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Prévia do material em texto

Gramática histórica da 
língua inglesa
Organizador
Thomas Daniel Finbow
Doutorado (D.Phil.) e Mestrado (M.Phil.) em Filologia Comparativa e 
Linguística Geral pela Universidade de Oxford
Professor Doutor de Linguística Histórica
Departamento de Linguística (FFLCH) na Universidade de São Paulo
Book 1.indb 1 17/11/16 19:14
© 2017 by Pearson Education do Brasil
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá 
ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro 
meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer 
outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem 
prévia autorização, por escrito, da Pearson Education do Brasil.
Diretora de produtos: Gabriela Diuana
Supervisora de produção editorial: Silvana Afonso
Coordenador de produtos: Vinícius Souza
Editor: Casa de Ideias
Redação: Julia Coachman e Thomas Daniel Finbow
Projeto gráfico e diagramação: Casa de Ideias
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Nononononononono-- São Paulo : Pearson Education do Brasil, 2016.
ISBN 978-85-xxx-xxx-x
1. Nonono
 CDD-000.0
00-00000 -000.00
Índice para catálogo sistemático:
1. Nononononononon 0000000
2016
Direitos exclusivos para a língua portuguesa cedidos à
Pearson Education do Brasil Ltda.,
uma empresa do grupo Pearson Education
Avenida Santa Marina, 1193
CEP 05036-001 – São Paulo – SP – Brasil
Fone: 11 3821-3542
universidades.atendimento@pearson.com
Book 1.indb 2 17/11/16 19:14
sumário
Apresentação ..........................................................................................VII
Prefácio ....................................................................................................... IX
Unidade 1 Inglês antigo .......................................................................1
Linguística histórica ..................................................................................3
Famílias linguísticas ................................................................................3
Método de reconstrução comparada ..............................................7
A família indo-europeia ..................................................................... 21
A família germânica ............................................................................. 26
Mudança linguística ............................................................................... 29
História interna versus história externa ........................................ 29
Mudança fônica..................................................................................... 30
Mudança gramatical ............................................................................ 31
O inglês antigo ......................................................................................... 34
História externa: as migrações germânicas à Grã -Bretanha .... 34
História interna: a estrutura do inglês antigo ............................ 37
Os dialetos anglo-saxões ................................................................... 45
Inglês antigo em contato com outras línguas ............................ 50
História externa: os reinos anglo-saxões ..................................... 50
Contato com as línguas celtas ......................................................... 52
Contato com o latim ............................................................................ 53
Contato com o norreno ...................................................................... 54
História externa: os séculos IX e X .................................................. 56
Fontes textuais ......................................................................................... 59
Beowulf ..................................................................................................... 59
The Dream of the Rood ......................................................................... 60
The Anglo-Saxon Chronicle ................................................................. 60
Beda, Historia Ecclesiastica Gentis Anglorum ................................ 61
Unidade 2 O inglês médio ................................................................ 67
História externa da Inglaterra medieval ....................................... 71
A conquista normanda e o século XII ............................................ 71
O século XIII: o império angevino ................................................... 78
O século XIV: a Guerra dos Cem Anos e a Peste Negra ........... 83
O século XV e a Guerra das Rosas ................................................... 98
Book 1.indb 3 17/11/16 19:14
IV
Influências estrangeiras .....................................................................100
Contato com o francês normando e o francês de Paris ........100
Contato com outras línguas ...........................................................108
História interna: mudanças estruturais .......................................109
Fonologia...............................................................................................109
Morfologia e sintaxe ..........................................................................115
Diversidade dialetal .............................................................................120
Os dialetos medievais do inglês e do escocês .........................122
Literatura medieval ..............................................................................130
Peterborough Chronicle ..................................................................131
Sir Gawain and the Green Knight .................................................... 133
Geoffrey Chaucer ................................................................................135
The Paston letters ................................................................................. 137
Unidade 3 O inglês pré-moderno ................................................147
História externa: a Renascença, a Reforma, a Guerra Civil 
Inglesa, a Restauração da monarquia e a “Revolução 
Gloriosa” ...............................................................................................151
Henry VII .................................................................................................153
Henry VIII ...............................................................................................156
Edward VI ...............................................................................................161
Mary I ......................................................................................................163
Elizabeth I ..............................................................................................164
James I ....................................................................................................168
Charles I ..................................................................................................170
Charles II ................................................................................................176
James II ...................................................................................................177
História interna: mudanças estruturais .......................................178
Fonologia...............................................................................................178
Morfossintaxe ......................................................................................191
Léxico ......................................................................................................207
Ortografia, gramáticas e dicionários ............................................217
Ortografia ..............................................................................................217
Gramáticas e dicionários .................................................................221Textos pré-modernos ..........................................................................227
Poesia e teatro elizabetanos ...........................................................228
Shakespeare e a Bíblia King James ...............................................238
Ben Jonson e os poetas metafísicos ............................................243
John Milton e John Bunyan ............................................................246
Daniel Defoe e Jonathon Swift ......................................................252
Unidade 4 O inglês moderno ........................................................269
Variação e mudança na América do Norte .................................274
Gramática histórica da língua inglesa
Book 1.indb 4 17/11/16 19:14
Sumário V
A constituição do inglês americano ............................................274
Inglês no Canadá ................................................................................278
Diferenças entre o inglês americano e o inglês britânico ...280
Variação global ......................................................................................285
Inglês no Caribe ..................................................................................285
Inglês na África ....................................................................................290
Inglês na Ásia .......................................................................................298
Austrália e Nova Zelândia ................................................................301
Variação nas ilhas britânicas e na Irlanda ..................................305
Inglaterra ...............................................................................................305
Escócia ....................................................................................................310
País de Gales .........................................................................................313
Irlanda .....................................................................................................315
Referências .............................................................................................323
Book 1.indb 5 17/11/16 19:14
Book 1.indb 6 17/11/16 19:14
apresentação
Nos catálogos de livros universitários há vários títulos cuja pri-
meira edição saiu há 40, 50 anos, ou mais. São livros que, graças à 
identificação da edição na capa (e somente a ela), têm sua idade re-
velada. E, ao contrário do que muitos podem imaginar, isso não é um 
problema. Pelo contrário, são obras conhecidas, adotadas em diversas 
instituições de ensino, usadas por estudantes dos mais diferentes per-
fis e reverenciadas pelo que representam para o ensino. 
Qual o segredo de sucesso desses livros? O que eles têm de 
diferente de vários outros que, embora tenham tido boa aceita-
ção em um primeiro momento, não foram tão longe? Em poucas 
palavras, esses livros se adaptaram às novas realidades ao longo 
do tempo, entendendo as mudanças pelas quais a sociedade – e, 
consequentemente, as pessoas – passava e as novas necessidades 
que se apresentavam.
Para que isso fique mais claro, vamos pensar no seguinte: a 
maneira como as pessoas aprendiam matemática na década de 
1990 é igual ao modo como elas aprendem hoje? Embora os ali-
cerces da disciplina permaneçam os mesmos, a resposta é: não! 
Nesse intervalo de tempo, ocorreram mudanças significativas – a 
Internet se consolidou, os celulares se popularizaram, as redes so-
ciais surgiram etc. E todas essas mudanças repercutiram no modo 
de vida das pessoas, que se tornou mais rápido e desafiador, trans-
formando os fundamentos do processo de ensino/aprendizagem. 
Foi com base nisso que nasceu a Bibliografia Universitária 
Pear son (BUP). Concisos sem serem rasos e simples sem serem 
simplistas, os livros que compõem esta série são baseados na 
premissa de que, para atender sob medida às necessidades tan-
to dos alunos de graduação como das instituições de ensino – 
independente mente de eles estarem envolvidos com ensino presen-
cial ou a distância –, é preciso um processo amplo e flexível de 
construção do saber, que leve em conta a realidade em que vivemos. 
Assim, as obras apresentam de maneira clara os principais 
conceitos dos temas propostos, trazendo exatamente aquilo que 
o estudante precisa saber, complementado com aprofundamentos 
Book 1.indb 7 17/11/16 19:14
VIII
e discussões para reflexão. Além disso, possuem uma estrutura didática que propõe uma 
dinâmica única, a qual convida o leitor a levar para seu dia a dia os aspectos teóricos apre-
sentados. Veja como isso funciona na prática: 
A seção “Panorama” aprofunda os tópicos abordados ao mostrar como eles funcionam 
na prática, promovendo interessantes reflexões.
Inglês antigo 57
Os avanços vikings e a ascensão do reino de Wessex
As invasões dos vikings, principalmente do grande exército 
dinamarquês, desestruturaram a geografi a social e política da Grã-
-Bretanha e da Irlanda. No entanto, em 878, a famosa vitória do 
rei Alfredo sobre os vikings, em Edington, freou a investida di-
namarquesa. Porém, a Nortúmbria já se tornara um reino viking, 
enquanto a Mércia foi partida ao meio e a Ânglia Oriental já não 
mais era um território político anglo-saxão. Os reinos pictos, es-
coceses (imigrantes do norte da Irlanda que fundaram um reino na 
costa sudoeste da futura Escócia – em latim, os irlandeses eram 
chamados Scotti) e galeses também foram abalados pelos ataques 
vikings, que certamente também contribuíram para a constituição 
do Reino de Alba, que mais tarde formaria a Escócia.
Rio Tees
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Rio Thames
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0º
55º N
OCEANO
ATLÂNTICO
Mar
do
Norte
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Irlanda
Canal 
da Manc
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York
Carlisle
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Ilha de Man
Ilha de Wight
W E S S E X
ÂNGLIA
ORIENTAL
MÉRCIA
INGLESA
Cambridge
Lincoln Fronteira inglesa, 917
Fronteira inglesa, 920
English Frontier, 927
Cedido à Escócia c. 975
Thetford
Bedford
London
Cricklade
Buckingham
Gloucester
Tamworth
Chester
Manchester
Dublin
Thelwall
Eddisburg
Runcorn
Stafford
Davenport
Bakewell
Bath
Malmesbury
Wallingfdord
Winchester
Porchester
WarehamExeterLydford
Southhampton
Chichester
Canterbury
Hastings
Maldon
Hertford
Bamburgh
STRATHCLYDE
NORTH
U
M
B
R
IA
LOTHIAN
TERRA DOS
CINCO BURGOS
REINO
DE YORK
Assentamento norueguês
Assentamento dinamarquês
Fronteira do reino de
Guthrum
Figura 1.10 Divisão da Inglaterra no século X.
Fonte: adaptada de Blair (1984, p. 89).
Ao longo do livro, o leitor se depara com 
vários hipertextos. Classificados como “Saiba 
mais”, “Exem plo”, “Fique atento” e “Link”, 
esses hipertextos permitem ao aluno ir além em 
suas pesquisas, oferecendo-lhe amplas possibi-
lidades de aprofundamento. 
A linguagem dialógica aproxima o es-
tudante dos temas abordados, eliminando 
qualquer obstáculo para seu entendimento 
e incentivando o estudo.
A diagramação contribui para que o estu-
dante registre ideias e faça anotações, intera-
gindo com o conteúdo.
Todas essas características deixam claro 
que os livros da Bibliografia Universitária 
Pearson constituem um importante aliado 
para estudantes conectados e professores ob-
jetivos – ou seja, para o mundo de hoje – e 
certamente serão lembrados (e usados) por 
muito tempo.
Boa leitura!
Inglês antigo 63
Diferenças entre linguagem, línguas e dialetos
Em português, há distinção entre linguagem, lín-
guas e dialetos. Possivelmente você já deve ter ouvi-
do falar sobre os três termos, não é mesmo? São três 
palavras distintas que cumprem uma mesma fi na-
lidade: promover a comunicação entre os falantes.Contudo, embora linguagem, língua, idioma e dia-
leto sejam termos corriqueiros, os sociolinguistas, 
aqueles que estudam a relação entre a língua e 
a sociedade, tendem a evitá-los, já que, especial-
mente linguagem, língua e dialeto, pressupõem 
algumas relações hierárquicas que carecem de 
bons fundamentos científi cos, e seu uso quotidia-
no pode causar mal-entendidos. 
Linguagem
Para os linguistas, a linguagem é a faculdade ge-
nérica e inata que todo ser humano possui para 
aprender alguma língua ou algumas línguas nati-
vamente. Tal capacidade é específi ca à nossa espé-
cie, uma herança genética que possibilita qualquer 
criança a adquirir qualquer língua natural apenas 
por exposição a pessoas falando-a, sem nenhuma 
instrução formal. Por mais que um fi lhote de gato, 
cachorro ou papagaio conviva com seres huma-
nos, embora possa aprender a reconhecer diversas 
palavras e expressões (e até enunciar algumas, no 
caso do papagaio), ele nunca aprenderá a dominar 
a língua dos donos da mesma maneira que uma 
criança se tornar um falante nativo, capaz de pro-
duzir sentenças inteiramente originais, nunca an-
tes ouvidas, e de interpretá-las.
Língua 
Uma língua é uma manifestação da Linguagem. Não 
podemos acessar a Linguagem, nossa capacidade 
linguística geral, de forma direta, pois ela sempre é 
veiculada em alguma língua específi ca, adquirida 
pelos indivíduos no processo de aquisição da língua 
materna. A língua é, sobretudo, um instrumento re-
lacional que estrutura o sistema de comunicação 
de algum grupo e possibilita a formação de signos 
linguísticos (morfemas, palavras, frases e sentenças), 
e permite a transmissão de mensagens entre indiví-
duos (codifi cação e descodifi cação de signifi cado), 
que é a sua maior fi nalidade. Ou seja, uma língua é 
um “princípio estruturador” ou, em outras palavras, 
é uma certa organização de conceitos, do sistema 
sonoro e dos elementos gramaticais que é com-
partilhada pelos membros de determinado grupo 
social por terem-na aprendido. Os falantes de uma 
língua servem-se dela para estabelecer interações 
com a sociedade em que vivem.
Quando dizemos que a língua é um instrumento 
do povo, dizemos que, embora existam normas 
gramaticais, de signifi cado e de pronúncia (as 
normas reais reveladas nas práticas linguísticas 
cotidianas da comunidade de falantes nativos, 
não as normas prescritivas da gramática tradi-
cional), cada falante desenvolve uma forma de 
expressão própria, originando aquilo que cha-
mamos de fala. No entanto, qualquer fala, em-
bora possa ser individual, distintiva e criativa, é 
regida sempre por regras maiores e mais gerais 
(as normas da língua). Caso contrário, cada um 
de nós acabaria criando sua própria língua, o 
que impossibilitaria a comunicação, porque nin-
guém compartilharia as normas para decifrar as 
mensagens transmitidas. Na fala encontramos 
muitas variações linguísticas, que jamais devem 
ser vistas como transgressões, mas como prova 
de que a língua é viva e dinâmica, a não ser que as 
variantes consideradas “erradas” ocorram na boca 
Panorama
2
Temas
 1 – Linguística histórica
Neste tema, conheceremos o conceito de família linguística, as 
aplicações da reconstrução comparada e as mudanças sonoras 
que ocorreram na família indo-europeia. Exploraremos tam-
bém as línguas germânicas, aprendendo quais são suas raízes 
e classifi cações.
 2 – Mudança linguística
No segundo tema, aprenderemos as diferenças entre história 
interna e história externa, conhecendo os aspectos sonoros 
das línguas e as principais alterações linguísticas em relação a 
morfologia, sintaxe, léxico e semântica.
 3 – O inglês antigo
Em seguida, estudaremos a história externa da estruturação do 
inglês, avaliando o contexto histórico das migrações germâni-
cas na Grã-Bretanha. Analisaremos também os principais diale-
tos anglo-saxões: Northumbrian, West Saxon, Mercian e Kentish.
 4 – Inglês antigo em contato com outras línguas
Aprenderemos, neste tema, o que foi a heptarquia, relacionan-
do os aspectos particulares de cada um dos sete grande reinos 
anglo-saxões: Sussex, Kent, Wessex, East Anglia, Essex, Mercia e 
Northumbria.
 5 – Fontes textuais
Por fi m, avaliaremos algumas das mais relevantes obras do in-
glês antigo, reconhecendo seu enorme valor para as pesquisas 
linguísticas e sua importância para a literatura inglesa.
Introdução
Seja como for o que penses, creio que é melhor dizê-lo com boas palavras.
(William Shakespeare)
Nesta unidade trataremos da linguística histórica. Iniciaremos nossos 
estudos aprendendo o conceito de família linguística e como funciona 
o método da reconstrução comparada de linguagens. Conheceremos 
também as modifi cações sonoras ocorridas na família indo-europeia, 
além de investigar as origens e classifi cações das línguas germânicas.
Gramática histórica da língua inglesa
Fique atento Link
Saiba mais Exemplo
Gramática histórica da língua inglesa
Book 1.indb 8 17/11/16 19:14
prefácio
Este livro não pretende oferecer aos leitores não especialistas ape-
nas uma introdução ao percurso histórico do inglês traçada em termos 
das modificações das estruturas linguísticas. Também buscamos, no 
entanto, fornecer aos interessados os fundamentos da linguística his-
tórica descritiva e comparada, além de um embasamento em aspectos 
da sociolinguística variacionista, além de determinados elementos da 
filologia e noções da história dos povos anglófonos. Nosso objetivo é, 
portanto, ambicioso, motivado pelo desejo de proporcionar aos estu-
dantes uma base geral em linguística, por meio da linguística histórica 
do inglês. Por conseguinte, visamos ir além do tratamento oferecido 
nos compêndios clássicos de “gramática histórica”, juntando à história 
interna e à história externa da língua inglesa diversas reflexões acerca de 
várias questões teórico-práticas ligadas à pesquisa linguística em uma 
capacidade mais genérica, para enfatizar a importância de se enxergar 
a situação linguística em qualquer momento da perspectiva mais ampla 
possível. Esperamos que o aluno conclua seus estudos com uma noção 
de quão multifacetado é o trabalho do linguista na hora de lidar com a 
fantástica diversidade e a riqueza da linguagem humana, apresentada 
sob o viés de uma das línguas mais faladas no mundo.
É inegável que o inglês é uma língua importantíssima ao redor do 
mundo. Por isso, ela merece o interesse dos cientistas e das pessoas de 
modo geral. Por outro lado, jamais podemos perder de vista a maneira 
pela qual a língua inglesa chegou a tal posição: mais por casualidade his-
tórica que por qualquer outro mérito próprio. Ninguém que contemplasse 
os dialetos germânicos migrantes no leste da Grã-Bretanha no século VI 
d.C. apostaria que alguns de seus descendentes se tornariam uma força 
global. Em outras palavras, toda e qualquer língua é um objeto de análise 
interessante e que vale a pena conhecer e investigar, pois todas elas são 
incrivelmente ricas e é muito difícil deduzir como as coisas vão se desen-
volver no futuro!
Iniciamos a Unidade 1 com a identificação das relações de parentes-
co na família indo-europeia. Depois, apresentamos os diferentes tipos de 
mudança que impactam as estruturas linguísticas. Descrevemos o ramo 
germânico do indo-europeu, ao qual o inglês pertence e as características 
Book 1.indb 9 17/11/16 19:14
X
do inglês antigo, como o contexto histórico que levou os povos litorâneos do 
noroeste europeu a se deslocar para a ilha da Grã-Bretanha e se estabelecer por 
lá. Abordamos como o contato com os povos e as línguas dessa ilha influen-
ciou na evolução e diversificação do inglês antigo. Finalmente, oferecemos 
uma breve amostra literária (em prosa e em verso) doinglês antigo.
Abrimos a Unidade 2 com uma apresentação panorâmica da história da In-
glaterra medieval com foco em quatro períodos: a primeira dinastia normanda; 
a constituição do Império angevino sob Henrique II e Eleonora de Aquitânia; a 
Guerra dos Cem Anos entre a Inglaterra e a França; e a guerra civil conhecida 
como a “Guerra das Rosas”. Além dos acontecimentos políticos, destacamos 
as diferentes contribuições socioculturais de cada período histórico e o im-
pacto nas questões linguísticas. A segunda parte da Unidade 2 se concentra 
na enorme contribuição da língua francesa à formação do léxico inglês. O 
terceiro tema explica as mudanças que afetaram as demais estruturas da língua 
inglesa (os sons e a gramática) durante o período medieval. E o quarto tema 
segue exemplificando a grande diversidade dialetal que caracteriza o inglês 
médio. Encerramos com alguns monumentos literários medievais.
A Unidade 3 apresenta o período pré-moderno e começa com a aci-
dentada história externa, fundamental à construção da identidade britânica 
moderna. A seguir, apresentamos as mudanças estruturais que converteram 
os dialetos medievais em algo que nos é reconhecível como inglês. A ter-
ceira parte proporciona um panorama dos debates sobre a melhor maneira 
de regular e codificar a língua em dicionários, gramáticas e tratados de 
ortografia. Novamente, fechamos a unidade com uma passagem pelos mais 
conceituados autores da língua inglesa do período: Shakespeare, John 
Milton, Daniel Defoe e Jonathan Swift.
A Unidade 4 fala da diversidade do inglês como um idioma global. Co-
meçamos com o estabelecimento do inglês em territórios norte-americanos 
e a evolução dos vários tipos de inglês falados nos Estados Unidos e no Ca-
nadá. Seguimos em frente, comparando o padrão britânico ao padrão ame-
ricano. No terceiro tema descrevemos as variedades do inglês pelo mundo. 
Por fim, voltamos às origens para tratar da diversidade dialetal nas Ilhas 
Britânicas e na Irlanda.
Concluindo, nosso objetivo é fundamentar os principais aspectos da lin-
guística geral, linguística histórica e sociolinguística para o leitor não espe-
cialista e sem conhecimentos prévios por intermédio da evolução da língua 
inglesa. Esperamos que o presente livro tenha algo a oferecer para qualquer 
pessoa que deseja se iniciar no instigante mundo da linguística sócio-históri-
ca e da fascinante história do inglês.
Bons estudos!
Thomas Finbow
Gramática histórica da língua inglesa
Book 1.indb 10 17/11/16 19:14
u n i d a d e 1
Objetivos de aprendizagem
 Explorar o campo da linguística histórica, compreendendo o caráter 
mutável das línguas e as relações existentes entre elas.
 Descobrir as chamadas famílias linguísticas, aprendendo como fun-
ciona o método de reconstrução comparada e analisando os pa-
drões de alterações sonoras na família indo-europeia.
 Conhecer as origens e a classificação tradicional das línguas 
germânicas.
 Diferenciar história interna e história externa e aprender como a fo-
nética e a fonologia formam o panorama sonoro das diversas línguas.
 Investigar as transformações linguísticas possíveis nos contextos 
morfológico, sintático, lexical e semântico-pragmático.
 Conhecer a história externa da formação da língua inglesa, abordan-
do principalmente as migrações germânicas às ilhas britânicas.
 Analisar a estrutura do inglês antigo e explorar os quatro principais 
dialetos anglo-saxões da época: Northumbrian, West Saxon, Kentish e 
Mercian.
 Estudar a chamada heptarquia, conhecendo os sete maiores rei-
nos anglo-saxões: Kent, Sussex, Wessex, East Anglia, Essex, Mercia e 
Northumbria.
 Reconhecer a influência das línguas celtas, do latim e do norreno na 
formação da língua inglesa.
 Pesquisar a história externa do inglês antigo, analisando a trajetória 
das invasões vikings e a unificação do reino da Inglaterra.
 Conhecer as principais fontes textuais do inglês antigo, descobrindo 
a importância dessas obras para o estudo da linguística.
Inglês antigo
Book 1.indb 1 17/11/16 19:14
2
Temas
 1 – Linguística histórica
Neste tema, conheceremos o conceito de família linguística, as 
aplicações da reconstrução comparada e as mudanças sonoras 
que ocorreram na família indo-europeia. Exploraremos tam-
bém as línguas germânicas, aprendendo quais são suas raízes 
e classificações.
 2 – Mudança linguística
No segundo tema, aprenderemos as diferenças entre história 
interna e história externa, conhecendo os aspectos sonoros 
das línguas e as principais alterações linguísticas em relação a 
morfologia, sintaxe, léxico e semântica.
 3 – O inglês antigo
Em seguida, estudaremos a história externa da estruturação do 
inglês, avaliando o contexto histórico das migrações germâni-
cas na Grã-Bretanha. Analisaremos também os principais diale-
tos anglo-saxões: Northumbrian, West Saxon, Mercian e Kentish.
 4 – Inglês antigo em contato com outras línguas
Aprenderemos, neste tema, o que foi a heptarquia, relacionan-
do os aspectos particulares de cada um dos sete grande reinos 
anglo-saxões: Sussex, Kent, Wessex, East Anglia, Essex, Mercia e 
Northumbria.
 5 – Fontes textuais
Por fim, avaliaremos algumas das mais relevantes obras do in-
glês antigo, reconhecendo seu enorme valor para as pesquisas 
linguísticas e sua importância para a literatura inglesa.
Introdução
Seja como for o que penses, creio que é melhor dizê-lo com boas palavras.
(William Shakespeare)
Nesta unidade trataremos da linguística histórica. Iniciaremos nossos 
estudos aprendendo o conceito de família linguística e como funciona 
o método da reconstrução comparada de linguagens. Conheceremos 
também as modificações sonoras ocorridas na família indo-europeia, 
além de investigar as origens e classificações das línguas germânicas.
Gramática histórica da língua inglesa
Book 1.indb 2 17/11/16 19:14
Inglês antigo 3
Em seguida, definiremos os conceitos de história interna e história 
externa, compreendendo como o padrão sonoro de uma língua é 
formado a partir da fonologia e da fonética. Abordaremos também 
as mudanças linguísticas que podem ocorrer nos campos sintático, 
morfológico, semântico-pragmático e lexical.
Além disso, analisaremos a história externa da construção da língua 
inglesa, estudando a chegada germânica ao território britânico e co-
nhecendo os quatro principais dialetos anglo-saxões. Aprenderemos 
ainda o que foi a famosa heptarquia, descobrindo como as línguas 
celtas, latim e norreno contribuíram com a formação do inglês antigo.
Por fim, examinaremos o contexto histórico das invasões vikings, que 
acompanhou o processo de consolidação do reino inglês, além de 
explorarmos as mais importantes fontes textuais do inglês antigo.
Linguística histórica
Famílias linguísticas
Ao explorarmos o vasto campo da linguística histórica, deve-
mos ter em mente uma de suas características fundamentais: a na-
tureza dinâmica e mutável das línguas humanas. Essas mudanças 
que as línguas sofrem ao longo do tempo, contudo, não descarac-
terizam seu potencial semiótico ou sua plenitude estrutural. Ou 
seja, apesar das variações geográficas, socioculturais, cronológi-
cas e de uso, as línguas mantêm sempre uma organização básica, 
viabilizando seu uso contínuo e desimpedido pelos falantes e pre-
servando, assim, sua funcionalidade social. 
O fim do século XVIII foi marcado por diversas pesquisas 
científicas dedicadas a investigar a história das línguas ao redor 
do mundo. Nessa época, foram realizadas análises pioneiras dos 
diversos grupos de línguas, em um padrão sistemático e específico, 
visando fundamentalmente descobrir correlações entre eles que pu-
dessem demonstrar relações de parentesco entre as línguas. A espe-
rança dos estudiosos era que, caso fossem encontradas evidências 
contundentes nesse sentido, seria possível comprovar a existênciade uma fonte comum, uma língua-mãe global que teria originado 
todas as demais, tal como narra a história bíblica da torre de Babel.
No continente europeu, já se sabia da evidente origem latina 
das línguas italiana, francesa e espanhola, entre outras. Contudo, 
a principal dificuldade para os estudiosos que se interessavam pe-
las relações de parentesco entre as línguas era metodológica: eles 
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4
não tinham desenvolvido nenhum método sistemático para deci-
dir quais semelhanças eram relevantes e quais não tinham impor-
tância. Além disso, não houve consenso sobre a regularidade da 
mudança estrutural ou, inclusive, se as línguas podiam mudar de 
forma independente, por gerar inovações, ou se as diferenças eram 
o resultado da “mistura” de línguas de tipos diferentes.
Porém, com o emprego de novas técnicas capazes de solucio-
nar parte desses problemas em grupos mais extensos de línguas, 
foram encontrados fortes indícios da existência de uma língua 
pré-histórica que teria gerado a maioria das línguas da Eurásia. 
Essa língua passaria a ser conhecida como protoindo-europeu e, 
a partir de então, vários outros grupos de línguas passaram a ser 
estudados com base no mesmo método de pesquisa. 
Fique atento
Por meio da comparação entre várias línguas, os pesquisadores conseguiram 
identificar relações sistemáticas entre sua estrutura linguística (os sons, os pa-
radigmas flexionais de declinação de caso nos nomes e adjetivos e na conju-
gação dos verbos), deduzindo que, por existir tantos paralelos repetidos com 
tanta frequência, elas devem ser originadas de uma fonte em comum. O pa-
norama linguístico da Europa teve grande importância nesse processo, com 
a percepção de importantes similaridades e diferenças, por exemplo, entre 
palavras nas línguas italiana, francesa, espanhola e portuguesa. Um exemplo 
disso são as expressões para “caro” e “campo” em algumas línguas neolatinas: 
Francês Italiano Espanhol Português
cher caro caro caro
champ campo campo campo
Nestas palavras, o fonema francês /ʃ/, representado por ch, apresenta clara 
relação de correspondência com o fonema /k/, simbolizado por c em vocá-
bulos italianos, espanhóis e portugueses. 
A partir dessa comparação, é possível dizer que ao menos alguns termos 
com o fonema francês /ʃ/ são derivados do fonema mais antigo /k/, passan-
do por mudanças fonéticas e fonológicas até estabelecer-se em sua forma 
atual /ʃ/. Essa teoria pode ser confirmada por outros exemplos, tais como: 
Francês Italiano Espanhol Português Latim
chandelle candela candela candeia candela
chez casa casa casa casa
Fonte: adaptado de Lehmann (1992, p. 6-7).
Saiba mais
O prefixo “proto” 
significa que a língua 
não está atestada 
em nenhum livro 
ou inscrição, pois 
existia muito antes da 
invenção da escrita 
(ou, após a invenção 
da escrita, significa 
que os falantes não 
a conheciam), mas 
sua estrutura fônica, 
gramatical e seu 
vocabulário foram 
reconstruídos por 
meio do método 
comparativo aplicado 
às descendentes dessa 
língua ancestral, das 
quais temos registros 
escritos.
Gramática histórica da língua inglesa
Book 1.indb 4 17/11/16 19:14
Inglês antigo 5
É frequente a alusão a árvores genealógicas ou famílias lin-
guísticas nesse processo de análise de laços históricos entre as 
línguas. No caso das línguas românicas, como o espanhol, o fran-
cês, o italiano etc., elas são consideradas línguas “filhas” da língua 
“mãe”, o latim. Assim, o italiano pode ser entendido como uma 
língua “irmã” do francês e do espanhol. De modo similar, a língua 
protoindo-europeia (PIE) representa a língua-mãe na família indo-
-europeia, tendo o latim, o grego, o sânscrito e muitas outras como 
línguas-filhas (CRYSTAL, 1992). 
Saiba mais
Teoria da árvore genealógica ou família linguística
A teoria da árvore genealógica ou família linguística (Stammbaumtheorie) foi 
desenvolvida pelo linguista austríaco August Schleicher. Embora Schleicher 
utilizasse o conceito da evolução, sua interpretação dessa noção ainda in-
cluía muitos princípios da ciência natural pré-Darwiniana. Ele introduziu o 
conceito de linguagem como um organismo que pode nascer, evoluir, en-
trar em decadência e morrer, sujeito a transformações que podemos analisar 
por meio de métodos do campo da biologia. Por esse motivo, em meados 
do século XIX os linguistas consideravam apropriado descrever as relações 
entre línguas com a terminologia do parentesco biológico. Para cada “ramo” 
ou “galho” que se separa dos demais na árvore genealógica, a bifurcação cor-
responde a uma ou várias mudanças que separa as filhas de determinada 
língua-mãe entre si e da sua antecessora comum.
Embora a metáfora das famílias linguísticas seja útil para 
a compreensão do fenômeno das relações de parentesco entre 
línguas e para a cronologia da formação de novas línguas, é 
importante reconhecer que essa abordagem não corresponde a 
uma sequência linear e padronizada. Ou seja, uma língua-mãe 
pode deixar de existir após o “nascimento” de línguas-filhas, 
pode coexistir com suas filhas e até sobrevivê-las, pode inte-
ragir com suas filhas, ou pode desenvolver-se de modo relati-
vamente autônomo. A trajetória de constituição de uma nova 
língua, portanto, é repleta de pequenas e constantes transfor-
mações, influenciadas pelas diferentes reações dos diversos 
grupos sociais e pelas inovações que surgem constantemente 
entre seus membros. 
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6
Exemplo
Não são apenas as línguas indo-europeias que podem ser agrupadas em fa-
mílias e subfamílias. Aproximadamente 7.000 famílias linguísticas vivas já fo-
ram identificadas (ainda há outras muitas já extintas). As línguas urálicas são 
um exemplo típico do conceito de família linguística. Elas formam uma família 
de línguas euroasiáticas oriundas dos Montes Urais e faladas por aproximada-
mente 20 milhões de pessoas. O estoniano, o finlandês e o húngaro são as 
três línguas dessa família com maior quantidade de falantes. No caso brasileiro, 
podemos citar o tupi, que é composto por 10 famílias, algumas delas, como o 
tupi-guarani, com até 40 línguas.
 Figura 1.1 Família de línguas urálicas. 
Fonte: Anttila (1972, p. 301).
Finlandês Lude Ingriano Estoniano Livônio
Carélio Vepsa Votiano Estoniano meridional
Urálico 
(c. 4000 a.C.)
Fino-úgrico 
(c. 3000 a.C.)
Fínico
(c. 1500 a.C.)
Fínico
báltico
(c. 500 a.C.)
(Divisão 
c. 1 d.C.)
 Norte
 Samoieda
 Sul
 Ob-úgrico
 Úgrico
 Permiano
 Fínico volgaico
Lapão (Divisão c. 750 d.C.)
Samoieda yurak
Samoieda do Yenisei
Tavgi
Selcupe
(Camassiano)
(etc.)
Ostíaco
Vógul
Montes Urais
Húngaro
Votiáco
Ziriano
Mordoviano
Cheremise
Lapão oriental
Lapão setentrional
Lapão meridional
O século XX trouxe novas nomenclaturas e classificações 
para esse processo. O termo “família” ainda é utilizado como uma 
Gramática histórica da língua inglesa
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Inglês antigo 7
designação genérica para grupos de línguas que apresentam correla-
ções históricas, porém em algumas classificações é estabelecida uma 
diferenciação quanto à intensidade dessas relações. Assim, o termo 
“família” geralmente é empregado para nomear línguas muito próxi-
mas, enquanto a expressão “filo” ou “tronco” diz respeito a línguas 
com conexões mais superficiais. O termo “macrofilo” ou “superfamí-
lia”, por sua vez, é utilizado para descrever grupos de línguas com li-
gações ainda mais indefinidas e fracas do que as observadas nos filos.
As línguas aborígenes da Austrália, por exemplo, embora se-
jam claramente relacionadas entre si, não apresentam evidências 
históricas de conexões claras acimado nível da família – diferente 
do indo-europeu, em que os ramos podem ser agrupados em fa-
mílias sucessivamente maiores –, razão pela qual costumam ser 
classificadas como filo ou macrofilo australiano, em vez de fa-
mília australiana, pois algumas famílias menores não se deixam 
aglomerar no bloco maior chamado “pama-nyungano”. Portanto, 
embora os linguistas suspeitem que a relação genealógica entre 
essas famílias linguísticas exista, ainda não foi possível compro-
vá-la definitivamente pelo método comparativo e fala-se de “filo” 
ou “macrofilo”, já que esses termos apontam para uma relação 
possível, porém, menos segura. No Brasil, as línguas indígenas do 
grupo macro-jê apresentam uma situação parecida.
Na classificação genética das línguas, as relações linguísticas são 
determinadas quanto ao grau de “parentesco”; assim, temos as cha-
madas “línguas-mães”, “línguas-filhas”, “línguas-irmãs” e “famílias 
de línguas”. Desse modo, se o processo de reconstrução obtiver êxito, 
serão comprovadas as relações existentes entre as línguas abordadas.
Método de reconstrução comparada
No ano de 1808, foi publicada a obra Über die Sprache und die 
Weisheit der Indier, do alemão Friedrich Schlegel, reconhecida 
como marco inicial das pesquisas comparativistas. Nela, Schlegel 
realiza comparações sistemáticas entre línguas antigas europeias 
e o sânscrito, e propõe métodos de classificação entre as diversas 
línguas, buscando determinar seu parentesco e descobrir sua as-
cendência comum. 
De acordo com Crystal (1992), o método comparativo é um 
modo de comparar sistematicamente uma série de línguas, visando 
provar relações históricas entre elas. Primeiro, partindo do nível 
dos sons, os pesquisadores descobrem uma série de similaridades 
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8
e divergências entre as línguas, buscando em seguida reconstruir 
uma fase inicial de evolução comum a todas elas. Essa prática é 
chamada de reconstrução comparada. Nela, línguas que provam 
ter a mesma ancestral são conhecidas como cognatas. 
Essa relação é mais facilmente constatada quando a existência 
da língua-mãe é comprovada, como no exemplo das várias pala-
vras para pai nas línguas indo-europeias: 
Protoindo- 
-europeu
Latim
Grego 
clássico
Sânscrito Gótico
Irlandês 
antigo
Esquimó
pǝtér páter patḗr pitā fádar áthir ataataq
Como podemos ver, todas as formas acima, exceto a palavra 
esquimó, podem ser derivadas regularmente da palavra em PIE 
*pǝtér. O esquimó se deixa excluir por não ser possível estabelecer 
correspondências sistemáticas entre os fonemas que compõem a 
palavra /ata:taq/ e as formas fonológicas dos demais vocábulos. 
Assim, mesmo que o PIE não existisse mais, seria viável recons-
truir sua estrutura a partir desse tipo de comparação entre várias 
palavras. Essa técnica comparativa é empregada de modo análogo 
quando a língua-mãe foi extinta, como no caso da língua indo-
-europeia. Nesse caso, as formas em latim, grego, sânscrito, eslavo 
antigo, armênio etc. para pai, por exemplo, são comparadas visan-
do a reconstrução do termo original indo-europeu, *pǝter. Cabe 
ressaltar que, no estudo de linguística histórica, o uso de asterisco 
precedendo uma palavra significa que esse termo é uma reconstru-
ção, não apresentando comprovação escrita em registros históricos.
A pronúncia dos termos reconstruídos é um tema extensamente 
debatido entre os linguistas; enquanto alguns atribuem característi-
cas fonéticas a eles e os pronunciam dessa forma, outros defendem 
que isso não é adequado, dado o grau de abstração de tais termos e 
a natureza hipotética e probabilística das formas propostas.
Abordagem genética das linguagens
Podemos dizer que duas línguas de uma mesma família de 
línguas são geneticamente relacionadas, ou seja, são cognatas, 
quando elas se originam ou “descendem” da mesma língua origi-
nal; e quando essa língua-mãe é reconstruída, ela é então chama-
da de protolíngua. Quer dizer, o latim e o inglês antigo não são 
protolínguas, apesar de serem a mãe do português e do inglês, 
Gramática histórica da língua inglesa
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Inglês antigo 9
respectivamente, por serem línguas atestadas em manuscritos e 
inscrições, mas o PIE ou o protogermânico são protolínguas, por 
serem fruto de reconstrução. 
A reconstrução de linguagens por meio do método comparati-
vo objetiva recuperar o máximo possível da língua ancestral ou da 
protolíngua, comparando as línguas descendentes e buscando esta-
belecer quais foram as transformações sofridas por elas. A fonologia 
costuma ser o primeiro aspecto analisado nesse processo, que tenta 
inicialmente reconstruir o sistema sonoro. Em seguida, são estudadas 
características inerentes ao vocabulário e à gramática da protolíngua.
Por meio da comparação entre as características herdadas por 
cada língua-irmã românica, por exemplo, almeja-se reconstruir os 
aspectos linguísticos da língua protorromânica – que não é idên-
tica ao latim devido às formas presentes no latim que desaparece-
ram totalmente na passagem às línguas-filhas sem deixar nenhum 
rastro e que, portanto, não podem ser reconstruídas. Um exemplo 
disso é o fato de sabermos que o latim tinha /h/ apenas porque os 
romanos nos contaram, esse som não continuou em nenhuma lín-
gua neolatina. A língua protorromânica apresenta os aspectos mais 
falados do latim na época em que começou a sofrer suas primeiras 
variações e fragmentações, que posteriormente se converteram 
em suas línguas “descendentes”.
O êxito nessa trajetória de pesquisa depende de uma série de 
fatores, como evidências de características originais da língua-
-mãe nas línguas-filhas e a habilidade no emprego de técnicas do 
método comparativo. 
Exemplo
No caso de línguas amplamente documentadas, como o latim, é possível veri-
ficar se as características que descobrimos por meio do método comparativo 
são compatíveis com os registros escritos. Quando pesquisamos muitas famí-
lias de linguagens, porém, esse recurso de conferir as reconstruções não está 
disponível. A língua protogermânica, originadora da família à qual pertence o 
inglês, é um exemplo disso, uma vez que não existe qualquer documentação 
escrita dela, que é reconhecida apenas por meio de reconstrução comparada.
Todas as línguas existentes atualmente que possuem línguas-parentes apre-
sentam um histórico nas famílias de línguas. Por meio da aplicação do méto-
do comparativo às línguas-parentes das quais possuímos registros é possível 
reconstruir a língua-mãe original. 
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10
Assim sendo, é realizado um processo de comparação entre a língua inglesa e 
suas línguas-parentes, tais como o alemão, o sueco, o dinamarquês e o islan-
dês, visando compreender as características da protolíngua protogermânica. 
O inglês, portanto, representa um dialeto do protogermânico que passou 
por grandes e contínuas transformações até se tornar a língua que hoje co-
nhecemos, diferenciando-se assim de suas línguas-irmãs, que tiveram suas 
próprias modificações. É importante observar que todas as protolínguas já 
foram línguas reais, ainda que as pesquisas atuais ainda não sejam capazes 
de reconstrui-las em sua totalidade.
 Figura 1.2 Família de linguagens protorromânica e genealogia 
espanhola. 
Fonte: Campbell (1998, p. 110).
Protorromânico 
(bisavó)
Românico ocidental 
(avó)
Românico oriental
Ibero-românico 
(mãe)
Galo-românico Ítalo-dálmata Românico dos 
Balcãs
Norte
Românico
Francês
Occitano
Ocidental 
(irmã)
Português
Espanhol
Sardo ItalianoReto- 
-românico
DálmataCatalão 
(irmã)
Galego
Padrões de mudanças sonoras na família indo­
­europeia
A família indo-europeia teve grande influência sobre o processo 
evolutivo da linguística histórica. As Leis deGrimm, Grassmann e 
Verner são grandes marcos na história indo-europeia e na das línguas 
em geral, e compreendê-las é fundamental para o entendimento do 
método comparativo e da teoria dos padrões ou regularidade sonora. 
Gramática histórica da língua inglesa
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Inglês antigo 11
Como descrever os sons de qualquer língua
Quando os linguistas descrevem os sons de uma língua, eles 
usam um vocabulário técnico especial e representam os sons por 
meio do Alfabeto Fonético Internacional (AFI). O motivo para isso 
é preservar a consistência das descrições e destacar as relações co-
muns que diferentes articulações mantêm. Não podemos confiar nas 
ortografias tradicionais, pois cada língua estabelece suas próprias 
normas de representação na escrita, de modo que as letras indivi-
duais e suas combinações não são iguais. Por exemplo, em inglês, 
a letra a é pronunciada “ei” e tem esse valor fônico de ditongo em 
várias palavras, como name “nome”, que é pronunciada “neim”. 
Em alemão, a letra j representa o som da semivogal i em iogurte em 
português. Em francês, ch soa como em português, mas em espa-
nhol, soa como se fosse escrito tx ou tch em português; e em italia-
no, ch funciona como qu antes de i e e em português, ou seja, para 
expressar o som “duro” como em queijo. Muitas línguas empregam 
letras “mudas”, como o e no final de name, ou o h de homem. Tudo 
muito complicado e confuso, não é? 
Para evitar essas dificuldades, os linguistas desenvolveram 
um alfabeto em que cada símbolo sempre corresponde ao mes-
mo som, independentemente da grafia tradicional da língua em 
questão. Dessa maneira, eles sempre sabem como pronunciar uma 
palavra escrita com esse alfabeto fonético, seja como for a língua. 
Por exemplo, queijo é escrito [′kej.ʒʊ]. Tais transcrições fonéticas 
são sempre escritas entre colchetes. O apóstrofo inicial “ ′ ” mar-
ca qual sílaba é tônica (a articulada com maior força e volume). 
Outro aspecto é que cada sílaba é separada por pontos. Qu- = [k], 
ei = [ej], j = [ʒ] e o o final, que é quase um u, é transcrito como [ʊ]. 
Esse valores fônicos nunca variam, de modo que tchau e ciao – o 
correspondente de tchau em italiano – são transcritas da mesma 
forma, como [′tʃaw]. O AFI contém símbolos para praticamente 
todos os sons possíveis nas línguas humanas. 
Além do uso do AFI, linguistas utilizam uma nomenclatura 
para classificar os sons conforme uma série de traços articulató-
rios (como você configura os órgãos da fala ao pronunciar certo 
som). Por exemplo, [k] é descrito como uma “consoante oclusiva 
velar surda oral”. Isso quer dizer que é, primeiro, uma consoante – 
ou seja, sua produção envolve bastante interferência no fluxo de ar 
que sai dos pulmões, diferentemente de uma vogal, que modifica 
pouco a passagem de ar pulmonar. Segundo, a língua realiza um 
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12
fechamento total da passagem do ar, que depois é solto com uma 
microexplosão. Terceiro, “velar” quer dizer que o fechamento total 
da língua é realizado contra o “véu palatino” (também conhecido 
como palato mole). Quarto, “surda” significa que as cordas vocais 
não vibram durante a articulação; e, finalmente, “oral” significa 
que o palato mole está levantado, de modo que o ar escapa apenas 
pela boca, e não pelo nariz. Cada símbolo no AFI corresponde a 
um som classificado dessa maneira.
Os pontos de articulação (articuladores passivos) discrimina-
dos no AFI são:
 lábios;
 dentes;
 alvéolos;
 região prepalatal ou alveopalatal;
 palato duro;
 palato mole ou véu palatino;
 úvula (a “campainha”);
 faringe;
 laringe.
Os articuladores ativos, que se deslocam no espaço para inte-
ragir com os articuladores passivos, são:
 lábio inferior;
 dentes inferiores;
 língua (a ponta ou ápice, a lâmina e o dorso);
 palato mole;
 cordas vocais.
Além da oclusão (bloqueio total do ar), as maneiras de articu-
lação (a conjunção dos articuladores) são:
 Fricção/Fricativa – o articulador ativo se aproxima muito do 
articulador, mas não fecha a passagem de ar totalmente.
 Africação – uma oclusiva e uma fricativa articuladas suces-
sivamente, como ts, dz, pf, bv etc.
 Nasalização/nasal – o palato mole desce, permitindo o ar 
pulmonar passar pelo nariz.
 Lateralização/lateral – a língua fecha a passagem do ar na 
região central da boca, mas o ar pode escapar livremente pe-
las laterais.
 Vibração/vibrante – os lábios, o ponto ou dorso da língua 
bate muito rapidamente, uma ou várias vezes.
Gramática histórica da língua inglesa
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Inglês antigo 13
 Retroflexão/retroflexo – a língua se curva para cima e a par-
te de baixo encosta na região alveolar.
 Vozeamento – as cordas vocais vibram com a passagem do 
ar (vozeado/sonoro), criando um zumbido na laringe, ou as 
cordas vocais são afastadas, de modo que o ar passe livre-
mente pela glote (o espaço entre as cordas vocais), sem ne-
nhuma vibração (desvozeado/surdo). 
As vogais também são descritas da mesma maneira, sendo di-
vididas entre anteriores e posteriores, a depender de qual parte da 
língua, a frente ou o dorso, é a mais elevada. Além disso, podemos 
notar a presença ou ausência de arredondamento dos lábios e a 
posição do véu palatino para cima (vogais orais) ou para baixo 
(vogais nasais). Convencionalmente, distinguimos quatro graus 
de altura da língua:
1. alto [i u]; 
2. médio-alto [e o]; 
3. médio-baixo [ɛ ɔ]; 
4. baixo [a ɑ ɒ]. 
Também existem descrições dessas vogais cardeais em termos 
da abertura da boca, de modo que alto = fechado, médio-alto = 
médio-fechado, médio-baixo = médio-aberto e baixo = aberto. 
Para que você se familiarize com esse alfabeto, segue um qua-
dro com seus principais aspectos:
Consoantes (mecanismo de corrente de ar pulmonar)
Em pares de símbolos, tem-se que o símbolo da direita representa uma consoante vozeada. Acredita-se serem 
impossíveis as articulações nas áreas sombreadas.
bilabial
labio-
dental
dental alveolar pós-alveolar retroflexa palatal velar uvular faringal glotal
Oclusiva p b t d ʈ ɖ c ɟ k g q G ʔ
Nasal m ɱ n ɳ ɲ ŋ N
Vibrante B r R
Tepe (ou 
flepe)
ɾ ɽ
Fricativa Φ β f v θ ð s z ʃ ʒ ʂ ʐ ç ʝ X ɣ χ ʁ ħ ʕ h ɦ
Fricat. lateral ɫ ɮ
Aproximante ʋ ɹ ɻ j ɰ
Aprox. 
lateral
l ɭ ʎ ʟ
 Quadro 1.1 Alfabeto Fonético Internacional. 
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14
Consoantes (mecanismo de corrente de ar não pulmonar)
Cliques Implosivas 
vozeantes
Ejetivas
ʘ bilabial ɓ bilabial ʼ como em
ǀ dental ɗ dental/
alveolar
pʼ bilabial
ǃ pós-alveolar ʄ dental tʼ dental/
alveolar
ǂ palatoalveolar ɠ velar kʼ velar
ǁ lateral-alveolar Ƹ uvular sʼ fricativa 
alveolar
Suprassegmentos Tons e acentos nas palavras
' acento primário 'foʋnɘ'tiʃɘn Nível Contorno
' acento secundário ou ˥ ě ou � 
ascendente
ː Longa eː é alta
ê � 
descendente
ˑ Semilonga eˑ ē ˧ média ĕ � alto 
ascendente
˘ muito breve ĕ è ˨ baixa 
ě � baixo 
ascendente
. divisão silábica ɹi.ækt ȅ ˩ muito baixa
ẽ � ascendente-
-descendente 
etc. 
ǀ grupo acentual 
menor ↓ downstep 
(quebra brusca)
 ascendência 
global
ǁ grupo entonativo 
principal
 descendência 
global
̮ ligação (ausência 
de divisão)
↑ upstep 
(subida brusca)
Quando os símbolos aparecem em pares, aquele da direita representa uma vogal arredondada. 
anterior
Fechada 
(ou alta)
Meia-fechada 
(ou média-alta)
Meia-aberta 
(ou média-baixa)
Aberta (ou baixa)
i ɨ ʉ m n
i y
e e ϴø
ε ε ɞ
æ
œ
œ ɑ
ɑ
cv
ɤ
ʊ
o
a
y
central posterior
a
e
Diacríticos Pode-se colocar um diacrítico acima de símbolos cuja representação seja prolongada na 
parte inferior, por exemplo: ŋ ̇ . 
. desvozeado ṇ ḍ ̤ voz. sussurrado ̪ dental t̪ d̪
˯ vozeada̰ voz. tremulante ̺ apical t̺ d̺
h aspirada th dh ̪ ̪ linguolabial ̻ laminal t̻ d̻
 mais arred. w labializado tw dw ͂ nasalizado e͂
 menos arred. j palatalizado tj dj n soltura nasal dn
̟ avançado u̟ ɤ velarizado tɤ dɤ l soltura lateral dl
̠ retraído ҁ faringalizado tҁ dҁ ̚ soltura não audível d ̚
̈ centralizada ë ̴ velarizada ou faringalizada ɫ
̇ centraliz. média ė ̝ levantada e (ɹ̝ = fricativa bilabial vozeada)
̣silábica ṇ ̞ abaixada e̞ (β̝ = aproximante alveolar vozeada)
̭ não silábica ḙ ̘ raiz da língua avançada e̘
 roticização ɚ a ̙ raiz da língua retraída e̙
Gramática histórica da língua inglesa
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Inglês antigo 15
Outros símbolos
ʍ fricativa 
labiovelar desvozeada
ɕʑ fricativas 
vozeadas epiglotal
w aproximadamente 
labiovelar vozeada
ɹ flepe 
alveolar lateral
ɥ aproximadamente 
labiopalatal vozeada
ɧ articulação simultânea 
de ʃ e X
ʜ fricativa epiglotal 
desvozeada
 Para representar consoantes 
africadas e uma articulação 
dupla, utiliza-se um elo ligando 
os dois símbolos em questão.
ʢ fricativa epiglotal 
vozeada
ʡ oclusiva epiglotal k͡p t͜ s
Fonte: Egelbert (2011, p. 44-45 apud GUIMARÃES, 2015, p. 26-27).
Lei de Grimm
A Lei de Grimm promove “deslocamentos de sons” pautados 
basicamente nas consoantes, que Grimm separa em três grupos ou 
ordens. Cada grupo, por sua vez, é composto por três séries (uma 
de consoantes labiais, uma de dentais e uma de velares). O cha-
mado grupo das “tênues”, na terminologia de Grimm, correspon-
deria às atuais consoantes oclusivas surdas (p, t, k), enquanto as 
“médias” seriam as oclusivas sonoras (b, d, g) e fricativas sonoras 
(v, ð), e as “aspiratæ” seriam as oclusivas surdas aspiradas (pʰ, tʰ, 
kʰ), as fricativas surdas (f, θ <þ>, x <h>) e as africadas (pf, ts <z>). 
Estabelecendo comparações entre o grego, o gótico e o alto 
alemão, Grimm indica um movimento “descendente”, defen-
dendo uma visão romântica de uma contínua decadência das 
línguas ao separarem-se da língua-mãe. Do grego, que represen-
ta os sons originais, Grimm parte para o gótico, que representa 
o germânico ancestral (a língua germânica mais antiga de que 
temos registros escritos), e do gótico para o alto alemão antigo. 
Os itens abaixo representam uma série de alterações nas pau-
sas da língua protoindo-europeia para a protogermânica seguindo 
a Lei de Grimm: 
 Oclusivas sem som (p, t, k) > fricativos sem som (f, θ, x).
 Oclusivas sonoras (b, d, g) > oclusivas surdas (p, t, k).
 Oclusivas sonoras aspiradas (bʰ, dʰ, gʰ) > oclusivas sonoras 
simples (b, d, g).
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16
No Quadro 1.2, a seguir, as formas inglesa e gótica de palavras 
demonstram os efeitos dessas mudanças na língua germânica. As 
versões em sânscrito, latim e grego, por outro lado, apresentam as 
oclusivas da língua indo-europeia inalteradas, sem passar pelas 
transformações da Lei de Grimm presentes nas formas germânicas. 
Quadro 1.2 Efeitos da Lei de Grimm sobre cognatas indo-europeias. 
Sânscrito Grego Latim Gótico Inglês
Set Ia: *p > f
pad- (pé) pod- ped- fōtus foot
páńča (cinco)
[páɲča]
pénte [quinque]
[kwinkwe]
fimf five
pra- pro- pro- fra- fro
pū- (clarear, fazer 
brilhar)
pur pūrus
(puro)
[OE fȳr] fire (fogo)
pitár- (pai) patér pater fadar [faðar] father [OE fæder]
nápāt- 
(descendente)
nepōs (sobrinho, 
neto)
[OHG nefo] nephew 
[OE nefa]
Set Ib: *t > θ
trī-/tráyas (três) treĩs/tría trēs þrija three
tv-am (tu) tū (Dório) tv-am þu thou
-ti- (sufixo 
nominalizador, -te, 
mor-te ‘morte’)
-ti- -tis/-sis -th
gátis (passo, jeito 
de andar)
mor-tis básis (indo) health, truth, birth, 
death (saúde, 
verdade, nascimento, 
morte)
Set Ic: *k > h (or [x])
śván-
[ʃvən-]
kúōn canis
[kanis]
hunds hound (cão)
śatám (cento/cem)
[ʃətə´m]
(he-)katón centum
[kentum]
hunda (pl.) hundred
kravís (carne crua) kré(w)as (carne 
crua, carne)
cruor (cru, 
sangue, espesso/
consistente/
grosso)
raw [OE hrāw] 
(cadáver)
dáśa (dez)
[də´ʃə ]
déka decem
[dekem]
taíhun
[tɛxun]
ten
Set IIa: *b > p (*b era um som bem raro no protoindo-europeu, e muitos duvidam que ele realmente fazia 
parte do sistema fonético dessa língua)
(Lituânia)
dubùs
diups deep [OE dēop] 
(profundo)
kánnabis (Lituânia)
[kanapẽs]
hemp (cânabis, 
(empréstimo?))
Latim
lūbricus
sliupan slip
Gramática histórica da língua inglesa
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Inglês antigo 17
Set IIb: *d > t
d(u)vá
-- dúo/dúō duo twái
[twɛ-]
two (dois)
dánt- odónt- dent- tunƿus tooth (dente)
dáśa
[də´ʃə]
déka decem
[dekem]
taíhun
[tɛxun]
ten (dez)
pad- pod- ped- fōtus foot (pé)
ad-
(comer)
édō
(eu como)
edō 
(eu como)
eat [OE etan] (< com 
+ ed + e + re)
véda woīda videō wáit [wɛt] wit (saber, conhecer)
Set IIb: *g > k
ǰánás génos genus kun-i (raça, tribo) kin
ǰánu- gónu genū kniu knee
ǰnātá gnōtós (g)nōtos kunnan know
áǰra-
(país)
agrós ager akrs acre (medida de 
área)
mr̥ǰ-
(ordenhar)
(a-)mélgō
(espremer)
mulgeō
(ordenho)
miluk-s
(leite)
milk (leite)
Set IIIa: *bh > b
bhar- phér- fer- baír-an [bɛran] bear (levar, carregar)
bhrátar phrátēr fráter brōƿar brother (irmão (cf. 
fraternal))
a-bhū-t (ele foi) é-phu (geri, 
produzi)
fu-ti
(ele foi)
bau-an
[bō-an]
(morar, habitar)
be (ser)
Set IIIb: *dh > d
dhā-
(colocar, pôr)
ti-thē-mi
(eu coloquei, pus)
fē-cī
(fiz, fabriquei)
do [OE dō-n]
dhr̥aṣṇóti
(ele se atreve)
thrasús
(atrevido)
(fest-) (ga-)dars
(ele se atreve)
dare [OE dear(r)]
(ele se atreve)
dvār- thú-r-a for-ēs daúr- [dor-] door (porta)
vidhávā ē-wíthewos’
(jovem solteiro)
vidua widuwo widow (viúva)
mádhu méthu mead (hidromel)
madhya- mésos medius midjis mid (meio)
Set IIIc: *gh > g 
haṁs-á-
(cisne, ganso)
khēn āns-er, Gans [German] goose
stigh-
(passo largo)
steíkhō
(ando a passo)
steigan
[stīgan] (escalar)
vah-
(levar, carregar)
wókh-os 
(carruagem, biga)
veh-ō
(levo, carrego)
ga-wig-an
(mexer, sacudir)
weigh/wain (pesar/
carro, carreta)
* OE = Old English ou inglês antigo. OHG = Old High German ou alto alemão antigo.
Fonte: Campbell (1998, p. 137-140). 
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18
Como vimos, a Lei de Grimm representa constantes correla-
ções entre línguas germânicas e não germânicas, resultantes de 
regulares mudanças sonoras na língua germânica. Há, contudo, 
exceções à Lei de Grimm, como as oclusivas em agrupamentos de 
consoantes exemplificadas no Quadro 1.3, a seguir. 
Quadro 1.3 Exceções à Lei de Grimm em agrupamentos de consoantes. 
Fonte: Campbell (1998, p. 141). 
Sânscrito Grego Latim Gótico Inglês
1. páś- [skep-] spec- [OHG 
speh-]
spy (?) (ver, enxergar)
2. ṣṭhiv-) pū spu- speiw-an
[spīw-an]
spew (cuspir, vomitar)
3. ạṣtáu
[əʂʈə´u]
oktō octō
[oktō]
ahtáu
[axtau]
eight (oito)
4. nákt- nukt- noct-
[nokt-]
nahts
[naxts]
night (noite)
5. capt(ivus) (captivo) (haft) [OE hæft] (prisioneiro)
6. -ti-
gátis
(andar)
-ti-
mor-tis
(morte)
-tis/sis
básis (indo)
-t (sufixo normalizador) 
thrift, draught, thirst, flight, drift (parsimônia, 
corrente de ar, sede, voo, deriva)
7. piscis
[piskis]
fisks [OE fisc] (peixe)
De acordo com a Lei de Grimm, o /p/ nos termos (1) e (2) do 
sânscrito, grego e latim, por exemplo, deveria corresponder a /f/ 
nas formas em inglês e gótico, e não ao /p/ existente nessas ver-
sões. De modo similar, no intervalo de (3) a (6), seria esperado 
que o inglês e o gótico apresentassem /θ/ (escrito <þ>), e não o 
verificado /t/, correspondendo ao /t/ do sânscrito, grego e latim. 
Já no (7), o /k/ do latim deveriacorresponder ao /x/ germânico, 
não ao /k/ dos termos gótico e inglês nesse grupo de cognatas 
(CAMPBELL, 1998). Vale destacar, ainda, o caso da palavra svan 
em sânscrito, em que o *k do PIE também sofreu mudança:
Sânscrito Grego Latim Gótico Inglês
svan kuon canis hunds hound (cão)
Todas essas exceções podem ser compreendidas quando consi-
derarmos que a Lei de Grimm surgiu antes da emergência de várias 
fricativas e oclusivas. Contudo, se a Lei de Grimm for corretamente 
Gramática histórica da língua inglesa
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Inglês antigo 19
aplicada – excluindo oclusivas após fricativas (/s f θ x/ + oclusiva) 
e outras oclusivas em agrupamentos de consoantes, por exemplo, as 
Leis de Grassmann e de Verner que veremos a seguir – e desde que 
não hajam alterações inerentes a essas circunstâncias, as oclusivas 
em agrupamentos não são de fato exceções às mudanças sonoras.
Lei de Grassmann
A chamada Lei de Grassmann, também conhecida como “lei 
de dissimilação das aspiradas”, elucida outro grupo de formas que 
aparentavam ser exceções à Lei de Grimm. Em grego e sânscrito, 
a Lei de Grassmann promove sistemáticas substituições na pri-
meira de duas oclusivas aspiradas, levando a primeira a perder sua 
aspiração. Como resultado disso, algumas correspondências sono-
ras entre as línguas grega e o sânscrito desobedecem às previsões 
da Lei de Grimm, como é possível observar nas cognatas a seguir: 
Sânscrito Grego Gótico Inglês
bodha peutha biudan bid (despertar, 
tomar 
consciência)
bandha bindan bind (vincular, 
amarrar)
O primeiro deriva do termo protoindo-europeu *bheuda-, en-
quanto o segundo advém da forma *bhendh. Houve subtração do 
primeiro bh por conta da ocorrência de uma segunda oclusiva as-
pirada na mesma palavra (dh, neste caso). A partir daí, temos uma 
correspondência sonora em (1): 
Sânscrito b / Grego p / Gótico b / Inglês b 
Segundo a Lei de Grimm, espera-se que o /b/ do sânscrito cor-
responda ao /p/ germânico (inglês e gótico nesse caso) e que o 
/b/ germânico corresponda ao /bh/ do sânscrito e ao grego /ph/. 
Assim sendo, a relação de correspondência verificada indica uma 
exceção à Lei de Grimm (CAMPBELL, 1998).
Os grupos de cognatas correspondentes ao (1), no entanto, não 
são verdadeiras exceções à Lei de Grimm. Na realidade, as for-
mas germânicas são descendentes regulares das PIE /bh dh gh/ > 
protogermânico /b d g/ de acordo com a Lei de Grimm, sendo 
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20
as formas em sânscrito e grego não correspondentes ao esperado 
em virtude da subtração regular da primeira parada aspirada pela 
Lei de Grassmann, sempre que tal parada precedia outra pausa 
aspirada. Podemos concluir, portanto, que a correspondência so-
nora é motivada por essas modificações sistemáticas da Lei de 
Grimm na língua germânica e da Lei de Grassmann no grego e 
no sânscrito. 
Lei de Verner
A Lei de Verner explica uma série de formas que constituíam o 
último e mais complexo grupo de exceções à Lei de Grimm a serem 
explicadas. Algumas delas são demonstradas no quadro a seguir: 
Quadro 1.4 Exemplos da Lei de Verner.
Fonte: Campbell (1998, p. 143).
Sânscrito Grego Latim Gótico Inglês
1. saptá heptá septem sibun seven
2. pitár- patḗr pater fadar
[faðar]
OE fæder 
‘father’ (pai)
3. śatám
[śətəm]
(he-)katón centum
[kentum]
hunda (pl.) hundred 
(cem, cento)
4. śrutás 
‘heard’
(ouvido)
klutós ‘heard’
(ouvido)
OE hlud ‘loud’ 
(ruidoso, 
[volume] alto)
5. makrós ‘long, 
slender’
(comprido, 
magro, estreito)
macer
[maker]
[OHG 
magar]
meagre 
(pouco)
De acordo com a Lei de Grimm, o /p/ do sânscrito, grego e 
latim deveria corresponder ao /f/ na língua germânica (represen-
tada aqui pelo gótico e pelo inglês); mas em vez disso temos em 
gótico /b/ e em inglês /v/. A partir do gótico /b/, a correspondência 
esperada em sânscrito seria /bh/ e em grego /ph/ (1). Já nos grupos 
cognatos (2-4), o /t/ do sânscrito, do grego e do latim corresponde 
ao /d/ germânico, e não ao /θ/ como previsto pela Lei de Grimm; 
também não correspondem ao esperado o sânscrito /dʰ/ e o grego 
/tʰ/, dado o germânico /d/.
Gramática histórica da língua inglesa
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Inglês antigo 21
Ou seja, Verner destacou que a Lei de Grimm se aplicava so-
mente quando a vogal precedente era acentuada. Assim, o /θ/ ger-
mânico no meio de uma palavra, por exemplo, transformava-se 
primeiro em /ð/ e depois em /d/, exceto quando a vogal precedente 
era tônica. Caso a vogal precedente fosse átona, a Lei de Grimm 
funcionava normalmente. 
Quadro 1.5 Exemplos dos efeitos contrastantes da Lei de Grimm e da Lei de Verner nas 
consoantes intermediárias.
Fonte: Campbell (1998, p. 144).
Lei de Grimm Lei de Verner
‘...C... ...C...’
*p > f
1a. Ingl. Ant. hēafod ‘head’ (cabeça)
 Latim caput [káput]
*p > b [β]
1b. Gótico sibun [siβun] ‘seven’ (sete)
 Sânscrito saptá-
*t > θ
2a. Gótico brōþar [brōθar] ‘brother’ (irmão)
 Sânscrito brá-tar-
*t > d [ð]
2b. Ingl. Ant. fæder ‘father’ (pai)
 Sânscrito pitár-
*k > x
3a. Gótico taíhun ‘ten’ (dez)
 Grego déka
*k > g [ɣ]
3b. Gótico tigus ‘decade’ (década)
 Grego dekás
A família indo-europeia
A família indo-europeia, também conhecida como indo-ger-
mânica ou ariana, é constituída por centenas de dialetos e línguas 
que englobam as principais línguas da Europa, do norte da Índia, 
do Paquistão, do Afeganistão, do Irã, e, no passado, da Anatólia 
(hitita) e da Ásia Central (tocário). Embora não existam registros 
históricos da língua indo-europeia original, podemos caracterizar 
sua estrutura por meio das línguas descendentes, reconstruindo 
assim seus aspectos léxicos e inflexões. 
As línguas descendentes do indo-europeu apresentam vários 
graus de semelhança entre si, fator relativamente influenciado 
pela localização geográfica. Essas línguas são divididas nos se-
guintes grupos: indiano, iraniano, armênio, helênico, albanês, itá-
lico, balto-eslavo, germânico, céltico, hitita e tocariano. Vamos 
conhecê-los separadamente a seguir (LEHMANN, 1992):
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22
 Indiano – os Vedas ou livros sagrados da Índia são os mais 
antigos textos literários preservados em qualquer língua in-
do-europeia. Eles são formados por quatro grupos de livros, 
que juntos fundamentam o brahmanismo – filosofia religiosa 
indiana surgida há aproximadamente três mil anos. O conteú-
do desses livros foi transmitido oralmente por muitos séculos 
até ser registrado por escrito em sânscrito.
 Gradualmente, a língua sânscrita passou a ser empregada em 
outras formas escritas não religiosas, até que gramáticos na-
tivos estabeleceram uma forma literária padronizada para a 
língua, que ficou conhecida como sânscrito clássico. Para-
lelamente, porém, havia um grande número de dialetos de 
uso rotineiro, os quais originariam as línguas indianas atuais, 
como hindu, urdu, bengali e outras. 
 Iraniano – o grupo de línguas conhecido como iraniano é 
encontrado na região do noroeste da Índia e no Irã. Os ocu-
pantes dessas áreas habitaram e viajaram por muito tempo 
com membros da ramificação indiana, fato que explica o con-
siderável número de características linguísticas em comum 
entre eles. Os mais antigos indícios do grupo iraniano são 
divididos em dois ramos, um oriental e um ocidental, respec-
tivamente correspondentes ao avéstico e ao persa antigo. O 
avéstico, também conhecido como zenda, corresponde a uma 
língua iraniana oriental, relacionada ao sânscrito, empregada 
na antiga Pérsia e idioma do livro sagrado do Zoroastrismo – 
o Avesta. Já o persa antigo, encontra-se preservado somente 
em alguns registros cuneiformes que relatam as conquistas 
dos reis Dario (522-486 a.C.) e Xerxes (486-466 a.C.). A for-
ma maismoderna dessa língua, datada dos primeiros séculos 
da era atual, é chamada de Pahlavi ou médio iraniano e era a 
língua oficial do Estado e da igreja ao longo da dinastia dos 
sassânidas (226-652 d.C.). Essa é considerada a língua ances-
tral do persa moderno.
 Armênio – a língua armênia é falada em uma pequena área 
ao sul do Cáucaso e na extremidade oriental do Mar Negro. 
A chegada dos armênios nessa região ocorreu entre os sécu-
los 8 e 6 a.C., vindos dos Balcãs. Suspeita-se que a língua da 
antiga população dessa área tenha influenciado o armênio, 
especialmente em relação ao aspecto fonológico. 
Gramática histórica da língua inglesa
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Inglês antigo 23
 A língua armênia apresenta determinadas alterações em algu-
mas de suas consoantes que se assemelham às alterações en-
contradas no germânico e que, como ocorre com esta, podem 
estar relacionadas a interações com outras línguas. Como as 
línguas do sul do Cáucaso, o armênio não possui gênero gra-
matical. Além disso, ao contrário do que se observa entre o 
indiano e o iraniano, o armênio não apresenta característi-
cas em comum com nenhum outro grupo da família indo-
-europeia, razão pela qual é considerada uma língua bastante 
isolada. 
 Helênico – nos primórdios da História, a região do Egeu foi 
habitada por populações diferentes em termos linguísticos e 
raciais dos gregos, que povoariam essa região mais tarde. Por 
volta do ano 2000 a.C., em um contexto de mistura e intera-
ção entre o grego e as línguas pouco conhecidas dessas popu-
lações, o povo grego tomou a região. Sendo assim, a partir da 
análise da língua grega, é possível identificar os cinco prin-
cipais grupos de dialetos: o iônico, do qual o ático é um sub-
dialeto; o eólico, no norte e nordeste; o arcádico-cipriota, no 
Peloponeso e no Chipre; o dórico, que mais tarde substituiu 
o arcádico no Peloponeso; e o grego do noroeste, do centro 
norte e da parte ocidental da região grega. Também existe o 
grego micênico que foi encontrado em listas e inventários de 
produtos na escrita silábica Linear B em tabletes de barro, de-
cifrados pelo inglês Michael Ventris, em 1952; a mais antiga 
variedade do grego (1600-1200 a.C.), aproximadamente 300 
anos mais antigo que o grego clássico. 
 Albanês – o pequeno grupo albanês localiza-se na região da 
costa oriental do Mar Adriático. Supõe-se que a língua al-
banesa seja remanescente da língua ilíria, falada em tempos 
antigos no noroeste dos Balcãs. Além disso, nosso conheci-
mento do albanês é recente, e o vocabulário dessa língua é 
extremamente misturado com noções de latim, turco, grego 
e eslavo; fatos que dificultam uma análise mais específica da 
língua albanesa. Diante disso, um longo tempo se passou até 
que o albanês fosse reconhecido como membro da família 
indo-europeia.
 Itálico – o grupo itálico encontra-se concentrado na re-
gião da Itália e, embora a maioria das pessoas costume 
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24
relacionar a Itália à Roma e Roma ao latim, muitas outras 
línguas atuaram nessa área. A posição geográfica favorável 
e o clima ameno italiano atraíram habitantes de diversas 
culturas e línguas. Como exemplo podemos citar o etrus-
co, língua não aparentada com a família indo-europeia que 
era falada na região oeste; a língua venética, falada na re-
gião do Vêneto; e o messápio, falado no extremo sudeste 
italiano. Além disso, o grego era amplamente empregado 
em muitas colônias gregas do sul da Itália e da região da 
Sicília. Todas essas línguas, contudo, foram sucumbindo 
ao latim conforme Roma conquistava maior poder político 
na região. Assim, a colonização romana na Espanha e na 
Gália – por volta de 51 a.C. –, nas ilhas do Mediterrâneo, 
no norte africano e até mesmo na Grã-Bretanha espalhou o 
latim por todo esse novo território, interagindo com outras 
línguas e locais.
 As diversas línguas que demonstram influência do latim 
em várias partes do antigo Império Romano são conhecidas 
como línguas românicas. Algumas delas inclusive propaga-
ram-se, muitos séculos depois, por outras regiões, especial-
mente no chamado Novo Mundo. Os principais exemplos 
de línguas românicas são o italiano, o francês, o espanhol, 
o português e o romeno. Essas línguas, no entanto, não são 
derivadas do latim clássico, uma variedade literária, mas do 
latim falado pelas classes populares e sujeito a frequentes 
transformações. 
 Balto-eslavo – o ramo balto-eslavo abrange uma ampla re-
gião na parte oriental europeia. Ele é composto por dois sub-
grupos bastante semelhantes entre si: o báltico e o eslavo. 
O báltico é comporto por três línguas: o prussiano, o letão e 
o lituano. O prussiano não existe mais, pois foi substituído 
pelo alemão desde o século XVII. O letão, por sua vez, é uma 
língua falada por aproximadamente três milhões de pessoas 
no território da Letônia. Já o lituano é reconhecido na família 
indo-europeia por seu alto grau de conservadorismo, preser-
vando estruturas e características já extintas em quase todas 
as demais línguas da família. 
 O subgrupo eslavo é formado por três línguas bastante pare-
cidas: o eslavo do leste, o eslavo do oeste e o eslavo do sul. 
O eslavo do leste e o eslavo do oeste ainda abrangem áreas 
Gramática histórica da língua inglesa
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Inglês antigo 25
contíguas, o eslavo do sul, porém, encontra-se separado dos 
outros por uma área habitada por romenos e húngaros. 
 O eslavo do leste abrange três variedades: o russo, princi-
pal variedade e falada como primeira ou segunda língua 
por aproximadamente 220 milhões de pessoas, o ucraniano 
e o bielorrusso. O eslavo do oeste apresenta quatro varia-
ções: o polonês, falado por mais de 40 milhões de pessoas, 
o tcheco, o eslovaco e as línguas sorábias. O eslavo do sul, 
por fim, inclui o búlgaro, o servo e o croata, o esloveno e o 
macedônio moderno.
 Germânico – o germânico ou protogermânico corresponde à 
forma que as línguas do ramo germânico possuíam antes de 
diferenciarem-se entre si. Ou seja, assim como ocorreu com 
o indo-europeu, o germânico antecede os mais antigos regis-
tros históricos encontrados, sendo necessária sua reconstru-
ção pelos filólogos. O germânico do leste, o germânico do 
norte e o germânico do oeste são os três subgrupos de línguas 
descendentes desse grupo. 
 No germânico do leste, o extinto gótico era a principal lín-
gua. O germânico do norte, por seu turno, é predominante 
nas regiões da Escandinávia, Dinamarca, Islândia e Ilhas 
Faroé. Já o germânico ocidental é especialmente interessan-
te, pois trata-se do grupo no qual a língua inglesa se encon-
tra; e apresenta-se em duas ramificações: o alto alemão e o 
baixo alemão. 
 O alto alemão diz respeito a todas as variedades linguísticas 
do Hochdeutsch (alemão padrão) e do iídiche, bem como de 
dialetos locais alemães falados nas regiões sul e central da 
Alemanha, na Áustria, Liechtenstein, Suíça, França (regiões 
do norte de Lorraine e Alsácia), Polónia e Itália. É empregado 
ainda na Romênia, Rússia, Estados Unidos e Namíbia. O bai-
xo alemão, por sua vez, é um conjunto de línguas – atualmente 
tidas como dialetos – que formam o campo dialetal das línguas 
germânicas faladas no leste dos Países Baixos e no norte da 
Alemanha. O baixo alemão apresenta muitos pontos em co-
mum com o frísio e com o próprio inglês. 
 Céltico – as línguas célticas já constituíram um dos maiores 
grupos da família indo-europeia. Nos primeiros anos da era 
cristã, os celtas ocupavam a Espanha, a Gália, a Grã-Breta-
nha, a região ocidental da Alemanha e o norte da Itália. O 
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26
progresso da civilização celta, alguns séculos antes, levou as 
línguas célticas também à Grécia e à Ásia Menor. 
 Atualmente, no entanto, o grupo de línguas célticas é utiliza-
do somentepor minorias em regiões das Ilhas Britânicas e da 
França. 
 Hitita e tocariano – os grupos hitita e tocariano são os mais 
novos integrantes da família indo-europeia, descobertos ape-
nas no século XX. O hitita era o idioma falado pelos hititas, 
donos de um império sediado na região centro-norte da atual 
Turquia, e trata-se da mais antiga língua indo-europeia co-
nhecida, surgida aproximadamente em 1600 a.C. 
 Já as línguas tocárias ou tocarianas representam um dos cam-
pos mais desconhecidos da família indo-europeia, divididas 
entre os chamados tocariano A e tocariano B, presentes em 
cidades nos oásis ao redor do deserto de Taklimakan (Ásia 
Central), entre os séculos VI e VIII.
A família germânica
A família germânica é um grupo de línguas derivado da língua 
ancestral protogermânica (PGmc), que por sua vez tem suas ori-
gens na ainda mais remota língua-mãe protoindo-europeia (PIE). 
O germânico é um grupo indo-europeu da região noroeste que 
apresenta vários aspectos em comum com o eslavo, o báltico, o 
céltico e o itálico. 
Os mais antigos textos germânicos são inscrições rúnicas do 
século III d.C. Esses registros, embora fragmentados e por vezes 
ilegíveis ou curtos, nos permitem traçar um panorama da família 
germânica em seus primórdios. Um dos textos mais antigos en-
contrados, do ano 200 d.C., é o seguinte: 
ᛒ ᛁ ᛞ ᚫ ᚹ ᚫ ᚱ ᛁ ᛃ ᚫ ᛉ ᛏ ᚫ ᛚ ᚷ ᛁ ᛞ ᚫ ᛁ
b i d a w a r i j a z t a l g i d a i
 Bida-Warijaz entalhou isto.
Figura 1.3 Antiga inscrição germânica encontrada na região 
da Jutlândia do Norte, Dinamarca. 
Fonte: Lass (1994, p. 12). 
Gramática histórica da língua inglesa
Book 1.indb 26 17/11/16 19:14
Inglês antigo 27
Classificação das línguas germânicas
A classificação tradicional das línguas germânicas estabelece 
três grupos principais: os germânicos do leste (Gmc. Or.), do norte 
(Gmc. set.) e do oeste (Gmc. Oc.). No entanto, a recente descober-
ta de inscrições rúnicas mais antigas e diferentes das anteriormen-
te conhecidas indicou a existência de um quarto dialeto, distinto 
do germânico do leste e ancestral dos germânicos do norte e do 
oeste: o germânico do noroeste (Gmc. NOe.). A árvore genealógi-
ca das línguas germânicas, portanto, seria: 
Figura 1.4 Árvore genealógica das línguas germânicas. 
Fonte: Lass (1994, p. 14). 
Proto-Gmc
Gmc. Or. Gmc. NOe.
Gmc. set. Gmc. Oc.
Saiba mais
Família linguística germânica ocidental 
Ao analisarmos a árvore genealógica linguística germânica, cabe destacar 
que os povos germânicos ocidentais dividiam-se em três grandes grupos 
tribais: os ingvaeones, os istvaeones e erminones. Os dialetos ingvaeones eram 
falados na região da costa do Mar do Norte, os dialetos istvaeones eram em-
pregados nas áreas centrais e os dialetos erminones estão mais relacionados 
ao moderno alto-alemão. 
A família germânica ocidental é representada a seguir, incluindo as línguas 
modernas: 
Book 1.indb 27 17/11/16 19:14
28
Figura 1.5 Família linguística germânica ocidental. 
*Protogermânico ocidental
AD
100 'Ingveônica' 'Istveônica' 'Erminiônica'
200
300 ‘Angl-Fr’
400
500
600 OHG
700 OE OS
800 OLF
900
1000 ME MLG MDu MHG OYi
1100
1200 OFri
1300
1400
1500
1600
1700 ModE Fri LG Du Afr G Yi
1800
1900
1990
‘Angl-Fr’ – Anglo-Frisian – Anglo-frísio
OE – Old English – Inglês Antigo
ME – Middle English – Inglês Médio
ModE – Modern English – Inglês Moderno 
OFri – Old Frisian – Frísio Antigo
Fri – Frisian – Frísio 
OS – Old Saxon – Saxão Antigo
MLG – Middle Low German – Baixo-alemão Médio 
LG – Low German – Baixo-alemão
OLF – Old Low Franconian – Baixo-francônio Antigo 
MD – Middle Dutch – Holandês Médio 
Du – Dutch – Holandês 
Afr – Afriânder
OHG – Old High German – Alto-alemão Antigo
MHG – Middle High German – Alto-alemão Médio 
G – German – Alemão
OYi – Old Yiddish – Iídiche Antigo
Yi – Yiddish – Iídiche 
Gramática histórica da língua inglesa
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Inglês antigo 29
*As datas à margem esquerda não representam as datas de surgimento 
de fato das línguas, mas indicam as datas dos primeiros textos eviden-
ciando a existência da língua, ou a época em que determinada tradição 
demonstra uma clara inovação. 
Fonte: Lass (1994, p. 15).
Mudança linguística
História interna versus história externa
No âmbito da Linguística Histórica, a trajetória de uma lín-
gua pode ser analisada com relação à sua história externa ou 
interna. A primeira diz respeito a características extralinguísti-
cas, ou seja, aspectos culturais, sociais, políticos e econômicos 
que de alguma forma impactaram o processo evolutivo de uma 
língua. A língua galega, por exemplo, falada na região noroeste 
da Espanha, foi duramente discriminada durante o período co-
nhecido como franquismo. Somente com o fim da ditadura de 
Franco ela foi reconhecida como idioma oficial daquela área. 
Outro exemplo característico de história externa é a conquista 
romana da Península Ibérica, a qual promoveu a formação das 
diversas línguas românicas da região.
A história interna, por sua vez, relaciona-se à constituição da 
língua e suas transformações nos vários campos linguísticos ao 
longo do tempo, tais como a morfologia, a sintaxe e a fonética. 
As alterações fonéticas pelas quais as palavras passam ao longo 
dos anos, de acordo com as chamadas leis fonéticas, são um 
claro exemplo da história interna de uma língua. A lei da sim-
plificação articulatória ou “lei do menor esforço” propõe que 
os falantes de uma língua sempre tentam deixar sua pronúncia 
mais fáceis para o aparelho fonador. A existência de poucas pa-
lavras proparoxítonas no português corrobora essa ideia; assim, o 
termo latino /′o.ku.lu/ (proparoxítona), por exemplo, passou (via 
/′ok.lu/) a ser /′ɔ.ʎo/ “olho” (paroxítona). No entanto, para que a 
comunicação seja possível, é preciso que as unidades com signi-
ficado (morfemas) sejam distintas umas das outras, e isso exige 
que a “lei de menor esforço” não vá longe demais e reduza todo e 
qualquer morfema a uma sequência de /ǝ/ (a articulação de menor 
esforço), como uma espécie de zeros e uns do binário.
Book 1.indb 29 17/11/16 19:14
30
De acordo com Faraco (2005), muitos linguistas modernos 
concordam que é importante conjugar a história interna e a ex-
terna das línguas, visando uma compreensão mais abrangente e 
empiricamente apropriada das complexas transformações pelas 
quais as línguas passam. Ainda segundo o autor, há duas maneiras 
principais de lidar com essa correlação: a aditiva, que argumenta 
que todos os aspectos da história interna de uma língua devem 
ser avaliados antes de olharmos para os elementos externos; e a 
integrativa, que propõe a análise simultânea dos fatores internos e 
externos, uma vez que ambos teriam grande importância no pro-
cesso de formação linguística. 
Mudança fônica
A fonética e a fonologia são os ramos da linguística respon-
sáveis pela análise da estrutura sonora das línguas. Enquanto a 
fonética se ocupa dos aspectos articulatórios e físicos, ou seja, 
os sons da fala, sua formação e qualidades acústicas, a fonolo-
gia relaciona-se à parte estrutural, analisando como organizam-se 
e funcionam os mecanismos que promovem o quadro sonoro de 
uma língua (FARACO, 2005). 
Da mesma forma, é importante diferenciar o conceito de mu-
dança fonética, que representa uma modificação na pronúncia de 
alguns segmentos em certos vocábulos, da chamada mudança fo-
nológica, que abrange mudanças na quantidade de unidades sono-
ras distintivas (fonemas), por exemplo, afetando todo o sistema de 
interações entre elas. 
Portanto, a troca de [1] por [w] no término de sílabas no por-
tuguês brasileiro, por exemplo, modificou a pronúncia de termos 
como golpe e alto, mas não mudou a quantidade de fonemas da 
língua, pois sua substituiçãopor outros fonemas resulta na tro-
ca de um signo por outro, como nos casos do substantivo mar, 
que pode ser pronunciado das seguintes maneiras: /maR/ = [maɾ], 
[maɹ], [max], [mah], [mar]; ou no caso do advérbio mal, de pro-
núncias /maL/ = [mal], [maƚ], [maw]. 
Por outro lado, Faraco (2005) explica que a supressão dos fo-
nemas medievais africados /ts/ e /dz/, que foram fusionados com 
as fricativas /s/ e /z/, respectivamente, no português moderno, por 
exemplo, modificou a estrutura geral da língua, diminuindo seu 
número de unidades sonoras distintivas. Similarmente, o acrésci-
mo de fonemas no processo de transição do latim para o português 
Gramática histórica da língua inglesa
Book 1.indb 30 17/11/16 19:14
Inglês antigo 31
também alterou a composição da língua, uma vez que incluiu no-
vos fonemas que se diferenciam dos já existentes, por exemplo 
/s/ > /z/ entre vogais, > /ʃ/ antes ou depois de [j] (> /ʒ/ entre vo-
gais); /g/ > /dʒ/ antes de vogais anteriores (/i/ e /ɛ/) (> /ʒ/); /k/ e 
/t/ > /tʃ/ (depois > /ts/) antes de /i/ e /e/ átonos etc.
Segundo Faraco (2005), há várias transformações possíveis no 
contexto morfológico, tais como: 
 Conversão de vocábulos autônomos em morfemas deriva-
cionais – como no caso de advérbios indo-europeus se tornando 
prefixos em latim, após anteposição e aglutinação aos verbos. 
 Supressão de sufixos como morfemas distintos, passando 
a compor a raiz do vocábulo – um exemplo disso é o sufixo 
latino -ulu-, referente a grau diminutivo, o qual deixou de ser 
sufixo para compor a raiz das palavras.
 Modificações no sistema flexional – como na transição do 
latim para as línguas românicas, em que o sistema de flexão 
de caso foi cortado.
Mudança gramatical
Mudança morfológica
No campo da linguística, a morfologia corresponde ao ramo 
responsável pela análise da formação, estrutura e classificação das 
palavras. Nela, os vocábulos são estudados isoladamente, desconsi-
derando sua participação na frase ou período em que estão inseridos.
A morfologia, portanto, dedica-se à investigação da estrutura 
interna das palavras, observando seus componentes (os morfe-
mas) e processos derivacionais (as origens de novos vocábulos) e 
flexionais (aspectos gramaticais como pessoa, tempo, gênero e nú-
mero). As investigações morfológicas também se interessam pela 
gramaticalização, ou seja, o processo pelo qual palavras lexicais 
(itens do vocabulário) são convertidas em elementos gramaticais, 
muitas vezes perdendo sua função lexical totalmente, como no 
caso do tempo futuro em português, em que as desinências núme-
ro-pessoais -ei, -ás, -á, -emos, -eis e -ão, que vêm do verbo haver 
(habere em latim), atualmente não possuem nenhum vínculo em 
seu significado com a da palavra original (“possuir”, “ter”). Nes-
se caso, o processo de gramaticalização esvaziou completamente 
o significado original, deixando apenas a função gramatical de 
indicar o tempo futuro. O fato de as desinências aparecerem na 
Book 1.indb 31 17/11/16 19:14
32
posição de sufixos também é um indício da sua antiguidade, pois 
evoluiu em uma época em que a ordem sintática comum era 
com o verbo em final de frase e qualquer verbo auxiliar devia se-
guir o verbo matriz (Dare habeo = “hei de dar”, “tenho de dar” > 
dar (h)ei = “vou dar”, “darei”). Observe como, em português lite-
rário, as desinências número-pessoais no tempo futuro ainda são 
separáveis (mesóclise), por exemplo, dá-lo-ei, apontando para um 
tempo em que a base e o auxiliar eram unidades independentes, 
conforme as expressões tenho-o visto, quero o ver. Tal inserção de 
pronomes no tempo futuro sintético não é possível em outras lín-
guas neolatinas modernas. Outro caso de gramaticalização em an-
damento nas línguas românicas é o uso do verbo ir como auxiliar 
para expressar o tempo futuro, ou seja, darei, darás, dará etc. – 
substitutos das formas em latim dabo, dabis, dabit etc. – estão 
sendo substituídos por vou dar, vais dar, vai dar etc. No português 
brasileiro, podemos apontar para o uso generalizado do substan-
tivo a gente para expressar a primeira pessoa do plural (nós), ou 
a introdução do pronome você(s) (< vossa(s) mercê(s)) para se 
referir a qualquer segunda pessoa (o antigo tu e vós).
Mudança sintática
A sintaxe, ao contrário da morfologia, analisa as palavras 
como elementos integrantes de uma frase, estudando questões 
referentes à ordem, concordância e subordinação. Um exemplo 
clássico de sintaxe histórica é o estudo da ordem dos integrantes 
de uma sentença. 
Na transição do latim para as línguas românicas, por exem-
plo, os termos em latim apresentam flexão de caso, indicando sua 
função sintática; no entanto, com a perda dessa flexão, aumenta a 
rigidez da ordem, como podemos observar nas línguas românicas. 
Portanto, a sentença em latim Paulum Maria amat (Maria sendo 
sujeito e Paulo objeto) passa para português como “Maria ama 
Paulo”, e qualquer mudança de ordem afeta o significado, diferen-
temente do latim (FARACO, 2005). 
No estudo da sintaxe, a gramaticalização também tem papel 
importante, pois, como vimo na morfologia, ela pode ser defini-
da como um processo de modificação linguística que impacta o 
conteúdo semântico de um vocábulo ou expressão, transformando 
seu elemento lexical (uma palavra) em elemento gramatical (uma 
preposição ou pronome, por exemplo). Um exemplo típico desse 
Gramática histórica da língua inglesa
Book 1.indb 32 17/11/16 19:14
Inglês antigo 33
processo na língua portuguesa é a formação do pronome pessoal 
“você” com base em uma expressão lexical (“Vossa Mercê”). 
Nesse processo de formação, temos ainda a chamada descolo-
ração semântica, que ocorre sempre que um termo ou expressão 
tem seu significado lexical inicial substituído por um significado 
e função gramatical novos; e a redução fonética, responsável pela 
forma reduzida “cê”, frequentemente utilizada em substituição a 
“você” na língua falada. Se a morfologia interessa-se pela gra-
maticalização por ser uma fonte de novos morfemas, para a sin-
taxe é interessante investigar o contexto em que os processos de 
gramaticalização ocorrem, buscando descobrir como a colocação 
particular de uma palavra poderia influenciar na maneira que é 
compreendida pelos falantes, de modo que possa desencadear o 
processo de descoloração semântica.
Mudança lexical e semântico­pragmática
Mudança semântico-pragmática
O campo da semântica compreende o estudo do significado e 
da interpretação do significado de uma palavra, de uma expressão 
ou de uma frase inserida em certo contexto. A semântica, portanto, 
aborda a chamada significação. Tratando-se de linguística históri-
ca, as alterações semânticas são analisadas a partir da palavra, ou 
seja, são entendidas como processos que modificam o significado 
da palavra (FARACO, 2005). 
As diversas taxionomias dessas modificações são, normalmente, 
debatidas em conjunto com as figuras de linguagem, tais como a me-
táfora, a hipérbole e a metonímia. Isso ocorre devido à crença de que, 
como o processo de geração de figuras origina novas significações, 
ele também influencia as mudanças de significado das palavras. 
São estudados na semântica histórica tanto os processos que 
diminuem ou restringem o significado da palavra quanto os que o 
expandem. Segundo Faraco (2005), o uso do termo “arreio” é um 
exemplo do primeiro caso: no português antigo, o vocábulo signifi-
cava todo tipo de enfeite ou adorno; atualmente, porém, representa 
somente as peças destinadas à montaria de cavalos. 
Já o segundo caso é exemplificado pelo termo “revolução”, que 
inicialmente se aplicava apenas ao meio astronômico, significando 
a movimentação cíclica e regular dos corpos celestes. Mais tarde, 
porém, o vocábulo adquiriu um significado de movimento social que 
Book 1.indb 33 17/11/16 19:1434
reestabelece uma ordem prévia, conectando-se ainda com seu signi-
ficado original de ciclo ou volta. Atualmente, o termo “revolução” 
corresponde à aniquilação de uma ordem para a instauração de outra. 
Desse modo, a utilização dos mecanismos da chamada etimo-
logia mostra-se bastante útil. A etimologia é o estudo gramatical 
da origem e da história das palavras, analisando de onde surgiram 
e qual sua evolução ao longo dos anos. Os dicionários etimológi-
cos destinam-se a agrupar os resultados dessas pesquisas.
Cabe destacar ainda o papel da pragmática, geralmente rela-
cionada ao estudo da utilização de elementos linguísticos em com-
paração a suas funções estruturais. Assim, a pragmática histórica 
pode abordar, por exemplo, o emprego do pronome de tratamento 
“você” ao longo do tempo, analisando a quem ele se destinava em 
cada período histórico da língua portuguesa. 
Mudança lexical
Como vimos, todas as áreas de estudo da linguística dedicam-
-se à análise da palavra, seja abordando sua estrutura sonora, na 
fonética e na fonologia; sua constituição interna, na morfologia; 
seu papel integrante em sentenças, na sintaxe; seu significado, na 
semântica; ou sua utilização, na pragmática. Na linguística his-
tórica ocorre o mesmo, com estudos direcionados a cada tipo de 
mudança que uma palavra pode sofrer ao longo do tempo. 
Do mesmo modo, é possível estudar a composição do léxi-
co de uma língua, ou seja, analisar o conjunto de vocábulos que 
os falantes de determinado idioma possuem à disposição para se 
expressar, observando os chamados “empréstimos” ou fluxos de 
termos oriundos de outras línguas. 
Ao abordarmos os aspectos lexicais de uma língua, fica mais 
fácil notar como cultura e linguagem apresentam relações estrei-
tas. Podemos dizer, inclusive, que, por abrigar o acervo de pa-
lavras de determinada língua, o léxico representa o patrimônio 
cultural do povo que o utiliza. 
O inglês antigo
História externa: as migrações germânicas à Grã-
-Bretanha
Por volta de 449 d.C., com o começo da invasão da ilha de 
Grã-Bretanha por tribos germânicas, ocorreu um importantíssimo 
Gramática histórica da língua inglesa
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Inglês antigo 35
marco na história da língua inglesa e da civilização humana em 
geral. Assim, ao longo de aproximadamente um século, bandos 
de conquistadores e colonizadores migraram de sua terra natal, na 
região dos Países Baixos e da Dinamarca, firmando residência nas 
zonas sul e leste da ilha britânica e expandindo gradativamente 
sua ocupação em direção ao norte e oeste. 
Atualmente, embora seja possível compreender como se deu 
esse processo, muitas questões permanecem obscuras, como as 
datas das migrações, sua localização precisa e as tribos germâni-
cas envolvidas nesse processo. 
No ano 731 d.C., a versão oficial da invasão germânica à 
Grã-Bretanha é reportada na obra História Eclesiástica do Povo 
Inglês, do monge inglês Beda. Nela, o autor relata que as tribos 
germânicas que conquistaram a Inglaterra foram os jutos, origi-
nários do norte da península dinamarquesa, os anglos, do sul da 
mesma região, e os saxões, do sul e do oeste da antiga Ânglia, 
atualmente um distrito alemão. Os frísios, que originalmente ocu-
pavam uma estreita faixa ao longo da costa desde a desemboca-
dura do rio Weser, localizado no noroeste da atual Alemanha e 
Holanda, até o Reno, seriam a quarta tribo invasora.
Figura 1.6 Localização original das tribos germânicas que 
invadiram a Inglaterra, de acordo com Beda. 
Fonte: adaptada de Baugh e Cable (1994, p. 46). 
10º L
55º N
JU
TO
S
F
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G
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eser
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ltic
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Book 1.indb 35 17/11/16 19:14
36
A Grã-Bretanha esteve sob ataques saxões desde o século IV 
d.C., até mesmo durante o domínio romano na região. Simul-
taneamente, a região norte da ilha sofria duras investidas dos 
pictos – povo que vivia na Caledônia, região que hoje integra 
a Escócia –, enquanto as forças romanas dominantes faziam o 
possível para defender o território. 
No entanto, com a decadência do Império Romano, os celtas 
não mais eram capazes de conter os pictos. Diante disso, Vortigern, 
líder regional celta, teria feito uma aliança com os jutos, que os 
ajudariam a expulsar os pictos em troca da ilha de Thanet, locali-
zada ao leste de Kent, no sudeste da atual Inglaterra. 
Os jutos, porém, não ficaram satisfeitos com apenas esse ter-
ritório. Percebendo a fragilidade dos bretões, começaram a forçar 
entrada para o sudeste, na região de Kent. A invasão dos jutos foi 
muito diferente do domínio romano anterior. Enquanto os roma-
nos governavam e regravam o povo da região, os jutos tomavam 
suas terras e os expulsavam. As invasões de outras tribos germâ-
nicas, anos mais tarde, seguiriam esse modelo, conforme atesta a 
chamada Crônica Anglo-Saxônica, um conhecido grupo de anais 
em inglês antigo que relatam a história do povo anglo-saxão. 
No contexto linguístico, podemos dizer que o inglês atual é 
resultado da história dos dialetos falados pelas tribos germânicas 
que tomaram a Inglaterra no século V. Assim, embora não seja 
possível diferenciar claramente os dialetos dessas tribos na época 
das migrações, por ainda serem ágrafas, podemos presumir, com 
base nas diferenças que posteriormente observamos, que haviam 
poucas divergências entre eles.
Fique atento
Os nomes “English” e “England” 
Os conquistadores germânicos eram chamados indiscriminadamente de “sa-
xões” pelos celtas, talvez devido ao primeiro contato entre eles e um povo 
germânico ter ocorrido com os saxões. Os primeiros escritores latinos tam-
bém costumavam chamar os habitantes da Inglaterra de saxões, nomeando 
sua terra como Saxônia. Porém, não demorou muito para o termo Anglo ser 
implantado ao lado de saxão e Saxônia, representando todas as tribos ger-
mânicas. Esse nome é autóctone, ou seja, deriva da palavra germânica escrita 
Gramática histórica da língua inglesa
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Inglês antigo 37
variavelmente como ænglisc, anglisc, engelisc (em inglês moderno, Angle, 
Anglo, Anglian, English) e que denominava um dos povos que migrou para 
as ilhas Britânicas, os anglos – cuja pátria ancestral foi a região de Angeln 
(alemão) ou angel (dinamarquês), que corresponde ao litoral báltico de 
 Schleswig-Holstein. Em alemão e dinamarquês, eng significa “estreito”, “aper-
tado” (provavelmente uma referência ao estuário do rio Schlei, o significado 
seria algo como “a água estreita”). Alternativamente, pode haver alguma liga-
ção com a palavra “gancho”, “anzol” (em inglês moderno, angling – pesca com 
vara e linha). Independentemente do significado verdadeiro, o termo pode 
ser associado à raiz protoindo-europeu *ang- (dobrado, curvado).
O nome Englisc (English) para a língua inglesa surge mais tarde, mas os ter-
mos correspondentes Angli e Anglia ocorrem em textos latinos da época. Os 
termos englisc e engelcynn (povo anglo/parentes dos anglicanos) passam 
então a ser usados para designar a língua de todas as tribos germânicas inva-
soras. Somente a partir do ano 1.000 o nome Englaland (England), a “terra dos 
anglos”, começa a ser utilizado no sentido de um reino, embora o título latino 
rex anglorum (rei dos anglos) e, subsequentemente, rex totius Britanniae (rei 
de toda Bretanha) foi aplicado aos sucessores de Alfredo Magno, vencedor 
dos vikings.
História interna: a estrutura do inglês antigo
Fonologia
A língua inglesa atual é o resultado de um processo evolutivo 
que perdurou por mais de 15 séculos. O chamado inglês antigo ou 
anglo-saxônico (Old English) foi o inglês escrito e falado do ano 
450 ao ano 1100. Ao estudarmosos aspectos fonológicos de uma 
língua em um período tão distante, resta-nos estabelecer hipóteses 
com base em alguns critérios específicos. 
Após vastos estudos nesse campo, finalmente temos conheci-
mentos acerca da pronúncia da maioria dos sons da época. Desse 
modo, podemos dizer que, caso ainda existisse um anglo-saxão 
daquele tempo, provavelmente seríamos capazes de estabelecer 
alguma forma de comunicação inteligível com ele (CRYSTAL, 
1995, p. 18). 
Ainda de acordo com Crystal (1995), há quatro principais tipos 
de evidências empregados no processo de dedução dos efeitos so-
noros das letras do inglês antigo: 
Book 1.indb 37 17/11/16 19:14
38
1. Lógica alfabética – como possuímos conhecimentos sóli-
dos da pronúncia das letras do alfabeto romano, podemos 
supor que os missionários que as adaptaram ao inglês anti-
go o tenham feito de forma lógica. Assim, a letra m latina, 
por exemplo, seria usada para representar o mesmo som na 
língua inglesa, e letras e símbolos novos somente seriam 
criados caso nenhuma letra latina existente fosse adequada. 
Além disso, ao contrário do inglês moderno, o inglês antigo 
apresenta caráter muito mais “fonético”, quase não existindo 
as chamadas letras mudas.
2. Reconstrução comparativa – podemos estabelecer uma re-
construção do âmbito sonoro do inglês antigo por meio de 
comparações com o inglês moderno (a língua padrão ou os 
dialetos regionais) e/ou os dialetos medievais. 
3. Mudanças fônicas – ao analisarmos as mudanças sonoras 
que ocorrem conforme as línguas evoluem, podemos deter-
minar como elas devem ter acontecido. O pronome atual 
“it”, por exemplo, equivale a “hit” no inglês antigo. Ou 
seja, se o h era pronunciado, então houve posteriormente 
uma mudança sonora na língua, com a supressão do mes-
mo. Considerando que a extração do h em pronomes ainda é 
um fenômeno frequente na língua inglesa, essa teoria parece 
bastante razoável. 
4. Evidência poética – a forma como poetas criam rimas é um 
importante indício da estrutura sonora de uma língua. 
Morfologia, sintaxe e léxico
No inglês antigo, de modo similar ao latim, o sistema de fle-
xões nominais ou declinação apresenta três categorias: gênero, 
número e caso. No entanto, essas três categorias são representadas 
simultaneamente por uma mesma forma nominal.
1. Gênero – no inglês antigo temos os gêneros masculino, fe-
minino e neutro. Este último é empregado para palavras que 
não são nem masculinas nem femininas. Cabe destacar, po-
rém, que o gênero natural, fundamentado nas diferenças de 
sexo, nem sempre equivale ao gênero gramatical. Assim, os 
vocábulos wif (mulher), maegden (menina) e cild (criança), 
contrariando expectativas, são neutros.
Gramática histórica da língua inglesa
Book 1.indb 38 17/11/16 19:14
Inglês antigo 39
2. Número – assim como no inglês moderno, o inglês antigo 
apresenta somente dois números: o singular e o plural.
3. Caso – ao contrário do inglês moderno, em que palavras 
como os substantivos mostram variações em seu final (desi-
nências nominais) para indicar somente aspectos de número 
e gênero, os substantivo, adjetivos e pronomes no inglês an-
tigo demonstram já nas desinências a função que desempe-
nham no período. Caso é o nome dado à forma tomada por 
um termo declinável para demonstrar com precisão a função 
sintática que desempenha na frase. Temos no inglês antigo 
quatro casos:
1. Nominativo – é o caso do sujeito.
2. Genitivo – trata-se principalmente do complemento ter-
minativo do nome, que apresenta como principal função 
indicar posse.
3. Dativo – representa atribuição, indicando o sujeito ou 
“coisa” a quem um objeto se destina, ou em benefício 
de quem se realiza algo. Sua principal utilização é como 
indicativo da função de objeto ou complemento indireto 
de orações.
4. Acusativo – a principal função do acusativo é a indica-
ção do objeto ou complemento direto do verbo. 
Portanto, um substantivo típico em inglês antigo apresenta um 
paradigma (quadro) de casos do seguinte tipo: 
Inglês antigo Alemão moderno
Nom., se cyning “o rei” (sujeito) der Bär, der Mann “o urso”, “o homem”
Acu., þone cyning “o rei” (objeto direto) den Bären, den Mann etc.
Gen., þæs cyningas “do rei” (possessivo) des Bären, des Mannes
Dat., þam cyninge (“ao/pelo/no rei”) dem Bären, dem Mann(e)
Ainda em relação aos substantivos, no inglês antigo eles eram 
classificados como fortes e fracos, como ainda existe em alguns 
substantivos no alemão moderno, por exemplo, der Bär “o urso” 
acima. Assim, enquanto os chamados substantivos fracos tinham 
terminações mais uniformes, os substantivos fortes apresentavam 
formas mais variáveis.
Book 1.indb 39 17/11/16 19:14
40
Substantivo fraco Substantivo forte
“nome” (masc.) “pedra” (masc.) “barco” (neut.) “palavra” (neut.)
Sg. Nom., nama stan scip word
 Acu., naman stan scip word
 Gen., naman stanes scipes wordes
 Dat., naman stane scipe worde
Pl. Nom., nama stanas scipu word
 Acu., naman stanas scipu word
 Gen., namena stana scipa worda
 Dat., namum stanum scipum wordum
Fonte: Mitchell e Robinson (1989, p. 19, 22-23).
Quase todos os adjetivos em inglês antigo também eram di-
vididos em duas classes de fortes e fracos. A distinção era se 
o adjetivo era empregado sozinho, de forma predicativa, por 
exemplo, “o homem é velho” = Se mann is eald, ou se qualifi-
cava o substantivo sem artigo, nem demonstrativo, por exem-
plo, “homens velhos” = ealde menn. Esses usos pediam a forma 
“forte” do adjetivo. A forma “fraca” era usada quando o ad-
jetivo seguia algum demonstrativo ou artigo, por exemplo, se 
 ealda mann “esse homem velho”, ou um adjetivo possessivo, 
por exemplo, min ealda freond “meu velho amigo”. Basica-
mente, as formas fortes podem aparecer sozinhas enquanto as 
formas fracas precisam de alguma outra palavra para dar apoio 
(MITCHELL; ROBINSON, 1989, p. 30-31). As diferenças en-
tre os dois paradigmas são exemplificadas a seguir, com a pa-
lavra tila “bom”:
Declinação fraca de adjetivos:
Singular Plural
Caso Masculino Feminino Neutro (todos os gêneros)
Nom., se tila mann seo tile giefu þat tile scip þa tilan menn, giefa, scipu
Acu., þone tilan mann þa tile giefe þat tilan scip þa tilan menn, giefa, scipu
Gen., þæs tilan mannes þære tilan giefe þæs tilan scipes þæra tilra, manna, giefena, scipa
Dat., þæm tilan manne þære tilan giefa þæm tilan scipe þæm tilum mannum, giefum, scipum
Gramática histórica da língua inglesa
Book 1.indb 40 17/11/16 19:14
Inglês antigo 41
Se mann “o homem”, seo giefu “o presente”, þæt scip “o 
barco”.
Declinação forte de adjetivos:
Singular Plural
Caso Masculino Feminino Neutro Masculino Feminino Neutro
Nom., til mann tilu giefu til scip tile menn tile giefa tilu scipu
Acu., tilne mann tile giefe til scip tile menn tile giefa tilu scipu
Gen., tiles mannes tilre giefe tiles scipes tilra manna tilra giefena tilra scipa
Dat., tilum manne tilre giefa tilum scipe tilum mannum tilum giefum tilu scipum
Observe: Se mann is til “o homem é bom”, seo giefa is tilu “o 
presente é bom”, þæt scip is tilu “o barco é bom”.
Já quanto à sintaxe dos adjetivos, preposições e artigos, esses 
elementos gramaticais no inglês antigo eram empregados de modo 
bastante similar ao inglês moderno. Como ocorre atualmente, por-
tanto, eles em geral são inseridos antes do substantivo. A principal 
diferença está relacionada ao uso dos verbos, que frequentemente 
apareciam antes do sujeito ou no final da oração, diferentemente 
do que observamos hoje. 
Semelhante aos verbos na língua moderna, o inglês anti-
go já exibia as classes fortes e fracas. O primeiro conjunto mo-
difica a vogal do radical para indicar diferenças de tempo e/ou 
pessoa, por exemplo, infinitivo/presente do indicativo: strive – 
pretérito perfeito: strove – particípio:striven (“esforçar-se”, 
“esforça-se” – “esforçou-se” – “esforçado”), sing – sang – sung 
(“cantar/canta” – “cantou” – “cantado”. A segunda classe marca 
o pretérito e o particípio por um sufixo que contém uma oclusi-
va dental, por exemplo, dance – danced – danced (“dançar/dan-
ça” – “dançou” – “dançado”), laugh – laughed – laughed (“rir/
ri” – “riu” – “rido”), scrub – scrubbed – scrubbed (“esfregar/
esfrega” – “esfregou” – “esfregado”), hum – hummed – hum-
med (“zumbar/zumba” – “zumbou” – “zumbado”). Observe que 
a pronúncia do sufixo escrito <-ed> muda de acordo com o vo-
zeamento da última consoante do radical: [dans-], [laf-] + [-t], 
[skrʌb-], [hʌm-] + [-d], ou seja, vozeado com vozeado e des-
vozeado com desvozeado. Quando o radical termina em uma 
vogal, a consoante do sufixo é [-d], por exemplo, sow – sowed – 
Book 1.indb 41 17/11/16 19:14
42
sowed “semear/semeia” – “semeou” – “semeado”). Quando o 
radical termina em uma consonante dental ([t], [d]), a vogal do 
sufixo é pronunciada (nos demais casos, é muda), ou seja, spot – 
spotted – spotted “localizar visualmente” = [spɒt-] + [-ıd], plot – 
plotted – plotted “tramar” = [plɒt-] + [-ıd], bud – budded – budded 
“brotar” = [bʌd-] + [ıd], skid – skidded – skidded “derrapar”, “es-
corregar” = [skıd-] + [-ıd].
Em inglês antigo, os verbos fortes distinguem sete classes, ba-
seadas no modelo de alternância na vogal radical e um marcador 
no infinitivo (qual vogal e que tipo de consoante):
Classe Infinitivo Marca Sing. do pret. Pl. do pret. Part.
I. scinan [i:] + C scan scinon scinen “brilhar” (shine)
II. creopan [e:ǝ] + C creap crupon cropen “arrastar-se” (creep)
brucan [u] + C breac brucon brucen “disfrutar”
III. bregdan (várias)* brægd brugdon brogden “puxar”
IV. beran [ɛ] + [l, r] bær bæron boren “levar” (bear)
V.
tredan [ɛ] + ocl./
fric.**
træd trædon treden “pisar” (tread)
VI. faran [a] + C for foron faren “ir”
VII. healdan heold heoldon healden “segurar” (hold)
hatan het heton haten “mandar”
* A classe III abrange cinco subtipos: 
1. [ɛ] + C C (bregdan) e – æ – u – o;
2. [eǝ] + [r] + C (weorpan “jogar”), [h] + C (feohtan “brigar”, “lutar”): eo – 
ea – u – o; 
3. [ɛ] + [l] + C (helpan “ajudar”): e – ea – u – o; 
4. C palatal + ie + C C (gieldan “ceder”, “dar”): ie – ea – u – o; 
5. [i] + nasal + C (drincan “beber”): i – a – u – o. 
** Ou seja: [p t k d g] ou [f θ s].
Fonte: baseado em Mitchell e Robinson (1989).
Em VII, o particípio e o infinitivo sempre têm a mesma vogal, 
tal como as duas formas do pretérito – ou eo ou e – que distingue 
os dois subgrupos da classe. 
A conjugação de um verbo forte típico é exemplificada por 
singan “cantar”:
Gramática histórica da língua inglesa
Book 1.indb 42 17/11/16 19:14
Inglês antigo 43
Presente do 
indicativo
Presente do 
subjuntivo
Pretérito do 
indicativo
Pretérito do 
subjuntivo
Sg. 1ª. ic singe singe sang sunge
 2ª. þu singest singe sunge sunge
 3ª. he, heo, hit singeþ singe sang sunge
Pl. 1ª. we singeþ singen sungon sungen
 2ª. ge singeþ singen sungon sungen
 3ª. hie singeþ singen sungon sungen
Sing. do imperativo: sing! Pl. do imperativo: singaþ!
Infinitivo: singan Infinitivo flexionado (“para...”) to 
 singenne
Gerúndio: singende Particípio: (ge-)sungen
Fonte: baseado em Mitchell e Robinson (1989).
Os verbos “fracos” exibem três subgrupos principais. A ter-
ceira classe contém apenas quatro verbos: habban “ter”, libban 
“viver”, secgan “dizer” e hycgan “pensar”. O primeiro subgrupo 
contém duas subclasses. Exemplificamos as três classes maiores 
com fremman “fazer”, lufian “amar” e habban “ter”.
Presente do 
indicativo
Presente do 
subjuntivo
Pretérito do 
indicativo
Pretérito do 
subjuntivo
Sg. 1ª. ic fremme fremme fremede fremede
 2ª. þu fremest fremme fremede fremede
 3ª. he, heo, hit fremeþ fremme fremede fremede
Pl. 1ª. we fremmaþ fremmen fremedon fremeden
 2ª. ge fremmaþ fremmen fremedon fremeden
 3ª. hie fremmaþ fremmen fremedon fremeden
Sing. do imperativo: freme! Pl. do imperativo: fremmaþ!
Infinitivo: fremman Infinitivo flexionado (“para...”) 
 to fremmenne
Gerúndio: fremmende Particípio: (ge-)fremed
Fonte: baseado em Mitchell e Robinson (1989).
Book 1.indb 43 17/11/16 19:14
44
Presente do 
indicativo
Presente do 
subjuntivo
Pretérito do 
indicativo
Pretérito do 
subjuntivo
Sg. 1ª. ic lufie lufie lufode lufode
 2ª. þu lufast lufie lufodest lufode
 3ª. he, heo, hit lufaþ lufie lufode lufode
Pl. 1ª. we lufiaþ lufien lufodon lufoden
 2ª. ge lufiaþ lufien lufodon lufoden
 3ª. hie lufiaþ lufien lufodon lufoden
Sing. do imperativo: lufa! Pl. do imperativo: lufiaþ!
Infinitivo: lufian	 Infinitivo flexionado (“para...”) 
 to	lufienne
Gerúndio: lufiende Particípio: (ge-)lufod
Fonte: baseado em Mitchell e Robinson (1989).
Presente do 
indicativo
Presente do 
subjuntivo
Pretérito do 
indicativo
Pretérito do 
subjuntivo
Sg. 1ª. ic hæbbe hæbbe hæf(e)de hæf(e)de
 2ª. þu hæf(a)st hæbbe hæf(e)dest hæf(e)de
 3ª. he, heo, hit hæfþ hæbbe hæf(e)de hæf(e)de
Pl. 1ª. we habbaþ hæbben haf(e)don hæf(e)den
 2ª. ge habbaþ hæbben haf(e)don hæf(e)den
 3ª. hie habbaþ hæbben haf(e)don hæf(e)den
Sing. do imperativo: hafa! Pl. do imperativo: hafaþ!
Infinitivo: habban Infinitivo flexionado (“para...”) 
 to habbenne
Gerúndio: habbande Particípio: (ge-)hafed
Fonte: baseado em Mitchell e Robinson (1989).
Léxico
O vocabulário do inglês antigo, a princípio, era estreitamente 
relacionado às línguas germânicas, com poucas interferências de 
outros idiomas. A grande quantidade de termos normandos que 
hoje integram o vocabulário inglês, por exemplo, não era empre-
gada naquela época. 
Gramática histórica da língua inglesa
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Inglês antigo 45
Por outro lado, mais de mil vocábulos anglo-saxões sumiram 
do vocabulário do inglês antigo após a conquista normanda da 
Inglaterra, no século XI. Entre os termos sobreviventes, no entan-
to, alguns mudaram tão pouco ao longo do tempo que quase não 
diferem de suas formas atuais, como mann (man (homem)) e cild 
(child (criança)). 
O inglês antigo é caracterizado por sua flexibilidade, ou seja, 
sua capacidade de dar novos sentidos a palavras já existentes. Por 
meio da inclusão de prefixos e sufixos, era comum a formação de 
uma grande quantidade de termos derivados. Um exemplo típi-
co desse processo é o vocábulo “mood” (humor), que no inglês 
antigo significava “coração”, “espírito”, “coragem” ou “orgu-
lho”. Ao adicionar o sufixo -ig, era formado o adjetivo “modig” 
(em inglês moderno, moody (mal-humorado)), relacionado a 
uma série de atributos como animado, altivo, arrogante. Com o 
emprego de outros sufixos, formou-se o advérbio “ modiglice” 
(orgulhosamente) (em inglês moderno, moodily (“mal humora-
damente”)) e o substantivo “modignes”, significando “orgulho” 
ou “magnanimidade” (em inglês moderno, moodiness (mau hu-
mor)). Diferentemente do inglês moderno, que tende a assimilar 
ou importar elementos de outras línguas (especialmente o fran-
cês, o grego e o latim), o inglês antigo baseia-se em sua capaci-
dade de derivação e formação de palavras. 
Os dialetos anglo-saxões
O inglês antigo não era uma língua uniforme, apresentando diver-
gências relevantes entre as várias regiões da Grã-Bretanha. Existiam 
quatro dialetos principais na época: o nortúmbrio (Northumbrian), 
o saxão ocidental (West Saxon), o kentiano (Kentish) e o mércio 
( Mercian). O nortúmbrio e o mércio estavam presentes ao norte do 
rio Tâmisa, trazidos pelos anglos. Esses dialetos apresentam carac-
terísticas em comum, sendo conhecidos em conjunto como Anglian.
No entanto, o nortúmbrio, falado ao norte do Humber, e o mér-
cio, empregado entre o Tâmisa e oHumber, possuem algumas di-
ferenças significativas. Acredita-se que os dialetos já mostrassem 
tais divergências antes da invasão germânica, mas muitos aspec-
tos parecem ter evoluído já na Inglaterra.
Contudo, a expansão do reino Saxão Ocidental colocou o dia-
leto homônimo em destaque, desenvolvendo uma variedade es-
crita bastante padronizada e, pela quantidade de material escrito 
Book 1.indb 45 17/11/16 19:14
46
nesse dialeto, tornando-o a principal referência no estudo do in-
glês antigo. Esse domínio perduraria até a conquista normanda da 
Inglaterra, no século XI.
Figura 1.7 Os dialetos do inglês antigo.
Fonte: adaptada de Baugh e Cable (1994, p. 52).
R
io
 S
ev
er
n
0º
55º N
OCEANO
ATLÂNTICO
Mar
do Norte
Mar
da
Irlanda
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B
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K E N T I A N O
M É R C I O
Variação linguística
É sabido que a comunicação frequente entre pessoas que falam 
uma mesma língua gera um efeito de uniformização da mesma, ou 
seja, determinado padrão oral é negociado informal e inconscien-
temente entre os participantes que se sobrepõem às diferenças de 
fala individuais existentes, em uma tentativa de facilitar a inter-
compreensão (assimilação). No nível de uma comunidade linguís-
tica, pressões sociais regulam a constituição das normas, também 
favorecendo certa uniformidade. Quando há uma separação en-
tre duas comunidades, porém, esse quadro muda e observa-se o 
Gramática histórica da língua inglesa
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Inglês antigo 47
crescimento de divergências na língua, já que cada grupo tende a 
obedecer suas próprias normas.
Nesses casos, o grau de afastamento entre as comunidades ge-
ralmente é proporcional à variação linguística observada; assim, 
separações sutis levam a diferenciações igualmente suaves, ge-
rando somente dialetos locais. Por outro lado, afastamentos mais 
consideráveis, sendo eles geográficos ou sociais – por exemplo, 
classes, castas –, podem tornar a variedade de uma comunidade 
praticamente ou totalmente incompreensível à outra, situação pro-
totípica que caracteriza o surgimento de línguas diferentes.
No entanto, mesmo quando há a criação de outra língua, nor-
malmente é possível identificar aspectos remanescentes entre as 
línguas separadas, o que configura um forte indicativo de uma 
união passada. A relação entre o inglês e o alemão é um exemplo 
desse processo; ao compararmos vocábulos como Wasser (alemão, 
água) e water (inglês, água), Brot (alemão, pão) e bread (inglês, 
pão) ou Milch (alemão, leite) e milk (inglês, leite), entre tantos 
outros, não restam dúvidas quanto ao parentesco entre as línguas.
Processo semelhante pode ser verificado entre a língua inglesa 
e o latim: father (inglês, pai) e pater (latim, pai), brother (inglês, 
irmão) e frater (latim, irmão). As correlações nesses casos não são 
tão evidentes p:f, t:ð (< θ / V__V); b:f, ʌ:a, t:ð, r:r etc., mas cedem 
ao método comparativo. Uma cadeia de comparações muito mais 
extensa envolve várias línguas europeias, o que nos leva à con-
clusão de que grande parte dos idiomas europeus e mesmo alguns 
asiáticos já foram uma só língua:
Sânscrito Grego Gótico Alemão Holandês Inglês
Pitar (pai) Patêr (pai) Fadar (pai) Vater (pai) Vader (pai) Father (pai)
A formação de dialetos
Como aprendemos, o processo de invasão de povos germâni-
cos à Grã-Bretanha provocou diversas transformações, trazendo 
também uma série de novos dialetos de uma nova língua, os quais, 
juntos, seriam marcantes na formação da língua inglesa.
A maior parte da estrutura conhecida do inglês antigo encon-
tra-se escrita no dialeto West Saxon ou saxão ocidental, conse-
quência da grande influência dessa região no século X. Outros 
dialetos da época, ao contrário, apresentam poucos textos dispersos 
Book 1.indb 47 17/11/16 19:14
48
encontrados até hoje. Apesar disso, aspectos peculiares de cada um 
desses dialetos possibilitaram que os estudiosos de linguística os 
identificassem e apontassem suas principais características, como 
veremos a seguir.
West Saxon
De acordo com Brook (1963 [1972]), o domínio do dialeto 
West Saxon ou saxão ocidental na Grã-Bretanha era tamanho que 
há mais trabalhos escritos nele do que em todos os demais juntos. 
Seus principais autores foram o rei Alfredo e o abade Ælfric, os 
quais deixaram trabalhos marcantes da época como Cura Pasto-
ralis e História do Mundo, de Paulo Orosius (traduzido pelo rei 
Alfredo), além de homilias e uma gramática (pelo abade Ælfric).
Ainda segundo Brook (1963 [1972]), o dialeto West Saxon ou 
saxão do oeste apresenta as seguintes características principais:
 A utilização de [æ] como uma adaptação da forma do West 
Germanic [ã] a partir do germânico [æ], enquanto a maio-
ria dos outros dialetos passou a representar [æ] como e. Essa 
característica do West Saxon provavelmente já existia antes 
da invasão germânica à Grã-Bretanha, uma vez que o frísio 
antigo também apresenta esse padrão.
 A ditongação de vogais por influência de consoantes palatais 
precedentes. 
 A conversão de [æ] e [io] em [ie]; 
 A ausência de metafonia em vários vocábulos que apresen-
tam tal mudança em outros dialetos, como exemplificado 
pelas formas em West Saxon gebedu (orações) e wita (estu-
diosos), em oposição a gebeodu e wiota nos outros dialetos.
 Síncope na terceira pessoa do singular de verbos no presen-
te do indicativo, ao contrário do que encontramos em outros 
dialetos, em que geralmente palavras terminadas com o sufi-
xo -eð sofrem metafonia e perdem sua vogal temática. Como 
exemplo podemos comparar as formas cīest (chooses (esco-
lha)) e hielt (holds (segura)) do West Saxon com as formas 
cēoseð e haldeð que encontramos em outros dialetos.
Northumbrian
O dialeto nortúmbrio ou Northumbrian perdurou na escrita (os 
dialetos do inglês no norte e da Escócia continuam o nortúmbrio) 
Saiba mais
O conceito de 
metafonia (em alemão, 
Umaut) trata-se da 
anteriorização e do 
alçamento por um 
grau de uma vogal 
pela presença de outra 
vogal alta [i u] na sílaba 
seguinte: [ɑ] > [ɛ], [ɔ] > 
[œ], [o] > [ø] etc.
Gramática histórica da língua inglesa
Book 1.indb 48 17/11/16 19:14
Inglês antigo 49
do final do século VII ao início do século IX, tendo como principal 
autor o monge inglês Beda (672-735). Sua obra História Eclesiás-
tica do Povo Inglês foi um marco na história da literatura anglo-
-saxônica, além de diversos outros trabalhos seus como os versos 
“Canto de Morte de Beda”.
Entre os mais relevantes aspectos do Northumbrian, podemos 
citar:
 A inclusão do */a/ do germânico ocidental precedendo [r] + 
consoante, principalmente quando uma consoante labial ([p], 
[b], [f], [m] ou [w]) precede a vogal ou aparece após o [r].
 Vocábulos iniciados com [w] provocando arredondamento da 
vogal ou do ditongo posterior.
 A supressão do [n] no final de vocábulos, como ocorre em 
bigeonda (beyond (além)) e wosa (to be (ser/estar)), em com-
paração às formas do saxão ocidental bigeondan e wesan 
(BROOK, 1963 [1972], p. 52-53).
Kentish
O dialeto Kentish ou kentiano possui características bastan-
te particulares, embora apresente poucos textos disponíveis para 
estudo. Entre suas principais características podemos relacionar:
 A frequente conversão de y [y] em e [e], como podemos ob-
servar no vocábulo senn (sin (pecado)), empregado em subs-
tituição ao synn geralmente utilizado nos demais dialetos.
 O uso do e destacado da forma <æ>, a qual resulta na mu-
tação do germânico [aj] para a forma [a]. Assim, temos em 
Kentish as formas enig (any (qualquer)) e mest (most (maio-
ria)) em vez de ænig e mæst dos demais dialetos (BROOK, 
1963 [1972], p. 49).
Mercian
O estudo do Mercianou mércio é muito interessante para a 
linguística, considerando que o inglês moderno possui importan-
tes raízes neste dialeto. Assim, apesar de o mércio não apresentar 
rastros históricos tão claros quanto o nortúmbrio, por exemplo, 
podemos identificar como suas principais marcas:
Book 1.indb 49 17/11/16 19:14
50
 A conversão das formas [æ] em [ɛ] e [ɑ] em [æ]. São exem-
plos os vocábulos deg (day (dia)) e dægas (dias), em vez de 
dæg e dagas nos outros dialetos.
 A mutação de [æ] para [æǝ] provocada pela existência de 
uma vogal no final da sílaba seguinte, como podemos obser-
var em featu (vessels ou embarcações) em vez da forma fætu 
dos outros dialetos (BROOK, 1963 [1972], p. 48).
East Anglian
As principais características do East Anglian, o qual abrange 
tanto o dialeto Northumbrian quanto o Mercian, são:
 A utilização de a [a] precedendo l + consoante, seguindo a 
forma do germânico ocidental, enquanto os dialetos Kentish 
e saxão ocidental usam ea [ɛǝ]. Por exemplo, a utilização da 
forma all (todos) em East Anglian, enquanto em outros diale-
tos temos a forma eall.
 A monotongação dos ditongos ea [ɛǝ], eo [eǝ], io [jo], æ [æ] 
para e [e] e i [i], respectivamente, sempre que forem seguidos 
por c [k], g [g] ou h [h, x], se isolados ou precedidos por uma 
consoante líquida (l ou r).
 Tendência a manter a vogal média-baixa arredondada ante-
rior [œ] (pronuncia-se com a língua na posição para [ɛ] (é do 
português), mas com os lábios arredondados também), a qual 
em saxão ocidental ou West Saxon era não arredondada e [ɛ].
 A conservação de -u ou -o como terminações de verbos na pri-
meira pessoa do singular do presente do indicativo (BROOK, 
1963 [1972], p. 44).
Inglês antigo em contato com outras 
línguas
História externa: os reinos anglo-saxões
No começo do século VII, a Inglaterra encontrava-se domi-
nada por sete grandes reinos anglo-saxões: Kent, Sussex (South 
Saxons ou saxões do sul), Wessex (West Saxons ou saxões ociden-
tais), East Anglia (Anglia oriental), Essex (East Saxons ou saxões 
orientais), Mércia e Nortúmbria. Juntos, esses reinos formavam a 
chamada heptarquia.
Gramática histórica da língua inglesa
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Inglês antigo 51
YorkIlha de Man
Anglesey
Isle of Wight
Sancton
Jarrow
B E R N I C I A
D E I R A
ELMET
SUSSEX
MAGON-
SAETE
KENT
ESSEX
WESSEX
LINDSEY
MIDDLE
ANGLIA EASTANGLIA
Monkwearmouth
Crowland
Sutton Hoo
Colchester
Kelvedon
London
Oundle
Cirencester
Gloucester
Bath
Winchester
Glastonbury
CanterburyRochester
Mucking
Yeavering Bamburgh
Lindisfarne
Burgh
CastleCaistor
DU
MN
ON
IA
RHEGED
M
E
R
C
IA
GODODDIN
GWYNEDD
POWYS
DYFED
Rio Tees
Rio
 Tre
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Rio Thames
Rio Tam
ar
Rio Severn
Rio Tyne
Rio Ouse
R
io
 O
us
e
0º
55º N
OCEANO
ATLÂNTICO
Mar
do Norte
Mar
da
Irlanda
Canal 
da Man
cha
Figura 1.8 Reinos anglo-saxões e reinos celtas (em negrito).
Fonte: adaptada de Blair (1984, p. 60).
Além dos grandes reinos, existia uma série de outros reinos 
menores; como o de Surrey, que ficava na região sudeste da In-
glaterra e que, por volta de 670, possuía um “sub-rei” chamado 
Frithuwold. Pelo que se sabe, é provável que seus ancestrais te-
nham sido soberanos de um reino independente, portanto, no 
século VII, possivelmente existiam dúzias de reinos menores à 
margem dos grandes reinos. Os reinos maiores, contudo, não eram 
totalmente independentes. Beda e outras fontes descrevem vários 
outros reis (Bretwaldas ou Brytenwaldas) que sucessivamente do-
minaram a maioria ou todos os povos anglo-saxões.
O contexto político do século VII foi marcado por uma grande 
instabilidade de poder, com inúmeros conflitos entre reinos. Havia 
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52
trocas constantes de reinos dominantes, uma vez que a manuten-
ção do poder conquistado era mais árdua do que a conquista em si. 
Isso ocorria porque manter um reinado exigia forças militares, as 
quais, por sua vez, eram conseguidas por intermédio de riquezas 
obtidas pelo exercício do próprio poder.
Contato com as línguas celtas
A conquista do povo celta da Grã-Bretanha pelos anglo-saxões 
resultou em uma interação entre as línguas; assim, podemos encon-
trar no vocabulário do inglês antigo alguns exemplos de palavras 
que os anglo-saxões adotaram do léxico da população celta nativa.
Apesar da impressão deixada por alguns autores de que os celtas 
haviam sido completamente exterminados, exceto em determinadas 
regiões, muitos deles sobreviveram e foram assimilados pela cultura 
dos invasores. As leis do rei Ine, de Wessex, por exemplo, incluem 
referências ao valor monetário de compensação a pagar para a morte 
ou lesão de diversas classes de pessoas, incluindo nobres e plebeus 
celtas, indicando que ainda existiam comunidades celtas no período 
da Heptarquia. A Crônica Anglo-Saxônica relata uma batalha san-
grenta entre nativos e invasores na região de Pevensey, no sudeste 
da Inglaterra, destacando que nenhum celta sobreviveu ao conflito. 
Apesar disso, um considerável número de populações celtas perma-
neceu por vários séculos na região oeste da Grã-Bretanha, no País de 
Gales, na Cornualha e no noroeste (Cúmbria). Nos dois primeiros, as 
populações se mantêm até hoje; tal fato é corroborado pela existên-
cia de diversas nomenclaturas celtas para as localidades dessas áreas.
Exemplo
Há claras evidências da influência das línguas celtas na formação de nomes de 
localidades na língua inglesa. O reino de Kent, por exemplo, tem seu nome ori-
ginado da palavra celta Canti ou Cantion, de significado desconhecido, mas o 
termo já era atestado entre os romanos. Já os nomes de reinos da Nortúmbria, 
Deira e Bernícia, provavelmente derivam de nomes de tribos celtas.
Além disso, também apresenta origem celta a primeira sílaba de nomes de 
cidades como Winchester, Salisbury, Exeter, Gloucester, Worcester e Lichfield.
O próprio nome da atual capital inglesa Londres (London), embora possua 
origem incerta, provavelmente é originado do vocabulário celta.
Fonte: Pei (1968, p. 24).
Gramática histórica da língua inglesa
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Inglês antigo 53
Além disso, é provável que muitos celtas tenham sido feitos 
escravos pelos invasores saxões ou tenham se casado com pes-
soas do outro povo. Assim, o contato entre celtas e anglo-saxões 
em muitas partes das ilhas britânicas foi frequente e próximo por 
séculos.
Os empréstimos celtas são predominantemente topônimos, 
cuja frequência aumenta de modo considerável quanto mais a 
oeste se vai. No leste, até os topônimos costumam ser de origem 
germânica.
Um aspecto gramatical eventualmente associado às línguas 
celtas é o favorecimento de construções verbais analíticas (peri-
frásticas) com particípios progressivos, por exemplo, be going, 
was eating, could have been seen etc., que diferencia o inglês 
das demais línguas germânicas, as quais não tiveram contato 
com o substrato celta. Apesar disso, segundo Baugh e Cable 
(1994), a maior parte do vocabulário celta não integrou a língua 
inglesa de forma permanente, desaparecendo ao longo do tempo 
ou convertendo-se em meros vocábulos regionais. 
Contato com o latim
Ao contrário da língua celta, o latim não era a língua de um 
povo conquistado, mas de uma civilização altamente conceituada, 
a qual os anglo-saxões admiravam e buscavam imitar. As re-
lações entre os saxões e essa civilização, a princípio somente 
comercial e militar, tornaram-se também intelectual e religiosa, 
prolongando-se por muitos séculos e renovando-se constante-
mente (PEI, 1968).
Essa interação teve início muito antes da chegada dos anglo-
-saxões à Inglaterra, perdurando por todo o período do chamadoinglês antigo. Enquanto as tribos germânicas – que originariam o 
povo inglês – ainda estavam tomando a Grã-Bretanha, elas rela-
cionaram-se constantemente com os romanos, adotando uma série 
de vocábulos latinos. Grande parte do vocabulário latino incorpo-
rado originou-se também do contato com os celtas, povo cujo lé-
xico era fortemente influenciado pelo latim, depois de quase meio 
milênio de subjugação à Roma.
Além disso, mais de um século e meio após a invasão ger-
mânica e com a conversão dos anglo-saxões, o latim tornou-se 
língua litúrgica dessa cultura, gerando uma adesão ainda maior 
a termos latinos no inglês antigo. Vale destacar que a conversão 
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54
dos anglo-saxões ocorreu em duas ondas: inicialmente, por mis-
sionários irlandeses de Iona, em Nortúmbria e, pouco depois, por 
missionários romanos no sul – com destaque para o primeiro mis-
sionário, S. Agostinho de Canterbury, em Kent.
Fique atento
Empréstimos linguísticos do latim no inglês antigo
Ao abordamos a importação de termos latinos para o inglês antigo, devemos 
considerar os seguintes aspectos:
 A predominânica de termos germânicos quanto à religião, a despei-
to da presença do latim entre os religiosos – são exemplos as pala-
vras “halig” (holy (santo)), “hadian” (to ordain (ordenar)) e witega (prophet 
(profeta));
 Resistência à incorporação de palavras latinas quando já existe um 
termo anglo-saxão correspondente – são exemplos da retenção de 
termos latinos as palavras: God e godspell (Gospel (evangelho)) e synn (sin 
(pecado));
 Assimilação total dos vocábulos latinos adotados no inglês antigo – 
são exemplos os vocábulos planta, que origina o verbo plantian (plantar), 
e martyr, do qual se deriva o termo martyrdom (martírio) (PEI, 1968, p. 25).
Contato com o norreno
O norreno ou nórdico antigo é uma língua germânica seten-
trional utilizada por povos escandinavos e suas colônias ao lon-
go da era viking e da Baixa Idade Média Nórdica, no período 
entre 800 e 1300 d.C. O norreno divide-se em três grupos de dia-
letos: o Nórdico Antigo Ocidental, na região da Noruega; o Gút-
nico Antigo, na Gotlândia (sudeste da atual Suécia); e o Nórdico 
Antigo Oriental, abrangendo a Dinamarca e o resto da Suécia.
No final do século VIII, prováveis mudanças políticas ou 
econômicas na região da Escandinávia levaram seu povo a de-
senvolver o gosto pelas viagens de exploração, comércio e pi-
rataria. Com o tempo, porém, jornadas a princípio voltadas à 
pilhagem, converteram-se em colonização e conquistas de ter-
ritórios, promovendo a ocupação e instauração de reinos vikin-
gs na Rússia, Islândia, Groenlândia, Normandia e finalmente na 
própria Inglaterra.
Gramática histórica da língua inglesa
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Inglês antigo 55
Por meio dos ataques dos vikings dinamarqueses – os quais 
perduraram por volta de 200 anos até o domínio da maior parte 
da Inglaterra Oriental –, as ilhas britânicas passavam por sua se-
gunda grande invasão linguística. Aproximadamente mil palavras 
norrenas ou nórdicas foram absorvidas pela língua inglesa (e ain-
da mais nos dialetos setentrionais), com acentuado aumento de 
nomes de localidades de origem escandinava.
De acordo com Crystal (1995), o contato próximo entre os 
anglo-saxões e os dinamarqueses é claramente perceptível quando 
observamos a grande quantidade de empréstimos linguísticos. Ter-
mos comuns no inglês moderno, como get (conseguir), both (am-
bos), give (dar) e same (mesmo), possuem origem escandinava, 
a qual influenciou até mesmo a formação dos pronomes pessoais 
they, them e their, que substituíram as formas inglesas originais.
38
37
45
50
43
47
26
0
12
2
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10 12
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7
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8
5
34
2 1
1
2
22
17
23 31 40
OCEANO
ATLÂNTICO
Mar
do
Norte
Mar
da
Irlanda
Canal 
da Manc
ha
0º
55º N
31 - 50
17 - 26
12 - 14
0 - 10 
Figura 1.9 Distribuição de nomes de famílias inglesas com a terminação -son, como Jackson e 
Davidson. Tais nomes, de origem escandinava, revelam a influência linguística dos vikings dinamarqueses 
na Inglaterra, especialmente nas regiões de Yorkshire e ao norte de Lincolnshire. O mapa indica a 
quantidade de nomes escandinavos diferentes em cada condado inglês.
Fonte: adaptada de Crystal (1995, p. 26).
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56
História externa: os séculos IX e X
As invasões dos vikings
De acordo com a Crônica Anglo-Saxônica, o primeiro ataque 
viking registrado na Grã-Bretanha ocorreu no ano de 793, com a 
pilhagem no mosteiro de Lindisfarne, localizado na costa oeste da 
Escócia, nordeste da Inglaterra, na região que era o reino de Nor-
túmbria. Esse seria o ponto de partida para uma série de ataques 
vikings às ilhas britânicas no século seguinte.
Após um breve período de saques e investidas violentas, os 
 vikings começaram a colonizar as terras inglesas e nelas comerciar. 
Em sua maioria dinamarqueses, chegaram em navios de guerra bem 
construídos e com numerosos exércitos, conquistando quase todos 
os reinos ingleses que eram independentes. No final do século IX, já 
governavam grande parte do território inglês, que ficou conhecido 
como o Danelaw (literalmente, a “Lei dinamarquesa”).
Saiba mais
Danelaw
Consta na Crônica Anglo-Saxônica, Danelaw é o nome histórico dado aos ter-
ritórios britânicos dominados pelas leis dos vikings dinamarqueses (Danes), 
contrastando com a Lei Mércia ou Lei Saxã Ocidental vigente nas demais 
 áreas da Grã-Bretanha. As leis dinamarquesas vigoravam nos reinos de Nor-
túmbria e Ânglia Oriental, e nas terras dos Cinco Burgos de Leicester, Nottin-
gham, Derby, Stamford e Lincoln.
O Danelaw foi concedido aos escandinavos pelo rei Alfredo Magno (também 
conhecido como Alfredo, o Grande) no tratado de Wedmore, após a derro-
ta dos vikings de Guthrum na batalha de Edington em 878, e formalizado 
no “tratado de Alfredo e Guthrum”, em algum momento entre 878 e 890. O 
documento da negociação ainda existe em inglês antigo e em uma versão 
latina posterior, a Quadripartitus, compilado durante o reinado de Henry I 
(1100-1135).
Alfredo (849-899), rei de Wessex, defendeu seu reino contra 
os vikings por meio da construção de várias fortalezas. Seu êxito 
contra as investidas vikings e a reorganização do reino por ele 
liderada lhe outorgaram o epíteto “o Grande”.
Gramática histórica da língua inglesa
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Inglês antigo 57
Os avanços vikings e a ascensão do reino de Wessex
As invasões dos vikings, principalmente do grande exército 
dinamarquês, desestruturaram a geografia social e política da Grã-
-Bretanha e da Irlanda. No entanto, em 878, a famosa vitória do 
rei Alfredo sobre os vikings, em Edington, freou a investida di-
namarquesa. Porém, a Nortúmbria já se tornara um reino viking, 
enquanto a Mércia foi partida ao meio e a Ânglia Oriental já não 
mais era um território político anglo-saxão. Os reinos pictos, es-
coceses (imigrantes do norte da Irlanda que fundaram um reino na 
costa sudoeste da futura Escócia – em latim, os irlandeses eram 
chamados Scotti) e galeses também foram abalados pelos ataques 
vikings, que certamente também contribuíram para a constituição 
do Reino de Alba, que mais tarde formaria a Escócia.
Rio Tees
R
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55º N
OCEANO
ATLÂNTICO
Mar
do
Norte
Mar
da
Irlanda
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da Manc
ha
York
Carlisle
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Ilha de Man
Ilha de Wight
W E S S E X
ÂNGLIA
ORIENTAL
MÉRCIA
INGLESA
Cambridge
Lincoln Fronteira inglesa, 917
Fronteira inglesa, 920
English Frontier, 927
Cedido à Escócia c. 975
ThetfordBedford
London
Cricklade
Buckingham
Gloucester
Tamworth
Chester
Manchester
Dublin
Thelwall
Eddisburg
Runcorn
Stafford
Davenport
Bakewell
Bath
Malmesbury
Wallingfdord
Winchester
Porchester
WarehamExeterLydford
Southhampton
Chichester
Canterbury
Hastings
Maldon
Hertford
Bamburgh
STRATHCLYDE
NORTH
U
M
B
R
IA
LOTHIAN
TERRA DOS
CINCO BURGOS
REINO
DE YORK
Assentamento norueguês
Assentamento dinamarquês
Fronteira do reino de
Guthrum
Figura 1.10 Divisão da Inglaterra no século X.
Fonte: adaptada de Blair (1984, p. 89).
Book 1.indb 57 17/11/16 19:14
58
A tomada da Ânglia Oriental, da Nortúmbria e do noroeste 
da Mércia pelos vikings dinamarqueses resultou em uma série de 
assentamentos vikings nessas regiões. No começo do século X, 
o governo norueguês de Dublin (na Irlanda) passa a administrar 
também o reino dinamarquês de York (na Grã-Bretanha). Esses 
assentamentos dinamarqueses e noruegueses foram influentes o 
bastante para marcar significativamente a língua inglesa, especial-
mente os dialetos falados nas regiões de maior população escan-
dinava. Assim, embora a vasta maioria dos cem vocábulos mais 
utilizados no inglês atual seja derivada do inglês antigo, diversas 
palavras essenciais da língua inglesa moderna são originárias do 
nórdico antigo. Ademais, vários nomes de localidades em zonas 
de colonização viking apresentam origem escandinava.
No ano de 899, já no fim do reinado de Alfredo, ele era o úl-
timo soberano inglês remanescente. Sob seu comando, a Mércia 
foi incorporada aos domínios de Wessex, sendo governada por seu 
genro Æthelred. A região da Cornualha, localizada ao extremo 
sudoeste da Inglaterra, também foi dominada por Wessex, assim 
como os reinos galeses, que, embora independentes em termos 
práticos, reconheceram Alfredo como seu soberano.
A consolidação do reino de Inglaterra
Ainda durante o reinado de Alfredo, o Grande, os anglo-
-saxões de Wessex foram lentamente ampliando seus domínios, 
reconquistando os terrenos perdidos para os vikings dinamar-
queses. Essa trajetória de expansão foi, portanto, iniciada pelo 
rei Alfredo, que passou a acumular os títulos de rei de Wessex 
e rei dos Anglo-Saxões.
A unificação de todas as terras anglo-saxônicas, contudo, ainda 
estava apenas começando. Com a morte do rei Alfredo, em 899, seu 
filho Edward, o Velho (870-924), foi coroado e prosseguiu com a 
dura missão de unir os territórios sob domínio escandinavo à coroa 
de Wessex, conquistando as Midlands Orientais e a Ânglia Orien-
tal dos dinamarqueses, no ano de 917, e tornando-se o primeiro a 
finalmente derrotar os escandinavos do Danelaw. Em 918, após a 
morte da irmã de Edward, Etelfleda, ele passou a reinar também 
sobre a Mércia, encerrando a independência nominal desse reino.
Com a morte de Edward, Athelstan (895-939), seu filho, assu-
miu o trono e conquistou, em seguida, o último reduto dinamarquês 
Gramática histórica da língua inglesa
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Inglês antigo 59
na Nortúmbria, York. Dessa maneira, Athelstan tornou-se o pri-
meiro rei anglo-saxão de todo o território inglês, no ano de 927.
Dessa forma, o sonho de Alfredo, o Grande, se concretizou, e 
Athelstan recebeu o título de rei dos Ingleses. Com isso, a terra 
dos anglos (Engla land, em inglês antigo) finalmente fora unifica-
da politicamente sob um único rei.
Fontes textuais
Beowulf
De autoria desconhecida e criado entre os séculos VIII e IX da 
era cristã – apesar de já ser recitado pelos menestréis da Idade Mé-
dia desde o século VII –, Beowulf é o mais antigo texto conhecido 
da literatura anglo-saxônica.
Esse poema épico passa-se na Escandinávia do século VI, 
apresentando várias alusões a outras lendas e heróis das crenças 
das tribos germânicas. Não há fatos que comprovem a real exis-
tência do personagem principal, o príncipe Beowulf, apesar de 
alguns eventos relatados possuírem comprovação histórica.
Dividido em duas partes, o poema conta com mais de três mil 
versos, começando pela narração de como Beowulf, príncipe sue-
co e herói da tribo dos gautas, vai ao socorro do rei da Dinamarca, 
cujo reino se encontrava ameaçado pelo demônio Grendel. Com a 
ajuda de seus companheiros, Beowulf vence Grendel e, posterior-
mente, a mãe de Grendel, que tentara se vingar da morte do filho.
Na segunda parte, Beowulf, após um reinado tranquilo de cin-
quenta anos em sua terra natal, trava sua última batalha contra um 
dragão que ameaça seu reino. Mesmo sendo capaz de derrotá-lo, 
a vitória custa-lhe a vida.
O único manuscrito conhecido de Beowulf data do século VI, 
porém há evidências de que o texto original já existia anterior-
mente. Como outros poemas anglo-saxões, Beowulf não utiliza 
rimas, estando escrito em versos aliterativos, nos quais a primeira 
metade de cada verso se relaciona à segunda metade por sílabas 
de som semelhante. Outro atributo interessante do poema é o uso 
de kennings, figura de linguagem que consiste na utilização de re-
ferências poéticas compostas em lugar do nome habitual de indi-
víduos ou coisas. É um exemplo típico de kenning a representação 
do mar como “caminho da baleia”.
Book 1.indb 59 17/11/16 19:14
60
De acordo com Mitchell et al. (apud MITCHELL; ROBIN-
SON, 1989, p. 267), o poema Beowulf representa uma sólida de-
monstração do poder e da variedade da poesia no inglês antigo, 
expondo narrações sobre temas como o valor da batalha, reflexões 
sobre o homem e seu mundo e um claro senso da transitoriedade 
das coisas.
The Dream of the Rood
Provavelmente escrito em meados do século VIII, The Dream 
of the Rood (O Sonho do Crucifixo) é o primeiro poema da língua 
inglesa relacionado a sonhos e um dos documentos centrais da lite-
ratura do inglês antigo. Atualmente, o poema existe em sua forma 
mais completa no Livro Vercelli, um manuscrito de poesia e prosa do 
inglês antigo datado da segunda metade do século X.
O poema é dividido em três partes principais: o relato do so-
nhador de sua visão da cruz, o monólogo da cruz descrevendo o 
processo de crucificação e a resolução do sonhador de buscar a 
salvação da cruz.
Os monólogos e subsequentes diálogos de dois personagens – 
o sonhador e o crucifixo – desenham o quadro do poema. De-
ve-se observar, ainda, a capacidade do poeta de The Dream of 
the Rood de utilizar novos vocábulos e frases para descrever as 
características de Cristo, de Deus e da cruz. Assim, além de um 
dos personagens do poema ser um objeto inanimado, a atribuição 
de personalidade e poder de oratória ao crucifixo diferencia The 
 Dream of the Rood dos demais poemas da época.
The Anglo-Saxon Chronicle
A Crônica Anglo-Saxônica ou Crônica Anglo-Saxã (Anglo-
-Saxon Chronicle) é uma coletânea de anais escritos em inglês 
antigo que relata a saga do povo anglo-saxão. Seu manuscrito ori-
ginal foi provavelmente redigido em Wessex, no final do século 
IX, durante o reinado de Alfredo, o Grande. Foram feitas várias 
cópias da obra original, as quais foram entregues em monastérios 
ingleses e constantemente atualizadas de forma independente.
Há nove manuscritos dessa obra conservados inteira ou par-
cialmente, embora nem todos apresentem a versão original. En-
quanto o mais antigo deles foi produzido ainda no final do reinado 
de Alfredo, o mais recente foi elaborado em 1116, no monastério 
Gramática histórica da língua inglesa
Book 1.indb 60 17/11/16 19:14
Inglês antigo 61
de Peterborough (Peterborough Abbey), após um incêndio ter des-
truído o acervo local.
A maior parte do conteúdo da Crônica encontra-se no formato 
de anuário, sendo o primeiro registro do ano de 60 d.C. A narração 
dessa obra mostra-se bastante parcial, uma vez que se percebem 
omissões e contradições por parte dos escribas. Apesar disso, a 
Crônica é omais importante documento histórico desse período in-
glês, descrevendo os acontecimentos desde a evasão dos romanos 
até as décadas da conquista normanda e fornecendo informações 
exclusivas da época. Esses manuscritos são fontes inestimáveis 
da história da língua inglesa; o manuscrito de Peterborough, por 
exemplo, é um dos representantes pioneiros do chamado inglês 
médio (Middle English).
Atualmente, sete dos nove manuscritos e fragmentos remanes-
centes estão localizados na Biblioteca Britânica (British Library), 
enquanto os outros dois estão na Biblioteca Parker da Universidade 
Corpus Christi, em Cambridge, e na Biblioteca Bodleian, em Oxford.
Beda, Historia Ecclesiastica Gentis Anglorum
Grande parte do que hoje sabemos a respeito da história inglesa 
antes do século VIII fundamenta-se na obra Historia Ecclesiastica 
Gentis Anglorum (História Eclesiástica do povo inglês), do mon-
ge Beda (673-735); primeira narrativa inglesa que aborda, até 731, 
o período da ocupação romana.
Nessas crônicas, Beda descreve o plano do Papa Gregório 
 Magno de liderar a missão religiosa de conversão dos anglo-saxões, 
mas terminou optando por enviar Santo Agostinho (de Canterbury, 
não de Hipona). Os textos de Beda dimensionam o efeito do cristia-
nismo nos infiéis, relatando também o encontro entre o inglês anti-
go e o latim. Além disso, o Historia Ecclesiastica Gentis Anglorum 
foi o primeiro livro a apresentar notas de rodapé.
Outro aspecto valioso dessa obra são as informações de figuras 
políticas e eventos da história anglo-saxônica, obtidas por Beda 
de consultas em monastérios, Igrejas e registros dos governos da 
época. O monge presta atenção especial aos conflitos entre cris-
tãos romanos e celtas, além das datas e localidades de eventos 
importantes no calendário cristão. No ano de 1899, Beda foi cano-
nizado, sendo atualmente conhecido como São Beda, o Venerável 
(Saint Bede, the Venerable).
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62
1. Explique o conceito de plenitude estrutural 
ou potencial semiótico.
2. O que era a linguagem protoindo-europeia?
3. Quem foi August Schleicher e qual foi sua im-
portância no campo da linguística?
4. Qual é a utilidade do método de reconstru-
ção comparada?
5. O que é uma protolíngua?
6. Explique a chamada Lei de Grimm.
7. Qual era a formação da família indo-europeia?
8. Como podemos classificar as línguas germânicas?
9. Diferencie história interna de história externa.
10. De acordo com Faraco, como é possível con-
jugar a história interna e a história externa de 
uma língua?
11. Quais são as diferenças entre fonética e fono-
logia?
12. Qual é o papel da morfologia na área da lin-
guística?
13. O que é gramaticalização?
14. Defina descoloração semântica.
15. Conceitue etimologia.
16. O que representa o léxico de uma língua?
17. Quais tribos germânicas conquistaram a 
Inglaterra, de acordo com a obra História 
Eclesiástica do povo inglês?
18. Por que a chegada dos jutos à Inglaterra foi 
diferente do governo romano anterior?
19. Como era o vocabulário do inglês antigo?
20. Como podemos deduzir os efeitos sonoros 
das letras do inglês antigo, de acordo com 
Crystal (1995)?
21. Quais gêneros existem na declinação do in-
glês antigo?
22. Quais eram os quatro principais dialetos an-
glo-saxões?
23. Quais eram as mais importantes característi-
cas do dialeto West Saxon?
24. Cite os principais aspectos relativos ao dialeto 
Northumbrian.
25. Quais reinos anglo-saxões constituíram a co-
nhecida heptarquia?
26. O que era o chamado Danelaw?
27. Qual era a realidade política na Grã-Bretanha 
ao longo do século VII?
28. Descreva a influência das línguas celtas e do 
latim na formação do inglês antigo, diferen-
ciando-os.
29. Qual foi o primeiro ataque viking registrado 
na Grã-Bretanha?
30. Quem foi Alfredo, o Grande?
31. Quem foi Athelstan e qual foi sua relação com 
o processo de unificação da Inglaterra?
32. Explique a estrutura de The Dream of the Rood, 
distinguindo-o dos outros poemas da época.
33. Qual foi a importância da obra História 
Eclesiástica do povo inglês para os estudos 
histórico-linguísticos?
Exercícios de fixação
Gramática histórica da língua inglesa
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Inglês antigo 63
Diferenças entre linguagem, línguas e dialetos
Em português, há distinção entre linguagem, lín-
guas e dialetos. Possivelmente você já deve ter ouvi-
do falar sobre os três termos, não é mesmo? São três 
palavras distintas que cumprem uma mesma fina-
lidade: promover a comunicação entre os falantes.
Contudo, embora linguagem, língua, idioma e dia-
leto sejam termos corriqueiros, os sociolinguistas, 
aqueles que estudam a relação entre a língua e 
a sociedade, tendem a evitá-los, já que, especial-
mente linguagem, língua e dialeto, pressupõem 
algumas relações hierárquicas que carecem de 
bons fundamentos científicos, e seu uso quotidia-
no pode causar mal-entendidos. 
Linguagem
Para os linguistas, a linguagem é a faculdade ge-
nérica e inata que todo ser humano possui para 
aprender alguma língua ou algumas línguas nati-
vamente. Tal capacidade é específica à nossa espé-
cie, uma herança genética que possibilita qualquer 
criança a adquirir qualquer língua natural apenas 
por exposição a pessoas falando-a, sem nenhuma 
instrução formal. Por mais que um filhote de gato, 
cachorro ou papagaio conviva com seres huma-
nos, embora possa aprender a reconhecer diversas 
palavras e expressões (e até enunciar algumas, no 
caso do papagaio), ele nunca aprenderá a dominar 
a língua dos donos da mesma maneira que uma 
criança se tornar um falante nativo, capaz de pro-
duzir sentenças inteiramente originais, nunca an-
tes ouvidas, e de interpretá-las.
Língua 
Uma língua é uma manifestação da Linguagem. Não 
podemos acessar a Linguagem, nossa capacidade 
linguística geral, de forma direta, pois ela sempre é 
veiculada em alguma língua específica, adquirida 
pelos indivíduos no processo de aquisição da língua 
materna. A língua é, sobretudo, um instrumento re-
lacional que estrutura o sistema de comunicação 
de algum grupo e possibilita a formação de signos 
linguísticos (morfemas, palavras, frases e sentenças), 
e permite a transmissão de mensagens entre indiví-
duos (codificação e descodificação de significado), 
que é a sua maior finalidade. Ou seja, uma língua é 
um “princípio estruturador” ou, em outras palavras, 
é uma certa organização de conceitos, do sistema 
sonoro e dos elementos gramaticais que é com-
partilhada pelos membros de determinado grupo 
social por terem-na aprendido. Os falantes de uma 
língua servem-se dela para estabelecer interações 
com a sociedade em que vivem.
Quando dizemos que a língua é um instrumento 
do povo, dizemos que, embora existam normas 
gramaticais, de significado e de pronúncia (as 
normas reais reveladas nas práticas linguísticas 
cotidianas da comunidade de falantes nativos, 
não as normas prescritivas da gramática tradi-
cional), cada falante desenvolve uma forma de 
expressão própria, originando aquilo que cha-
mamos de fala. No entanto, qualquer fala, em-
bora possa ser individual, distintiva e criativa, é 
regida sempre por regras maiores e mais gerais 
(as normas da língua). Caso contrário, cada um 
de nós acabaria criando sua própria língua, o 
que impossibilitaria a comunicação, porque nin-
guém compartilharia as normas para decifrar as 
mensagens transmitidas. Na fala encontramos 
muitas variações linguísticas, que jamais devem 
ser vistas como transgressões, mas como prova 
de que a língua é viva e dinâmica, a não ser que as 
variantes consideradas “erradas” ocorram na bocaPanorama
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64
de falantes não nativos e jamais seriam aceitas e 
entendidas naturalmente pela comunidade de 
falantes maternos (e até variantes não nativas, 
inicialmente consideradas “erradas” pelos falantes 
nativos, podem acabar sendo integradas no siste-
ma de regras da língua do grupo, se as condições 
socioculturais estiverem propícias).
Dialeto
O dialeto é usado tipicamente para se referir à 
variedade de uma língua própria de uma região 
ou território e está relacionado às variações lin-
guísticas encontradas na fala de determinados 
grupos sociais. As variações linguísticas podem ser 
compreendidas a partir da análise de diferentes 
fenômenos: exposição aos saberes convencionais 
(diferentes grupos sociais utilizam a língua de ma-
neiras diferentes e julgam os usos de maneiras di-
ferentes); situação de uso (os falantes adequam-se 
linguisticamente às situações comunicacionais de 
acordo com o nível de formalidade, grau de inti-
midade (variação diafásica), meio de interação, por 
exemplo, escrita versus oral (variação diamésica); e 
contexto sociocultural (gírias e jargões podem di-
zer muito sobre grupos específicos formados por 
algum tipo de “simbiose” cultural). A variação de-
corrente de divisões sociais (classes, castas etc.) é 
chamada de diastrática, a decorrente de variação 
geográfica, diatópica, e as decorrentes de fatores 
cronológicos são as diacrônicas.
Contudo, é preciso ter cuidado ao classificar as 
diferentes variedades linguísticas identificáveis 
por meio da hierarquia convencional na qual as 
línguas possuem dialetos. Na verdade, em termos 
das relações genealógicas, muitas variedades que 
são classificadas como “dialetos” de uma “língua” 
não possuem nenhuma relação direta com a va-
riedade identificada como “língua”. Por exemplo, 
os “dialetos” ingleses não são corruptelas ou des-
vios do inglês padrão, mas dialetos irmãos daquela 
variedade que, por uma série de acidentes histó-
ricos, acabou se tornando o protótipo. Ou seja, a 
inglês culto não é mais que um dialeto que ga-
nhou prestígio por ser o mais usado na corte real 
em Londres e pelas classes sociais dominantes. Por 
esse destaque sociocultural, que não tem nada 
a ver com nenhuma qualidade inerente à ele, o 
dialeto da elite inglesa passou a ser considerado 
o modelo da “língua inglesa” e seus usos acaba-
ram consagrados como “corretos” nos dicionários 
e nas gramáticas. Sendo assim, divergências dessa 
norma eram tratadas como erros. No entanto, essa 
variedade padrão culta não é a “mãe” das demais 
variedades diatópicas faladas na Grã-Bretanha (e 
ao redor do mundo). O escocês e os dialetos do 
norte da Inglaterra são as filhas do nortúmbrio; 
os dialetos falados no sudoeste descendem do 
saxão ocidental, e assim por diante. O “inglês” ofi-
cial é o resultado de uma mistura de variedades 
diatópicas medievais e pré-modernas faladas pelo 
centro-leste e sudeste da Inglaterra, cujos falantes 
contribuíram para formar a população da capital 
em sucessivas ondas migratórias.
Consequentemente, ao falarmos da “língua ingle-
sa”, é imprescindível estarmos cientes de que o que 
unifica as diversas variedades modernas é sua rela-
ção genealógica com outras variedades anteriores, 
as quais também podem ser derivadas de forma 
sistemática pela aplicação do método de recons-
trução comparada de versões ainda mais antigas, 
até chegar ao protogermânico e, em última instân-
cia, ao protoindo-europeu. Portanto, poderíamos 
classificar todas as línguas indo-europeias como 
“dialetos” da sua mãe, embora elas sejam tão dife-
rentes entre si. É por esse motivo que os linguistas 
tendem a evitar os termos “língua” e “dialeto” ao 
tratar de agrupações cognatas complexas, e pre-
ferem denominar tudo uma “variedade linguística”, 
sem pressupor nenhuma relação hierárquica além 
da ascendência comum.
Gramática histórica da língua inglesa
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Inglês antigo 65
Aprendemos nesta unidade a noção de família linguística, descobrindo o uso da reconstrução comparada para com-
preender as línguas do passado. Estudamos as 
línguas germânicas, suas origens e classificações.
Além disso, abordamos os conceitos de his-
tória interna e história externa, conhecendo 
a participação da fonética e da fonologia no 
aspecto sonoro das línguas. Analisamos a his-
tória externa do estabelecimento da língua in-
glesa, avaliando como ocorreram as migrações 
germânicas à Grã-Bretanha e a utilização dos 
principais dialetos anglo-saxões: Northumbrian, 
West Saxon, Mercian e Kentish.
Conceituamos a heptarquia anglo-saxônica e 
descobrimos a participação do latim, das lín-
guas celtas e do norreno na constituição do 
inglês. Examinamos, ainda, a história externa 
da língua inglesa antiga, compreendendo o 
contexto das invasões vikings e da unificação 
do reino britânico. Finalmente, exploramos as 
principais obras do inglês antigo, tais como a 
Crônica Anglo-Saxônica e a História Eclesiástica 
do povo inglês.
Recapitulando
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2u n i d a d e
Objetivos de aprendizagem
 Explorar as mudanças que ocorreram na língua inglesa entre a inva-
são normanda de 1066 e a coroação de Henry VII em 1485, que en-
cerrou a Guerra das Rosas.
 Descobrir a história externa do reino da Inglaterra e como a conquis-
ta pelos normandos transformou radicalmente o contexto sociocul-
tural e político dos falantes do inglês antigo.
 Conhecer as origens e a classificação tradicional dos dialetos ingle-
ses medievais.
 Entender a relação entre a história interna e a externa das línguas para, 
então, compreender as mudanças estruturais da língua inglesa.
 Investigar as transformações linguísticas que ocorreram nos contex-
tos fonético-fonológico, morfológico, sintático, lexical e semântico- 
-pragmático durante o período medieval.
 Analisar a estrutura do inglês médio e explorar as principais divisões 
dialetais da época: Norte, Sudoeste, Centro-Oeste e Centro-Leste, Sudes-
te e Angliano Oriental.
 Estudar a expansão territorial dos descendentes de William I, “o Con-
quistador”, no continente europeu, conhecendo os domínios da di-
nastia Plantageneta, as repercussões do contato com a cultura literária 
francesa e com a cultura trovadoresca occitana.
 Reconhecer a significativa influência da língua francesa, em seus dia-
letos normando e parisiense, na formação da língua inglesa durante 
a Idade Média.
 Pesquisar a história externa do inglês médio, analisando a trajetória 
das invasões inglesas da França no século XIV, o impacto social da 
Peste Negra e a instabilidade política do reino da Inglaterra durante 
a Guerra das Rosas no século XV.
O inglês médio
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68
 Conhecer algumas das principais fontes textuais do inglês mé-
dio, ressaltando a importância dessas obras para o estudo da 
linguística e para a reintegração da língua como o veículo de 
cultura da elite.
Temas
 1 – História externa da Inglaterra medieval
Neste tema, você estudará três momentos centrais à história 
da Inglaterra: primeiro, a controvérsia sobre a sucessão à co-
roa da Inglaterra que levou a duas invasões do país em 1066, 
o impacto na sociedade e cultura inglesas da conquista nor-
manda e a expansão territorial inglesa no sul e no oeste da 
atual França ao longo do século XII durante os reinados dos 
descendentes de William I. Então, você explorará de que ma-
neira nos séculos XIII e XIV a sociedade híbrida anglo-nor-
manda se envolveu em relações intensas, às vezes violentas e 
outras pacíficas, com seus vizinhos imediatos escoceses, gale-ses e além-mar, com irlandeses, franceses, e no contexto das 
Cruzadas, com povos ainda mais distantes. Veremos as terrí-
veis consequências da Peste Negra, que dizimou a população 
e alterou as relações sociais na essência. Finalmente, você in-
vestigará a grande instabilidade política no século XV conhe-
cida como a Guerra das Rosas, durante a qual os territórios 
continentais ingleses foram perdidos definitivamente, quan-
do o inglês volta a ser uma língua culta entre a elite, e cujo fim 
encerra o período medieval em terras inglesas.
 2 – Influências estrangeiras
Neste tema, você investigará as profundas influências que a 
conquista normanda exerceu na língua inglesa, especial-
mente no tocante ao léxico e à grafia. Você aprenderá a de-
tectar a origem dialetal diversa de palavras emprestadas do 
francês normando ou da variedade de Paris, e verá as outras 
línguas que contribuíram à evolução do inglês ao longo da 
Idade Média.
Gramática histórica da língua inglesa
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O inglês médio 69
 3 – História interna: mudanças estruturais
Neste tema serão abordadas as mudanças que ocorreram na 
estrutura da língua inglesa durante os séculos medievais. Você 
identificará as numerosas mudanças que atingiram o sistema 
fônico e a gramática. 
 4 – Diversidade dialetal
Neste tema, você estudará a diversidade dialetal do inglês com 
mais detalhes, aprendendo como os dialetos anglo-saxônicos 
evoluíram nas diferentes regiões, gerando a enorme variedade 
linguística que observamos no inglês medieval. Também apren-
derá um pouco das diferenças que existiam entre o inglês da 
Inglaterra e sua irmã escocesa. 
 5 – Literatura medieval
Este tema apresentará uma seleção das mais importantes obras 
literárias produzidas em inglês durante o período medieval. 
Você conhecerá o valor específico desses monumentos lin-
guísticos e investigará seu papel no retorno da língua inglesa 
ao estatuto de língua literária, depois de vários séculos de infe-
rioridade sociocultural frente à francesa.
Introdução
To Frankis & Normanz, for þar grete laboure,
To Flemmynges & Pikardes, þat were with him in stoure,
He gaf londes bityme, of whilk þer successoure
Hold	ȝit	þe	seysyne,	with	fulle	grete	honoure.
(Robert Mannyng of Brunne) 
Mannyng’s Chronicle (1338) (ed., Hearne, I, 72)1
Þus come lo Engelond in to Normadies hond.
& þe normans ne couþe speke þo bote hor owe speche
& speke French as hii dude atom, & hor children dude also teche;
So þat heiemen of þis lond þat of hor blod come
Holdeþ alle þulke spreche þat hii of hom nome.
1 “A franceses e normandos, por seu grande trabalho, / A flamingos e picardos, 
que estavam com ele na batalha, / ele deu terras logo, das quais os sucessores 
deles / ainda possuem o título, com muito grande honor.”
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70
Vor bote a man conne Frenss me telþ of him lute.
Ac	lowe	men	holdeþ	to	Engliss	&	to	hor	owe	speche	ʒute.
Ich wene þer ne beþ in al þe world contreyes none
Þat ne holdeþ to hor owe speche bote Engelond one.
Ac wel me wot uor to conne boþe wel it is,
Vor þe more þat a mon can, þe more wurþe he is.
Chronicle of Robert of Gloucester (c. 1300) (ll. 7537-7547)2
Nesta unidade, você aprenderá sobre a história externa da Inglaterra, 
desde os últimos anos do reino anglo-saxônico e até a controvérsia so-
bre a sucessão ao trono de Edward “o Confessor”, que desencadeou duas 
invasões do reino no ano de 1066. Primeiro, no norte, pelos noruegue-
ses, que o rei Harold Godwinsson conseguiu repulsar, e em seguida no 
sul, pelos normandos sob o duque William, “o Bastardo”. A vitória das tro-
pas de William sobre o exército de Harold na batalha de Hastings muda-
ria o curso da história da Inglaterra e da língua inglesa profundamente.
Depois, você estudará o impacto da conquista normanda sobre a so-
ciedade e a cultura da Inglaterra. O domínio total do país por uma 
pequena elite francófona causou um período de contato prolongado 
e íntimo entre o inglês e a cultura e língua francesa. Os interesses po-
líticos dos reis da Inglaterra no continente europeu, na Irlanda e na 
Grã-Bretanha durante os séculos depois da conquista, exerceriam in-
fluências que transformariam a língua inglesa. 
Quando o inglês começa a ressurgir na escrita depois de um longo 
tempo, durante o qual o francês tinha sido o principal veículo da 
cultura literária, a forma da língua é quase irreconhecível quando a 
comparamos com a do inglês antigo. Seus estudos levarão você a in-
vestigar a natureza dessas mudanças estruturais e os motivos que 
fizeram que a língua inglesa não desaparecesse, abandonada em 
prol do francês, e as condições que possibilitaram seu retorno.
2 “Escutem! Assim, veio parar a Inglaterra, na mão da Normandia. / E os norman-
dos não sabiam falar outra língua naqueles tempos que a própria deles / e eles 
falavam francês, como costumavam em sua terra, e a seus filhos, o ensinaram 
também; / De modo que, homens nobres deste país que vêm do sangue da-
queles, / todos eles mantêm essa mesma língua que tomaram deles. / Pois, a 
não ser que um homem saiba francês, as pessoas pouco o estimam. / Contu-
do, homens comuns preservam o inglês e ainda mantêm sua fala. / Acredito 
que haja, em todo o mundo, nenhum país / que não preserva sua própria 
língua, exceto a Inglaterra apenas. / Mas é sabido que é bom saber as duas, / 
porque quanto mais um homem souber, mais ele vale.” Tradução baseada em 
Baugh e Cable (1994).
Gramática histórica da língua inglesa
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O inglês médio 71
História externa da Inglaterra medieval
A conquista normanda e o século XII
A morte sem herdeiro do rei Edward III, “o Confessor”, da In-
glaterra em 1066 precipitou uma crise política no reino. Havia três 
pretendentes ao trono inglês: o cunhado do falecido rei, Harold 
Godwinsson, o poderoso earl de Wessex; Harold “Hardrada”, rei 
da Noruega; e William, duque da Normandia, primo distante do 
rei Edward. 
Saiba mais
Harold Godwinsson
As fontes históricas parecem indicar que Harold Godwinsson, o earl de Wes-
sex, foi o escolhido por Edward como seu herdeiro. Além da preferência real, 
Harold tinha a vantagem de ser o mais poderoso dos grandes senhores in-
gleses: o earl de Wessex incluía toda a região Sul da Inglaterra, e os outros 
nobres anglo-saxões favoreciam sua candidatura, por ser nativo e conhecido. 
Sua irmã Edite era casada com o rei Edward, e seu irmão Tostig era o earl de 
Nortúmbria. 
A família de Godwin dominava a política inglesa durante os meados do 
século XI. No entanto, as relações entre a família de Harold e o rei Edward 
não eram sempre cordiais. Seu pai, o earl Godwin, tinha apoiado os reis di-
namarqueses Canuto, Haroldo “Pé-de-Lebre” e Hardacanuto durante o longo 
exílio de Edward na Normandia. Godwin e seus filhos tinham sido exilados 
por Edward entre 1053 e 1054, por terem se recusado a punir os envolvidos 
em um levantamento no porto de Dover. Harold também tinha uma relação 
difícil com seu irmão mais novo, Tostig, que se rebelou e foi exilado. Tostig 
apoiou a invasão de Harold Hardrada e morreu lutando contra os noruegue-
ses na batalha de Stamford Bridge em setembro de 1066.
Saiba mais
Harold Sigurdsson “Hardrada”
Rei da Noruega de 1046 a 1066, Harold teve uma vida plena de aventuras antes 
de ser morto na batalha de Stamford Bridge, lutando contra o exército do rei 
Harold Godwinsson, perto de York, a principal cidade no norte da Inglaterra, 
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72
em setembro de 1066. Seu apelido “Hardrada” significa “governo” ou “julga-
mento duro”, porque reprimia violentamente qualquer contestação a sua au-
toridade. Os historiadores consideram que a morte de Harold marca o fim da 
era viking (séculos IX a XI). Antes de assumir o trono da Noruega, Haroldvia-
jara muito pelos principados eslavos no Leste Europeu, lutando como merce-
nário, e integrou a famosa “guarda varegue” dos imperadores bizantinos em 
Constantinopla, por quem lutou pelo Mediterrâneo. Sua vida foi matéria de 
várias sagas nórdicas.
Harold justificou sua reivindicação ao trono da Inglaterra por um acordo en-
tre o rei Hardacanuto da Inglaterra e da Dinamarca e o rei Magnus da Norue-
ga, sendo que cada rei indicou o outro como seu herdeiro. Contudo, quando 
Hardacanuto morreu em 1042, Edward, o filho de Ethelred, o último rei an-
glo-saxão antes da conquista dinamarquesa, fez-se coroar rei da Inglaterra na 
ausência de Magno, que por inércia ficou apenas com a Dinamarca. Quando 
Magno morreu, Harold executou os planos noruegueses já existentes de re-
tomar a Inglaterra por força das armas. No entanto, seu exército foi derrotado 
pelas forças do novo rei Harold Godwinsson.
Figura 2.1 Duque William de Normandia (no centro) com 
seus meios-irmãos, Odo, bispo de Bayeux (à esquerda), 
e Robert, Conde d’Eu (à direita, com espada na mão). 
Foi Odo que mandou fazer a “tapeçaria de Bayeux”, um 
painel de linho de quase 70 m de comprimento por 50 cm 
de largura, bordado com cinquenta cenas do contexto 
histórico da conquista normanda. 
Fonte: Bayeux Museum.
Gramática histórica da língua inglesa
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O inglês médio 73
Saiba mais
William, “o Bastardo”, duque da Normandia
William acreditava ser o herdeiro legítimo de Edward, “o Confessor”, por ser 
o parente de sangue mais próximo (eles eram primos de segundo grau). 
Além de alegar que Edward já lhe tinha prometido o trono, William declarou 
que Harold Godwinsson jurou sobre uma caixa de ossos santos que apoia-
ria William, quando o duque capturou o nobre inglês depois que ele sofreu 
um naufrágio na costa normanda. Portanto, quando Harold foi coroado em 
Londres, William considerou que tinha sido traído. Ele conseguiu um decreto 
do papa de que Harold havia se perjurado e, portanto, poderia ser deposto.
Filho ilegítimo do duque Roberto I com sua amante, Arlete, William foi no-
meado duque em 1035 na idade de sete ou oito anos. Ele escapou de várias 
tentativas de assassinato durante sua infância e adolescência, e os nobres 
normandos lutaram entre si para supremacia no ducado e para controlar o 
jovem duque. Consolidando sua posição em 1047, William fechou uma alian-
ça por matrimônio com seu poderoso vizinho, o conde de Flandres, e guer-
reou contra seus vassalos rebeldes e outros nobres franceses.
Quando resolveu invadir a Inglaterra, William juntou um po-
deroso exército chamando não apenas seus vassalos normandos, 
mas também guerreiros de outras regiões da França, com a pro-
messa de grandes recompensas de terras e botim.
Com o apoio pelo conselho de nobres ingleses, o witena-
gemot, Harold Godwinsson foi coroado em janeiro de 1066. 
Harold Hardrada invadiu o norte da Inglaterra em setembro. No 
entanto, o exército escandinavo foi derrotado pelos ingleses na 
batalha de Stamford Bridge em 25 de setembro, onde Harold 
Hardrada foi morto. Assim que a batalha acabou, Harold soube 
da invasão de William da Normandia no litoral sul, e o exército 
inglês teve de retornar em marcha forçada. A batalha decisiva 
entre normandos e anglo-saxões ocorreu em 14 de outubro, em 
um morro perto da cidade de Hastings. Depois de várias horas 
de combate, os normandos conseguiram romper a parede de es-
cudos dos ingleses. Harold Godwinsson foi morto, e as tropas de 
William venceram a batalha. William foi coroado em Londres 
em 25 de dezembro de 1066.
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74
Batalha de Fulford
Haroldo Hardrada e Tostig 
Godwinson derrotam Eduíno 
e Morcar (20 de setembro)
Batalha de 
Stamford Bridge
Haroldo derrota Haroldo 
Hardrada e Tostig Godwinson
(25 de setembro)
Batalha de Hastings
Guilherme derrota 
Haroldo (14 de outubro)
Pevensey
Guilherme desembarca
(28 de setembro)
Wallingford
Stigand se submete
(final de outubro)
Berkhamsted
Líderes ingleses 
se submetem
(fim de outubro)
Southwark
Guilherme é repelido
(meados de outubro)
Londres
Guilherme é coroado
(25 de dezembro)
Canal da Mancha
54º N
3º O 0º
Figura 2.2 Lugares e eventos importantes na Inglaterra no ano de 1066.
Fonte: Amitchell125 e Lumos3.
Saiba mais
Os normandos: vikings afrancesados
O próprio nome “Normandia” significa “terra dos homens do norte” (cf., inglês, 
northman, latim, nor(t)mannus, “escandinavo”). Os vikings tinham ocupado 
áreas ao redor da desembocadura do rio Sena desde meados do século IX 
para passar o inverno e como uma base para atacar outras regiões. A Nor-
mandia começou como território cedido em 912 pelo rei da França, Charles 
III, “o Simples” (r. 893-922), ao líder dinamarquês Rollo.
Figura 2.3 A Normandia.
Fonte: Urban.
Coutances
Bayeux
Caen
Le Havre
Fécamp
Dieppe
Rouen
Lillebonne
Lisieux
Évreux
Avranches
Alençon
CherbourgIlhas
Anglo-
normandas
Rio Se na
Rio Eure
Canal da Mancha
49º N
0º
Rio Orne
Gramática histórica da língua inglesa
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O inglês médio 75
A concessão de terras francesas assemelha-se à criação do Danelaw no norte 
e no leste da Inglaterra por Alfredo Magno, em 886, em seu tratado com o 
rei dinamarquês de East Anglia, Guthrum. Rollo jurou lealdade ao rei Charles, 
casou-se com sua filha e aceitou ser batizado. Em troca, Rollo recebeu o título 
ao território e foi nomeado duque. Ao longo do século seguinte, os duques 
da Normandia expandiram seus domínios à custa dos senhores vizinhos e 
sempre mantiveram bastante independência política a respeito do seu se-
nhor feudal, o rei da França.
Rapidamente, os normandos perderam a maioria de suas características 
escandinavas, assimilando-se à cultura geral, falando um dialeto do francês 
antigo, construindo grandes catedrais, fundando mosteiros e colonizando 
outras regiões. No século XI, a Normandia foi uma das regiões mais dinâmicas 
de toda a França medieval.
A vitória dos normandos transformou a sociedade inglesa 
profundamente. Da noite para o dia, os nobres ingleses que não 
foram mortos nas batalhas, ou nos levantamentos posteriores, fo-
ram substituídos por seguidores de William (em 1072, apenas um 
dos doze earls era inglês e esse foi executado quatro anos depois) 
(BAUGH; CABLE, 1994, p. 109). A grande maioria dos princi-
pais cargos eclesiásticos também foi distribuída entre norman-
dos, por exemplo, os dois arcebispados, de York e de Canterbury. 
Apenas um bispo, Wulfstan de Worcester, sobreviveu à troca de 
regime, e foi vítima de zombarias dos outros religiosos porque 
não sabia falar francês. Os abades dos grandes mosteiros também 
foram trocados por normandos ou franceses de outras regiões, à 
medida que faleciam. Em 1075, 13 dos 21 abades que assinaram 
os decretos do Concílio de Londres eram ingleses; em 1087 havia 
apenas três. Além dos magnatas seculares e religiosos, havia uma 
massa de seus seguidores comuns normandos, bretões e france-
ses de outras regiões que procuravam fazer fortuna nessa terra de 
oportunidades. 
William reprimiu com muita violência grandes levantamen-
tos que ocorreram anualmente entre 1067 e 1070, especialmente 
no norte da Inglaterra. O novo rei redistribuiu os feudos entre 
seus seguidores. A ocupação foi segurada pela construção de 
castelos de mota, de terra e madeira, para possibilitar que grupos 
reduzidos de normandos pudessem dominar a população majo-
ritariamente hostil.
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casa senhorial
torre de 
menagem
plataforma
mota
baluarte de terra
portaria fortificada
recinto 
fortificado
ponte levadiça
ponte levadiça
paliçada
fossaFigura 2.4 Um castelo de mota normando da época da conquista.
Entre 1085 e 1086, William mandou um censo geral do reino 
em que os investigadores anotaram o valor, a extensão e o dono 
de todas as posses antes da conquista e a situação contemporâ-
nea, para fixar os títulos às propriedades e para calcular impostos. 
Esse registro, que ainda existe, ficou conhecido como o Domesday 
Book (Livro do dia de avaliação). 
Quase todos os novos senhores eram falantes do normando, 
um dialeto regional do francês antigo, ou de variedades de ou-
tras regiões francesas. No entanto, a maior parte dos senhores 
de terras menores conseguiu manter suas posses depois da con-
quista. Como Baugh e Cable (1994, p. 111) observam, porém, 
apesar de os normandos e seus aliados constituírem uma mi-
noria da população da Inglaterra (apud GILLINGHAM, 1984 
[1997], p. 104), estimam-se aproximadamente 10 mil norman-
dos contra 1 a 2 milhões de ingleses, a influência exercida por 
essa pequena elite francófona era completamente desproporcio-
nal, por sua dominância de todas as posições de destaque social, 
militar e religioso. 
Gramática histórica da língua inglesa
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O inglês médio 77
Pasto natual
Herdade feudal
Prado
Bosque
Casas de servos
Fábrica/Ferraria
Rio
Segundo campo
(plantio de primavera)
Poço
Igreja
Terceiro campo
(alqueivado)
Primeiro campo
plantio invernal
Primeiro campo
plantio invernal
Celeiro
Casarão do senhor
Moinho d’agua
Figura 2.5 Uma típica herdade feudal menor.
William I faleceu em 1087. Ele dividiu seu reino entre seus 
filhos: o primogênito, Robert, recebeu o ducado da Normandia, e 
o segundo filho, William, recebeu a Inglaterra. O caçula, Henry, 
recebeu uma herança em dinheiro. Robert e William II brigavam 
para unificar os territórios, até a morte de William II em 1100, 
quando Henry assumiu o trono da Inglaterra e, capturando Rober-
to em 1106, unificou o ducado com o reino novamente.
O reino de Henry I contribuiu para restabelecer a autoridade 
real, mas sua morte em 1135 provocou uma nova crise política, 
porque seu único herdeiro legítimo morrera afogado em um naufrá-
gio em 1120. Henry nomeou sua filha Matilda, viúva do imperador 
Sacro Romano, Henry V, como sua herdeira, mas a sucessão foi 
contestada por um primo dela, Stephen de Blois, conde de Bou-
logne, que se fez coroar. Matilda e seu segundo marido, Geoffrey, 
conde de Anjou, e seu filho Henry, apelidado FitzEmpress, “filho da 
Imperatriz” (o prefixo fitz	é o cognato normando de fils, “filho” em 
francês central), lutaram contra Estevão na Inglaterra e na Norman-
dia, de 1139 até 1053, um período conhecido como “A Anarquia”, 
durante o qual o controle do país trocou de mãos várias vezes. Fi-
nalmente, depois da morte do primogênito de Stephen, Geoffrey e 
Taverna
Book 1.indb 77 17/11/16 19:14
78
Henry, concordaram que, em troca de manter a paz, Henry herdaria 
o reino. Quando Stephen morreu em 1154, Henry foi coroado.
O século XIII: o império angevino
Henry II foi um rei enérgico, que atuou decisivamente para 
restabelecer a autoridade real na Inglaterra, depois dos longos 
anos de guerra civil. No entanto, o ato mais influente de sua vida 
foi certamente seu casamento em 1152 com Eleonor, duquesa de 
Aquitânia. Ela foi a herdeira de imensos territórios na Occitânia 
(atual sudoeste da França), que, junto com as terras possuídas 
por Henry II nos dois lados do Canal da Mancha, criaram um 
domínio feudal imenso que se estendia da fronteira da Escócia 
até os Pirineus.
Bordeaux Le Puy
Nantes
Rennes
Caen
Chinon
Poitiers
La Rochelle
Nines
Toulouse
Cork
Limerick
Waterford
Chester
Bayonne
Bristol
York
Carlisle
Paris
Londres
Dublin
Mar do Norte
OCEANO
ATLÂNTICO
50º N
0º
Território herdado
por Henry II
Território adquirido por
Henry por seu casamento
com Eleonora de Aquitânia
em 1152
Figura 2.6 O “Império” angevino.
Fonte: Watson (2015).
Gramática histórica da língua inglesa
Book 1.indb 78 17/11/16 19:14
O inglês médio 79
Henry e Eleonor tiveram cinco filhos e três filhas. A relação 
deles era tumultuosa. Henry teve vários filhos ilegítimos com di-
versas amantes, como era esperado de um rei medieval. A partir 
de 1167, o casal real passou a viver separadamente. Eleonor levou 
sua corte para a cidade de Poitiers, onde se acredita que ela tenha 
presidido as célebres, e eventualmente lendárias, “cortes de amor” 
citadas pelo escritor Andreas Capellanus (André Capelão). De 
acordo com Capellanus, Eleonor e várias outras nobres julgavam 
casos amorosos em conformidade com as regras do amor cortês. 
O período em que Eleonor esteve em Poitiers é importante por 
ter difundido e popularizado a cultura trovadoresca pelo mundo 
medieval, incluindo a Inglaterra.
Saiba mais
Occitano e francês
Na França, não se fala apenas o francês. Na Bretanha, no oeste, fala-se bretão, 
uma língua celta que descende da língua falada no sudoeste e no sul da Grã-
-Bretanha na época das invasões anglo-saxônicas. Muitos romano-bretões se 
refugiaram dos anglo-saxões de Wessex em uma série de emigrações para 
o continente. Alguns grupos desses celtas refugiados se estabeleceram no 
litoral norte da Espanha e na Galícia. Entre as línguas românicas faladas na 
França, existem três grandes divisões dialetais: 
1. Os dialetos francianos – (picardo, normando, angevino, champanhense, 
orleanês, pontevino, borgonhês, valão) são os falados ao norte do rio 
Loire, até a fronteira linguística com o germânico (os dialetos flamen-
gos, holandeses e alemães), aproximadamente ao longo do rio Reno.
2. No leste, no oeste da região da Borgonha, na Suíça ocidental e no 
noroes te da Itália há dialetos franco-provençais, que misturam alguns 
traços dos grupos setentrionais e meridionais, sem ser idênticos a ne-
nhuma dessas agrupações.
3. Ao sul do rio Loire, existe o bloco occitano, que inclui o provençal, o 
lengadociano e o gascão, entre outros dialetos regionais.
O occitano ou língua d’oco (porque a palavra para “sim” é òc < latim, hoc, “isso”), 
é uma língua semelhante, porém, distinta do francês. Na Idade Média, os me-
nestréis compunham poesia pastoral e épica em dialetos francianos ou em 
língua d’oil (atual francês, oui “sim” < latim, hoc ille, “isso ali”), mas eles prefe-
riam compor poesia lírica em occitano, seguindo a tradição estabelecida pe-
los trovadores. O occitano era conhecido pelos filhos de Henry II e Eleonor de 
Book 1.indb 79 17/11/16 19:14
80
Aquitânia, porque era sua língua materna. O próprio Richard era conhecido 
pelo apelido “oc et no” (“sim e não”), por ser muito taciturno. Richard I compôs 
um poema J’a nus hons pris ou J’a nuls om pres (“Nenhum homem que é pre-
so”), em versões em occitano e em francês, durante sua prisão pelo duque 
Leopoldo da Áustria entre 1192 e 1194. O poema é dirigido à sua meia-irmã, 
Maria de Champanhe, expressando seus sentimentos de abandono por seu 
povo e seus parentes.
Saiba mais
O sistema feudal
Na Idade Média, as pessoas acreditavam que a hierarquia social tinha 
sido criada por Deus, tal como todo o mundo. Cada pessoa pertencia 
inalteravelmente a uma das cinco camadas sociais. Entre as pessoas co-
muns e os nobres existia uma divisão insuperável de natureza que foi 
determinada ao nascimento. Cada classe realizava determinadas funções. 
O que as ligavam eram os direitos e responsabilidades. Por exemplo, as 
terras pertenciam ao monarca, que as distribuía entre seus principais vas-
salos nobres (barões) em troca de serviços militares, ajuda financeira e 
administração de impostos e de justiça. Os nobres maiores, por sua vez, 
distribuíam as terras que receberam do rei entre a nobreza inferior (oscavaleiros), que prestava serviço militar e administrava localmente. Essas 
relações entre os nobres foram baseadas em juramentos de lealdade e 
serviço (homenagem) do vassalo ao seu senhor. 
Entre as pessoas comuns livres, os moradores das cidades ocupavam-se com 
o comércio ou como artesões; no campo, eram produtores rurais. 
O último degrau da hierarquia social eram os servos, as pessoas comuns 
não livres, que trabalhavam na lavoura. Os servos pertenciam ao senhor 
feudal e não podiam deixar a propriedade onde nasceram. Os servos de-
viam serviços na lavoura por determinado número de dias por semana 
nas terras particulares do seu senhor, além de trabalhar em suas próprias 
faixas de terreno, que eram espalhadas por três ou quatro grandes cam-
pos, para que todos compartilhassem os terrenos melhores e piores. O 
que sobrasse depois da sua autossustentação poderia ser vendido. Além 
do serviço de trabalho, os servos deviam diversos impostos em espécie 
ao seu senhor e à Igreja. Em troca, o senhor feudal deveria protegê-los 
contra violência e administrar justiça.
Gramática histórica da língua inglesa
Book 1.indb 80 17/11/16 19:14
O inglês médio 81
Do lado religioso, existia um pouco mais de flexibilidade para as pessoas co-
muns alcançarem posições de destaque, o que tornava a carreira religiosa 
uma opção atrativa para indivíduos não nobres talentosos e com ambição. 
No entanto, os cargos mais altos quase sempre eram ocupados por nobres.
Fornecem 
dinheiro e 
cavaleiros
Fornecem 
serviço 
militar e 
proteção
Fornecem 
alimentos, 
produtos e 
serviços
Transmite 
terras, títulos, 
cargos e 
privilégios
Transmitem 
terras e 
cargos
Transmitem 
terras
REI
Barões
Cavaleiros
Lavradores
Hierarquia social medieval cristã
(social e religiosa, determinada por Deus)
Senhor secular: 
rei ou imperador Senhor religioso: papa
DEUS
A † Ω
Nobreza secular: 
príncipe, duque, 
conde, cavaleiro
Comerciantes, 
artesãos, 
camponeses 
livres
Servos
Nobreza religiosa: 
cardeal, 
arcebispo, bispo
Sacerdotes, 
frades e 
monges
Fiéis
Figura 2.7 Estrutura da sociedade medieval.
Book 1.indb 81 17/11/16 19:14
82
Em 1173, Henry, o filho mais velho de Henry e Eleonor, rebe-
lou-se contra seu pai e procurou apoio com seus irmãos Richard 
e Geoffrey entre os vassalos da mãe deles. A rebelião fracassou, 
mas, pelo fato de ter ajudado seus filhos contra ele, Henry II 
encarcerou Eleonor durante 16 anos em vários castelos pelo sul 
da Inglaterra, até a morte dele em 1189, quando Richard assumiu 
o trono.
Apesar da sua fama de “Coração de Leão”, Richard I passou 
pouquíssimo tempo na Inglaterra, preferindo explorar seu reino 
como uma fonte de renda para manter seus exércitos no conti-
nente. Ele participou ativamente da terceira Cruzada, mas não 
conseguiu reconquistar Jerusalém do grande líder muçulmano, 
Saladino. Ele foi preso na Áustria ao voltar da Terra Santa e ficou 
refém do Imperador Sacro Romano entre 1192-1194, sendo solto 
por um resgate colossal de 10 mil libras de prata. Guerreou cons-
tantemente contra o rei da França, Felipe Augusto, morrendo em 
1199 em decorrência de uma flechada de besta gangrenosa que 
sofreu quando sitiava um castelo.
Durante o reinado de John “Sem-Terra” – que ganhou esse 
apelido por não receber inicialmente nenhum patrimônio territo-
rial do seu pai –, vários territórios ancestrais foram conquistados 
pelos franceses. A perda do ducado da Normandia e os condados 
de Anjou e Maine danificou o prestígio da monarquia, e as po-
líticas desmedidas adotadas por John para financiar a campanha 
de retomar as terras continentais o tornaram impopular. Depois 
que o rei fracassou na tentativa de reconquistar a Normandia, o 
final do seu reinado viu uma série de rebeliões pelos barões que 
obrigaram o monarca a assinar a Magna Carta em 1215, um 
documento em que os direitos e as responsabilidades do rei e de 
seus vassalos foram definidos de forma a limitar o poder do mo-
narca de governar sem consultar os magnatas do reino. Nenhuma 
parte respeitou o acordo da Carta inicialmente, e o país recaiu 
em uma guerra civil em que os barões recebiam o apoio do rei da 
França; quando John morreu de disenteria em 1216, e seu filho 
Henry, de apenas nove anos, assumiu o trono, sob a tutela de 
William, “o Marechal”.
Gramática histórica da língua inglesa
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O inglês médio 83
O longo reinado de Henry III foi cheio de incidentes. Além de 
apertar a população para financiar campanhas militares e extrava-
gantes gestos religiosos e cerimoniais, a situação política foi afe-
tada pela presença de diversos grupos de parentes da família real, 
savoiardos da família da rainha Eleonor de Provença, e pictevinos 
da família do rei, que eram favorecidos na corte, o que alienou a 
nobreza inglesa, resultando numerosas rebeliões e muita instabi-
lidade sociopolítica.
O século XIV: a Guerra dos Cem Anos e a Peste 
Negra
O reinado de Edward I
Edward I reinou de 1272 a 1307. Durante sua juventude, ele 
participou ativamente de intrigas e rebeliões dos barões con-
tra seu pai, inicialmente apoiando os rebeldes, para depois de-
fender ferrenhamente a posição do rei contra seus adversários. 
Foi à Terra Santa na nona Cruzada. Edward foi um rei ativo 
administrativamente, promovendo várias reformas e reorgani-
zações jurídicas e burocráticas, principalmente com o objetivo 
de melhorar suas rendas, para financiar seus projetos militares, 
pois era muito ativo nesse âmbito também. Ele completou o 
domínio inglês em Gales, onde fez prevalecer o direito inglês, 
e tentou subjugar a Escócia à coroa inglesa. Nesse empreen-
dimento, seus sucessos iniciais não foram duradouros, sendo 
desfeitos durante o reinado do seu filho, Edward II. Como todo 
monarca da dinastia Plantageneta, ele era ativo na política con-
tinental, tentando principalmente estabelecer alianças contra a 
França, com o objetivo de recuperar seus territórios ancestrais 
na Normandia e em Anjou. A necessidade de conseguir dinheiro 
para realizar suas ambições políticas fazia que Edward tivesse 
de recorrer mais ao parlamento para facilitar a arrecadação de 
impostos, fortalecendo a instituição, pois os nobres negociavam 
o aumento e a garantia de seus direitos com o rei em troca de 
liberar o apoio financeiro.
Book 1.indb 83 17/11/16 19:14
84
Mar da Irlanda
OCEANO
ATLÂNTICO
52º N
3º O
Ceredigion
Gwynedd
Iarllaeth
Caer
Brycheining
Marcher Lordships
Builth
Candref
Mawr
Powys
Wenwynwyn
Powys Fadog
Reino
da
Inglaterra
Gwynedd, principado de Llywelyn 
ap Gru�udd
Territórios conquistados por Llywelyn
Senhorias dos barões anglo-normandos 
“da Marca galesa”
Senhorias dependentes diretamente 
do rei da Inglaterra
Territórios de vassalos de Llywelyn
Figura 2.8 Gales depois do tratado de Montgomery em 1267, mostrando a extensão do poder do 
príncipe galês Llywelyn durante as instabilidades do reinado de Henry III.
Fonte: AlexD.
Figura 2.9 Os domínios em Gales depois do Tratado de Aberconwy de 1277.
Fonte: AlexD.
Principado de Gwynedd, sujeito 
a Llywelyn ap Gru
ydd
Terras de Dafydd ap Gru
ydd, 
irmão de Llywelyn
Antigo território galês cedido 
ao reino da Inglaterra
Senhorias “da Marca” e demais 
vassalos reais
Mar da Irlanda
53º N
3º O
Llyn
Arfon
Bangor
Dolbadan
Dolwyddelan
Aberconwy
Deganwy
Garth
Celyn
Dunoding
Dyfrfuin
Clwyd
Cemais
Rhosyr
Penllyn
Reino
da
Inglaterra
Senhorias da Marca
Galesa e outras
dependências reais
Arllechwedd Rh
uf
on
iog
A
berffraw
Gramática histórica da língua inglesa
Book 1.indb 84 17/11/16 19:14
O inglês médio 85
Mar da Irlanda
OCEANO
ATLÂNTICO52º N
3º O
Anglesey
Carnarvon
BOHUN
CLARE
LANCASTER
Condado
Palatino
de
Chester
Flint
Reino
da
Inglaterra
LINCOLN
WARREN
FITZALAN
CORBET
MORTIMER
Ca
rd
iga
n
Car
mar
the
n
POOLE
G
IF
FO
R
D
MARSHALL
Principado do Gales do Norte, administrado 
pelo justiciar de Galês do Norte, nomeado 
pelo rei, com os nomes dos distritos
As senhorias da Marca Galesa, com 
seus sobrenomes
Outros territórios administrados 
diretamente pela coroa inglesa, com 
os nomes dos distritos
Figura 2.10 Gales depois do Estatuto de Rhuddlan de 1284.
Fonte: AlexD.
Embora não houvesse nenhuma imposição linguística, a pre-
sença de senhores feudais anglo-normandos e seus seguidores, 
além das guarnições dos vários castelos construídos ao mando de 
Edward I, aumentou a quantidade de falantes de inglês (e francês) 
na região galesa, especialmente no sul e no sudoeste.
Edward I na Escócia
A entrada dos ingleses na política escocesa resultou da morte 
do rei Alexandre III e de todos seus parentes mais próximos entre 
1281 e 1290. Os escoceses pediram que Edward I administras-
se o processo de negociação entre os pretendentes ao trono, John 
Balliol e Robert de Brus, e implementasse o resultado, sem parti-
cipar no julgamento, que seria feito por uma comissão de nobres. 
No entanto, Edward exigiu que o preço da sua participação fosse 
a submissão feudal à sua pessoa. Os escoceses evitaram a exigên-
cia, entregando o reino a Edward durante a deliberação, mas com 
o entendimento de que seria o candidato selecionado como rei a 
tomar a decisão final. 
Book 1.indb 85 17/11/16 19:14
86
Quando Balliol foi escolhido, porém, Edward não deixou de 
se considerar o senhor feudal da Escócia e demandou que os ba-
rões escoceses lhe prestassem serviço militar contra a França. Os 
nobres escoceses recusaram-se a lutar pelo rei inglês, seu inimigo 
ancestral, contra o aliado tradicional deles, e atacaram a cidade de 
Carlisle no norte da Inglaterra, com a ajuda dos franceses. Em re-
taliação, Edward invadiu a Escócia em 1296, saqueando a cidade 
de Berwick e derrotando os escoceses em uma batalha em Dunbar. 
O recém-coroado Balliol foi deposto e levado preso para Londres, 
e um inglês foi instalado para governar o país. 
Figura 2.11 Mapa da região fronteiriça entre Inglaterra e Escócia na virada do século XIII para XIV.
Fonte: Heritage History (www.heritage-history.com).
Gramática histórica da língua inglesa
Book 1.indb 86 17/11/16 19:14
O inglês médio 87
A resistência escocesa não demorou. Em 1297, William Wallace 
e Andrew Moray derrotaram um exército inglês na batalha de Stirling 
Bridge e tomaram o castelo. Edward, que estava em campanha 
em Flandres, voltou para a Inglaterra e liderou uma nova invasão, 
derrotando Wallace gravemente na batalha de Falkirk. Nos anos 
seguintes, apesar da guerrilha liderada por Wallace, o controle in-
glês foi restabelecido, à medida que os nobres escoceses se sub-
metiam a Edward, reconhecendo seu domínio. Em 1305, William 
Wallace foi traído pelos ingleses e foi executado em Londres.
Em 1306, Robert the Bruce, neto do pretendente perdedor em 
1292, assassinou seu maior rival, John Comyn, e fez-se coroar 
rei, iniciando um movimento independentista. Surpreendidos 
pelo sucesso de Bruce, e com Edward doente e velho, os ingle-
ses conseguiram derrotar as forças de Robert the Bruce e reto-
maram os castelos capturados. Contudo, no ano seguinte, Robert 
the Bruce voltou a derrotar os governadores ingleses, e Edward 
resolveu intervir pessoalmente, apesar das suas enfermidades. 
Ele marchou rumo à Escócia, mas contraiu disenteria e faleceu 
na fronteira.
O reinado de Edward II
Edward II não foi um rei guerreiro como seu pai. Durante seu 
reinado, Robert the Bruce conseguiu expulsar os ingleses da Es-
cócia definitivamente, na batalha de Bannockburn em 1314. Em 
seguida, o país sofreu uma fome devastadora.
O comportamento desmedido do favorito dele, Piers Gaves-
ton, tinha enfurecido os nobres e seu pai, Edward I, que o exilou. 
Depois da morte de Edward I, porém, Edward II revogou o exílio. 
O retorno do detestado favorito fez que os barões obrigassem o 
rei a assinar uma série de garantias para manter a paz. Em 1308, 
Gaveston foi exilado novamente, por seu tratamento da rainha, 
Isabel, filha do rei da França, mas Edward II conseguiu que Ga-
veston voltasse em 1309. Continuando a alienar a nobreza com 
sua arrogância e insultos, Gaveston foi exilado pela terceira vez 
em 1311. Quando voltou em 1312, o rei restaurou todas as terras, 
os títulos e os privilégios confiscados. Os barões e o partido real 
começaram a se preparar para lutar, mas Gaveston foi capturado 
por um grupo de barões hostis, condenado por romper os termos 
do acordo de 1311 e, então, executado. 
Book 1.indb 87 17/11/16 19:14
88
A derrota na Escócia em 1314, os problemas com a França 
sobre a Gascunha (a última possessão continental inglesa, sendo 
o litoral sudoeste da atual França) e rivalidades e animosidades 
entre as facções nobres e o rei levaram a uma crise política em 
que a rainha Isabel se aliou com o poderoso barão Roger Mor-
timer, que estava foragido na França após uma rebelião contra 
a coroa em 1322. Isabel e Mortimer invadiram a Inglaterra em 
1327 com um pequeno exército. A cidade de Londres levantou 
a favor dos invasores, e Edward II fugiu para Gales, onde foi 
capturado, obrigado a abdicar a favor de seu filho Edward III, 
de quatorze anos, e foi encarcerado no castelo de Kenilworth, 
onde morreu em circunstâncias misteriosas, provavelmente 
assassinado. 
O reinado de Edward III
A abdicação de Edward II deixou o reino da Inglaterra 
nas mãos da rainha-mãe, Isabel, e seu amante, Roger Morti-
mer, como regentes que governaram durante a menoridade de 
Edward III. Mortimer abusava da sua posição para se enrique-
cer; ele perdeu uma batalha contra os escoceses, que resultou 
em um tratado humilhante para os ingleses, e desentendeu-se 
com o jovem rei. Em 1330, com um pequeno grupo de com-
panheiros, Edward III capturou seu antigo guardião e mandou 
executá-lo e encarcerou sua mãe sob prisão domiciliar, come-
çando seu reinado pessoal. 
Entre os primeiros objetivos de Edward III estava o reco-
meço de hostilidades com a Escócia. Uma invasão organizada 
por nobres ingleses que perderam terras nos tratados anterio-
res conseguiu uma vitória importante e instalaram Edward 
Balliol no trono no lugar de David II. Os escoceses retaliaram, 
e Balliol teve de fugir e pedir ajuda ao rei inglês. A reação de 
Edward III foi decisiva: ele invadiu a Escócia novamente, sitiou 
a cidade fronteiriça de Berwick e derrotou o exército escocês 
que fora salvar a cidade. Edward Balliol foi restaurado ao trono 
da Escócia, e o país cedeu bastante território no sul para a Ingla-
terra. No entanto, os ganhos políticos e territoriais na Escócia 
não foram consolidados e, em 1338, foi preciso renegociar um 
tratado com David II, que estava retomando o controle do país. 
Gramática histórica da língua inglesa
Book 1.indb 88 17/11/16 19:14
O inglês médio 89
A paz com a Escócia foi necessária para evitar o risco de uma 
guerra em duas frentes, devido à deterioração das relações com 
a França. 
Os franceses tinham atacado cidades costeiras na Inglaterra 
e, em 1337, o rei da França, Philippe VI, confiscara o ducado 
de Aquitânia e o condado de Ponthieu, que pertenciam ao rei da 
Inglaterra. Em lugar de negociar e prestar a homenagem espera-
da de um vassalo feudal, tal como seu pai Edward II tinha feito, 
Edward III declarou-se o herdeiro legítimo ao trono francês, 
como neto de Philippe IV e sobrinho de Charles IV, por parte 
da sua mãe, Isabel, porque, embora a Lei Sálica observada na 
França desde doze anos antes proibisse a sucessão às mulhe-
res,em princípio, a lei não impediu a transmissão do título pela 
ascendência materna. Os franceses contestaram que o atual rei 
Philippe VI possuía a melhor reivindicação à coroa, sendo pri-
mo do falecido rei Charles IV. Assim começou a Guerra dos 
Cem Anos.
Edward iniciou sua ofensiva contra Philippe VI por vias di-
plomáticas, negociando alianças com príncipes e reis vizinhos 
da França. A estratégia mostrou-se cara e pouco eficiente, provo-
cando descontentamento entre a população da Inglaterra devido 
aos impostos punitivos cobrados. A necessidade de negociar com 
o parlamento em 1340 trouxe o rei de volta para a Inglaterra de 
Flandres, onde ele estava com o exército. Depois de uma rigorosa 
purga de oficiais e uma série de negociações conflituosas com o 
parlamento em que o rei teve de aceitar fortes limitações sobre 
sua liberdade administrativa para conseguir a votação de impostos 
que tanto desejava, Edward mudou de estratégia e invadiu a Fran-
ça diretamente. Desembarcando 15 mil soldados na Normandia, 
o rei tomou a cidade de Caen e marchou ao norte para se reunir 
com o restante das forças inglesas, que estavam em Flandres. No 
caminho, Edward ganhou uma vitória importantíssima contra um 
exército francês muito maior em Crécy, em agosto de 1346. Em 
outubro, um exército inglês capturou o rei da Escócia, e, com a 
fronteira setentrional da Inglaterra pacificada, Edward sentiu-se 
bastante seguro de lançar uma considerável ofensiva militar con-
tra o importante porto de Calais, que caiu depois de um sítio de 
quase um ano.
Book 1.indb 89 17/11/16 19:14
90
Figura 2.12 Território inglês na França em 1337.
Fonte: Pojer e Greeley (2016, p. 29).
45º N
0º
OCEANO
ATLÂNTICO
ESPANHA
INGLATERRA
Paris
Borgonha
Calais
Londres
Southhampton
Champagne
Anjou Blois
Poitiers
Touraine
Auvergne
Gasconha Languedoc
Toulouse
Bourdeaux
Bretanha
Normandia
Aquitânia
IMPÉRIO
SACRO
ROMANO
Mar Mediterrâneo
Cana
l da Ma
ncha
Rio S
ena
Rio Loire
Fl
an
de
rs
Rio Reno
R
io
 R
od
an
oRio Garona
Situação antes da
Batalha de Crécy
Território inglês
Território francês
1337
Em 1348, a Peste Negra eclodiu na Inglaterra, matando quase 
um terço da população. A catástrofe impossibilitou a manuten-
ção de hostilidades, e as campanhas militares na França reco-
meçaram apenas na década de 1350, quando o infante Edward, 
“o Príncipe Negro”, ganhou uma batalha em Poitiers contra um 
exército francês muito maior, em que o rei Jean II e seu filho 
Gramática histórica da língua inglesa
Book 1.indb 90 17/11/16 19:14
O inglês médio 91
menor, Felipe, foram presos. No entanto, a última campanha 
de Edward III foi inconclusiva, e o rei inglês aceitou renunciar 
sua pretensão ao trono francês no Tratado de Brétigny em 1360 
em troca da confirmação do seu domínio sobre os territórios 
conquistados.
45º N
0º
OCEANO
ATLÂNTICO
ESPANHA
INGLATERRA
Paris
Borgonha
Lyon
Calais
Champagne
Picardia
Flanders
Anjou Blois
Poitiers
Touraine
Auvergne
Gasconha Languedoc
Toulouse
Bourdeaux
Bretanha
Normandia
Aquitânia
IMPÉRIO
SACRO
ROMANO
Mar Mediterrâneo
Cana
l da Ma
ncha
Rio S
ena
Rio Loire
Rio Reno
R
io
 R
od
an
oRio Garona
Figura 2.13 A divisão da França de acordo com o Tratado de Brétigny. O território cinza escuro foram 
as terras cedidas a Edward III. 
Fonte: John Richard Green.
Book 1.indb 91 17/11/16 19:14
92
Saiba mais
O impacto da Peste Negra
A Peste Negra foi o nome dado a uma onda de epidemias que assolou a 
Europa durante o século XIV. Proveniente do oriente, a peste costumava ser 
transmitida por mordidas de pulgas infectadas (as pulgas viajavam nas rata-
zanas e nas pessoas). A mortandade foi tremenda. Estima-se que quase um 
terço da população da Europa morreu. O impacto dessa epidemia foi incalcu-
lável, alguns efeitos da terrível doença atingiram a estrutura social e até teve 
repercussões para o uso da língua inglesa. 
Socialmente, a mortandade resultou em uma falta de mão de obra para a 
lavoura e outras atividades artesanais. Consequentemente, os lavradores 
ganharam mais poder de barganha com seus senhores, pois seu trabalho 
valia mais. As tentativas do governo de legislar sobre o preço de trabalho, 
geralmente a favor dos senhores, provocava ressentimento entre as pessoas 
comuns, o que levou, finalmente, a um grande levante de campesinos dos 
condados de Kent, Sussex, Essex e East Anglia durante o reinado de Richard 
II. O povo exigia a troca dos ministros reais, a quem culpavam pela pesada 
tributação para financiar a guerra na França, em que os exércitos ingleses 
iam perdendo território. Além disso, eles queimavam os registros oficiais de 
propriedades e títulos e matavam os fiscais, para impossibilitar a arrecadação 
de novos impostos.
Quanto ao impacto da Peste Negra no uso da língua inglesa, quem nos 
informa sobre isso é o estudioso John of Trevisa (d. 1352). Nascido na Cor-
nualha, no extremo sudoeste da Inglaterra, John of Trevisa era poliglota: 
provavelmente falava cornualhês, inglês, francês e latim. Foi clérigo e pro-
fessor na universidade de Oxford. Em 1387, ele traduziu do latim para o 
inglês o Policronicon de Ranulf Higden, uma história do mundo desde a cria-
ção até 1352. Em determinado momento, Higden relata como a Peste Negra 
mudou o ensino na Inglaterra a favor da língua inglesa:
“Um [motivo] é que as crianças na escola, ao contrário do uso e costume 
de todas as outras nações, são obrigadas e abandonar sua própria língua e 
continuar seus estudos e negócios em francês e faz-se assim desde que os 
normandos vieram para a Inglaterra pela primeira vez. Também, os filhos dos 
nobres são ensinados a falar o francês desde a idade em que são balancea-
dos em seu berço e aprendem a falar e brincar com um joguinho de crian-
ça; e homens rústicos se comportam como gentis-homens, e fazem grande 
esforço para falar francês, para que sejam considerados mais cultos.” (apud 
CRYSTAL, 1995)
Gramática histórica da língua inglesa
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O inglês médio 93
Nesta altura, o tradutor, John of Trevisa, acrescenta a seguinte observação:
Tal prática era muito comum antes da primeira peste e, posteriormente, está 
um tanto alterada. Assim que John Cornwall, professor de gramática, mudou 
o ensino nas escolas de gramática e a análise do francês para o inglês pelo 
francês; e Richard Penkridge aprendeu tal método de ensino dele, tal como 
outros homens de Penkridge, de modo que hoje, 1385 a.C., no nono ano do 
reinado do segundo rei Richard depois da conquista, em todas as escolas 
de gramática na Inglaterra, as crianças abandonam o francês e compõem e 
aprendem em inglês e, assim, elas têm uma vantagem, por um lado, e uma 
desvantagem no outro. A vantagem é que elas aprendem a gramática em 
menos tempo que as crianças aprendiam. A desvantagem é que, hoje em 
dia, os estudantes na escola de gramática não conhecem nada de francês, 
menos que conhecem seu talão esquerdo, e é um infortúnio para eles se 
tiverem de atravessar o mar e viajar a países estrangeiros, e noutras circuns-
tâncias. Também, hoje, a maioria dos gentis-homens já deixaram de ensinar o 
francês a seus filhos (apud CRYSTAL, 1995, p. 39).
A nova técnica de ensino desenvolvida por Richard of Penkridge, tornou-se 
necessária para as lições de “gramática” (latim), que antes eram dadas em fran-
cês, porque os jovens não sabiam mais falar francês o suficiente para apren-
der o latim por esse meio. Os principais professores de latim vinham da vida 
religiosa. Essas comunidades eram especialmente afetadas pela peste, por-
que funcionavam também comohospitais. A falta de eclesiásticos fez que o 
inglês entrasse no ensino com língua veicular, substituindo o francês que de-
sempenhava essa função e tornando essa língua menos importante na cul-
tura inglesa e, simultaneamente, abrindo mais espaço para o uso do inglês.
Velho e doente, Edward III retirou-se do governo deixando-
-o nas mãos de seus filhos e favorecidos. Em 1369, os franceses 
atacaram sob o comando do novo rei Charles V (Jean II morreu 
preso na Inglaterra, esperando a arrecadação de seu resgate) e o 
eficaz Bertrand du Guesclin. O príncipe John of Gaunt foi enviado 
à França para organizar a resistência, mas foi em vão. Todas as 
regiões conquistadas pelos ingleses foram perdidas no Tratado de 
Bruges em 1375, com a exceção das cidades de Calais no noroes-
te, Bordeaux e Bayonne no sudoeste. 
O reinado de Edward III foi importante para a língua inglesa, 
pois o rei explorou o medo que existia desde os tempos de Edward 
I de que os franceses pretendessem erradicar a língua, depois de 
terem conquistado o país, para aumentar o sentimento nacional 
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94
durante as guerras no continente. Edward também forjou uma 
relação mais próxima com a nobreza, instituindo a Order of the 
Knights of the Garter (“Ordem dos Cavaleiros da Jarreteira”), 
que ainda existe hoje, fomentando identificação com o monarca 
e com a Inglaterra entre uma elite social que era essencialmente 
anglo-normanda e bilíngue. A partir de 1362, por outro lado, a 
língua inglesa experimentou certa ressurgência oficial quando 
uma lei obrigou o uso dessa língua nos tribunais (ironicamen-
te, esse “Estatuto de Advocacia” foi redigido em francês!). Em 
1363, o parlamento foi declarado aberto em inglês pela primeira 
vez – contudo, o parlamento ainda foi aberto em francês várias 
vezes até 1377. Nos anos seguintes, escritores como William 
Langland, John Gower e Geoffrey Chaucer compuseram obras 
literárias em inglês para o consumo da corte (veremos mais de-
talhes no último tema desta unidade).
O reinado de Richard II
Quando Edward III morreu em 1377, seu neto, Richard, fi-
lho do Infante Edward, o Príncipe Negro (que já tinha falecido 
em 1376), foi declarado rei com apenas dez anos de idade. Ini-
cialmente sob a tutela de vários conselhos de nobres, o reinado 
de Richard II teve vários momentos de instabilidade. A repetida 
arrecadação de impostos para malsucedidas campanhas militares 
contra a França provocou descontento entre a população geral, 
cuja maior manifestação foi a Revolta dos Lavradores em 1381, 
quando um levantamento popular nos condados de Kent e Essex 
ocupou as áreas de Londres, incendiando o palácio do tio do rei, 
John of Gaunt, e assassinando o arcebispo de Canterbury e o Alto 
Tesoureiro. Com apenas 14 anos, Richard negociou com os rebel-
des e conseguiu acalmá-los depois que seu líder, Wat Tyler, foi 
morto. Subsequentemente, o jovem rei derrotou os lavradores e 
reprimiu o levantamento.
Dificuldades políticas entre as facções favorecidas pelo rei 
e por seu tio, John of Gaunt, e seu filho, Henry Bolingbroke, 
complicaram a situação no reino com frequência. O partido de 
Bolingbroke conseguiu dispersar o círculo de favorecidos do rei, 
obrigando-o a se exilar ou condenar seus seguidores. Richard 
aceitou o domínio dos “Senhores Suplicantes” durante oito anos 
de paz relativa, quando, em 1379, ele mandou prender e executar 
Gramática histórica da língua inglesa
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O inglês médio 95
vários deles para se vingar das humilhações anteriores. Apesar 
de ter comprado o apoio dos nobres com títulos e terras confis-
cados dos homens condenados, o poder da família de Lancaster 
continuou a preocupar Richard e, quando o velho duque de Lan-
caster, John of Gaunt, morreu em 1399, o rei não permitiu que o 
exilado Henry Bolingbroke sucedesse ao título do pai e estendeu 
o tempo de exílio de dez anos para toda a vida, confiscando todas 
as suas terras.
Uma mudança política na França instigou o duque de Orléans 
a apoiar Henry Bolingbroke a invadir a Inglaterra para desestabi-
lizar o regime. Desembarcando no norte, enquanto Richard estava 
em campanha na Irlanda, Bolingbroke, alegando apenas querer 
assumir sua herança, conseguiu rapidamente atrair um contingen-
te considerável de seguidores. Quando Richard chegou à Inglater-
ra, ele se entregou a Bolingbroke, prometendo abdicar se sua vida 
fosse salva. Henry Bolingbroke assumiu o trono em 1399, embora 
não fosse o herdeiro mais próximo por sangue, esse foi Edmundo 
Mortimer, earl da Marca, filho de Lionel de Antuérpia, o segun-
do filho sobrevivente de Edward III; Henry era filho de John of 
Gaunt, o quarto filho, embora a linhagem de Bolingbroke fosse 
por ascendência paterna direta. 
Os reinados de Henry IV e Henry V
Richard II morreu, provavelmente de fome no Castelo de Pon-
tefract, perto de York em 1400. Não se sabe se ele se suicidou 
por uma greve de fome ou se ele foi assassinado. O reinado de 
Henry IV foi perturbado por rebeliões, complôs e constantes ques-
tionamentos de sua legitimidade, já que Richard Plantageneta, du-
que de York, possuía um vínculo mais próximo com o antigo rei 
Richard II. Não obstante, Henry VI conseguiu manter-se no trono, 
que passou para seu filho Henry V em 1415.
O breve reinado de Henry V (1413-1422) ficou célebre entre 
os monarcas medievais ingleses como o rei que mais perto chegou 
do cobiçado trono francês. Depois de uma série de vitórias des-
lumbrantes, especialmente na batalha de Agincourt, contra grande 
desvantagem numérica. Henry negociou o Tratado de Troyes em 
1420, em que foi estipulado que ele passasse a ser o herdeiro pre-
suntivo do rei Charles VI e se casasse com a infanta Catarina de 
Valois, para unificar as duas linhagens definitivamente.
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96
45º N
0º
OCEANO
ATLÂNTICO
Mar
do Norte
ARAGÃO
INGLATERRA
Paris
TroyesBrétigny
Orléans
Reims
Rouen
NeversBourges
Calais
Bruxelas
Londres
Southhampton
ARMAGNAC
NAVARRA
DAUPHINÉ
LUXEMBURGO
Toulouse
Avignon
Marselha
Provença
Bourdeaux
Bretanha
CHAMPAGNE
PICARDIA
LIMBURG
NORMANDIA
Aquitânia
AUVERGNE
POITOU
FRANCHE-
COMTE
Mar Mediterrâneo
Cana
l da Ma
ncha
Rio Sena
Rio Reno
Rio Marne
Rio Loire
FL
AN
DR
ES
HAINAULT
BR
AB
AN
TE
R
io
 R
od
an
oRio Garona
Território máximo
anglo-borgonhês
Fronteiras da França
(C) 1429
Figura 2.14 As conquistas francesas de Henry V.
Fonte: Pojer e Greeley (2016, p. 21).
Henry V foi o primeiro rei a utilizar o inglês em sua correspon-
dência pessoal desde a conquista normanda, há quase 350 anos. 
Ele também promovia o uso da língua inglesa na administração 
do reino, o que contribuiu significativamente à evolução do estilo 
denominado o “padrão chancelaresco”. 
A despeito de seus sucessos militares, em campanha na França 
em 1422, Henry V contraiu disenteria e faleceu à idade de apenas 
36 anos, deixando o trono a seu filho, Henry VI, com apenas nove 
meses. Dois meses depois da morte de Henry V, o rei francês lou-
co Charles VI também morreu, fazendo que Henry VI da Inglater-
ra se tornasse também Henry I da França.
O reinado de Henry VI
O reinado de Henry VI foi inquieto. A longa menoridade do 
rei-menino possibilitou o crescimento de rivalidades ferozes entre 
Gramática histórica da língua inglesa
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O inglês médio 97
os nobres mais importantes para integrar e controlar os conselhos 
governantes, com vistas a beneficiar a si e seus parentes por sua 
posição privilegiada.
Tentando tirar proveito da situação política estagnada na Ingla-
terra, o dauphin francês fez-se coroar na Catedral de Reims como 
Charles VI em 1429. As vitórias de Joana d’Arc e outros líderesmilitares dinâmicos franceses deram novo ímpeto à resistência à 
ocupação inglesa, que havia perdido forças depois da morte do rei 
guerreiro Henry V. Aos poucos, os ingleses iam sendo empurrados 
para o oeste. As derrotas militares coincidiam com um período em 
que o jovem rei favorecia uma estratégia pacífica de negociação 
com os franceses, casando-se com Margaret de Anjou, sobrinha de 
Charles VI, entretanto, mandou entregar os condados de Maine e 
Anjou para os franceses em lugar de pagar um dote, uma ação ex-
tremamente impopular na Inglaterra. Simultaneamente, as forças 
francesas varriam a presença inglesa do mapa, deixando apenas 
um pequeno território ao redor da cidade de Calais. 
Figura 2.15 Território inglês na França no fim da Guerra dos Cem Anos.
Fonte: Pojer e Greeley (2016, p. 29).
45º N
0º
OCEANO
ATLÂNTICO
ESPANHA
INGLATERRA
Paris
Ducado de
Borgonha
Calais
Londres
Southhampton
Champagne
Anjou Blois
Poitiers
Touraine
Auvergne
Gasconha Languedoc
Toulouse
Bourdeaux
Bretanha
Normandia
Aquitânia
IMPÉRIO
SACRO
ROMANO
Mar Mediterrâneo
Cana
l da Ma
ncha
Rio S
ena
Rio Loire
Fl
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de
rs
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R
io
 R
od
an
oRio Garona
Fim da guerra
Território inglês
Território francês
Territórios borgonheses
reconciliados com a França
1453
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98
Henry VI foi um rei pacífico e pio que investiu bastante em 
obras ligadas à educação e à cultura. Ele fundou o famoso Colégio 
Eton e colleges (instituições de ensino superior) nas universidades 
de Cambridge e Oxford. Ele patrocinou a construção de igrejas e 
a produção de música, arte e manuscritos. Sua corte era suntuosa, 
e os gastos extravagantes da família real e seus seguidores chega-
ram a pesar negativamente nas finanças do reino.
O século XV e a Guerra das Rosas
A disputa acirrada pela coroa entre as linhagens de Lancaster 
(Henry VI) e York (duque Richard) e seus descendentes, que dura-
ria o resto do século XV, ficou conhecida como a “Guerra das Ro-
sas”, devido aos emblemas heráldicos das duas estirpes: uma rosa 
vermelha para os lancastrianos e uma rosa branca para os yorkistas.
O fim do reinado de Henry VI
Os repetidos fracassos militares na França e as intrigas cons-
tantes na corte foram agravados pelas enfermidades mentais do rei, 
que sofreu um colapso mental em agosto de 1453, ficando insen-
sível ao que passava a seu redor durante mais de um ano. Richard, 
o poderoso duque de York, assumiu a liderança do governo como 
Protetor do Reino e procurou restaurar a ordem, eliminar abusos e 
corrupção, e reduzir os gastos excessivos da família real. Quando 
o rei finalmente voltou a si no natal de 1454, vários nobres mani-
festaram seu apoio ao duque de York para continuar na regência e, 
mais tarde, para assumir o trono, apontando para sua maior pro-
ximidade de parentesco com o antigo rei Edward III. Por fim, foi 
decidido que Richard assumiria o trono quando Henry morresse.
Em 1460, Richard, duque de York, morreu em batalha. Em 1461, 
Henry foi 1ibertado da prisão que sofria, mas estava muito debili-
tado mentalmente para governar. No mesmo ano, Edward, filho de 
Richard de York, venceu a batalha de Towton, e Henry e a rainha 
Margaret fugiram para a Escócia. Edward de York declarou-se rei, 
apesar de certa resistência por lancastrianos no norte. Em 1465, 
Henry foi capturado novamente e encarcerado na Torre de Londres.
O reinado de Edward IV
Edward IV desentendeu-se com seus principais apoiadores 
nobres, os duques de Warwick e de Clarence, que tramaram um 
Gramática histórica da língua inglesa
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O inglês médio 99
pacto com a rainha Margaret em exílio para restaurar Henry VI ao 
trono com ajuda do rei da França. O complô deu certo, e Henry foi 
entronado novamente em 1470, embora o governo do reino fi cas-
se nas mãos dos dois duques. O regime restaurado durou apenas 
seis meses, porque Warwick declarou guerra contra o poderoso 
duque da Borgonha, e em retaliação o príncipe continental deu 
todo apoio fi nanceiro e militar necessário para Edward IV montar 
seu retorno à Inglaterra. Nas batalhas que seguiram, os duques de 
Warwick e Clarence morreram, como também morreu Edward, o 
único fi lho de Henry VI e Margaret de Anjou.
Saiba mais
Figura 2.16 A chegada da imprensa móvel à Inglaterra.
Fonte: Culture Club/Getty Images.
A apresentação a Edward IV em 1477 por Anthony Woodville de um dos pri-
meiros livros impressos em inglês, Dictes and Sayings of the Philosophers (“Dita-
dos e provérbios dos fi lósofos”). O texto foi traduzido do francês pelo próprio 
Woodville, cuja irmã Elizabeth era rainha, e foi impresso por William Caxton, 
que trouxe de Bruges a primeira imprensa móvel para a Inglaterra em 1476. 
Esta miniatura ilustra o evento da apresentação ao rei e à rainha, com seu 
fi lho, Edward, príncipe de Gales e o futuro Edward V, e o irmão do rei, Richard 
de Gloucester, o futuro Richard III.
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100
Edward IV foi um monarca bem-sucedido. Um excelente ge-
neral que nunca foi derrotado em batalha, ele conseguiu elimi-
nar seus adversários e estabilizar o reino politicamente, depois 
de quase duas décadas de guerra civil entre as facções de York 
e Lancaster. Ele foi um administrador hábil e comerciante astu-
to, fazendo muito para reabastecer as finanças reais. Sua corte foi 
esplêndida e patrocinou a vida cultural e artística do período. No 
entanto, a despeito do sucesso, com sua morte em 1483, seu her-
deiro, Edward V, foi declarado ilegítimo e desapareceu junto com 
seu irmão menor, após ser encarcerado por seu tio, Richard, o du-
que de Gloucester, que fora encarregado pelo falecido rei Edward 
IV de cuidar dos seus filhos, e se declarou rei. 
O reinado de Richard III
Richard III enfrentou duas rebeliões importantes durante seu 
breve reinado. A primeira, em 1483, foi reprimida, mas a segunda, 
em 1485, liderada por Henry Tudor, último (e distante) descen-
dente da linhagem de Lancaster, derrotou as forças de Richard na 
Batalha de Bosworth, em que Richard III foi morto, encerrando 
a dinastia Plantageneta que reinava na Inglaterra desde Henry II 
no século XII, terminando definitivamente também o período da 
Guerra das Rosas e iniciando a dinastia dos Tudor.
De relevância para a questão da língua inglesa, a ordem de 
Richard III traduziu do francês as leis e estatutos do reino, sendo 
redigidos em inglês.
Influências estrangeiras
Ao longo da Idade Média, o inglês estava em contato com 
várias línguas que contribuíam com vocábulos e influenciavam a 
evolução da gramática.
Contato com o francês normando e o francês de 
Paris
O principal impacto da conquista normanda e o domínio de 
uma elite francófona durante mais de 350 anos sobre a língua 
inglesa está evidente no vocabulário. Não existem tantas carac-
terísticas gramaticais que possamos atribuir ao longo convívio 
Gramática histórica da língua inglesa
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O inglês médio 101
com o francês. Quando duas línguas estão em contato, é natural 
que as pessoas tomem palavras para se referir a coisas, práti-
cas e ideias novas, para as quais não atribuíram um termo pró-
prio. Podemos descrever as relações entre os grupos de falantes 
em contato como: (1) substráticas, (2) superestráticas, ou (3) 
adstráticas. 
1. No primeiro caso, um grupo autóctone é dominado por outro 
grupo e abandona sua língua ancestral para a nova. No entan-
to, aspectos da língua original influenciam a nova língua no 
vocabulário, na gramática e no sotaque. 
2. No segundo caso, um grupo chega a uma região e domina a 
população local. Em lugar de provocar o abandono da língua 
ancestral autóctone, porém, é o grupo imigrante que acaba 
abandonando sua língua,mas não antes de deixar vários as-
pectos dela influenciarem a língua da maioria. 
3. Denominamos adstrático o caso de duas línguas que coexis-
tem com pouco ou nenhuma diferença de prestígio ou núme-
ro de falantes, por exemplo, português no Brasil e espanhol 
na Argentina. 
Evidentemente, a situação na Inglaterra era uma relação de 
superestrato entre o francês e o inglês. O domínio sociopolítico 
dos normandos e seus descendentes criou as condições perfei-
tas para a enxurrada de empréstimos lexicais franceses que ob-
servamos em inglês, porque a posição dominante dos falantes 
de francês fazia que eles detivessem prestígio, e esse prestígio 
social foi transferido para sua língua. Como as pessoas tendem 
a desejar o prestígio, saber francês ou pelo menos usar algu-
mas palavras francesas se tornava uma maneira de demonstrar 
sofisticação e importância. Além da atração do prestígio, outro 
motivo mais prosaico favorecia a adoção de palavras francesas: 
as necessidades da interação cotidiana. Como quem mandava o 
fazia em francês, quem soubesse a língua teria melhores oportu-
nidades. Por outro lado, o inverso também é verdade: para inte-
ragir com seus vassalos e servos ingleses, os normandos tinham 
de aprender inglês. Gradualmente, pela intensa interação social, 
a elite anglo-normanda tornou-se bilíngue, abrindo outra frente 
para a fácil entrada de palavras francesas no inglês das camadas 
sociais mais altas.
Book 1.indb 101 17/11/16 19:14
102
Gráfico 2.1 Quantidade de empréstimos lexicais que entraram na 
língua inglesa entre 1000 d.C. e 1900 d.C.
Fonte: Crystal (1995, p. 47).
1900–
1900
1800–
1800
1700–
1700
1600–
1600
1500–
1500
1400–
1400
1300–
1300
1200–
1200
1100–
1100
1000
300
260
220
180
140
100
60
20
O Gráfico 2.1 representa a entrada de vocábulos franceses no 
inglês desde o final da época anglo-saxônica, de acordo com a 
primeira atestação textual. Os empréstimos não são uniformes: no 
início do período, há mais influências nos dialetos meridionais, em 
traduções do francês, na poesia trovadoresca e de cavalaria, que 
em outros gêneros e lugares. Até o século XIV, porém, não existe 
dúvida quanto ao grau de permeação, por exemplo, Crystal (1995) 
afirma que, em 858 linhas do “Prólogo” dos Contos de Canter-
bury de Chaucer, há quase 500 empréstimos lexicais franceses.
Baugh e Cable (1994) observam que é possível distinguir dois 
momentos na história dos empréstimos lexicais franceses que en-
traram no inglês durante a Idade Média, com o ano de 1250 como 
a divisa aproximada. As palavras que entraram antes dessa data são 
menos numerosas (existem aproximadamente 900) e tendem a exi-
bir características fonéticas associadas ao dialeto normando. Tais 
palavras também são mais específicas quanto ao campo semântico 
(a área do significado) no qual foram introduzidos, por exemplo:
Gramática histórica da língua inglesa
Book 1.indb 102 17/11/16 19:14
O inglês médio 103
 Hierarquia social – baron “barão”, prince “príncipe”, prin-
cess “princesa”, duke “duque”, duchess “duquesa”, count 
“conde”, countess “condessa”, noble “nobre”, dame “dama”, 
squire “escudeiro”, page “pajem”, servant “criado”, serf 
“servo”, messenger “mensageiro”.
 Religião – pray “orar”, confession “confissão”, communion 
“comunhão”, sermon “sermão”, homily “homilia”, clergy 
“clero”, clerk “clérigo”, prelate “prelado”, dean “decano”, 
chaplain “capelão”, pastor “pastor”, vicar “vicário”, ab-
bess “abadessa”, friar “frade”, theology “teologia”, religion 
“religião”.
 Literatura de cavalaria e de amor cortês – minstrel “me-
nestrel”, troubadour “trovador”, juggler “joglar”, story “es-
tória”, rhyme “rima”, lay “balada, canção”, poet “poeta”, 
tragedy “tragédia”, romance “romance”.
Na segunda fase de empréstimos, a quantidade de empréstimos 
aumentou de modo exponencial, provavelmente devido à situação 
social em que o bilinguismo em francês e inglês era muito mais 
comum. As áreas do léxico mais atingidas pelos empréstimos, de 
acordo com Baugh e Cable (1994), são:
 Governo e administração – government “governo” (fr., 
gouvernement), govern “governar” (fr., gouverner), adminis-
ter “administrar” (fr., administrer), crown “coroa” (fr., cou-
ronne), estate “estado” (fr. ant., estat, fr. mod., état), empire 
“império” (fr., empire), realm “reino” (fr., royaume), reign 
“reinado” (fr., règne), court “corte”, “tribunal” (fr., court), 
council “conselho” (fr., conseil), parliament “parlamento” 
(fr., parlement), assembly “assembleia” (fr., assemblée), 
alliance “pacto” (fr., alliance), tax “imposto” (fr., taxe).
 Títulos e cargos – chancellor “chanceler” (fr., chancelier), 
treasurer “tesoureiro” (fr., trésorier), marshall “marechal” 
(fr., maréchal), governor “governador” (fr., gouverneur), 
councillor “conselheiro” (fr., conseilleur), minister “minis-
tro” (fr., ministeur), mayor “prefeito” (fr., mayeur), constable 
“contestável” (fr., contestable); sir “senhor” (fr., sire, sieur), 
madam “senhora” (fr., madame); vassal “vassalo” (fr., vas-
sal), homage “homenagem” (fr., hommage), peasant “cam-
ponês” (fr., paysan), bailiff “meirinho” (fr., bailli [arcaico]).
 Direito – plea “pleito” (fr., plaider), defendant “réu” (fr., 
défendant), judge “juiz” (fr., juge), jury “júri” (fr., jurée), 
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104
inquest “inquérito” (fr. ant., enqueste, fr., enquête), proof 
“prova” (fr., preuve), sentence “sentença” (fr., sentence), pri-
son “prisão”, “presídio” (fr., prison).
 Atividades militares – army “exército” (fr., armée), navy 
“marinha” (fr. ant., navie), battle “batalha” (fr., bataille), ene-
my “inimigo” (fr., ennemi), combat “combater” (fr., combat), 
siege “sítio” (fr., siège), soldier “soldado” (fr. ant., soldier), 
guard “guarda” (fr., garde), captain “capitão” (fr., capi-
tain), sargeant “sargento” (fr., sargeant); arms “armas” (fr., 
armes), lance “lança” (fr., lance), mail “malha” (fr., maille), 
archer “arqueiro” (fr., archer), barbican “barbacã” (fr., barbi-
can), moat “fossa” (fr., motte), ambush “emboscar” (fr., embus-
chier), banner “bandeira” (fr., bannière), brandish “sacudir”, 
“agitar” (fr. ant., brandire, brandiss-), vanquish “vencer” (fr. 
vainquire, vanquiss-), defend “defender” (fr., défendre).
 Moda, comida e vida social – fashion “moda” (fr., façon), 
dress “vestidura” (fr., dresser), gown “vestido” (fr. ant., goune), 
robe “roupa longa” (fr., robe), cape “capa” (fr., cape), cloak 
“manto” (fr. ant., cloche, cloque); dinner “jantar” (fr. ant., dis-
ner, fr., dîner), supper “ceia” (fr., souper), feast “banquete” (fr. 
ant., feste, fr. mod., fête), venison “veado” (fr., venaison), beef 
“carne bovina” (fr., boeuf), mutton “ovelha” (fr., mouton), pork 
“porco” (fr., porc), sausage “salsicha” (fr. ant., saussiche), sar-
dine “sardinha” (fr., sardine), oyster “ostra” (fr. ant., oistre, fr. 
mod., huître), raisin “uva-passa” (fr., raisin), orange “laranja” 
(fr., orange), peach “pêssego” (fr., pêche), biscuit “biscoito” 
(fr., biscuit), toast “torrada” (fr., toster), cream “creme” (fr., 
crème), jelly “geleia”, “gelatina” (fr., gelée), herb “tempero” 
(fr., herbe), mustard “mostarde” (fr. ant., moustarde, fr. mod., 
moutarde), vinagar “vinagre” (fr., vinaigre), recreation “di-
versão”, solace “consolo”, jollity “alegria, jovialidade”, dance 
“dança”, carol “hino natalino”, revel “festim, folia”, juggler 
“prestidigitador”, fool “bobo”, melody “melodia”, music “mú-
sica”, chess “xadez”, dalliance “galanteio”, conversation 
“conversação”, dais “estrado, plataforma”, parlour “sala de 
estar”, wardrobe “guarda-roupa”, pantry “dispensa”, scullery 
“área de serviço”, joust “peleja”, tournament “torneio”, pavi-
lion “pavilhão”.
Outra distinção que observamos entre a fase mais antiga e a 
fase mais recente dos empréstimos lexicais francesesno inglês é o 
Gramática histórica da língua inglesa
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O inglês médio 105
dialeto de origem. As palavras que entraram antes vieram da varie-
dade normanda do francês antigo. Tal como o inglês antigo (como 
qualquer língua), o que chamamos “francês” não é algo uniforme, 
mas antes é um conglomerado de variedades regionais e sociais. A 
situação não era diferente no passado: podemos identificar diver-
sos tipos regionais entre os falares antigos pelo reino da França. 
O francês normando era uma variedade ocidental e exibe algumas 
características que o distinguem das outras variedades faladas em 
outros lugares. Por exemplo, nos dialetos centrais franceses, dos 
quais a língua padrão descende, o grupo /ka-/ em início de palavra 
em latim tardio passou a ser pronunciado como /tʃa-/ (como se 
fosse escrito txa- ou tcha- em português, ou cha- em inglês ou 
espanhol), por exemplo, latim: captivus /kap′tiwu/ “preso”, “ca-
tivo” > francês central antigo: chaitiff /tʃaj′tif/, mas em francês 
normando, o /ka-/ era preservado, dando caitif /kaj′tif/, que entrou 
no inglês medieval escrito caitiff. Essa distinção entre ca- e cha- é 
evidente em palavras como carry “levar”, carriage “carruagem”, 
case “caixa”, cauldron “caldeirão”, carrion “carniça”, todos im-
portados do dialeto normando, os quais correspondem a charrier, 
charriage, châsse, chaudron e charogne em francês moderno, 
descendente dos dialetos centrais. Às vezes, as duas versões, a 
normanda e a parisiense, coexistem em inglês, tipicamente com 
alguma distinção de significado, por exemplo, cattle (< catel nor-
mando) “gado” versus chattel (< chatel parisiense) “bem”, “pos-
sessões”; ou catch “pegar” (< cachier normando) versus chase 
“perseguir” (< chacier parisiense, = fr. mod. chasser).
Outra diferença entre os dialetos centrais e do noroeste era en-
tre /gw-/ e /w-/ em início de palavra. O francês central favorecia a 
primeira variante, e o normando, a segunda, de modo que encon-
tramos guichet “guichê” e wicket “postigo”, waste “desperdiçar”, 
“lixo” (do verbo waster) versus g(u)aster em francês central (= fr. 
mod., gâster), cognatos com gastar em português. Outros exemplos 
incluem: wasp (nor.) “vespa” e guêpe (fr. cent.), warrant e guaran-
tee “garantia”, reward “recompensa” versus regard “consideração”, 
wardrobe “guarda-roupa” (mas guardsman “sentinela”), warden e 
guardian “guardião”, wage “salário” e guage “avaliação”, “medi-
da”. O /w/ em /kw-/ também caiu nos dialetos centrais do francês, 
de modo que, em inglês, encontramos quit “abandonar”, quarter 
“quartel”, quality “qualidade”, question “questão”, “pergunta”, re-
quire “precisar”, todos com /kw-/, como descendentes das variantes 
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106
normandas, e em seus cognatos em francês moderno, encontramos 
quitter, quartier, qualité, question etc., todos com /k/.
Nas vogais, o ditongo [úi] evoluiu para [y] em normando (a 
língua na posição de [i], mas com os lábios arredondados). Em 
inglês médio, esse [y] era tomado emprestado na forma de [u] 
ou [ju] e era escrito <u>, <ui> ou <ew>, por exemplo, fruit [frut] 
“fruta”, in lieu of [lju] “em lugar de”. Em francês central, porém, 
a pronúncia desse ditongo mudou de [úi] para [uí], de modo que 
“fruta” em francês moderno é [fʁɥí] (aproximadamente frui). Ou-
tra mudança vocálica foi o ditongo [ei], que foi preservado em 
normando, mas se tornou [ói] (depois [ué] e finalmente [uá]): leal 
“leal”, real “real” (< leial, reial normando) ocorrem em inglês 
médio, junto com loyal, royal (< parisiense), que se generalizou. 
Os sufixos “-eiro”, “-ouro” em francês normando eram -arie 
e -orie /-aria/, /-oria/, mas eram -aire e -oire (/-airǝ/, /-oirǝ/) em 
francês central. Por isso, inglês exibe salary “salário” e victory 
“vitória”, mas francês moderno tem salaire e victoire (Observa-
ção: a pronúncia de oi como [uá] na última palavra) (BAUGH; 
CABLE, 1994, p. 171-72).
Grafia
Outra área em que a conquista normanda foi bastante sentida 
foi a grafia. É muito evidente, ao ler um texto medieval, que exis-
tia uma diversidade enorme entre as maneiras de escrever. Essa 
situação pode ser atribuída parcialmente à ausência de uma norma 
prestigiosa, diferente do corpus anglo-saxônico, em que a varie-
dade desenvolvida pelos escribas de Wessex se tornou predomi-
nante e quase eliminou as outras variedades regionais da escrita 
(no entanto, elas continuavam bem vivas oralmente). Na Idade 
Média, as línguas de prestígio eram o francês e o latim. O inglês 
era uma língua popular e pouco usada na escrita. Cada indivíduo 
utilizava as letras alfabéticas e algumas convenções básicas para 
representar os sons da sua variedade particular da melhor maneira 
que pudesse, o que fez a escrita muito idiossincrática. Até o fi-
nal do período medieval, porém, um padrão (Chancery Standard), 
baseado na linguagem de Londres e em certas características dos 
dialetos das regiões dos Central e East Midlands, de onde vieram a 
maior proporção dos migrantes internos (também havia contribui-
ções significativas das populações de East Anglia, Essex e Kent), 
surgiu entre os burocratas da chancelaria real no século XIV. Esse 
Gramática histórica da língua inglesa
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O inglês médio 107
modelo exerceu uma influência muito grande sobre a consagração 
de muitas grafias, por seu prestígio e porque suas normas eram 
adotadas pelos primeiros impressores. Por exemplo, such “tal” 
versus swich, sich, sych, seche; muitas palavras gramaticais can 
e could, shall e should, not, but, through, these etc., devem sua 
forma gráfica às escolhas dos notários da chancelaria (CRYSTAL, 
1995, p. 41).
A Crônica de Peterborough é uma continuação da Crônica 
Anglo-Saxônica, foi escrita no mosteiro de Peterborough em East 
Anglia, até meados do século XII. Depois de uma interrupção entre 
1131 e 1154, provavelmente devida à insegurança da guerra civil 
entre Stephen e Matilda, a crônica continua, mas em um estilo que é 
diferente da linguagem usada anteriormente. A grafia no Chronicle 
ainda mantém as letras rúnicas thorn <þ>, eth <ð>, yogh <ȝ>, ash 
<æ> e wynn <ƿ>. No entanto, encontramos <th>, às vezes, em lu-
gar de <þ> ou <ð>, <uu> e <w> por <ƿ>, e <g> por <ȝ>. As letras 
<a> e <æ> alternam-se em algumas grafias, e <u> aparece para o 
som /v/ também, ou seja, gyuen = ingl. mod., given “dado” [particí-
pio] e æure = ever “alguma vez” (CRYSTAL, 1995, p. 32-33, 40). 
A origem dessas mudanças na grafia não é resultado de mudan-
ça na língua, mas porque os escribas normandos, que tinham de 
escrever os nomes de pessoas, costumes, coisas e lugares que eram 
ditos em inglês, escreviam de acordo com as convenções que 
aprenderam para representar sua língua, o francês. Portanto, eles 
trocavam <cw> por <qu>, por exemplo, cwen > queen “rainha”, 
<gh> por <h>, por exemplo, niht > night “noite”, <ch> por <c>, 
por exemplo, cyrce > church, chyrche “igreja”, <ou> por <u>, por 
exemplo, hus > house “casa”. O som /s/ podia ser escrito <c> antes 
de <e> e <i> em francês, e essa prática era aplicada em inglês tam-
bém, por exemplo, cercle “círculo”, cell “cela”. Outro problema 
que os letrados enfrentavam era a “confusão dos traços mínimos” 
que afetava as letras <ı> <u> <v> <n> <m>. Quando algumas des-
sas letras estavam escritas juntas no estilo gótico, era difícil reco-
nhecer quais letras eram, de fato, presentes. Seis traços verticais 
breves poderiam ser <mni>, <imu>, <inni>, entre várias outras 
possibilidades. Portanto, quando três traços ou mais seguiriam a 
letra <u>, a letra <o> era usada em seu lugar, para facilitar a leitura, 
por exemplo, dove, love, come, some, son, one, são pronunciadas 
com /ʌ/ ou /ʊ/: /dʌv/ “pombo”, /lʌv/ “amor”, /kʌm/ “vir”, /sʌm/ 
“algum”, /sʌn/ “filho”, /wʌn/ “um”, mas são escritas com <o>. Os 
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normandos usavam <k>, <z> e <j> (ainda considerada apenas uma 
variante de <i>) com mais frequência que os anglo-saxões, e eles 
usavam <v> em início de palavra e <u> no meio, independente de 
o som ser a consoante /v/ ou a vogal /u/. Essa mistura de tradições 
gráficas francesas e anglo-saxônicas é um dos fatores que faz que a 
ortografia do inglês seja tão irregular (CRYSTAL, 1995, p. 40-41).
Contato com outras línguas
Além do contato íntimo com o francês e o occitano, e com o 
galês e o gaélico nas regiões celtas, durante a Idade Média, o inglês 
estava em contato com várias outras línguas europeias, especial-
mente, as línguas germânicas dos Países Baixos, ou seja, flamengo, 
holandês e outras variedades do baixo alemão. O baixo alemão é fa-
lado nas terras baixas (daí o nome) do norte da Alemanha, Holanda 
e Luxemburgo. Esses dialetos “baixos” são bem diferentes dos dia-
letos do alto alemão falado no centro e sul, que é mais montanhoso, 
causando a designação de “altura”. O alemão padrão é derivado do 
alto alemão central do período da Reforma protestante (século XV). 
É difícil saber, às vezes, de onde certas palavras foram tomadas 
emprestadas, porque essas línguas são muito parecidas, sendo todas 
do mesmo ramo germânico. Às vezes, é até difícil saber se uma 
palavra é, de fato, um empréstimo, porque o próprio inglês pertence 
ao ramo baixo alemão e os dialetos medievais eram muito mais pa-
recidos que as línguas modernas.
Havia muita interação entre a Inglaterra e os Países Baixos 
durante o período medieval. As famílias reais inglesas casavam-
-se com as dos duques e condes da região, por exemplo, Matilde, 
esposa de William I, era flamenga, Filipa, rainha de Edward III era 
de Hainault (atual Bélgica). Mercenários flamengos lutavam nos 
exércitos ingleses na França, em Gales e na Escócia, e participa-
vam das guerras civis. Outra fonte de interação era o comércio de 
lã. A Inglaterra era uma grande produtora de lã, mas os tecelões 
flamengos e holandeses eram melhores, de modo que a lã inglesa 
era exportada. Os comerciantes alemães da importante Liga Han-
seática, ligada a todos os portos do Mar do Norte e do Mar Bál-
tico, mantinham casas filiais em Londres, Boston, no condado de 
Lincolnshire e de King’s Lynn em Norfolk.
Devido à natureza dos contatos comerciais, a maioria das pala-
vras que o inglês recebeu do baixo alemão provém do âmbito dos 
tecidos (nap “felpa, lanugem”, cambric “cambraia”, duck “lona”) 
Gramática histórica da língua inglesa
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O inglês médio 109
e do tráfego marítimo (skipper “capitão”, deck “convés”, bowsprit 
“gurupés”, lighter “batelão”, dock “doca”, boom “longarina”, frei-
ght “frete, carga”, guilder “florim”, dollar “dólar”).
O latim medieval, a língua franca internacional da Idade Média, 
também contribuiu com alguns termos para o inglês, especialmen-
te durante os séculos XIV e XV. O âmbito desses empréstimos, 
como é de esperar, eram as profissões: direito, medicina, religião, 
por exemplo, no campo legal: alias “alias”, arbitrator “árbitro”, 
cliente “cliente”, conviction “condenação”, custody “custódia”, 
gratis, homicide “homicídio”, legal “legal”, legitimate “legitimar, 
legítimo”, testify “testificar”; em religião: diocese “diocese”, im-
mortal “imortal”, incarnate “incarnar, incarnado”, limbo “limbo”, 
mediator “mediador”, missal “missal”, pulpit “púlpito”, requiem 
“réquiem”, rosary “rosário”; nas ciências: abacus “ábaco”, co-
met “cometa”, contradiction “contradição”, desk “escrivaninha”, 
equator “equador”, essence “essência”, genius “gênio”, history 
“história”, index “índice”, interior “interior”, intellect “intelecto”, 
library “biblioteca”, ligament “ligamento”, magnify “magnificar”, 
mechanical “mecânico”, prosody “prosódia”, scribe “escriba”, 
simile “símile”; alguns termos mais gerais: admit “admitir”, ad-
jacent “adjacente”, collide “colidir”, collision “colisão”, distract 
“distrair”, expedition “expedição”, include “incluir”, incredible 
“incrível”, lucrative “lucrativo”, lunatic “lunático”, necessary 
“necessário”, nervous “nervoso”, picture “pintura”, private “pri-
vado”, quiet “quieto”, reject “rejeitar”, solitary “solitário”, tole-
rance “tolerância”, ulcer “úlcera”.
História interna: mudanças estruturais
Já apresentamos uma seleção das mudanças que atingiram o 
vocabulário inglês. No entanto, todos os níveis estruturais da lín-
gua inglesa evoluíram bastante ao longo da Idade Média. Durante 
o período do inglês antigo, grandes mudanças na situação extra-
linguística depois da conquista normanda criaram um contexto 
especialmente propício para inovações.
Fonologia
Vários sons mudaram durante a primeira fase depois da con-
quista: alguns foram substituídos, outros desapareceram. O siste-
ma vocálico foi o mais atingido nesse momento inicial.
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110
Quadro 2.1 Sons e grafias do inglês antigo.
Letra
Exemplo e significado 
em inglês antigo
Símbolo AFI Exemplo moderno
æ sæt “sentou-se” (ingl. 
mod., sat)
[æ] sat em inglês britânico 
meridional
dæd “feito”, “ato” (ingl. 
mod., deed)
[ɛ:] seta em port. (mas longa)
a mann “homem” (ingl. 
mod., man)
[ɒ] hot em ingl. norte-americano
dagas “dias” (ingl. mod., 
days)
[ɑ] (só antes de m, n, n[g]) Land em alemão
ham “lar” (ingl. mod., 
home)
[ɑ:] father em ingl. brit. merid.
c cyrice “igreja” (ingl. mod., 
church)
[tʃ] (antes/depois de i e com 
frequência æ, e, y)
church em ingl.
cene “atrevido” (ingl. 
mod., keen)
[k] campo em port.
cg ecg “margem” (ingl. mod., 
edge
[dʒ] jump em ingl.
e settan “colocar” (ingl. 
mod., set)
[ɛ] seta em port.
he “ele” (ingl. mod., he) [e:] bêbado (mas longa)
ea earm “braço” (ingl. ant., 
arm)
[æǝ] Como [æ] seguido por a de lata 
em port.
eare “orelha” (ingl. mod., 
ear)
[ɛ:ǝ] Como é de pé seguido por a de 
lata em port.
eo eorl “nobre” (ingl. mod., 
earl)
[eǝ] Como ê de bêbado seguido por 
a de lata em port.
beor “cerveja” (ingl. mod., 
beer)
[e:ǝ] Como ê de bêbado (mas longa), 
seguido por a de lata em port.
f æfre “cada” (ingl. mod., 
every)
[v] (entre sons sonoros e 
vogais)
v de vida em port.
fif “cinco” (ingl. mod., 
five)
[f] f de faca em port.
g gyt “conseguir” (ingl. 
mod., yet)
[j] (antes/depois de i e com 
frequência æ, e, y)
y de yellow em ingl.
fugol “pássaro” (ingl. 
mod., fowl)
[ɣ] (entre vogais posteriores 
([u, o, ɔ, ɒ, ɑ])
rr de arruda em port. de RJ 
gan “ir” (ingl. mod., go) [g] g de gato em port.
Gramática histórica da língua inglesa
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O inglês médio 111
Fonte: Crystal (1995, p. 18).
h heofon “céu” (ingl. mod., 
heaven)
[h] (em início de palavra) h de hat em ingl.
niht “noite” (ingl. mod., 
night)
[ç] (depois de æ, e, i, y) ich “eu” em alemão
brohte “trouxe” (ingl. 
mod., brought)
[x] (depois de a, o, u) r de rato em port. carioca
i sittan “sentar-se” (ingl. 
mod., sit)
[ı] e de mate em port.
wid “largo” (ingl. mod., 
wide)
[i:] i de sítio em port. (mas longa)
o monn “homem” (ingl. 
mod., man)
[ɒ] o de hot em ingl. 
Norte-americano
god “deus” (ingl. mod., 
god)
[ɔ] ó de avó em port.
god “bom” (ingl. mod., 
good)
[o:] ô de avô em port. (mas longa)
s risan “levantar-se” (ingl. 
mod., rise)
[z] (apenas entre vogais) z de zebra ou s de asa em port.
hus “casa” (ingl. mod., 
house)
[s] s de samba
sc scip “barco” (ingl. mod., 
ship)
[ʃ] ch de chave em port.
t ton “aldeia” (ingl. mod., 
town)
[t] t de torre em port.
þ,	ð oþer,	oðer “outro” (ingl. 
mod., other)
[ð] (entre vogais) th de this “este” em ingl.
þurh,	ðurh “por” (ingl. 
mod., through)
[θ] th de through “por” em ingl.
u ful “cheio” (ingl. mod., 
full)
[u] u de puro emport.
hus “casa” (ingl. mod., 
house)
[u:] u de puro em port., mas longo
ƿ ƿynn “alegria” [w] w de whisky
y wynn “alegria” [y] u de lune em francês
ryman “abrir passagem” [y:] u de lune em francês, mas longo
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112
Os ditongos do inglês antigo (ea [æǝ], [ɛ:ǝ], eo [eǝ], [e:ǝ]) fo-
ram convertidos em vogais simples breves ([ɛ] e [e] breves, escri-
tas com e) e seus pares longos, [ɛ:] e [e:] (escritos ea e ee). Novos 
ditongos surgiram quando a pronúncia de certas consoantes foi 
vocalizada, por exemplo, ingl. ant., weg [weg] > ingl. méd., wei 
[wej] (cf., ingl. mod., way). 
As vogais átonas em final de palavra deixaram de ser pro-
nunciadas tão claramente, de modo que muitas foram reduzidas 
a shwa [ǝ], um som indistinto que soa como o a final em lata em 
português, antes de serem elididas completamente. A dificuldade 
de distinguir entre as vogais finais causaria um impacto impor-
tante na erosão das desinências de caso nos nomes e de tempo e 
pessoa nos verbos (veja a seguir “Morfologia e sintaxe”).
Empréstimos franceses introduziram os ditongos [oi] e [ui] 
(atualmente [oi] como em joy “alegria”, point “ponto” etc., em 
ingl. mod.). 
Com a exceção dos dialetos do norte, [ɑ:] de inglês antigo pas-
sou a ser articulado como [o:] por exemplo, ban “osso” [bɑ:] e 
swa “assim” [swɑ:] do inglês antigo, passaram a ser escritas com 
bon [bo:] e so [so:] (ingl. mod., bone, so). 
A consoante [h] começou a ser elidida, por exemplo, ingl. ant., 
hring [hriŋg] “anel”, hnecca [hnɛkka] “pescoço” > ingl. med., 
ring [riŋg], neck [nɛk]. Em muitos manuscritos medievais, encon-
tramos grafias em que a ausência da letra h ou sua inclusão onde 
não era preciso indicam que [h] não era pronunciada, por exem-
plo, ædde por had “teve”, eld por held “segurou”, his por is “é”, 
harm por arm “braço”. Posteriormente, no inglês padrão, o [h] foi 
restaurado em muitas palavras, devido às grafias que ficaram con-
sagradas. Por escrever as palavras com h, as pessoas achavam que 
deveriam pronunciar algum som, embora isso não tenha afetado 
certas palavras emprestadas das línguas românicas, como honour, 
por exemplo, que é [ɒnǝ] ou [ɑnǝɹ]. Diferente da língua culta do 
sudeste, em muitas variedades do inglês faladas na Inglaterra, a 
restauração de [h] ao inventário fônico nunca ocorreu, de modo 
que [h] foi eliminada completamente. Nessas variedades, palavras 
como hair “cabelo” e air “ar”, harm “dano” e arm “braço” são 
homófonas, pronunciadas [ɛǝ] ou [ɛ:] e [ɑ:m], respectivamente.
A influência do francês também se fez sentir em certas distin-
ções entre consoantes. Por exemplo, em inglês antigo [s] e [z] e 
[f] e [v] eram variantes que alternavam dependendo dos sons ao 
Gramática histórica da língua inglesa
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O inglês médio 113
redor. Tipicamente, [s] e [f] apareciam em início e final de palavra, 
e [z] e [v] apareciam entre vogais, mas, especialmente no sul, [v] e 
[z] podiam aparecer no início de palavras também, pois substituir 
o som sonoro ([v z]) por seu par surdo ([f s]) não afetava o sig-
nificado de uma palavra, ou seja, fat era pronunciado [vat] e [fat] 
e queria dizer a mesma coisa (“barril”), tal como fox podia ser 
[fɒks] ou [vɒks] “raposa” (compare a palavra fox “raposa”, com 
[f], que é dos dialetos no norte, com vixen “raposa”, com [v], que 
vem do sul). No entanto, em francês antigo, a distinção entre [f v] 
e [s z] era importante, porque distinguia palavras: fin “fino” não 
era igual a vin “vinho”. Com a entrada de tantas palavras france-
sas, esses contrastes foram adotados em inglês também, de modo 
que atualmente, fat [fæt] e vat [væt] e seal [sıjl] e zeal [zıjl] são 
palavras diferentes (“gordo” e “barril”, “foca” e “zelo”, respecti-
vamente), distinguidas pelo contraste entre as consoantes iniciais. 
Por volta de 1400, no sudeste da Inglaterra, o sistema de sons 
era aproximadamente como nos mostra o Quadro 2.2.
Quadro 2.2 Sistema de sons.
Grafias Exemplos IPA
CONSOANTES
p(p) – b(b) pin “alfinete”, bit “mordeu” [p] – [b]
t(t) – d(d) tente “barraca” (ingl. mod., tent), dart “dardo” [t] – [d]
c, k, ck – g(g) castell “castelo”, kin “parentes” [k] – [g]
c, ch, tsch, tch chirche “igreja” [tʃ]
dg, g(g) + e, i, y brigge “ponte” [dʒ]
m, mm make “fazer” [m]
n, nn name “nome” [n]
ng song “canção” [ŋ] (Este som começa a ficar 
distintivo, por exemplo, sinne [sin] 
“pecado” versus sing(g)(e) [siŋ] 
“cantar”)
l, ll lay “deitar” [l]
r, rr rage “raiva” [r]
w, u, uu weep “chorar” [w]
y, i, j yelwe “amarelo” (ingl mod., yellow) [j]
f(f) foole “bobo” [f]
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v virtu “virtude” (de francês) [v] (Este som começa a contrastar 
com [f])
s(s), c(c) + i, e, y sore “dolorido”, citie “cidade” (do francês) [s]
z, s zephyr “zéfiro” [z] (Este som começa a contrastar 
com [s])
sh, ch, sch shadwe “sombra” (ingl. mod., shadow) [ʃ]
th, þ thank, þank “agradecer”; paþ, path “caminho” [θ] – [ð]
h happen “ocorrer” [h]
VOGAIS
i, y ryden “montar”, “andar a cavalo” [i:]
this “este” [i]
ee sweet “doce” [e:]
heeth “pântano” [ɛ:]
e men(n)(e) “homens” [ɛ]
joye “alegria” [ǝ]
a_e name “nome” [ɑ:]
ou houre “hora” [u:]
oo good “bom” [o:]
o holy “santo” [ɔ:]
oft “com frequência” [ɔ]
a hand “mão” [a]
about “sobre”, “ao redor”, [ǝ]
u but “mas” [ʊ]
DITONGOS
ay day “dia” [ai]
ui, uy, oy, oi joinen “juntar” [ʊi] (Introduzido do francês)
oi, oy joye “alegria” [oi] (Introduzido do francês)
ew newe “novo” [iʊ]
fewe “poucos” [ɛʊ]
au, aw law “lei” [aʊ]
ow growe “crescer” [ɔʊ]
Fonte: Crystal (1995, p. 42).
Gramática histórica da língua inglesa
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O inglês médio 115
Morfologia e sintaxe
Em termos do sistema morfológico, o período do inglês médio 
é caracterizado pela perda dramática das marcas de flexão do in-
glês antigo, especialmente nos nomes e nos adjetivos. Na sintaxe, 
são notáveis as crescentes restrições sobre a ordem de palavras 
nas frases. As duas mudanças gerais na gramática da língua ingle-
sa estão vinculadas porque a fixação da ordem sintática em Sujei-
to-Verbo-Objeto (com apenas algumas variações razoavelmente 
previsíveis) ajudava a contrabalançar a eliminação de desinências. 
Igualmente, quanto mais rígida a ordem dos constituintes da frase, 
menos necessárias ficavam as flexões para indicar as funções gra-
maticais, acelerando sua obsolescência e abandono.
Podemos ver a redução nas flexões de caso nominais e adjeti-
vais nos seguintes exemplos:
Singular
Se tila mann = “o homem bom” (caso nominativo [sujeito]).
Þone tilan mann = “o homem bom” (caso acusativo [objeto 
direto]).
Þæs tilan mannes = “do homem bom” (caso genitivo [posse]).
Þæm tilan menn = “para, com, por, desde o homem bom” (caso 
dativo [objeto indireto]).
Plural
Þa tilan menn = “os homens bons” (caso nominativo).
Þa tilan menn = “os homens bons” (caso acusativo).
Þara tilra manna = “dos homens bons” (caso genitivo).
Þam tilum mannum = “para, com, por, desde os homens bons” 
(caso dativo).
Como você pode ver, para quase todos os casos existe uma de-
sinência específica. Alguns casos, porém, já eram indiferenciados 
em inglês antigo, por exemplo, plural do nominativo e acusativo 
no nome. No adjetivo, não havia distinção entre o singular do 
acusativo, genitivo e dativo e o plural do nominativo e acusativo 
(tilan). Nesses casos as flexões no artigo definido e/ou o substan-
tivo podiam desambiguar o sentido.
O paradigma apresentado exibe a concordância para um subs-
tantivo do gênero masculino. Os substantivos femininos e neutros 
tinham sistemas diferentes para expressar as mesmas distinções 
de caso, mas quase todas as flexões desapareceram, tais como:
Book 1.indb 115 17/11/16 19:14
116
glof “luva” (subst. fem.)wif “mulher” (subst. neut.)
Sg. Nom. seo glof > þe glof þæt wif > þe wyf
Sg. Acus. þa glofe > þe glof þæt wif > þe wyf
Sg. Gen. þære glofe > þe gloves þæs wifes > þe wives
Sg. Dat. þære glofe > þe glove þæm wif > þe wyve
Pl. Nom. þa glofa
 > þe gloves
þa wif
 > þe wyves
Pl. Acus. þa glofa þa wif
Pl. Gen. þara glofa þara wifa
Pl. Dat. þæm glofum þæm wifum
As formas do artigo definido também iam perdendo as diferen-
ças de caso, até ficar com apenas uma variante: /ðe/, normalmente 
escrito þe (cf., ingl. mod., the). Para o paradigma de “homem”, as 
formas em inglês médio eram: þe man (sg. nom., acus.), þe man-
nes (sg. gen.), þe manne (sg. dat.) e mannes em todo plural. 
Podemos notar mudanças no sistema pronominal também en-
tre o inglês antigo e o inglês médio, especialmente na terceira pes-
soa. As formas da primeira e segunda pessoas (“eu”/”nós” e “tu” ~ 
“você”/”vocês”) mudaram pouco, como podemos ver (inglês an-
tigo > inglês médio):
Primeira pessoa do singular 
(“eu”)
Segunda pessoa do singular 
(“você”)
Nom., ic > ic þu > þu
Acus., me, mec > me þe, þec > þe
Gen., min > min þin > þin
Dat., me > me þe > þe
Primeira pessoa do plural 
(“nós”)
Segunda pessoa do plural 
(“vocês”) 
Nom., we > we ge > ye
Acus., us > us eow > ow
Gen., ure > ure eower > ower
Dat., us > us eow > ow
Gramática histórica da língua inglesa
Book 1.indb 116 17/11/16 19:14
O inglês médio 117
O inglês antigo também incluía dois pronomes que se referiam 
a pares (“nós dois” e “vocês dois”), cujas formas declinadas eram 
wit, unc, uncer, unc e git, inc, incer, inc, respectivamente. Esses 
pronomes do número dual desapareceram antes do período do in-
glês médio.
Na terceira pessoa, porém, encontramos a entrada gradual de 
duas formas diferentes. O surgimento de scho, sche para “ela”, e o 
aparecimento de þei, þem, þeir no plural para “eles”/“elas”. 
Em inglês antigo, os pronomes para a terceira pessoa começa-
vam com /h/, escrito h, vejamos:
Singular Plural
Caso Masculino Feminino Neutro (todos os gêneros)
Nom., he heo hit hi, hie
Acu., hine hi, hie hit hi, hie
Gen., his hire his heora
Dat., him hire him him, heom
A transformação de heo /he:ǝ/ em she /ʃe/ é difícil de explicar, 
mas uma hipótese é que /he:ǝ/ se tornou /hje:/ ou /hjo:/ e depois 
passou para /ʃe:/ ~ /ʃo:/ (alguns dialetos do norte exibem scho), via 
uma forma intermédia com /ç/ inicial (o som de rr em morria no 
sotaque carioca). O problema com a teoria é que existem pouquís-
simos exemplos desse tipo de mudança sonora de [hj] > [ʃ], um 
caso é Hjaltland > Shetland (Xetlândia, um arquipélago ao norte 
da Escócia). Para auxiliar a mudança fônica tão incomum, alguns 
linguistas históricos sugerem que possivelmente o artigo definido/
pronome demonstrativo feminino seo (“a” / “essa”) tenha influen-
ciado, talvez porque, com as mudanças fônicas, /hje:/ “ela” e /he:/ 
“ele” teriam ficado muito parecidos, com alto risco de confusão. 
Para diferenciar, as pessoas teriam adotado seo ou, pelo menos, 
transferido a primeira consoante para o pronome pessoal feminino 
(CRYSTAL, 1995, p. 43).
No caso dos pronomes da terceira pessoa do plural, þei, þeir, 
þem (cf., ingl. mod., they, their, them) surgem nos dialetos seten-
trionais como um empréstimo do escandinavo e gradualmente, a 
inovação avança para o sul, eliminando as variantes do pronome 
nos dialetos centrais e meridionais hi, heo, he, ha, a (nominativo), 
Book 1.indb 117 17/11/16 19:14
118
hi, his(e), heom, hem (acusativo), her(e), heor, hure, hire (geni-
tivo), heom, hom, hem, ham (dativo). O nominativo foi afetado 
primeiro, no século XIV, em Londres, o poeta Geoffrey Chaucer 
escrevia þei, mas mantinha her(e) ~ hir(e) (genitivo) e hem indis-
tintamente para o acusativo e dativo. No século XV, o genitivo 
original em h dos dialetos do sul foi substituído por þeir “seu(s)” / 
“sua(s)” / “dele/as”. Finalmente, no século XVI, por exemplo, nos 
livros imprimidos por William Caxton, deparamos com them ins-
talado nos casos objetivos.
54º N
0º
Canal da Mancha
Mar
do
Norte
Mar
da
Irlanda
Canal da Mancha
Mar
do
Norte
Mar
da
Irlanda
54º N
0º
Figura 2.17 Mapa da distribuição de formas para a terceira pessoa do plural (“eles”/“elas”) para o 
período aproximadamente entre 1350 e 1450.
Fonte: A Linguistic Atlas of Late Medieval English (apud BURROW; TURVILLE-PETRE, 1992 [2005], p. 16).
Vejamos a Figura 2.17, o mapa à esquerda mostra as ocor-
rências de formas com þ- (por exemplo, þem, þam) introduzidas 
do norreno antigo, e o mapa à direita reflete os casos de formas 
com h- derivadas do inglês antigo (por exemplo, hem, ham). Fica 
evidente que, no período sob investigação, o segundo grupo está 
concentrado ao sul de uma linha entre o estuário do rio Mersey 
no oeste e a grande baía de The Wash, no leste. Por outro lado, as 
grandes concentrações das formas inovadoras estão ao norte da 
Gramática histórica da língua inglesa
Book 1.indb 118 17/11/16 19:14
O inglês médio 119
mesma linha, mas ocorrências dispersas estão por toda a região 
sul, conforme os empréstimos penetravam. Um bloco especial-
mente intenso de þ- está no leste da região sul.
Outras mudanças importantes no sistema gramatical durante o 
inglês médio são: o surgimento gradual do infinitivo marcado com 
for to ou to em lugar da desinência -(i)an, por exemplo, em Chau-
cer: Thanne longan folk to goon on pilgrimmages / And palmeres 
for to seken straunge strondes “Então as pessoas desejam fazer 
peregrinações / e peregrinos a procurarem lugares distantes”. A 
origem dessa construção era uma expressão de intensão ou pro-
pósito, ou seja, “para (que)”. Gradualmente, porém, a expressão 
foi gramaticalizada, à medida que a desinência -(i)an sofria cada 
vez mais redução na pronúncia, as formas preposicionadas refor-
çavam a construção do infinitivo, passando a ser os marcadores 
dessa forma verbal (CRYSTAL, 1995, p. 45).
Nos verbos em geral, os paradigmas não sofreram grandes 
alterações entre o inglês antigo e o inglês médio nas desinências 
número-pessoais e de tempo e modo, além de algumas varia-
ções fônicas, como fica evidente no exemplo a seguir do para-
digma verbal regular “ouvir” de inglês médio (TRAHARNE, 
2004, p. xxviii).
Inglês antigo Inglês médio
Infinitivo hieran (‘to hear’) heren (‘to hear’)
Presente do Indicativo Presente Indicativo
Singular 1 hiere here (‘I hear’)
Singular 2 hierst herest (‘you hear’)
Singular 3 hierþ hereð (‘he, she, it hears’)
Plural hieraþ hereð (‘we, you, they 
hear’)
Imperativo
Singular hier her (‘Hear!’)
Plural hieraþ hereð (‘Hear!’)
Pretérito (Passado) 
Indicativo
Singular 1 hierde herde (‘I heard’)
Singular 2 hierdest herdest (‘you heard’)
Book 1.indb 119 17/11/16 19:14
120
Inglês antigo Inglês médio
Singular 3 hierde herde (‘(s)he, it heard’)
Plural hierdon herden (‘we, you, they 
heard’)
Pretérito Imperfeito do 
Subjuntivo 
Singular hierde herde (‘I etc. may have 
heard’)
Plural hierden herden (‘we may have 
heard’)
Particípio Presente/ 
gerúndio
hierende herinde (‘hearing’)
Particípio Passado (ge)hierede iherd (‘heard’)
Diversidade dialetal
Tal como o inglês antigo, o inglês médio apresentava variação 
regional. Em grande medida, os dialetos medievais são continua-
ções e diversificações das cinco principais divisões na língua dos 
anglo-saxões: nortumbriano, merciano, saxão ocidental, angliano 
oriental e kentiano. A maior diferença entre a situação dos dialetos 
anglo-saxônicos e dos medievais é que o merciano divide-se em 
dois: West Midland “centro-oeste” e East Midland “centro-leste”, 
que abrange a região de East Anglia. A região sul é repartida en-
tre um bloco ocidental, que continua o antigo West Saxon e ou-
traagrupação no sudeste, que mistura características do dialetos 
orientais de Wessex com traços do kentiano. Os dialetos setentrio-
nais também acabam se separando entre os falados da Inglaterra 
e os dialetos escoceses (Scots). Devido às redes de contatos dife-
rentes entre os dois países, a evolução do antigo nortúmbrio não 
era uniforme.
Gramática histórica da língua inglesa
Book 1.indb 120 17/11/16 19:14
O inglês médio 121
 1 The Peterborough Chronicle
 2 The Owl and the Nightingale
 3 Lazamon’s Brut
 4 Ancrene Wisse
 5 Sir Orfeo
 6 The Cloud of Unknowing
 7 Langland: Piers Plowman
 8 Patience
 9 Sir Gawain and the Green Knight
10 Pearl
11 St Erkenwald
12 Trevisa: Dialogue between a Lord and a Clerk
13 Gower: Confessio Amantis
14 Lyrics
15 The York Play of the Crucifixion
16 Chaucer: The Parliament of Fowls
17 Chaucer: Troilus and Criseyde
18 Chaucer: The Canterbury Tales
54º N
0º
Canal da Mancha
Mar
do
Norte
Mar
da
Irlanda
NORTE
15
12
11
132?
68 - 10
14 g - k
14 l - r
5.16 - 18
1
4 3
7
SUDESTESUDOESTE
Londres
WEST MIDLAND
EAST MIDLAND
Figura 2.18 Mapa das principais divisões dialetais do inglês médio e da localização aproximada 
de alguns dos textos mais conhecidos escritos nessas variedades.
Fonte: Burrows e Turville-Petre (1992 [2005], p. 7).
Book 1.indb 121 17/11/16 19:15
122
O principal motivo para a diversificação regional de línguas 
é o grau de contato entre os falantes. As redes de interação trans-
mitem produtos, assim como ideias também transmitem pala-
vras e mudanças. Repare como os pronomes escandinavos se 
deslocavam gradualmente desde seu núcleo original para o sul, 
como uma onda. Se os falantes de um lugar prestigioso, por 
exemplo, uma cidade importante, como Londres, adotam deter-
minada variante, é muito provável que outros lugares menores 
vizinhos vão seguir a moda rapidamente. Tais lugares funcio-
nam como centros irradiadores de mudanças, que tipicamente 
“pulam” de centro urbano para centro urbano rapidamente e de-
pois preenchem os espaços rurais entre eles mais devagar.
Figura 2.19 Divisões dialetais do inglês médio segundo John 
de Trevisa.3
Fonte: Brook (1963 [1972], p. 58).
A tradução do latim para o inglês feita pelo cornualhês John de 
Trevisa (m. 1402) do Polychronicon escrito pelo monge Ranulph 
Higden (m. 1364), que é uma história do mundo desde a criação 
até meados do século XIV, expressa perfeitamente a percepção de 
variação linguística pelo reino.
Os dialetos medievais do inglês e do escocês
Os dialetos setentrionais são os mais distintivos. A maioria dos 
textos literários produzidos nesta variedade, porém, é tardia, dos 
séculos XIV e XV. Dos textos escritos antes, podemos mencionar 
o Saltério Surtees, do final do século XIII, e o Cursor Mundi, um 
longo poema. As Canções de Lourenço Minot são do início do 
3 “Também os homens ingleses, eles tiveram desde o começo as três maneiras de 
falar deles: do norte, do sul, e a fala do meio do país, como eles vieram de três 
tipos de povos da Germânia; assim, por combinação e mistura, primeiro com 
dinamarqueses e, depois, com normandos, em muitas línguas diferentes é jun-
tado, e alguns usam estranhas articulações de chilrados, rosnados e rangidos.”
Gramática histórica da língua inglesa
Book 1.indb 122 17/11/16 19:15
O inglês médio 123
século XIV. Pelo fim do século XIV, existem alguns poemas alite-
rativos: The awntyres of Arthur (sobre o Rei Arturo), The wars of 
Alexander (sobre as conquistas de Alexandre Magno) e The des-
truction of Troy (sobre a Guerra de Troia). Desses, The wars of 
Alexander se destaca pelo número de elementos escandinavos no 
léxico e na gramática. Do século XV, há as York Plays: várias pe-
ças religiosas escritas e realizadas anualmente na cidade de York. 
A quantidade de literatura composta no dialeto escocês é menor 
e mais tardia: Bruce (sobre o rei Robert the Bruce) é de 1387. Do 
século XV, são o longo poema The Actes and Deidis of the Illus-
tre and Vallyeant Campioun Schir William Wallace (“Os atos e 
façanhas do ilustre e corajoso campeão Sir William Wallace”) do 
menestrel Blind Harry (Henry, o Cego) e a Orygynale Cronykil of 
Scotland (“Crônica Original da Escócia”) de Andrew of Wyntoun. 
Também do século XV o poema anônimo Rauf Coilgear (“Rafael, 
o Carvoeiro”). A poesia de Robert Henryson e William Dunbar é 
associada às cortes reais do final do XV e início do século XIV.
As características dos dialetos setentrionais incluem:
 A manutenção de a /ɑ:/ do inglês antigo, sem substituí-lo por 
/o:/ (na escrita por oCe [em que C = qualquer consoante], 
oo), como ocorreu mais ao sul, por exemplo, stan “pedra” > 
ston, stoon, stone, hal “inteiro” > hool (ingl. mod., whole), 
rad “estrada” > road.
 A simplificação dos ditongos /ai/, /ei/, /oi/, /ui/ para vogais puras 
longas /a: e: o: u:/. Esta mudança afetou a grafia, porque muitas 
vezes a letra i continuou sendo escrita e era reinterpretada como 
uma maneira de marcar quais vogais eram longas. Vemos esse 
fenômeno na palavra raid “ataque”, cujo étimo é rad “estrada”.
 No norte e no centro-leste o som de y /y(:)/ perdeu o arredon-
damento dos lábios, tornando-se /i(:)/. Novamente, a letra tra-
dicional continuava representando o som, mas com um novo 
valor.
 Em palavras de duas sílabas, as vogais /ɑ/ e /o/ foram alonga-
das. No norte, /i/ e /u/ também sofreram a mudança de dura-
ção, mas essas vogais eram pronunciadas com a língua mais 
baixa, convertendo-as em /e:/ e /o:/, por exemplo, ingl. ant., 
wicu > ingl. méd., weke /we:k/ > ingl. mod., week.
 A língua avançou e subiu na articulação de /o:/ para criar /y:/ 
no século XIV. Sabemos disso porque encontramos palavras 
Book 1.indb 123 17/11/16 19:15
124
com escritas sune “imediatamente” e buik “livro” (< inglês 
sona, boc) em rimas com palavras como fortune /fortyn/, que 
são empréstimos do francês, que também têm esse som /y/.
 Na maioria dos dialetos ingleses, as vogais /a/ e /o/ foram con-
vertidas em ditongos /ai ei oi/ quando antecediam /x/ (escrito 
ch, gh), por exemplo, taght /taxt/ “ensinou” > taught /tauxt/ 
(mod. ingl. /tɔt/). No norte, entretanto, apenas /ɑ/ ditongou, 
de modo que encontramos taught e aught “oito” (< ingl. ant., 
aht), mas socht, soght para “procurou”, que era sought no sul.
 Até o século XV, a vogal fraca átona /ǝ/, escrita com e em 
final de palavras, desapareceu. No entanto, a perda ocorreu 
muito mais cedo no norte do que no sul (provavelmente já no 
século XIII), e já no século XIV é possível encontrar “amor” 
escrito luf no lugar de love ou loven no sul.
 No século XIII, /e/ > /i/ na segunda sílaba de palavras dissi-
lábicas, quando essa sílaba era travada, por exemplo, walles 
“muros” > wallis, wonder “maravilha” > wondir.
 Os dialetos setentrionais apresentam muitas palavras em que 
/k/ (c, k) e /g/ (g) correspondem a /j/ (y,	ȝ) , /dʒ/ (dg, g + e, i) 
e /tʃ/ (ch) nos dialetos meridionais, por exemplo, spek “fala” 
versus spech. Como não existe nenhum cognato escandinavo 
para essa palavra, não podemos atribuir o /k/ a um empréstimo. 
Nesses casos, a provável origem é uma generalização de uma 
consoante em palavras com alternâncias entre as consoan tes 
velares /k g/ e palatais /j dʒ tʃ/ que eram causadas pela presença 
de vogais diferentes, por exemplo, swilc /swilk/ “tal” no nomi-
nativo, mas swilces /swiltʃes/ no genitivo e swilcum no dativo, 
com /k/, devido à vogal posterior. Esse tipo de variação entre a 
articulação de consoantes devido a vogais existe em português 
também, por exemplo, elétrico (/k/ antes de /o/) versus eletrici-
dade (/s/ antes de /i/). No centro e sul, os falantes nivelaram as 
alternâncias em favor das formas palatais; no norte, as formas 
velares eram generalizadas.
 O grupo /hw/em início de palavra era pronunciado com mais 
força no norte, chegando a /x/, que as grafias chw-, qu(h)-, 
qw(h)- refletem, sendo escrito wh- no sul, por exemplo, qu(h)
at versus w(h)at “que” (< ingl. ant., hwæt). 
 /ʃ/ > /s/ no norte, quando não era enfatizado, por exemplo, 
fless versus flesh,	fiss	versus fish etc. Neste caso, os dialetos 
meridionais mantiveram o som original.
Gramática histórica da língua inglesa
Book 1.indb 124 17/11/16 19:15
O inglês médio 125
 Um importante marcador gramatical dos dialetos do norte é a 
desinência -es para a terceira pessoa do singular. Esta varian-
te acabou substituindo a forma -eth, que era típica do sul.
 Em escocês, o pretérito era escrito com -it, por exemplo, 
wantit “quis”, “queria”, que em inglês era geralmente escrito 
-ed, por exemplo, wanted.
 Algumas formas de negação são típicas do escocês: nae, 
nocht, e o enclítico -na, versus no e not dos dialetos centrais 
e meridionais.
Um gosta de rimas para escutar,
E romances lidos de diversas maneiras,
Sobre Alexandre, o Conquistador;
Sobre Júlio César, o Imperador;
Sobre a luta terrível da Grécia e de Troia,
Em que muitos mais perderam a vida;
Sobre Bruto que, sendo de agir valente foi,
O primeiro conquistador da Inglaterra;
Sobre o Rei Artur, que era mais poderoso,
Que qualquer outro de seus tempos,
Sobre o destemido que eram seus cavaleiros ferozes,
Sobre cujos aventuras ouço contar,
Como Gawain, Kai e outros fortes,
Para defender a Távola Redonda.
Figura 2.20 Extrato do poema Cursor Mundi, escrito na primeira metade do século XIV.
Fonte: Brook (1963 [1972], p. 73).
Observem os seguintes traços, que são típicos do inglês 
setentrional: 
 a e não o antes de ng e nd em strang “forte” e hand “mão” (L. 5); 
 a ausência de -e final em red “leu”(L. 2), tim “tempo” (L. 8) 
e tell “contar” (L. 12);
 i para e em lesis “perderam” (L. 6);
 k onde os dialetos meridionais teriam ch, por exemplo, rike 
“rico” (L. 9);
 qu- em lugar de wh- em quam (L. 10) por whom “a quem”;
 -(e)s para a terceira pessoa do singular (yhernes L. 1) e do 
plural (lesis L. 9) (BROOK, 1963 [1972], p. 72).
Book 1.indb 125 17/11/16 19:15
126
Contar histórias é prazeroso,
Imaginar que elas não são mais de fábulas,
Então, seria que histórias que eram verdadeiras,
E que eram contadas bem,
Teriam prazer em dobro no ouvir.
O primeiro prazer é a maneira de contar,
E o segundo, a veracidade
Que mostra a coisa bem como era;
E tais coisas de que se gosta,
Ao ouvido de muitos são agardáveis,
Portanto, eu queria decidir-me,
Se minha inteligência for o sufi ciente para isso,
Verter para o escrito uma história verdadeira.
Figura 2.21 Extrato do poema Bruce de Barbour.
Fonte: Brook (1963 [1972], p. 74).
Notem: y para a vogal normalmente representada por o no 
centro e sul, por exemplo, gud “bom”, suth “verdade” e não god, 
soth; -and para o particípio presente em likand, “gostando” (L. 9), 
plasand “agradando” (L. 10) (versus -ing no sul); suld “deveria” 
para shuld (L. 3); giff para if(f) “se” (L. 12); nocht para not (L. 2); 
os itens lexicais tyll “para” e thartill “para ele/isso”.
Os dialetos do centro-leste são reconhecíveis pela troca de i por y 
em unride, dint e lifte (< ingl. ant., ungeryde “...”, dynt “momento”, 
lypte “levantou”), como os dialetos do norte, mas a letra o em drof, 
þore e on (< ingl. ant., draf “conduziu”, þare “lá”, an “um”) não é 
nada comum no norte. O plural do imperativo comes “venham” e 
till “para” são outras formas comuns no norte, mas o > a antes de 
m e n, exceto quando as consoantes nasais precedem d e b, ou seja, 
bigan “começou”, mas hond “mão”, só ocorre no centro-leste.
Havelock o viu e forçou-se para lá,
E a barra rapidamente tirou,
que era enorme e grande, saibam
E jogou a porta aberta
E disse, “Agora vou morar aqui:
Venham rápido até mim;
Maldição em quem entre vocês fujam!”
“Não,” disse um, “você vai pagar isso”,
E começou a correr para ele,
Figura 2.22 Passagem de Havelock the Dane (ll. 2432-46), escrito na variedade do centro-leste.
Gramática histórica da língua inglesa
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O inglês médio 127
em sua mão sacou sua espada;
ele ia matar Havelock lá,
E com [ele] vieram dois outros,
que teriam tirado a vida dele.
Havelock levantou a barra da porta,
E, com um golpe, ele matou os três deles.
Fonte: Brook (1963 [1972], p. 74-75).
Se os dialetos do centro-leste compartilham certos traços com 
os do norte, os dialetos da região centro-oeste dividem caraterísti-
cas com os do sudoeste, como se pode ver no poema a seguir sobre 
o homem na lua.
Figura 2.23 Exemplo do dialeto medival do centro-oeste: The Man in the Moon (“O homem na lua”), 
de Harley, MS. 2253).
Fonte: Brook (1963 [1972], p. 75-76).
O homem na lua se levanta em pé e passa,
Em seu cajado bifurcado, ele leva seu fardo;
É um milagre que ele não escorrega,
De medo de cair, ele treme e se desvia.
Quando a escarcha congela, ele sofre muito frio;
Os espinhos são afi ados; eles rasgam sua roupa.
Não há ninguém no mundo que sabe quando ele se senta,
Nem ninguém, a não ser a cerca-viva, quais roupas ele veste.
Repare, por exemplo, em o em mon “homem” e mone “lua” 
(L. 1), em lugar de man(ne) no leste e norte. O som sonoro /v/ 
em valle “cair” (ingl. mod., fall) (L. 4) é típico do centro-oeste 
e sudoeste. A vogal u em burþan “fardo” (L. 2) (ingl. mod., bur-
den) e muche “muito” (L. 3) (ingl. mod., much) em lugar de i ou 
y são meridionais, tal como a desinência verbal -(e)þ que corres-
ponde a -(e)s no norte e centro-leste, por exemplo, bereþ “leva” 
(L. 2), burþen (L. 3), shoddreþ “treme” (L. 4). Os verbos stond 
“levanta-se”, strit “passa”, slyt “escorrega” não apresentam a 
última sílaba -eþ. Esse processo de perda de sons em fi nal de 
palavra é chamado apócope e é típico dos dialetos do sudoeste e 
centro-oeste. Por outro lado, chele “frio”, não descende de cele 
do dialeto anglo-saxônico ocidental, sendo específi co do centro-
-oeste e, portanto, ajuda a localizar a proveniência da composi-
ção. Em bue “seja” (L. 8), encontramos o refl exo arredondado 
Book 1.indb 127 17/11/16 19:15
128
do ditongo /e:ǝ/ do inglês antigo, mas em freseþ “congela” e beþ 
“são” (L. 6) (< ingl. ant., freoseþ, beoþ), a vogal não é articulada 
com os lábios arredondados.
Figura 2.24 Dialeto medieval do sudeste: Ayenbyte of Inwyt (“O 
arrependimento da consciência”), uma tradução do francês feita pelo 
monge beneditino, Michael of Northgate, fi nalizado em 1340.4
Fonte: Brook (1963 [1972], p. 76-77).
Essa passagem apresenta vários traços que apontam para sua 
origem no sudeste da Inglaterra:
 A descida e desarredondamento da articulação da vogal y 
(/y(:)/) do inglês antigo, que passa a e (/e(:)/), por exemplo, 
ken (L. 8) “gado” (< ingl. ant., cyn, plural de cu “vaca”) (= 
ingl. mod., kine “gado vacum”).
 A subida da língua na articulação de æ (/æ/) do inglês antigo 
para e (/e/), registrada nas grafi as efterward “antes”, “antiga-
mente”, wes “era”, hedde “tinha”, þet “que” (= ingl. mod., 
afterwards, was, had, that). 
 A grafi a ye na palavra yhyerde “ouviu” (L. 2) e a grafi a uo 
para a vogal em guod “bom” (ingl. mod., good) (L. 4, 7).
 A troca de sons fricativos surdos para sonoros em início de 
palavra, por exemplo, zayþ, zigge, zente, zayd, uor (= ingl. 
mod., say(-eth), say, send, said, for).
4 “Antigamente, havia um homem pobre, como me dizem, que tinha uma vaca; 
e [ele] ouviu seu sacerdote dizer em sua predicação que Deus disse em seu 
evangelho que Deus entregaria cem vezes tudo o que me desse para ele. O ho-
mem bom, com a sugestão da sua mulher, deu sua vaca ao sacerdote, que era 
rico. O sacerdote tomou [a vaca] dele alegremente, e enviou-a para as outras 
[vacas] que ele tinha. Quando o entardecer começou, a vaca do homem bom 
voltou para a casa dele, como elaestava acostumada e levou com ela todo o 
gado do sacerdote, que eram cem.”
Gramática histórica da língua inglesa
Book 1.indb 128 17/11/16 19:15
O inglês médio 129
Figura 2.25 O dialeto do sudoeste: passagem de The Owl and The Nightingale (“A coruja e o 
rouxinol”) ll. 1721-736.
Fonte: Brook (1963 [1972], p. 77).
A corruíra era considerada muito sábia,
Porque ela não tinha sido criada no bosque,
Ela estava à vontade entre os homens,
e deles recebeu sua sabedoria:
Ela podia falar onde quisesse,
Até ante o rei, se quisesse.
“Escutem”, ela disse, “deixem-me falar!
Que é isso? Vocês pretendem perturbar a paz,
e constranger o rei tanto?
Ele ainda não está morto, nem coxo.
Vocês dois vão sofrer talvez dano e desonra,
se nós quebrarmos a trégua em seu domínio.
Deixem ir e acalmem-se,
e vamos direto ao julgamento de vocês,
e deixemos julgar esse pleito,
Tal como foi combinado anteriormente.
As características mais marcantes de que esse manuscrito foi 
composto no sudoeste da Inglaterra são as seguintes:
 O refl exo arredondado da vogal y /y(:)/, por exemplo, 
mankunne (L. 3) “humanidade”, “os homens” (< ingl. ant., 
manncynn) (= ingl. mod., mankind), lusteþ (L. 7) “escutem” 
(< ingl. ant., lysteþ) (= ingl. mod., listen), gryþbruche (L. 12) 
“distúrbio da paz” (< ingl. ant., griþbryce).
 As vogais /o/ e /a/ do inglês antigo são representadas por 
/o/ antes de consoantes nasais, seguidas ou não de outras 
 consoantes, por exemplo, schome “desgraça”, “desonra” 
(L. 9) (< ingl. ant., scamu) (= ingl. mod., shame) (L. 10), 
lome “coxo” (< ingl. ant., lamu) (= ingl. mod., lame) (L. 11), 
among “entre” (< ingl. ant., onmang) (= ingl. mod., among) 
(L. 3), schond “culpa”, “responsabilidade” (< ingl. ant., scan-
du) (L. 12) (= ingl. mod., scandel), londe “terra”, “país” 
(L. 14) (< ingl., land) (= ingl. mod., land). Por outro lado, 
temos a ainda em mannkunne e þanne (< ingl. ant., þone), em 
que o arredondamento não ocorreu por algum motivo.
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130
 A vogal /æ/ do inglês antigo evoluiu para /ɛ/ em wes “era”/ 
“foi” (< ingl. ant., wæs) (= ingl. mod., was) e queþ “disse” 
(< ingl. ant. cwæð) (= ingl. mod. arcaico, quoth). Esse se-
gundo caso é especialmente uma característica dos dialetos 
meridionais.
 O pronome hunke é um vestígio de unc, o antigo pronome 
dual da segunda pessoa do inglês antigo, que não sobreviveu 
nos demais grupos dialetais.
Literatura medieval
Os restos textuais que sobrevivem do período medieval depois 
da conquista normanda são menos numerosos que os do período 
anglo-saxônico. A nova situação política é parcialmente respon-
sável pelo aumento na documentação, porque a nova monarquia 
e seus seguidores precisavam registrar suas posses e avaliá-las. 
Por esse motivo, encontramos tanto documentos públicos, como o 
enorme questionário do Domesday Book, quanto empreendimen-
tos administrativos e jurídicos reais e privados (mandados, escri-
turas, alvarás e privilégios, contratos e listas de tributação etc.). A 
dificuldade principal, porém, com esse material, é que está escrito 
ora em latim, ora em francês, e, portanto, os únicos elementos 
ingleses que aparecem são nomes próprios de pessoas ou de lu-
gares, que são de utilidade limitada para desvendar a evolução 
da língua. A exclusão da língua inglesa também ocorre no âmbito 
religioso, devido ao papel do latim como a língua oficial da Igreja. 
O latim substituiu o inglês como a língua para redigir as crônicas 
históricas também, encerrando a época da grande Crônica anglo-
-saxônica e com algumas notáveis exceções em francês, só ressur-
gindo no século XV (CRYSTAL, 1995, p. 34).
O inglês começa a reaparecer nos documentos a partir do sé-
culo XIII. Primeiro em apenas alguns casos dispersos, depois, 
com crescente importância, até a enxurrada de manuscritos em 
inglês que explode em meados do século XV. Os primeiros tex-
tos são geralmente de natureza religiosa: sermões, homilias, tra-
tados sobre a vida religiosa e sobre a vida dos santos, e obras 
de meditação. O século XIV viu um aumento na produtividade 
Gramática histórica da língua inglesa
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O inglês médio 131
em inglês com várias traduções do latim e do francês, à medida 
que o conhecimento da segunda língua diminuía entre a nobreza 
e a florescente classe mercantil urbana. Diversos textos são lições 
para o ensino de francês, além de mais material burocrático (pro-
clamações, contabilidade) e experimentação com novos gêneros 
textuais (provérbios, alegorias, diálogos). A publicação de uma 
tradução da Bíblia pelo reformador religioso John Wycliffe gerou 
muita polêmica, tal como as escritas dos seguidores de Wycliffe, 
os lollardos. Finalmente, a partir da década de 1430, uma onda de 
documentação tabelional irrompe da chancelaria real, o Chancery 
Standard, desenvolvendo assim uma norma escrita razoavelmente 
padronizada.
Peterborough Chronicle
A Crônica de Peterborough é um dos primeiros textos que 
podemos classificar como “inglês médio”. Iniciado como uma 
versão da Crônica Anglo-Saxônica no mosteiro de Peterborou-
gh no centro da região oriental de East Anglia, a crônica foi 
iniciada depois que os monges perderam muitos manuscritos 
em um incêndio em 1116. Eles pediram uma cópia da Crônica 
de outro mosteiro e, ao terminar a cópia, eles continuaram a 
escrever a história da comunidade. A redação foi interrompida 
entre 1131 e 1154, provavelmente devido à violência e à insta-
bilidade durante a guerra civil entre Stephen e Matilda. Quando 
os escribas retomaram suas atividades, depois da morte do rei 
Estevão em 1154, parece que ocorreu uma mudança na política 
editorial também, porque a linguagem e as grafias passam a ser 
muito mais contemporâneas, evitando o estilo arcaico do perí-
odo anterior. 
Não há consenso entre os especialistas sobre a identidade da 
Crônica de Peterborough. Alguns apontam para a presença de 
arcaísmos que lembram a variedade padrão do saxão ocidental 
para justificar uma classificação como inglês antigo tardio. Ou-
tros estudiosos, porém, indicam as inovações linguísticas e as 
normas de representação, preferindo identificar o texto como in-
glês médio precoce.
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132
Figura 2.26 Peterborough Chronicle.5
Fonte: Crystal (1995, p. 33).
5 “Um amarrou cordas com nós ao redor da cabeça deles e / 2 girou-as de tal 
modo que entraram no cérebro deles. Eles os colocaram / 3 em uma cela onde 
havia víboras e serpentes e sapos / 4 estavam, e mataram-nos assim. Alguns 
eles fecharam no / 5 caixote de tortura, que é uma caixa que é curta e estreita 
/ 6 e rasa, e puseram pedras afiadas dentro dela e / 7 pressionaram o homem 
nela, de modo a quebrar-lhe todos os membros. / 8 Em muitos dos castelos 
havia o laço de cabeça e o cabresto, os quais / 9 eram ferros dos quais dois ou 
três homens eram precisos / 10 para levantar; que era feito de tal maneira que 
estava fixa em uma / 11 viga, e colocavam um ferro afiado ao redor da gargan-
ta do homem / 12 e seu pescoço, de modo que ele não conseguisse nenhuma 
posição para sentar-se, / 13 nem deitar-se, nem dormir, senão aguentar todo 
esse ferro. Muitos / 14 mais eles mataram de fome. / 15 Eu não conheço, nem 
posso contar todas as atrocidades nem todos os / 16 castigos que eles faziam 
nas pessoas infelizes nesse país, e que / 17 duraram os doze invernos em que 
Estevão foi rei, e sempre ficava / 18 cada vez pior.”
Gramática histórica da língua inglesa
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O inglês médio 133
Sir Gawain and the Green Knight
O poema de “Sir Gawain e o Cavaleiro Verde” foi compos-
to por volta do fi nal do século XIV no dialeto do centro-oeste, 
embora algumas formas linguísticas indiquem que a versão que 
sobrevive em manuscrito até hoje foi baseada em outra, provavel-
mente escritano dialeto do condado de Lancashire, mais ao norte. 
A composição é de 2.430 versos, divididos por 101 estrofes, com 
forte esquema aliterativo. O poema conta duas histórias: a primei-
ra, sobre a chegada do gigante Cavaleiro Verde à corte do rei Artur 
e seu desafi o aos cavaleiros da Távola Redonda de que um deles o 
golpeia com seu machado, se, dali um ano e um dia, ele puder vol-
tar e realizar o mesmo golpe em que tiver aceito o desafi o inicial. 
Gawain aceita e decepa a cabeça do cavaleiro com um golpe do 
machado. O Cavaleiro não morre, mas se levanta, pega sua cabeça 
e lembra Gawain de encontrá-lo em certa capela na data combi-
nada. A segunda história conta as aventuras de Gawain no castelo 
do lorde Bertilak e sua esposa, quando ele tenta cumprir o acordo 
com o Cavaleiro Verde. A segunda parte dessa história envolve 
provas da lealdade, honestidade, coragem e fi delidade ao espírito 
do código cavalheiresco de Gawain. O sobrinho do rei Artur é 
apresentado com diversas tentações mundanas: as tentativas de 
sedução pela Lady Bertilak e a vontade de se salvar da morte certa 
que o aguarda às mãos do Cavaleiro Verde se cumprir o acordo.
Figura 2.27 Sir Gawain e o Cavaleiro Verde.6
6 “Desde que o sítio e o assalto terminaram em Troia, / 2 A cidade destruída 
e queimada até brasas e cinzas, / 3 O homem que lá criou os engenhos da 
traição / 4 Foi condenado por sua deslealdade, ele, o mais correto da Terra: / 
5 Foi o nobre Enéas e seus ilustres parentes / 6 que, mais tarde, subjugaram 
províncias, e se tornaram senhores / 7 De quase toda a riqueza das Ilhas Oci-
dentais. / 8 Quando o nobre Rômulo se dirige rapidamente a Roma, / 9 Com 
grande pompa, ele constrói aquela cidade primeiro, 
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134
Fonte: Crystal (1995, p. 37).
Os temas do poema misturam elementos da mitologia celta da 
Irlanda e do País de Gales, além de muitas fi guras da tradição ar-
turiana que eram muito populares por toda a Europa Ocidental ao 
longo da Idade Média.
O mesmo manuscrito de Sir Gawain contém três outros poe-
mas, escritos na mesma mão e no mesmo dialeto do centro-leste: 
A pérola, A pureza e A paciência. Esses poemas tratam de temas 
religiosos de estilo narrativo.
 / 10 E batiza-a com seu próprio nome, como é chamada agora; / 11 Tírio 
levanta construções na Toscana, / 12 Langobardo ergue moradias na Lom-
bardia, / 13 E, distante, além do Canal da Mancha, Félix Brutus / 14 Sobre as 
ladeiras largas de muitas colinas estabelece a Bretanha com júbilo. / 15 Onde 
lutas e afl ições e façanhas maravilhosas / 16 Muitas vezes foram encontradas 
por lá / 16 E com frequência tanto a felicidade como a tristeza / 17 têm-se al-
ternado rapidamente desde então. / 18 E quando essa Bretanha foi constituí da 
por esse homem nobre, / 19 Homens corajosos se multiplicaram por lá que 
adoravam lutar / 20 os quais, muitas vezes, em tempos posteriores, causaram 
danos. / 21 Mais maravilhas ocorreram nesta terra aqui e com maior frequên-
cia / 22 Que em qualquer outro lugar que eu conheço desde então, / 23 Mas 
de todos os reis da Bretanha que viveram aqui, / 24 Sempre Artur foi o mais 
nobre, dos que eu ouvi contar.”
Gramática histórica da língua inglesa
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O inglês médio 135
Geoffrey Chaucer
De todos os autores medievais, Geoffrey Chaucer (ca. 1345-
-1400) legou a maior obra à posterioridade. Uma edição da sua 
produção literária conta mais de 43 mil versos e dois livros 
de prosa (CRYSTAL, 1995, p. 38). No entanto, não é apenas 
pelo tamanho que Chaucer é considerado o mais importante 
escritor da língua inglesa medieval. Em grande medida, a obra 
chauceriana marca o momento histórico em que o inglês se res-
tabeleceu definitivamente no ambiente culto das cortes reais e 
da nobreza, que antes haviam preferido consumir sua cultura 
em francês.
Os primeiros poemas que temos de Chaucer são no Book of the 
Duchess (O livro da duquesa), uma “visão amorosa” (sonho) na 
forma de elegia que celebra a morte da esposa de John of Gaunt, 
Branca de Lancaster, escrito entre 1368 e meados de 1370. Além 
desse livro, outras obras importantes de Chaucer incluem sua tra-
dução do francês de uma parte do Roman de la Rose (O romance 
da rosa), uma das mais famosas obras de cavalaria medieval, a 
alegoria The Parliament of Fowls (O parlamento dos pássaros), 
outra visão amorosa chamada The House of Fame (A casa da 
fama) de aproximadamente 1378-1385, e The Legend of Good 
Women (A lenda das boas mulheres), poema inacabado, que trata 
de heroínas da mitologia clássica que ficaram famosas por terem 
sofrido pela devoção ao amado. 
As duas obras mais conceituadas da sua maturidade artísti-
ca são Troilus and Criseyd (Troilo e Créssida), um tema popu-
lar medieval sobre dois amantes durante a Guerra troiana, e The 
Canterbury Tales (Os contos de Canterbury), sua obra mais fa-
mosa. Nos Contos, um grupo de peregrinos sai de Londres para 
o sepulcro de São Thomas à Becket, na Catedral de Canterbury 
no condado de Kent. Para se entreter ao longo do caminho, os 
peregrinos contam histórias. Nunca terminada, a obra contém 24 
contos. Embora nenhuma versão manuscrita tenha sobrevivido na 
mão do autor, existem oitenta cópias contemporâneas: testemunho 
ao seu sucesso com o público.
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136
Figura 2.28 Extrato do “Prólogo” d’Os contos de Canterbury.7
Fonte: Crystal (1995, p. 39).
Podemos observar a grande habilidade poética de Chaucer 
na facilidade com que ele consegue explorar técnicas de rima e 
7 “Quando Abril, com suas chuviscas suaves, / 2 penetra a seca de março até a 
raiz / 3 E rega cada veia com tal líquido / 4 De cujo vigor é concebida a fl or. / 
5 Quando Zéfi ro também, com seu sopro delicado, / 6 exala em cada bosque e 
charneca, / 7 Os brotos tenros e o jovem sol / 8 Está no meio de sua passagem 
por Áries; / 9 E os passarinhos fazem música / 10 E dormem a noite toda de 
olhos abertos, / 11 De tanto a Natureza atingi-los no coração / 12 Então, as pes-
soas anseiam para fazer romarias...”
Gramática histórica da língua inglesa
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O inglês médio 137
de métrica para organizar longas frases em blocos auditivos e de 
senso que podem ser compreendidas sem dificuldade ( CRYSTAL, 
1995, p. 39). Os efeitos da linguagem ficam evidentes na passa-
gem citada do “Prólogo”, que começa com uma oração subordi-
nada de quatros linhas que contém uma oração coordenada (em 
negrito) dentro dela (“Quando Abril, com suas chuviscas suaves, / 
2 penetra a seca de março até a raiz / 3 E rega cada veia com 
tal líquido / 4 De cujo vigor é concebida a flor.”). Essa longa 
oração subordinada inicial é seguida imediatamente por outra ora-
ção subordinada de seis versos que começa com “Quando Zéfiro 
também, com seu sopro delicado, / 6 exala em cada bosque e char-
neca / 7 Os brotos tenros ...”. Essa segunda oração subordinada 
contém duas orações coordenadas (“... e o jovem sol / 8 Está no 
meio de sua passagem por Áries” e “E os passarinhos fazem mú-
sica”), uma oração relativa (“Que dormem a noite toda de olhos 
abertos”) e ainda uma oração parentética (“De tanto a Natureza 
atingi-los no coração”), antes de chegar à oração principal (“En-
tão, as pessoas anseiam para fazer romarias”). Crystal (1995, p. 
39) aponta para várias manipulações habilidosas da ordem normal 
das palavras que o autor explora para efeitos rítmicos, por exem-
plo, o verbo antes do sujeito em versos 11 (“So priketh hem na-
ture...”) e 12 (“Than longan folkes to goon on pilgrimages”); no 
verso 2, o objeto (grifado) vem antes do verbo (“Whan Aprille... / 
The droght of March hath perced to the root”). Na linha 1, o ad-
jetivo soote (“suaves”) é colocado depois do nome showres (“chu-
viscas”) e, na linha 6, o verbo auxiliar hath “tem” é precedido pelo 
particípio do verbo principalinspired (“respirado”, “respirou”). 
Outros recursos usados pelo poeta são a presença do prefixo y- no 
particípio yronne “corrido”, ou seja, ronne também era possível, e 
a inserção do adjetivo demonstrativo that “esse” entre a conjunção 
temporal whann “quando”, e o nome Aprille “Abril” na primeira 
linha, para manter o mesmo número de sílabas.
The Paston letters
No século XV, no final da Idade Média, entre aproximadamente 
1422 e 1509, os membros da família Paston mantiveram uma cor-
respondência volumosa. Mais de mil cartas sobrevivem dos Paston, 
uma próspera família de fazendeiros, originários de uma aldeia do 
mesmo nome perto da cidade de Norwich, no condado de Norfolk. 
O advogado Geoffrey Somerton, cunhado de Clement Paston (d. 
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138
1419), pagou os estudos de seu sobrinho, William Paston. William 
(1378-1444) foi um advogado muito bem-sucedido, sendo nomea-
do Justice of the Common Pleas (“juiz do tribunal para casos entre 
pessoas comuns”) em 1429, e casou-se com uma herdeira. William 
comprou muitas terras por Paston e o castelo de Gresham.
Quando William Paston faleceu em 1444, ele deixou uma he-
rança extensa e valiosa para seu filho primogênito, John, que tam-
bém era advogado. John Paston passou muito tempo em Londres 
e deixava a administração de suas propriedades em Norfolk para 
sua esposa, Margaret. As numerosas cartas trocadas entre John, 
Margaret e seu filho mais velho, também chamado John, descre-
vem os tempos difíceis no início da Guerra das Rosas. A famí-
lia foi envolvida em vários litígios com os poderosos duques de 
Norfolk e de Suffolk sobre questões relacionadas com as terras 
que John Paston tinha herdado em circunstâncias controversas 
de seu amigo e parente, o rico cavaleiro, Sir John Falstaff. John 
Paston era deputado parlamentar para o condado de Norfolk em 
1460 e 1461 e tinha recebido o favor do rei Edward IV na acirra-
da disputa com os duques de Norfolk sobre o Castelo de Caister, 
ocupado por John Mobray, duque de Norfolk. O favor real não foi 
duradouro, pois John foi preso três vezes.
Quando John Paston morreu em 1466, as controvérsias sobre 
seu direito às terras que tinha recebido de Sir John Falstaff conti-
nuaram. Seu filho maior, também John, foi feito cavaleiro ainda 
durante a vida do pai e frequentava a corte de Edward IV. No en-
tanto, Sir John Paston e seu irmão mais novo (também chamado 
John!) lutaram para o partido lancastriano de Henry VI na batalha 
de Barnet em abril de 1471, antes da derrota decisiva dos seguido-
res de Henry VI na batalha de Tewkesbury em maio de 1471, em 
que Edward IV consolidou seu controle sobre o reino. O conflito 
com os duques de Norfolk sobre o Castelo de Caistor foi resolvido 
pela morte do quarto duque em 1476, mas, dois anos mais tarde, 
uma nova disputa eclodiu, dessa vez com John de la Pole, duque de 
Suffolk. Sir John Paston morreu sem filhos em 1479. Apesar da sua 
extravagância e um certo descuido com vendas para pagar dívidas 
e apaziguar seus rivais, ele legou um patrimônio considerável a 
seu irmão menor, John. Durante a vida do segundo John Paston, a 
correspondência entre os familiares diminui e deixou de ter tanto 
interesse histórico, embora a participação da família Paston conti-
nuasse na política regional e nacional em níveis menos elevados. 
Gramática histórica da língua inglesa
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O inglês médio 139
Figura 2.29 Carta de Margaret Paston a John Paston, 19 de maio 
de 1448.8
8 “Meu caro marido, encomendo-me a você, e gostaria que você soubesse que, 
sexta-feira passada, antes do meio-dia, o vicário de Oxnead cantava a missa 
na igreja da nossa paróquia, e, no exato momento de elevar a hóstia, James 
Gloys, que estivera na cidade, voltava para casa pelo portão de Wyndham. 
E Wyndham estava na entrada, com seu criado, John Norwood ao seu lado, 
e seu outro criado, Thomas Hawes, estava na rua, perto da fossa. E James 
Gloys vinha vestido com seu chapéu, entre seus dois criados, como ele cos-
tumava. E quando Gloys chegou em frente de Wyndham, Wyndham lhe disse 
‘Cobre tua cabeça!’, e Gloys replicou, ‘Eu farei exatamente isso mesmo no 
seu caso’. E quando Gloys tinha andado mais três ou quatro passos, Wyn-
dham tirou seu punhal e disse, ‘Você vai, mesmo, moleque?’, e, com isso, 
Gloys se virou e desembainhou seu punhal e se defendeu, fugindo para a casa 
da minha mãe. E Wyndham e seu homem Hawes jogaram pedras e obrigou 
Gloys a se refugiar dentro da casa da minha mãe, e Hawes o seguiu para den-
tro da casa da minha mãe e jogou uma pedra do tamanho de um pão de quarto 
de um penny na sala contra Gloys, e, então, saiu correndo de novo. E Gloys o 
seguiu para fora e fi cou do lado de fora do portão, e então Wyndham chamou 
Gloys de ‘ladrão’ e disse que tinha que morrer, e Gloys disse que ele mentiu e 
chamou-o de caipira, e disse para ele vir ele mesmo ou, se não ele, o melhor 
homem que tinha e Gloys lhe contestaria, um contra um. E, então, Hawes 
entrou correndo na casa de Wyndham e trouxe uma lança e uma espada, e deu 
a espada a seu patrão. E pelo barulho dessa briga e alvoroço, minha mãe e eu 
saímos da igreja no meio da comunhão, e eu disse a Gloys que entrasse na 
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140
Fonte: Crystal (1995, p. 35).
A carta descreve a briga de vizinhos em linguagem com toda 
a vivacidade da oralidade. A estrutura das sentenças coordenadas 
por “e”, com pouca pontuação no original, refl ete a ligação mais 
próxima entre a escrita e a fala. Podemos notar algumas caracte-
rísticas da variedade regional de Norfolk nas grafi as. 
casa da minha mãe novamente, e ele fez isso. E, então, Wyndham xingou a 
mim e à minha mãe de más putas e disse que os Paston e todos seus parentes 
eram [...]* disse que ele mentiu, como o moleque e caipira que ele era. E ele 
desabafou com um monte de palavrões, que você ouvirá depois, oralmente”.
 * O manuscrito está furado aqui.
Gramática histórica da língua inglesa
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O inglês médio 141
1. Quais eram os três partidos que reivindica-
vam o trono da Inglaterra no ano de 1066?
2. Quem eram os normandos?
3. O que é o Doomesday Book?
4. Como o “império” angevino foi constituído?
5. Descreva a estrutura da sociedade feudal.
6. Qual foi o impacto da Peste Negra sobre o 
uso da língua inglesa?
7. Qual foi o efeito da Guerra dos Cem Anos so-
bre a identidade inglesa em termos de língua?
8. Quais áreas do léxico que foram mais atingi-
das por empréstimos franceses?
9. Quando a maior quantidade de empréstimos 
franceses entrou na língua, e por que isso 
ocorreu nesse momento histórico?
10. Quais outras línguas contribuíram com quan-
tidades significativas de empréstimos ao in-
glês medieval?
11. Como podemos distinguir empréstimos do 
francês normando dos que vieram do fran-
cês central?
12. Quais fatores influenciaram a grafia do inglês 
durante a Idade Média?
13. Quais são as principais diferenças entre o in-
glês antigo e o inglês médio em termos do 
sistema flexional?
14. Delineie as mudanças que afetaram o sistema 
pronominal.
15. Quais traços linguísticos e gráficos definem o 
dialeto escocês frente ao inglês setentrional?
16. O dialeto do sudoeste compartilha mais tra-
ços com qual outro dialeto regional?
17. Como podemos saber que Havelock the Dane 
foi escrito no dialeto centro-oriental?
18. A Crônica de Peterborough está escrita em in-
glês antigo tardio ou em inglês médio?
19. Quais variantes linguísticas Chaucer explorou 
para manter a métrica em seu “Prólogo” nos 
Contos de Canterbury?
20. Qual é o valor histórico da correspondência 
dos Paston?
Exercícios de fixação
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142
Geoffrey Chaucer
Não se sabe exatamente o ano em que Chaucernasceu, além de que tenha sido em meados da 
década de 1340. Filho de um comerciante de vi-
nho londrino que tinha conexões com a corte. 
Em 1357, Geoffrey entrou como pajem no ser-
viço da esposa do Lionel, duque de Clarence, 
irmão do rei Edward III, e, mais tarde, passou a 
servir a família real. Foi soldado na campanha mi-
litar contra a França, onde foi capturado e liber-
tado depois de pagar um resgate. Por volta de 
1360, ele se casou com Philippa, filha de Sir John 
Roet, ganhando conexões pela cunhada com o 
partido de John of Gaunt, irmão do rei Edward 
III e tio do rei Richard II. Chaucer soube explorar 
seus laços familiares com a realeza. Até 1368, ele 
foi nomeado escudeiro real e participou em várias 
missões diplomáticas na Itália e na França na dé-
cada de 1370. Em 1382, foi concedido o cargo de 
Controller of the Petty Customs (“Fiscal da alfânde-
ga menor”) e, em 1386, ele foi nomeado Knight 
of the Shire for Kent (“cavaleiro para o condado de 
Kent”), um dos deputados parlamentares para 
aquele condado. 
No entanto, Chaucer perdeu todos seus títulos e 
cargos, provavelmente devido à instabilidade polí-
tica durante a minoria do jovem rei Richard II, e fi-
cou endividado. Quando Richard II se tornou maior 
de idade em 1389, a sorte de Chaucer melhorou, 
e ele foi nomeado Clerk of the King’s Works (“Fiscal 
das Obras Reais”). Entretanto, ele se demitiu do car-
go em 1391 e aceitou a posição de deputy forester 
(“vice couteiro”), responsável pelo couto de Pether-
ton, no condado de Somerset. Na prática, é pro-
vável que ele tenha subcontratado alguém para 
administrar o dia a dia do couto com uma porcen-
tagem do estipêndio que recebia pelo cargo. 
Em 1399, Chaucer alugou uma casa nos jardins da 
abadia de Westminster e morou lá até sua morte 
em 1400. Ele foi enterrado dentro da abadia e o 
fato de que sua tumba ali estava fez que, posterior-
mente, aquela parte da abadia fosse chamada de 
Poets’ Corner (“canto dos poetas”).
Panorama
Gramática histórica da língua inglesa
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O inglês médio 143
Nesta unidade, vimos o rompimento dra-mático com o passado anglo-saxônico que ocorreu no ano de 1066. A conquista 
da Inglaterra por William, duque da Normandia, 
e seus seguidores teve um impacto inimaginável 
sobre o rumo político, cultural e linguístico dos in-
gleses. Quase da noite para o dia, a esmagadora 
maioria dos senhores feudais do reino fora subs-
tituída por uma nova nobreza francófona. E ao 
mesmo tempo, as principais autoridades religiosas 
do reino foram trocadas também por prelados 
normandos. 
Os novos governadores e administradores da In-
glaterra não falavam inglês e, uma vez que con-
seguiram segurar suas aquisições territoriais, seus 
principais interesses políticos eram direcionados 
para o continente e, especificamente, para a Fran-
ça. Além de um novo direcionamento, os conquis-
tadores normandos conseguiram uma notável 
concentração de poder. O estado anglo-saxônico 
já era razoavelmente coeso para um reino me-
dieval, e ficou ainda mais centralizado depois da 
conquista, especialmente em comparação com 
a difusão de poder entre os magnatas franceses, 
muitos dos quais eram mais ricos e mais poderosos 
que o próprio rei, e cuja subjeção à coroa era mais 
teórica que prática. Os grandes projetos de cons-
trução de castelos, catedrais e abadias, em con-
junção com os empreendimentos fiscais, como o 
Doomesday Book, possibilitou aos reis da Inglaterra 
uma boa renda na forma de impostos sobre terras 
e produtos, porque conheciam as posses de seus 
vassalos e controlavam o acesso ao poder. 
Por outro lado, pela imensa maioria das pessoas 
comuns na Inglaterra, a vida mudou relativamente 
pouco. Elas continuavam a viver em pequenas co-
munidades feudais rurais, onde o ritmo da lavoura 
e o pastoreio alterou pouco, embora elas prestas-
sem seu serviço e pagassem seus impostos a se-
nhores que falavam outra língua. O inglês nunca 
deixou de ser a língua majoritária. O que mudou 
foi seu acesso ao prestígio sociocultural e o uso na 
escrita, com algumas observáveis exceções, como 
a Crônica de Peterborough e o Orrmulum.
O domínio pelos falantes de francês normando de 
todas as posições de destaque social gerou uma 
situação em que era interessante aos ingleses 
aprender francês, para melhorar suas chances de 
conseguir uma posição no séquito de algum se-
nhor. Na mesma medida, o convívio intenso entre 
normandos e ingleses nas camadas médias da so-
ciedade rapidamente produziam filhos bilíngues, 
embora a mais alta nobreza não soubesse inglês e 
a grande massa da população não falasse francês.
Vimos que o problemático reinado de Henry III, 
desestabilizado por conflitos entre os nobres an-
glo-normandos invejosos do favorecimento dos 
parentes pictavinos e savoianos da família real, foi 
seguido pela estabilidade do reinado do Edward 
I. As campanhas militares incessantes desse rei 
guerreiro contra galeses e escoceses e na França 
ampliaram os domínios reais e fortaleceram a sen-
sação de unidade entre os nobres mais importan-
tes. E depois do reinado instável de Edward II, cujos 
favoritismos desmedidos novamente provocaram 
a ira dos magnatas à rebelião  – o que também 
contribuiu para a noção de uma identidade inglesa 
com seus próprios interesses, diferentes dos grupos 
francófonos, continentais –, Edward III restaurou a 
política externa agressiva da Inglaterra para com 
a França e a Escócia. A crise na sucessão francesa 
provocou a reivindicação de Edward III ao trono 
francês e desencadeou um período de mais de um 
século de hostilidades intermitentes entre os dois 
Recapitulando
Book 1.indb 143 17/11/16 19:15
144
reinos. O estado de guerra prolongado aprofundou 
a sensação de separação entre os ingleses e os fran-
ceses comuns, embora as duas nobrezas estives-
sem muito ligadas, pela distribuição de suas posses 
feudais e por laços de parentesco, cultura e língua. 
Foi precisamente durante esse período (século XIV) 
que a maior quantidade de empréstimos lexicais 
entravam na língua inglesa. A enxurrada de pala-
vras foi causada pelo crescente bilinguismo entre 
a alta nobreza anglo-normanda. Cada vez mais 
pessoas entre as camadas médias da sociedade ti-
nham de aprender o francês. Além disso, o dialeto 
anglo-normando não era prestigioso entre as varie-
dades francesas, devido à prevalência de dialetos 
centrais na corte em Paris. A influência do inglês no 
sotaque, no léxico e na gramática fez que os anglo-
-normandos soassem provincianos em Paris e eram 
alvo de piadas entre os franceses. Muitos nobres in-
gleses enviavam seus filhos para estudar francês na 
França para aprender a variedade “correta”.
Vimos como a Peste Negra foi outro fator relevan-
te no declínio da língua francesa. A educação, que 
antes tinha de ser ministrada em francês, passou 
a ser dada em inglês. Então, entramos no período 
inicial da Guerra das Rosas, com as campanhas dra-
máticas de Henry V que o levaram praticamente ao 
trono da França, se não tivesse morrido de disente-
ria. Foi durante esse segundo período de guerras 
que a língua inglesa começou a aparecer em obras 
literárias para o consumo da corte real, como em 
Piers Plowman de John Langland, a poesia de John 
Gower e as brilhantes obras de Geoffrey Chaucer.
No segundo tema, tratamos das mudanças inter-
nas sofridas pelo inglês entre a conquista norman-
da e o fim da Guerra das Rosas. Você estudou as 
diferentes fontes da enorme quantidade de vocá-
bulos que o inglês tomou emprestado do francês 
normando e do francês central,e as características 
fônicas que distinguem suas origens. Além dis-
so, você aprendeu as diversas áreas semânticas 
atingidas pelos empréstimos, nos quais a língua 
francesa era especialmente utilizada.
Outro aspecto da influência francesa sobre o inglês 
é a grafia, como foi apresentado. A tradição anglo-
-saxã foi abandonada e os escribas introduziram 
novas abreviações e grafias retiradas da escrita da 
tradição francesa. 
Você aprendeu também as principais mudanças 
que atingiram o sistema fônico do inglês, entre 
o inglês antigo e o inglês medieval (a apócope 
vocálica, as mudanças nos ditongos) e o impacto 
dessa evolução sobre o desenvolvimento das gra-
fias. Além disso, você investigou as mudanças que 
ocorreram no sistema gramatical da língua, com 
a redução no número de flexões nos nomes e ad-
jetivos, a troca dos pronomes pessoais da terceira 
pessoa (hi, heora, him), pelas formas escandinavas 
(they, their, them), e a gradual redução nos paradig-
mas verbais.
O quarto tema envolveu a grande diversidade de 
variedades linguísticas regionais faladas no país 
durante a Idade Média. Devido à ausência de tipo 
de padrão, existem inúmeras variantes gráficas que 
refletem as diferentes pronúncias. Os dialetos são 
divididos em cinco: sudoeste, sudeste, centro-oeste, 
centro-leste e norte e escocês, cada um com suas 
especificidades lexicais, fônicas, gramaticais e grá-
ficas, apesar de certa sobreposição, especialmente 
entre os dialetos do escocês e do norte da Inglater-
ra, e os do sudoeste e do centro-oeste, permitindo 
assim que possamos identificá-los. Cada grupo dia-
letal é representado por uma breve passagem de 
algum texto conhecido e exemplar.
No último tema foram apresentadas quatro impor-
tantes obras medievais: a Crônica de Peterborough, 
o romance de cavalaria arturiano Sir Gawain and 
the Green Knight, The Canterbury Tales de Chaucer, 
e a correspondência dos Paston. 
Cada texto corresponde a um período histórico: 
escrita nas décadas depois da Conquista, a Crônica 
Gramática histórica da língua inglesa
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O inglês médio 145
fica na fronteira entre a tradição da Crônica Anglo-
-Saxônica do inglês antigo tardio padrão de Wes-
sex e as inovações regionais medievais. Sir Gawain 
representa a cultura cavalheiresca dos séculos XIII 
e XIV, em que elementos mitológicos e lendários 
se misturam com a tradição do amor cortês com 
as aventuras dos cavaleiros da Távola Redonda. A 
versatilidade do gênio de Chaucer representa a 
exuberância das cortes nobres e reais na virada do 
século XIV para XV, quando o inglês retoma seu 
lugar no centro da vida cultural da elite inglesa 
pela primeira vez desde 1066. As cartas da famí-
lia Paston espelham as preocupações cotidianas 
da nobreza menor durante os anos turbulentos 
em meados do século XV, quando a fraqueza real 
permitia todo tipo de bandidagem e as pessoas 
precisavam negociar o caminho difícil entre as 
facções políticas.
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3u n i d a d e
Objetivos de aprendizagem
 Conhecer a história externa dos países de língua inglesa no período 
depois da Guerra das Rosas na Inglaterra, quando a dinastia Planta-
geneta foi substituída pela dinastia Tudor.
 Examinar as mudanças sociais significativas que a Inglaterra e a Escó-
cia viveram durante a Reforma Protestante durante os reinados de 
Henry VIII, Edward VI e Mary I da Inglaterra.
 Investigar a consolidação do protestantismo anglicano sob o reina-
do de Elizabeth I e traçar as divisões religiosas na Escócia durante o 
mesmo período.
 Estudar a união das coroas da Inglaterra e da Escócia na pessoa de 
James I (VI da Escócia) e a fundação da dinastia Stuart na Inglaterra.
 Compreender as tensões religiosas entre a Igreja Anglicana e os 
“puritanos” calvinistas que levaram à Guerra Civil Inglesa entre o rei 
Charles I e o Parlamento, a derrota e a execução do rei, e os anos da 
república sob a liderança de Oliver Cromwell.
 Notar as características da sociedade da Restauração da monarquia 
sob Charles II e as preocupações entre a classe governante com seu 
irmão católico James II como herdeiro, que conduziram à “Gloriosa 
Revolução”, em que James II foi deposto e o príncipe protestante ho-
landês William, duque de Orange, e Mary, filha de James II, foram 
instalados no trono.
 Aprender acerca das principais mudanças que atingiram a língua in-
glesa durante o período pré-moderno nas áreas da fonética e fono-
logia, tal como a grande mutação vocálica. 
 Assimilar as mudanças que ocorreram na morfossintaxe da língua, 
como a obsolescência do pronome pessoal da segunda pessoa do 
singular, thou, e sua substituição pela forma do plural, you.
 Indagar sobre as alterações na sintaxe das sentenças em inglês, com 
o crescente uso de do como verbo auxiliar em perguntas, negativas 
e afirmações.
O inglês pré-moderno
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148 Gramática histórica da língua inglesa
 Investigar as controvérsias que envolveram o crescimento ex-
ponencial sem precedentes do vocabulário com derivações 
internas e empréstimos de línguas estrangeiras.
 Observar o desenvolvimento de uma norma ortográfica mais 
fixa entre os letrados e os debates que travaram sobre a melhor 
maneira de representar a língua na escrita.
 Pesquisar as controvérsias sobre as propostas de estabelecer 
uma academia para reger a língua inglesa e a produção dos 
primeiros dicionários e gramáticas para o idioma.
 Analisar os três grandes monumentos linguísticos do período 
pré-moderno: o teatro de William Shakespeare, a Bíblia “Autori-
zada” e o dicionário de Dr. Johnson.
 Examinar as obras de alguns dos principais escritores pré-mo-
dernos, como Ben Jonson, John Donne e os poetas metafísicos, 
os grandes panfleteiros satíricos, John Milton, Daniel Defoe e 
Jonathan Swift.
Temas
 1 – História externa: a Renascença, a Reforma, a Guerra 
Civil Inglesa, a Restauração da monarquia e a “Revolu-
ção Gloriosa”
O primeiro tema desta unidade apresenta uma visão panorâ-
mica dos principais acontecimentos na história externa das re-
giões de língua inglesa (essencialmente a Inglaterra e o sudeste 
da Escócia) durante o período entre o fim da Guerra das Rosas 
na Inglaterra, que marca o surgimento da dinastia Tudor, em 
1485, e o fim da dinastia Stuart em 1688. Um momento de 
enormes mudanças sociais e culturais para os falantes do in-
glês. No campo da cultura, houve a Reforma Protestante, que 
separou os dois países da Igreja Católica Medieval. Na Inglater-
ra, a Igreja Anglicana, mais conservadora, que ainda preservou 
muitos elementos do catolicismo, e os grupos mais radicais, 
que procuravam romper de maneira mais definitiva com a Igre-
ja Romana. Na Escócia, a denominação predominante foi o 
presbiterianismo. Na Irlanda, oficialmente sob o domínio da 
Inglaterra desde os tempos de Henry II, a Reforma Religiosa 
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O inglês pré-moderno 149
não teve muito êxito e a maior parte da população permane-
ceu católica. No entanto, durante todo o período pré-moder-
no, havia uma política de assentamento de protestantes na 
Irlanda para aumentar essa população desde o reinado de 
Elizabeth I. Essas divisões religiosas impulsionaram numerosos 
conflitos entre diferentes grupos e causaram instabilidade polí-
tica crônica. Ocasionando um profundo impacto em questões 
linguísticas, o movimento protestante levou à tradução da Bí-
blia das línguas clássicas (latim, grego e hebraico) para o verná-
culo. Tais traduções serviram como modelos estilísticos para 
quem quisesse escrever em inglês. Simultaneamente, ocorreu 
uma explosão na produção de textos literários escritos em in-glês para o consumo geral, por exemplo, peças de teatro. O 
novo interesse nas línguas da Antiguidade clássica que surgiu 
durante a Renascença também estimulava a produção de li-
vros sobre temas eruditos, como a filosofia, direito, história e 
teologia, e traduções de obras clássicas para o inglês. A impor-
tância de outras línguas europeias como veículos de transmis-
são das ideias renascentistas, como italiano, espanhol e francês 
(que ainda era a grande língua vulgar internacional), levou o 
inglês a uma onda de empréstimos lexicais, gerando polêmicas 
sobre o valor de enriquecimento do vocabulário com tais pala-
vras e se não seria melhor adotar ou derivar termos com ori-
gens nativas. Os modelos externos também eram influentes no 
que diz respeito ao desejo de fixar a língua em gramáticas e 
dicionários, que começaram a aparecer em quantidades cres-
centes durante o período. 
 2 – História interna: mudanças estruturais
O período pré-moderno é relevante por ter sido nesse recorte 
cronológico que a língua inglesa começou a perder os traços 
que associamos com a Idade Média, parecendo assim mais fa-
miliar. As mudanças no sistema fonético e fonológico, como a 
grande mutação vocálica, gradualmente rearranjaram os con-
trastes fônicos em uma distribuição mais reconhecível. Ao 
mesmo tempo, na morfossintaxe, o sistema pronominal se ali-
nhava com as distinções modernas com a perda de thou (2a p. 
sing.), primeiro a favor de ye (2a p. pl. do caso sujeito) e final-
mente de you (originalmente 2a p. pl. oblíquo). Houve várias 
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150 Gramática histórica da língua inglesa
mudanças na ordem das palavras que tornaram a língua mais 
próxima da variadade moderna.
 3 – Ortografia, gramáticas e dicionários
O período pré-moderno também foi o momento em que o de-
sejo de regulamentar a língua começou a se manifestar. Espe-
cialmente após a grande variabilidade da Idade Média e o 
influxo de uma quantidade enorme de expressões empresta-
das de outras línguas; muitos letrados, ao registrarem o que 
acontecia em outros países, por exemplo, o estabelecimento de 
academias na França e na Itália, ambas grandes fontes erradia-
doras de inovações, pensavam que a língua inglesa se benefi-
ciaria de uma organização parecida. Apesar da ideia de uma 
academia não ter vingado para o inglês, outras questões foram 
muito debatidas, como a normalização da ortografia, a produ-
ção de gramáticas e dicionários para registrar a língua e, em teo-
ria, pelo menos, fixá-la em certa medida. A maturação das ideias 
sobre tais aspectos da língua será tratada ao longo do tema.
 4 – Textos pré-modernos
Por fim, abordamos a produção em língua inglesa durante o 
período pré-moderno. Apresentamos os dois pilares da lite-
ratura daquele período, isto é, o teatro de Shakespeare e a 
tradução “autorizada” da Bíblia, que constituem os alicerces 
do cânone literário do inglês. Além disso, oferecemos uma 
seleção de outros escritores importantes em cada divisão do 
período pré-moderno, outros dramaturgos e poetas impor-
tantes da época elizabetana; alguns representantes dos mo-
vimentos literários dos anos jacobinos e os gigantes do 
mundo das letras dos tempos da Guerra Civil Inglesa e da 
Restauração da Monarquia.
Introdução
Nesta unidade, você estudará o período de transição que os historia-
dores da língua inglesa costumam identificar entre a Idade Média e a 
Idade Moderna: a época pré-moderna. Você examinará a história das 
duas dinastias do período pré-moderno, a Tudor (na Inglaterra) e a 
Stuart (tanto na Escócia ancestral, como na Inglaterra, depois da união 
das coroas em 1604). Você aprenderá sobre as ações no campo social, 
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O inglês pré-moderno 151
cultural e político que moldaram a língua inglesa de diferentes manei-
ras, pela introdução de novas ideias e tecnologias, por contato com 
diferentes línguas, pela criação ou adoção de novos modelos estilísti-
cos, pela reação de novas necessidades sentidas entre os falantes. 
Na sequência, você pesquisará as mudanças nos diferentes compo-
nentes da língua: o léxico e os sistemas fônico e morfossintático, con-
duzindo a língua inglesa mais próxima à situação atual. Essas 
mudanças estruturais tiveram um impacto sensível em questões de 
representação escrita e nas tentativas de descrever e codificar a língua 
realizadas por contemporâneos com crescentes níveis de sofisticação. 
Finalmente, você conhecerá aspectos biográficos e elementos das 
obras mais relevantes de alguns personagens de destaque em cada 
um dos subperíodos apresentados.
História externa: a Renascença, a 
Reforma, a Guerra Civil Inglesa, 
a Restauração da monarquia e a 
“Revolução Gloriosa”
O termo Renascença refere-se a um movimento cultural que 
teve início na Itália durante o século XIV. Seus adeptos pregavam 
um retorno aos valores pessoais e civilizatórios da Antiguidade 
greco-romana. Uma contribuição importante a essa nova visão 
humanista veio dos imigrantes gregos que se estabeleceram nos 
principados e cidades-estados italianos, fugindo da conquista 
definitiva do Império Bizantino pelos turcos sob o sétimo sultão 
otomano, Mehmet, o Conquistador. Em 1453, Bizâncio (atual 
Istambul), a capital do Império Romano oriental, foi capturada, 
encerrando mais de mil e quinhentos anos de história romana, des-
de a divisão do Império Romano em duas metades, ocidental, com 
a capital em Roma (até 476 d.C.), e oriental, com a capital em 
Constantinopla ou Bizâncio (o Império Bizantino). 
Radicando-se em cidades como Florença, Gênova, Veneza, 
Milão, Bolonha e Roma, vários intelectuais bizantinos ocuparam-
-se de ensinar e difundir língua, literatura, história, cultura e fi-
losofia grega para os italianos medievais. Os imigrantes gregos 
trouxeram manuscritos antigos que não eram conhecidos pelos 
estudiosos medievais no Ocidente, que já viviam um período de 
grande inovação e criatividade desde o século XIII, provocado 
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152 Gramática histórica da língua inglesa
pelo estudo de textos antigos sobre matemática, ciência natural 
e filosofia, recuperados por meio de traduções de tratados árabes 
feitas na Península Ibérica e na Sicília. 
A fase inicial “latina” da Renascença no século XIV foi baseada 
em Florença. Estudiosos como Francesco Petrarca, Coluccio 
Salutati, Niccolò Niccoli e Poggio Bracciolini vasculharam as bi-
bliotecas em busca de manuscritos de Cícero, Lucrécio, Tito Lívio 
e Sêneca, com o intuito de recuperar o conhecimento perdido da 
Antiguidade. Esse período é conhecido pelas obras literárias de 
Dante Alighieri, Petrarca e Boccaccio, os quadros de Giotto, as 
esculturas de Donatello, os diversos feitos dos polímatas Lorenzo 
Ghilberti e Filippo Brunelleschi e pelo gênio Leonardo da Vinci. 
O patrocínio dos duques de Milão, como Lorenzo de’ Medici e 
seus herdeiros, para artistas e estudiosos, com o objetivo de au-
mentar ainda mais o prestígio da família governante, estimulava 
uma concorrência intensa entre as cortes dos príncipes italianos. 
Cada um procurava atrair e manter uma seleção das mais brilhan-
tes mentes e mãos sob seu patrocínio. 
A segunda fase da Renascença envolve o reencontro com a 
cultura da Grécia Antiga. A transferência da mais sofisticada cul-
tura bizantina para o contexto dinâmico da Itália tardo-medieval 
provocou uma verdadeira revolução cultural cuja influência ultra-
passava as fronteiras da Península Itálica e transformava o tecido 
sociocultural da Europa. As ideias renascentistas tiveram um im-
pacto imenso na literatura, arquitetura, nas artes plásticas, música, 
filosofia e nas ciências.
À base do programa renascentista estava o estudo dos autores 
clássicos com ênfase nos aspectos ditos “humanos” (literatura, 
história, oratória) e uma nova valorização do ser humano como 
“a medida detodas as coisas”. O currículo dos estudos humanos 
incluía cinco áreas principais: poética, gramática, história, retóri-
ca e filosofia moral. Na esfera pessoal, o modelo era o “homem 
universal”, um exemplo da excelência mental, física e espiritual, 
aperfeiçoado pela riquíssima formação humanista da Antiguidade 
e sublimado pela religião cristã. O manifesto do plano para for-
mar esse ser magnífico foi apresentado por Giovanni Pico della 
Mirandola em seu livro De hominis dignitate (Discurso sobre a 
dignidade do homem) de 1486.
A transmissão das ideias renascentistas da Itália para o norte da 
Europa foi catalisada pela corte dos duques da Borgonha, senhores 
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O inglês pré-moderno 153
de um grande território fragmentado entre senhorias dispersas que 
se estendia ao longo da fronteira da atual França e Alemanha.
A proximidade com o norte da Itália permitia a passagem fácil 
de pessoas, textos e ideias para Borgonha, especialmente para as 
regiões dos Países Baixos, onde havia relações de comércio muito 
fortes com as ricas cidades flamengas de Bruges, Gante e Bruxe-
las, as sedes preferidas da corte ducal. Foi nesses lugares que os 
princípios da Renascença começavam a se divulgar pelo norte da 
Europa. Áreas afetadas precocemente foram a pintura, por exem-
plo, Pieter Bruegel, o Velho, Albrecht Dürer, Hieronymus Bosch, 
Jan Gossaert, Jan van Eyck, Hans Holbein, o Velho, e a música 
polifônica da escola flamenga.
Na Inglaterra, a Renascença veio tardiamente. O surgimento 
de elementos renascentistas inicia-se apenas por volta da década de 
1520, no reinado de Henry VIII. A literatura vernácula, em vez 
de escrita em latim ou francês, outro aspecto importante da Renas-
cença italiana, já tinha seu correlato na Inglaterra, onde uma vi-
gorosa tradição de literatura vernácula existia desde os tempos de 
Geoffrey Chaucer, William Langland, John Lydgate, John Gower 
e Thomas Hoccleve. A principal contribuição das ideias renascen-
tistas foi na área da música (Thomas Tallis e Thomas Morley), no 
pensamento filosófico e religioso (via seguidores de Erasmo de 
Roterdã) e na adoção de modelos poéticos, como o soneto. Nas 
artes visuais, as cortes dos monarcas da dinastia Tudor tendiam a 
trazer pintores e escultores estrangeiros, como os Holbein, embo-
ra, pelo final do século XVI, alguns artistas plásticos, como Ni-
cholas Hilliard e Isaac Oliver, produzissem obras-primas.
Henry VII
A vitória de Henry Tudor (n. 1457-m. 1509) e seus seguidores 
sobre o partido de Richard III na Batalha de Bosworth Field em 
1485 é tida como o evento que marca o encerramento da Idade 
Média nas Ilhas Britânicas e abre a fase renascentista do período 
pré-moderno. Embora o novo rei fosse da linhagem de Lancaster, 
ele tomou medidas para reduzir sua associação com uma das fac-
ções que tinha disputado a Guerra das Rosas. Henry VII casou-se 
com Elizabeth de York, filha de Edward IV e sobrinha de seu rival, 
Richard III (veja Unidade 2). Esse matrimônio deu a reivindicação 
de seus descendentes ao trono inglês pelos dois lados rivais da es-
tirpe Plantageneta. No entanto, Henry VII tomou estrategicamente 
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154 Gramática histórica da língua inglesa
a sábia decisão de adotar seu próprio nome dinástico, Tudor, por 
seu pai, Edmund Tudor, o primeiro earl de Richmond, e não con-
tinuar com as provocativas denominações ancestrais.
A principal preocupação de Henry VII era restaurar a autori-
dade e as finanças reais, que tinham diminuído muito durante os 
longos anos de conflito. Com esse fim, ele procurava limitar o 
poder das famílias nobres importantes, a não ser que apoiassem o 
regime. Suas políticas para a nobreza e a economia eram interli-
gadas. Por exemplo, George Neville, Lorde Burgavenny, foi con-
denado, em 1507, por manter um exército privado, pelo qual foi 
multado em cinco libras por homem a cada mês. O lorde Neville 
se confessou culpado (era mais barato assim) e pagou uma mul-
ta de £70.650 (aproximadamente um milhão de libras modernas) 
pelos 471 homens que ele contratara durante trinta meses (GUY, 
1984, p. 235). Foi por medidas como essa que Henry VII conse-
guiu restringir a capacidade militar de seus vassalos mais podero-
sos e encher os cofres da coroa.
A política de Henry VII valorizava lealdade ao monarca, bom 
serviço, esperteza e habilidade, independentemente de sua origem 
social. O objetivo era recrutar apoio por cima das facções nobres 
pelo uso judicioso do patronato real, concedendo títulos, terras, 
cargos, pensões e anuidades. Quem parecia ameaçar o status quo 
era coibido por processos, penalidades financeiras e, nos casos 
mais graves, por attainder (confisco de bens, títulos e direitos) por 
traição, geralmente com condenação à execução. Cada recurso le-
gal e tributário era explorado ao máximo para minimizar gastos 
e maximizar os retornos. Alguns métodos adotados eram moral-
mente duvidosos, como a extorsão de cartas de fiança de eventuais 
opositores políticos para garantia de boa conduta e a venda de 
cargos no judiciário e na administração.
A administração do reino foi realizada principalmente pelo 
Conselho Real, composto, em teoria, por todos os nobres do reino. 
Esse conselho era distinto do Parlamento, em que os religiosos, 
as cidades e as regiões também participavam, sendo consultado 
para outorgar impostos. Do conselho maior, um pequeno grupo 
foi selecionado para formar a Court of the Star Chamber (“Cor-
te da Câmara Estrelada”), nomeada pelo desenho do céu noturno 
pintado no teto da sala onde os conselheiros se reuniam no Palá-
cio de Westminster. A Corte da Câmara Estrelada era dominada 
pelos Privy Councillors (“conselheiros privados”) do rei e tinha 
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O inglês pré-moderno 155
a competência para julgar casos contra indivíduos tão poderosos 
que os tribunais comuns não conseguiriam condenar. A Corte tam-
bém servia para debater leis que seriam passadas por decreto real, 
sem a necessidade da demorada e enfadonha consulta aos con-
selhos maiores. Desse modo, a administração real conseguia se 
tornar mais eficiente, embora deixasse de ser tão representativa, 
sendo controlada na prática pelo rei e seu pequeno círculo de con-
selheiros favorecidos, o que aumentou a possibilidade de abuso 
de suas competências com julgamentos arbitrários e subjetivos 
contra seus rivais, que ocorreu mais tarde.
Se a política interna de Henry VII buscava sobretudo estabi-
lidade, eficiência e probidade financeira, sua política externa va-
lorizava relações pacíficas, e vantajosas, com os reinos vizinhos. 
Com esse fim, seu governo assinou o Tratado de Paz Perpétua 
com a Escócia em 1502 (a primeira entre os dois países em 200 
anos), em uma tentativa de romper a Auld Alliance (“aliança anti-
ga”) entre os escoceses e os franceses – um pacto de ajuda mútua 
assinado por John Balliol da Escócia e Philippe VI da França em 
1295 contra as políticas agressivas de Edward I da Inglaterra –, 
que sempre ameaçava a Inglaterra com uma guerra em duas fron-
teiras. Conforme os termos do acordo, a princesa Margaret Tudor 
casou-se com James IV da Escócia, criando o vínculo sanguíneo 
entre as famílias reais, o que levou James VI da Escócia a herdar 
o trono inglês como James I, quando Elizabeth I morreu sem fi-
lhos, em 1603. Henry também concluiu o Tratado de Medina del 
Campo em 1489, com a Espanha, recém-constituída da união dos 
reinos de Castela e Aragão, em que seu filho maior, Arthur, se 
casaria com a infanta Catarina de Aragão, filha dos “reis católi-
cos”, Fernando de Aragão e Isabela de Castela, e os dois países 
se apoiariam contra a França e combinariam a redução de tarifas 
sobre o comércio de certos produtos. No Tratado de Étaples de 
1492, concluído com a França depois de uma intervenção militar 
inglesa na Bretanha, CharlesVII da França concordou em tirar 
seu apoio ao pretendente Perkin Warbeck, que se dizia Richard 
de Shrewsbury, duque de York, o filho menor de Edward IV, e 
procurava ajuda financeira e militar nas cortes continentais para 
montar uma invasão à Inglaterra. A França também pagou uma in-
denização à Inglaterra, em troca de os ingleses deixarem de inter-
ferir na região semi-independente da Bretanha, a qual os franceses 
queriam dominar. 
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156 Gramática histórica da língua inglesa
Em resumo, o reinado de Henry VII foi bem-sucedido, embora 
o monarca nunca tenha sido um rei querido. No final da sua vida, a 
eficácia e autonomia do tribunal da Câmara Estrelada eram usadas 
para extorquir dinheiro da nobreza por meio do sistema de fianças 
por boa conduta, sob ameaças de attainder. Por outro lado, o rei 
conseguiu evitar conflitos externos, fechando alianças proveitosas 
com os principais poderes europeus, e defendeu os interesses co-
merciais ingleses, por exemplo, promovendo a produção e venda 
de lã para os centros de produção têxtil nos Países Baixos. Henry 
também enriqueceu bastante atuando pessoalmente no comércio 
de alume, produto químico importante para fixar tintura nos teci-
dos. O rei importava alume do Império Otomano para revender em 
Flandres, quebrando o monopólio sobre a pedra-ume exercitado 
pelo papa, em cujo domínio estava a única mina de pedra-ume na 
Europa. 
Internamente, seu governo restringiu vigorosamente qualquer 
indicação de oposição entre os magnatas regionais, sendo entre-
tanto via canais judiciais, sem recorrer à violência aberta. O refor-
ço do sistema de tribunais no nível do condado com a participação 
ativa dos justices of the peace (“juízes da paz”), escolhidos entre a 
pequena nobreza, na manutenção da ordem localmente contribuía 
bastante com a redução de instabilidade e a implementação eficaz 
de medidas governamentais. Sua política de tributação intensa às 
vezes conseguia concessões por pretextos falsos, por exemplo, 
convencendo o Parlamento a votar-lhe subsídios, supostamente 
para financiar campanhas militares contra a França ou a Escócia 
que nunca foram realizadas. Em conjunto com a aplicação de mul-
tas e confiscos e a venda descarada de privilégios e títulos, os 
impostos encheram a tesouraria real. 
Henry VIII
Com a morte de Henry VII em 1509, seu segundo filho, também 
chamado Henry, herdou o trono. Arthur tinha morrido em 1502, 
apenas alguns meses depois de seu casamento com Catarina de Ara-
gão. Embora ele não tivesse gostado inicialmente da ideia de se 
casar com a viúva de seu irmão, quando seu pai propôs a união, logo 
depois da sua coroação, Henry VIII declarou que eles se casariam. 
Em seguida, ele prendeu os dois principais ministros de seu pai, Sir 
Richard Empson e Richard Dudley, detestados por seu papel nas 
políticas de extorsão praticadas pelo governo contra os nobres que 
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O inglês pré-moderno 157
eles acreditavam não apoiar o rei suficientemente. Os dois ex-mi-
nistros foram executados em 1510, após condenação por traição.
Henry VIII não foi educado para reinar. É provável que Henry 
VII tenha imaginado uma carreira eclesiástica para seu segundo 
filho. De qualquer maneira, ele recebeu uma excelente formação 
renascentista, sendo fluente em latim e francês e provavelmente 
sabia italiano. Além disso, ele era um músico talentoso e compo-
sitor ocasional; até escreveu alguns tratados teológicos. Adicio-
nalmente, Henry era alto para a época (ele media mais de 1,80 m), 
bonito, forte e ativo, gostava de caçar e de lutar em torneios, sendo 
especialmente habilidoso na justa. 
Henry VIII rompeu com as políticas externas cautelosas e a 
probidade financeira do seu pai. Sonhando com a conquista do 
trono da França, ele se envolveu ativamente nos conflitos entre 
os grandes poderes continentais. Em 1513, em uma aliança com 
o imperador sacro romano e Fernando de Aragão, rei da Espanha, 
Henry invadiu a França pessoalmente e conquistou algumas ci-
dades. Como costumava ocorrer em guerras entre a Inglaterra e 
a França, a Escócia reagiu, invadindo o norte da Inglaterra para 
auxiliar seu aliado. Contudo, na Batalha de Flodden, o exército es-
cocês foi derrotado completamente e o rei James IV, morto. Henry 
mantinha uma rivalidade pessoal com Francisco I da França e com 
Felipe V de Habsburgo, rei da Espanha e imperador sacro romano.
A maior preocupação de Henry VIII era evitar que o reino re-
caísse em guerra civil que ele temia acontecer se ele não con-
seguisse garantir a sucessão da dinastia Tudor com um herdeiro 
homem. Depois de vários bebês que nasceram mortos ou sobre-
viveram pouco tempo, a rainha deu à luz uma menina, Mary, em 
1516. Em 1519, a amante do rei, Elizabeth Blount, teve um fi-
lho, que foi chamado Henry FitzRoy. O rei reconheceu seu filho 
ilegítimo e há motivos para acreditar que ele estava planejando 
declará-lo seu sucessor oficial quando o jovem Henry faleceu de 
febre em 1536. Preocupado novamente com o legado dinástico, 
Henry chegou à conclusão de que seu casamento com Catarina de 
Aragão, a viúva de seu irmão, não era justificado por motivos reli-
giosos e, portanto, estava malquisto por Deus. Por conseguinte, o 
rei procurava dissolver a união ante o papa. Este, contudo, o único 
que podia conceder-lhe o divórcio, estava sob forte pressão do im-
perador sacro romano, Felipe V da Espanha, sobrinho da rainha, 
para não ceder aos argumentos do rei da Inglaterra contra sua tia. 
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158 Gramática histórica da língua inglesa
Desesperado com o futuro da sua linhagem e obcecado por 
Anne Boleyn, uma das damas da rainha, Henry VIII escolheu o 
caminho radical para resolver seus problemas, adotando a doutri-
na de Martinho Lutero para se declarar chefe supremo da Igreja na 
Inglaterra. Por meio desses novos poderes, Henry se deu o divór-
cio tão desejado e casou-se com Anne em 1532.
O fracasso das negociações em conseguir o divórcio real pro-
vocou a queda política do cardeal Wolsey, o mais poderoso mi-
nistro de Henry, que havia dirigido o governo desde o início do 
reinado de Henry. Wolsey morreu poucos meses depois. A recusa 
de reconhecer Henry como o líder supremo da Igreja custou a vida 
a Sir Thomas More, o Lorde Chanceler, que havia assumido a 
liderança do governo após a desgraça de Wolsey. Assim, as po-
líticas seculares e religiosos da Reforma Protestante na Inglater-
ra eram implementadas por Thomas Cromwell e o arcebispo de 
Canterbury, Thomas Cranmer. 
A Lei da Sucessão, em 1533, declarou a princesa Mary ilegí-
tima e nomeou qualquer filho de Henry e Anne herdeiro ao trono. 
No mesmo ano, Anne Boleyn foi coroada rainha e nasceu uma 
filha, Elizabeth. Henry estava decepcionado que não era um filho 
homem. Em 1534, as Leis da Supremacia fizeram Henry o che-
fe supremo da Igreja na Inglaterra. Qualquer oposição aos novos 
poderes reais era reprimida com violência. Protestos resultaram 
em várias execuções por suspeita de traição, como os monges car-
tuxos, o bispo de Rochester e Sir Thomas More. Em 1536, um 
levantamento em Lincolnshire e a “Peregrinação da Graça”, um 
levantamento de cerca de vinte a quarenta mil pessoas de Yorkshi-
re, no norte da Inglaterra, protestaram contra o divórcio da rainha 
Catarina, o casamento com Anne Boleyn (suspeita por ser do sul 
e dita simpatizante com o protestantismo), a situação econômi-
ca ruim (a colheita foi mal) e modificações nos rituais litúrgicos. 
Henry prometeu perdoar os revoltados e agradeceu-lhes por ter-
-lhe informado de suas dificuldades e preocupações, em seguida, 
quando houve uma briga durante o retorno dos “peregrinos”, Hen-
ry mandou prender os líderes e executou-os, com mais duzentos 
outros por traição.
Um aspecto importante da Reforma foi a “dissolução dos mos-
teiros”, entre1536 e 1540, o fechamento de todas as instituições 
monásticas, o confisco de seus imensos latifúndios e bens mate-
riais, que foram vendidos ou leiloados para arrecadar dinheiro à 
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O inglês pré-moderno 159
coroa. Esses recursos eram necessários para repor as finanças re-
ais, em apuros desde as campanhas francesas. 
Outros atos políticos relevantes no período são Laws in Wales 
Act (“Decreto sobre as leis em Gales”) em 1535 e em 1542, pelo 
qual os sistemas administrativo e judicial do principado de Gales 
foram uniformizados e harmonizados com o sistema inglês, inte-
grando as duas nações, de maneira que aboliu o sistema legal e as 
unidades territoriais tradicionais, e obrigou os galeses a usar a lín-
gua inglesa no Direito e outros atos oficiais. Por um lado, a pequena 
nobreza galesa não reclamou das mudanças, porque ela percebia 
que as medidas lhe davam igualdade com os ingleses perante a lei. 
Um aspecto muito relevante da unificação foi a instauração das 
condições para favorecer o crescimento de uma classe governante 
anglófona em Gales. Muito mais tarde, porém, os galeses chegaram 
a considerar que o custo que pagaram por essa igualdade política e 
jurídica foi muito alto, já que eles tinham sido obrigados a abrir mão 
de grande parte de sua identidade e tradições. 
Outra legislação importante foi a Lei da Coroa da Irlanda, de 
1542, um ato do Parlamento irlandês que converteu Henry VIII 
e seus descendentes em reis da Irlanda. O rei da Inglaterra era 
nominalmente o “Senhor da Irlanda”, desde os tempos de Henry 
II, mas o controle político era exercido na prática pelos lordes 
irlandeses nativos ou pelas famílias anglo-normandas que recebe-
ram senhorios feudais. O território controlado pela coroa inglesa 
era uma faixa ao redor da cidade de Dublin chamada The Pale 
(literalmente, “A pala”).
A fama de Henry VIII, além do rompimento religioso com a 
Igreja Romana, deveu-se a seus seis casamentos. Após conceder-
-se um divórcio do primeiro matrimônio com Catarina de Aragão 
e casar-se com Anne Boleyn, a felicidade do rei não durou. O ca-
sal real brigou com frequência e Henry pareceu ter julgado que 
a falta de um filho, além da princesa Elizabeth, apesar de algum 
aborto espontâneo, era uma traição pessoal da rainha. 
Em 1536, o rei sofreu uma queda muito grave durante um tor-
neio e ficou desacordado por dois dias. Quando Anne ouviu a notí-
cia, ela sofreu um aborto de um menino. Henry arrumou uma nova 
amante, Jane Seymour, e tramou livrar-se de Anne. O apoio dos 
membros da família Boleyn que atuavam no Conselho Privado 
para uma aliança com a França os posicionou contra o podero-
so ministro Thomas Cromwell, que favorecia uma aproximação 
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160 Gramática histórica da língua inglesa
com o Império Sacro Romano. A inclinação do rei à proposta de 
Cromwell enfraquecia a posição dos Boleyn e levava seus rivais 
na corte a trabalhar para a execução de Anne, em lugar de conse-
guir uma segunda anulação.
Em maio de 1536, George Boleyn, o irmão de Anne, e mais 
cinco homens foram presos, acusados de adultério traiçoeiro por 
ter relações com a rainha. Anne também foi presa, acusada de 
adultério traiçoeiro e incesto. As acusações eram fraquíssimas, 
mas todos foram condenados à morte. Em 17 de maio, os homens 
foram executados e, em 19 de maio, Anne também foi morta. Um 
dia depois, Henry VIII noivou com Jane Seymour, casando-se 
com ela dez dias mais tarde. 
Em 12 de outubro de 1537, nasceu o tão desejado filho, Edward, 
mas o parto foi muito difícil e Jane Seymour faleceu de complica-
ções pós-natais em 24 de outubro. Cromwell, agora earl de Essex, 
tratou de encontrar uma nova esposa para o rei entre a nobreza 
continental e propôs Anne de Cleves, irmã do duque de Cleves, 
um principado que ocupava regiões na atual Holanda e Alemanha. 
O motivo político para o casamento, celebrado em 1539, foi a pro-
cura de um aliado contra um eventual ataque de algum país católi-
co (França ou Espanha). No entanto, depois de apenas seis meses, 
Henry já tinha cansado da sua esposa alemã e arranjou mais um 
divórcio, alegando irregularidades nas negociações, já que Anne 
tinha sido noiva do filho do duque de Lorena, além do fato de que 
o casamento nunca foi consumado. Anne de Cleves não protestou 
e recebeu uma boa pensão. 
Ficou evidente que Henry estava enfatuado com a sobrinha 
do duque de Norfolk, Catherine Howard, de apenas 17 anos. As 
repercussões políticas para o todo-poderoso Thomas Cromwell 
eram graves, porque o tio da nova amante do rei era um de seus 
mais ferrenhos inimigos. A prisão e condenação à fogueira de três 
reformadores protestantes favorecidos de Cromwell por heresia 
tornou sua posição precária. Finalmente, Cromwell foi acusado 
de traição, pela venda ilegal de licença de exportação e concessão 
indevida de passaportes e cargos comissionados. Condenado, seus 
títulos e posses foram confiscados e ele foi executado em 28 de 
julho de 1540, o mesmo dia em que Henry se casou pela quinta 
vez, com Catherine Howard.
Embora o rei estivesse encantado com sua jovem rainha, o ca-
samento não durou. Catherine teve um caso com um jovem nobre, 
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O inglês pré-moderno 161
Thomas Culpeper, e mantinha como secretário Francis Dereham, 
com quem ela teve um namoro quando eram extraoficialmente 
noivos, antes de se casar com Henry. Quando a corte soube do 
antigo caso da rainha com Dereham, o rei não estava e o arcebispo 
de Canterbury foi encarregado de investigar. Ao confirmar a vera-
cidade da acusação, o rei não quis acreditar e somente aceitou os 
fatos após saber da confissão de Dereham. Curiosamente, Cathe-
rine não mencionou o noivado para se defender das acusações de 
adultério, já que o contrato anterior teria invalidado seu casamento 
com Henry. Em lugar disso, ela insistiu que Dereham a tinha for-
çado a ter uma relação adúltera com ele. Dereham revelou o caso 
de Catherine com Culpeper e os três foram executados em 1542.
O sexto e último casamento de Henry VIII foi com Catherine 
Parr, uma viúva nobre e rica, que já havia se tornado viúva três 
vezes. Ela conseguiu aproximar o rei a suas duas filhas, Mary e 
Elizabeth, e conseguiu que ele as incluísse na sucessão, depois 
do seu irmão menor, Eduardo, Príncipe de Gales. Reformadora 
religiosa favorável ao protestantismo, Catherine Parr discutia com 
seu marido sobre questões relacionadas ao clero, embora, quando 
os inimigos dela tentaram conseguir sua condenação por heresia, 
ela respondeu dizendo que o objetivo dos argumentos era sempre 
distrair o rei das fortes dores que sofria devido a uma lesão ulcera-
da na perna provocada por um acidente em uma justa. 
No final da sua vida, Henry engordou muito, medindo 1,40 m 
pela cintura. Ele sofreu um enfraquecimento muscular, o que o fez 
ser levantado e transportado por máquinas. Ele também sofria dis-
túrbios de personalidade incluindo paranoia e depressão, agrava-
das pela dor da perna, erupções cutâneas causadas por furúnculos 
dolorosos cheios de pus, além de gota. 
Ele morreu com 55 anos, em 28 de janeiro de 1547. Sua sexta 
esposa, Catherine Parr, chegou a se casar novamente. Ela teve um 
papel ativo na formação dos três filhos de Henry e influenciou o 
protestantismo defendido por Edward VI e Elizabeth I.
Edward VI
O terceiro filho de Henry VIII com sua terceira esposa, Jane 
Seymour, Edward VI (1537-1553), tinha apenas nove anos de ida-
de quando ele foi coroado em fevereiro de 1547. Como o rei era 
muito novo para governar, um conselho tutorial foi constituído, 
presidido por seu tio, Edward Seymour, o earl de Herford, que 
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162 Gramática histórica da língua inglesa
convenceu os outros membros do conselho regente a nomeá-lo 
Lord Protector of the Realm(“Lorde Protetor do Reino”). Os mem-
bros do conselho aproveitaram-se de uma cláusula no testamento 
de Henry VIII para se beneficiarem, concedendo a si próprios títu-
los e terras: Edward Seymour se tornou o duque de Somerset e seu 
irmão, Thomas, recebeu o título de duque de Warwick.
Seymour convenceu o rei a assinar um documento que lhe deu 
o poder de nomear os membros do Conselho Privado e convocá-lo 
quando quisesse, podendo governar sem consultá-lo. Esse compor-
tamento ditatorial alienou muitos conselheiros, inclusive seu pró-
prio irmão, Thomas, que tentava constantemente minar a influência 
de Somerset, incentivando o jovem rei a assumir seus poderes ple-
nos, apesar de receber um título, uma posição no Conselho Priva-
do e o cargo de Lord Admiral (“Lorde Almirante”) de seu irmão. 
Thomas Seymour se rebelava contra o Lord Protector, mas acabou 
sendo preso por invadir a casa onde o rei morava à noite com uma 
pistola carregada, provavelmente em uma tentativa de levar Edward 
VI do poder do Lord Protector. Acusado de fraude fiscal, entre ou-
tras coisas, Thomas Seymour foi condenado sumariamente à morte. 
Somerset declarou guerra à Escócia e conseguiu várias vitórias, 
ocupando o país até Dundee, no centro-leste. Porém, o custo de 
manter seus grandes exércitos era exorbitante e ele foi obrigado a 
abandonar as conquistas em 1549, quando os franceses atacaram a 
cidade de Boulogne, ocupada pelos ingleses desde as campanhas 
de Henry VIII. Por estar fora do reino em campanha, o final do go-
verno do duque de Somerset foi marcado por rebeliões e levanta-
mentos regionais do povo contra os abusos da classe proprietária. 
Em particular, o novo costume de cercar os antigos pastos comuns 
(enclosure) – em geral com o objetivo de criar ovelhas, cuja lã 
era muito valiosa –, provocava protestos uma vez que os colonos 
perdiam o lugar de pasto dos próprios animais, já que não costu-
mavam possuir terrenos suficientemente grandes para isso.
Finalmente, os demais conselheiros cansaram dos métodos au-
tocráticos do protetor Somerset, insistindo que o poder que ele 
exercia lhe fora concedido por eles e não pelo testamento do anti-
go rei. Somerset foi deposto e a presidência do conselho regente 
foi tomada por John Dudley, earl de Warwick, em 1551, breve-
mente autoproclamado duque de Northumbria. Quando Somerset 
foi solto, ele foi convidado a um lugar no conselho novamente, 
mas ele tramou derrubar a presidência de Dudley. O complô foi 
descoberto e Edward Seymour foi executado em 1552.
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O inglês pré-moderno 163
Edward foi o primeiro rei inglês criado como protestante. Foi 
durante seu breve reinado que a Igreja Anglicana foi estabelecida. 
O celibato clerical foi abolido, assim como a missa. O inglês foi 
decretado a língua das cerimônias e da liturgia, e um novo livro de 
orações, The Book of Common Prayer, escrito pelo arcebispo 
de Canterbury, Thomas Cranmer, foi publicado em 1549 e conti-
nha todos os ofícios divinos e orações formais da nova Igreja. A 
Lei de uniformidade (1548/49) decretou que o livro de Cranmer 
fosse o único texto de rituais litúrgicos a ser utilizado no reino. 
Com o teatro de Shakespeare e a Bíblia de King James, o Book of 
Common Prayer teria uma influência enorme sobre a língua ingle-
sa como fonte de modelos, expressões e provérbios.
Mary I
Em 1553, Edward VI ficou doente e faleceu. Ele tinha nomea-
do sua prima, Jane Grey, a sobrinha do duque de Northumberland, 
sua herdeira, provavelmente pelo fato de ela ser protestante, e o 
jovem rei temia que sua irmã maior tentasse desfazer a Reforma 
Religiosa que ele tinha supervisionado. Para conseguir isso, po-
rém, Edward foi aconselhado que suas duas meias-irmãs teriam de 
ser deserdadas, ainda que a menor, Elizabeth, fosse protestante. A 
decisão de Edward em nomear Jane Grey foi contra a Terceira Lei 
da Sucessão de 1542, na qual Henry VIII estipulou que todos seus 
filhos que foram legitimados poderiam herdar o trono.
No entanto, Lady Jane Grey reinou apenas nove dias, antes de 
Mary Tudor (1515-1558), a mais velha dos filhos de Henry VIII, 
reunir seus apoiadores e depor Jane Grey. O líder da facção que 
apoiava Jane Grey, o duque de Northumberland, foi executado. 
Jane Grey e seu marido, Guildford Dudley, foram apenas encar-
cerados inicialmente, mas, depois da rebelião dos Wyatt em 1554, 
contra o casamento de Mary e o futuro Felipe II da Espanha, o 
casal foi executado também, por representar um potencial foco de 
descontentamento com a rainha Mary.
Mary era católica convicta e uma das primeiras ações realiza-
das foi tentar reverter os efeitos da Reforma Religiosa. Em 1554, 
Mary se casou com Felipe II da Espanha, sobrinho do imperador 
do Sacro Império Romano. O casamento não era popular na Ingla-
terra. Os membros do Conselho Privado temiam que a Inglaterra 
fosse reduzida a uma dependência dos Habsburgos, a família que 
dominava a Península Ibérica e o Sacro Império Romano. O povo 
receava o impacto das novas Reformas Religiosas e desconfiava 
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164 Gramática histórica da língua inglesa
de um príncipe estrangeiro. No decorrer do restabelecimento do 
catolicismo, quase 300 protestantes foram queimados vivos como 
hereges e várias centenas mais escolheram o exílio durante seu 
reinado. Mary morreu em 1558, sem filhos.
Elizabeth I
O reinado de Elizabeth I é considerado uma espécie de idade 
de ouro em muitos aspectos culturais que envolvem a língua in-
glesa. Foi durante esse tempo que houve um florescimento es-
pecialmente grande nas artes literárias, por exemplo, o teatro de 
Christopher Marlowe e William Shakespeare, a poesia de Sir 
Philip Sidney, Edmund Spenser, Sir Walter Raleigh, entre vários 
outros. A impressão quanto a tal exuberância linguística é de que 
se trata da maturação da Renascença inglesa no que diz respei-
to ao vernáculo. Se o início do período nos reinados de Henry 
VII e VIII envolvia o pensamento sofisticado de Thomas More 
e os seguidores de Desiderio Erasmo de Roterdã (1467-1536), a 
era elizabetana manifesta a produtividade e criatividade que sur-
gem quando os aspectos renascentistas já estavam razoavelmen-
te divulgados e acessíveis ao público. Apesar de ser um homem 
cultíssimo, Thomas More lutava em vão para deter por censura a 
enxurrada de textos – livros, tratados, panfletos – sobre assuntos 
religiosos heterodoxos que entravam no país pelas imprensas con-
tinentais (GUY, 1984, p. 242).
O reinado também é associado com a vitória naval sobre a 
Armada Invencível espanhola em 1588 e as viagens de corsários 
como John Hawkins, Richard Grenville, Walter Raleigh, e espe-
cialmente Francis Drake, que chegou a circum-navegar o globo. 
O investimento em atividades marítimas levaria ao envolvimento 
inglês no tráfico de escravos africanos para as Américas, que tam-
bém foi iniciado nesse tempo. Embora baseado em uma prática 
que atualmente é considerada totalmente inaceitável, esse Comér-
cio Triangular atlântico traria grande prosperidade para muitas ci-
dades litorâneas britânicas nos séculos seguintes (veja Unidade 4). 
Mercadorias fabricadas na Europa foram vendidas no continente 
africano para comprar escravos, que eram revendidos nas Améri-
cas para comprar os produtos agrícolas da região (pau-brasil, açú-
car, fumo, algodão etc.) e então vender nos mercados europeus.
Do ponto de vista das controvérsias religiosas que domina-
vam a política internacional do período, a atitude razoavelmente 
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tolerante da Igreja Anglicana, tanto com os católicos quanto com 
as denominações protestantes mais radicais, permitia certa estabi-
lidade social. O governo de Elizabeth I valorizava mais a lealdade 
e o bom serviço ao regime que a aderência estrita a determinada 
doutrina, sem querer dizerque os inconformados tenham sido tra-
tados bem sempre. A legislação penalizava os que não confessa-
vam o anglicanismo. 
No entanto, sob outra perspectiva, o reinado de Elizabeth foi 
um tempo de problemas socioambientais (com fome e doenças), 
embora essas dificuldades não chegassem a derrubar os funda-
mentos da ordem social, como ocorreu no século XIV com a 
Peste Negra, de acordo com Guy (1984, p. 223). O mesmo autor 
observa, por exemplo, que as ondas de peste que provocaram a 
“grande mortandade” ao longo da segunda metade do século XIV 
reduziram a população da Inglaterra e de Gales de 4 a 5 milhões a 
2,5 milhões, aproximadamente. A recuperação foi muito lenta. Em 
1525, mais de 100 anos depois, a Inglaterra (sem Gales) ainda não 
contava mais de 2,25 milhões de habitantes. 
Nos 75 anos seguintes, contudo, a população explodiu, che-
gando a quase o dobro (aproximadamente 4,1 milhões) na In-
glaterra. Em Gales, entre 1500 e 1600, a população cresceu de 
210.000 para 380.000. A explosão demográfica do século XVI 
trouxe grandes problemas sociais. Enquanto no século XV foi 
reduzida a exploração de serviços diretos na lavoura das terras 
senhoriais, substituídos por serviços pagos em dinheiro, havendo 
uma queda nos preços pela demanda reduzida e um aumento de 
salários por falta de trabalhadores, o século XVI logo entrou em 
uma espiral de inflação, fome, uma queda vertiginosa de renda e 
um brusco aumento concomitante de preços e aluguéis. Inquilinos 
que não podiam pagar os novos aluguéis eram despejados; cháca-
ras e fazendas menores eram amalgamadas para reduzir custos, e 
as terras marginais mais pobres e os antigos pastos comuns eram 
cercados para fazer pastagens para a rentável criação de ovelhas 
(GUY, 1984, p. 224-225).
O desemprego e a inflação de preços eram as maiores causas de 
miséria. Apesar de os preços altos para produtos agrícolas estimula-
rem a produtividade entre os fazendeiros, o interesse por conseguir 
os melhores preços os levava a vender seus produtos nos mercados 
mais caros nas cidades, que cresciam com o influxo da popula-
ção rural, antes de distribuí-los nos distritos rurais para facilitar a 
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166 Gramática histórica da língua inglesa
subsistência. Os próprios mercados, às vezes, não davam conta da 
pressão populacional, sobretudo nos anos de colheita ruim por mau 
tempo ou epidemia. Além disso, como a população não parava de 
crescer, os salários permaneciam baixos, já que não faltava gente 
que precisasse trabalhar. Os campesinos, despejados pelos aluguéis 
altos e o cerramento das terras comuns, migravam para as cidades 
na esperança de encontrar melhores condições de trabalho. O mo-
vimento populacional também impactava os números de indigen-
tes no crime e dos itinerantes (GUY, 1984, p. 225-226).
No que diz respeito à linguagem, esse momento de migração 
intrarregional foi importante porque o deslocamento de pessoas 
acarreta fluxo de variedades, gerando contato e, assim, transfe-
rências de traços e reconfigurações de gramáticas nas gerações 
seguintes potencialmente expostas a elementos advindos de varie-
dades de lugares distantes. Em particular, a capital Londres vivia 
ondas de migração de diversas áreas dialetais, como East An-
glia (Leste: condados de Essex, Suffolk, Norfolk, Bedfordshire, 
Hertfordshire, Cambridgeshire), dos condados do Sudeste (Kent e 
Sussex) e da ampla região Centro-leste. 
Na corte dos monarcas da dinastia Tudor, ouviam-se os sota-
ques e dialetos mais variados, já que a linguagem da classe gover-
nante ainda não estava padronizada. Drake, Raleigh e Hawkins 
falavam variedades do Sudoeste; o sotaque de Shakespeare cer-
tamente teria revelado sua origem em Warwickshire no Centro-
-oeste; Cardeal Wolsey teria indicações da sua origem na cidade 
de Ipswich em Suffolk. 
Os cortesãos eram tipicamente multilíngues. Uma boa educa-
ção renascentista incluía, no mínimo, o aprendizado de latim e 
francês. Muitos também sabiam italiano, espanhol, holandês/fla-
mengo e alguns sabiam alemão. Os mais eruditos dominavam o 
grego clássico e noções de hebraico. As línguas vernáculas das re-
giões celtas – o gaélico irlandês, o galês e o cornualhês – também 
eram faladas por alguns. Emissários e embaixadores de outros rei-
nos também frequentavam a corte com seus séquitos e certamente 
suas línguas eram ouvidas.
No longo prazo, as políticas cautelosas e estabilizadoras fa-
vorecidas por Elizabeth durante seu reinado gradualmente au-
mentavam uma série de tensões que terminaram na eclosão da 
Guerra Civil entre Charles I e os deputados puritanos em 1642. 
Os problemas religiosos iam crescendo desde o reinado de 
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O inglês pré-moderno 167
Henry VIII. O catolicismo nunca foi eliminado e, portanto, sem-
pre existia um risco para a coroa inglesa de uma conspiração ser 
promovida pelo papado e as grandes potências católicas, como 
Espanha ou França. 
O fato de a conquista da Irlanda ter sido tão demorada e violenta 
resultou na impossibilidade de implementar a Reforma Religiosa 
de maneira generalizada, tal como os Tudor o gostariam. Por esse 
motivo, a Irlanda deixava uma porta dos fundos entreaberta, onde 
haveria sempre simpatizantes da causa católica. Por outro lado, os 
aspectos conservadores da Igreja Anglicana alienavam os protes-
tantes mais rigorosos, criando outra frente de ameaças à estabilida-
de do reino. A questão das finanças reais nunca foi solucionada de 
forma satisfatória. Os altos custos de um estado pré-moderno não 
podiam ser mantidos por um sistema de tributação medieval, mas 
nenhum monarca Tudor enfrentou a necessidade de abrir novas fon-
tes de renda de forma séria, com a exceção do fundador da dinastia, 
Henry VIII. Qualquer campanha militar esvaziava os cofres de tal 
maneira que o Estado corria sérios riscos de quebrar. O fato de o 
rei arrecadar impostos sem pedir a votação do parlamento foi outra 
reclamação dos deputados antimonarquistas sob os reis Stuart.
Saiba mais
A dinastia dos Stuart
A grafia mais usada atualmente, Stuart, é uma forma afrancesada de Steward 
em inglês ou Stiubhard, em gaélico (todos pronunciados aproximadamente 
“stiúart”), que Mary I (r. 1542-1567) adotou (ela foi criada em exílio na França). 
A família tinha origem normanda e era detentora do importante cargo admi-
nistrativo de High Steward (“Alto Mordomo Real”) da Escócia desde o século 
XII. O primeiro rei da Escócia da linhagem foi Robert II (r. 1371-1390), que en-
frentou pressões enormes de Edward III, rei da Inglaterra, a entregar o trono.
Nove monarcas da dinastia reinaram na Escócia – Robert III (1390-1406), James I 
(1406-1437), James II (1437-1460), James III (1460-1488), James IV (1488 -1513), 
James V (1513-1542), Mary I (1542-1567) – antes da união das coroas da Escócia 
e da Inglaterra na pessoa de James VI da Escócia, que se tornou James I da 
Inglaterra, ao herdar o trono da sua tia, Elizabeth I da Inglaterra, em 1603.
Depois da união das coroas, a dinastia dos Stuart contribuiu com mais seis 
monarcas: James I (r. na Escócia desde 1567, r. na Inglaterra desde 1603-m. 
1625), Charles I (r. 1625-1649), Charles II (r. 1660-1685), James II (da Inglaterra) 
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168 Gramática histórica da língua inglesa
e VI (da Escócia) (r. 1685-1689), Mary II (r. 1689-1694) em conjunto com seu 
marido holandês William, príncipe de Orange (William III da Inglaterra e II da 
Escócia) (m. 1702), e Anne (r. 1702-1714). Em 1707, os dois países (a Escócia e 
a Inglaterra, com seus domínios de Gales e Irlanda) foram oficialmente unifi-
cados em um estado, o Reino Unido da Grã-Bretanha.
James I
Em termos do uso da língua inglesa, o reinado de James I 
continuou na mesma situação do final do reinado de Elizabeth I. 
Na área das letras, na Inglaterra,os dois nomes de maior renome 
ainda eram Shakespeare e Ben Jonson. O poeta John Donne e o 
pensador e cientista Francis Bacon também viveram os períodos 
elizabetano e jacobino. Os poetas chamados de “metafísicos” que 
se aglomeravam de forma pouco sistemática ao redor da pessoa 
de Jonson foram característicos da época, com seus temas centrais 
sobre a mortalidade e a corrupção dos deleites do mundo.
Antes de assumir o trono da Inglaterra, James tinha escrito 
um tratado sobre a tradição poética escocesa, Reules and Cautelis 
(Regras e cuidados), em 1585, quando ele tinha apenas 19 anos. 
O jovem rei fazia parte de um grupo de poetas denominado como 
a “Banda de Castália”, cujo mais eminente membro foi Alexan-
der Montgomerie (c. 1550-1598). Mais de 100 das obras de Mon-
tgomerie sobrevivem, das quais as mais renomadas são a longa 
alegoria The Cherrie and the Slae (A cereja e o abrunho) e sua 
coleção de sonetos e poemas cortesãos públicos, que estão entre 
os melhores exemplares do gênero produzido na Escócia.
Em termos políticos, James estimulava relações entre a Ingla-
terra e a Espanha, sem atrito com os espanhóis, quase conseguiu 
contrair o matrimônio de seu filho Charles com a infanta Maria 
Ana. O casamento nunca ocorreu porque a princesa espanhola não 
gostou de Charles e ele recusou renunciar sua fé anglicana para o 
catolicismo. O “partido espanhol”, como o projeto era conheci-
do, não era popular, pois uma das condições em que os espanhóis 
insistiam foi a revogação da legislação anticatólica, que obrigava 
todos os não conformistas a jurar que o papa não podia exercer 
nenhum poder sobre o rei. James se mantinha em uma posição 
razoavelmente tolerante com os católicos ingleses, pensando que 
eles poderiam ser seus aliados contra as autoridades anglicanas 
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O inglês pré-moderno 169
estabelecidas. A atitude de James com a comunidade católica co-
meçou a mudar depois de uma série de conspirações contra sua 
pessoa. Além do “Complô principal” – que propôs substituir 
James e sua família por Arabella Stuart, prima de segundo grau de 
Elizabeth I –, e o “Complô secundário”, uma tentativa de seques-
tro, a agitação católica culminou com a “Conspiração da pólvora” 
(Gunpowder plot), que tentou explodir o rei e seu parlamento em 
1605. O ex-soldado, Guido Fawkes, foi capturado na véspera da 
abertura do parlamento no porão de uma casa vizinha, que projeta-
va debaixo da Câmara dos Lordes do Palácio de Westminster, com 
36 barris de pólvora e uma pila de lenha. Quatorze conspiradores 
foram executados. 
Durante seu reinado, James sofria pressões repetidas vezes de 
grupos protestantes mais radicais para reprimir os católicos com 
mais brutalidade e para implementar reformas mais rigorosas na 
Igreja Anglicana. Também acabou se desentendendo com a Igreja 
Presbiteriana na Escócia, com tentativas de reintroduzir bispos e 
de aproximar as igrejas das duas nações em questões de doutrina, 
o que desagradou muitos escoceses. Esse legado causaria proble-
mas na Escócia para seu filho e netos. 
O outro grande evento religioso durante o reinado de James I 
foi a publicação da edição “autorizada” da Bíblia, em 1611 (veja 
mais adiante). Junto com o dicionário de Doutor Johnson e o tea-
tro de Shakespeare, a Bíblia do rei James era um dos fundamentos 
do cânone literário em inglês.
Outro fator que se tornaria muito relevante posteriormente foi o 
estabelecimento de colônias na América do Norte e no Caribe. Em 
1607, Jamestown foi fundada na Virgínia pela chamada Companhia 
de Virgínia (também conhecida como a Companhia de Londres. 
Veja Unidade 4); em 1610, a Sociedade dos Comerciantes Aventu-
reiros estabeleceu uma comunidade permanente na Terra Nova; e 
em 1612, a Ilha de São Jorge nas Bahamas foi colonizada, também 
pela Companhia de Virgínia. (Veja também Unidade 4). 
Em 1664, a antiga colônia holandesa de Nova Amsterdã foi 
ocupada pelos ingleses e renomeada como New York. Junto 
com a Província de New York, veio a província da Nova Suécia 
(atualmente, Delaware), que os holandeses tinham conquistado. 
A colonização escocesa da Terra Nova durou de 1629 a 1632 e 
o malfadado projeto de estabelecer uma colônia na península de 
Darién (atual Panamá) em 1695 gerou uma crise financeira no país 
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170 Gramática histórica da língua inglesa
que contribuiu de forma significativa à união política da Escócia e 
da Inglaterra em 1707, já que o governo inglês ofereceu pagar as 
dívidas contraídas pelo governo escocês que o tinha levado prati-
camente à bancarrota.
Charles I
Em termos linguísticos, o reinado de Charles I é interessante 
por nele ter ocorrido as guerras dos panfletários que se tornaram 
muito evidentes no contexto das preliminares da Guerra Civil 
Inglesa (1642-1651). O uso da imprensa móvel crescia constan-
temente desde a chegada da tecnologia na Inglaterra em 1476, 
trazida por William Caxton dos Países Baixos. A facilidade de 
produzir grandes quantidades de textos iguais, a um custo rela-
tivamente baixo, criou problemas em como controlar a produção 
impressa e a difusão de ideias não desejadas por serem conside-
radas heréticas ou subversivas de alguma outra maneira. Febvre 
e Martin (1976) estimam que, até 1500, 20 milhões de cópias de 
livros tinham sido produzidas, e até 1600 a quantidade aumentou 
quase dez vezes para 150 a 200 milhões cópias (FEBVRE; MAR-
TIN, 1976). As controvérsias religiosas do século XVI criaram 
um ambiente muito propício para a publicação. Ingleses exilados 
católicos e protestantes utilizavam as imprensas continentais, em 
Flandres ou Genebra, para divulgar suas ideias. No contexto do 
conflito entre o rei e os não conformistas puritanos, e durante o 
período da restauração da monarquia depois de 1660, a imprensa 
foi uma arma que todos exploravam.
A queda de Charles I na Guerra Civil com o parlamento re-
sultou da impopularidade da nomeação do favorito real, o duque 
de Buckingham, como comandante das medidas militares no con-
tinente europeu no contexto da Guerra dos Trinta Anos (1618- 
-1648). Já impopular com a nobreza por explorar o monopólio de 
acesso ao rei, deu-se o fracasso da campanha de Buckingham para 
ajudar os rebeldes protestantes franceses na cidade de La Rochelle 
(apesar do apoio geral à campanha em si) em 1627. A resposta dos 
deputados no parlamento foi de instaurar um processo de impea-
chment contra Buckingham. O rei reagiu à ameaça de seu favo-
rito com a dissolução do parlamento, uma medida que aumentou 
a impressão de que ele não queria o escrutínio parlamentar para 
seu governo, uma afronta aos direitos tradicionais da pequena no-
breza. Além disso, sem parlamento, era impossível conseguir a 
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O inglês pré-moderno 171
concessão de impostos, o que impactou negativamente nas finan-
ças do reino.
O novo parlamento, convocado em 1628, mostrou-se ainda 
mais intransigente que o antigo. Os deputados redigiram a Peti-
ção de direitos, em que eles estimulavam os limites que existiam 
ao poder real, citando a Magna Carta assinada por John em 1215 
(veja Unidade 2). Charles consentiu aos pedidos da petição, por-
que precisava do dinheiro que os deputados lhe votariam. Devido 
aos problemas com o parlamento, Charles promoveu sua dissolu-
ção e governou sem consultar o parlamento durante a maior parte 
da década seguinte, sem convocar os deputados. Isso significa que, 
durante esse período, ele não recebia nenhum subsídio parlamen-
tar e conseguia fundos por explorar leis antigas para multar as pes-
soas. Outra fonte de renda era explorar a ameaça de uma invasão 
em 1635 para obrigar os condados não litorâneos a pagarem uma 
taxa supostamente para a construção de navios. Tais impostos irri-
tavam a população, que considerava as medidas ilegais, uma vez 
que só teriamfuncionado para manter os custos do rei se Charles 
evitasse um confronto militar. Por esse motivo, ele efetivamente 
encerrou a atuação da Inglaterra na Guerra dos Trinta Anos.
O programa de padronização religiosa liderado pelo arcebispo 
Laud de acordo com o modelo do High Anglicanism (“anglica-
nismo superior”), uma variante da denominação que estava mais 
suntuosa, incomodava muitos seguidores das confissões mais es-
tritas, por se aproximar dos rituais católicos. Temiam que Char-
les pretendesse se converter ao catolicismo da rainha francesa, 
Henrietta Maria. Também foram reintroduzidas as multas aos 
protestantes não anglicanos se não frequentassem as igrejas aos 
domingos, o que provocou ainda mais descontentamento entre 
essa classe importante. Quando três membros da pequena no-
breza reclamaram publicamente em panfletos das mudanças na 
observância religiosa, eles foram condenados a terem as orelhas 
decepadas, uma punição considerada especialmente humilhante 
para um gentil-homem.
As mudanças religiosas que o rei quis impor na Escócia em 
1639 não foram aceitas pela população, o que provocou uma re-
belião que ficou conhecida como a “Guerra dos Bispos”, sendo 
o motivo para a luta a introdução de um novo livro dos ofícios 
baseado no Book of Common Prayer (Livro de orações comuns) 
anglicano, e um aumento no número de bispos introduzidos por 
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172 Gramática histórica da língua inglesa
James I em uma igreja que defendia o presbiterianismo, ou seja, 
sem bispos. A “Guerra dos Bispos” na Escócia escalou em 1640 
uma série de conflitos localizados na Inglaterra, Irlanda e Escócia 
conhecidos como a Guerra dos Três Reinos. 
Os problemas políticos de Charles pioraram rapidamente de-
pois que ele convocou o parlamento para conseguir uma conces-
são de impostos na Inglaterra para financiar uma campanha na 
Escócia. Os deputados aproveitaram-se da fraqueza do rei para 
reivindicar suas reclamações e tentaram vincular a concessão do 
subsídio com a reversão das práticas de arrecadação irregular e a 
política religiosa. Furioso pelo que considerava um desrespeito 
a sua pessoa, Charles dissolveu a assembleia depois de apenas 
algumas semanas – por isso ficou conhecido como “o parlamento 
breve” – e resolveu lutar contra os escoceses de qualquer maneira.
O resultado foi uma derrota contundente e a invasão do norte 
da Inglaterra pelo exército escocês, que exigia pagamento diário 
para não avançar para o sul. Se o rei não pagasse, eles ameaçavam 
tomar o valor faltante por meio do saque. A situação estava desas-
trosa para Charles: como rei da Inglaterra, ele precisava do dinhei-
ro do parlamento para manter um exército e resistir aos escoceses, 
mas, como ele também era rei da Escócia, ele precisava pagar o 
exército ocupante! Não houve outra opção senão convocar nova-
mente o parlamento inglês, o que ocorreu em novembro de 1640.
O novo parlamento se mostrou ainda mais recalcitrante que o 
anterior. Os deputados passaram leis que obrigavam sua convoca-
ção pelo menos uma vez a cada triênio, mesmo que o rei não os 
chamasse, e o rei não podia dissolvê-lo sem o consentimento dos 
deputados, mesmo que o prazo de três anos se passasse. Qualquer 
tributação proposta pelo rei precisava do aval parlamentar, e o 
parlamento podia censurar os ministros reais. As cortes da Câmara 
Estrelada e da Alta Comissão foram abolidas, por possibilitarem 
julgamentos sem júri, sem consulta e sem direito à defesa. Além 
dessas medidas que fortaleciam o parlamento, tornando-o mais 
independente do monarca, que viu seus poderes diminuírem, os 
deputados aprovaram várias leis anticatólicas e tentaram limitar 
ou desfazer o avanço do anglicanismo superior. Finalmente, eles 
publicaram um “protesto de lealdade” ao rei, culpando seus con-
selheiros pelos problemas do reino.
Rumores de que o earl de Strafford tinha sugerido que o rei 
trouxesse o exército irlandês para reprimir a população inglesa 
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O inglês pré-moderno 173
provocaram seu processamento. Quando foi comprovado que 
Strafford, de fato, tinha proposto uma intervenção militar con-
tra o parlamento, ele foi condenado por attainder, uma pena que 
não precisava dos procedimentos legais normais. O rei, porém, 
recusou-se a assinar o mandato de execução de seu principal con-
selheiro. Temendo que a situação terminasse em guerra, Strafford 
convenceu Charles a reconsiderar sua posição, para o bem da sua 
família, e o rei assentiu. Strafford foi executado em maio de 1641.
A morte de Strafford não resolveu a crise política. Os deputados 
puritanos receavam a imposição do anglicanismo ou, pior ainda, 
uma reversão ao catolicismo, e o fim do parlamentarismo em uma 
tirania absolutista. O partido monarquista ressentia as exigências 
dos parlamentares e a maneira pouco respeitosa de apresentá-las. 
Em 1641, os católicos irlandeses, temendo mais repressão pelo 
governo protestante, levantaram-se em uma guerra civil sangrenta. 
Na Inglaterra, os boatos corriam entre os puritanos de que o rei fa-
vorecia os católicos e o que ocorria na Irlanda poderia se repetir lá. 
Em janeiro de 1642, Charles, acompanhado por aproximadamente 
quatrocentos soldados, foi à Câmara dos Comuns no Palácio de 
Westminster para arrestar cinco deputados acusados de traição. O 
presidente da Câmara recusou-se a entregar os deputados procura-
dos, enfatizando sua lealdade ao parlamento antes de ser servidor 
do rei. Poucos dias depois, Charles deixou Londres rumo ao norte, 
procurando apoio, e as cidades iam se declarando a favor do par-
tido real ou favorável ao parlamento. Em agosto de 1642, Charles 
levantou a bandeira real em Nottingham em uma chamada a todos 
os súditos para que comparecessem à defesa do rei.
A Guerra Civil Inglesa ocorreu em três fases, a primeira, de 
1642 a 1648, em que as maiores batalhas ocorreram terminando 
com a captura de Charles; de 1648 a 1649, os exércitos do parla-
mento combateram vários levantamentos monarquistas pelo país 
e, a terceira fase, de 1649 a 1651, principalmente na Irlanda, em 
que os ingleses subjugaram a aliança dos católicos e monarquistas 
com muita violência. 
Para combater as forças reais (tradicionalmente conhecidas 
como cavaliers, “cavalheiros”), o parlamento criou e treinou um 
exército profissional, o New Model Army (“Exército Novo”) em 
1645. Os soldados parlamentaristas são conhecidos tradicional-
mente como roundheads (“cabeças redondas”), porque eles usa-
vam um corte de cabelo curto, diferentemente do cabelo comprido 
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174 Gramática histórica da língua inglesa
dos cavaliers. O comandante supremo do exército era o Lorde 
General, Thomas Fairfax. A cavalaria do parlamento era coman-
dada por Oliver Cromwell, o Tenente-General (vice-comandante), 
e recebeu o apelido de ironsides (“costas de ferro”), por seu co-
mandante, cujo apelido era Old Ironsides.
Em 1648, a maioria dos apoiadores do rei tinha jurado manter 
a paz. Portanto, o tratamento dos líderes vencidos foi especial-
mente severo, já que eles eram tidos como perjurados. Devido a 
seu papel na instigação das insurreições do segundo período da 
Guerra Civil, que incluiu uma tentativa de negociar uma invasão 
escocesa da Inglaterra para libertá-lo, o parlamento tinha dúvidas 
se Charles deveria voltar ao trono. Quando o exército soube que 
o parlamento ainda cogitava manter Charles como rei, os gene-
rais marcharam para Londres e se instalaram ao redor da Câma-
ra. Então houve a “Purga de Pride”, realizada pelo regimento do 
coronel Thomas Pride, em que 45 deputados foram presos, tendo 
sido barrada a entrada de mais 146, deixando apenas 75 entrarem. 
Sob forte pressão dos militares, os 75 deputados restantes desse 
rump parliament (literalmente, “rabo do parlamento”) resolveram 
formar um tribunal de três juízese 150 comissários para julgar o 
rei na acusação de traição. O chefe do exército, Fairfax, era um 
moderado que favorecia uma monarquia constitucional. Ele se re-
cusou a continuar participando nas negociações. 
O tribunal dos comissários, dos quais apenas 63 compareceriam 
ao processo, condenou o rei à morte em 27 de janeiro de 1649, por 
tirano, traidor, assassino e inimigo do povo inglês, embora ele não 
reconhecesse a autoridade do tribunal para proceder contra ele, de-
vido à ausência de uma autorização real. Charles recusou declarar-
-se culpado ou inocente, alegando que o rei recebia sua autoridade 
de Deus e, portanto, estava acima de qualquer lei e incapaz de errar. 
O poder do tribunal parlamentarista, Charles sustentou, originava 
apenas força de armas, mas carecia de qualquer legitimidade. Não 
adiantou. Em 30 de janeiro 1649, Charles I foi executado.
A morte do rei conduziu ao domínio total do exército. Fair-
fax se demitiu do cargo. Isso permitiu que Cromwell assumisse 
o controle do exército, o grupo político mais poderoso no tempo 
pós-guerra. O governo ficou nas mãos de Cromwell, que presidia 
o Conselho de Estado. Em 1650, Charles, filho do rei morto, foi 
proclamado rei na Escócia, e voltou da França tentando retomar a 
Inglaterra. O exército de Charles II foi derrotado finalmente pelo 
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New Model Army na batalha de Worcester em 1651. O “rabo do 
parlamento” aboliu a monarquia, a Câmara dos Lordes (a segun-
da Câmara do parlamento), e declarou a Inglaterra uma república 
(Commonwealth). O episcopado da Igreja Anglicana foi reduzido e 
várias leis foram passadas para regular a vida moral das pessoas: os 
teatros foram fechados, a observação religiosa era obrigatória aos 
domingos. Um ato relevante para a língua inglesa foi a generaliza-
ção do vernáculo nos tribunais e na jurisprudência em geral, em lu-
gar de francês e latim, que eram meios importantes anteriormente.
Em 1653, Cromwell dissolveu o rabo do parlamento, apesar de 
não ter recebido o consentimento da Câmara, portanto, violando 
a Lei Trienal que determinava que a dissolução da Câmara dos 
Comuns tinha de ocorrer com o assentimento dos deputados, pre-
cisamente uma das reclamações do “Parlamento Longo” de 1641 
contra o poder do antigo rei de convocar e demitir as assembleias 
à vontade. O “rabo” foi substituído pelo “Parlamento do Esque-
leto” (Barebones Parliament), cujos membros foram nomeados 
pelo exército em uma tentativa de controlar os deputados, cujas 
opiniões refletiam os partidos entre os militares: aproximadamen-
te quarenta radicais (que queriam abolir qualquer papel do esta-
do em questões religiosas), uns 60 moderados, e por volta de 40 
conservadores (favoráveis à manutenção do status quo, já que a 
Lei Consuetudinária contemporânea defendia os interesses da pe-
quena nobreza). Um deputado da classe popular era o comerciante 
batista Praise-God Barebone (literalmente, “Louva-Deus Esque-
lético”), cujo nome curioso passou a ser a alcunha da instituição. 
Cromwell desejava que o novo parlamento legislasse para redigir 
uma constituição reformadora para a jovem república. Infelizmen-
te, os deputados não tinham as habilidades jurídicas nem a expe-
riência política para realizar a tarefa que Cromwell e o Conselho 
do Exército lhes concederam. Depois de alguns meses de debates 
improdutivos, Cromwell dissolveu o “Parlamento do Esqueleto” e 
foi nomeado Lorde Protetor.
Os anos do protetorado de Cromwell viram a guerra vitoriosa 
contra os holandeses (1652-1654), que fortaleceu a posição marí-
tima da Inglaterra. A ilha da Jamaica foi conquistada da Espanha 
em 1655, e as “plantações” de colonizadores protestantes no norte 
e leste da Irlanda continuaram, e em 1655-1656 os judeus, que 
foram expulsos da Inglaterra durante o reinado de Edward I, tive-
ram permissão para voltar depois de 350 anos. O objetivo dessa 
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176 Gramática histórica da língua inglesa
medida foi atrair os importantes comerciantes judeus de Amsterdã 
e outras cidades holandesas para Londres para estimular negócios 
com as colônias espanholas e portuguesas no Caribe e na Améri-
ca do Sul. Grupos de puritanos ou pessoas contrárias à república 
emigravam para as várias colônias norte-americanas: Virgínia, 
Maryland, Rhode Island, Connecticut, Massachusetts. Barbados 
era outro destino frequente para os inimigos da república.
Quando Cromwell morreu em 1658, ele nomeou seu filho 
Richard como Lord Protector. Sem o apoio do exército, que sem-
pre respaldara as decisões de seu pai, sem a influência política para 
administrar o parlamento, e com pouca base entre os governantes, o 
protetorado de Richard não foi um sucesso. Os parlamentares reto-
maram o poder e no Conselho de Estado Richard passou a ser irre-
levante para o governo do país. Em 1660, depois de um período de 
negociações lideradas pelo general George Monck, Charles II emitiu 
a Declaração de Breda (ele estava nos Países Baixos nesse momen-
to de seu exílio) na qual ele perdoou os envolvidos na execução de 
seu pai e garantiu a liberdade religiosa, a manutenção dos direitos 
do parlamento, e a proteção de quaisquer posses adquiridas durante 
o período do interregno. Monck usou seu poder militar para obri-
gar o rabo do parlamento a admitir os deputados excluídos em 1648 
na Purga de Pride. O parlamento reconstituído se dissolveu e houve 
eleições gerais. A convite do novo parlamento, portanto, Charles II, 
que já era reconhecido na Escócia, regressou à Inglaterra e foi co-
roado em 1661. Abrindo o período conhecido como a Restauração.
Charles II
A Restauração da monarquia sob Charles II (1660-1685) abriu 
com prisão, execução e exílio de muitos dos comissários que ha-
viam assinado a sentença de morte contra Charles I. Culturalmen-
te, foi um tempo de inovação científica, por exemplo, a fundação 
da Royal Society com importantes membros, como Robert Boyle, 
Robert Hook e Sir Isaac Newon, além da construção do Observa-
tório Real. O centro da cidade de Londres foi reconstruído depois 
da destruição com o Grande Incêndio de 1666, pelo arquiteto Sir 
Christopher Wren, incluindo a Catedral de São Paulo. A era é fa-
mosa pelo hedonismo da vida na corte, porém, aflita por diversos 
problemas, em geral de natureza religiosa. Os teatros reabriram. A 
Restauração corresponde com o final da vida dos grandes poetas 
não conformistas, como John Milton, autor de Paradise Lost e 
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O inglês pré-moderno 177
Daniel Defoe, autor de Robinson Crusoé. Do lado anglicano, há o 
ensaísta satírico e poeta anglo-irlandês, Jonathan Swift, que escre-
veu As viagens de Gulliver.
John Wilmot, earl de Rochester e um célebre libertino, descre-
veu o rei nos seguintes termos: 
We have a pretty witty king,
Whose word no man relies on.
He never said a foolish thing,
And never did a wise one.
Temos um rei bonito e espirituoso,
Em cuja palavra ninguém confia.
Ele nunca disse nenhuma coisa tola,
E nunca fez nada sábio.
Quando ouviu o poema satírico, diz-se que Charles respondeu 
que era a verdade, porque ele era o autor de suas próprias palavras, 
mas “suas” ações eram na verdade as ações de seus ministros!
As autoridades queriam reforçar a posição da Igreja Anglicana 
contra a percebida ameaça constante do catolicismo e os extre-
mismos dos puritanos. No entanto, Charles II favorecia uma polí-
tica de tolerância razoável em assuntos confessionais. Sua política 
externa levou a guerras contra as Províncias dos Países Baixos 
e Espanha, em uma aliança com Portugal (a rainha, Catarina de 
Bragança, era portuguesa).
A afinidade dos membros da dinastia Stuart para o catolicismo, 
devido às suas esposas e ao longo período exilados na corte fran-
cesa, ou em Bruxelas ou Haia. Charles II se converteu ao catoli-
cismo

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