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NOÇÕES DE FISIOLOGIA HUMANA 1 Noções de Fisiologia Humana NOÇÕES DE FISIOLOGIA HUMANA 2 Fisiologia Humana Introdução O corpo humano é formado por diversos sistemas que funcionam de forma organizada e interdependente, possibilitando que todas as funções do organismo ocorram de forma ordenada e sincronizada. O corpo do humano, assim como em outras espécies animais, possui sistemas próprios como o sistema nervoso, o principal responsável pelo comando dos eventos orgânicos realizados por todos os outros sistemas, trabalhando de forma conjunta para facilitar a sobrevivência e a manutenção da espécie. Dessa forma, nosso corpo é formado por um conjunto de sistemas que trabalham de forma integrada, possibilitando nossas ações e funções cotidianas. Estes sistemas orgânicos são compostos por tipos específicos de tecidos, cada um apresentando uma função. Podemos citar como exemplo os músculos, responsáveis pelo movimento, as glândulas (tecido endócrino), produzindo hormônios e enzimas, assim como o tecido neural, responsável, pela memória e pela transmissão de informações entre todos os sistemas de nosso corpo. Os tecidos são compostos por unidades ainda menores, as células, que são conhecidas como as “menores unidades funcionais” do corpo. As células são unidades especiais, que apresentam diversas funções específicas, dependendo de sua localização no organismo. Quando ainda estamos em fase de formação, as células não apresentam funções distintas (células-tronco). As transformações estruturais ocorrem por sua localização nos processos de formação e a produção substâncias liberadas pelo ambiente a sua volta, que iniciam o processo de diferenciação nos diversos tipos celulares, como neurônios, músculos, ossos ou glândulas. Essas células indiferenciadas, ou células-tronco, podem transformar-se em músculos específicos como músculos cardíacos ou em neurônios, se forem transplantadas no cérebro. NOÇÕES DE FISIOLOGIA HUMANA 3 O estudo fisiológico busca conhecer e explicar as características e os mecanismos específicos do corpo humano. O conhecimento da fisiologia humana possibilita compreendermos os fatores físicos e químicos responsáveis pela origem, pelo desenvolvimento e pela progressão da vida. O ser humano responde aos eventos que lhe cercam, buscando facilidades para sua vida e sobrevivência. Suas ações ocorrem de maneira automática, variando pouco, mas apresentando sempre tendências adaptativas, pois a adaptação rápida e eficiente viabiliza a manutenção da espécie. Dessa forma, se sentimos frio, procuramos nos aquecer; se sentimos fome, procuramos comida; se sentimos sede procuramos água. Contudo, a maneira com que conseguimos alcançar nossos desejos e objetivos apresenta pequenas variações que geram as diferenças adaptativas, as quais favorecem ou prejudicam cada ser vivo. Esses eventos autônomos tais como sensações, sentimentos e cultura são atributos especiais que nos permitem sobreviver sob condições amplamente variáveis. Vamos, então, começar a conhecer nosso organismo a partir das células, pois são as responsáveis pela formação e pela função dos tecidos de nosso corpo, compondo nossos diversos órgãos e, de forma integrada, possibilitam nossa sobrevivência. Célula Nosso organismo é formado aproximadamente por 100 trilhões de células (unidades básicas de vida) que apresentam diversas funções para gerar boa qualidade de vida e manutenção da homeostase do ser humano. A célula possui um tamanho microscópico, sendo o óvulo um de seus maiores membros, (comparável a um grão de areia), quase imperceptível, com tamanho aproximado 0,01 mm. Entretanto, possuímos células neuronais como os neurônios motores de mais de 1 metro de comprimento. Todas as células são envolvidas por uma membrana plasmática composta por uma bicamada de moléculas de fosfolipídios (gordura), em forma de gel, um estado NOÇÕES DE FISIOLOGIA HUMANA 4 intermediário entre sólido e líquido. Essa bicamada lipídica possui proteínas integrais e periféricas inseridas nessa membrana, algumas atravessando a bicamada totalmente, ou estão inseridas no lado interno ou externo da bicamada. Essas proteínas controlam eventos importantes para o bom funcionamento da célula, dos tecidos, todo um órgão ou até mesmo a sobrevivência do organismo. Esses fosfolipídios são unidos por ligações químicas básicas que tornam os lipídios insolúveis em meio aquoso, mantendo-os unidos, protegendo sua parte apolar (neutra) e expondo a água sua parte carregada (polar). Por meio desse mecanismo, naturalmente, a bicamada lipídica se forma em um meio aquoso a partir de princípios biofísicos. Os lipídios e as proteínas que formam essa bicamada chamada de membrana plasmática ou membrana celular apresentam diversas funções, sendo uma das principais a de selecionar o que entra e sai da célula (semipermeabilidade). Isso possibilita que nosso corpo seja dividido basicamente em dois compartimentos distintos: o meio interno (líquido intracelular [LIC]) e meio externo (líquido extracelular [LEC]). Nosso corpo é composto de aproximadamente 60% de água, a qual forma um fluido com substâncias e sais minerais em concentrações diferentes entre fluidos interno e externo. O fluido extracelular contém grande quantidade de sódio, cloreto e íons bicarbonato, além de substâncias como nutrientes, oxigênio, glicose, ácidos graxos, aminoácidos e dióxido de carbono, que é transportado das células para ser excretado pelos pulmões na expiração. O LIC difere significantemente do LEC, pois o LIC contém grande quantidade de potássio, magnésio e íons fosfato, em vez de sódio e cloreto. Essas diferenças de concentrações devem ser mantidas e suas alterações podem levar à morte, como, por exemplo, no caso de um aumento súbito na concentração de potássio extracelular. A manutenção desses níveis de concentrações iônicas leva a mecanismos homeostáticos de grande importância para a manutenção da sobrevida. A homeostase é o equilíbrio, NOÇÕES DE FISIOLOGIA HUMANA 5 e existem diversas formas de homeostase orgânica, como homeostase volêmica que controla os níveis de água (desidratado/edematoso); homeostase eletrolítica, manutenção das concentrações iônicas (hipo/hipercalemia, hipo/hipernatremia, hipo/hipercalcemia); entre outras formas de equilíbrio orgânico (homeostase), como equilíbrio térmico ou anafilático que é fundamental para manutenção da sobrevida. Componentes Celulares – Organelas Como vimos anteriormente, um dos mais importantes componentes celulares é a membrana plasmática, que limita e seleciona o que entra e o que sai da célula. Contudo, é também muito importante o núcleo da célula, que, assim como outras organelas, está envolvido por uma membrana plasmática. Essa membrana é responsável por envolver nosso genoma, controlando a síntese de proteínas utilizadas na manutenção de diversos eventos orgânicos. As proteínas são moléculas constantemente sintetizadas e degradas de acordo com as necessidades do organismo. O núcleo celular contém todo o material genético do ser vivo, passando características hereditárias no caso de gametas (células com metade do material genético). No núcleo celular estão os cromossomos (23 pares em humanos), que contêm todas as informações, como a síntese de todas as proteínas utilizadas em nossa vida. Os pares de cromossomos são formados por duas fitas de ácido desoxirribonucleico (DNA) unidas por pontes de hidrogênio. O DNA é subdividido em genes, entre outros elementos estruturais relacionados com o controle daexpressão proteica. Esses genes codificam proteínas responsáveis por inúmeras outras ações orgânicas, como nossas características fenotípicas, e transcrevem moléculas de ácido ribonucleico (RNA) que traduzem proteínas pela ação dos ribossomos, entre outras estruturas citoplasmáticas. NOÇÕES DE FISIOLOGIA HUMANA 6 Além do núcleo celular encontramos no citoplasma outras organelas como grânulos, vesículas secretoras, ribossomos, além de organelas importantes como retículo endoplasmático, complexo de Golgi, mitocôndrias, lisossomos e peroxissomos. O retículo endoplasmático é composto por túbulos e vesículas que contêm proteínas que são transportadas através do citoplasma, ligando o núcleo ao meio externo. Os ribossomos que se encontram no retículo endoplasmático granular são vesículas diretamente ligadas à síntese de proteínas que atuam no RNA, traduzindo o código genético para produzir e transportar material proteico. O retículo agranular atua na síntese de substâncias lipídicas e outros processos promovidos por enzimas reticulares. O complexo de Golgi possui membranas parecidas com as do retículo e serve para transportar e difundir substâncias formando lisossomos e vesículas secretoras. Energia Metabólica As mitocôndrias são conhecidas como “casa de força” das células, pois convertem a energia de nutrientes como a glicose em energia em forma de trifosfato de adenosina (ATP). O fosfato, íon altamente energético, quando se liga a outras moléculas, gera uma mudança conformacional na molécula que possibilita uma mudança de sua forma que muitas vezes pode gerar movimento, transporte de íons, controle da homeostase de nosso organismo. Todos os nutrientes que ingerimos têm como principal finalidade a formação de ATP, principalmente por processos oxidativos. O subproduto dessa reação química é dióxido de carbono e água, levando a um aumento na produção de ácido carbônico que acidifica o sangue e altera o processo ventilatório. Dessa forma, a mitocôndria tem um importante papel na manutenção da homeostase orgânica e a sobrevivência do organismo. A mitocôndria é capaz de replicar-se, apresentando um DNA (ácido desoxirribonucleico) próprio semelhante ao do núcleo NOÇÕES DE FISIOLOGIA HUMANA 7 da célula. Esse processo de replicação possibilita a proliferação mitocondrial, que está relacionada com a necessidade energética, equilibrada pela nutrição e pela quantidade de energia gasta para sobrevivência. Transmissão de Informações Uma das principais funções da membrana plasmática é selecionar a entrada e saída de moléculas e íons para dentro e para fora da célula de acordo com sua necessidade. Esse controle possibilita entrada de nutrientes, síntese e liberação de moléculas transmissoras, alteração na voltagem da célula, gerando potenciais elétricos que levam e trazem informações por intermédio dos sistemas orgânicos. O controle na entrada e saída de substâncias depende principalmente da ação das proteínas, transportadoras e sinalizadoras, que possibilitam a passagem de íons e moléculas. As principais formas de transporte através de membranas são a difusão, a pinocitose e a exocitose. Na pinocitose, a célula engloba vesículas contendo partículas e moléculas importantes, na exocitose a célula libera moléculas através de vesículas que também se incorporam a membranas plasmáticas. A difusão é um processo muito efetivo e importante, pois, mediante a ação de proteínas transportadoras, moléculas e íons fluem para dentro ou para fora, a favor do gradiente de concentração (transporte passivo) ou contra o gradiente de concentração (transporte ativo) com gasto de energia em forma de ATP. Essas proteínas podem formar canais iônicos (possibilitando a passagem de íons), transportadores ou carreadores (que giram transportando íons e moléculas) e bombas iônicas, que transportam íons contra o gradiente de concentração (difusional), com gasto de energia metabólica. Outro importante elemento das membranas que atuam indiretamente no controle difusional são as proteínas receptoras. Os receptores são uma família de proteínas sensíveis a moléculas neurotransmissoras, hormônios, fatores de crescimentos, peptídeos ou mesmo esteroides. Essas moléculas, quando liberadas, produzem eventos orgânicos como taquicardia, movimentos de músculo esquelético, NOÇÕES DE FISIOLOGIA HUMANA 8 entre muitas outras ações de nosso organismo. De modo geral, tudo o que fazemos e sentimos depende da transmissão de informações através dos sistemas orgânicos, incluindo nosso cérebro. Energia Eletrolítica Graças à diferença de concentração de íons no LIC e no LEC, encontramos diferenças nos potenciais elétricos entre o meios externo e interno das células. Essa diferença de potencial elétrico deve ser mantida e depende de vários itens como: concentração iônica, permeabilidade da célula, gradientes elétricos e gradientes difusionais. Essa força proporciona uma voltagem específica de cada célula em repouso. Por exemplo, os neurônios possuem um potencial elétrico em repouso em torno de -70 mV, enquanto músculos apresentam um potencial elétrico de -90 mV. Essa carga é conhecida como potencial de repouso da célula e deve ser mantido para sua sobrevivência. Entretanto, existe uma classe de células conhecidas como células excitáveis ‒ os neurônios e os músculos ‒ que apresentam variações desse potencial elétrico que chamamos de “disparos” (potenciais de ação). Esses potenciais de ação são variações de voltagem pela entrada ou pela saída de íons, possibilitando a liberação de moléculas transmissoras, hormônios ou mesmo contração muscular. As células que geram potenciais de ação possuem um tipo de proteína sensível a pequenas variações da voltagem que, quando sensibilizada, abre poros que possibilitam a passagem de íons específicos, gerando as alterações de voltagem (potencial de ação). Somente células excitáveis apresentam família de proteínas transportadoras (canais dependentes de voltagem) e são utilizadas como alvos de inúmeros medicamentos. NOÇÕES DE FISIOLOGIA HUMANA 9 Propagação de Sinal Elétrico O sinal elétrico se propaga através do corpo graças à ocorrência de potenciais de ação. Os neurônios levam informações pelo corpo através desses potenciais, que percorrem toda a célula, abrindo gradativamente, e em série, canais iônicos dependentes de voltagem. A entrada de corrente iônica por um canal, estimula o próximo canal, e o outro e assim sucessivamente percorre todo axônio da célula neuronal. Quando a variação chega ao final da célula neuronal, encontramos um “botão sináptico” (terminal sináptico) que contém as moléculas que devem ser liberadas por aquele tipo neuronal, gerando os efeitos desejados em células adjacentes, como músculos, glândulas, ou mesmo outros neurônios. Essas moléculas transmissoras incluem: hormônios, fatores de crescimento, fatores tróficos, peptídeos e neurotransmissores. A chegada de um potencial elétrico, em um botão sináptico, leva a liberação de neurotransmissores, que atua na célula alvo, sendo posteriormente recaptada ou degrada, para acabar o efeito desejado. Dessa forma, o neurotransmissor é liberado na fenda sináptica, liga-se a seu alvo orgânico, gera um efeito nesse alvo e se desliga, retornando à célula que o liberou, terminando o efeito orgânico. Em uma contração muscular, enquanto a acetilcolina estiver em contato com proteínas muscular receptora, o músculo se mantém contraído; quando ela se desliga, o músculo relaxa. Neurotransmissores Os neurotransmissoressão uma das classes de moléculas transmissoras mais estudada, são conhecidos alguns de seus receptores e efeitos orgânicos. Eles são os principais responsáveis pela maioria das ações orgânicas de média e curta durações, como sentidos, contração muscular, funcionamento de sistemas orgânicos, formação de memória. NOÇÕES DE FISIOLOGIA HUMANA 10 Assim, o conhecimento do mecanismo de transmissão de informações é alvo de grande parte dos medicamentos e das drogas. Entre os principais neurotransmissores podemos citar as catecolaminas, uma família de moléculas que tem o aminoácido tirosina como molécula precursora. A partir da tirosina nossos neurônios sintetizam a L-dopa (usada como medicamento): molécula precursora da dopamina. A dopamina, importante neurotransmissor do movimento (Parkinson), também atua diretamente em vício (anfetamina, cocaína, crack), sistema límbico, alterações de apetite, sono, alucinações e fobias. Seus efeitos sobre o sistema nervoso periférico são taquicardia, vasoconstrição, efeitos eméticos, vômito, dilatação brônquica, entre muitos outros. A dopamina é a molécula precursora da noradrenalina (norepinefrina), que atua de diversas maneiras no cérebro junto com a dopamina, envolvida em transtornos de atenção, hiperatividade, aprendizado, além de muitos efeitos ligados a transtornos como depressão, ansiedade e manias. No sistema nervoso periférico autônomo simpático, a noradrenalina tem um importante papel no mecanismo de fuga e luta, aumentando batimento cardíaco, ventilação, vigília e dilatação vascular periférica, para se preparar para correr ou lutar. A noradrenalina é a molécula precursora da adrenalina (epinefrina), um hormônio sintetizado e liberado pela glândula adrenal no rim. Esse hormônio potencializa os efeitos de outras catecolaminas, principalmente atuando no sistema autônomo simpático intensificando o mecanismo de fuga e luta. Outro neurotransmissor importante é a acetilcolina, que, no sistema nervoso central, atua na memória de curta duração, na memória intrínseca, ligada ao movimento, e também na memória límbica, ligada ao prazer e ao vício, causada por eventos que geram satisfação. Entretanto, no sistema nervoso periférico, a acetilcolina atua no sistema parassimpático, ligado a eventos de repouso e digestão, gerando bradicardia, NOÇÕES DE FISIOLOGIA HUMANA 11 aumento sanguíneo em órgãos, principalmente aparelho digestório, reduzindo ventilação. Entretanto, a acetilcolina também é responsável pela contração da musculatura esquelética e com isso o movimento. Além destes, temos a serotonina (5-hidroxitriptanina), conhecida como “molécula do prazer”, pois atua no sistema límbico, sua ativação também depende de estímulos, como sentimentos, ações cotidianas ou mesmo drogas. O uso de drogas como o crack gera um forte sentimento de prazer por alguns minutos, o que leva ao vício. O sistema límbico inclui hipófise, hipotálamo, amígdala, memória hipocampal, sentidos como fome, medo, sono e alucinações. No sistema periférico a serotonina controla o sistema gastrointestinal, por meio dos plexos mioentérico e submucoso. Os neurotransmissores aminoácidos como glutamato e gaba (ácido gama- aminobutírico) apresentam grande importância para a fisiologia de todo o corpo. O glutamato é o mais importante neurotransmissor excitatório encefálico, encontrado em todo o córtex, sendo o responsável por sentidos, como visão, audição, gustação, memória de longo prazo e todo o processo de interação dos sistemas. O aumento de sua atividade resulta em convulsões, epilepsia e morte celular por necrose. Por outro lado, o gaba é o mais importante neurotransmissor inibitório de nosso organismo. Sua ação está ligada à grande parte dos eventos orgânicos, atua de forma inibitória no movimento em níveis central e periférico, no sono, leva ao coma, sempre inibindo a atividade elétrica. Assim como o glutamato possibilita grandes e mortais influxos de cálcio, o gaba possibilita o influxo de cloreto na célula, inibindo a ocorrência de potenciais elétricos. Existem outros neurotransmissores, todos relacionados com sistemas funcionais como sentidos, emoções, controle dos sistemas orgânicos e órgãos; estes serão abordados na apresentação dos diferentes sistemas orgânicos que iremos conhecer. NOÇÕES DE FISIOLOGIA HUMANA 12 Sistema Vascular A função da circulação é a de suprir as necessidades dos tecidos corporais, transportar os nutrientes, eliminar os produtos do metabolismo, levar hormônios pelo corpo, manter a homeostase de líquidos corporais e a sobrevivência das células que os compõem. A intensidade do fluxo sanguíneo que passa pelos tecidos é controlada a partir de sua necessidade de nutrientes. Dessa forma, o coração e a circulação são controlados para produzir débito cardíaco adequado a cada situação. A circulação sanguínea se divide em circulações sistêmica (grande circulação) e pulmonar (pequena circulação). O sistema vascular é formado por um sistema arterial que leva o sangue para todo o corpo e um sistema venoso que recolhe todo sangue para o que coração e o envia para pequena circulação pulmonar, onde trocará o dióxido de carbono pelo oxigênio. O sistema arterial é composto por grandes artérias, artérias e pequenos vasos, conhecidos como “vasos de resistência”, formados por arteríolas e capilares. Esses pequenos vasos têm como principal função reduzir a pressão arterial e proporcionar a troca de nutrientes e metabólitos. São vasos fenestrados (pequenos orifícios) que permitem que o plasma flua da arteríola e banhe todas as células do corpo, nutrindo-as. O sistema venoso é composto por veias e vênulas e sua função é recolher o sangue de volta ao coração. As vênulas também apresentam fenestras que possibilitam que o sangue retorne para as veias graças à diferença de pressão, que leva o sangue para o interior dos vasos. Além disso, o sistema venoso possui um sistema de valvas (válvulas) que ajudam o sangue a retornar ao coração. NOÇÕES DE FISIOLOGIA HUMANA 13 Pressão Sanguínea As artérias, que precisam transportar o sangue sob alta pressão para todos os sistemas e compartimentos do corpo, são formadas por tecidos com grande capacidade de dilatação, possibilitando grande fluxo sanguíneo “pulsante”, mas não permitindo trocas gasosas ou de nutrientes. A pressão aórtica do homem adulto é em média de 120/80 mmHg e persiste por todas as artérias. Quando o sangue chega aos vasos de resistência (artérias e arteríolas), ele reduz seu fluxo por causa da resistência arterial, pois o vaso possui menor quantidade de tecido elástico que as grandes artérias e maior quantidade de músculo liso vascular. A musculatura lisa vascular controla o fluxo sanguíneo através da constrição (contração) ou relaxamento, dilatando esses vasos. A pressão é reduzida devido aos vasos de resistência em média de 100mmHg arterial pulsante, para 20mmHg constante, possibilitando as trocas de nutrientes e gases. Dessa forma, o plasma sanguíneo, rico em nutrientes fui das arteríolas para o líquido intersticial (líquido que banha as células), apresenta uma pressão de 15 mmHg e retorna para as vênulas com pressão venosa de 10 mmHg. Graças à diferença de pressão, o fluido sai de um compartimento vascular para o outro. O sangue venoso chega ao átrio direito pelo sistema cava com uma pressão de apenas 3 mmHg. Graças à contração do ventrículo direito, o sangue chega à circulação pulmonar pela veia pulmonar com uma pressão de 24/9 mmHg. Quando penetra opulmão, encontra os vasos de resistência e a pressão transpulmonar passa a ser de 12 mmHg. Essa baixa pressão tem como finalidade possibilitar as trocas gasosas. Então, o sangue retorna pela veia pulmonar ao átrio esquerdo com uma pressão de 8 mmHg, para ser ejetado novamente pelo ventrículo esquerdo (120/80mmHg) para a circulação sistêmica pela artéria aorta. NOÇÕES DE FISIOLOGIA HUMANA 14 Microcirculação Na microcirculação ocorre a principal função do sistema circulatório: o transporte de nutrientes para os tecidos e a remoção dos produtos da excreção celular. As pequenas arteríolas controlam o fluxo sanguíneo para cada região tecidual, e as condições locais nos tecidos, por sua vez, controlam o diâmetro das arteríolas. Assim, cada tecido na maioria dos casos controla seu próprio fluxo sanguíneo de acordo com suas próprias necessidades. As paredes dos capilares são extremamente delgadas, formadas por uma só camada de células endoteliais muito permeáveis. Desse modo, pode ocorrer um intercâmbio, rápido e fácil, de água, nutrientes e excrementos celulares entre os tecidos e o sangue circulante. A circulação periférica, em todo o corpo, é formada por aproximadamente 500 a 700 m2 (um campo de futebol) ficando em uma proximidade de 20 a 30 m de uma célula. Cada vaso que compõe a microcirculação está organizada de forma específica para cada órgão. Sistema Linfático O sistema linfático é composto por canais que transportam linfa, sendo encontrados em todos os tecidos corporais. Os canais linfáticos são especiais e drenam o excesso de líquido diretamente dos espaços intersticiais. As exceções incluem as porções superficiais da pele, o sistema nervoso central, o endomísio dos músculos e os ossos. Entretanto, mesmo esses tecidos possuem minúsculos canais, chamados de pré- linfáticos, pelos quais o líquido intersticial pode fluir. Esse líquido é, por fim, drenado para vasos linfáticos, ou, no caso de encéfalo, para o líquido cerebroespinhal e dele diretamente de volta ao sangue. Em essência, todos os vasos linfáticos da parte inferior NOÇÕES DE FISIOLOGIA HUMANA 15 do corpo escoam para o ducto torácico, que, por sua vez, escoa para o sistema venoso na junção da veia jugular esquerda com a veia subclávia esquerda. O sistema linfático representa uma via acessória por meio da qual o líquido pode fluir dos espaços intersticiais para o sangue. Vale notar que os vasos linfáticos transportam líquidos para fora dos espaços teciduais, além de proteínas e grandes partículas que não podem ser removidas por absorção direta pelos capilares sanguíneos. Esse retorno da proteína para o sangue, dos espaços intersticiais, é função essencial sem a qual morreríamos em apenas 24 horas. A maior parte do líquido filtrado nas extremidades arteriais dos capilares sanguíneos, fluindo entre as células, é finalmente reabsorvida de volta pelas extremidades venosas desses capilares. Entretanto, em média, cerca de 1/10 do líquido intersticial segue para os capilares linfáticos e retorna ao sangue através do sistema linfático em vez de utilizar os capilares venosos. O volume total dessa linfa é normalmente de apenas 2 a 3 L por dia. O líquido que retorna à circulação pelo sistema linfático é extremamente importante por conter substâncias de alto peso molecular tais como proteínas que não podem ser absorvidas dos tecidos por qualquer outra via, embora possam entrar nos capilares linfáticos quase sem impedimentos. Os vasos linfáticos possuem válvulas nas extremidades dos capilares linfáticos terminais, bem como válvulas ao longo de seus vãos grossos até o ponto em que escoam para a circulação sanguínea. O sistema linfático transporta a linfa derivada do líquido intersticial, pois apresenta a mesma composição. O sistema linfático é uma das principais vias de absorção de nutrientes vindos do trato gastrointestinal, em especial para a absorção de praticamente todos os lipídios dos alimentos. NOÇÕES DE FISIOLOGIA HUMANA 16 Após uma refeição rica em gorduras, a linfa do ducto torácico chega a conter por vezes até 1 a 2% de lipídios. Mesmo grandes partículas como bactérias podem passar através das células endoteliais e entrar nos capilares linfáticos e desse modo, chegar à linfa. À medida que a linfa passa pelos linfonodos essas partículas são quase inteiramente removidas e destruídas. A presença de bactérias em linfonodos ativam processos imunes e resposta inflamatória, logo ficam edematosos (inchados), facilitando diagnóstico de infecção. Coração O coração, órgão que funciona mesmo após a morte encefálica, é composto por duas bombas que trabalham em paralelo. Cada bomba possui duas câmaras (átrios e ventrículos) e dois conjuntos com duas válvulas (átrio/ventriculares e semilunares). Histologicamente, esse órgão é composto pelo músculo cardíaco (miocárdio), que está recoberto por camadas interna e externa de epitélio, e tecido conjuntivo (pericárdio), vasos sanguíneos, glândulas e fibras parecidas com neurônios (fibras condutoras cardíacas). Sua função é ejetar o sangue pelo sistema vascular, transportando gases, metabólitos, nutrientes e hormônios. Também atua indiretamente na manutenção do pH sanguíneo, na temperatura corporal, no processo imune do organismo, protegendo e interferindo na coagulação sanguínea. Os principais tipos celulares são as células contráteis (95%), as fibras condutoras ou marca-passo e as células endócrinas que secretam hormônio peptídeo atrial natriurético (PAN) que regula a pressão arterial mediante concentração de sódio. Componentes Anatômicos Seus principais componentes são os ventrículos, duas câmaras inferiores com grossas paredes musculares. NOÇÕES DE FISIOLOGIA HUMANA 17 Os átrios, situados acima dos ventrículos, possuem paredes delgadas em relação às paredes ventriculares, principalmente ao ventrículo esquerdo. O septo interventricular que separa os lados direito e esquerdo do coração, de tal modo que o sangue de um lado não se misture com o outro lado. Os dois lados se contraem de modo coordenado: primeiro os átrios e, em seguida, os ventrículos. As valvas (válvulas) permitem a passagem unidirecional do sangue que flui no coração em um único sentido. O sentido desse fluxo é garantido pelas válvulas cardíacas, que apresentam uma função comum: evitar que o sangue reflua. As válvulas atrioventriculares (AV), situadas entre os átrios e os ventrículos, permitem a passagem unidirecional do sangue do átrio direito para o ventrículo direito (valva tricúspide) e do átrio esquerdo para o ventrículo esquerdo (valva mitral ou bicúspide). As válvulas semilunares, situadas entre os ventrículos e as artérias, impedem o fluxo retrógrado do sangue para dentro do coração, entre as contrações. Fluxo Sanguíneo O fluxo sanguíneo, velocidade com que o sangue flui, é determinado por dois principais fatores: Pressão sanguínea – força exercida pelo sangue contra as paredes das artérias, determinada pela quantidade de sangue bombeado (débito cardíaco) e pela resistência ao fluxo sanguíneo. O valor normal da PA em homens adultos é de 120/80 mmHg e em mulheres adultas de 110/70 mmHg. A PA é dividida em dois momentos: a pressão sistólica, que é a pressão mais alta gerada pelo coração durante a sístole do ventrículo esquerdo, e a diastólica, a qual indica a facilidade com que o sangue flui das arteríolas para dentro dos capilares. NOÇÕES DE FISIOLOGIA HUMANA 18 Resistência – oposição ao fluxo sanguíneo resultante da fricçãoentre o sangue e as paredes dos vasos sanguíneos. Essa resistência está relacionada com a viscosidade do sangue, com o comprimento dos vasos sanguíneos e com o diâmetro desses vasos. Débito Cardíaco O débito cardíaco (DC), produto da frequência cardíaca (FC) e o volume de ejeção (VE), é a quantidade de sangue bombeado por determinado tempo, (DC= FC × VE). Portanto, o débito cardíaco pode ser aumentado em razão da elevação da frequência cardíaca ou do volume de ejeção. O DC de um homem em repouso é em média de 5 L/min (repouso), onde VE = 70 mL vezes 70 batimentos por minuto é igual 4.900 mL/min. Circulação Sanguínea O coração recebe o sangue que retorna de todas as partes do corpo e bombeiam o sangue para o pulmão para oxigenação por intermédio da circulação pulmonar. O lado esquerdo recebe o sangue oxigenado proveniente dos pulmões e o bombeia para todo o corpo através da circulação sistêmica. O sangue flui da veia pulmonar para o átrio direito, uma câmara superior e de paredes delgadas. Do átrio, o sangue passa pelas válvulas unidirecionais para o ventrículo, câmaras de propulsão. Do ventrículo direito, o sangue deixa o coração pela artéria pulmonar e do ventrículo esquerdo, pela artéria aorta. Um segundo jogo de válvulas encontra-se na saída dos ventrículos para garantir que, uma vez ejetado, o sangue não reflua para essas câmaras. NOÇÕES DE FISIOLOGIA HUMANA 19 Alteração da Pressão Durante o ciclo cardíaco, a pressão no interior das câmaras cardíacas aumenta e diminui. Quando os átrios estão relaxados, o sangue da circulação venosa flui para o seu interior. À medida que essas câmaras enchem, a pressão interna aumenta gradualmente. Aproximadamente 70% do sangue que entra nos átrios durante a diástole fluem diretamente para os ventrículos, através das valvas atrioventriculares, antes que eles se contraiam. Na contração atrial, a pressão atrial aumenta e força a maior parte dos 30% remanescente do sangue atrial para os ventrículos. A pressão nos ventrículos é baixa enquanto eles estão enchendo, mas, quando os átrios se contraem, ela aumenta discretamente. Então, à medida que os ventrículos se contraem, a pressão aumenta agudamente, o que provoca o fechamento das valvas atrioventriculares e impede o fluxo retrógrado aos átrios. Assim que a pressão ventricular ultrapassa a pressão da artéria pulmonar e a aorta, as valvas semilunares pulmonar e aórtica se abrem e o sangue é forçado a sair para as circulações pulmonar e sistêmica. Observe a ocorrência de duas bulhas cardíacas produzidas pelo fechamento das valvas atrioventriculares (primeira bulha cardíaca) e pelo fechamento das valvas aórtica e pulmonar (segunda bulha cardíaca). Potencial Cardíaco O músculo cardíaco possui uma capacidade única de gerar seu próprio sinal elétrico (potencial marca-passo), o qual permite contrações rítmicas sem estimulação neural ou hormonal. A frequência cardíaca intrínseca é a média de 70 a 80 batimentos/minuto (bpm) em repouso, mas pode ser inferior nas pessoas treinadas fisicamente. O nodo sinoatrial (SA) é considerado o “marca-passo cardíaco”, pois inicia e controla o impulso cardíaco. Um grupo de fibras musculares cardíacas especializadas, NOÇÕES DE FISIOLOGIA HUMANA 20 localizadas na parede posterior do átrio direito, gera o impulso em uma frequência aproximada de 70 a 80 bpm e estabelece o ritmo sinusal. As vias intermodais conduzem impulsos do nodo SA para o nodo atrioventricular (NA). O nodo AV está localizado na parede inferior do átrio direito, próximo do centro do coração. Retarda o impulso em cerca de 0,13 segundo, diminui a velocidade do potencial elétrico, para certificar que este se espalhou por todos os átrios. Esse retardo permite que os átrios se contraiam totalmente antes dos ventrículos, maximizando o enchimento ventricular. Assim, o feixe de His, direciona o potencial para o septo interventricular que, em seguida, divide-se em ramos direito e esquerdo os quais enviam o impulso em direção ao ápice do coração e, em seguida para o exterior. Cada ramo subdivide-se em muitos ramos menores que se difundem através de toda a parede ventricular através de um feixe de fibras, denominada fibras de Purkinje, que consistem em ramificações do feixe de His que levam o potencial elétrico para os ventrículos. O potencial se propaga das células marca-passo para as células contráteis. Potencial Cardíaco É caracterizado por uma entrada de correntes despolarizantes seguida de repolarização. Ocorrem dois tipos de potenciais: lento e rápido. Para que possamos entender os potenciais cardíacos, é necessária a compreensão das correntes iônicas que percorrem o coração. O potencial lento é caracterizado por uma corrente de entrada de cálcio despolarizante, seguida de saída de potássio repolarizante e uma corrente de sódio quando a voltagem flutuante entre -50 e -60 mV fica mais negativa. Isso é causado pela ativação dos canais marca-passo (canais de sódio voltagem invertida). NOÇÕES DE FISIOLOGIA HUMANA 21 Esse tipo de canal existe nos nodos sinoatrial e atrioventricular e nas fibras de Purkinje, por isso chamadas de fibras geradoras de potenciais. Nos nodos as células marca-passo estão em uma voltagem flutuante e, quando atingem aproximadamente -55mV, os canais marca-passo (canais de sódio dependentes de voltagem “invertidos”) se abrem. A entrada de sódio despolariza a célula e, ao chegar à voltagem de -40 mV, abrem-se os canais de cálcio dependentes de voltagem até a inversão de corrente (over shoot). A partir daí os canais de cálcio dependentes de voltagem se fecham, abrindo-se os canais de potássio dependentes de voltagem. A saída de potássio repolariza a célula até a voltagem flutuante, iniciando nova despolarização. O potencial rápido ocorre pela chegada do potencial lento aos átrios e aos ventrículos, estimulando os potenciais rápidos que percorrem o miocárdio gerando as contrações atrial e ventricular, respectivamente. Esse potencial ocorre nos átrios e nos ventrículos. No átrio, o repouso das células do miocárdio possui uma voltagem de -90 mV. Ao chegar ao potencial lento, as células do miocárdio são despolarizadas até a voltagem de -40 mV, quando os canais dependentes de voltagem rápidos se abrem. São eles: canais de sódio dependentes de voltagem, canais de sódio/cálcio dependentes de voltagem e canais de potássio dependentes de voltagem. Ocorre a inversão de corrente (over shoot) em “0 ms”, os canais de sódio dependentes de voltagem se fecham (inativam), mas a contínua entrada de cálcio gera um platô de cálcio. NOÇÕES DE FISIOLOGIA HUMANA 22 Com o fechamento dos canais de cálcio e a saída de potássio se dá a repolarização seguida de repouso da célula, ocorrendo a contração atrial. O potencial ventricular funciona da mesma maneira que o atrial, porém podemos observar um grande platô de cálcio pela necessidade de maior força na contração ventricular do que na contração atrial. As células do miocárdio se encontram na voltagem de -90 mV. Ao chegar ao potencial lento, são despolarizadas até a voltagem de -40 mV quando os canais dependentes de voltagem rápidos se abrem. São eles: canais de sódio dependentes de voltagem, canais de sódio/cálcio dependentes de voltagem e canais de potássio dependentes de voltagem. Ocorre a inversão de corrente (over shoot) em “0 ms”, os canais de sódio dependentes de voltagem se fecham (inativam), mas a contínua entrada de cálcio gera umgrande platô de cálcio. Com o fechamento dos canais de cálcio e saída de potássio se dá a repolarização seguida de repouso da célula, ocorrendo a contração ventricular. Ciclo Cardíaco O ciclo cardíaco se refere ao padrão de repetição da contração e do relaxamento do coração. A fase de contração é denominada (sístole) e a do relaxamento (diástole). Quando esses termos são utilizados isoladamente, eles se referem à contração e ao relaxamento dos ventrículos. No entanto, os átrios também se contraem e relaxam (ocorre uma sístole e diástole atrial). A sístole ventricular é uma contração isovolumétrica. Tempo decorrido entre o início da sístole ventricular e a abertura das válvulas semilunares; neste período o volume NOÇÕES DE FISIOLOGIA HUMANA 23 não se altera. A fase de ejeção, ou seja, a abertura das válvulas semilunares, que marca o início da fase de ejeção é subdividida em ejeções rápida e reduzida. Durante a sístole o sangue que retorna aos átrios produz elevação progressiva da pressão atrial. A Diástole Ventricular é o relaxamento isovolumétrico que é o tempo decorrido entre o fechamento das válvulas semilunares e a abertura das válvulas AV; nela, ocorre redução acentuada da pressão ventricular, sem modificações de volume. Ela se subdivide ainda em Fase de Enchimento Rápido que ocorre imediatamente após a abertura das válvulas AV, e o sangue é liberado do átrio abruptamente para os ventrículos que se relaxam. Ocorre diminuição das pressões atriais e aumento acentuado do volume ventricular. A Fase de Enchimento Lento é a adição lenta ao enchimento ventricular e, finalmente, a Diástase ou Contração Atrial, que é a responsável pelo enchimento completo do ventrículo para início novamente da sístole ventricular. Bulhas Cardíacas O coração produz quatro bulhas cardíacas (sons), mas apenas duas são audíveis pelo estetoscópio. Com amplificação, as menos intensas podem ser detectadas e registradas no fonocardiograma. A primeira bulha, a mais alta e duradoura, ocorre com o fechamento das válvulas AV. A válvula tricúspide é mais bem auscultada no quinto espaço intercostal a esquerda da borda external e a da válvula mitral no quinto espaço intercostal esquerdo, no ápice cardíaco. A segunda bulha, de menor duração e intensidade, ocorre pelo fechamento das válvulas semilunares. A válvula semilunar pulmonar é ouvida no segundo espaço intercostal torácico, à esquerda do esterno. A terceira bulha, ouvida em crianças com parede torácica fina ou pacientes com falência ventricular esquerda, ocorre pelo NOÇÕES DE FISIOLOGIA HUMANA 24 enchimento rápido do ventrículo. A quarta bulha é a bulha atrial, decorrente da contração atrial. As bulhas podem ser alteradas por problemas nas válvulas, produzindo os sopros, que servem como indício para o diagnóstico das doenças valvulares. Eletrocardiograma A atividade elétrica do coração pode ser registrada para o monitoramento das alterações cardíacas ou para o diagnóstico de possíveis problemas cardíacos. Os impulsos elétricos gerados no coração são conduzidos através dos líquidos corporais até a pele, onde eles podem ser detectados e impressos por um aparelho sensível denominado eletrocardiograma (ECG). Os três componentes do ECG representam aspectos importantes da função cardíaca: • A onda P representa a despolarização atrial e ocorre quando o impulso elétrico vai do nodo sinotrial, passa pelos átrios e vai até o nodo AV. • O complexo QRS representa a despolarização ventricular e ocorre quando o impulso dissemina-se do feixe AV até as fibras de Purkinje através dos ventrículos. • A onda T representa a repolarização ventricular. A repolarização atrial não pode ser observada, uma vez que ela ocorre durante a despolarização ventricular (complexo QRS). Regulação dos Batimentos Cardíacos As influências neurais, que se sobrepõem à ritmicidade e à condutividade inerente do miocárdio, têm origem no centro cardiovascular no bulbo e são transmitidas pelos componentes simpáticos e parassimpático do sistema nervoso autônomo. NOÇÕES DE FISIOLOGIA HUMANA 25 Componentes Simpáticos A estimulação dos nervos cardioaceleradores simpáticos libera noradrenalina. Estes agem acelerando a despolarização no nodo SA, o que induz o coração a bater mais rapidamente. Essa aceleração na frequência cardíaca é denominada taquicardia. As catecolaminas aumentam de maneira significativa a contratilidade ventricular esquerda ativando receptores beta 1 no nodo SA e no ventrículo esquerdo, e isso aumenta AMPc que aumenta influxo de Ca+2 e o efluxo de K+. O ventrículo direito não poderia ser ativado, pois aumentaria a pressão transpulmonar e prejudicaria a hematose justamente durante atividade simpática. Componentes Parassimpáticos A acetilcolina, neurotransmissor do sistema nervoso parassimpático, retarda o ritmo da descarga no nodo sinoatrial e torna o coração mais lento. Essa lentidão da frequência cardíaca é denominada bradicardia. O efeito é mediado, em grande parte, pela ação do nervo vago, cujos corpos celulares têm origem no centro cardioinibidor no bulbo. A ação da acetilcolina ocorre por ativação de receptores muscarínicos M2. Sistema Respiratório O sistema respiratório tem como principal função captar oxigênio da atmosfera e excretar metabólitos como o dióxido de carbono. O oxigênio (O2) é utilizado pelo metabolismo celular para produção energia em forma de ATP. Todas as células NOÇÕES DE FISIOLOGIA HUMANA 26 respiram, transformando nutrientes em energia pela mitocôndria mediante a fórmula: Glicose + O2 = ATP + CO2 + H2O. Esse processo metabólico ocorre em todas as células sendo fundamental para sua sobrevivência. O fosfato é um íon altamente carregado e, quando ele se liga a uma molécula, pode gerar uma mudança conformacional (mudança na forma) nessa molécula, abrindo e fechando canais iônicos, mudando a forma de proteínas, entre outros, como ocorre na contração muscular. Quando o músculo se movimenta, ele queima ATP, que é reduzido a ADP. A mitocôndria, por meio de processos de fosforilação oxidativa, transforma ADP em ATP de acordo com a necessidade energética do tecido. O tecido muscular possui uma grande quantidade de mitocôndrias devido a sua necessidade de energia para utilização diária. O processo de fosforilação oxidativa gera subprodutos importantes: CO2 e H2O. A união desses subprodutos produz ácido carbônico (H2CO3), que acidifica o sangue. O sangue ácido atua em quimioceptores neurais que controlam a ventilação até que a acidez sanguínea volte ao normal. Além disso, o sistema respiratório também controla a fonação, o equilíbrio térmico e a defesa imunológica. Esse sistema é formado por estruturas superiores como cavidade nasal, epiglote, glote, laringe, língua, pregas vocais, faringe e esôfago. As vias inferiores são traqueia, brônquios, diafragma, bronquíolos, dutos alveolares, sacos alveolares e alvéolos. Liquido Surfactante O líquido surfactante, um gel encontrado e sintetizado nos alvéolos e no espaço intrapleural, é produzido a partir do final do sétimo mês de gravidez. É um líquido hidrofóbico que reduz a tensão superficial nos alvéolos, decresce o esforço para inflar o pulmão e facilita a troca gasosa. Se a tensão superficial não for reduzida, poderá NOÇÕES DE FISIOLOGIA HUMANA 27 causar translocação do plasma para dentro dos alvéolos através dos capilares pulmonares. O pulmão, assim comooutros órgãos, está envolto por duas camadas de tecido conjuntivo, a pleura. Ela é uma membrana envoltória intratorácica, em cujo interior há um espaço laminar (espaço pleural), também chamado de cavidade pleural. Formada por dois folhetos, a pleura parietal que recobre internamente a parede costal da cavidade e a pleura visceral que recobre os pulmões. O pulmão humano contém cerca de 300 milhões de minúsculos alvéolos anatômicos; esse arranjo aumenta enormemente a área disponível para trocas gasosas entre oxigênio (O2) e dióxido de carbono (CO2). A enorme área superficial associada ao líquido surfactante facilita a troca gasosa. Essa troca ocorre, unicamente, por propriedades físicas como difusão, a partir da diferença de concentração. Os gases saem de compartimentos de maior para menor concentração. Contudo, essa troca ocorre em áreas específicas do sistema pulmonar, principalmente a partir do 17o ramo alveolar, sendo as áreas anteriores conhecidas como zona morta, onde não ocorre absorção de gases. O pulmão é dividido em zona condutora, na qual não ocorre troca gasosa, do nariz até a 16a ramificação da árvore traqueobrônquica; zona de transição, com bronquíolos respiratórios que se diferenciam por apresentarem sacos alveolares espaçadamente e por se comunicarem diretamente com os alvéolos, da 17a à 19a ramificação; zona respiratória, constituída por ductos e sacos alveolares e alvéolos, que abrange da 20a à 23a ramificação; e espaço morto anatômico, no qual está volume de gás contido nas vias aéreas de condução (nariz aos bronquíolos terminais). NOÇÕES DE FISIOLOGIA HUMANA 28 Processo Respiratório O processo respiratório é dividido em quatro fases: ventilação, que é dividida em inspiração, expiração e pausa; perfusão, na qual ocorre a hematose (captação de oxigênio) e o sangue rico em O2 deve ser transportado pelo corpo; distribuição e transporte, em que o sangue vai sendo transportado no interior das hemácias (eritrócitos) aderidos à hemoglobina; e, finalmente, respiração celular, que é um processo metabólico que ocorre no interior das células mediante ação das mitocôndrias gerando energia metabólica (ATP). Ventilação É um processo mecânico automático, rítmico e regulado pelo sistema nervoso central. Por meio desse processo a contração e o relaxamento dos músculos esqueléticos intercostais interno, intercostal externo, escaleno, esternocleidomastoideo e diafragma. A musculatura abdominal participa quando ocorre ventilação forçada (taquipneia). O movimento (contração) desses músculos faz que os gases entrarem e saírem das unidades respiratórias terminais (alvéolos funcionais) dos pulmões. Volumes Pulmonares Muitos parâmetros devem ser conhecidos no estudo do volume pulmonar. O volume corrente (VC) é o volume de ar inspirado ou expirado espontaneamente a cada ciclo respiratório e varia entre 350 e 500 mL. Temos ainda o Volume de Reserva Inspiratório (VRI), o Volume de Reserva Expiratório (VRE) e o Volume Residual (VR), que apresentam grande importância, pois estão relacionados ao volume de ar que permanece no interior dos pulmões após uma expiração máxima. Aspectos relacionados à capacidade pulmonar também devem ser NOÇÕES DE FISIOLOGIA HUMANA 29 observados, como por exemplo, a Capacidade Vital (CV), que é quantidade de gás mobilizada entre uma inspiração e uma expiração máximas. Assim como Capacidade Inspiratória (CI), a Capacidade Residual Funcional (CRF) e a Capacidade Pulmonar Total (CPT), que é caracterizada pela quantidade de ar, contida nos pulmões ao final de uma inspiração máxima. Hematose A hematose é de grande importância, pois nesse processo as hemácias absorvem O2. As hemácias contêm a hemoglobina, uma molécula que apresenta grande afinidade por certos gases, como oxigênio (O2), dióxido de carbono (CO2), monóxido de carbono (CO), nitrogênio (N), hélio (He), entre muitas outras moléculas voláteis, como fluoretos, éter, clorofórmio, benzenos, alcaloides, entre outros. A hematose ocorre pela diferença de concentração e de afinidade entre os gases e a hemoglobina. A hemoglobina possui um grupamento férrico (Heme-) altamente oxidável que favorece a afinidade com compostos de oxigênio. Graças à diferença de concentração o oxigênio contido na atmosfera entra em nosso sangue na inspiração e o dióxido de carbono, que está mais concentrado no sangue, sai de nosso organismo e é expirado para atmosfera. A concentração transpulmonar de O2 ao nível do mar encontra-se em torno de 104 mmHg. Quando o sangue venoso passa pelo pulmão, ele apresenta uma pressão de 40 mmHg de O2 e 46 mmHg de CO2. Dessa forma, quando passa pelos alvéolos, o sangue absorve (64 mmHg de O2), ficando com pressão de O2 igual à pressão transpulmonar (atmosférica, 104 mmHg). A pressão venosa de CO2 é 46 mmHg quando passa pelo pulmão libera 6 mmHg de CO2 a cada expiração. NOÇÕES DE FISIOLOGIA HUMANA 30 Por isso, a quantidade de oxigênio aproveitável é de apenas 64 mmHg, pois 40 mmHg nunca são liberados pela hemoglobina para os tecidos por causa de sua elevada afinidade pelo oxigênio. Distribuição Após serem absorvidos pelas hemácias os gases percorrem todo o corpo, sendo distribuídos pelos tecidos de acordo com a diferença de concentração. O oxigênio se encontra em uma concentração maior na hemácia do que no tecido, por isso ele sai da hemácia e vai para o tecido. Entretanto, o tecido é rico em dióxido de carbono, por causa da respiração celular, e o dióxido de carbono sai da célula e vai para hemácia que tem concentração de CO2 inferior ao da célula e do líquido intersticial. Assim o dióxido de carbono se liga à hemoglobina, sendo transportado e liberado no pulmão, pois a concentração do dióxido de carbono é menor na atmosfera pulmonar do que a do corpo, sendo liberado na expiração. Respiração Celular A respiração celular é talvez a fase mais importante do processo respiratório, pois é responsável pela síntese de ATP. Como vimos, para a produção de energia metabólica pelas mitocôndrias, dois subprodutos são gerados, a água e o CO2, e, juntos, acidificam o sangue. O sangue ácido informa ao cérebro que deve aumentar a ventilação, pois o sangue ácido (acidose metabólica), assim como o sangue alcalino (alcalose metabólica) levam o paciente a óbito, por isso deve ser muito bem controlada. Os valores de normalidade de pH sanguíneo são de cerca de 7,25 a 7,35. Valores inferiores a 6,85 já são considerados acidificação metabólica e valores superiores a 7,85 são considerados NOÇÕES DE FISIOLOGIA HUMANA 31 alcalose metabólica. As enzimas são proteínas que dependem para funcionar basicamente de temperatura (37 C) e pH neutro (7,25). Sistema Renal Os rins são órgãos responsáveis pela manutenção do volume e da composição do LEC dentro dos limites fisiológicos compatíveis com a vida. Além disso, atuam na remoção dos produtos finais do metabolismo, excretando moléculas e resíduos tóxicos. Tem capacidade de filtrar 180 L de água por dia, sendo excretados de 1,5 a 2 L de água e metabólitos Entretanto, a mesma quantidade deve ser ingerida para manutenção da homeostase volêmica e eletrolítica. O sistema renal é composto por rins, bexiga e uretra. Os rins são compostos por medula e córtex renal. O córtex contém o sistema glomerular e as cápsulas de Bowman, responsáveis pela filtração do plasma. A medula contém o néfron e a alça de Henle, responsável pelos processos de secreção, reabsorção e excreção da urina paraos túbulos coletores e ureteres, até ser armazenada na bexiga. O ureter é composto de dois condutos bilaterais, com cerca de 25 cm de comprimento, que vão terminar inferiormente na bexiga urinária. A bexiga urinária é um reservatório com função de armazenar temporariamente a urina. A forma da bexiga depende da quantidade de urina que ela contém. Quando vazia, ela parece um balão vazio, tornando-se esférica quando levemente distendida à medida que o volume urinário aumenta. A capacidade média de armazenamento da bexiga urinária é de 700 a 800 mL de urina. As principais funções do sistema renal são filtração, reabsorção, secreção e excreção. A filtração ocorre pela diferença de pressão, pois a pressão hidrostática do sangue atua sobre as paredes do glomérulo. As paredes possuem pequenos poros constituídos por células, os podócitos. NOÇÕES DE FISIOLOGIA HUMANA 32 Essas células filtram o plasma possibilitando a passagem de apenas moléculas menores que 60 kD, as menores proteínas como albumina não conseguem passar. São barradas células sanguíneas e proteínas plasmáticas, passando água e alguns solutos (filtrado glomerular). Após atravessar o glomérulo e passar pela cápsula de Bowman, o filtrado penetra a parte proximal do néfron, onde ocorre o processo de reabsorção. A reabsorção existe, pois a maior parte do filtrado deve ser reabsorvido; quase toda a água, parte dos sais minerais, toda a glicose, os aminoácidos e o cálcio são reabsorvidos. A secreção ocorre pela permanência de metabólitos e/ou sais minerais no néfron, sendo levado através do ducto coletor e dirigido à bexiga. Na secreção, algumas moléculas estranhas passam direto do sangue para os túbulos coletores, como drogas e medicamentos. Passa pelos rins 1,2 L de sangue/min, em quantidade de 180 L por dia sendo apenas são produzidos 1-2 L de urina por dia e 178 L são reabsorvidos. A excreção ocorre pela formação da urina que será armazenada na bexiga, até que ocorra a micção. Controle Hormonal Alguns hormônios são sintetizados e liberados pelo rim e outros podem controlar suas funções. Entre eles, o hormônio antidiurético (ADH), ou vasopressina, o qual aumenta a absorção de água pelos túbulos coletores, aumentando a volemia e a pressão arterial. Ele é inibido pelo uso de álcool e cafeína, por isso aumenta a vontade de urinar, apesar de pouco volume de urina na bexiga. Outro hormônio é a aldosterona, que, ao detectar a queda de pressão sanguínea, ativa células do rim que secretam hormônios que estimulam a adrenal a produzir aldosterona. NOÇÕES DE FISIOLOGIA HUMANA 33 A aldosterona ativa o processo de reabsorção de sódio que leva a um aumento a reabsorção de água que, por sua vez, aumenta o volume e a pressão sanguínea. Funções renais incluem a manutenção da osmolaridade do meio interno, mediante regulação do balanço hídrico e íons inorgânicos como Na+, Cl-, H+, HCO3-, Ca++, K+, Mg++, HPO4--, entre outros, também regulam o equilíbrio hidrossalino, interferindo na pressão arterial; regulam o equilíbrio acidobásico (pH sanguíneo), a secreção de hormônios, como renina, eritropoietina e a excreção de catabólitos e substâncias. A renina, secretada pelo rim, não age como hormônio, e sim sobre substrato plasmático (angiotensinogênio) que forma angiotensina I no fígado. A angiotensina I age sobre o hipotálamo aumentando a liberação de ADH e a sensação de sede. A angiotensina II é formada nos pulmões, sob a ação da enzima angiotensina-convertase ou enzima conversora da angiotensina, junto com a aldosterona, gerando vasoconstrição e aumento da reabsorção de sódio no túbulo coletor pela ação da aldosterona. Rins Os rins situam-se na parte dorsal do abdome, logo abaixo do diafragma, um de cada lado da coluna vertebral; nessa posição, estão protegidos pelas últimas costelas e também por uma camada de gordura. Têm a forma de um grão de feijão enorme e possuem uma cápsula fibrosa que protege o córtex, mais externo, e a medula, mais interna. Néfron Cada rim é formado de tecido conjuntivo, que sustenta e dá forma ao órgão, e por milhares ou milhões de unidades filtradoras, os néfrons, localizados na região renal. NOÇÕES DE FISIOLOGIA HUMANA 34 O néfron é uma longa estrutura tubular microscópica que possui, em uma das extremidades, uma expansão em forma de taça, denominada cápsula de Bowman, que se conecta com o túbulo contorcido proximal, que continua pela alça de Henle e pelo túbulo contorcido distal, o qual desemboca em um tubo coletor, sendo responsáveis pela filtração do sangue e remoção das excreções. Funcionamento do Rim O sangue chega ao rim pela artéria renal, que se ramifica muito no interior do órgão através das arteríolas aferentes e cada uma ramifica-se no interior da cápsula de Bowman do néfron, formando um enovelado de capilares denominado glomérulo de Malpighi. O sangue arterial é conduzido sob alta pressão nos capilares do glomérulo. Essa pressão, que normalmente é de 70 a 80 mmHg, tem intensidade suficiente para que parte do plasma passe para a cápsula de Bowman, processo denominado filtração. Essas substâncias extravasadas para a cápsula de Bowman constituem o filtrado glomerular, que é semelhante em composição química ao plasma sanguíneo, com a diferença de que não possui proteínas, incapazes de atravessar os capilares glomerulares. O filtrado glomerular passa em seguida para o túbulo contorcido proximal, cuja parede é formada por células adaptadas ao transporte ativo. Nesse túbulo ocorre reabsorção ativa de sódio. A saída desses íons provoca a remoção de cloro, fazendo com que a concentração do líquido dentro desse tubo fique menor (hipotônico) do que do plasma dos capilares que o envolvem. Com isso, quando o líquido percorre o ramo descendente da alça de Henle, há passagem de água por osmose do líquido tubular (hipotônico) para os capilares NOÇÕES DE FISIOLOGIA HUMANA 35 sanguíneos (hipertônicos), ao que chamamos reabsorção. O ramo descendente percorre regiões do rim com gradientes crescentes de concentração. Consequentemente, ele perde ainda mais água para os tecidos, de modo que, na curvatura da alça de Henle, a concentração do líquido tubular é alta. Reabsorção Tubular Esse líquido muito concentrado passa então a percorrer o ramo ascendente da alça de Henle, que é formado por células impermeáveis à água e que estão adaptadas ao transporte ativo de sais. Nessa região, ocorre remoção ativa de sódio, ficando o líquido tubular hipotônico. Ao passar pelo túbulo contorcido distal, que é permeável à água, ocorre reabsorção por osmose para os capilares sanguíneos. Ao sair do néfron, a urina entra nos dutos coletores, onde ocorre a reabsorção final de água. Assim, estima-se que em 24 horas são filtrados cerca de 180 L de fluido do plasma, porém são formados apenas 1 a 2 L de urina por dia, o que significa que aproximadamente 99% do filtrado glomerular é reabsorvido. Além desses processos gerais descritos, ocorre, ao longo dos túbulos renais, reabsorção ativa de aminoácidos e glicose. Desse modo, no final do túbulo distal, essas substâncias já não são mais encontradas. Formação da Urina A formação da urina começa com a filtração de uma grande quantidade de um líquido virtualmente isento de proteínas dos capilares glomerulares para a cápsula de Bowman. NOÇÕES DE FISIOLOGIA HUMANA 36 Com o processo de reabsorção tubular, é o movimento de água e solutos do lúmen tubular para o sanguee a secreção que pode ser definido como a movimentação de solutos do sangue para o lúmen tubular, onde é formada a urina que contém metabólitos, água e algumas substâncias entre as quais H+, K+, NH4+. Quando encontramos proteínas na urina, a isso chamamos de proteinúria e se dá por perda de seletividade pela carga (aumento da excreção da albumina sem alteração de excreção das globulinas) ou pelo tamanho (aumento da excreção da albumina e de globulinas). É um indicador de problemas renais ou hipertensão arterial, levando à passagem de proteínas pelos filtros glomerulares. Desequilíbrio Ácido-Base Quando existe um defeito primário na capacidade dos pulmões removerem CO2, ou quando a sua remoção está exagerada, pode ocorrer ganho ou perda de íons de hidrogênio, de acordo com cada situação, possibilitando a ocorrência de perturbações no equilíbrio ácido/básico devido a disfunções geradas pelo sistema respiratório. Desse modo, a alteração primária dos desequilíbrios respiratórios ocorre na pressão de dióxido de carbono (PCO2). A acidose respiratória, a diminuição do pH, resulta da redução da relação HCO3-/PCO2 (< 20). Na alcalose respiratória, ocorre pela remoção excessiva de CO2, a relação aumenta (> 20) e o pH eleva-se. Micção A urina formada nos rins passa pelos ureteres até a bexiga, onde é acumulada. Após alcançar determinado volume, a urina é expulsa da bexiga pela micção. A bexiga fica distendida para permitir o acúmulo da urina, e se contrai para expulsá-la; quando o volume depositado chega a cerca de 750 mL, receptores de estiramento são ativados enviando a mensagem para os centros superiores. NOÇÕES DE FISIOLOGIA HUMANA 37 Sistema Digestório O sistema digestório apresenta como principal função retirar dos alimentos ingeridos os nutrientes necessários para o desenvolvimento e a manutenção do organismo, isto é, o tubo digestivo tem a função de transformar alimento em nutrientes em forma de possível absorção. O organismo humano recebe os nutrientes pelos alimentos e estes têm de ser transformados em substâncias utilizáveis, o que envolve diversos eventos físicos e químicos. Essas reações ocorrem ao longo do tubo digestivo com o auxílio de vários órgãos que lançam nele os seus produtos. O sistema digestivo é subdividido em alto, formado pela boca, faringe, esôfago; médio, composto pelo estômago; e baixo, formado por intestino delgado (duodeno jejuno e íleo) e intestino grosso (ceco, cólon ascedente, cólon transverso, cólon descendente, curva sigmoide reto e ânus). Os ductos gastrointestinais possuem diferentes camadas a túnica mucosa, tela submucosa, túnica muscular e túnica serosa. Tipos Celulares Os principais tipos celulares encontrados no estômago são a musculatura lisa gastrintestinal, responsável pela motilidade gástrica, e os plexos mioentérico e submucoso, que funcionam como uma rede neuronal autônoma; além disso, temos tecido conjuntivo e as células voltadas para o lúmen do sistema como células da mucosa de superfície (secreta muco claro), célula mucosa do cólon (secreta muco escuro), célula parietal (secreta ácido clorídrico e fator intrínseco), a célula principal (secreta pepsinogênio) e célula G produtora de hormônio gastrina. NOÇÕES DE FISIOLOGIA HUMANA 38 Plexos Mioentérico e Submucoso O sistema gástrico possui um sistema neural próprio composto por dois plexos, o mioentérico e o submucoso. Esse sistema nervoso funciona automaticamente a partir da visão do alimento e/ou sua deglutição. Assim que vemos ou sentimos o cheiro de um alimento começamos a salivar, já nos preparando para a alimentação. Após a deglutição, o sistema reconhece inclusive o tipo de alimento que ingerimos, distinguindo entre carboidratos, lipídios ou proteínas. Para cada forma nutricional devemos liberar as enzimas digestivas específicas, para aquele determinado alimento. Tudo isso é controlado pelos plexos mioentérico e submucoso. Todo o peristaltismo, assim como liberação de substâncias digestivas, como saliva, muco, amilase, tripsina, gastrina, todas essas moléculas são liberadas pelo controle dos sistemas mioentérico e submucoso, de acordo com o tipo de alimento ingerido. O sistema gastrintestinal tem como principal neurotransmissor a serotonina (5- hidroxitriptanina). Entretanto, esse sistema sofre com as ações autônomas simpáticas e parassimpáticas. O sistema simpático reduz a atividade gástrica, através da liberação da noradrenalina e adrenalina. Essas moléculas geram reações de fuga e luta, não favorecendo o processo digestivo. Por outro lado, o sistema parassimpático, mediante liberação da acetilcolina, atuando sobre os plexos, aumenta a atividade gástrica, como a motilidade e a liberação de substâncias digestivas como as enzimas e os hormônios controladores. NOÇÕES DE FISIOLOGIA HUMANA 39 Inervações Simpática e Parassimpática Os sistemas simpático e parassimpático atuam sobre os plexos mioentérico e submucoso aumentando a atividade gástrica ou inibindo sua atuação. Entretanto, a molécula que comanda as ações gástrica e digestiva é a serotonina. A atividade simpática atua inibindo a atividade gástrica, enquanto o sistema parassimpático ativa todo o sistema digestório. O sistema parassimpático atua nos plexos mioentérico e submucoso, ativando o sistema serotoninérgico, gerando a motilidade gástrica, assim como a liberação das moléculas digestivas, como colestocininas, gastrina, secretina, entre outras. A atividade serotoninérgica é regulada por neurotransmissores como a acetilcolina, que atua ativando o sistema digestório; já a atividade simpática noradrenérgica inibe o sistema serotoninérgico, inibindo a atividade gástrica. A atividade serotoninérgica dos plexos atua em todos os seguimentos, controlando a liberação de enzimas digestivas relacionadas com o alimento ingerido, pois o controle digestivo consegue reconhecer o alimento ingerido para liberar enzimas digestivas específicas para cada tipo de alimento (carboidratos, lipídios e proteínas). Tais enzimas são liberadas de acordo com a quantidade e o tipo de alimento ingerido mediante controle mioentérico autonômico. Esse sistema independe do sistema nervoso central; ele reconhece, digere, absorve e excreta o alimento ingerido automaticamente, apenas sofrendo interferências aleatórias do sistema autônomo ou mesmo do central interferindo no autônomo, como em caso de um susto ou acidente. NOÇÕES DE FISIOLOGIA HUMANA 40 Motilidade A motilidade gástrica é um conjunto de movimentos dos diferentes segmentos da musculatura lisa gástrica que tem como principal função conduzir os nutrientes ou bolo alimentar através de todo o sistema com diferentes velocidades e direções. A motilidade se inicia a partir da deglutição, impulsionando o bolo alimentar através do tubo digestivo, com partes digestivas, de absorção e áreas de excreção de material não absorvido. O sistema mioentérico desempenha funções essenciais como homogeneização dos alimentos, propulsão aboral, transportando o bolo alimentar, o quimo, excretando bolo fecal. Isso ocorre automaticamente, controlado pela serotonina, sofrendo com as ações autônomas. A musculatura lisa gástrica possui um sistema de atividade espontânea, gerando disparos, como um marca-passo cardíaco (marca-passo gástrico). Esse sistema de disparos é conhecido como complexo mioelétrico migratório (CMM). Esse plexo neuronal atua como um controlador da motilidade gástricagerando pulsos sublimiares que não geram contrações. Esses pequenos potenciais elétricos apresentam frequência de disparo e intensidade variável, sendo estimulada ou inibida por estímulos alimentares como a ingestão de alimentos, uso de drogas, infecções, enjoo, vômito, diarreia. Dessa forma, até mesmo a visão do alimento, entre outros, pode dar início a movimentos contráteis do sistema gástrico. O plexo mioelétrico migratório controla o peristaltismo gastrintestinal de modo automático (autônoma). Ele atua a partir da deglutição do alimento, gerando contrações que levam a alimento por todo o tubo digestivo até sua excreção. Os plexos mientérico e submucoso são compostos por gânglios interconectados através do feixe de fibras musculares, controlando o sistema muscular gastrintestinal. NOÇÕES DE FISIOLOGIA HUMANA 41 Esse sistema gera atividade espontânea de ondas elétricas lentas (potenciais lentos) que atravessam junções gap (junções comunicantes), percorrendo todo o sistema muscular gastroentérico, com diferentes intensidades e direções. Essas ondas elétricas são conhecidas como ondas peristálticas, contrações fásicas, que são ciclos de contração e relaxamento, além de contrações tônicas causadas principalmente pelos esfíncteres. O complexo mioentérico imigratório, quando da ausência do alimento, gera impulsos elétricos sublimiares que não possibilitam a ocorrência de potenciais de ação. Entretanto, a partir da visão ou possibilidade de alimentação, o sistema peristáltico é ativado. Antes mesmo de ingerirmos o alimento o sistema começa a funcionar, liberando saliva e muco para início do processo alimentar. Quando estamos há horas sem comer o sistema gera impulsos acima do limiar (supralimiares), gerando contrações, com objetivo de resgatar algum alimento ainda não utilizado, gerando até alguns sons produzidos pelo peristaltismo. Deglutição O bolo alimentar é empurrado pela língua em direção à faringe (fase voluntária), e, após a deglutição, o alimento inicia as fases faríngea e esofágica, que são reflexas e dependentes de estimulação de receptores. O alimento penetra a faringe e a epiglote bloqueia o acesso às vias respiratórias, seguindo o bolo alimentar para o esôfago. O movimento esofágico é tão eficiente que podemos engolir líquidos de cabeça para baixo. Essa passagem do bolo alimentar da boca para a faringe e o esôfago chama-se deglutição. NOÇÕES DE FISIOLOGIA HUMANA 42 A úvula distende-se, bloqueando as fossas nasais, sendo o bolo alimentar empurrado para a faringe. Dentro do esôfago há esfíncteres esofágicos inferior e superior, sendo o inferior responsável por impedir o refluxo de ácido gástrico, o que é muito comum principalmente em recém-nascidos. O refluxo ocorre por algum problema no esfíncter inferior, possibilitando ao suco gástrico penetrar o esôfago, gerando azia e dor, pois não possui proteção ao pH ácido. Sistema Digestório A boca é considerada órgão inicial do tubo digestivo e nela se localizam a língua e os dentes, responsáveis pela ingestão do alimento e início do processo de digestão, com a trituração e a secreção de substâncias como muco e saliva, que contêm várias substâncias com funções digestivas. Na superfície da língua existem dezenas de papilas gustativas cujas células sensoriais percebem os quatro sabores primários: amargo, azedo ou ácido, salgado e doce. A faringe, uma porção do tubo digestivo, faz a ligação entre a boca e o esôfago. Este conduz os alimentos ao estômago, um órgão em forma de bolsa, de parede muito musculosa onde os alimentos permanecem cerca de 2 a 3 horas. A partir o estômago o alimento atravessa o piloro e o duodeno que funcionam como esfíncteres. Entretanto, o duodeno tem importante função no reconhecimento do alimento e na regulação do processo digestivo, que depende diretamente do alimento ingerido. O intestino delgado é uma porção mais longa do tubo digestivo com 6 a 7 metros de comprimento, razão pela qual se encontra dobrado várias vezes sobre si mesmo. Ele é formado pelo duodeno um segmento inicial, que se segue ao estômago, onde recebe os sucos produzidos pelo fígado pelo pâncreas e pelo jejuno-íleo, uma importante zona de absorção digestiva. O duodeno, com apenas 5% do comprimento total, apresenta NOÇÕES DE FISIOLOGIA HUMANA 43 uma importante função, avaliando o alimento que foi ingerido para facilitar o processo digestivo. O jejuno, com 40% do comprimento total, e o íleo, com 55%, têm como principal função a absorção de nutrientes, sais minerais e água. Nessa parte do sistema encontramos todo o maquinário responsável pela absorção de alimentos/nutrientes. Esses equipamentos gástricos são enzimas de membrana como a lactase, que quebra o leite em glicose mais galactose, os carboidratos prontos para serem transportados. Nessa parte do tubo também encontramos as proteínas transportadoras específicas para os nutrientes a serem absorvidos. O intestino grosso apresenta um diâmetro maior que o do intestino delgado e tem 1,5 m de comprimento. Ele não é enrolado, sendo formado por cólon ascendente, cólon transverso, cólon descendente e sigmoide. Este último termina no reto, que abre para o exterior pelo ânus. Digestão A partir da ingestão do alimento o organismo inicia o processo digestivo, que consiste em reduzir o alimento formado por grandes moléculas a subunidades monoméricas básicas que são absorvidas, como aminoácidos, ácidos graxos e monossacarídeos. O processo digestivo consiste em reduzir ou quebrar os alimentos em moléculas menores, apropriadas para a absorção pelo epitélio gastrintestinal. Esse processo de quebra de moléculas ocorre pela ação de enzimas específicas que quebram (desfazem) ligações químicas das moléculas que formam os nutrientes. Os alimentos sofrem, durante a digestão, uma ação mecânica e outra química. A ação mecânica é desenvolvida pela língua, pelos dentes e pelos movimentos peristálticos que ocorrem ao longo de todo o tubo digestivo. A ação química é NOÇÕES DE FISIOLOGIA HUMANA 44 provocada pelos sucos digestivos (que possuem enzimas) produzidos pelos diferentes órgãos do sistema digestório, como glândulas salivares, pâncreas e fígado. Além disso, o sistema gastrintestinal possui uma flora bacteriana (flora intestinal). Essas bactérias sobrevivem sem ativação de processo imunológico, pois o sistema gastrintestinal é um sistema exócrino (fora do corpo). Elas têm como função facilitar a digestão mediante produção de enzimas digestivas bacterianas. A digestão possui uma fase voluntária, a mastigação, na qual os dentes trituram e moem os alimentos e facilitam a homogeneização, misturando-os com a saliva produzida pelas glândulas salivares. A ação da saliva e dos dentes permite transformar cada pedaço de alimento em uma massa em forma de bolo (bolo alimentar). No estômago o bolo alimentar é transformado, antes de chegar ao intestino delgado. As paredes do estômago estão forradas por glândulas gástricas que segregam o suco gástrico que contém enzimas, ácido clorídrico e muco. Os movimentos peristálticos permitem misturar os alimentos com o suco gástrico, originando uma mistura líquida (o quimo). No intestino delgado ocorrem as últimas fases da digestão, mas também as mais importantes. Quando o quimo passa para o duodeno, estimula a secreção do suco intestinal que contém várias enzimas. Também o fígado lança o suco biliar, que não é enzimático, e o suco pancreático composto por enzimas produzidas no pâncreas. Os nutrientes
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