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1 Raul Bicalho – MedUfes 103 Divisão da aula: Parte 1 – Hemocitopoiese Parte 2 – Sistema Imunitário (NÃO CAI NA PROVA) Parte 3 – Órgãos linfáticos Introdução: O sistema hemolinfopoiético é um sistema que trata como as células do sangue são produzidas e como nossas células de defesa são formadas e habilitadas a praticar a defesa do organismo, ou seja, iremos ver onde as células são formadas, como são formadas e onde elas se tornam imunocompetentes (prontas para interagir com qualquer agente invasor no organismo). PARTE 1 – HEMOCITOPOIESE Introdução: Hemocitopoiese é o processo de formação de células sanguíneas e células de defesa. Envolve vários eventos celulares: renovação celular (manutenção da população de origem), proliferação celular (geração de novas células que seguirão um caminho que não o de manter a população de origem), diferenciação celular (ativação de certos fatores de transcrição de acordo com o local que a célula se encontra e com a secreção de fatores) e maturação celular (para ficar pronta para atuar com sua função final). As células do sangue têm vida curta e são constantemente renovadas por órgãos hemocitopoiéticos. HISTOLOGIA B – AULA 6 – SISTEMA HEMOLINFOPOIETICO / Prof. Marcos 2 Raul Bicalho – MedUfes 103 Etapas da Hemocitopoiese: Inicia no embrião muito cedo, no mesoderma do saco vitelino (+-19 dias gestacionais), quando há o desenvolvimento de eritoblastos primitivos (que irão transformar-se em hemácias), chama-se fase mesoblástica e cessa até a 6ª semana de vida intrauterina. Há também o desenvolvimento de granulócitos e agranulócitos (células do sangue) no fígado em formação ainda no início da gestação (a partir do segundo mês gestacional). Ao mesmo tempo, começa a ocorrer a ossificação da clavícula, encontrando-se dentro dela a medula óssea vermelha em processo de formação, que tem o papel de formação de células do sangue juntamente com o fígado. A fase hepática, porém, cessa ao nascimento, deixando a Hemocitopoiese de inteira responsabilidade da medula óssea (fase medular). OBS.: Faixa inicial com células blásticas: células grandes, com núcleos grandes em relação ao citoplasma, núcleo regular, faixa de citoplasma pequena e bastante corada (geralmente pela hematoxilina por causa da presença de muitos ribossomos). Conforme as células vão diferenciando e ganhando sua característica final, a relação núcleo/citoplasma vai diminuindo (núcleo ficando menor e citoplasma maior), núcleo tende a se condensar e ficar segmentado (podendo ser expulso da linhagem), visto que não é necessário em mesma quantidade que antes, diminuindo a potencialidade da célula. Células-tronco: São encontradas em todos os tecidos, não só na medula óssea como se acreditava antigamente. As células-tronco têm dois destinos possíveis: Ou elas mantêm a população de origem, ou seja, mantêm as células-tronco existindo como tais (capacidade de estocar); ou se diferenciam em outros tipos de celulares. Acredita- se que a decisão de um destino seja aleatória (MODELO ESTOCÁSTICO) 3 Raul Bicalho – MedUfes 103 Porém, para as células-tronco poderem dar origem a qualquer tipo de célula, elas devem passar por induções que vão ser dadas por interações célula-célula ou por fatores de crescimento, de acordo com a necessidade do organismo (MODELO INDUTIVO) Quando se fala de células-tronco, diz-se que elas são totipotentes, ou seja, tem capacidade de virar qualquer tipo de célula. Porém, quando essas células começam a se comprometer com uma linhagem, elas vão perdendo essa potencialidade. Por exemplo, uma célula-tronco pluripotente pode formar uma célula da linhagem de linfoides (linfócitos de vários tipos) ou uma célula da linhagem de mieloides (eritrócitos, granulócitos, monócitos e plaquetas). Essas células se multiplicam apenas o suficiente para manter sua população (menor atividade mitótica que as progenitoras e precursoras). Quando as células começam a se comprometer com certo destino começamos a chamar de células progenitoras, que têm uma potencialidade menor, mas ainda são multipotentes, pois podem formar células diferentes em uma mesma linhagem. Elas podem gerar tanto elas mesmas (autorrenovação), quanto podem gerar células precursoras, isto é, ainda têm características de células-tronco, mas com uma potencialidade menor. Isso é importante porque essas células progenitoras não dependem de nenhuma célula antepassada para continuar trabalhando pois vão conseguir se renovar se precisarem. As células precursoras, por sua vez, são as do final do processo pois já possuem características da linhagem, têm um grande poder de proliferação, porém só dão origem àquela célula que estão destinadas a formar (sem autorrenovação) A Hemocitopoiese depende do microambiente adequado e de fatores de crescimento, fornecidos pelas células do estroma dos órgãos hemocitopoiéticos. Esses fatores regulam a proliferação, a diferenciação e a apoptose de células imaturas, assim como a atividade funcional de células maduras. Tabela da PROVA: OBS.: Lembrar que o processo é contínuo, ou seja, têm-se células-tronco, progenitoras, precursoras e maduras trabalhando ao mesmo tempo, produzindo novas células o tempo todo. Medula óssea: Órgão difuso, ou seja, cortes em diferentes níveis dela não representarão sempre as mesmas características, terá sempre um processo dinâmico. É um órgão volumoso e muito ativo. Possui um tecido conjuntivo vascular com mais características de tecido conj. frouxo, encontra-se colágeno fazendo parte da matriz (tipo III bem abundante formando fibras reticulares que formarão um arcabouço junto das células reticulares para a medula poder agregar as células a ela). É presente no canal medular dos ossos longos e nas cavidades ósseas dos ossos esponjosos. 4 Raul Bicalho – MedUfes 103 Na medula óssea vermelha (M.O.V), as células se dispõem como ilhotas de células, geralmente cada grupo é de uma população parecida (como se fosse um grupo de células “parentes” em diferentes estágios de diferenciação) que irão se agrupar no arcabouço de fibras reticulares. Entre as ilhotas de células, normalmente iremos encontrar capilares sinusoides (têm alta permeabilidade) para as células produzidas na medula conseguirem chegar na circulação sanguínea. A matriz da M.O.V é rica em colágeno tipo I e III; fibronectina, laminina e proteoglicanos (tipos de tecido conjuntivo importantes para adesão) e hemonectina (também é uma proteína de adesão). A medula tem uma presença de microrregiões com determinadas linhagens (formação das ilhotas, tipo “colônias de célula”). Há a capacidade de destruição de linfócitos envelhecidos e armazenamento de ferro (para montagem de novas hemácias). OBS.: No laboratório da Ufes, a lâmina de medula foi feita por esfregaço, deixando as estruturas características ainda mais difusas que o normal. É comum fazer a lâmina por técnica de congelamento para tentar manter a maior parte das características, mas ainda sim a lâmina apresenta-se difusa. Medula não cai na prova prática. OBS.: Alguns autores chamam esses adipócitos de células reticulares adventiciais. Servem para acumular gordura. Encontra-se em maior quantidade em pessoas mais idosas. Nessa lâmina é possível ver também alguns megacariócitos, mas principalmente células em estágio inicial de formação (blásticas), com núcleo grande e outras características desse tipo de célula. Em uma pessoa jovem/criança encontra-se mais medula óssea vermelha (hematógena) rica em hemácias (o que dá sua cor). De acordo com o envelhecimento vai ocorrendo uma substituição por medula óssea amarela (rica em adipócitos) que é menosativa, mas encontram-se nela células mesenquimais, ou seja, a medula óssea amarela pode tornar-se vermelha (+ ativa) de acordo com necessidades do organismo. 5 Raul Bicalho – MedUfes 103 OBS.: Corte congelado. Há a preservação do osso. Dá para ver os adipócitos (células reticulares adventiciais), os capilares sinusoides, as ilhotas de células em formação, grande quantidade de hemácias e alguns megacariócitos. Meia-vida das células sanguíneas: Ciclo de vida pequeno, uma vez formadas não podem mais proliferar (sem potencialidade e atividade mitótica). Porção celular Duração Eritrócitos 120 dias Leucócitos (granulócitos) 6-7h Plaquetas 8-10 dias Linfócitos D, M ou A Monócitos 10-20h Maturação dos eritrócitos: Parte de uma célula grande e um citoplasma estreito bem arroxeado para formar uma hemácia com todas suas características, sendo assim, alguns processos têm que ocorrer para permitir essa transformação. O fundamental para a hemácia formar é a ocorrência de dois processos: síntese de hemoglobina e perda de organelas. O núcleo torna-se cada vez mais picnótico/condensado até ser expulso da célula. Além do núcleo, organelas 6 Raul Bicalho – MedUfes 103 também são expulsas, como ribossomos, visto que ocupam espaço que deve ser ocupado pela hemoglobina na hemácia madura. Esses processos contribuem para a mudança de cor do citoplasma de bem arroxeado para um alaranjado. Fatores determinantes: GM-CSF, IL-3 e Eritropoetina. Figura 13.6: Sumário do processo de maturação das células da linhagem eritrocítica. O pontilhado citoplasmático fino representa a hemoglobina, cuja concentração aumenta com o amadurecimento da célula. Ao mesmo tempo. o volume nuclear diminui, o nucléolo desaparece e a cromatina torna-se mais condensada. As quantidades máximas de hemoglobina e de RNA foram indicadas como 100%, nas curvas mostrando a variação destas substâncias, durante a maturação do eritrócito. O tempo gasto desde o aparecimento do Proeritoblasto até a entrada do reticulócito na circulação é de aproximadamente 7 dias. 7 Raul Bicalho – MedUfes 103 Etapas: Baseadas principalmente na mudança de coloração e na diminuição e consequente perda do núcleo. De acordo com o grau de maturação, as células eritrocíticas recebem nomes diferentes. 1- Proeritoblasto: Características de célula blástica, que sintetiza intensamente proteínas. Célula grande, núcleo esférico, citoplasma basófilo, região perinuclear clara, muito ativo/proliferativo e com assimilação de ferro. 2- Eritoblasto basófilo: Diminuição da célula, núcleo encolhe, citoplasma vai perdendo a cor. É basófilo pela ainda grande quantidade de ribossomos. 3- Eritoblasto Policromático: Continua a diminuir a célula e encolher/condensar o núcleo. Ao mesmo tempo que ainda tem muitos ribossomos, começa a produzir uma quantidade considerável de hemoglobina, o que confere a uma característica acinzentada ao citoplasma decorrente do equilíbrio da coloração pela hematoxilina (basófila) e pela eosina (acidófila). 4- Eritoblasto ortocromático (ou normoblasto): À medida que vai diminuindo e o núcleo vai condensando ainda mais (fica picnótico/inativo), começa a apresentar a coloração mais “correta” (orto = “correto”) por se aproximar do vermelho da hemácia. Isso ocorre pelo aumento da produção de hemoglobina que por promover acidofilia ao citoplasma garante maior coloração pela eosina. Mesmo assim, pode apresentar traços de basofilia devido aos restos de DNA. Aqui o núcleo ainda é existente, porém inativo. Em determinado momento, o normoblasto começa a emitir prolongamentos citoplasmáticos e num desses o núcleo é expelido. 5- Reticulócito: Quando sai o núcleo. Esse processo expõe a presença ainda de alguns polirribossomos que ainda sintetizam hemoglobina até parar por falta de renovação ribossômica devida ausência nuclear. Difere da hemácia por ser um pouco maior e conter alguns vestígios de RNA, que ainda gera uma basofilia mínima (comparada à acidofilia). À medida que o reticulócito é consumido e vai para a corrente sanguínea, há a formação da hemácia, ou seja, as células eritrocíticas saem da M.O.V em forma de reticulócitos e dentro de 1 dia no máximo tornar-se-ão eritrócitos maduros (hemácias). Granulocitopoiese: Processo de formação dos granulócitos (neutrófilo, eosinófilo e basófilo). Novamente inicia com uma célula- tronco totipotente que gera um mieloblasto (célula precursora), ainda multipotente, que já começa a produzir grânulos inespecíficos (lisossomos) direcionando-o para a linhagem de granulócitos e não dos eritrócitos. A partir da próxima etapa a célula começa a ganhar grânulos específicos e alterar a conformação de seu núcleo de 3 formas diferentes, que gerarão os 3 tipos diferentes de granulócitos. Em uma das formas, o mieloblasto formará o promielócito neutrófilo que já começará a produzir os grânulos específicos, o núcleo começa a formar uma chanfradura e a célula começa a diminuir de tamanho. Na próxima etapa, o mielócito neutrófilo, já mostra uma caracterização mais clara de como essa célula vai ser, porém ainda precisa de um refinamento. Então, teremos o metamielócito neutrófilo, que é uma fase intermediária* da segmentação do núcleo. Depois, já temos o neutrófilo com núcleo em bastão (essa que é a fase considerada intermediária pelo livro, que não é descrita nas outras linhagens, acho que o professor confundiu) * que por fim gerará o neutrófilo maduro. Essa linhagem tem maior número de etapas porque seu núcleo sofre muita segmentação. Na linhagem de eosinófilo, já temos menos variação que a de neutrófilo. Do mieloblasto vai para o promielócito eosinófilo, quando os grânulos específicos se tornam evidentes. Daí parte para o mielócito eosinófilo onde os grânulos já estão bastante abundantes e o núcleo já mais chanfrado. Segue para o metamielócito eosinófilo, onde está quase pronto e, por fim, forma o eosinófilo maduro. Na linhagem do basófilo, temos uma fase a menos que a do eosinófilo porque o núcleo dele sofre menos chanfraduras, sendo a célula em que o núcleo se parece mais com o núcleo original. Do mieloblasto, então, parte para 8 Raul Bicalho – MedUfes 103 o promielócito basófilo com a formação já de grânulos específicos. Indo daí para o mielócito basófilo onde as características são mais evidentes e indo direto, por fim, para o basófilo maduro, uma célula que vai se comportar quase igual um mastócito, com grânulos que secretam quimiofatores. Mieloblasto: Célula imatura já determinada para formar exclusivamente os 3 tipos de granulócitos. Citoplasma basófilo com grânulos azurófilos (inespecíficos). Núcleo grande, esférico e cromatina delicada. Promielócito: Menor que o mieloblasto. Núcleo esférico podendo ter uma reentrância. Cromatina mais grosseira. Citoplasma mais basófilo contendo grânulos específicos, ou seja, já é comprometido com alguma das 3 linhagens. Mielócito: Núcleo esférico ou reniforme. Cromatina mais grosseira. Desaparece a basofilia citoplasmática e aumenta a quantidade de grânulos específicos Metamielócito: Núcleo com chanfradura profunda (início do processo de formação dos lóbulos). Fase não identificada em basófilos. Neutrófilo com núcleo em bastão: Fase intermediária identificada na linhagem de neutrófilos onde o núcleo tem a forma de um bastão recurvado. Fase não identificada nas linhagens de eosinófilo e basófilo. 9 Raul Bicalho – MedUfes 103 Maturação de linfócitos: Além de ter o processo de formação, há o processo de maturação paraque a célula se torne imunocompetente. Esse processo de maturação significa a célula ganhar na sua superfície receptores que a ajudem a interagir com o meio externo. Na medula há o linfoblasto depois o pró-linfócito e depois os linfócitos de diferentes linhagens. Esse processo de formação se dá da mesma forma dos anteriores, isto é, inicia com núcleo maior, célula maior e citoplasma mais pálido, daí vai alterando essas características até ficar mais parecido com a célula final. O linfoblasto é a maior célula da série linfocítica, com forma esférica, citoplasma basófilo, sem granulações azurófilas, cromatina relativamente condensada e apresenta 2 ou 3 nucléolos. O prolinfócito já é uma célula menor, com citoplasma basófilo também mas podendo conter granulações azurófilas. Sua cromatina é condensada, porém menos que a do linfócito maduro, célula a qual dá origem. No caso do linfócito B, ele só se torna imunocompetente quando ele recebe anticorpos na superfície. Esse processo ocorre ainda dentro da medula. Depois que ela está formada e imunocompetente, essa célula tem grande capacidade proliferativa, tanto que os linfócitos B proliferam muito em todo o corpo em diversos órgãos formando folículos e diversas estruturas, compondo o fígado, o baço etc. Já os linfócitos T são formados na medula também, mas o processo de maturação se dá no timo. Nessa linhagem, tornar-se imunocompetente significa ganhar na sua superfície receptores chamados de TCR (T-cell receptors) que não são anticorpos. Depois desse processo, os linfócitos T saem do timo e daí ou vão ficar circulantes no sangue (grande quantidade) ou vão se instalar em órgãos chamados de timodependentes. Maturação de monócitos: O processo forma o monócito no sangue, porém não é a célula final. Esse monócito, eventualmente, vai se diferenciar no macrófago. Sendo assim, o monócito é considerado uma célula intermediária. Origina da célula mieloide multipotente que origina todos os outros leucócitos, menos os linfócitos. A célula mais jovem da linhagem é o promonócito, encontrado somente na medula óssea (idêntica ao mieloblasto). O promonócito possui cromatina delicada, citoplasma basófilo, numerosos grânulos azurófilos finos (lisossomos). Além disso, apresentam complexo de Golgi grande e reticulo endoplasmático desenvolvido. Os promonócitos formam os monócitos que vao para o sangue, no qual permanecem cerca de 8h e depois migram para o tecido conjuntivo atravessando a parede de vênulas e capilares, onde se diferenciam em macrófagos. 10 Raul Bicalho – MedUfes 103 Origem das plaquetas: Plaquetas são fragmentos/pedaços de um megariócito. O processo de formação dos megacariócitos inicia no megacarioblasto, caracterizado por um núcleo bastante liso e que vai se tornando irregular à medida que o processo avança para formar o megacariócito, que vai sofrer uma fragmentação do citoplasma que é jogada no interior dos sinusoides e circulação sanguínea na forma de plaquetas. O megacarioblasto é uma célula com núcleo grande, oval ou reniforme, com numerosos nucléolos. O núcleo é poliploide e o citoplasma é homogêneo e intensamente basófilo, além de ser rico em retículos endoplasmáticos liso e rugoso. Já o megacariócito é uma célula maior, com núcleo irregularmente lobulado e cromatina grosseira, sem nucléolos visíveis nos esfregaços. O citoplasma é abundante e levemente basófilo. Contém numerosas granulações que formam os cromômeros das plaquetas. Durante a maturação, aparecem grânulos citoplasmáticos que são precursores do hialômero das plaquetas e contêm diversas substâncias biologicamente ativas. Os megacariócitos são adjacentes aos capilares sinusoides, o que facilita a liberação das plaquetas para o sangue. PARTE 2 – SISTEMA IMUNITÁRIO (Não cai na prova) O sistema imunitário é formado por órgãos linfáticos e células isoladas (refere-se a linfócitos T circulantes no sangue, a linfócitos B que se diferenciam em plasmócito, a macrófagos etc.), isto é, as células que circulam no nosso corpo (sangue ou tecidos, principalmente TCPD) com a função de defesa. Os órgãos linfáticos, por sua vez, são, por exemplo, o timo, o baço, as tonsilas, os linfonodos, ou seja, órgãos com uma função importante para a defesa do organismo. Esse sistema se refere a defesa do nosso organismo contra microrganismos e moléculas estranhas (antígenos), que produzem uma resposta imune. São considerados os microrganismos invasores (fungos, bactérias, protozoários, vírus), as nossas células que têm o padrão de expressão gênica alterado (por um vírus, por exemplo), as células cancerosas e os órgãos transplantados. Além desses, venenos/toxinas também podem ser considerados antígenos/corpos estranhos ao gerar uma resposta imune do organismo. Resumindo, as células do sistema imunitário são capazes de distinguir as moléculas que são próprias do corpo (self) das moléculas estranhas (non-self), que incluem aquelas nossas células próprias que foram de alguma forma alteradas, como as células cancerosas). Após identificar, o sistema coordena a inativação ou destruição delas. 11 Raul Bicalho – MedUfes 103 As estruturas desse sistema são os nódulos/folículos linfáticos, os linfonodos, o baço, o timo, as células livres (linfócitos, granulócitos e sistema mononuclear fagocitário) e as células apresentadoras de antígenos. Órgãos linfáticos: São o timo, o baço, os linfonodos e os nódulos/folículos linfaticos. Além disso, há o MALT (tecido linfatico associado à mucosa), que no tubo digestório é tão específico que pode ser chamado de GALT. Existem órgãos linfáticos centrais e periféricos. Os órgãos linfáticos centrais são os locais de maturação de linfócitos. Na medula óssea ocorre a maturação de linfócitos B e no timo ocorre a maturação de linfócitos T. Essa maturação é aquele ganho de receptores no superfície da célula (anticorpos no Linfócito B e TCR no linfócito T). Os órgãos linfáticos periféricos são os locais de migração dos linfócitos, onde eles proliferam e completam a diferenciação. Há os órgãos (ou regiões de órgãos) timo dependentes, onde há presença de linfócitos T (Exs.: zona paracortical do linfonodo, bainha periarterial da polpa branca do baço, placa de peyer) e os órgãos timo indenpendentes, onde há acúmulo de linfócitos B (Exs.: regiões do baço, timo, linfonodos e folículos linfáticos). Além de nas regiões timo dependentes, os linfócitos T também são presentes circulando no sangue. Tipos básicos de resposta imunitária: Existem respostas de base celular e respostas de base humoral, com muitas interconexões entre elas. Quando se fala de uma base de imunidade celular, refere-se a uma célula causando um efeito a uma célula próxima a ela. Esse efeito vai desde uma fagocitose até uma liberação de enzimas que vão perfurar a membrana da célula vizinha e levar a sua morte. Resumindo, é uma célula induzindo a morte de outra por um contato mais direto. Nesse tipo de resposta, atuam os mastócitos (produzindo substâncias quimioatrativas, conduzem fagocitose), células fagocitárias, macrófago principalmente etc. Nessa resposta celular, por exemplo, uma célula é invadida por um vírus, daí seu MHC I da membrana plasmática (como um “crachá” da célula que expressa suas proteínas endógenas) começa a expressar partículas/proteínas virais. Esse MHC I é inspecionado por linfócitos T citotóxicos (CD8), que ao perceber a invasão, consegue gerar a lise dessa célula por perforinas que abrem orifícios na membrana ou gerar a apoptose do invasor por indução, além de gerar células de defesa/memória. 12 Raul Bicalho – MedUfes 103 Quando sefala de uma base de imunidade humoral, refere-se a produção de anticorpos que vão agir a distância produzindo um efeito àquela célula invasora. A resposta ocorre basicamente da seguinte forma: O nosso organismo possui os linfócitos B imunocompetentes, ou seja, com a membrana plasmática cheia de anticorpos, que virtualmente podem reconhecer qualquer proteína ou substância estranha, sendo assim, quando seu organismo é invadido por um corpo estranho, há primeiro uma inspeção para o organismo “descobrir” qual o linfócito B consegue reconhecer aquele antígeno, isto é, aquele linfócito que tem um receptor que encaixe. A partir daí, aquele linfócito tem que aumentar em quantidade, para isso inicia um processo de expansão clonal e logo depois um processo de geração de população de memória daqueles linfócitos, caso o organismo volte a ser infectado pelo mesmo corpo estranho. Além disso, uma população desses linfócitos tem que diferenciar em plasmócitos, visto que os linfócitos não são capazes de produzir anticorpos contra o antígeno que reconhece. Esses anticorpos têm como importante função se combinar especificamente com o atígeno que reconhece e, então, provocar o aparecimento de sinais químicos, indicando a presença do invasor aos outros componentes do sistema imunitário. Seguindo esse pensamento, teoricamente teríamos a chave para sobreviver a qualquer infecção, porém como o tempo de resposta varia e pode demorar para completar todos os processos, um invasor muito patogênico/agressivo pode acabar levando o indivíduo à morte. É por isso que as células de memória são importantes, visto que tornam esse processo mais rápido. 13 Raul Bicalho – MedUfes 103 Há uma interconexão entre os dois tipos de resposta, visto que os linfócitos B podem ser ativados também por uma resposta de base celular. Isso acontece com a presença de células apresentadoras de antígenos (células dendríticas, macrófagos, células de Langerhans e linfócitos B). No caso do macrófago, ele fagocita uma bactéria, por exemplo, pela resposta celular. Daí ele fragmenta essa bactéria no lisossomo e expõe aquilo na superfície dele (só as células apresentadoras de antígenos são capazes de fazer isso porque só elas possuem MHC II), quando isso acontece, esse antígeno pode ser inspecionado por um linfócito T Helper (CD4), que ao perceber algo de errado, pode liberar fatores que vão recrutar linfócitos B, ativando- os para diferenciar em plasmócitos, gerando uma resposta de base humoral. Além dos linfócitos T e B, existe também a célula NK (natural killer). O linfócito NK não apresenta na superfície nem os marcadores encontrados nas células B, nem os que caracterizam as células T. São chamados natural killers porque atacam células cancerosas e células infectadas por vírus, sem necessidade de estímulo prévio. Células apresentadoras de antígenos 14 Raul Bicalho – MedUfes 103 PARTE 3 – ÓRGÃOS LINFÁTICOS Timo: Órgão linfoepitelial, com células de origens epitelial (células reticulares epiteliais) e mesenquimal (linfócitos T). Localizado no mediastino. Apresenta dois lobos e é encapsulado (cápsula de tecido conjuntivo denso). A cápsula emite trabéculas que separam o timo em lóbulos irregulares. A estrutura do timo pode parecer feita de folículos, porém esse órgão não apresenta nódulos/folículos, visto que essas estruturas são compostas de linfócitos B, células que não são encontradas no timo, sendo que ele é responsável pela maturação de linfócitos T (células mais abundantes nesse órgão). Cada lóbulo do timo é composto de córtex (+externo) e medula (+interno). O córtex é formado por células reticulares epiteliais (não secretam fibras reticulares) que emitem prolongamentos citoplasmáticos que se encontram e se juntam por desmossomos com os prolongamentos de outras iguais, formando um arcabouço onde os linfócitos T vão se agregar. Além das reticulares epiteliais, os linfócitos T também formam o córtex, e é nesse local que eles estarão se multiplicando intensamente, a maioria sofrendo apoptose e sendo fagocitada logo em seguida pelos macrófagos também presentes no córtex, mas alguns linfócitos seguem em processo de maturação (recebendo os TCR na membrana), não podendo, então, estar em contato com o sangue diretamente, para que essas células não sejam estimuladas antes de se tornarem completamente imunocompetentes (não pode haver contato com o sangue apenas na janela temporal de maturação da célula, antes e depois não tem problema). Para isso, no córtex se encontra a barreira hematotímica que promove essa proteção. Essa barreira é formada por um 15 Raul Bicalho – MedUfes 103 capilar contínuo (não fenestrado) com sua célula endotelial, seu pericito, sua lâmina basal envolvendo e uma célula reticular epitelial também com sua lâmina basal envolvendo tudo isso, camadas que controlam o fluxo de nutrientes. Quando os linfócitos T tornam-se imunocompetentes, eles migram para a medula, onde ganham a corrente sanguínea. O timo não é um órgão de filtração de linfa, portanto não se encontram vasos linfáticos no timo, principalmente os aferentes, ou seja, no máximo se encontram vasos linfáticos eferentes acompanhando os vasos sanguíneos. O tecido da medula se apresenta mais frouxamente organizado (+ claro no HE), visto que os linfócitos T já se encontram maduros, com uma relação citoplasma/núcleo um pouco maior, isto é, citoplasma um pouco mais visível. As células reticulares epiteliais, na medula, podem se agregar por desmossomos e formar uma estrutura chamada de Corpúsculo de Hassal, como se fosse um grânulo/concrescência de várias dessas células dispostas concentricamente, onde ocorre uma “hialinização” / acúmulo de colágeno tipo I (é um achado histológico). O corpúsculo não possui uma função diferenciada das células reticulares epiteliais sozinhas, que seria a secreção de alguns fatores de desenvolvimento do próprio timo, por exemplo. Podem degenerar e morrer, deixando restos celulares que podem calcifcar (principalmente as mais centrais). Na diferenciação entre córtex e medula é importante lembrar que no córtex há a presença da barreira hematotímica, já na medula a presença do corpúsculo de Hassal. A vascularização do timo vai acompanhar todo o trajeto do tecido conjuntivo, ou seja, chega pela cápsula, acompanha o caminho do septo para poder penetrar na intimidade do timo, vai se estabelecer no parênquima cortiço- medular, ou seja, seu caminho inicial assim que sai do septo é no limite entre córtex e medula. Alguns vasos vão em direção ao córtex (já protegidos pela barreira hematotímica) e outros vão para a medula. O retorno venoso segue o trajeto contrário. CH OBS.: Córtex mais escuro com os linfócitos em processo de maturação e células reticulares epiteliais. Medula mais clara com linfócitos T já maduros e células reticulares epiteliais também, podendo estas formarem corpúsculos de Hassal. OBS.: Células reticulares epiteliais (Estarão na prova prática). 16 Raul Bicalho – MedUfes 103 O timo é um órgão que sofre grande involução durante a vida, atinge seu tamanho máximo na puberdade, a partir daí diminui ao passar do tempo. Um timo envelhecido apresenta uma grande quantidade de adipócitos, sendo a região cortical a mais afetada e a medular um pouco mais persistente, ainda tendo os corpúsculos de Hassal visíveis. Linfonodos/Gânglios linfáticos: Órgãos importantes para a filtração da linfa. São encapsulados (cápsula de tecido conjuntivo denso). Estão presentes no trajeto de vasos linfáticos, principalmente axilas,virilhas, adjacentes a vasos do pescoço, no tórax e no abdome, especialmente no mesentério. Possuem formato reniforme com a presença de um hilo. Possuem células reticulares, que produzem fibras reticulares formadoras do arcabouço desse órgão. Também é dividido em córtex e medula. A circulação de linfa é unidirecional nesse órgão, ou seja, possui vasos linfáticos que chegam até ele (aferentes) e outros vasos linfáticos que saem dele (eferentes) seguindo uma mesma direção. A cápsula do linfonodo é perfurada por vasos linfáticos aferentes, que irão trazer a linfa recolhida em diversas partes do corpo. Ao perfurar a cápsula, esses vasos linfáticos vão cair no primeiro seio, o seio subcapsular, que não é 17 Raul Bicalho – MedUfes 103 um espaço vazio e sim um tecido linfático frouxo, que parece uma esponja, rico em fibra reticular que age como uma trama em que a linfa vai passando e é filtrada com a ajuda da fagocitose que os macrófagos fazem. A partir do seio subcapsular, a linfa vai pelos seios peritrabeculares (nas trabéculas emitidas pela cápsula) e, eventualmente, vai desembocar num seio medular, levando a linfa para fora do linfonodo por vasos linfáticos eferentes, que saem do hilo. Ao longo desse processo, antígenos são capturados, macrófagos fazem fagocitose, linfócitos B são estimulados pelos antígenos, ou seja, linfonodos são “filtros” da linfa, retirando partículas estranhas antes que a linfa retorne à circulação sanguínea. Há uma regiçao cortical superficial (tecido linfoide frouxo), que é o local com a presença de folículos e predominância de linfócitos B; e uma região cortical profunda (paracórtex), que é rica em linfócito T (timo dependente) e não apresenta folículos. Já a medula é formada por duas estruturas, os seios medulares, que é por onde a linfa transita, e os cordões medulares, agregados de células de desfesa (macrófago, fibras/céls reticulares, linfócitos B principalmente...). Trajeto da linfa: Seio subcapsular → Seio peritrabecular → Nódulos linfáticos → Seios medulares → Vasos linfáticos eferentes. Outras estruturas do linfonodo são as vênulas de endotélio alto, que se encontram principalmente na região paracortical do linfonodo. Sua função é a recirculação de linfócitos, ou seja, os linfócitos B que saem de um linfonodo e precisam chegar em outro vão primeiro pelos vasos linfáticos eferentes até a corrente sanguínea, daí para entrarem no outro linfonodo irão utilizar os vasos sanguíneos que pentram essa estrutura, no caso atravessam a parede do vaso sanguíneo (de dentro do vaso) em direção ao interior do linfonodo, para isso usam essas vênulas de endotélio alto. O endotélio é alto porque ele tem vários receptores de membrana que facilitam a passagem/diapedese da célula (linfócito) entre uma célula endotelial e outra (passagem química e não mecânica). Prova: Região paracortical do linfonodo. 18 Raul Bicalho – MedUfes 103 OBS.: Vênula de endotélio alto com setas apontando para suas células cuboides (endoteliais altas). Baço: Órgão linfático bastante grande, maior acúmulo de tecido linfoide do organismo. Tem uma função que lembra a do linfonodo, porém em vez de filtrar antígenos da linfa, filtra antíigenos do sangue. Por isso, está interposto na circulação sanguínea. É um órgão de defesa contra os microorganismo que invadem o sangue. É também responsável pela destruição de hemácias/eritrócitos velhos. São ricos em células fagocitárias. É local de amadurecimento dos linfócitos B (não é onde se torna imunocpompetente, o que ocorre na medula), ou seja, onde eles apenas se proliferam bastante. O baço é um filtro fagocitário e imunolócio para o sangue. Além de ser local de produção de anticorpos. Não contém vasos linfáticos no ser humano. O baço é formado por uma cápsula de tecido conjuntivo denso e uma camada de músculo liso (diferente das outras cápsulas), essa musculatura é importante quando contrai em momentos de estresse (liberação de adrenalina) e ajuda a disponibilizar mais sangue pro organismo, contribuindo para a oxigenação dos músculos muito necessárias em “momentos de luta ou fuga”. Essa característica é mais pronunciada em animais. A estrutura do baço não é cortical e medular. Sua cápsula também emite trabéculas, porém essas são essenciais para o funcionamento do órgão. O que ocorre é que na cápsula há uma artéria capsular, que gera as artérias trabeculares nas trabéculas. Quando essa artéria sai da trabécula e ganhe uma parte do interior do baço, ela ganha o nome de Artéria Central, ao redor dela acumulam-se linfócitos T (região timo dependente) e ao redor deles forma uma população de linfócitos B, gerando uma estrutura que parece muito um folículo. Essa artéria central emite ramos que vão formar uma irrigação periférica no folículo que constitui o seio marginal. Todas essas estruturas formam a polpa BRANCA do baço. Polpa branca: Artéria central, bainha periarterial de linfócitos T, folículo de linfócitos B e seio marginal de vasos sanguíneos riquíssimos em macrófagos que fazem fagocitose nessa região. As polpas brancas estão mergulhadas num mar de polpa vermelha. 19 Raul Bicalho – MedUfes 103 OBS.: A Artéria Central tem esse nome mas pode ser “periférica”, ou seja, não sair pro centro da estrutura e sim “para os lados”, como na imagem. Pergunta na prova escondida nessa imagem. Essa artéria central dá ramos chamados de artérias penicilares, que vão invadir agora a polpa vermelha. Essas artérias, muitas das vezes, vão desaguar em capilares sinusoides (importantes para filtração do sangue) que possuem uma circulação sanguínea bem lenta e ao redor deles têm-se massas de tecido ricas em macrófagos, linfócitos B etc. Essa transferência para os sinusoides pode ser direta (por circulação fechada) ou indireta (por circulação aberta), de acordo com diferentes interpretações/autores. Essa polpa vermelha se origina no momento que essas artérias penicilares dirigem o sangue a ela, que vão se dirigir aos capilares sinusoides, ou também chamados de seios esplênicos 20 Raul Bicalho – MedUfes 103 que irão entrar pro retorno venoso que sairá pela veia esplênica do hilo do baço. Entre os seios esplênicos, as masssas de tecido são os cordões esplênicos. A polpa vermelha, portanto, é formada por cordões esplênicos/cordões de Billroth (massas de células como reticulares, fibras reticulares, macrófagos, linfócitos B e T, plasmócitos, monócitos, leucócitos, granulócitos, eritrócitos e plaqueas) e os seios espênicos (vasos sinusoides). Tecido linfático associado à mucosas (MALT): Formação de folículos (acúmulos de linfócitos B). Protegem regiões com grande contato com o meio externo (trato digestivo, respiratório e geniturinário). Tonsila palatina: Grande coleção de folículos (linfócitos B). Também estão em regiões estratégicas. Esquematizado em uma região mais clara, o centro germinativo (maior parte) e uma região mais escura superficial que é a zona do manto. Essas duas áreas se referem a linfócitos em diferentes estágios de desenvolvimento. ZM CG Cuidado com pegadinhas se referindo a córtex ou medula no baço, pois ele não é dividido dessa forma. Por exemplo, é errado falar seios medulares em baço, o correto são seios esplênicos.
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