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Revisão AP2 Linguística III 1. Com base no fragmento textual a seguir, discorra sobre a proposta da análise de discurso de linha francesa para os estudos de linguagem, abordando as noções de discurso, sujeito e ideologia nessa perspectiva teórica. (25 pontos) “A escola francesa de análise do discurso (de agora em diante AD) se apresenta como sendo uma teoria crítica da linguagem, constituindo uma disciplina que, por se situar no entremeio das ciências sociais humanas, encontra-se sempre reinvestigando os fundamentos de seu campo de conhecimento: as relações entre a linguagem, a história, a sociedade e a ideologia, a produção de sentidos e a noção de sujeito.” Como afirma Bethania Mariani, no fragmento textual apresentado, a análise de discurso de linha francesa constitui-se como ciência no entremeio, entre a linguística estruturalista e as ciências sociais, interessando -se pelo modo como a linguagem produz sentidos. Assim, a análise de discurso é uma disciplina de interpretação, que coloca em cena a relação entre a linguagem, a história e os sujeitos. O seu objeto de estudos é o discurso, compreendido, conforme Pêcheux, como “efeitos de sentido entre interlocutores”. A análise de discurso entende que os sentidos estão sempre em curso e se constituem em relação à língua, aos sujeitos e às condições sócio-históricas em que o dizer se inscreve. Ao tratar dos sujeitos, essa perspectiva teórica o concebe não como um indivíduo, mas como uma posição discursiva, um “lugar” determinado pela ideologia. A ideologia, por sua vez, também é compreendida de um modo bem particular na análise de discurso de linha francesa: como um mecanismo de produção de evidências, de naturalização dos sentidos. É também a ideologia que promove a interpelação dos indivíduos em sujeitos. 2. Utilize as duas capas da revista Cláudia expostas a seguir, que circularam na década de 1960 e no ano de 2008, respectivamente, para responder às questões a e b: a) Apresente a noção teórica de condições de produção na análise de discurso de linha francesa, mostrando o seu funcionamento na constituição de sentidos nas duas capas de revista. (15 pontos) b) Explique o que são as formações imaginárias e comente sobre a formação imaginária da mulher presente nas duas capas, apontando as marcas textuais que sustentam a sua análise. (15 pontos) a) As condições de produção do discurso compreendem tanto as circunstâncias imediatas do dizer (o aqui -agora enunciativo) como o contexto sócio-histórico que o determina. Também compõem as condições de produção, o sujeito enquanto uma posição discursiva e a memória do dizer (o interdiscurso). As duas capas da revista feminina Cláudia, apresentadas para análise, são um exemplo de como diferentes contextos históricos determinam diferentes efeitos de sentido, no caso, sobre a mulher e o feminino em nossa sociedade. Na primeira capa, com circulação na década de 1960, os dizeres sobre a mulher tematizam a sua relação com o lar (o que se observa pela expressão “O lar dos seus sonhos”, em destaque na capa) e com a moda (marcada na expressão “A moda de Cláudia”). Esse efeito de sentido de proximidade entre a mulher e a cena doméstica é decorrente das posições sociais atribuídas à mulher naquele momento histórico: uma mulher que, de um modo geral, tinha as suas atribuições restritas ao cuidado do lar e da família. Outros efeitos de sentido podem ser observados n a capa da mesma revista, com circulação no ano de 2008. Nesse caso, a menção a “doenças sexualmente transmissíveis”, por exemplo, e o título “Xô, homem errado”, em destaque na página, apontam para outras posições femininas, na relação com a sexualidade e na possibilidade de troca de parceiros nos relacionamentos afetivos. Esses outros efeitos de sentido são possíveis porque a posição da mulher não é mais a mesma nesse novo período histórico. 2. b) As formações imaginárias são compreendidas na análise de discurso como projeções no discurso das posições sociais ocupadas p elos sujeitos. As formações imaginárias são as imagens que o sujeito faz de si mesmo, do outro a quem se dirige e daquilo sobre o que fala, e que não decorrem de u ma impressão particular do sujeito, mas de enunciações anteriores. Nas duas capas da revista Cláudia, podemos observar diferentes formações imaginárias para a mulher, em contextos sócio-históricos distintos (na década de 1960 e na atualidade). Uma marca que podemos to mar para análise são as mulheres retratadas em cada capa. Enquanto na capa com circulação na década de 1960 temos uma ilustração de uma mulher, maquiada, de unhas feitas, e com vestes recatadas, na capa do ano de 2008, temos uma f otografia de u ma artista famosa, que olha diretamente para a câmera, com o ombro nu em destaque. Os efeitos de sentido produzidos em cada caso são diferentes. No primeiro, o olhar que não “ encara” o leitor e a roupa que não deixa o corpo à mostra apontam p ara a formação imaginária de uma mulher recatada, que se dedicada ao cuidado de si e dos seus familiares (o que se marca na expressão “O lar dos seus sonhos”). No segundo, o olhar direto da cantora Ivete Sangalo e a exibição de seu corpo marcam a imagem de uma mulher decidida e poderosa (o que se observa, por exemplo, no título “O verdadeiro poder das mulheres”), na lateral da capa. Mas também podemos observar que, apesar dessas diferenças, a formação imaginária da mulher permanece a mesma em alguns pontos: o interesse pela beleza e pela moda, e o cuidado com a família, por exemplo, estão presentes nas duas capas, mantendo-se como um domínio do feminino, o que indica que a formação imaginária da mulher feita pela revista Cláudia não mudou tanto assim em quase cinco décadas. 3. Utilize a tirinha a seguir para discorrer sobre o funcionamento do discurso, com base nos processos de paráfrase e polissemia, conforme proposto pela análise de discurso de orientação francesa. (20 pontos) De acordo com a perspectiva teórica da análise d e discurso, todo discurso funciona na relação entre dizeres que se repetem e dizeres outros, que promovem deslizamentos de sentidos . Na paráfrase, temos o do mínio d a repetição dos dizeres, da reiteração dos sentidos. Já na polissemia, o que vemos é o deslizamento, a ruptura, a possibilidade do comparecimento de sentidos outros. É na tensão entre paráfrase e polissemia que os sentidos se constituem, uma vez que não há sentido sem a retomada; do mesmo modo, o sujeito não está condenado à mera repetição: os sentidos se movimentam, são (re)significados. No caso da tirinha do Níquel Náusea, podemos observar a retomada de ditados populares bastante conhecidos (como: “E m terra de cego, quem tem um olho é rei” e “Mais vale um pássaro na mão que dois voando”), (re)significados para o contexto da barata, personagem da tirinha. No caso desses dois provérbios, no entanto, há uma tendência à paráfrase, pois os sentidos se mantêm. É no terceiro quadro da tirinha que a polissemia se marca, na expressão “filosofia barata”, que tanto pode se referir aos devaneios filosóficos da barata, em sua retomada dos provérbios, como qualificar o tipo de filosofia em questão, como bastanteordinária. É na relação entre paráfrase e polissemia que a tirinha produz o seu efeito de humor. 4. Leia o fragmento textual a seguir, extraído do livro de Eni Orlandi, As formas do silêncio. Depois observe alguns dos versos da música Você só pensa em grana, de Zeca Baleiro e responda: como se pode depreender, na materialidade linguística da música, o funcionamento da interdição ao dizer? Aponte ao menos dois exemplos de marcas linguísticas que permitem constatar o funcionamento do silêncio local neste fragmento analisado. (25 pontos) “A censura tal como a definimos é a interdição da inscrição do sujeito em formações discursivas determinadas, isto é, proíbem-se certos sentidos porque se impede o sujeito de ocupar certos lugares, certas posições. (...) Desse modo, impede-se que o sujeito, na relação com o dizível, se identifique com certas regiões do dizer pelas quais ele se representa como (socialmente) responsável, como autor.” Você só pensa em grana – Zeca Baleiro Você só pensa em grana meu amor você só quer saber quanto custou a minha roupa custou a minha roupa você só quer saber quando que eu vou trocar meu carro novo por um novo carro novo um novo carro novo meu amor você rasga os poemas que eu te dou mas nunca vi você rasgar dinheiro você vai me jurar eterno amor se eu comprar um dia o mundo inteiro […] Na análise de discurso, uma das formas de se considerar o silêncio em sua relação com a linguagem é pelo que Eni Orlandi nomeia silêncio local. O silêncio local funciona pela censura, pela interdição ao dizer. Interditar o dizer significa impedir que certos sentidos apareçam, o que tanto pode se dar pelo impedimento a um dizer específico, como pela insistência em um único dizer, já que, como nos diz Orlandi, ao dizer “x”, o sujeito fica impedido de dizer “y”. No fragmento da letra da música “Você só pensa em grana”, de Zeca Baleiro, podemos observar um exemplo da interdição ao dizer. Nos versos, temos o eu lírico que atribui ao outro a quem se dirige a produção de um único sentido, o que se marca no ter mo “só”, no verso que dá título à canção. No fio do discurso, temos marcas como “trocar meu carro novo/ por um novo carro novo”, que apontam a identificação desse sujeito com uma formação discursiva consumista. Ao insistir nesses sentidos, o sujeito impede que outros sentidos apareçam, como a relação romântica, por exemplo, como podemos observar no verso: “você rasga os poemas que eu te dou”. Resumo aula 12: Tempos verbais e a relação entre os momentos da enunciação Momento da referência Tempos Referência no PRESENTE ------------------- Concomitância com o momento da enunciação • Presente pontual O momento de referência é um ponto preciso, um momento definido. Ex.: O relógio marca 13h, e estou atrasadíssima. • Presente durativo Remete a uma constância, uma situação que perdura no tempo Ex.: Vivo atrasada. Estudo muito porque quero um bom emprego. • Presente gnômico O momento de referência é ilimitado, sendo utilizado para enunciar verdades eternas ou com a pretensão de se parecerem como tais. Ex.: O quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos catetos. Quem ama perdoa. Referência no PRESENTE ----------------- Não concomitância • Pretérito perfeito 1 Marca uma relação de anterioridade entre o momento do acontecimento e o momento de referência presente. No exemplo, o tempo de referência é o presente e, a partir desse presente, se projeta um passado (habituaram-se). Ex.: Estão todos ansiosos com a apresentação dos trabalhos de semiótica. Habituaram-se a ser avaliados pelos professores que têm à frente, mas a cada experiência a angústia parece renovar-se. • Futuro do presente Indica uma posterioridade do momento do acontecimento em relação a um momento de referência presente. No exemplo, a partir do momento de referência presente assinalado pelo verbo perguntar se projeta um futuro (irão). O futuro do presente caracteriza uma debreagem enunciativa, embora remetendo a uma posterioridade em relação à enunciação. Ex.: O coordenador pergunta-lhes se estão animados com o Seminário de Letras. Certamente muitos irão ao evento pela presença do linguista Kanavilil Rajagopalan. Referência no PRETÉRITO -------------- Concomitância • Pretérito perfeito 2 Há o aspecto de acabamento, de uma ação ou estado concluídos. Ex.: Amou daquela vez como se fosse máquina. Beijou sua mulher como se fosse lógico. Sentou pra descansar como se fosse um pássaro E se acabou no chão feito um pacote bêbado. Morreu na contramão atrapalhando o sábado. • Pretérito imperfeito O aspecto é de duração, de prolongamento de estado ou ação no passado. O efeito produzido é de repetição, duração no tempo passado. Ex.: Amava aquela mulher como se fosse a última. Beijava sua mulher como se fosse lógico Erguia no patamar paredes flácidas Referência no PRETÉRITO -------------- Não concomitância • Pretérito mais que perfeito Encontramos um acontecimento que se dá num momento anterior ao do momento de referência passado; um passado ainda mais passado. Ex.: Amara aquela mulher por longos anos, até que dela se despediu com um rápido beijo. Nos usos mais comuns dos tempos verbais do português, há preferência pela forma composta para caracterizar o mais que perfeito: “Tinha amado aquela mulher por longos anos, até que dela se despediu com um rápido beijo”. • Futuro do pretérito Serve para situar uma ação posterior a um acontecimento no passado. A ação de chegar se daria num momento posterior ao dos tempos do pretérito perfeito (soube, viu), o que explica a denominação desse tempo como “futuro do pretérito”. Ex.: Soube que chegaria atrasado ao encontro assim que a viu. Referência no FUTURO -------------- Concomitância • Presente do futuro É expresso pelo futuro do presente simples ou ainda pelo futuro do presente progressivo (verbo auxiliar estar no futuro do presente + gerúndio), relacionado a um futuro do presente do subjuntivo Ex.: No momento em que eu lhe acenar, você iniciará a apresentação. Referência no FUTURO -------------- Não concomitância • Futuro anterior Em português, corresponde ao futuro do presente composto e estabelece uma relação de anterioridade perante um momento de referência futuro. Conforme Fiorin (1996), esse momento de referência pode ser expresso por uma expressão adverbial ou oração subordinada com verbo no futuro do presente. Ex.: Até o Natal, terei encontrado as explicações para o caso. A anterioridade em relação ao momento de referência futuro pode se dar ainda com o tempo subjuntivo, estando o tempo verbal da oração subordinada. Ex.: Quando tiver escrito todo o artigo, viajarei para o Rio de Janeiro. • Futuro do futuro Esta projeção temporal se dá pelo futuro do presente simples, caracterizando uma posterioridade em relação a um tempo futuro. Ex.: Depois que o infrator for encontrado, daremos mais informações. ____________ RevisãoAP2LinguísticaIII_______________ Há muito ainda a dizer sobre os mecanismos da sintaxe discursiva. Apresentamos aqui os conceitos elementares que servem para fundamentá-los diante da teoria, fornecendo instrumentos para novos voos diante do que a semiótica vem produzindo ao longo do tempo sobre a enunciação. Especificamente, abordamos as projeções da enunciação vinculadas às três categorias fundamentais: pessoa, tempo e espaço. Estudamos, ainda, dois mecanismos associados a essas projeções: a debreagem (enunciva e enunciativa) e a embreagem. Debreagem: Consiste em colocar fora da instância de enunciação as categorias de pessoa, espaço e tempo do enunciado. Embreagem: Produz uma neutralização dessas categorias, gerando um efeito de retornoà enunciação. Devido a limitações de espaço e tempo, vários tópicos interessantes foram deixados de fora. Caso você deseje explorar mais esses assuntos, sugerimos que procure privilegiar em suas leituras os trabalhos sobre enunciação e ethos, e ainda sobre o sincretismo. Ethos: Investiga-se sobre as imagens de enunciador que o texto produz diante das escolhas da enunciação. Sugerimos, nesse sentido, a leitura dos trabalhos de Norma Discini (2008) e Fiorin (2008b). Quanto ao Sincretismo: A semiótica analisa o modo como uma enunciação responde às escolhas projetadas sobre diferentes linguagens num texto como o da canção, do cinema, da publicidade. Nesse caso, é considerada uma enunciação única que responde pelos arranjos entre as diferentes formas de textualizar. Para se aprofundar nesse conceito e dispor de mais ferramentas para leitura de textos organizados por mais de uma linguagem, indicamos as produções de Lúcia Teixeira (2009). Conclusão: A sintaxe enunciativa situa-se no nível mais concreto do percurso gerativo de sentido, o discursivo, e trata das escolhas da enunciação projetadas no enunciado. Essas escolhas de pessoa, tempo e espaço, denominadas debreagem e embreagem, remetem a diferentes efeitos de sentido e sofrem coerções do próprio gênero. Na sintaxe discursiva, consideram-se ainda as relações entre enunciador e enunciatário, partindo do pressuposto de que todas as escolhas da enunciação têm caráter persuasivo, seja para produção do efeito de subjetividade e aproximação, seja para a produção do efeito de sentido de objetividade e distanciamento. O que está em jogo, portanto, é o caráter eminentemente dialógico da linguagem: todo o dizer pressupõe um outro, e esse fato determina as estratégias e recursos que serão mobilizados. Resumo aula 13: Nesta aula, foram apresentados dois processos que envolvem a concretização do sentido, a tematização e a figurativização. Como reiteramos ao longo da aula de hoje, para que os textos façam sentido para nós, é fundamental que depreendamos os temas correspondentes às figuras, ao mesmo tempo em que chamamos a atenção para o fato de que, tanto em se tratando de temas quanto de figuras, é necessário observar suas relações com outros elementos do texto. Uma figura apreendida isoladamente pode levar-nos a uma leitura equivocada, que não encontra sustentação na totalidade do texto. O mesmo ocorre com os temas. Como alertam Greimas e Courtés (2008), o percurso da leitura é o de reconhecimento de isotopias, considerando o encadeamento de figuras e o encadeamento de temas, o que remete à ideia de que devemos buscar aquilo que é reiterado ao longo do texto. Ao mesmo tempo, nesse nível se explicitam as filiações ideológicas assumidas pelo enunciador pelas escolhas temáticas e figurativas que opera. Desse modo, compreendemos que nenhum texto é neutro do ponto de vista de uma suposta isenção. No máximo, o que encontramos é o emprego de recursos que visam a mascarar essa filiação ideológica. A semântica discursiva corresponde ao nível mais concreto do percurso gerativo de sentido, compreendendo dois processos: a tematização e a figurativização. Tematização: Corresponde aos temas que o texto atualiza, sendo compreendidos como categorias abstratas que organizam e categorizam o mundo natural. Figurativização: Diz respeito à presença de figuras que ancoram o texto no mundo natural. Há ainda que se considerar que, na relação entre temas e figuras, funda-se a dimensão ideológica do texto, assumindo uma visão de mundo sobre a realidade, uma perspectiva que se vincula a formações discursivo-ideológicas. Resumo aula 14: O surgimento do termo discurso no âmbito dos estudos linguísticos não se dá de modo inocente e sem consequências. Retomando a metáfora da árvore genealógica, é possível entender que cada ramo que brota na “árvore” dos estudos linguísticos de algum modo é uma resposta a um outro ramo, seja concordando ou discordando de seus pressupostos. As análises discursivas, em suas diferentes vertentes, respondem à necessidade de se pensar a linguagem para além de sua forma e do interesse pelo sentido, tão antigo quanto a proposta formalista de estudos da língua. Nesse quadro, o projeto teórico-metodológico da análise de discurso de linha francesa se constitui a partir de alguns deslocamentos em relação à linguística de Saussure, sobretudo em relação à dicotomia língua versus fala e as suas consequências para o pensamento sobre a linguagem. Por outro lado, ao articular conceitos da linguística, do marxismo e da psicanálise, ela descentra noções como língua/História/sujeito, tirando a ciência do “púlpito da verdade” e enveredando pelo caminho desafiador da pesquisa, um caminho que exige muita observação, reflexão e, acima de tudo, curiosidade para dar conta das particularidades de seu objeto, o discurso. Nesta aula, apresentamos o discurso em suas diferentes acepções na história do pensamento linguístico do século XX e o seu aparecimento como objeto de estudos, em distintas perspectivas teóricas de análise do discurso. Após estabelecermos algumas diferenças entre as vertentes francesa e anglo-saxã (ou americana) de análise, tratamos de alguns aspectos da análise de discurso de linha francesa. Vimos que a análise de discurso, na proposta de Michel Pêcheux, na França, no final da década de 1960, constitui-se como uma disciplina de entremeio, por ser herdeira de três regiões do conhecimento: a linguística, a psicanálise e o marxismo. Em sua proposta teórico-metodológica, a análise de discurso produz importantes deslocamentos em relação a conceitos já contemplados nos estudos da linguagem, como língua e texto, ao pensar o discurso enquanto efeitos de sentidos para e por sujeitos. Resumo aula 15: Na aula de hoje, iniciamos um percurso teórico e analítico mais atento e profundo na análise de discurso de linha francesa, refletindo sobre duas noções importantíssimas para essa disciplina: Condições de produção: Como vimos, as condições de produção dizem respeito às circunstâncias imediatas de enunciação, às circunstâncias mais amplas, relacionadas ao contexto sócio- histórico em que se constituem os dizeres, bem como aos sujeitos e à memória discursiva. Formações imaginárias: Estão relacionadas aos sujeitos, às projeções que fazem de si, do outro e sobre aquilo que está sendo dito no discurso. Vimos também nesta aula como esses conceitos podem ser mobilizados para a análise de corpora diversos. É seguindo as marcas presentes na materialidade do dizer que o analista alcança o seu objetivo, que é explicar os modos como os sentidos – que sempre nos parecem tão óbvios e evidentes – se constituem nos textos. Nesta aula, enfocamos duas noções da análise de discurso de orientação francesa: condições de produção e formações imaginárias. Ambas as noções são fundamentais em qualquer análise discursiva: elas trazem as condições sócio- históricas e também as relações entre os sujeitos que tornaram possíveis que um discurso fosse construído de um modo e não de outro, que alguns sentidos fossem privilegiados e outros permanecessem como não ditos. Condições de produção e formações imaginárias fazem parte do quadro teórico da análise de discurso, mas também são ferramentas de análise, que nos permitem explicar os modos como se produzem os efeitos de sentido em um corpus Resumo aula 16: Na análise de discurso, como buscamos mostrar nesta aula, consideramos que a ideologia materializa-se na linguagem. Não tratamos a ideologia como visão de mundo, nem como ocultação da realidade, mas como uma prática, como um mecanismo estruturante do processo de significação, de produção de evidências. A ideologia relaciona-se à interpretação e atesta a relação da história com a língua, na medida em que esta significa. Assim, ao operacionalizarmos com as noções de formação ideológica, de formaçãodiscursiva e memória como interdiscurso, apresentamos uma perspectiva de trabalho em que podemos observar a relação do sujeito com a língua, com a história e com os diferentes dizeres que o constituem. O resultado da análise discursiva leva-nos a melhor compreender a constituição dos sujeitos e dos sentidos, bem como as relações entre eles. Nesta aula, apresentamos o modo como a análise de discurso de linha francesa entende a ideologia e a sua relação com o discurso. Vimos também como são definidas e trabalhadas as noções de formação ideológica, formação discursiva e memória como interdiscurso, nesse quadro teórico. Ao considerar o discurso enquanto “efeito de sentidos entre interlocutores”, a análise de discurso trabalha o ponto de encontro dessas duas materialidades: a materialidade da ideologia (que é o discurso), e a materialidade do discurso (que é a língua). Analisar um discurso, dessa perspectiva teórica, requer levar em conta as evidências do sujeito e do sentido, que são efeitos da ideologia; e considerar os efeitos da memória do dizer no fio do discurso, relacionando, assim, o dizer ao já dito que o constitui.
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