivo e impulsivo Uso terapêutico TAB: Adjuvante para redução do ganho de peso e controle de comportamento compulsivo/impulsivo Bulimia nervosa Transtorno de compulsão alimentar Obesidade Dependência de álcool, cocaína e tabaco Transtornos de controle de impulsos Reações adversas Mais comuns: Parestesias, anorexia, perda de peso, sonolência, tontura, déficit cognitivo (burrice temporária > 100mg/dia), fadiga e insônia Menos comuns: Acidose metabólica, cálculos renais, hipertermia, mialgia, miopia adquirida, paladar alterado, arritmias Teratogênico TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR MANIA DEPRESSÃO Lítio* Ácido valpróico Quetiapina* Aripiprazol Paliperidona Risperidona Olanzapina (2ª linha) Carbamazepina (2ª linha) Associações Quetiapina* Lítio* Lurasidona Lamotrigina Ácido valpróico (2ª linha) ISRS (2ª linha) ou bupropiona Olanzapina + fluoxetina
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