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Sistemas Produtivos II Versão III, Revisão Junho 2013 1 D e p a rt a m e n to d e E n g e n h a ri a d e P ro d u ç ã o e S is te m a s Sistemas Produtivos II DPS 1025 – Material de Aula Profº Dr Marcelo Battesini marcelo-battesini@ufsm.br Departamento de Engenharia de Produção e Sistemas Centro de Tecnologia - Universidade Federal de Santa Maria - RS Versão II, Revisão Março 2014. Sistemas Produtivos II Versão III, Revisão Junho 2013 2 D e p a rt a m e n to d e E n g e n h a ri a d e P ro d u ç ã o e S is te m a s Sumário Apresentação ................................................................................................................................ 3 1. Caracterização de Sistemas de Produção ........................................................................... 4 1.1 Conceituação e elementos ...................................................................................................... 4 1.2 Formas de Produção e Operações de Manufatura ............................................................... 13 1.3 Decisão sobre alternativas de SM ........................................................................................ 15 1.4 Medidas e Conceitos de desempenho de SM ...................................................................... 17 Capacidade de Produção .............................................................................................................................................. 18 Taxa de Produção......................................................................................................................................................... 18 Takt Time ...................................................................................................................................................................... 19 Utilização ...................................................................................................................................................................... 20 Disponibilidade ............................................................................................................................................................. 20 Tempo de atravessamento ........................................................................................................................................... 20 Inventário em processo ................................................................................................................................................. 21 Lei de Little ................................................................................................................................................................... 21 2. Tecnologias de Automação e Controle .............................................................................. 23 2.1 Introdução e histórico ............................................................................................................ 23 2.1.2 Elementos básicos de um sistema automatizado ................................................................................................. 24 2.2 Sistemas de Controle Industrial ............................................................................................ 27 2.2.1 Níveis de automação ........................................................................................................................................... 28 2.2.2 Variáveis e parâmetros monitorados .................................................................................................................... 29 2.2.3 Funções automatizadas avançadas ..................................................................................................................... 29 2.3 Sensores, Acionadores e Controladores lógico programáveis ............................................. 30 2.4 Robótica Industrial ................................................................................................................. 35 2.5 Captura Automática de Dados .............................................................................................. 36 2.5.1 Equipamentos de captura automática de dados ................................................................................................... 36 2.5.2 Tecnologias de Código de barras ......................................................................................................................... 37 2.6 Princípios e estratégias de Automação ................................................................................. 39 3. Sistema de Movimentação de Materiais ............................................................................. 42 3.1 Introdução à manipulação de materiais ................................................................................ 42 3.2 Sistemas de Acondicionamento e Transporte de Materiais .................................................. 43 3.2.1 Contentores e Equipamentos de Unificação ......................................................................................................... 44 3.2.2 Equipamentos de Transporte de materiais ........................................................................................................... 45 3.3 Sistemas de Estocagem ........................................................................................................ 51 3.3.1 Performance de Sistemas de Estocagem ............................................................................................................. 52 3.3.2 Estratégias de alocação de estocagem ................................................................................................................ 52 3.3.3 Métodos utilizados em sistemas de Estocagem ................................................................................................... 54 3.4 Planejamento e Dimensionamento equipamentos de movimentação de materiais ............. 56 3.4.1 Análise quantitativa de sistemas baseados em veículos ...................................................................................... 57 3.4.2 Análise quantitativa de sistemas baseados em transportadores ........................................................................... 57 4. Sistemas de Manufatura ..................................................................................................... 60 4.1 Caracterização de Sistemas de Manufatura ......................................................................... 60 4.1.1 Descrição do esquema de classificação ............................................................................................................... 62 4.2 Manufatura Célula de Estação de Trabalho Única ............................................................... 64 4.2.1 Células manuais de estações únicas ................................................................................................................... 64 4.2.2 Células automatizadas de estações únicas .......................................................................................................... 65 4.2.3 Análise de sistemas de Estações Únicas ............................................................................................................. 65 4.2.4 Análise de Clusters de Máquinas ......................................................................................................................... 67 4.3 Tecnologia de Grupo e Manufatura Celular .......................................................................... 68 4.3.1 Famílias de Partes ............................................................................................................................................... 69 4.3.2 Projeto das Máquinas na Célula ...........................................................................................................................74 4.4 Sistemas Flexíveis de Manufatura ........................................................................................ 77 4.5.1 Análise Quantitativa de SFM ................................................................................................................................ 79 4.5 Linhas de Montagem Manuais .............................................................................................. 84 5. Sistemas de Suporte à Manufatura .................................................................................... 97 5.1 Manufatura integrada por computador (CIM), Manufatura auxiliada por computador (CAM) e Desenho assistido por computador (CAD) .................................................................................. 97 5.2 Manufatura Enxuta ................................................................................................................ 98 5.2 Manufatura Ágil ................................................................................................................... 101 6. Sites e links ....................................................................................................................... 104 7. Apêndices ......................................................................................................................... 105 Apêndice 1. Plano de Ensino SP II ........................................................................................... 105 Apêndice 2. Trabalho Final e Atividade Extra ........................................................................... 106 Sistemas Produtivos II Versão III, Revisão Junho 2013 3 D e p a rt a m e n to d e E n g e n h a ri a d e P ro d u ç ã o e S is te m a s Apresentação O presente texto foi desenvolvido para proporcionar material de apoio à disciplina de Sistemas Produtivos II (SP II), ministrada em cursos de graduação do curso de Engenharia de Produção da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM - RS). O objetivo do texto é fornecer fundamentação teórica qualitativa e quantitativa para a compreensão e o projeto de Sistemas Produtivos. O livro texto Automation, Production Systems, and Computer-Integrated Manufacturing de Mikell P. Groover é adotado como referência básica e o modelo proposto pelo autor é utilizado para caracterizar os elementos constituintes de um SP, assim como para estruturar as seções e a divisão de conteúdos aqui abordados. O texto está estruturado em cinco capítulos do material de apoio. O capítulo de introdução expõe uma visão geral, destacando a os elementos constituintes, seus relacionamentos e as finalidades e dos sistemas produtivos, com ênfase na produção de produtos com partes discretas. O segundo capítulo trabalha conceitos de Tecnologias de Automação utilizadas no controle informatizado de processos e das atividades de fabricação, máquinas, equipamentos e dispositivos em geral, bem como a relação entre o fluxo de informações e a gestão da empresa. O terceiro capítulo caracteriza os Sistemas de Movimentação de Materiais utilizados na manipulação de materiais, e apresenta seu dimensionamento determinístico, destacando o fluxo de produtos no âmbito de Sistemas de Produção. O quarto capítulo são caracterizados os Sistemas de Manufatura, sendo apresentados nas formas de Estações de Trabalho Única, de Células, de Linhas e de Sistemas Flexíveis, assim como é abordado seu dimensionamento determinístico. Ao final do material, são abordados os sistemas que dão suporte à manufatura, com ênfase nas atividades de controle da manufatura, e é caracterizada a integração de sistemas produtivos, através da informatização de atividades administrativas e gerenciais, assim como são discutidas as estratégias de gestão de manufaturas tradicional, enxuta e ágil. Este material apresenta um recorte de conteúdo intencional alinhado com a súmula proposta para a disciplina de Sistemas Produtivos II, complementando os conteúdos abordados na disciplina de Sistemas Produtivos I. Busca-se enfatizar a competência dos alunos em compreender e projetar processos de produção/manufatura, evitando sombreamentos de conteúdos com outras disciplinas ofertadas no curso de Engenharia de Produção, apesar de estar estreitamente imbricada com estas. Nesse sentido, não são abordados conteúdos a serem tratados em outras disciplinas típicas do curso de Engenharia de Produção, a exemplo de Planejamento e Controle da Produção I e II, Projeto de Instalações e Leiaute, Planejamento Industrial, Sistemas da Qualidade e Simulação de Eventos Discretos. O recorte apresentado abrange conteúdos relacionados aos Sistemas Produtivos propostos para a Engenharia de Produção pelo Conselho de Engenharia e Arquitetura (CREA) e pela Associação Brasileira de Engenharia de Produção (ABEPRO): Sistemas de Produção, Organização industrial, Automação dos processos industriais, Equipamentos automatizados, Sistemas de controle da produção, Movimentação e armazenagem, Arranjo físico de máquinas, equipamentos e facilidades, e Movimentação de materiais e fluxo de produção, Gestão da Informação, Gestão de Sistemas de Produção e Operações e Projeto de Fábrica e de Instalações Industriais. Pretende-se que o conjunto de conhecimentos aqui apresentados propicie aos alunos o desenvolvimento de conhecimentos e habilidades, instrumentos essenciais à tomada de decisão e à adoção de uma atitude ética, empreendedora e inovadora no exercício de suas profissões. Sistemas Produtivos II Versão III, Revisão Junho 2013 4 D e p a rt a m e n to d e E n g e n h a ri a d e P ro d u ç ã o e S is te m a s 1. Caracterização de Sistemas de Produção 1.1 Conceituação e elementos A concepção e operação de Sistemas de Produção (SP) estão relacionadas à forma como os mesmos são compreendidos. Nesta seção são apresentados definições de SP e os modelos adotados por alguns autores para representa-los, bem como a forma como eles estruturam o conjunto de conhecimentos necessários ao seu estudo, buscando responder a questões como: O que é um SP? Como os SP podem ser representados? De que forma os conteúdos relacionados ao estudo de SP são organizados? Manufaturar pode ser definido como a aplicação de processos físicos e químicos para alterar a geometria, propriedades e/ou a aparência de um dado material inicial para fazer partes ou produtos, incluindo juntar múltiplas partes na montagem de produtos (Groover, 2001). O autor caracteriza manufaturar a partir de duas perspectivas: tecnológica, que se refere à aplicação de processos para alterar um dado material inicial e fazer peças ou produtos, além de também incluir a junção de múltiplas partes na montagem de produtos; e econômica, que se refere a transformação de materiais em itens de maior valor através de uma ou mais operações de processamento ou montagem. Processo de Manufatura Material Inicial Produto ou Parte Completa Rejeito e/ou Resíduo Maquinário Ferramentas Energia Trabalho Material Inicial Produto ou Parte Completa Processo de Manufatura Adição de Valor Material em Processo Representação tecnológica e econômica de manufaturar A primeira enfatiza o processo de manufatura/produção/prestação de serviço necessário, destacando os elementos constituintes, enquanto a segunda enfatiza a adição de valor produzida, em detrimento do processo que produz a transformação. Um exemplo da ênfase tecnológica é dado em (Shingo, 1996, p. 37), que entende Produção como uma rede de processos e operações no tempo e no espaço, onde o processo se refere à transformação de matérias primas em produtos, sendo visualizado como o fluxo demateriais, enquanto as operações se referem à interação entre equipamentos e operadores, correspondendo o fluxo de trabalho realizado para efetivar esta transformação. Já (Ohno, 1997, p. 30) descreve o mesmo sistema a partir da ênfase no valor adicionado, gerado pela redução de desperdícios (custos). Para o autor, o Sistema Toyota de Produção é um método de produção adotado pela empresa para atuar de forma competitiva em um ambiente de crescimento econômico lento, caracterizando-o como um conceito em administração que funciona em qualquer tipo de negocio. A ênfase na adição de valor também é caracterizada em (Krajewski, Ritzman, & Malhotra, 2009, p. 13), para quem os desafios atuais e futuros demandam que as empresas administrem seus processos e cadeias de valor das empresas de modo a maximizar sua competitividade no mercado que atuam, exigindo a capacidade de assegurar que atinjam seus objetivos. Baseado nessa filosofia, que foca na capacidade de adicionar valor como diferencial competitivo, os autores estruturam os conteúdos relacionados a administração de Sistemas Produtivos II Versão III, Revisão Junho 2013 5 D e p a rt a m e n to d e E n g e n h a ri a d e P ro d u ç ã o e S is te m a s operações em três blocos sequênciais que reforçam a compreenção da inserção da empresa em seu ambiente, a utilização de seus processos como vantagem competitiva e as relações da empresa com seus pares, como apresentado na Figura à seguir. Usando Operações para Competir Operações como arma competitiva Estratégia de Operações Administração de Projetos Administrando Processos Estratégia de Processo Análise de Processo Desempenho e Qualidade de Processos Administração das Restrições Leiaute do Processo Sistemas de Produção Enxuta Administrando Cadeias de Valor Estratégia de Cadeia de Suprimentos Localização Administração de Estoques Previsão de Demanda Planejamento de Vendas e Operações Planejamento de Recursos Programação A inserção do cliente ou consumidor nos modelos que representam os SP produz uma diminuição na distância entre as perspectivas tecnológica e econômica, gerando modelos mais complexos e representativos, onde aparecem os elementos que compõem o SP suas finalidades, como discutido a seguir. Os processos de transformação, usualmente, são desenvolvidos por empresas e organizações que podem ser analogamente entendidas como sistemas abertos. Genericamente, um sistema é um conjunto de elementos, ou partes, inter-relacionadas que existe para atingir um objetivo comum, envolto por um ambiente que o envolve externamente com o qual realizam trocas. Segundo (Chiavenato, 2005, p. 15), um Sistema de Produção é a maneira como a empresa administra seus elementos componentes e realiza operações de produção, desde a chegada de materiais dos fornecedores ao almoxarifado de matérias primas (MP) até alcançarem o depósito de produtos acabados (PA), como representado a seguir. Almoxarifado MP Empresa Depósito PAProdução Ambiente Entradas Fornecedores Saídas Clientes Dinâmica de funcionamento de um SP Uma reflexão interessante sobre as diferentes maneiras de abordar o estudo da administração da produção, segundo (Gaither & Frazier, 2002, pp. 14-20), caracterizam a produção como um sistema, que combina as perspectivas tecnológicas e econômicas caracterizando as entradas o sistema de transformaçao e as saídas, a produção como uma função organizacional, que enfatiza a necessidade de articulação entre a função produção e as demais funções organizacionais, ou a partir das decisões tomadas na administração da produção, adotada pelo autor para apresentar os conteúdos da administração da produção, que distingue decisões estratégicas, operacionais e de controle, como apresentado a seguir. Sistemas Produtivos II Versão III, Revisão Junho 2013 6 D e p a rt a m e n to d e E n g e n h a ri a d e P ro d u ç ã o e S is te m a s Tipo de Decisão Conteúdo Estratégicas: produtos, processos, instalações e tecnológicas Planejamento do produto e processo; Tecnologia de produção; Capacidade de produção; Planejamento da localização e do Leiaute Operacionais: planejamento da produção Planejamento da produção, de recursos e de estoques; Controle do chão de fábrica; Administração da cadeia de suprimentos Controle: operações Produtividade dos recursos humanos; Qualidade; e Gestão de projetos Outro modelo utilizado para caracterizar a Administração da Produção é o proposto em (Slack, Chambers, & Johnston, 2009, p. 25), ver figura a seguir, onde a perspectiva tecnológica da manufatura é combinada à loopings de atividades (estratégia e gestão de operações), usualmente adotados para caracterizar a Administração da Produção. Segundo o autor, Administração da Produção é a atividade de gerenciar recursos destinados à produção e disponibilização de produtos e serviços, sendo a função produção responsável por esta atividade, que juntamente com as funções marketing e desenvolvimento de produtos / serviços são funções centrais na organização, que conta também com as funções de apoio contábil- financeira e recursos humanos. Processo de Transformação De Transformação: Instalações e Pessoas Entrada de Recursos (input) Saída de Produtos e Serviços (output) A serem Transformados: Materiais, Informação e Consumidores Consumidores Planejamento e Controle MelhoramentoProjeto Estratégia de Operações Objetivos Estratégicos da Operação Papel e posição competitiva da operação Gestão de Operações Estratégia de Operações As decisões efetivas de operações são derivadas de uma sólida estratégia, demandando mais que a capacidade de projetá-las (Krajewski, Ritzman, & Malhotra, 2009, p. 13). É importante também compreender as noções de planejamento do produto, do processo e da produção, atividades distintas, com finalidades diversas e que ocorrem em momentos do tempo diferentes. As atividades de projeto de produtos e de processos são interrelacionadas (Slack, Chambers, & Johnston, 2009, p. 89). Segundos os autores, projetar é conceber a aparência, arranjo e a estrutura de algo antes de construí-lo; produtos devem ser projetados de modo a satisfazer ao consumidor e a que sejam eficazmente produzidos; e projetos de processo determinam a configuração geral de um processo, a sequencia de atividades e o fluxo dos recursos transformados. Segundo (Groover, 2001, pp. 775-831), planejamento do processo é dedicado a requisitos de engenharia e tecnológicos necessários para fabricar as partes e montar produtos, tais como, equipamentos e ferramental. Já o planejamento da produção é dedicado a requisitos logísticos para fazer o produto. O Planejamento do Processo envolve determinar: o processo mais apropriado para manufaturar/montar e a sequência na qual eles deveriam ser realizados para produzir uma parte ou produto de acordo com as especificações estabelecidas na documentação do projeto do Sistemas Produtivos II Versão III, Revisão Junho 2013 7 D e p a rt a m e n to d e E n g e n h a ri a d e P ro d u ç ã o e S is te m a s produto, incluindo: a interpretação de desenhos e projetos, definir processos necessários e seu sequenciamento, a seleção de equipamentos e ferramentas, e a definição de padrões de Trabalho (Groover, 2001, p. 776). Segundo o autor, o resultado do Planejamento do Processo é a determinação dos detalhes técnicos, a aquisição de materiais e a obtençãode recursos para fazer o produto, em quantidades suficientes para atender a demanda, sendo usualmente realizado por Engenheiros de Manufatura, também referidos como, Engenheiro Industrial, Engenheiro de Produção e Engenheiro de Processos. Nessa conceituação, o Planejamento Avançado da Manufatura se referiria a uma forma específica do Planejamento do Processo, por ter foco no futuro e ser dedicado a produtos programados em planos de longo prazo da companhia, ao invés dos produtos atualmente produzidos, o que inclui: a avaliação de novas tecnologias, a gestão de projetos de investimento, o Projeto das Instalações e a Pesquisa e Desenvolvimento da Manufatura (Groover, 2001, p. 791). Por sua vez, o Planejamento da Produção é dedicado a decidir quais, quantos e quando produzir os produtos incluindo o controle de sua produção; escala de entrega e /ou produção de partes ou produtos; e planejamento da força de trabalho e dos recursos de equipamentos necessários para realizar o plano de produção, incluindo as atividades de desenvolver o Planejamento Agregado da Produção, o Plano Mestre da Produção, Planejamento de requerimentos de materiais e Planejamento da Capacidade de Produção (Groover, 2001, p. 797). Este material recorta as atividades de projeto/planejamento do processo enquanto estratégia didática, preservando a discussão sobre o melhoramentos e planejamento e controle para outras disciplinas do curso de Engenharia de Produção, tais como, Qualidade e Planejamento e da Produção. O termo sistema de produção frequentemente utilizado como sinônimo de sistema de manufatura ou sistema de montagem, sendo também utilizados os termos linha, fábrica e planta para descrever diferentes tipos e tamanhos de sistemas de produção (Bellgran & Säfsten, 2010, pp. 43-45). No entendimento das autoras, como produção é o processo de criação de bens e / ou serviços através da combinação de material, trabalho e capital, podendo ser produção de bens, produção de serviços de consultoria, música ou produção de energia, a noção de manufaturar é hierarquicamente superior à de produzir, ou seja, um sistema de manufatura pode ser composto por um conjunto de sistemas de produção. A realização do produto é um amplo conceito, que envolve o desenvolvimento do produto e da produção, processos integrados e mutuamente dependentes para alcançar eficiência, que fazem parte do processo de inovação que e do ciclo de vida do produto (Bellgran & Säfsten, 2010, pp. 43-45). Metas e Estratégias Pesquisa e Desenvolvimento Planejamento do Produto Projeto Planejamento do Processo Produção Montagem Distribuição Vendas Uso Reuso Inovação Ciclo de Vida do Produto Realização do Produto Desenvolvimento da ProduçãoDesenvolvimento do Produto O modelo a seguir representa essa concepção, onde se pode distinguir o processo onde ocorre a realização do produto (produção) do sistema (manufatura) que o realiza, como apresentado na Figura a seguir. Sistemas Produtivos II Versão III, Revisão Junho 2013 8 D e p a rt a m e n to d e E n g e n h a ri a d e P ro d u ç ã o e S is te m a s Desenvolvimento de Produto Desenvolvimento da Produção Funções de Suporte Outras Funções de Suporte Processo de Realização do Produto Identificação e formulação das necessidades do Consumidor Realização das necessidades do Consumidor Input Output Consumidor FornecedoresConsultores De acordo com as autoras, o processo de desenvolvimento de sistemas de produção não tem sido focado da mesma forma que o processo de desenvolvimento de produtos, seja na academia ou na indústria, mesmo sabendo-se que o investimento de recursos humanos e financeiros nos início do desenvolvimento de sistemas produzem menos distúrbios e uma melhor performance final (Bellgran & Säfsten, 2010, pp. 43-45). Com base nesse entendimento e na sua concepção de sistemas de manufatura, as autoras propõem uma estrutura, e um percurso estruturado, que cobre os principais passos no desenvolvimento de sistemas de produção, fundamentados empírica e teoricamente, conforme Figura a seguir. C o n te xt o e P er fo rm an ce Planejar Projeto Preparatório Especificação do Projeto Projetar e Avaliar Realização e Planejamento Inicializar (Start-up) Implementar Gestão e Controle Forma de Trabalho Estruturada Como pode ser observado, a estrutura destaca aspectos contextuais do desenvolvimento e performance de sistemas de produção com ênfase na tarefa de desenvolvimento, realçando a distinção entre planejar e implementar o sistema de produção. Além da ênfase na atividades realizadas e na sua finalidade, Sistemas Produtivos, também podem ser concebidos e estudados a partir de seus elementos constituintes e das relações entre os mesmos. Os níveis de fábrica e de empreendimento se constituem em uma forma útil para a ordenação de conteúdos relacionados ao estudo de SPs, permitindo distinguir seus elementos constituintes que tocam, ou não, fisicamente os produtos, assim como seus relacionamentos. Este texto utiliza como estrutura de referência para a ordenação dos conteúdos abordados a definição de SP e o modelo para representa- los proposto por (Groover, 2001). Um Sistema de Produção (SP) se refere a uma composição de pessoas, equipamentos e de procedimentos organizados para a combinação de materiais e processos que realizam as operações de manufatura de uma empresa, não incluem somente as máquinas e Sistemas Produtivos II Versão III, Revisão Junho 2013 9 D e p a rt a m e n to d e E n g e n h a ri a d e P ro d u ç ã o e S is te m a s estações de trabalho na fábrica, mas também os procedimentos de suporte que permitem que estes funcionem (Groover, 2001). Sistemas de Suporte a Manufatura Tecnologias de Movimentação de Materiais Sistemas de Controle de Qualidade Nível de Empreendimento Nível de Fábrica (Instalações) S is te m a P ro d u tiv o Sistemas de Manufatura Processos de Manufatura e Operações de montagem Tecnologias de Automação e Controle Relacionamento entre elementos de Sistemas Produtivos Como pode ser observado na Figura a acima, o autor faz distinção entre um SP e Sistema de Manufatura (SM), considerando que este se refere a um conjunto de equipamentos projetados para uma função específica, incluindo também os trabalhadores. Nesse entendimento, os Sistemas de Manufatura representam um conceito mais restrito que o de Sistema Produtivo, ou seja, os SM compõem os SP que seriam hierarquicamente superiores. As Instalações de um SP consistem da fábrica, dos equipamentos e da forma como os equipamentos estão organizados na fábrica. Os Sistemas de Suporte a Manufatura (SSM) são o conjunto de procedimentos usados pela companhia para gerenciar a produção e para resolver problemas técnicos e logísticos, encontrados nos pedidos de materiais, trabalho de movimentação através da fábrica, garantia da qualidade, além de incluir funções de negócio e o desenvolvimento de produtos. Instalações As instalações em Sistemas de Produção são a fábrica, as máquinas e ferramentas de produção, os equipamentos de manipulação de materiais e de inspeção e os sistemas computacionais que controlam as operações de manufatura, além do leiaute (arranjo físico dos equipamentos na fábrica). Os sistemas de manufatura da fábrica se referem ao arranjo lógico dos equipamentos e os trabalhadores que os operam. Os sistemas de manufatura tocam o produto (entram em contato físico direto com as partes do produtoque está sendo processado ou montado) e podem ser células individuais de trabalho, ou serem dispostos em linhas de produção compostas por diversas máquinas e trabalhadores. Entre os fatores mais importantes na determinação do sistema de manufatura mais apropriado a cada situação estão à quantidade e a variedade de produtos a serem produzidos. Quando os produtos são produzidos/montados em partes discretas, tais como, televisões, carros, calçados, etc..., a quantidade produzida possui grande influência sobre as instalações e a forma como a manufatura é organizada. A Quantidade anual de peças / produto pode ser Baixa (1 a 100un), Média (101 a 10.000un) ou Alta (10.001 acima). Da mesma forma, a variedade, que se refere ao número de tipos diferentes de produtos produzidos (diferentes formas, tamanhos ou Sistemas Produtivos II Versão III, Revisão Junho 2013 1 0 D e p a rt a m e n to d e E n g e n h a ri a d e P ro d u ç ã o e S is te m a s estilos) pode ser grande (Hard) ou pequena (Soft). Uma grande variedade (Hard) ocorre quando os produtos diferem substancialmente (carros e camionetes), já uma pequena Variedade (Soft) acontece quando existem somente pequenas variações entre os produtos, ou seja, existe uma alta proporção de partes comuns entre os produtos produzidos/montados. Existe uma correlação inversa entre quantidade produzida e a variedade, como pode ser visto na abaixo. Quantidade (un) Va rie da de 100 10 mil Baixa 1 Média Alta 1 milhão Relação entre Quantidade e Variedade na manufatura discreta Quando a Variedade é alta a Quantidade produzida tende a ser baixa, e vice-versa. As plantas de manufatura tendem a se especializar em combinações de Quantidade e Variedade de produção de forma a se acomodar entre a faixa diagonal da Figura acima. Em geral, as empresas procuram limitar a Variedade de produtos. Produção em Pequena Quantidade: Este tipo de produção é associado a pequenas quantidades de produtos/peças especializados, personalizados (customizados) e tipicamente complexos, tais como, navios, locomotivas, aeronaves ou maquinários pesados especiais. Os pedidos tendem a ser especiais, desta forma os equipamentos e a força de trabalho devem ser altamente especializados. O trabalho é planejado para possuir uma grande flexibilidade para lidar com a enorme variedade (Hard) de produtos/peças. Quando o produto é pesado e grande ele permanece na mesma localização pelo menos até o final da sua montagem, desta forma os trabalhadores e os equipamentos de processamento, e caso necessário as suas partes através de guindastes, são movimentados até o produto. Esse tipo de produção utiliza um leiaute de posição fixa, ver Figura abaixo (a), sendo que as suas partes individuais são frequentemente produzidas em fábricas com leiaute de processo, ver Figura abaixo (b). Trabalhador Equipamento móvel PRODUTO (a) (c) (d) (b) Trabalhadores Estações de Trabalho Fluxo de Trabalho Máquinas Trabalhadores nas estações Fluxo de Trabalho Unidade de Trabalho Leiaute de instalações de manufaturas: (a) de posição fixa; (b) de processo; (c) celular; (d) de produto Sistemas Produtivos II Versão III, Revisão Junho 2013 1 1 D e p a rt a m e n to d e E n g e n h a ri a d e P ro d u ç ã o e S is te m a s No leiaute de processo as diferentes partes requerem diferentes sequências de operações necessárias para seu processamento, desta forma, os equipamentos normalmente são arranjados de acordo com o sua função (dobra, corte, ...) ou tipo ( tornos, furadeiras, ...). A vantagem do leiaute em processo é a sua flexibilidade para acomodar uma grande variedade de sequências de operações. A sua desvantagem é que o maquinário e os métodos para produção de uma parte não são planejados para ter uma alta eficiência, e desta forma, é necessária uma grande manipulação de material entre os setores. Produção em Média Quantidade: A produção em média quantidade pode se dividida em dois tipos dependendo da variedade dos produtos. Quando a variedade é Hard, a abordagem é a produção em lotes, normalmente os lotes se repetem e os equipamentos possuem uma capacidade superior a demanda, e desta forma, são compartilhados entre os diferentes produtos. Nesta abordagem, os produtos geralmente são produzidos para estoque, tendo como desvantagem o grande tempo demandado para o setup (troca de ferramenta e reprogramação do equipamento) entre operações. Quando a variedade é Soft, normalmente não são necessários muitos setup entre produtos e é possível configurar os equipamentos de tal forma que, grupos de produtos similares sejam produzidos no mesmo equipamento sem que seja preciso significantes mudanças. A produção/montagem é realizada em células compostas de várias estações de trabalho, Figura acima (c), sendo que o termo Manufatura Celular é frequentemente associado a este tipo de produção. Cada célula é planejada para uma limitada variedade de configuração de peças, desta forma, a célula é especializada em produzir uma variedade de produtos/peças similares, de acordo com princípios de grupos de Tecnologia (ver Capítulo 4). Produção em Grande Quantidade: A produção em grande quantidade é frequentemente chamada de produção em massa. Ela se caracteriza por uma alta taxa de demanda por produtos, que são manufaturados em instalações dedicadas àquele produto. A alta produção em Grande Quantidade pode ser em alta taxa de produção ou em Grande Quantidade ou em Linha de Produção. Quando a produção é em alta taxa de produção, partes unitárias, ou peças únicas, de equipamentos são produzidas em máquinas dedicadas com ferramentas específicas como, por exemplo, prensas equipadas com punções ou moldes para estampagem. Neste tipo de produção normalmente o leiaute utilizado é de Processo, ver Figura acima (b). Quando a produção é em Fluxo de Linha as partes dos produtos as estações de trabalho são dispostas em sequência, sendo fisicamente movidas através das estações, de forma a completar o produto. As estações de trabalho/trabalhadores são equipadas com ferramentas especializadas, planejadas de forma a maximizar a eficiência do processo. A linha (segmentos de linha) é conectada através de esteiras transportadoras e, a cada estação, é realizada uma parte do trabalho total. Neste tipo de produção normalmente é utilizado o leiaute de Produto, ver Figura acima (d), para produzir eletrodomésticos e carros. Na situação pura não existe variação nos produtos da linha, mas esta modalidade admite quando necessário (demanda de mercado por variantes) a introdução de variações, como ocorre nas modernas linhas de montagem de carros. Sistemas de suporte a manufatura Os sistemas de suporte a manufatura são utilizados para operar eficientemente as instalações de produção, eles auxiliam a empresa a se organizar em atividades tais como, o planejamento dos processos e equipamentos, o desenvolvimento e controle do plano de produção e o atendimento dos requisitos de qualidade dos produtos. O suporte a manufatura envolve um ciclo de processamento de informações, que Sistemas Produtivos II Versão III, Revisão Junho 2013 1 2 D e p a rt a m e n to d e E n g e n h a ri a d e P ro d u ç ã o e S is te m a s pode ser representado por um círculo, que consiste de 04 funções básicas de suporte a manufatura: funções de negócio, desenvolvimento de produtos, planejamento e controle da manufatura. Fu nç õe s d e N eg óc io Desenvolvimentode Produto Controle da Manufatura Pl an ej am en to da M an uf at ur a Instalações Pedido do Consumidor Ciclo de processamento de informação em uma empresa de manufatura típica As funções de negócio são o principal meio de comunicação com os consumidores e estabelecem o início e o final do ciclo de processamento de informações (fluxo em duas vias), incluindo vendas e marketing, previsão de demanda, ordens de compra, custos contábeis e faturamento ao consumidor. O desenvolvimento de produtos inicia a partir de uma demanda do mercado consumidor, este processo normalmente ocorre a partir das informações fornecidas pelo departamento de marketing, e podem envolver pesquisa e desenvolvimento, projeto de engenharia, esboço e, muitas vezes, protótipos. O planejamento da manufatura se constitui das atividades de (a) planejamento do processo, onde é determinada a sequência de processamento e operações de montagem individuais para processar determinada parte de um produto; (b) planejamento da produção, que é a listagem dos produtos a serem feitos, suas quantidades e datas de entrega; (c) planejamento de recursos, baseado na listagem dos componentes individuais a serem produzidos, matérias primas podem ser compradas/requisitadas do estoque, todas estas atividades são chamadas de Material Requirements Planning (MRP), ou planejamento de recursos de materiais; e (d) planejamento de capacidade, que complementa o planejamento geral da produção com o planejamento de recursos, da força de trabalho e do maquinário. O controle da manufatura é relacionado à administração e controle das operações físicas na fábrica e inclui o controle do chão de fábrica (monitora o processamento/montagem, movimentação de materiais e inspeção), controle de estoque e controle de qualidade (assegura que os produtos/partes atendam as especificações através de inspeções). O fluxo de informações (fluxo em duas vias) entre o planejamento e o controle da manufatura ocorre inicialmente a partir do planejamento. A maioria dos modernos sistemas de suporte a manufatura são implementados por sistemas computacionais, cuja automação é dirigida a reduzir a quantidade de trabalho manual e burocrático. A automação dos sistemas de suporte a manufatura são direcionados para reduzir a quantidade de trabalho manual e burocrático. O termo Computer Integrated Manufacturing (CIM), ou manufatura integrada por computador, significa o uso extensivo e integrado de um único sistema computacional no projeto de produtos, planejamento da manufatura, e controle da manufatura e nas funções de negócio das empresas. O CIM é composto por outros sistemas específicos, tais Sistemas Produtivos II Versão III, Revisão Junho 2013 1 3 D e p a rt a m e n to d e E n g e n h a ri a d e P ro d u ç ã o e S is te m a s como o Computer Aided Design (CAD, Projeto assistido por computador), o Computer Aided Manufacturing (CAM, Manufatura assistida por computador) e o Material Requirements Planning (MRP Planejamento de Recursos de Materiais). Quando os sistemas CAD e CAM trabalham integrados eles são expressos como CAD/CAM. Ao apresentar o relacionamento entre as atividades físicas e os sistemas de suporte a manufatura, a Figura anterior explicita também o fluxo de informações e de seu processamento integrado entre os sistemas automatizados e CIM. As atividades físicas (processamento, montagem, manipulação de materiais e operações de inspeção) que entram em contato direto com o produto e são realizadas na fábrica podem ser representadas pelo fluxo (atravessamento) das matérias primas até serem transformadas em produtos acabados. Já as atividades de processamento das informações, através das 04 funções básicas de suporte a manufatura, funcionam como uma campainha que ecoa no chão da fábrica, fornecendo os dados e conhecimentos necessários para uma produção bem sucedida. Mesmo em empresas altamente automatizadas o trabalho manual é necessário, tais como, a manutenção de equipamentos, programação e operação de computadores/máquinas, projetos de engenharia e gerenciamento da planta produtiva. 1.2 Formas de Produção e Operações de Manufatura As empresas de manufatura podem ser caracterizadas em função do tipo de atividades que elas realizam e do tipo de produtos fabricados. As indústrias de manufatura consistem em negócios e organizações que produzem e/ou fornecem bens e/ou serviços, podem ser primárias, secundárias ou terciárias (serviços). Primária Secundária Terciária Agricultura Aeroespacial Automotiva Bancário Florestal Bebidas Materiais construção Comunicações Pesca Eletrônica Vidro e Cerâmica Educação Pecuária Papel e Gráficas Maquinário pesado Governo Mineração Farmacêutica Refinamento Petróleo Entretenimento e Turismo Petrolífera Plástico Têxtil Saúde Granjas de criação Madeira e Móveis Pneus e Borrachas Transporte Indústrias primárias, secundárias ou terciárias A produção pode ocorrer sob a forma de produção contínua ou por lotes (partida, batelada), tanto por processos (química e farmacêutica) quanto em partes ou produtos discretos (computadores e automóveis). Em produções contínuas os equipamentos são dedicados especificamente ao processo, e desta forma o fluxo de produção não sofre interrupções, nem tampouco possui um tempo de duração. No caso de indústrias onde a produção ocorre por processo, a sua alimentação e a saída são ininterruptas, sem solução de continuidade, como ocorre na produção de produtos em forma física de gás, pó, semi-sólida e líquida, ver Figura abaixo (a). Já no caso de indústrias onde a produção é por produtos/partes discretas, a alimentação e a saída ocorrem através de unidades identificáveis, ver Figura abaixo (b). Processo de Manufatuta (a) Material inicial Produto ou Parte completa Processo de Manufatuta (b) Material inicial Produto ou Parte completa Sistemas Produtivos II Versão III, Revisão Junho 2013 1 4 D e p a rt a m e n to d e E n g e n h a ri a d e P ro d u ç ã o e S is te m a s As produções por lotes ocorrem quando são produzidas quantidades finitas de materiais (lotes), seja por limitação dos equipamentos, diferença entre lotes ou por exigência legal. No caso de produção por processo, os lotes são processados como uma unidade, normalmente na forma líquida ou de uma massa, ver Figura abaixo (c). Já no caso da produção de produtos/partes discretas, a alimentação e a saída ocorrem através de unidades identificáveis, mas em quantidades limitadas ao tamanho do lote, que na situação limite pode ter tamanho unitário, ver Figura abaixo (d). Em empresas de manufatura discreta as operações/atividades de fábrica são processamento, montagem, manipulação de materiais, inspeção e teste, e coordenação e controle (GROOVER, 1996). Com exceção da coordenação e controle, as demais tocam o produto. É mais fácil de compreender a adição de valor produzida pelas operações de processamento e montagem, mas se for considerado que a adição de valor se dá através da totalidade das operações de manufatura, ela também ocorre através das demais operações. As operações de processamento podem adicionar valor através de alteração da forma, propriedades ou aparência inicial dos materiais, transformando os materiais de um estado de acabamento em um estado mais avançado que é mais próximo do estado final (parte/produto). Estas transformações podem ocorrer através da utilização de energia mecânica, térmica, química, elétrica ou até mesmo humana. A energia normalmente é aplicada, seguindo uma determinadasequência, por máquinas/ferramentas, mas são os trabalhadores que, na maior parte dos casos, realizam o controle das máquinas, sua supervisão ou a sua alimentação e descarga, antes e após cada ciclo de operação. As operações de processamento podem ser diferenciadas, com base no material inicial, em: (a) operações de modelagem, que utilizam a energia para alterar a geometria do material através de: processos de solidificação, onde um material líquido ou semilíquido atravessa uma cavidade, onde é moldado de forma a adquirir, após seu resfriamento, a forma desejada (fundição de metais e moldagem de plásticos e vidros), processos de particulados, onde o material inicial é um pó que é submetido a compressão (com aquecimento ou não) para adquirir a forma da cavidade desejada (metalurgia e cerâmica), podendo ou não receber sedimentação de materiais em pó sobre sua superfície para melhorara suas características, processos de deformação, onde um metal dúctil é deformado (forja, extrusão, laminação e dobra de chapas), processos de remoção de material, onde são removidos excessos de material da peça inicial através de torneamento, perfuração, ou fresagem; (b) operações de melhorias das propriedades são utilizadas para melhorar as propriedades mecânicas ou físicas dos materiais através do calor, como ocorre com metais e vidros, ou da sedimentação de material em pó aquecido sobre a superfície de metais ou materiais cerâmicos (metalização e esmalte cerâmico) e; (c) operações de processamento de superfícies, que incluem a limpeza, o tratamento de superfícies e revestimento. A limpeza química ou mecânica é utilizada para a remoção de sujidades superficiais. O tratamento de superfície, que inclui o martelamento e jateamento com areia, é utilizado como acabamento final ou para a preparação de superfícies para operações seguintes do processamento. Nas Processo de Manufatuta (c) Material inicial Produto ou Parte completa LoteLote Processo de Manufatuta (d) Material inicial Produto ou Parte completa Lote Lote Sistemas Produtivos II Versão III, Revisão Junho 2013 1 5 D e p a rt a m e n to d e E n g e n h a ri a d e P ro d u ç ã o e S is te m a s operações de revestimento, um fino filme de material é aplicado sobre a superfície da peça, tais como a pintura, anodização e galvanização. As operações de montagem são utilizadas para unir permanentemente duas ou mais partes individuais para formar uma nova entidade. As uniões podem ser do tipo que dificilmente podem ser desmontadas (solda, colagem e rebites) ou do tipo que pode ser facilmente desmontada (encaixes, parafusos, porcas e pinos). Alguns processos podem utilizar mais de uma destes métodos, como por exemplo, a montagem de circuitos eletrônicos. Geralmente são necessárias operações de manipulação de materiais e estocagem entre processos. Na maioria das indústrias, que possuem produção em lotes ou customizada, é gasto mais tempo com manuseio, movimentação e estocagem do que em operações de processamento, e em alguns casos, estes gastos representam a maior parte do custo do trabalho de manufatura. Como pode ser visto na Figura abaixo, do tempo utilizado na máquina, apenas 30% (1,5% do total) é utilizado na operação de processamento. Gasto de tempo típico em uma manufatura por lotes ou customizada. As operações de inspeção e teste são atividades de controle de qualidade. O propósito da inspeção é a verificação do atendimento das partes do produto aos padrões de especificações (dimensões, tolerâncias, ...), enquanto o teste geralmente está mais relacionado a verificação funcionais do produto. A coordenação e controle representam o maior ponto de interação entre as operações físicas sobre os produtos e as atividades de processamento de informações dos processos produtivos. Eles incluem as atividades de processamento/montagem e também as de gerenciamento de toda a planta produtiva. Em nível de processo o controle envolve a obtenção da performance objetivada através dos parâmetros utilizados no controle para o processo. Em nível de planta o controle envolve o uso efetivo da mão-de-obra, da manutenção de equipamentos, da movimentação de materiais, estoques, entrega no prazo de produtos de qualidade e a manutenção da operação da indústria com o menor custo possível. 1.3 Decisão sobre alternativas de SM As instalações dos SM dependem da variedade e da quantidade a serem produzidas. Quando o SM possui uma grande flexibilidade o seu custo correspondente de produção é também alto (GAITHER, 2001). De outro lado quando o SM é focado no produto, seu custo de produção é relativamente baixo, mas o processo se torna inflexível, uma vez que os equipamentos e o treinamento dos funcionários são específicos. Um aspecto interessante em relação aos SM é que o ciclo de vida do processo produtivo tende a evoluir em função do ciclo de vida dos produtos, caracterizando uma interdependência entre os ciclos de vida dos processos e dos produtos. Tempo de Máquina Movimentação e espera Tempo na Fábrica Tempo na Máquina 30% 70% Corte Alimentação, posicionamento, aferição, etc... 5% 95% Sistemas Produtivos II Versão III, Revisão Junho 2013 1 6 D e p a rt a m e n to d e E n g e n h a ri a d e P ro d u ç ã o e S is te m a s Os processos produtivos afetam os custos de produção, a qualidade do produto e o volume de produtos que pode ser vendido. Já o volume de produtos vendidos justifica ou não o tipo de processo de produção. Dois fatores importantes na escolha do tipo de SM, ao serem desenvolvidas estratégias para as diferentes linhas de produtos a serem produzidas, são a determinação do volume de vendas esperada para cada produto e o número de modelos necessários para garantir a aceitação do mercado (Meredith, 1999). Além destes, deve ser avaliada a necessidade do capital a ser investido (valor atual líquido, taxa interna de retorno), o custo do capital (período de retorno do investimento) e os custos de produção dos diferentes métodos disponíveis. As diversas alternativas de SM apresentam diferentes funções de custo de produção. Uma função custo relaciona os custos fixos e variáveis com o número de unidades produzidas em alguma unidade de tempo (geralmente ano). Os custos podem ser fixos, quando ocorrem independentemente do volume a ser produzido (custos iniciais de equipamentos, instalações, com capital, etc...), ou variáveis, quando se dependem do volume produzido (mão-de-obra, materiais, etc...). A análise de equilíbrio é baseada na suposição que todos os custos de produção ou de prestação de serviços podem ser divididos em fixos e variáveis (Krajewski, Ritzman, & Malhotra, 2009, p. 20). A análise de break-even (ponto de equilíbrio) relaciona esses custos para identificar o ponto a partir do qual é vantajoso implantar um sistema de manufatura, podendo também ser utilizada para optar entre diferentes alternativas de sistemas de manufatura. A equação a seguir apresenta o comportamento do Custo Total de produção do período, em relação ao Custo Fixo e Custo variável por unidade, onde Q= número de unidades produzidas por período. CTotal=CFixo + CVariável * Q Para uma dada quantidade de produtos vendida é possível comparar a receita total obtida (R=Q*Lucro por unidade por período) com os custos totais no ponto de equilíbrio, sendo vantajosa a alternativa nos casos em que R > CTotal PE. Exemplo 1 Uma empresa deseja optar entre três alternativas de sistemas de manufatura uma linha de montagem automatizada, uma manufatura celular e uma Job Shop, respectivamente,com os seguintes custos previstos para o ano seguinte: fixos, $2,25 milhões, $1,11 milhões, $0,5 milhão; e variáveis $2, $4, e $6 / un. Sabendo que a receita obtida com cada unidade vendida é de $11, calcule o ponto de equilíbrio para cada alternativa. linha CTotal=2,25*10 6 + 2 * Q 11*Q=2,25*10 6 + 2 * Q Q=250.000 un/ano célula CTotal=1,11*10 6 + 4 * Q 11*Q=1,11*10 6 + 4 * Q Q=157.142,9un/ano Job CTotal=0,5*10 6 + 6 * Q 11*Q=0,5*10 6 + 6 * Q Q=100.000 un/ano Observe que para quantidades menores que 100 mil un/ano qualquer SM é deficitário; que é vantajoso produzir no sistema Job Shop somente quando a quantidade for superior a 100 mil un/ano até o limite de 157,14mil un/ano, quando é melhor produzir com o arranjo celular desde que a quantidade produzida não ultrapasse a 250mil un/ano, sendo que em quantidades superiores a essa dever-se-ia optar pelo sistema em linha. Sistemas Produtivos II Versão III, Revisão Junho 2013 1 7 D e p a rt a m e n to d e E n g e n h a ri a d e P ro d u ç ã o e S is te m a s A explicação e os gráficos esta diferente dos slides Como pode ser visto, a linha de montagem automatizada possui um custo fixo muito superior aos das demais alternativas, devido a robótica, controles computadorizados e equipamentos de manuseio de materiais necessários. Já os seus custos variáveis são menores que as demais alternativas, o que significa que seus custos por unidade de tempo não se elevam rapidamente a medida que o volume de produção aumenta, como pode ser observado através da menor inclinação da sua função custo. A manufatura celular apresenta custos fixos e variáveis intermediários entre a linha automatizada e uma Job Shop, que apresenta um menor custo fixo e um maior custo variável. Apesar da análise de break-even é amplamente utilizada para comparar alternativas de manufatura, ela possui algumas fragilidades quando comparada a outros métodos: a sua incapacidade em lidar de forma direta com a incerteza, é admitida como hipótese que todos os custos e volumes são conhecidos e há suposição de que os custos se mantêm ao longo da faixa de volumes possíveis e, além disto, a análise não considera o valor temporal do dinheiro. 1.4 Medidas e Conceitos de desempenho de SM As fabricas tendem a limitar deliberadamente o seu escopo de operações/processos, de forma a executar ações específicas (manufatura focada/especializada). A Capabilidade (Capability) de um SM se refere às limitações técnicas e físicas, podendo se referir a capabilidades tecnológicas de processamento (apenas modelos A e B ou apenas cortes longitudinais em peças roliças de madeira); ou a capabilidades físicas, relacionadas às dimensões de peças ou ao dimensionamento do SM (tamanho e/ou peso de peças, ou a limitação na quantidade a ser produzida em um determinado período de tempo). Essas limitações são resultado de opções realizadas ao implantar o SM, que por sua vez foram baseadas na demanda existente e na prevista. Os conceitos utilizados para investigar o desempenho de SM podem ser expressos quantitativamente com base em medidas de desempenho que podem expressar: capacidade física: capacidade de produção, taxa de produção e takt time; e eficiência: utilização, disponibilidade, tempo de atravessamento e inventario em processo. A seguir serão apresentadas a definições e equações de medidas determinísticas de desempenho de SMs, em relação a modelos ideais, negligenciando assim complicadores normalmente presentes nas situações reais, tais como: taxas de defeituosos, variações nos tempos dos ciclos de operações ou de inadequada sequência das operações. 2.250.000 $ 1.110.000 500.000 100.000 250.000 Un/tempo JS Celular LM Sistemas Produtivos II Versão III, Revisão Junho 2013 1 8 D e p a rt a m e n to d e E n g e n h a ri a d e P ro d u ç ã o e S is te m a s Capacidade de Produção A Capacidade de Produção (CP) é a taxa máxima de saída que uma instalação de produção (linha de produção ou centros de trabalho) consegue produzir assumidas determinadas condições de operação, sendo dependente do tempo disponível e da taxa de produção. A CP pode ser calculada através da equação abaixo, assumindo que as unidades processadas em cada centro de trabalho são homogêneas e as taxas de produção são as mesmas para todas as unidades produzidas. CP=n S H Rp (pç ou un mensais/semanais/diárias) Onde: n é o número de centros de trabalho que produzem; S (Shift) é o número de turnos por período (turnos/semana); H é o número de horas/turno; Rp é a taxa de produção de cada centro de trabalho (un/hora). Em uma manufatura de partes/produtos discretos existe uma tendência em definir a CP de uma planta para as 24 horas/dia, trabalhando durante 7 dias/semana, o que corresponde a 168 horas/semana, referente ao máximo tempo disponível. Taxa de Produção A Taxa de Produção (Rp, Production Rate) em indústrias de partes discretas é usualmente expressa como uma quantidade produzida por hora. O tempo útil pode ser afetado pela disponibilidade e pela taxa de utilização dos equipamentos, conceitos que serão vistos nas seções seguintes. Uma forma prática de calcular Rp é dividir 60 min (tempo disponível) pelo tempo necessário para produzir uma peça: Rp= 60/ Tp (pç/hora ou pç/min) Para determinar Rp é necessário um estudo do tempo de processamento, envolvendo o tempo do ciclo de processamento/ montagem (Tciclo) e o tempo destinado ao setup (TSetup). Genericamente, o tempo Tc de uma operação de manufatura é definido como o tempo gasto no processamento ou montagem de uma unidade de trabalho e pode ser expresso por: Tciclo= To+ TMov+ TTroca (min/pç) Onde: Tciclo é o tempo do ciclo; TO é o tempo de operação no ciclo, ou seja, tempo gasto no processamento/montagem; TMov é o tempo de movimentação da parte/peça (min/pç) antes e depois do TO; TTroca é o tempo médio gasto na troca de ferramentas necessárias na produção de uma mesma peça. A taxa de produção em indústrias de partes discretas depende do tipo de planejamento e controle utilizado, que produz variações nos tempos de produção por unidade. Os tempos de produção por unidade podem ser calculados para: (i) produções por lotes unitários (Q=1), (ii) produção por lotes de tamanho determinado (Q>1), (iii) ou produção em grande quantidade (Q=muito grande). No caso de uma Job Shop onde a produção é por lotes de tamanho Q=1, o Tempo de produção de cada unidade é a soma dos tempos de setup (Tsetup, em min) e do ciclo de operação (Tc em min). Assim, o Tp por unidade de trabalho de uma determinada máquina é dado por: Tp= Tsetup + Tc (min/pç) Produção por lotes de tamanho unitário: Q=1 Sistemas Produtivos II Versão III, Revisão Junho 2013 1 9 D e p a rt a m e n to d e E n g e n h a ri a d e P ro d u ç ã o e S is te m a s No caso de uma produção por lotes (Q>1) o Tempo de processamento de um determinado lote (TLote) pode ser calculado a partir de: TLote= Tsetup+ Q Tc (min/lote) Onde: TLote é o tempo para a produção de lote (min); TSetup é o tempo gasto na preparação da produção do lote (min); Q é a quantidade de peças do lote (un); Tc é o tempo de ciclo de operação por unidade (min/un); Assim, o tempo médio de produção e a taxa de produção de uma determinada máquina são dados por: Tp médio= TLote / Q (min/pç) e Rp média= 60 / Tp média (pç/hora ou pç/min) No caso de uma produção em grande quantidade ou em massa (Q=muitogrande) o tempo de setup tem sua importância diminuída e o quociente Tsetup/Q 0, enquanto a taxa de produção equivale à taxa de ciclo da máquina Rp Rc, assim: Rp Rc = 60 / Tc (pç/hora ou pç/min) Para produção massa em linhas de manufatura/montagem é preciso especial atenção a forma de calculo do Tc uma vez que existe uma dependência sequencial entre estações, o que pode gerar gargalos. Nesses casos, o Tc Linha e a Rp Linha são limitados pelo tempo de ciclo e a taxa de produção da estação gargalo, que pode ser calculados a partir da equação a seguir: Tc Linha= TTransferência + TOperação Máximo (min/pç) Rp Linha= 60 / Tc Linha (pç/hora ou pç/min) Onde: TOperação Máximo é o tempo de operação da estação gargalo; TTransferência é o tempo de transferência das peças à estação gargalo. Takt Time O sistema de manufatura deve ser consistente com a taxa que o consumidor está demandando os produtos. O Takt time (TTakt em min), palavra alemã para definir cadência ou passo, ou tempo de passo é recíproco a taxa de demanda, porém adequado a disponibilidade de tempo na fábrica (TDisponível em min). TTakt= TDisponível / Q Demandada (min/pç) Por exemplo, caso sejam demandadas (Q Demandada) pelos consumidores 100 unidades por dia, e a fábrica opera em um turno de 400 min por dia, a cadência a ser seguida pela produção, ou o takt time, seria igual a 400min/100min=4 min/unidade de trabalho. Exemplo 2 Uma empresa possui um setor com seis máquinas dedicadas a produção de lotes de uma determinada peça. Sabendo que o setor opera regime de turnos contando com 10 turnos por semana, cada um de 8h, e que a taxa de produção média por máquina é de 17 pç/h, determine: (a) a capacidade de produção semanal máxima; (b) qual deveria ser o tempo de processamento máximo para produzir um lote de 10mil peças em uma semana; (c) na situação proposta no item b, qual seria o tempo de ciclo caso o tempo de setup médio de cada máquina fosse de 2h; e (d) na situação proposta no item a, que cadencia poderia ser determinada para a produção caso fosse necessário produzir 10.000 pç no com um prazo de entrega de duas semanas. Problema adaptado de (Groover, 2001, p. 43). Produção por lotes: Q>1 Produção em grande quantidade: Q= muito grande Sistemas Produtivos II Versão III, Revisão Junho 2013 2 0 D e p a rt a m e n to d e E n g e n h a ri a d e P ro d u ç ã o e S is te m a s (a) A capacidade de produção semanal máxima é dada por: CP=n S H Rp CP=6*10 * 8 * 17= 8160 pç/semana 136 pç/turno/maq (b) A Rp para produzir 10mil pç pode ser calculado como segue: CP=n S H Rp 10.000=6*10 * 8 * Rp Rp = 20,83 pç/h, por máquina Enquanto o Tp pode ser obtido da seguinte forma: Rp média= 60 / Tp médio Tp médio= 60 / 20,83 = 2,88 min/pç (c) O tempo Tc, considerando setups simultâneos nas seis máquinas, é: TLote= TSetup+ Q*Tc 6*10*8 =2+10.000*Tc Tc=(480-2)/10.000 Tc= 0,0478 h/pç = 2,87 min/pç (d) o takt time seria: TTakt= TDisponível / Q Demandada TTakt= (6*10*8)*2 / 10.000 TTakt= 0,096 pç/h, por máquina = 5,76 min/pç, por máquina Utilização A Utilização (U, em %) é a quantidade de tempo que um processo produz em relação a sua capacidade, podendo ser calculada para uma máquina, sistema ou para toda a planta. O valor de U é obtido pelo cociente entre a Quantidade de peças produzidas (Qperiodo) e a Capacidade de Produção (CPperíodo), ambas em um mesmo período: U= 100 * QPeríodo / CPPeríodo (%) Disponibilidade A Disponibilidade ou Availability (A, em %) é uma medida utilizada para indicar a confiabilidade de equipamentos. Ela pode ser definida através do Tempo médio entre falhas (Tmédio entre falhas, em horas) e do Tempo médio de conserto (Tmédio de conserto, em horas). A= 100 (Tmédio entre falhas-Tmédio de conserto)/Tmédio entre falhas (%) Tempo de atravessamento O Manufacturing Lead Time (MLT, tempo de atravessamento) refere-se ao tempo total requerido para o processamento de uma parte/peça ou produto através da planta. Genericamente, o tempo de atravessamento de um lote de partes/peças j (MLTj , em min) é dado por: MLTLote pçs j = ∑ (min) Onde: Tc ji , Tempo de ciclo da peça j na operação (máquina) i, em min; Tsetup ji , Tempo de setup da parte j na operação i, em min; Q j , Quantidade de partes/peças j que está sendo processada; Tno ji , Tempo de não operação ao produzir peças j associado à operação i, em min. O Tno i incluem a manipulação, estocagem temporária, inspeção e outras fontes de atraso quando as partes/peças não estão sendo processadas. Observe que o MLT de uma parte/produto j não inclui o tempo que as matérias primas ficam estocadas antes do início da escala de produção. No caso de lotes unitários (Q=1), onde a peça j recebe n operações, em máquinas diferentes, o MLT pode se calculado como segue: MLTPeça j= noperações (Tsetup + Tc + Tno) (min) Quando Q é muito grande os termos Tsetup e Tno são dominados pelo termo Q j *Tc ij , e assim o MLTj é igual ao somatório dos tempos de ciclo (Tc) das n máquinas onde a peça j é processada. No caso de uma máquina única MLTj é igual a Tc. Quando Q é muito grande e as estações de trabalho estão integradas, tendo o seu ritmo (taxa de produção) limitado ao tempo da estação gargalo, o MLTj pode ser calculado através de: Sistemas Produtivos II Versão III, Revisão Junho 2013 2 1 D e p a rt a m e n to d e E n g e n h a ri a d e P ro d u ç ã o e S is te m a s MLTj = noperações (Treposição + Máximo Toperação)= no Tc (min) Onde: Máximo Toperação é o tempo da estação gargalo (min/pç); noperações é o número de operações em diferentes maquinas; Treposição é o tempo de movimentação entre estações mais tempo de posicionamento da peça na estação (min/pç) Inventário em processo O Work in Process (WIP, Inventário em processo) é a quantidade de partes/peças existentes na fábrica, que estão sendo processadas ou estão entre operações de processamento. Uma medida aproximada de WIP pode ser obtida a partir dos termos anteriormente definidos: WIP= A*U*MLT*(CP / S*H) = A*U*MLT* Rp (pç) Onde: WIP é o produto em processo (pç); A é a disponibilidade (%), U a utilização (%), MLT o tempo de atravessamento (min); CP é a capacidade de produção (un/semana), S é o número de turnos (turnos/semana) e H é o número de horas (h/turno). Note que as unidades de MLT, CP, S e H (MLT e Rp) devem ser consistentes. Lei de Little A Lei de Little em um estado de equilíbrio, o número médio de itens (Nmédio) de em um sistema de filas é igual a taxa média de chegada (Rchegada) multiplicada pelo tempo médio (tmédio) que um item permanece no sistema. Nmédio= Rchegada * tmédio (pç) Exemplo 3 Uma máquina opera 80 h/semana (2 turnos de 8h, por 5 dias) a plena capacidade, produzindo a uma taxa de processamento de 20 un/h. Durante determinada semana a maquina produziu um lote de 1000pç, ficando livre o restante do tempo. Determine: (a) a capacidade de produção da máquina; (b) sua utilização na semana considerada; (c) a disponibilidade da máquina sabendo que o tempo médio entre falhas é de 35h e o tempo médio para conserto é de 6h; (d) na situação do item anterior, qual a capacidade de produção da máquina; (e) considerando um tempo de setup de 3h, qual o tempo de atravessamento do lote de 1000pç; (f) estime o inventário em processo considerando a utilização obtida no item b, a disponibilidade calculada no item c, e o MLT do lote de 1000pç. (a) A capacidade de produção semanalmáxima é dada por: CP=(n S H) Rp CP=80*20= 1600 pç/semana (b) A utilização da máquina foi de: U= 100 * QPeríodo / CPPeríodo U= 100 * 1000 / 1600 = 62,5% (c) A Disponibilidade da máquina é: A= 100 (Tmédio entre falhas-Tmédio de conserto)/Tmédio entre falhas A= 100 (35-6)/35 = 100*29/35 = 82,86 % (d) A capacidade de produção semanal da máquina passa a ser: CP=0,8286*80*20= 1325,71 pç/semana (e) O tempo de atravessamento é dado por: Rp= 60/ Tp Tp = 60/ 20 = 3 min/pç Tp = 0,05 h/pç MLTLote = 3+1000*0,05= 53h Note que o MLT da primeira peça produzida é de: MLTPeça= noperações (Tsetup + Tc + Tno) MLTPeça= 1*(3+0,05)=3,05h (f) O WIP na produção do lote é de aproximadamente: WIP= A*U* MLT* Rp WIP= 0,8286*62,5* 53h* 20pç/h= 548,95pç Sistemas Produtivos II Versão III, Revisão Junho 2013 2 2 D e p a rt a m e n to d e E n g e n h a ri a d e P ro d u ç ã o e S is te m a s Exercícios Exercício 1. Caracterize as manufaturas organizadas em posição fixa, por processo, celular e por produto em relação à quantidade e variedade de produzida, bem como descreva suas vantagens e desvantagens. Exercício 2. Quais são as operações de manufatura? Defina e exemplifique-as. Exercício 3. Uma linha automatizada, uma célula de manufatura e uma manufatura organizada por processo possuem, respectivamente, as seguintes estruturas de custos: fixo por ano igual a $110.000, $80.000, e $75.000; e variável por unidade igual a $2, $4, e $5. Considerando um preço de venda de $15, Construa o gráfico e responda: (a) Quais os pontos de equilíbrio entre os diferentes processos? (b) Qual o processo mais econômico para um volume anual de 10.000 un? (c) Para quais faixas de volumes de produção cada um dos processos seria preferível? Exercício 4. Um serviço de televisão pela internet produzirá uma receita de $15/mês quando ofertado em uma área com potencial de 15mil clientes. Sabendo que a empresa tem um custo de $10/ mês por cliente, qual será o custo fixo máximo que a empresa poderá gastar por ano para adquirir e manter os equipamentos para poder operar na área. Problema adaptado de (Krajewski, Ritzman, & Malhotra, 2009, p. 31). Exercício 5. Uma empresa precisa implantar um processo que reduza a emissão de efluentes tóxicos. A empresa tem duas opções de processos, que com o mesmo nível de redução e que atendem as exigências legais. Sabendo que processo A apresenta o custo fixo de $300mil e variável de $600/un, enquanto o processo B apresenta o custo fixo de $120mil e variável de $900/un calcule: (a) a quantidade anual mínima de unidades produzidas que justificaria a implantação do processo A; (b) qual a diferença no custo total entre os processos A e B, caso fossem produzidas 800un/ano. Problema adaptado de (Krajewski, Ritzman, & Malhotra, 2009, p. 32). Exercício 6. Uma determinada parte é roteada através de 6 maquinas de uma indústria que produz por lotes. O tamanho dos lotes é 100pç e o tempo estimado de não operação por máquina é de 12 horas. Baseado nos tempos de operação e de setup das máquinas apresentados abaixo, determine: (a) o MLT, e (b) a Taxa de produção da operação 3. Resposta: 141 horas e 2,73 pç/hora. Máquina Tempo de Setup (hr) Tempo de Operação (min) 1 4 5,0 2 2 3,5 3 8 10,0 4 3 1,9 5 3 4,1 6 4 2,5 Exercício 7. Suponha que as partes do problema anterior sejam feitas em grandes quantidades em uma linha de produção, onde um sistema de manipulação de materiais é utilizado para transferir as partes entre as máquinas, com um tempo de transferência entre estações de 15s. Sabendo que o tempo de setup da linha é de 150 horas, determine: (a) MLT para que uma peça saia da linha, (b) a taxa de produção para a operação 3, e (c) a taxa de produção teórica para toda a linha. Resposta: 151,025 horas, 5,85 pç/hora e 5,85 pç/hora. Sistemas Produtivos II Versão III, Revisão Junho 2013 2 3 D e p a rt a m e n to d e E n g e n h a ri a d e P ro d u ç ã o e S is te m a s 2. Tecnologias de Automação e Controle 2.1 Introdução e histórico Automação é a tecnologia pela qual um processo ou procedimento é realizado sem a assistência humana (GROOVER, 2001). Apesar de normalmente estar mais associada às indústrias de manufatura, ela tem sido usado em diversas áreas, como por exemplo, na automação comercial. O termo automação foi cunhado por Del Harder em 1946, para descrever os muitos dispositivos automáticos desenvolvidos para as linhas de produção da Ford Motor Company. Alguns inventos e desenvolvimentos auxiliaram na implementação da automação: partes intercambiáveis (1800), eletrificação (a partir de 1881), linha de montagem em movimento (1913), linhas de transferência mecanizadas para a produção em massa (1924), teoria matemática para controle de sistemas (décadas de 1930 e 1940) e o computador eletromecânico MARK I, na Harvard University (1944) (Groover, 2001, p. 63). Sistemas de Suporte a Manufatura Tecnologias de Movimentação de Materiais Sistemas de Controle de Qualidade Nível de Empreendimento Nível de Fábrica (Instalações) S is te m a P ro d u tiv o Sistemas de Manufatura Processos de Manufatura e Operações de montagem Tecnologias de Automação e Controle Segundo Gaiter e Frazier (1999), o significado do termo automação se alterou. No passado ele significava a substituição do trabalho manual por uma máquina. Hoje em dia a automação significa integrar uma ampla variedade de avançadas descobertas de informação e engenharia nos processos de produção para fins estratégicos. A tecnologia de processos são as máquinas, equipamentos e dispositivos que criam e/ou fornecem bens e serviços (Slack, Chambers, & Johnston, 2009, p. c. 8). Os autores propõem uma distinção conveniente entre tecnologias de processamento de materiais, de informação e de clientes e alertando que atualmente algumas tecnologias são integrantes ao processar as três formas de processamento, a exemplo de pontos eletrônicos de vendas e terminais de checkout. São exemplos destas diferentes formas, tecnologias de processamento: de materiais: Máquina-ferramenta CNC, robô, AGV, Sistemas Flexíveis de Manufatura (SFM) e CIM; de informação: redes locais, internet, extranet, sistemas de suporte a decisão e sistemas especialistas; de clientes: entretenimento a bordo, esteiras rolantes leitora de código de barras e embarque aéreo. O investimento em tecnologia de produto e processo deve ser uma opção estratégica da empresa, de modo a transforma a fábrica em uma arma competitiva que auxilie a obter novas fatias de mercado (Gaither & Frazier, 2002, p. c. 5). Segundo os autores, a flexibilidade da manufatura é à base da estratégia de operações e direcionam o projeto Sistemas Produtivos II Versão III, Revisão Junho 2013 2 4 D e p a rt a m e n to d e E n g e n h a ri a d e P ro d u ç ã o e S is te m a s dos processos de produção, utilizando maquinas, ou sistemas de produção, fornecedores de flexibilidade: máquinas de controle numérico (CN), que são máquinas previamente programadas para executar um ciclo de operações repetidamente. O comando das máquinas de CN (fitas e cartões) evoluiu com os avanços da computação para CN computadorizado (CNC), e posteriormente se sofisticaram para um comando por um computador único e distribuído de diversas máquinas (CND); robôs, que são manipuladores de uso geral, reprogramáveis, de múltiplas funções e que possuem algumas características dos seres humanos;
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