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Análise da Função hepática Bioquímica Clínica AULA: 5 Prof. Adolfo Koga FUNÇÃO HEPÁTICA Avaliação da função hepática PONTOS-CHAVE O fígado compõe de três sistemas: • Hepatócitos – reações metabólicas e síntese e degradação de macromoléculas especialmente proteínas. • Sistema biliar – metabolismo da bilirrubina e dos sais biliares • Sistema reticulo endotelial – relacionado ao sistema imune e a produção do grupo heme e metabolitos da globina (bilirrubina). A função de cada um desses sistemas pode ser medida de forma não invasiva através de determinações de níveis séricos de analitos específicos, presença de anticorpos ou antígenos específicos no soro. Avaliação da função hepática Função hepática normal É o maior e mais complexo órgão do trato gastrointestinal. Sistema Hepatócito bioquímco o Maioria das atividades metabólicas, incluindo a síntese de proteínas, metabolismo aeróbio e anaeróbio da glicose e outros açucares, síntese e quebra de glicogênio, metabolismo de aa e ácidos nucleicos, intervenções em aa e acido dicarboxílico via transaminases (aminotransferases). o Síntese e metabolismo de lipoproteínas, metabolismo xenobiótico (metabolismo de fármacos que envolve o sistema oxidativo do citocromo P450). o Armazenamento de ferro e vitaminas (A, D e B12), síntese de hormônios (Angiotensinogênio, fator de crescimento insulina-simile 1 e tri-iodotironina). o Depuração de outros hormônios como a insulina, PTH, estrógenos e cortisol. o Metabolismo da amônia em uréia. o Síntese de albumina e fatores da coagulação com exceção do fator de Von Willebrand. Avaliação da função hepática Sistema Hepato-Biliar o Relacionado ao metabolismo da bilirrubina, envolvendo o transporte da bilirrubina para o interior dos hepatócitos. o Conjugação ao ácido glicurônico e sua secreção nos canalículos biliares, além do sistema entero-hepáticos. Sistema Retículoendotelial o Também conhecida como células de Kupffer que são macrófagos que está relacionado ao sistema imunológico. o Local de remoção de complexos antígeno-anticorpo da circulação. o Quebra da hemoglobina dando origem a bilirrubina que junto com a bilirrubina oriunda do baço entra nos hepatócitos. Na doença hepática, por vezes as manifestações clínicas surgem tardiamente após progressão da doença sendo fundamental a observação de qualquer alteração. Funções metabólicas Bilirrubina o Principal metabólito do grupo Heme encontrado na hemoglobina, mioglobina e citocromos. o Aproximadamente 250 a 300 mg de bilirrubina é produzida sendo 85% oriundo da quebra do Heme. o Quebra gerando biliverdina que sofre redução transformando em bilirrubina. o A medida que penetra no fígado se dissocia ligando a albumina. o A forma isomérica trans é altamente insolúvel em água sendo transportada ligada a ALBUMINA e a forma cis é solúvel sendo excretada na urina. Funções metabólicas Causas de elevação dos níveis séricos de Bilirrubina não conjugada Hemólise o Ocorrem nas anemias hemolíticas onde a destruição é superior a depuração hepática. o Característica em recém natos devido a deficiência na atividade da glicuronil transferase. o Em adultos o sua elevação sérica é diagnóstico da anemia hemolítica. Sindrome de Gilbert e de Crigler-Najjar o Na síndrome de Gilbert ocorre um discreto aumento devido a lesão genética na inserção de duas bases na região promotora do gene UGT1A1 (hidrolisa a bilirrubina0. o Assim ocorre a falha na conjugação. o Na síndrome de Crigler-Najjar ocorre mutações múltiplas no gene UGT1A1 causando diversos graus de deficiência. Funções metabólicas Causas de elevação dos níveis séricos de Bilirrubina conjugada Deficit de excreção: Sindrome de Dubin-Johbson o É um erro de metabolismo causando bloqueio da excreção de bilirrubina no interior dos canalículos devido ao defeito no transportador de anions orgânicos multiespecífico canalicular ATP-binding cassette. Obstrução biliar o Em adultos a colelitiase é a causa mais comum da hiperbilirrubinemia resultando na presença de cálculos biliares. o Condições inflamatórias como a colangite. o Sepsis por bactérias gram negativas. o Na hepatite, em que ocorre destruição tóxica dos hepatócitos de origem viral, química ou traumática devido a necrose local ou danos celulares que resultam no bloqueio da conjugação e excreção da bilirrubina sendo comum o aumento da bilirrubina direta e indireta. Funções metabólicas Amônia o Deriva principalmente de aa e acido nucleicos. o No fígado ocorre através da ação enzima glutaminase sobre a glutamina resultando na produção de acido glutâmico e ureia. o A deficiência congênita desta enzima leva ao aumento da amônia no soro e LCR. o Por apresentar capacidade regenerativa somente em condições de cirrose, insuficiência hepática e outras doenças graves a amônia deixam de ser metabolizadas Funções metabólicas Lípideos o Doenças hepáticas podem causar redução de HDL em especial o do tipo 3 e de outras lipoproteínas devido a deficiência das seguintes lectinas: Colesterol aciltransferase (LCAT – esterifica o colesterol) Lipoproteína lipases - hidrolisa triglicerideos. o Lesão hepática induzida pelo álcool aumenta a ApoA-1 causando aumento de HDL do tipo 3. Sais biliares o Produtos do metabolismo do colesterol facilitam a absorção de gorduras no intestino. o Armazenado na vesícula biliar e liberado no intestino após as refeições. o O seu acúmulo no soro leva a formação da colestase. o Produção defeituosa devido a falha de solubilização da bile podendo levar a formação de cálculo de colesterol. Funções metabólicas Fármacos o Metabolismo em geral dependente do citocromo P450 que converte os fármacos em metabólitos. o Fase 1: promoção oxidação/hidroxilação o Fase 2: Conjugam o metabólito a compostos polares (ácido glicurônico, glicina, taurina e sulfato). o Isoformas CYP1A ; Aminopirina, cafeína, diazepan o taxa de metabolismo independe do fluxo do sangue para o fígado. CYP2B: Metacetina, fenacetina e eritromicina o Taxa de metabolismo depende do fluxo do sangue para o fígado. Funções Sintéticas Síntese Proteíca o Ocorre em torno de 90% da síntese das proteínas e 100% de albumina. o Assim a lesão extensa do tecido hepático podem levar a redução de níveis séricos de proteínas. o Porém outras doenças podem levar a redução de proteínas: doença renal, desnutrição, enteropatias perdedoras de proteínas e doenças inflamatórias crônicas. Importante lembrar o A redução depende da meia vida Albumina – 20 dias Fator VII – 4 a 6 horas Transtiretina – 1 a 2 dias Transferrina – 6 dias Funções Sintéticas Albumina o Principal proteína produzida no fígado o Produção aumentada pela diminuição da pressão oncótica do plasma e diminuída pela ação de citocinas (IL-6). o Diminuição sérica constitui um dos principais aspectos prognósticos da cirrose hepática. o Transporta substâncias endógenas (bilirrubina, hormônios da tireóide)e exógenas (farmacos). o Como a albumina é o coloide intravascular osmoticamente ativo o seu aumento leva a formação de edema. Outras Proteínas α1- antitripsina (AAT) o Principal inibidor da protease (tripsina) pode inibir outras proteases como a elastase. o A deficiência pode ser causada por defeito estrutural causada por mutações. o Embora o nível de tripsina circulante é baixo outras proteases como a elastase são liberadas pelos leucócitos em resposta a agentes irritantes ou inflação. o Assim a AAT é capaz de neutralizar a atividade da elastase sendo um importante marcador nas doenças inflamatórias. o Pode repercutir no pulmão levando a efisema, bronquite, bronquectasia. o Acúmulo da proteina mutante nos hepatócitos causam colestase neo natal, hepatopatia crônica e cirrose. Outras Proteínas Ceruloplasmina o Principal proteína sérica contendo cobre, sendo a enzima que circula em maior quantidade no soro. o É uma ferroxidase, essencial para a conversão do ferro ao estado férrico para a ligação à transferrina. o Diminuição na doença de Wilson, distúrbio congênito raro devido a mutação do gene codificador da ATPase – ATP7B. Fatores de coagulação o Exceto fator de Von Willebrand. o Inibidores da coagulação também são sintetizadas: Antitrombina III, α2- macroglobulina, α2-antripsina, inibidor de esterase C1 e Proteina C). Exames de lesão hepática Níveis de enzimas plasmáticas o Devido a complexidade metabólica, os hepatócitos contém inúmeras enzimas. o Quando ocorre uma lesão hepática ocorre o aumento das enzimas no plasma. Localização celular das enzimas Citoplasmáticas o LDH o AST o ALT Mitocondriais o AST Processos obstrutivos o ALP o GGT Exames de lesão hepática Mecanismo de liberação de enzimas o As enzimas são liberadas de acordo com a extensão da lesão. o Etanol provoca liberação de AST mitocondrial bem como na sua superfície. o Pode ocorrer aumento de GGT e em menor grau de ALP no uso de medicamentos indutores de enzimas microssomais (fentoína e carbamazepina). Aminotransferases – metabolismo das proteínas AST - aspartato aminotransferase ALT – alanina aminotransferase o Catalisam a transferência de grumo amino de aspartato ou alanina ao α- cetoglutarato para formar glutamato e cetoácido. o AST além do fígado está presente nas hemácias, músculo esquelético e cardíaco. o ALT está presente no fígado e rins, aumenta drasticamente nas lesões hepáticas agudas como a hepatite viral. o Nas lesões hepáticas precedem em 1 semana do aumento da bilirrubina. o Meia vida de 18 horas para AST e 48h para ALT. Exames de lesão hepática Interpretação: Valores de referência – Wallach – Interpretação de exames laboratoriais. 2013 - AST • Até 1 ano de idade: 30 a 80 U/L • >1 ano de idade: 10 a 40 U/L ALT • Até 1 ano de idade: 5 a 50 U/L • >1 ano de idade: 10 a 40 U/L o Lesão hepatocelular, necrose dos hepatócitos ou lesão de qualquer causa. o Hepatite alcoólica – AST > ALT). o Hepatite viral e crônica – AST > ALT). o Hepatite aguda: estágio inicial AST maior que ALT mas após 48 horas, em geral, a ALT é maior. o Níveis de AST de 500 U/L sugere lesão hepatocelular aguda, raramente >500 U/L na icterícia obstrutiva, cirrose, hepatite viral, AIDS e doença hepática alcoólica. Exames de lesão hepática Interpretação: o Hepatite viral fulminante aguda: elevação abrupta de AST com declínio lento, testes sorológicos positivos e lesão química aguda. o Na ICC, arritmias, sepsis, e HDGI os níveis de AST alcança pico de 1.000 a 9.000 U/L com declinio de 50% em 3 dias e < 100 U/L em 1 semana sugerindo choque hepático com necrose centrolobular. Os níveis séricos de bilirrubina e ALP refletem a doença hepática. o Traumatismo do músculo cardíaco ou esquelético. o Insuficiência cardiaca aguda (AST > ALT). o Exercício intenso, queimadura. o Hipotireoidismo. o Lesão hepática induzida por fármacos e drogas. o Obstrução aguda do ducto biliar (cálculo) . Elevação rápida de AST e ALT para niveis altos seguida de queda em 12 a 72 horas. Exames de lesão hepática Desidrogenase láctica o Encontrada no citoplasma de todas as células na forma de cinco isoenzimas sendo o tipo H com afinidade pelo lactato e o M pelo piruvato. o Catalisa a interconversão de lactato e piruvato. o Encontrado principalmente no coração, fígado, músculo esquelético, nos rins e nos eritrócitos. Interpretação: o Doenças cardíacas: IAM, ICC. Cirurgia Cardíaca. o Doenças hepáticas: Cirrose, icterícia obstrutiva, hepatite viral aguda, tumor hepático o Doenças hematológicas: Anemia perniciosa, deficiência de ácido fólico, anemia hemolítica. o Embolia e infarto pulmonares, tumores, doenças musculares e doenças renais. Exames de lesão canalicular Fosfatase alcalina (ALP). o Enzima que catalisa a hidrólise de ésteres de fosfato em pH alcalino. o Encontrado no fígado, osso, intestino e placenta sendo que mais de 95% derivam do fígado e osso (1:1). o A meia vida hepática é de 3 dias sendo termorresistente e a óssea termosensivel. o A obstrução do trato biliar por cálculos nos ductos, processos infecciosos que resultam em colangite ascendente e lesões extensas podem aumentar a ALP hepática. Gamaglutamiltransferase (GGT) o Responsável pelo metabolismo extracelular da glutationa, principal antioxidante nas células. o É mais sensível que a ALP na doença hepática obstrutiva. o Importante marcador para verificar se o aumento da ALP é de origem óssea. Hepatites o Vírus causadores da hepatite A, B e C e o arbovírus são hepatotóxicos. o EBV, CMV, VZV, HSV, H116, HIV, adenovirus e ecovirus podem causar hepatite passageira ou agressiva. o Os vírus constituem em torno de 80 a 90% dos casos da hepatite aguda e crônicas. Hepatite A o O vírus da hepatite A (HAV) é membro da família picornavirus que contém RNA. o Transmissão fecal-oral com período de incubação de 15 a 45 dias. o 5 a 10% com elevação enzimática. o Período de incubação: HAV RNA presente nas fezes e plasma permanecendo até 18 dias. o Presença de IgM anti-HAV – 2 a 3 semanas, persistindo até 3 a 6 meses. o 1 a 2 semanas após resposta da IgMs surgem IgG que mantém para a vida. Hepatites Hepatite B - HBV o O vírus da hepatite B faz parte da família hepadnavírus. o Aspectos clínicos variáveis, doença ausente, branda, ou severa insuficiência hepática. o Transmissão por fluídos biológicos, relação sexual e materno fetal. o Antígenos - HBcAg – antígeno central - HBsAg ou HBs – antígeno de superficie. - HBeAg – antígeno central. Hepatite aguda: HBsAg, IgM anti HBc Hepatite crônica: HBsAg, IgG anti HBc, IgG anti HBs. Monitoramento HBV crônico: HBs, HBcAg, IgG antiHBs, IgG antiHBe e PCR quantitativo ultrassensível. o Fase aguda – HBsAg – 2 a 3 meses após a infecção. o 4 a 6 semanas - IgM antiHBc com aumento de AST e ALT. o 1 a 2% ocorrem a cronicidade da doença. o Cura: presença de IgG anti HBs e IgG anti Hbe sendo que em 5 a 10% dos casos podem desaparecer o IgGanti HBs. Hepatites Hepatite B - HCV o O vírus da hepatite C contém RNA e pertence aos flavirus. o Transmissão por transfusões sanguíneas e transplantes, acidentes com agulhas., relação sexual. o 85% dos casos tornam crônico. o Níveis de ALT elevam em 50% dos casos crônicos com viremia persistente. o Fase aguda com hepatite leve: > 75% são anictéricos. o A medida que a doença progride pode ocorrer fibrose e cirrose. o IgM anti HCV e IgG anti HCV são presentes tanto na infecção aguda como na crônica. Hepatites Hepatite D - RDV o È um vírus RNA defeituoso somente replica na presença de HBsAg. o A infecção pode ocorrer simultaneamente com a HBV. o Acredita-se que 5% dos pacientes infectados com a HBV estejam coinfectados com HBV. o Diagnóstico: - Ac anti - HDV positivo: Infecção por HDV - Ac anti - HDV positivo, HBsAg positivo, IgM anti-HBc positivo: cooinfecção HBV/HDV - Ac anti-HDV positivo, HBsAg positivo, IgG anti-HBc positivo: superinfecção por HDV. Hepatites Albumina o Albumina é sintetizada EXCLUSIVAMENTE pelos hepatócitos. o Tem a meia-vida longa, de 15 a 20 dias, com 4% degradada a cada dia, por isso é marcador ruim para disfunção hepática aguda. o Aumento é mais comum em hepatopatias crônicas como a cirrose, e usualmente reflete dano hepático grave e síntese baixa da proteína. o Exceções são os pacientes com ascite, que podem ter a síntese normal ou elevada, mas o volume de distribuição é grande. o A diminuição NÃO É ESPECÍFICA PARA DOENÇA HEPÁTICA, podendo ocorrer em desnutrição proteica de qualquer causa, enteropatias perdedoras de proteínas, glomerulopatias com albuminúria, síndrome nefrótica, infecções crônicas associadas com aumentos de interleucina-1 e/ou fator de necrose tumoral, que o inibem a síntese de albumina. Referências
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