Buscar

apostila Ética e educação

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 37 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 37 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 37 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

ÉTICA E EDUCAÇÃO
1. O objeto da Ética
Objetivos gerais:
O objeto da Ética exige:
A não identificação da Ética com a Moral;
A existência de Uma Ética que, não sendo científica, recebe o contributo das diversas
Ciências a respeito do ser humano;
Que a atuação moral, singular, seja complementada/criticada pela reflexão ética, universal; Que cada um de nós tenha a consciência de que deparará com problemas morais, ao longo da sua vida;
Que haja, tanto em termos pessoais, quanto em termos coletivos, a passagem da Moral efetiva – ou vivida – para a Moral reflexa – ou Ética;
A tomada de consciência para a possibilidade de variação das respostas sobre o que é o
“Bom”, consoante as diferentes Éticas;
A verificação do seguinte facto: a Ética não é uma intra-disciplina da Filosofia;
Que as questões éticas fundamentais devam ser abordadas a partir de pressupostos filosóficos,
Que, através do seu objeto, a Ética se relacione com as Ciências que estudam as repasses e só comportamentos dos seres humanos em sociedade (psicologia, antropologia, sociologia); A consideração para com o seguinte aspecto: o comportamento moral é uma forma específica do comportamento dos seres humanos.
1.1- Definições de Ética
Não se pode confundir a Ética com a Moral: a Ética não cria a Moral. Apesar de toda a Moral pressupor determinados princípios, normas ou regras de comportamento, não é a Ética que só estabelece numa determinada comunidade.
A Ética depara com uma experiência de índole histórico-social no terreno da Moral, ou seja, com um conjunto de práticas morais já em vigor e é partindo delas que procura determinar
A essência da Moral; A origem da Moral;
As condições objetivas e subjetivas do ato moral; As fontes da avaliação moral;
A natureza e a função dos juízos morais;
Os critérios de justificação dos juízos morais;
O princípio que rege a mudança e a sucessão dos diferentes sistemas morais.
A Ética é a teoria do comportamento moral dos seres humanos em sociedade. É o saber de uma forma específica do comportamento humano.
Segundo Luís de Araújo, a atribuição de uma dimensão científica à Ética só será possível se dela resultar uma objetividade tal que permita aos juízos em que se exprime afastar toda e qualquer subjetividade. Outros autores ainda consideram que só enunciados éticos não possuem, em rigor, uma dimensão científica, pois exprimem unicamente sentimentos subjetivos.
Se for possível construir a Ética assente num processo científico de fundamentação, parece tornar-se inevitável o relativismo moral: é possível uma Ética com rigor científico? É desejável tal ética?
1.1.1 – Ética como reflexão, influenciada pela Ciência.
O autor mais representativo desta corrente é Luís de Araújo. Segundo este autor é possível construir uma Ética que, apesar de não ser deduzida das Ciências, se articula com só conhecimento que vão emergindo a partir destas a respeito da realidade humana. O conteúdo da reflexão moral resulta, simultaneamente, de uma exigência lógica de coerência conjugada com sós conhecimentos científicos que ajudam a traçar a ideia de ser humano que está subjacente à criação e à fruição dos valores.
A Ética forma-se como uma reflexão integralmente autónoma face às abstrações de natureza metafísica e às proposições intrinsecamente teológicas. Ela configura-se, apesar da ambiguidade e do carácter dubitativo que é inerente a tudo quanto é humano, como um discurso legítimo acerca do agir humano e da sua justificação axiológica.
1.1.2- A Ética como Ciência
É Adolfo Sánchez Vasquez, entre outros, que defende a Ética como Ciência. Segundo esta corrente: A Ética é uma Ciência. De acordo com esta abordagem, a Ética ocupa-se de um problema próprio – o sector da realidade humana a que chamamos Moral, constituído por um tipo peculiar de fatos ou atos humanos. Como Ciência, a Ética parte de um determinado conjunto de factos, pretendendo descobrir lhes só princípios gerais. Enquanto conhecimento
Científico, a Ética deve aspirar à racionalidade e à objetividade e proporcionar conhecimentos sistemáticos, metódicos e, no limite do possível, comprováveis.
A Ética é a Ciência da Moral, ou seja, de uma esfera do comportamento humano. Não se deve aqui confundir a teoria com o objeto: o mundo moral. Os princípios, as normas ou só juízo de uma Moral determinada não apresentam carácter científico. Daí que se podemos falar numa Ética científica, não o podemos fazer em relação à Moral, porquanto não existe uma Moral científica, embora exista (ou possa existir) um conhecimento Moral que pode ser científico. O científico baseia-se no método e não no próprio objeto.
A Moral não é uma Ciência, mas sim o objeto de uma Ciência. A Ética não é a Moral e, portanto, não pode ser reduzida a um conjunto de normas e prescrições, dado que a sua missão consiste em explicar a Moral efetiva e, neste sentido, pode influir na própria Moral.
A origem etimológica da palavra Ética encontra-se em dois vocábulos:
Éthos – que significa costume, uso, maneira (exterior) de proceder.
Etos – que se reporta á residência, toca morada habitual, maneira de ser, carácter.
Atualmente, a apalavra Ética usa-se em 3 sentidos:
No sentido de ordem moral ou ordem ética, entendida como a totalidade do dever moral; no sentido de estrutura fundamental das ideias morais ou ideias éticas, reconhecidas por uma pessoa, ou por um grupo;
No sentido de conduta moral efetiva, tanto de uma pessoa como de um grupo.
A Moral tem origem no latim “mós”, “mores”, entendido no sentido de conjunto de normas ou regras adquiridas por hábito.
Enquanto a Moral se reporta a comportamentos concretos de índole particular, que pressupõem a coexistência da liberdade e da responsabilidade, a Ética, de feição tendencialmente universal, diz respeito a princípios normativos daqueles comportamentos. A Ética é a base normativa da Moral, com capacidade para clarificar e retificar só comportamentos morais efetivos. Os seres humanos não só agem moralmente como refletem sobre esses comportamentos práticos, tomando-os como objeto do seu pensamento e reflexão. Tal dimensão almeja atingir, e esclarecer, as mais relevantes atuações humanas, e aquelas que se reportam consciente e livremente, ao bom, ao certo, ao correto, ao justo, ao prudente. Todos nós ambicionamos pautar o nosso comportamento por essas normas, tais normas, uma vez aceites, são reconhecidas como obrigatórias e é de acordo com elas que temos o dever de agir, rejeitando todas as outras possibilidades de atuação moral.
Admitindo que o mundo dos valores seja uno e coerente, todos sós valores devem convergir para um núcleo axiológico: aquele que é constituído pelo Bem.
A Ética ocupa-se das normas que regem ou devem reger as repasses de cada indivíduo com só outros e dos valores que cada indivíduo deve realizar no seu comportamento.
1.2- Problemas morais e problemas éticos
Nos repasses cotidianos que as pessoas estabelecem entre si, surgem problemas morais (ex: quando me encontro em apuros devo fazer uma promessa com a intenção de não a cumprir? Devo dizer sempre a verdade, ou há ocasiões em que posso mentir? Quem, num conflito armado, sabe que um amigo colabora com o inimigo, deve ocultar este facto – em nome da amizade – ou deve denunciá-lo como traidor?). Estamos ante problemas práticos e problemas cuja solução não diz unicamente respeito à pessoa que só propõe, mas também àquele, ou àqueles, que sofrem as consequências da sua ação, ou da sua decisão. Estes problemas têm lugar no plano da Inter- subjetividade.
Nestas situações a pessoa defronta-se com a necessidade de pautar o seu comportamento por normas que se julgam serem as mais apropriadas. Estas normas são aceites intimamente e reconhecidas como obrigatórias e é de acordo com elas que as pessoas compreendem que têm o dever de agir desta ou daquela maneira. Nestes casos, dizemos que o ser humano age moralmente. Sobreeste comportamento, que é resultado de uma decisão refletida e, como tal, não é espontânea ou natural, ou outros julgam à luz de normas estabelecidas, e formulam juízos (e: X agiu bem mentindo naquelas circunstâncias; Y deveria denunciar o seu amigo, traidor). Temos, de um lado, atos e formas de comportamento dos seres humanos em face de determinados problemas (morais), e, por outro, juízos que aprovam ou desaprovam moralmente esses mesmos atos.
No entanto, tanto só atos quanto só juízo pressupõe certas normas que apontam o que se deve fazer.
Na vida quotidiana, deparamo-nos com problemas práticos do género dos apontados e aos quais ninguém pode fugir. Para resolvê-los as pessoas recorrem a normas, cumprem determinados atos, formulam juízos e, por vezes, serve-se de determinados argumentos ou razões para justificar a decisão adoptada ou só passo dados.
O comportamento humano prático-moral, ainda que sujeito a variações de uma época para outra e de uma sociedade para outra, remonta às origens do ser humano como ser social. Ao comportamento prático-moral sucedeu a reflexão sobre ele. Desde então, só seres humanos não só agem moralmente, como, em simultâneo, julgam ou avaliam de uma determinada maneira estas
Decisões e estes atos, mas também refletem sobre o seu comportamento prático e tomam-no como objeto para o seu pensamento e para a sua reflexão. Verifica-se, assim, a passagem do plano da prática moral para o da teoria moral, ou seja, da Moral efetiva – vivida – para a Moral reflexa (Ética). Quando se verifica esta passagem estamos na esfera dos problemas teórico-morais ou éticos. Os problemas prático-morais são particulares, só problemas éticos são gerais. A Ética diz- nos, em termos gerais, o que é um comportamento pautado por normas ou em que consiste o fim – o Bom – visado pelo comportamento moral. O problema de o que fazer em cada situação concreta é um problema prático-moral e não um problema teórico-ético. A teoria pode influenciar o comportamento moral-prático, pois traça um caminho geral, em cujo marco só seres humanos podem orientar a sua conduta nas diversas situações particulares.
Muitas teorias éticas organizaram-se em torno da definição do Bom, na suposição de que, se soubermos determinar o que é, poderemos saber o que deveremos ou não fazer. As respostas sobre o que é Bom variam de uma teoria para outra (para uns é a felicidade ou o prazer, para outros o útil, o poder, a autocriação do ser humano). Outro problema ético fundamental é, por exemplo, o de definir a essência ou sós traços essenciais do comportamento moral, em contraponto com outras formas do comportamento humano como a Religião, a Política, o Direito, etc.
O problema da essência do ato moral remete para outro problema muito importante: o da responsabilidade. É possível falar em comportamento moral somente quando o sujeito que assim se comporta é responsável pelos seus atos, mas isto pressupõe que ele pôde fazer o que queria, pôde escolher entre duas ou mais alternativas. O problema da liberdade da vontade é, por isso, inseparável do da responsabilidade. Decidir e agir numa situação concreta é um problema prático- moral; investigar o modo como à responsabilidade moral se relaciona com a liberdade é um problema teórico, da competência da Ética. Problemas éticos são também o da obrigatoriedade moral, i.e., o da natureza e dos fundamentos do comportamento moral enquanto obrigatório, bem como o da realização moral, não só encarado como empreendimento pessoal, mas também como empreendimento coletivo.
No entanto, só seres humanos, no seu comportamento prático-moral, além de levarem a cabo determinados atos, julgam ou avaliam esses mesmos atos: formulam juízos de aprovação ou de reprovação, e sujeitam-se livre e conscientemente a certas normas ou regras de ação.
Embora só problemas teóricos e só problemas práticos sejam diferentes, não estão separados por uma barreira intransponível. As soluções que dadas aos problemas práticos não deixam de influir na colocação e na solução dada só problemas teóricos. Por outro lado, sós problemas propostos pela Moral prática, vivida, constituem a matéria de reflexão, ao qual a teoria ética tem de regressar constantemente, para não se tornar uma especulação estéril, mas sim a teoria de um modo efetivo, real do comportamento do ser humano.
1.3- O campo da Ética
Os problemas éticos caracterizam-se pela sua generalidade, distinguindo-se, assim, dos problemas morais da vida quotidiana. Se a Ética revela uma relação entre o comportamento moral e as necessidades e só interesses sociais, ela ajuda-nos a situar, no devido lugar, a Moral efetiva de um grupo social que tem a pretensão de que só seus princípios e as suas normas tenham validade universal, sem ter em conta as necessidades e sós interesses concretos de outros grupos sociais. Se a Ética ao definir o que é o bom, se recusa a reduzi-lo àquilo que satisfaz o interesse próprio de uma determinada pessoa, influirá na prática moral, ao rejeitar um comportamento egoísta como sendo moralmente válido.
Procurou ver-se na Ética uma disciplina normativa, cuja função principal consistiria em indicar o tipo específico de comportamento que seria o mais desejável, sob o ponto de vista moral. Contudo, esta caracterização da Ética como disciplina normativa pode levar-nos a esquecer do seu carácter reflexivo. A função da Ética é idêntica à de qualquer outra teoria: explicar, esclarecer ou investigar uma determinada realidade. Por outro lado, a realidade moral varia historicamente e, com ela, variam sós seus princípios e as suas normas: a ambição de formular princípios e normas universais, deixando de lado a experiência moral histórica, afastaria da teoria a realidade que pretendia explicar.
A Ética é a teoria, a investigação ou explicação de um tipo de experiência humana, ou forma de comportamento dos seres humanos, a que chamamos Moral. Aquilo que se afiram na Ética sobre a natureza ou fundamento das normas morais deve valer para qualquer sociedade histórica. É isto que assegura o carácter teórico da Ética e evita a sua redução a uma disciplina normativa ou programática.
O valor da Ética, como teoria, está naquilo que explica e não no facto de prescrever ou recomendar algo com vista à ação em situações concretas. A Ética diz respeito não ao ser ou ao fazer, mas sim ao dever ser.
O comportamento moral apresenta-se como uma forma de comportamento humano, como um facto, e cabe à Ética explicá-lo, tomando a prática moral da humanidade como objeto da sua reflexão. A Ética é uma explicação daquilo que foi ou é e não uma simples descrição: não lhe cabe formular juízos de valor sobre a prática moral de outras sociedades, em nome de uma Moral absoluta e universal, mas deve, antes, explicar a razão de ser desta pluralidade e das mudanças de Moral – cabe-lhe explicar o facto de sós seres humanos terem recorrido a diferentes práticas morais, mesmo opostas entre si.
A ética tem em consideração a existência da história da Moral, toma como ponto de partida a diversidade de Morais ao longo do tempo, com só seus respectivos valores, princípios e normas. Como teoria, a Ética não se identifica com sós princípios e normas de nenhuma Moral em particular.
A par da explicação das suas diferenças, a Ética deve investigar o princípio que permita compreendê-las no seu movimento, assim como no seu desenvolvimento.
A Ética trabalha com atos concretos. Estes atos são atos humanos, logo atos de valor, consideração que não prejudica em nada as exigências de um estudo objetivo e racional. A Ética estuda uma forma peculiar do comportamento humano que só seres humanos julgam como valioso e que, além ditto, é obrigatório e irrecusável.
Segundo Fernando Sapatear o saber viver, ou arte de viver, é aquilo a que se chama ética.
1.4- Ética e Filosofia
A Ética é o conjunto sistemático de conhecimentos racionais e objetivos sobre o comportamento humano moral. Tem um objeto específico que se pretende estudar racionalmente e sem subordinação a nenhumoutro ramo do saber já constituído. Isto se opõe à concepção tradicional da Ética, que a reduzia a um mero capítulo da Filosofia, na maioria dos casos, especulativa. A concepção tradicional da Ética nega o carácter racional e independente da Ética: esta não elabora proposições objetivamente válidas, mas sim juízos de valor ou normas que não podem pretender essa validade. Isto se aplica a um tipo determinado de Ética – a Ética normativa – à qual se atribui a função fundamental de fazer recomendações e formular um conjunto de normas e prescrições morais. Tal objecção não atinge a teoria ética, que pretende explicar a natureza, fundamentos e condições da Moral. Um código moral, ou um sistema de normas, não é Ciência, mas pode ser explicado com o contributo crítico das diversas ciências. A Moral não é científica, mas as suas origens, fundamentos e evoluções podem ser investigadas racional e objetivamente, i.e., do ponto de vista da Ciência.
Na negação de qualquer relação da Ética com a Ciência alguns autores querem ater-se à dependência exclusiva da Ética em relação à Filosofia. A Ética é, neste sentido, presented como uma parte da Filosofia especulativa. Esta Ética filosófica preocupa-se mais em procurar concordância com princípios filosóficos universais do que com a realidade moral no seu desenvolvimento histórico. Numa época em que a História, a Antropologia, a Psicologia e as Ciências Sociais nos proporcionam materiais muito valiosos para o estudo do ato moral, já não se justifica a existência de uma Ética puramente filosófica, especulativa, alheada do saber científico e da própria realidade humana moral.
A defesa do carácter filosófico da Ética é válida para grande parte da história da Filosofia, período em que, por ainda não estar constituído um saber científico sobre diversos ramos da realidade natural e/ou humana, a Filosofia se apresentava como um saber que se ocupava praticamente de
Tudo. De entre as várias disciplinas, tradicionalmente associadas à Filosofia, que trilham o seu caminho próprio, encontra-se a Ética.
O facto de a Ética ser concebida como um saber que tem um objeto próprio, tratado racionalmente, ou seja, um saber que procura uma autonomia idêntica à de qualquer saber científico, não significa que esta autonomia possa ser considerada como absoluta em relação aos demais ramos do saber e, também, em relação à Filosofia, dado que as contribuições da reflexão filosófica no terreno da Ética, para além de não poderem ser relegadas para o esquecimento, devem ser postas em evidência, pois, em muitos casos, conservam a sua riqueza e vitalidade.
A Ética é incompatível com qualquer cosmovisão universal e totalizadora que se pretenda colocar acima das Ciências ou em contradição com elas.
As questões éticas fundamentais são as que dizem respeito às repasses entre liberdade, responsabilidade e necessidade, devem ser abordadas a partir de pressupostos filosóficos básicos, como o da dialética da necessidade, da liberdade e da responsabilidade.
Por outro lado, a Ética assumida como teoria de uma forma específica do comportamento humano, não pode deixar de partir de uma determinada concepção filosófica do ser humano.
O comportamento moral é próprio do ser humano como ser histórico social e prático. Se a Moral é inseparável da atividade do ser humano, a Ética nunca poderá deixar de ter como fundamento a concepção filosófica do ser humano, que nos dá uma visão deste como ser social histórico e criador. Há todo um conjunto de conceitos com só qual a ética trabalha que são oriundos da Filosofia – liberdade, necessidade, valor, consciência, sociabilidade.
A Ética está estreitamente relacionada com a Filosofia. Esta relação não exclui o seu carácter racional, mas pressupõe-no necessariamente.
1.5- A Ética e as Ciências Humanas e Sociais
É através do seu objeto que a Ética se relaciona com as Ciências que estudam as repasses e sós comportamentos dos seres humanos em sociedade, proporcionando elementos que contribuem para esclarecer o tipo peculiar de comportamento humano que é a Moral. São elas: a Psicologia, a Antropologia Social e a Sociologia, principalmente.
Os agentes morais são as pessoas que fazem parte de uma comunidade. Os seus atos são morais unicamente se considerados nos seus repasses com só outros. Ainda que o comportamento moral corresponda à necessidade social de regular as repasses dos seres humanos numa determinada direção, a atividade moral é vivida interna ou intimamente pelo sujeito num processo subjetivo – para esta explicação intervém de forma preciosa a Psicologia. A Psicologia auxilia a Ética quando põe em evidência a dinâmica e as motivações do comportamento do ser humano, assim como quando modeliza e estrutura do carácter e da personalidade. Aquela disciplina dá a sua ajuda à Ética
Quando se examinam sós atos voluntários, a formação dos hábitos, a génese da consciência moral e dos juízos morais. A explicação psicológica do comportamento humano possibilita a compreensão das condições subjetivas dos atos dos seres humanos e, deste modo, contribui para a compreensão da sua dimensão moral.
A ética tem também uma ligação muito estreita com a Antropologia Social e a Sociologia. Nelas, estuda-se o comportamento do ser humano como ser social. Às Ciências Sociais interessam, sobretudo, não o aspecto psíquico ou subjetivo do comportamento humano (Psicologia), mas as formas sociais em cujo âmbito atua só seres humanos.
O sujeito do comportamento moral é a pessoa concreta que parte de uma determinada estrutura social, e é desde a consideração dessa estrutura que o seu modo de comportar-se, moralmente, não pode ser considerado como unicamente particular: ele é, sempre, social. É devido à relação existente entre a Moral e a sociedade que a Ética não pode prescindir do conhecimento objetivo das estruturas sociais, dos seus repasses, instituições, conhecimento que é proporcionado pelas Ciências Sociais, particularmente pela Sociologia.
Enquanto a Sociologia procura estudar a sociedade humana em geral, a Antropologia Social estuda, fundamentalmente, as sociedades primitivas, ou desaparecidas. No estudo do comportamento dessas sociedades a Antropologia Social estuda, igualmente, o comportamento moral. Os antropólogos conseguiram estabelecer repasses entre a estrutura social e o código moral que as regia. Observa-se uma diversidade de Morais, não só no tempo, mas também no espaço, é necessário que a Ética, como teoria da Moral, não ignore que está sempre na presença de comportamentos humanos que variam e se diversificam no tempo. Quer o antropólogo quer o historiador, permitem que se tenha em consideração o carácter mutável das Morais, a sua mudança e sucessão de acordo com e a mudança e a sucessão das sociedades.
Qualquer Ciência do comportamento humano, ou dos repasses entre sós seres humanos, pode trazer uma contribuição útil para a Ética como reflexão acerca da Moral. Além de relacionar-se com o Direito, a Ética também se relaciona com a Economia Política.
Para concluir: a ética relaciona-se com as Ciências Sociais, uma vez que o comportamento moral é uma forma específica do comportamento humano, que se manifesta em diversos planos: psicológico, social, jurídico, religioso, estético, etc. Retenha-se que a Ética é o saber reflexivo sobre o comportamento moral.
As normas morais mudam de sociedade para sociedade, e modificam-se no decorrer da história.
2. Problemas fundamentais da Ética
Objetivos gerais:
A consciência é, sempre, uma consciência de valor,
O ser humano recusa a indiferença ante o mundo em que está inserido e ante aquilo que o rodeia;
A liberdade afirma-se no exercício de autodeterminação de cada pessoa;
A finalidade superior da reflexão moral visa à obtenção da felicidade, na dignidade; Cada um de nós está obrigado a responder à seguinte questão: o que devo fazer?
O progresso moral não pode ser reduzido ao progresso histórico;
Se o progresso histórico cria condições para a existência do progresso moral,ele não gera, por si só, o progresso moral;
Se a Ideologia é fundamental para expressar só anseios dos diferentes grupos sociais, ela é perniciosa ao tentar emascarar à realidade sócio-política-económica-mental.
2.1- A consciência moral e o mundo
A imagem da vida humana que se nos impõe à consciência reflexiva pode ser reduzida a duas estruturas fundamentais:
A estrutura empírica – que abrange só elementos a descobrir na experiência simples (sexo, idade, corpo).
O âmbito em que se constroem só projetos existenciais – dá conta da estrutura moral que suporta as decisões morais.
Questões que se relacionam com a explicação do fundamento da ação moral:
É preciso distinguir na consciência humana a dimensão em que esta se revela como representação da realidade daquela perspectiva em que se assume como possibilidade de apreciação dessa mesma realidade.
Ao aceitarmos que a criação de valores resulta de uma atividade efetiva da consciência, o argumento do interesse ou do desejo perfila-se como elemento primordial do ato valorado. Não se deverá confundir a valoração com só valor.
É no poder de consciência, função de cada eu, que reside o carácter da sua natureza, ou seja, a razão determinante que revela o sujeito como pessoa, manifestando-se, deste modo da índole ética da condição humana.
A consciência moral não se apresenta unicamente como uma estrutura afetiva, mas como uma síntese se aspectos íntimos e de aspectos exteriores, ou seja, a partir do cruzamento dos dados da consciência com aquilo que, do mundo, nos afeta.
O homem recusa a indiferença perante o mundo que o rodeia, assume-se como participante movido pelo imperativo da realização pessoal, é solicitado a orientar as suas ações mediante o dinamismo que se traduz num ato emergente da liberdade. Impõe-se refletir em que consiste a liberdade e no que é um ser livre. É possível explicar a liberdade humana como sendo resultante de um processo cujas raízes biológicas determinam a formação de operações cognitivas que, por seu turno, desenvolvem as condições para o aparecimento de alternativas que a consciência (reflexiva e voluntária) expressará sob a forma de comportamentos. A afirmação da liberdade humana apenas terá sentido se se admitir uma concepção de personalidade em que se reconheça a intervenção estruturante das matrizes biológica, antropológica e cultural.
No exercício da autodeterminação a vontade humana manifesta-se como uma predisposição para a escolha de fins, que se descobre em ligação com valores previamente elaborados pela consciência que, a si mesma, se compromete.
Reconhecendo-se forçosamente determinado a aderir a valores, o ser humano necessita de estabelecer o critério que servirá de sustentáculo à hierarquia em que irão rever-se as suas preferências, fundamentar as escolhas que fizer e as ações que levar a cabo.
É da reflexão livre sobre a vida que surgem os valores. Por isso, a liberdade surge como o fundamento último da nossa pauta axiológica (dos valores morais).
A finalidade superior da reflexão moral consiste em promover as condições peculiares para que o ser humano consiga alcançar a felicidade na dignidade.
2.2- Natureza da Ética. Fundamentação das normas morais.
A problemática fundamental da Ética consiste na necessidade de cada pessoa ter de responder à seguinte questão: O que devo fazer?
Aquele que se ocupa da Ética tem de esforçar-se por procurar uma síntese entre o conhecimento e a vida, síntese a partir da qual se torna possível a constituição da moralidade.
No âmbito do conhecimento moral, o sujeito não emite somente juízos de realidade – através dos quais exprime juízos de realidade -, mas formula igualmente juízos de valor – o conhecimento ético se expressa numa dupla dimensão, que engloba a realidade fática e, em simultâneo, abarca uma realidade axiológica.
O conhecimento ético apresenta-se como uma experiência fundamental que se norteia intencionalmente pela exigência de consolidação de um sistema de valores capaz de definir o
Contexto dos fins mais indeléveis da vida humana, nos quais radica o critério de moralidade para a atuação.
A Ética procura responder às mais sérias questões da vida humana, assumindo-se como crítica e meditação da vocação ativa do ser humano em ordem à instauração dos valores e das normas que lhes possibilitem tornar-se pessoa, quer dizer, criador autónomo e responsável do seu devir histórico-social.
A atitude metódica no âmbito do conhecimento do saber ético comporta dois momentos nucleares: Uma compreensão exigente do humano;
Uma atitude prescritiva a respeito do que deve ser a reta e paradigmática forma de vida humana.
Se o saber científico deve contribuir para a compreensão do humano, o mesmo não acontece a respeito do que deve ser a reta e paradigmática forma de vida humana, pois tudo quanto vier a ser enunciado carece de fundamentação científica, dado que não se trata de uma análise de factos, mas sim de afirmações de feição normativa.
Se a tarefa da Ética consiste em apontar o caminho para que a existência humana se projeta liberta de alienações e orientada por uma ordem justa, é importante refletir sobre o conteúdo desta Ética: o facto de considerarmos a Ética a partir de uma matriz humanista, não significa que dela estejam ausentes questões de natureza metafísica (ex: questões que se relacionam com o sentido da vida e a explicação última da realidade). Por outro lado, ao sublinhar as repasses, inevitáveis que a ética assume com a problemática da metafísica, não significa que se afirme a dependência do pensamento normativa face à metafísica.
É na matriz antropológica que reside à fundamentação da Ética, pois se incluem não só os traços fundamentais que permitem a caracterização do ser humano, mas também a análise da evolução histórica das ideias, em articulação com o desenvolvimento dos padrões culturais.
A Ética está em condições de propor um conjunto de diretrizes ou de princípios vocacionados para o aperfeiçoamento pessoal e da sociedade, desde que a procura de critérios de moralidade não deixe de ser norteada por uma intensa preocupação em estabelecer a unidade entre a teoria e a prática, visto que somente a partir da aliança entre a especulação e a experiência direta, a reflexão moral terá a possibilidade de intervir com eficácia no processo de transformação das estruturas psicológicas e. 
Culturais que influenciam o comportamento humano.
2.3- Moral e História: o sentido do Progresso Moral
A história apresenta-nos uma sucessão de Morais que correspondem às diferentes sociedades que se substituíram ao longo do tempo. Mudam os princípios e as normas morais, a concepção daquilo que é bom, certo, correto, justo.
Se compararmos uma sociedade com outra que lhe é anterior, podemos estabelecer uma relação entre as suas Morais respectivas, considerando que uma Moral é mais avançada, mais elevada, ou mais fecunda do que a de outra sociedade.
Há um progresso moral que não se verifica a margem das mudanças radicais de carácter social. O
Progresso moral não pode dissociar-se da passagem de uma sociedade para outra.
No entanto, o progresso moral não pode ser reduzido ao progresso histórico, ou sequer, que o progresso histórico seja por si só, condição para o progresso moral. Dizemos é que o progresso moral não pode ser concebido independentemente do progresso social e histórico.
O progresso histórico resulta da atividade produtiva, social e espiritual dos seres humanos. Nesta atividade, cada pessoa participa como ser consciente, procurando realizar os seus projetos e as suas intenções.
O progresso histórico não é igual para todos os povos e para todos os seres humanos. Determinados povos progridem mais do que outros, e numa mesma sociedade nem todas as pessoas participam do progresso da mesma maneira. Atualmente, vários povos vivem em patamares muito diferentes da evolução histórica.
Conclusões da relação do progresso moral com o progresso histórico e social:
O progresso histórico cria as condições necessáriaspara o progresso moral;
O progresso histórico e social afeta, de uma maneira ou de outra, positiva ou negativamente, os seres humanos de uma determinada sociedade, sob o ponto de vista moral.
Embora o progresso histórico crie as condições para o progresso moral, ele não gera, por si só, qualquer tipo de progresso moral, porque os seres humanos não evoluem sempre na direção moralmente boa, mas também evolução na direção má. O progresso histórico e social pode ter consequências positivas ou negativas do ponto de vista moral. No entanto, apesar das consequências morais do progresso histórico e social, não podemos julgar moralmente o progresso histórico. O facto de o progresso histórico não dever ser julgado à luz de categorias morais não significa que, histórica e objetivamente, não possa registar-se um progresso moral que, tal como o progresso histórico, não foi até agora o resultado de uma ação planeada, livre e consciente dos seres humanos.
Bases do conteúdo objetivo do progresso moral:
1.º - O progresso moral mede-se pela ampliação da esfera moral na vida social. Esta ampliação revela-se ao serem reguladas moralmente as repasses entre as pessoas.
2.º - O progresso moral determina-se pela elevação do carácter consciente e livre do comportamento das pessoas ou dos grupos sociais e, consequentemente, pelo crescimento da responsabilidade das pessoas ou dos grupos sociais no seu comportamento moral. Uma sociedade é tanto mais rica, sob o ponto de vista moral, quanto mais possibilidades oferece aos seus membros para assumirem a responsabilidade, pessoal ou coletiva, pelos seus atos. Por isso, o progresso moral é inseparável do desenvolvimento da personalidade livre.
3.º - O progresso moral determina-se pelo grau de articulação e de coordenação entre os interesses pessoais e os interesses coletivos.
4.º - o progresso moral manifesta-se como um processo dialético de negação e de conservação de elementos morais anteriores.
2.4- A Ética como crítica das Ideologias
O mascaramento, uma constante político-social do séc. XX perdura na atualidade. A maneira como as pessoas refutam, ou fundamentam os conceitos, os juízos e as normas que constituem o processo ideológico são, quase sempre, tomados em função dos interesses próprios do espírito do tempo. São, pois, os interesses específicos de cada pessoa, e do grupo social significativo em que aquela se integra que comandam o conhecimento e que também têm a capacidade de falsificá-lo. Só um esforço determinado, baseado em critérios estritos de racionalidade, pode ser um obstáculo à queda na manipulação.
As Ideologias são expressões reflexas, mais ou menos conscientes, dos contextos sociais em que as pessoas e os grupos humanos se inserem. Contudo, as Ideologias tentam impor crenças que são, muitas vezes, fonte de opressão e de alienação, que contribuem para deturpar a capacidade de apreensão do real, ao proporcionarem uma interpretação do mundo e da vida que se assume, socialmente, como a visão correta do mundo e da vida. Segundo Edgar Morim “Quem possui uma ideologia também é possuído por ela”.
A ideologia é particularmente apelativa em épocas de crise, nas quais se verifica uma quebra de confiança na razão e o ser humano cai na incerteza. Temos que ter presente que na raiz das Ideologias é possível encontrar teorias morais que pretendem justificar as atitudes daqueles que exercem algum tipo e poder sobre os outros seres humanos o que exprime não só uma concepção do mundo, mas também um conjunto de regras de vida.
Sabemos que a Ética visa esclarecer, perante cada ser humano, as ideias de Bem e de Mal, refletindo sobre as práticas morais concretas para, em seguida, edificar padrões éticos para o comportamento moral efetivo. Importa ter presente uma diferença fundamental entre Ética e Ideologia: enquanto a Ética tem um carácter predominantemente teorético e especulativo, a
Ideologia assume uma feição fundamentalmente prescritiva e prática, o que a aproxima Da.
Moral.
Há um inter-relacionamento entre a Ideologia e a decisão moral, que desemboca, por vezes, na dissolução do plano moral no plano ideológico, dado que as ideias de Bem e de Mal se perspectivam em função dos interesses e das tendências dominantes.
Os critérios ideológicos consagram regras e fins para a conduta humana, capazes de entorpecer a razão, não só pela força que exercem, mas também pela sedução com que enunciam soluções para os conflitos existenciais, impondo assim a renúncia à reflexão ética: corremos o risco de ver a Ideologia transmutar-se em moralismo.
A conduta moral pressupõe a autonomia da pessoa, que assim manifesta o seu carácter livre e responsável.
A Ética, encarada desde o plano da exigência de autenticidade humana, não pode reduzir-se a um mero quadro das atitudes e comportamentos, no qual a pessoa seja despojada das características que a identificam como pessoa. A reflexão ética não exprime uma preocupação única, de feição paradigmática, em torno das regras orientadoras das diversas modalidades de convivência, dado que a Ética está sempre situada além dos moralismos. Para que a Ética não seja reduzida a um moralismo, tributário do terreno das Ideologias, a pessoa tem que elevar a reflexão acima das estruturas sociais, revê-las criticamente e, em seguida, deve atribui-lhes um fundamento que remete sempre para a compreensão pessoal dos valores.
A tarefa de des-ideologização da Ética terá que ser um processo permanente de refutação racional dos pressupostos em que se enraízam os contextos ideológicos, entendidos como usurpadores coletivos dos objetivos próprios da vida de cada pessoa.
3. Ética e Educação
Objetivos gerais:
“A educação é uma espécie de ação promotora e instauradora de valores”: Diferentes perspectivas da educação moral:
O Modelo de Classificação dos Valores;
O A Educação para o Desenvolvimento Moral
O O Modelo Integrado para a Clarificação dos Valores;
O A Educação nas Virtudes Morais.
A deontologia diz respeito aos deveres, aplicados no estrito exercício de uma profissão; Todos os agentes educativos (professores, pais, educandos, administradores da educação e políticos da educação, comunicação social e agente cultural) devem estar submetidos ao crivo da Deontologia Educacional.
3.1- Relações entre a Moral e a Educação
O ser humano não se cumpre sem Educação. A educação é um processo de mútua formação em grupo. Tanto o educador como o educando, ensinam e aprendem, contribuindo de maneira determinante para uma díade dialética de feição única que possibilita a modificação qualitativa dos seus participantes.
Entendendo a educação como promoção de valores, defende-se que cada ser humano deve ser consciencializado no contexto da Educação, em ordem à planificação da vida total. Se a Educação é o processo de personalização de cada ser humano, cada um de nós é e torna-se pessoa numa situação concreta. Neste sentido, o dever moral não pode separar-se da possibilidade de agir moralmente. A Educação, que não pode deixar de visar à esfera da Moral, tem de considerar o primado do ser do educando, em detrimento do seu ter.
3.1.2- Diferentes perspectivas da Educação Moral
Correntes mais importantes no âmbito da promoção dos valores éticos, na educação escolar dos nossos dias:
 Modelo de clarificação dos Valores
 Educação para o Desenvolvimento Moral
 Modelo Integrado para a Classificação dos Valores
  Educação nas Virtudes Morais
3.1.3- O Modelo de Clarificação dos Valores
É um movimento prático mais preocupado com o como fazer do que com o que fazer.
O educador deve transmitir aos educando as formas de comportamento e de atuação corretos, os comportamentos vigentes, que devem ser assumidos de modo consciente e crítico.
Segundo os defensores deste modelo de Clarificação dos valores:
Cabe aos alunos criar o seu próprio sistema de valores. Qualquer outra posição educativa é moralmente incorrecta;
A educação moral deve evitar metodologias moralistas, devendoadoptar às metodologias que repousam na tomada de consciência dos valores;
O desenvolvimento moral, espontâneo e livre, deve ser estimulado;
O código de valores dos outros (pessoas, sociedades, culturas) deve ser respeitado num clima simultaneamente responsável e tolerante.
O papel do professor consiste em auxiliar os alunos a alcançar posturas axiológicas morais, por meio de um conjunto de técnicas, de entre as quais sobressaem os diálogos, as folhas de valores, as frases inacabadas e as perguntas esclarecedoras, sendo também de considerar o role-playing ou a simulação.
Mas a Classificação de Valores encerra grandes dificuldades: ao nível da realização prática; esta corrente não oferece meios adequados para a solução das questões morais que coloca; ela tem um grau elevado de subjetivismo e de relativismo moral. Pretende-se a neutralidade do educador, mas, isto, deixa o aluno em completa solidão.
3.1.4- A Educação para o Desenvolvimento Moral
O principal autor é Lawrence Kohl Berg. A sua teoria defende uma ação educativa ordenada para o desenvolvimento psicológico adequado. Esta teoria (que se opõe ao Modelo de Clarificação dos Valores) defende que a educação moral é o processo de desenvolvimento do raciocínio moral que os sujeitos conseguem alcançar por meio de discussões sobre dilemas morais, colocados a partir de situações reais, que conduzem à tomada de decisões sobre o que é justo ou moral, no contexto e que vivem. Por outro lado, esta teoria afirma que os estímulos ambientais, para o processo de desenvolvimento moral, são as possibilidades de adopção de papéis que oferece à pessoa, a atmosfera moral do grupo ou a instituição a que pertence, assim como o diálogo moral. L. Kohl Berg defende que o diálogo moral deve ser democrático e participativo. Isto exige uma comunidade justa, i.e., democrática, participativa e solidária quanto aos deveres, direitos e relações, que se estruturam segundo normas de equidade.
As estratégias que se devem congregar são: reconhecimento do estádio em que atua o educando; exposição dos raciocínios morais do seu próprio estádio; exposição, aos educandos, de situações problemáticas que provoquem conflitos morais genuínos e, como tal, inquietação, criação de uma atmosfera de diálogo e intercâmbio na qual os pontos de vista sobre o conflito moral sejam discutidos abertamente.
Os dilemas morais devem apresentar as seguintes características: Devem estar baseados em situações da vida real;
Devem ser tão simples, quanto possível;
Devem conter dois ou mais resultados possíveis, com implicações morais; Devem oferecer propostas de ação.
Críticas ao Modelo de Educação para o Desenvolvimento Moral:
O nível de maturidade do pensamento lógico não encontra frequentemente correspondência ao nível do pensamento moral;
A capacidade para assimilar e desempenhar as diversas funções exigidas também não é congruente com o nível moral.
Muitas das situações diplomáticas de Kohl Berg põem aos alunos situações-limite extremamente difíceis e talvez inapropriadas pedagogicamente, pois são situações simuladas;
As situações existenciais moralmente graves não podem ser simuladas. O essencial da situação escapa à simulação, só está presente na situação real.
3.1.5- Modelo Integrado para a Clarificação dos Valores
O Modelo Integrado para a Clarificação dos Valores (proposto por Ricardo Marin) assenta em quatro momentos: cognoscitivo, afetivo, voluntário e de ação – individual e social.
1.º momento (cognoscitivo) - parte-se do princípio de que tudo o que se quer tem que ser previamente conhecido. As nossas preferências são precedidas por informações que nos chegam através de vários modos (, grupos com que nos relacionamos etc.);
2.º momento (afetivo) – os valores têm que ter uma ressonância pessoal, as coisas “mais valiosas” (ex: a nossa formação) reclamam esforços, sacrifícios e renúncias.
3.º momento (voluntário – volitivo) – importância da decisão livre, dado que a liberdade é a capacidade de decidir por si mesmo.
4.º momento (social) – o ser humano tem um carácter fundamentalmente social. A questão dos valores está também intrinsecamente ligada ao aspecto social.
3.1.6- A Educação nas Virtudes Morais
Esta corrente filia-se em Aristóteles e na filosofia cristã medieval, admitindo a existência de uma lei moral universal inserida na natureza humana. Esta corrente considera que a pessoa pode conhecer a lei moral e deve obedecer-lhe na sua conduta moral efetiva. Dos princípios morais fundamentais insertos na sua consciência deve a pessoa extrair as aplicações adequadas às situações concretas e particulares da vida. O ato de decisão, bem como o de derivação de regras morais fundamentais, é racional e livre.
Para a Educação nas Virtudes Morais, é na pessoa e na sua natureza que se encontram os primeiros princípios morais; é preciso contar com a consciência e o ato prudencial que concretizam as normas morais, que devem regular as ações morais concretas.
Esta corrente rejeita os dilemas morais de Kohl Berg, uma vez que eles são inadequados à psicologia concreta da criança ou do jovem, são eventualmente traumáticos, são simulados e, portanto, falsos. Esta corrente considera que:
É nas situações morais concretas e reais que se deve radicar a atividade educativa moral;
O educando deve ser treinado a derivar dos primeiros princípios morais os princípios subordinados e as regras a aplicar em situações concretas;
Devem ser criadas ou aproveitadas as situações morais concretas em que o educando realize atos morais.
3.2.7- Síntese conclusiva
A Educação Moral tem como objetivo primordial a resposta à questão: que devo, como pessoa, fazer? Isto não visa, por parte do educando, a aquisição de competências específicas numa determinada área do saber, mas pretende a realização efetiva do conjunto de dimensões que constituem o todo que o sujeito em processo de educação é. A escola deve ser livre e promotora da liberdade. Não deverá haver coação ou simulação de valores. A Educação, que é vida, tem necessariamente que ser viva, tanto para nós, quanto para outrem.
A promoção da Moral, em termos educativos, exige a fecundidade da praxiologia dos valores, dado que a educação é a componente essencial dessa praxiologia. A educação, neste sentido, deve ser entendida como educação permanente, ou seja, como a própria vida como processo contínuo de aprendizagem de aperfeiçoamento.
O humanismo integral, que tem como meta a obtenção da felicidade na dignidade.
O homem é o único ser educável. Que se trabalha a si mesmo sobre uma ideia de si mesmo para realizar em si essa ideia.
Não há educação sem valores. A educação é um processo que visa a realização do educando como valor para si mesmo. A sua atividade axiológica começa pelo valor que dá a si mesmo. A educação é valiosa porque é o meio de realizar o homem como valor. Todos os valores que a educação promove são-no dentro do valor englobante que é o que o homem dá a si mesmo.
3.2- Deontologia Educacional
3.2.1- O que é a Deontologia?
3.2.2- Código de direitos e deveres no âmbito concreto de ação profissional
A Deontologia é o conjunto normativo de imposições que deve nortear qualquer atividade profissional, em ordem ao tratamento equânime a todos aqueles que recorrem ao fornecimento de um bem e/ou serviço.
3.2.3- Reflexão crítica sobre o código deontológico
Qualquer desempenho profissional está sujeito, de modo mais ou menos difuso, às influências do meio e, sobretudo, às pressões daqueles que coabitam com o fornecedor do bem e/ou serviço. Objetivos do código deontológico:
Proporcionar aos utentes um tratamento idêntico, assente na diversidade essencial que constitui cada um dos seres humanos que procura a satisfação de uma necessidade por meio da prestação de um bem e/ou serviço;
Fornecer aos profissionais uma pauta e a regulação dos deveres, obrigações práticas e responsabilidades que surgem no exercício de uma profissão.
3.2.4- Reflexão dinâmica sobreo código deontológico
Há a exigência de cada um dos utentes ser tratado como ser inigualável, fim e nunca meio para o funcionário/empregado que se encontra incumbido do atendimento do cliente.
3.2.5- Procedimento moral concreto no âmbito delimitado
No âmbito educativo, o problema da Deontologia profissional reside nas obrigações e responsabilidades que a sociedade outorga a cada educador.
Cada educador outorga a si próprio, e que derivam do poder e dos limites da Educação.
A Deontologia do professor deve estar relacionada consigo próprio, relacionada com os colegas, relacionada com os alunos e relacionada com o contexto social.
3.2.6- O que entender por Deontologia Educacional
3.2.6.1- Deontologia dos educadores
Os educadores têm em mãos uma responsabilidade dupla: aquela que diz respeito ao funcionário, a mais estrita; aquela que concerne ao formador de seres humanos, a mais ampla.
Os direitos e deveres dos professores encontram-se no ECD.
3.2.6.2- Deontologia dos pais e outros agentes educativos
A tem um papel fundamental na educação das crianças / jovens. Contudo, cada vez mais, assiste-se á demissão da família desse seu papel. As mudanças no mundo contemporâneo têm afetado muito as famílias e provocado a sua quase “ausência” na educação dos filhos. Contudo, torna-se imperativo que as famílias reconheçam os seus direitos, mas também os seus deveres e colaborem com os professores na educação. Em relação aos outros agentes educativos (psicólogos, pessoal auxiliar, etc.) torna-se fundamental definir o seu quadro de referências deontológicas, em ordem à interação, retroação e transação de todos aqueles que, profissionalmente, vivem da/para a Educação.
3.2.6.3- Deontologia dos educandos
Os alunos estão situados no centro do processo educativo. Em oposição ao magistrocentrismo que imperou durante séculos, o aluno atual disfruta de muito mais oportunidades do que aqueles que o antecederam. No entanto, assiste-se muitas vezes a situações em que o aluno confunde a liberdade que lhe é dada com a libertinagem que pretende impor aos educadores e demais agentes educativos. Será que o educando dos nossos dias está tão ciente dos seus deveres como o está dos seus direitos?
3.2.6.4- Deontologia dos administradores da educação e dos políticos da educação
A Educação não se restringe ao espaço das salas de aula. Também nela intervêm questões como a planificação da rede escolar, do pessoal previsto, das opções estratégicas relativas às reformas do sistema educativo. O professor, o administrador da escola, o responsável político pela educação agem sobre os alunos para que eles recebam uma boa educação.
3.2.6.5- Comunicação Social e Deontologia Educacional
A missão da comunicação social é tripla: formar, informar e divertir aqueles que a consomem. Hoje, mais do que nunca, vivemos na aldeia global e, por esse motivo, a escola já não é o único fator educativo. Os vários meios de comunicação social (imprensa, cinema, TV, TIC) levam o educando a descobrir, ele próprio por si próprio, o meio, o país, a civilização em que vive.
Atualmente, é toda a sociedade que se quer educada e que pretende ser educada. A linguagem tem de estar adequada ao público a quem se dirige a notícia. Informar não é deformar.
3.2.6.6- Agentes Culturais e Deontologia Educacional
Em sentido lato vivemos na sociedade da cultura. Grande parte das obras a que temos acesso é de divulgação. Contudo, divulgação não é sinónimo de banalização. Ao divulgarmos uma obra temos a obrigação de a conhecermos em profundidade. Em relação a todos os intervenientes no ato educativo importa saber qual é o código do dever fazer, a Deontologia que se lhes aplica.
A sociedade contemporânea caracteriza-se pela generalização a toda a população da educação e ensino. Por esse motivo, as tarefas dos professores tornaram-se mais complexas e diversificadas. Tendo a profissão docente como objetivo a formação humana, ela adquire, por esse mesmo facto, uma incidência ética determinante que se reflete na relação pedagógica com os alunos, com outros intervenientes da comunidade educativa e com a sociedade em geral.
A incidência ética da profissão docente não pode ser inteiramente legislada, pois, na maioria dos casos, depende do juízo único e prudencial do docente em situação, orientado por princípios racionais e universalizastes de justiça e responsabilidade. No entanto, a experiência ética dos docentes pode ir sendo codificada. (Pedro D’Orey da Cunha)
EDUCAÇÃO PARA VALORES: UMA ALTENATIVA PARA A CONVIVÊNCIA HUMANA
Fernanda Broll Carvalho Ahmad
Promotora de Justiça, Especialista em Direito da Criança e do Adolescente
VALORES, ÉTICA E CONVIVÊNCIA HUMANA - O ser humano integral: razão, emoção e valores
Os valores estão na base das ações e norteiam sentimentos e emoções.
	Na polêmica obra intitulada “O Erro de Descartes”, o neurologista português Antônio Damásio, ao contestar a secular afirmação do filósofo Descartes – “Penso, logo existo”-, propõe que os sentimentos e as emoções são uma percepção direta de nossos estados corporais e constituem um elo essencial entre o corpo e a consciência. Utilizando-se de recentes descobertas da neurobiologia, oferecendo uma visão integrada do ser humano, evidencia que a razão tem como companheira inseparável a emoção. [1: ]
	Como Descartes via o ato de pensar como uma atividade separada do corpo, sua afirmação celebra a separação da “mente pensante” do corpo (organismo biológico) “não pensante”. É exatamente aqui que reside o erro do filósofo.
	Assim, o ponto de partida da ciência e da filosofia deve ser anticartesiano: existo (e sinto), logo penso. Existimos e depois pensamos e só pensamos na medida em que existimos, visto o pensamento ser, na verdade, causado por estruturas e operações do ser.
		Ao reconhecer-se a relevância das emoções no processo de raciocínio, não se está relegando a razão para segundo plano. Pelo contrário, ao verificar-se a função alargada das emoções, é possível realçar seus efeitos positivos e reduzir seu potencial negativo, protegendo a razão, durante o processo de planejamento e decisão.
implicações socioculturais advirão ao se admitir que a razão não é pura, impactando, por exemplo, na ética, no direito, na arte, na ciência e na tecnologia. 
	A concepção de organismo humano integral, composto de corpo e mente, esboçada na obra referida, e a relação entre emoção e razão, sugerem que o fortalecimento da racionalidade requer maior atenção à vulnerabilidade do mundo interior.
	Afirma Damásio (1), (1996, p. 278):
Em um nível prático, a função atribuída às emoções na criação da racionalidade tem implicações em algumas das questões com que nossa sociedade se defronta atualmente, entre elas a educação e a violência. Não é este o local para uma abordagem adequada dessas questões, mas devo dizer que os sistemas educativos poderiam ser melhorados se se insistisse na ligação inequívoca entre as emoções atuais e os cenários de resultados futuros, e que a exposição excessiva das crianças à violência na vida real, nos noticiários e na ficção audiovisual desvirtua o valor das emoções na aquisição e desenvolvimento de comportamentos sociais adaptativos. O fato de tanta violência gratuita ser apresentada sem um enquadramento moral só reforça sua ação dessencibilizadora. 
	A contribuição de Damásio (1) apresenta valor inestimável ao concebermos a Educação como o Direito de o ser humano realizar as potencialidades que traz consigo ao nascer, e que precisam ser desenvolvidas ao longo de sua existência, rumo a formação do homem integralmente apto a existir, sentir, raciocinar e ser feliz. 
	A importância comprovada, resultado de pesquisas científicas, das emoções na formação dos seres humanos, alerta para um aspecto essencial: a responsabilidade dos educadores (pais e professores, sobretudo) de colaborar na promoção da educação das emoções e dos sentimentos das crianças. Integrando,ainda, à educação, o aspecto moral, tendo em vista que “valor” é um dos fatores que são relevados quando tomamos uma decisão.
	Os valores humanos existem desde os primórdios da humanidade e são metas de todas as religiões, códigos de ética e filosofias.
Valores constituem o conjunto de qualidades que nos distinguem como seres humanos independentemente de credo, raça, condição social ou religião, estando presentes em todas as filosofias ou crenças religiosas. São inerentes à condição humana e dignificam e ampliam a capacidade de percepção do ser consciente, que tem no pensamento e nos sentimentos sua manifestação palpável e aferível. São qualidades que os homens consideram importantes, como a verdade, retidão, paz, amor e não violência, que unificam e libertam as pessoas do individualismo, enaltecendo a condição humana e dissolvendo preconceitos e diferenças.
	O conceito referido é o comumente encontrado nas obras que tratam do assunto, como por exemplo: Marilu Martinelli e Maria Fernanda Nogueira Mesquita. Ambas propõem a aplicação do novo método de ensino, o Programa de Educação em Valores Humanos – EDUCARE, do educador indiano Sathya Sai Baba.[2: ][3: ]
	Vivencia-se hoje uma época de conflitos de proporções mundiais. Nossa sociedade atravessa um período de turbulência, diante da corrupção, dos jogos de poder, da violência, do desprezo pelo ser humano e pelo meio ambiente. E muitos desses problemas são reflexos de comportamentos sociais que não observaram a importância dos valores e, ao não cultivá-los, propiciaram a formação de adultos sem referenciais de cidadania e de respeito ao próximo. Atribuímos, então, à Polícia, ao Ministério Público, ao Poder Judiciário e a outros órgãos estatais a função de responsabilizarem-se pelo destino das pessoas em conflito com a lei, a fim de que sejam afastadas do convívio social e (re)educadas. Ledo engano.
	Considera-se que a solução dos problemas mencionados passa, necessariamente, por uma revolução na forma de educar nossas crianças.
	Atualmente, as crianças e adolescentes estudam visando à realização profissional e preocupam-se em serem os melhores. Mas não estudam amor ao próximo, solidariedade, respeito à diversidade, cooperação, lealdade e ética, tampouco aprendem princípios e valores sólidos que os conduzam à felicidade.
Assistimos diariamente nos meios de comunicação histórias de pais que espancam filhos, filhos que matam pais, jovens que matam mendigos. O homem vai à Lua e à Marte, mas não consegue controlar seu mundo interior. Do ponto de vista intelectual, redige e realiza operações matemáticas com brilhantismo, mas está engatinhando do ponto de vista das emoções. Daniell Golleman, citado por Pires, lembra que o Quociente Emocional Deficiente impede o desenvolvimento pleno do ser, mesmo que o intelectual seja altíssimo.[4: PIRES, Heloisa. Educar para ser feliz. São Paulo: Camille Flamarion, 2002. ]
	A educação fragmentada a que nos submetemos propiciou uma desestruturação do ser humano que, muitas vezes, reflete-se na violência, presente em todas as camadas sociais, evidenciando a nossa crise de valores.
	A violência espreita-nos nas escolas, nas ruas, no trânsito, nos locais de lazer e no lar. Em todos os segmentos sociais, raciais ou religiosos constatamos casos de intolerância, indiferença e absoluta transgressão de princípios éticos e morais, evidenciando que nossos jovens estão desnorteados, sem parâmetros claros de certo e errado, sem limites e responsabilidades, sem projeto de vida.
	Pelo descaso com a educação estamos pagando um alto preço. É mais simples culparmos o estresse da vida quotidiana, a influência negativa dos meios de comunicação de massa, o excesso de informação, as más companhias, as drogas, a desigualdade social. Realmente, esses aspectos contribuem para o quadro atual. Contudo, consoante Mesquita (3), a essência da questão é mais profunda: por que nossos jovens estão infelizes e buscam auto-realização nos extremos, no perigo, no comportamento desregrado, egoísta e indiferente? É difícil para eles evitar isso e, como adultos, não estamos contribuindo adequadamente na formação de seu caráter.
	A análise da violência infantil, juvenil e familiar é indissociável da verificação da formação recebida, dos valores recebidos na educação.
	Com o advento da Constituição Federal de 1988 e dos diplomas legais complementares, o Direito à Educação foi o direito social que recebeu a regulamentação mais explícita, contundente, completa e clara, por parte do legislador constituinte e ordinário. Consoante Konzen, (2000, p. 660): [5: KONZEN, Afonso Armando. O Direito à Educação Escolar. Pela Justiça na Educação. Coordenação geral Afonso Armando Konzen. Brasília: MEC, FUNDESCOLA, 2000. ]
Afirmado como o primeiro e o mais importante de todos os direitos sociais, fez-se compreender a Educação como valor de cidadania e de dignidade da pessoa humana, itens essenciais ao Estado Democrático de Direito e condição para a realização dos ideais da República de construir uma sociedade livre, justa e solidária, nacionalmente desenvolvida, com a erradicação da pobreza, da marginalização e das desigualdades sociais e regionais e livres de quaisquer forma de discriminação (artigo 3 º da Constituição Federal), imaginário de Nação inscrito na Carta Magna Brasileira.
		O artigo 1º da Lei nº. 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação), preceitua que “a educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais”. 
		Ao abordar-se os temas da educação familiar e escolar, indispensável lembrar os avanços legais introduzidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente nessa questão, especialmente ao reconhecer o público infanto-juvenil como sujeito de direitos em condição peculiar de desenvolvimento e, por essa razão, contemplado pelos princípios da proteção integral e da prioridade absoluta. Focando como destinatários da lei a família, a comunidade, a sociedade e o poder público.
	Assim, é chegado o momento de a família ocupar seu espaço na educação integral de suas crianças, aliando-se aos professores na proposta educativa de contribuir para a formação do caráter. Pois somente dessa forma, estar-se-á assegurando à infância e à juventude brasileira o direito à educação na amplitude proposta pela legislação. 
	Nesse intento, imperiosa a responsabilização dos pais e professores, unidos na tarefa de educar, na transmissão de valores às crianças, pelo exemplo, e com afetividade, amando-as, respeitando-as e disciplinando-as. Segundo Pires (4), (2002, p. 25) “é preciso educarmos nossas crianças na compreensão da importância de unirmos nossos esforços na construção de um mundo melhor, no qual as diferenças sejam resultados da capacidade e nunca da falta de oportunidades”. 
	O indivíduo não amado, ou mal amado, ou educado sem amor, ou através de um amor egoísta, deseducador, que estimula o egoísmo, contribui para a formação da sociedade que criamos, na qual a violência, a indiferença, a intolerância e o individualismo impedem o homem de ser feliz.
	Para enfrentarmos a atual crise de valores devemos nos empenhar na construção de um novo paradigma no qual a nossa felicidade é proporcional à felicidade que asseguramos aos outros, sendo que a solidariedade gera laços de confiança entre as pessoas, contribuindo para uma cultura ética e de não violência.
	A problemática escolhida como objeto de estudo derivou da observação das dificuldades enfrentadas pela sociedade atual diante de dois grandes desafios: quais seriam as funções da educação familiar e escolar da atualidade, com ênfase à atribuição de promover a educação para valores, e como lidar com a violência escolar.
	Ao selecionar as percepções dos alunos, responsáveis e educadores, visando a identificar e caracterizar as múltiplas formas de violência escolar, bem comoobservar as relações entre a violência e as questões ético-valorativas, este estudo busca entrelaçar narrativas e olhares, descrevendo o estado do conhecimento, o percebido, o expresso e o silenciado, alertando sobre os riscos da banalização da violência.
ÉTICA E MORAL NO AMBIENTE ESCOLAR
Tanto a ética quanto a moral são assuntos que devem ser trabalhados no ambiente escolar com o intuito de nortear o comportamento dos indivíduos na sociedade em que vivem. Por ser a escola a verdadeira formadora de cidadãos, cabe-lhe a tarefa de orientar o comportamento ético e moralista dos seus educandos. A partir do momento em que o indivíduo não adulterar documentos ou produtos para obter vantagens, tratar as pessoas com respeito, não falar palavrões etc., estaria cumprindo com as normas da ética e da moral adquiridas na instituição educacional.
Os temas “ética e moral” são normas que necessariamente deveriam estar inclusas nos Projetos Políticos – Pedagógicos (PPPs) e nos Regimentos Escolares (RE) para que fossem disciplinados ao longo dos estudos, sentenciando assim, o fim das desigualdades sociais. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), a questão central da moral e da ética é desenvolver uma visão crítica nos educandos, de como proceder diante dos outros.
O cumprimento da ética torna-se, às vezes, complexo diante de um dilema. Por exemplo: Dever-se-ia roubar ou não um remédio, cujo preço é inacessível, mas precisar-se-ia salvar alguém, e que, sem ele, morreria? Quem deveria ser privilegiado, a vida ou a propriedade privada? Esses desafios deveriam ser apresentados aos alunos para discussões a respeito do cumprimento ético no contexto histórico social. “Uma escola ética é aquela que orienta os seus educandos a se comportarem com honestidade, retidão e responsabilidade para a efetivação dos princípios morais na sociedade em que eles encontram-se inseridos.” (Grifo nosso)
Admite-se que a ética esteja consagrada no bojo da família, da escola e da comunidade por ser a base de uma sociedade mais justa e igualitária e que, portanto, carece de um olhar humano mais aprofundado, pois ela é uma forma racional humana de viver em harmonia com outros humanos.
Nossos educandos devem ter em mente a importância do caráter democrático da sociedade, levando em consideração a promoção da liberdade, do respeito e da tolerância para vivenciar a diversidade que lhes rodeia. Nesse contexto, cabe a escola orientar e viabilizar meios que possam, de fato, tomar parte nessa construção e tornarem-se livres para pensarem e tomarem decisões.
A reflexão ética traz à luz a discussão sobre a liberdade de escolha. A ética interroga sobre a legitimidade de práticas e valores consagrados pela tradição e pelo costume. Abrange tanto a crítica das relações entre os grupos, dos grupos nas instituições e perante elas, quanto a dimensão das ações pessoais.” (PCNs, p. 29-30. 2001)
Todavia, a ética norteia os princípios morais e os valores necessários aos indivíduos em suas ações com outros membros da sociedade da qual fazem parte. Com base nos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs, uma reflexão realizada pela ética refletirá na transformação da moral. Não se poderia fazer cidadania se fosse deixado de lado a ética, e o lócus propício para o seu aprendizado e o seu exercício, é a escola. Cabe a escola trabalhá-la  no seu âmbito, ensinando e exigindo a sua prática, propiciando assim um resultado qualitativo.
A reprodução de valores impostos pela sociedade está sempre sendo feita com as orientações do que é certo ou errado. Atualmente, é comum assistir-se a noticiários de comportamentos reprováveis pela sociedade. E aí pergunta-se: Será que ainda existe uma sociedade que valoriza a ética e a moralidade? Quais expectativas se têm das futuras gerações?
3. A ÉTICA NO AMBIENTE PROFISSIONAL
Na área profissional, a ética tem o objetivo de formar uma consciência livre e conduta compatível com os preceitos estatutários. Algumas qualidades como honestidade, competência, perseverança, prudência, respeito, imparcialidade entre outras, são virtudes essenciais para a eficiência do trabalho profissional. É preciso que se tenha a responsabilidade individual para a realização de certas tarefas. As vezes, seria melhor o recusamento e a justificativa da inviabilidade de um trabalho que não pudesse ser executado, do que uma vez aceito, deixasse-o à desejar.
A ética exige a honestidade para o zelo da prática do respeito e consideração ao direito do outro. O indivíduo comprometido com a ética não se deixa corromper, em nenhuma circunstância, mesmo que conviva com problemas ao extremo. Na área profissional, a prudência é imprescindível para que o sujeito analise as situações, minuciosamente, e com maior profundidade evitando, assim, atropelamentos e julgamentos conflituosos ou equivocados.
Contudo, praticar a ética é, ao mesmo tempo, praticar a imparcialidade e a justiça, pois a primeira assume as qualidades e cumprimento dos deveres e a segunda depende, essencialmente, da primeira. A ética é o pivô que dá sustentação e equilíbrio às tarefas profissionais no dia a dia e que, portanto, deveria estar presente em todos os setores da sociedade. Para ser ético, o profissionalismo exige a tomada de consciência dos atos, o cumprimento das normas e o respeito mútuo.
Admite-se que a ética apresenta grande influência na vida profissional de qualquer indivíduo, em meio a sociedade na qual ele opera a sua profissão. A ética é um resquício do que se aprende na família, responsável pela construção dos alicerces e definição de virtudes e caráteres do homem, ensinando como se comportar diante da sociedade. A liberdade do homem garante ações dentro dos limites exigidos pela ética e parte do respeito aos direitos dos outros.
Um profissional que não cultiva a ética, perde a confiança e a credibilidade no espaço social em que desenvolve as suas atividades. Portanto, deixa de ser um mero e autêntico profissional para ser um suicida da profissão, contribuindo para o descrédito irreversível. (Grifo nosso)
A família é o lócus da convivência da criança e, portanto, o espaço legítimo da apregoação da ética que, posteriormente, se ampliará, em outras instituições sociais com a veiculação de valores. A ética do indivíduo depende muito da relação social mantida com os demais dentro da sociedade que ele pertence. Trabalhá-la nas instituições educacionais faz parte do currículo, apesar de apresentar vários choques de valores e modos de comportamentos compartilhado por cada estudante.
Já faz parte do nosso vocabulário falar de ética profissional ou de sua ausência em meio a sociedade. Os seus benefícios são imensuráveis ao equilíbrio da harmonia entre os profissionais. Segundo Mário Cortella, a ética é um conjunto de valores e princípios que usamos para responder a três grandes questões da vida: quero? devo? posso? Pois nem tudo que eu quero eu posso; nem tudo que eu posso eu devo; e nem tudo que eu devo eu quero. Você tem paz de espírito quando aquilo que você quer é ao mesmo tempo o que você pode e o que você deve.
Quando um profissional (dentista) recebe um paciente e esse pede para extrair um dente que vem lhe tirando noites de sono e, após diagnosticar o problema, o dentista resolve recuperá-lo, ao invés de removê-lo, estaria honrando com a sua ética profissional. Esse é o sentido da ética na cidadania e o respeito ao outro na mesma sociedade. O conhecimento sem ética não faz sentido e tampouco efeito social.
Todo profissional, ao concluir a sua formação, faz um juramento de honradez a sua profissão, que sinaliza a sua adesão, o seu comprometimento e a sua responsabilidade com a categoria. E ao cumprir com esse juramento o profissional estaria efetivando os seus princípios éticos dentro de sua área.
Enfim, o profissional ético é aquele que procura oferecer o melhor dos seus conhecimentos, como o médico que se preocupa com as suturas internas antes de realizar as externas, o professor que se preocupa com estratégias que propiciem ao aluno a pensar e resolverdesafios, o engenheiro que demonstra certa preocupação com o melhor material para a construção da passarela, além de outras ações que objetivam a consumação de um trabalho seguro e de credibilidade. De modo que a ética efetiva ações e consolida metas que podem comprometer ou favorecer o sucesso desses profissionais.
O indivíduo ético procura sair de sua zona de conforto em busca das inovações e dos conhecimentos científicos, principalmente, de sua área, com o intuito de poder oferecer o melhor para sua clientela. Segue os princípios normativos e as regras estatutárias com competência, respeito, tolerância, flexibilidade e boas maneiras pois, as negligências observadas, atualmente, são frutos da passividade, do desconhecimento e da falta de compromisso.
De forma que a ética passa a ser algo indispensável na vida profissional do homem, tendo em vista a sua contribuição no processo de humanização e norteamento de conduta e de valores. São esses valores que, uma vez relacionados aos interesses do indivíduo, movem seus atos positivamente. É imprescindível, portanto, que todos os profissionais das mais diversas áreas, questionem o sentido de suas ações em suas práticas de trabalho.
4. ÉTICA E CIDADANIA
Entende-se que a ética dedica-se aos estudos dos valores morais e os princípios do comportamento humano perante a sociedade, garantindo o bem – estar social do cidadão. Não poderia haver cidadania se a ética deixasse de ser cumprida. O cidadão ético é aquele que sabe buscar os seus direitos e os seus benefícios sociais em conformidade da lei.
A ética deve ser compreendida como crítica reflexiva e responsável pela conduta humana em todos os setores sociais. Ela é histórica e construída socialmente, tendo como base referencial as relações humanas coletivas. Segundo SOUZA,
A ética situa-se no campo dos princípios morais e dos valores que orientam os homens em suas ações, tomando como referência outros indivíduos de determinada sociedade. Sendo um produto histórico social, a ética ilumina a consciência humana à medida que “[… sustenta e dirige as ações do homem, norteando a conduta individual e social […] e define o que é a virtude, o bem ou o mal, o certo ou o errado, permitindo ou proibindo, para cada cultura e sociedade.” (SOUZA, 1995, p. 187)
É percebível que a ética procura equilibrar a conduta do cidadão, do profissional e, principalmente, do político, suscitando nesses indivíduos uma profunda reflexão, incitando-os ao cumprimento da responsabilidade e a realização de previsões das supostas consequências resultantes de suas decisões. No mundo globalizado e nos países capitalistas onde há a ganância desenfreada e o imensurável egocentrismo, cresce, substancialmente, a necessidade das instituições educacionais contribuírem com a formação integral dos indivíduos e, portanto, com o favorecimento da construção da ética dos sujeitos.
Considera-se que além da família, a escola é o espaço extremamente propício para a formação ética do cidadão, tendo em vista, que ela participa da formação dos seus educandos, explicitando regras e valores através dos professores, do material didático pedagógico, do comportamento e da hibridização de costumes e saberes dos alunos. A ética é, pois, um objeto de reflexão que contribui com o convívio da pluralidade em todos os setores públicos, inclusive nas instituições educacionais, principais formadoras da cidadania.
Na medida em que os anos passam, no mundo globalizado, nos países capitalistas e das tecnologias de ponta, observa-se, com frequência, o rompimento das ações e o atropelamento à dignidade humana sem nenhum receio ao descumprimento da ética. No entanto, para que a dignidade seja imposta e a cidadania efetivada, faz-se necessário que a ética seja buscada, uma vez que ela exige a apregoação do respeito mútuo, da justiça, da solidariedade e do diálogo. A dimensão da ética favorece a plena formação e construção do sujeito cidadão permitindo-lhe compreender a sua importância como membro social.
O cidadão que exerce sua ética, preserva a estreita relação humanizadora em seus diferentes contextos – econômico, político, social, educacional etc., além de assumir o caráter da cidadania coletiva. Viabilizar a educação ética é, ao mesmo tempo, proporcionar aos educandos o combate ao preconceito e a discriminação de vária naturezas, valorizando o diálogo com os presentes em seu meio social.
A ética de um indivíduo é sempre observada e admirada pela sociedade a que ele pertence pois, ele procura fundamentar as suas ações morais de acordo a razão. Contudo, em meio a essa gama de influências, atitudes e comportamentos negativos e corrompedores vivenciados no ambiente hodierno, a ética deve apresentar-se bastante consistente para não se desnortear.
Para refletir: Será que poderia criticar-se os outros, uma vez que não age-se com os princípios éticos ou morais? Segundo o juiz federal Sérgio Moro, “quando se tem a oportunidade de furtar… não se perde a oportunidade. Como base nos problemas da Lava Jato ele assegura que os políticos de hoje foram oportunistas no passado e se não for mudada a estrutura de valores de nossa sociedade com a busca da ética e da moral como pilares do comportamento, nunca seremos um povo realmente honesto e justo.”
A partir do momento em que se chega a uma fila e que procura-se atendimento antecipado, sem nenhuma justificativa de prioridade, “jeitinho brasileiro”, estaria, de certa forma, descumprindo com o dever social e ao mesmo tempo asfixiando a norma ética. Da mesma sorte, quando recebe-se um troco com erro de superávit e não preocupa-se com a sua devolução, uma vez que o princípio ético exige que não se deve pegar ou usufruir aquilo que não lhe pertence, aconteceu a burlação da eticidade.  Semelhante as quebras de regras de uma instituição, que deveriam ser discutidas apenas no lócus ou o apunhalamento a terceiros quando esses não se fazem presentes pra se defenderem.
Contudo, está nitidamente percebível que a ética é algo que se constrói ao longo da vida. Certas normas que, anteriormente, eram exigidas, atualmente passaram a ser cumpridas pelo reconhecimento de sua importância, como o exemplo do professor Cortella: quando o uso do cinto de segurança passou a ser de obrigatoriedade, alguns motoristas, para atropelar a lei, usavam camisas do Vasco, por apresentarem uma tarja preta e coincidir com o cinto, para confundir os agentes de trânsito. Hoje ao entrar no veículo, a primeira coisa que se faz é colocá-lo sem, no entanto, se precaver de multa mas da própria segurança. Portanto, conclui-se que a ética vai se construindo a partir da conscientização no dia a dia.
5. A ÉTICA E A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO
Quando se fala de ética, refere-se a questão exclusivamente humana por que ela pressupõe, escolha e decisão. Ética tem a ver com liberdade, liberdade reflexiva e responsável. Ao tomar uma decisão, o indivíduo deve usar do conhecimento que possui porque o conhecimento tem a ver com a ética. Agir sem pensar nas consequências, é agir com máscaras cínicas e nessa hora o perigo se avizinha.
O indivíduo que tem a ousadia de buscar vantagens sobre o prejuízo de terceiros, aniquila os seus conhecimentos e burla a sua ética pessoal. É preciso que se tenha o cuidado para o zelo da integridade, mantendo-se inteiro, transparente e verdadeiro. Zelar pela ética é, ao mesmo tempo, zelar pela morada do humano pois ela oferece abrigo, garante identidade e sustenta a verdadeira marca do ser social.
Sendo a ética a habitação humana, questiona-se: Como encontra-se essa morada? Abriga ou desabriga? Inclui ou exclui? O vínculo da ética à produção do conhecimento relaciona-se a capacidade de descartar a ideia de desigualdade dentro da mesma sociedade. A percepção e a reflexão são os melhores exercícios da ética. François já dizia: “Conheço muitos que não puderam, quando deviam, porque não quiseram, quando podiam.”
Para que haja desenvolvimento educacional, para que se construa o autêntico conhecimento e para que se efetive o caráter do indivíduo em meio as pressões

Outros materiais