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AULA 14 - CULPABILIDADE

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DIREITO PENAL PARTE GERAL
Prof. Luis Roberto Rissi
14ª. AULA
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Culpabilidade 
					Fato típico
CRIME
					Fato antijurídico
“Crime é um fato típico e antijurídico, sendo a culpabilidade um pressuposto para aplicação da pena”. 
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Culpabilidade 
Obs. 1: para que se questione sobre a culpabilidade, necessariamente devem-se transpor outras fases de reflexão: primeiro se verifica se o fato é típico ou não; sendo típico, passa-se a avaliar o segundo elemento (a antijuridicidade / ilicitude) e, desta forma, não havendo causa que a exclua, completo está o conceito do crime. Assim, a culpabilidade do agente somente passa a ser considerada a partir da transposição das duas primeiras fases.
 	
Obs. 2: para que uma conduta seja punível, além da tipicidade e antijuridicidade/ilicitude é necessário aferir se o agente deve ou não responder pelo crime cometido (se ele é merecedor de pena), exigindo-se que ela apresente um coeficiente pessoal de censurabilidade, reprovação. Este juízo normativo de censura que se dirige ao autor de um comportamento contrário ao Direito é o núcleo da noção de culpabilidade.
CONCLUSÃO: a culpabilidade não é requisito do crime e, portanto, não é seu elemento. Trata-se de simples pressuposto para a aplicação da pena. 
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Culpabilidade 
Obs. 3: pelo exame das excludentes da culpabilidade previstas em nosso CP é possível inferir quais são os seus elementos:
Art. 21 (ERRO DE PROIBIÇÃO) - O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço.
Art. 22 (INEXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA) - Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência a ordem, não manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou da ordem.
Art. 26 a 28 (INIMPUTABILIDADE) – por doença mental, menores de 18 anos, embriaguez completa.
CONCLUSÃO: segundo o CP, a culpabilidade demanda da soma dos seguintes elementos:
IMPUTABILIDADE; POTENCIAL CONSCIÊNCIA DA ILICITUDE, e EXIGIBILIDADE DE OUTRA CONDUTA.
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Culpabilidade – evolução histórica 
Antigamente, a responsabilidade era objetiva, ou seja, o grupo social impunha o castigo tão só pelo nexo causal entre a ação e o resultado lesivo a outrem, nem sequer indagando-se sobre a culpa do autor da conduta, o que se traduz na teoria da responsabilidade penal objetiva, a qual, por sinal, é tida por completamente injusta ante os avanços culturais, tanto é verdade que nem sequer é recepcionada por nossa legislação atual.
Excluindo-se a responsabilidade objetiva, necessário se faz verificar subjetivamente a ação humana, indagando se o agente, com sua conduta, realmente queria produzir o resultado ou, pelo menos, poderia prever a possibilidade dele ocorrer. Assim, para se falar em culpa em sentido amplo, devem estar presentes a vontade ou a previsibilidade, elementos que construíram os conceitos penais mais importantes: o dolo e a culpa em sentido estrito.
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Culpabilidade - teorias
Com isso, chegou-se, inicialmente, à teoria psicológica da culpabilidade, adotada pela teoria causal-naturalista da ação ou teoria clássica, que indicava a culpabilidade como sendo um necessário terceiro elemento do crime, construindo-se a ideia de que a culpabilidade, além de exigir a imputabilidade, era a relação, o liame psicológico que se estabelece entre a conduta praticada pelo agente e o resultado obtido, por meio do dolo ou da culpa (vontade ou previsibilidade), os quais seriam as duas únicas espécies de culpabilidade. A principal crítica: tratar fenômenos tão distintos (dolo e culpa) como espécies do mesmo gênero.
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Culpabilidade - teorias
	A teoria psicológica-normativa da culpabilidade surgiu logo após, esclarecendo que o dolo e a culpa deixam de ser espécies da culpabilidade e passam a ser elementos integrantes desta, ao lado da censurabilidade/reprovabilidade, que, por sua vez, tem como requisitos a imputabilidade, a potencial consciência da ilicitude e a exigência de conduta diversa, sem as quais a conduta não é considerada crime. A principal crítica que se faz a essa teoria consiste em ignorar que o dolo e a culpa são elementos da conduta e equivocadamente continuam a integrar a culpabilidade.
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Culpabilidade - teorias
	Com o advento da teoria finalista da ação (adotada pelo CP), surgiu a teoria normativa pura ou teoria da culpabilidade: que também foi adotada. Dolo e culpa migram da culpabilidade para o tipo, através da conduta (1° elemento do fato típico). O conteúdo da culpabilidade fica esvaziado com a retirada do dolo e da culpa, perdendo o único elemento que interessava para o conceito de crime, passando a ter apenas um caráter subjetivo de censurabilidade (puro juízo de valor, reprovação), que recai sobre a pessoa do criminoso e não do crime, cujos requisitos ou elementos são:
a imputabilidade – quando o sujeito, de acordo com suas condições psíquicas, podia estruturar sua consciência e vontade de acordo com o direito;
a consciência potencial da ilicitude – se o sujeito estava em condições de poder compreender a ilicitude de sua conduta; e
a exigibilidade de conduta diversa – se era possível exigir, nas circunstâncias, conduta diferente daquela do agente. 
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Culpabilidade
Pelo disposto no CP todas as pessoas são presumidamente imputáveis (culpáveis), desde que não ocorram causas excludentes da culpabilidade, também conhecidas como causas dirimentes, que não se confundem com as excludentes da antijuridicidade / ilicitude (causas justificantes).
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Imputabilidade
O CP não traz o conceito de imputabilidade. Preferiu tratar das hipóteses de inimputabilidade.
A imputabilidade penal é o conjunto de condições pessoais que dão ao agente capacidade de discernimento e compreensão, para entender seus atos e determinar-se de acordo com esse entendimento. 
Todo ser humano, a princípio, possui imputabilidade, exceto se estiver presente uma causa de exclusão de imputabilidade, prevista na lei: a) doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado (artigo 26); b) menoridade (artigo 27) e embriaguez completa e involuntária decorrente de caso fortuito ou força maior (artigo 28, § 1º) ou dependência ou intoxicação involuntária decorrente do consumo de drogas ilícitas (art. 45, caput, da Lei 11.343/2006).
Excluída a imputabilidade por qualquer das hipóteses acima, consequentemente também estará excluída a culpabilidade, ficando o agente isento de pena e, portanto, absolvido.
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Critérios/sistemas para aferição da imputabilidade
A noção de crime implica o reconhecimento de que seu autor é uma pessoa que tenha condições de discernimento e autodeterminação suficientes para direcionar e motivar o seu comportamento segundo critérios de valor. Mas esta dimensão ética pressupõe normalidade biológica e psicológica, caso contrário faltará uma condição prévia para que o juízo normativo de censura possa incidir, não sendo possível imputar juridicamente a essa pessoa a prática do fato.
	
Assim, a imputabilidade é a capacidade biopsicológica de compreender a ilicitude penal e de determinar sua conduta conforme esta compreensão. É pressuposto da culpabilidade.
Os três critérios possíveis para a aferição da imputabilidade são: 
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Critérios/sistemas para aferição da imputabilidade
BIOLÓGICO: leva-se em conta apenas o desenvolvimento mental do acusado (doença mental ou idade), independentemente da capacidade de entendimento e autodeterminação. Há nesse critério uma presunção legal de que a deficiência ou doença mental por si só já impedem o sujeito de compreender o crime ou comandar a sua vontade. “Todo louco é inimputável”.
Tal critério foi adotado, como exceção, nos casos dos menores de 18 anos, conforme prevê o Artigo 27 do Código Penal:
“Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas na legislação especial”.
A nossa lei estabelece apresunção de inimputabilidade por desenvolvimento mental incompleto daqueles que ainda não completaram 18 anos de idade, por presumir serem inteiramente incapazes de entender o caráter ilícito do fato e de determinar-se de acordo com esse entendimento, independentemente do menor entender ou não o caráter criminoso do crime. 
A legislação especial que regulamenta as sanções aplicáveis aos menores é o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/90).
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Critérios/sistemas para aferição da imputabilidade
PSICOLÓGICO: ao contrário do biológico, esse sistema considera apenas a capacidade de entendimento e autodeterminação do acusado no momento da conduta, independentemente de sua condição mental. 
Havendo perturbação dos sentidos, como na emoção, o agente ao praticar um crime ficaria impune, pois poderia estar demonstrada a ausência de capacidade intelectiva para o entendimento do fato criminoso. Assim. “pessoa sem qualquer problema mental pode ser inimputável”.
Ambos os critérios (biológico e psicológico) pecam pela visão unilateral do problema. 
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Critérios/sistemas para aferição da imputabilidade
BIOPSICOLÓGICO: o CP adotou esse critério como regra, combinando os dois critérios anteriores. Considera não somente a condição mental do agente (biológico), mas também sua capacidade de entender o caráter criminoso do fato e determinar-se em conformidade com esse entendimento (psicológico). Veja os seguintes dispositivos:
Art. 26: É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
Art. 28, §1º - É isento de pena o agente que, por embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou força maior, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
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Causas legais de inimputabilidade 
1. Doença mental, desenvolvimento mental incompleto ou retardado (inimputabilidade em razão de anomalia psíquica).
Artigo 26: “É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou determinar-se de acordo com esse entendimento”.
Obs: CP adotou como regra o sistema biopsicológico: “nem todo louco é inimputável” e “não basta ser louco para ser inimputável”. Existem 3 requisitos:
a) BIOLÓGICO/CAUSAL: doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado: 
“Doença mental”=> moléstias mentais de qq origem, devendo se considerar a sua maior abrangência (qq debilidade que venha a debilitar as funções psíquicas: demência, psicose maníaco-depressiva, esquizofrenia, paranóia, etc.).
“Desenvolvimento mental incompleto”=> menores de idade (regra do art. 27) e os silvícolas não adaptados à vida em sociedade. 
“Desenvolvimento mental retardado”=> oligofrênicos (débeis mentais, imbecis, idiotas) e surdos-mudos sem aprendizado. 
b) PSICOLÓGICO/CONSEQUENCIAL: incapacidade completa de entender e querer; 
c) TEMPORAL/CRONOLÓGICO: os dois requisitos anteriores devem coexistir ao tempo da conduta.
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Causas legais de inimputabilidade 
 
2. Semi-imputabilidade
Artigo 26, § único, do CP“A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em virtude de perturbação da saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento”.
Trata da semi-imputabilidade: casos em que o agente pode perder parcialmente a capacidade de entendimento e de autodeterminação. 
O dispositivo prevê uma diminuição de pena, sendo obrigatória a redução (corrente majoritária). Após a reforma de 84, o CP adotou o sistema vicariante, abolindo o sistema duplo binário, não cabendo mais aplicação de pena e medida de segurança, devendo o juiz optar entre um e outro.
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Causas legais de inimputabilidade 
 
A verificação de doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado dependerá de exame pericial.
 
Havendo suspeitas da higidez mental do infrator deve o juiz determinar a instauração de um incidente de insanidade mental (CPP, art. 149/152), no bojo do qual, o perito poderá chegar a uma das seguintes conclusões, das quais o juiz não estará vinculado para decidir:
1. o agente não possui qualquer doença mental ou desenvolvimento incompleto ou retardado: autor será considerado imputável.
2. o agente possui doença mental ou desenvolvimento incompleto ou retardado, mas isso não interferiu em sua capacidade de entendimento ou de autodeterminação (no momento da ação): autor será considerado imputável.
3. o agente possui doença mental ou desenvolvimento incompleto ou retardado, e teve sua capacidade de entendimento ou de autodeterminação inteiramente suprimida (no momento da ação): autor será considerado inimputável, aplicando-se-lhe medida de segurança.
4. o agente possui doença mental ou desenvolvimento incompleto ou retardado, e teve sua capacidade de entendimento ou de autodeterminação diminuída (no momento da ação): autor será considerado semi-imputável, aplicando-se-lhe medida de segurança ou uma pena diminuída (de um a dois terços).
5. o agente era, ao tempo da ação, inteiramente são e, posteriormente, acometeu-se de alguma doença mental: haverá superveniência de doença mental, que provocará suspensão do processo penal (art. 152, CPP).
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Causas legais de inimputabilidade 
3. Inimputabilidade em razão da idade do agente
Os menores de 18 anos são inimputáveis (art. 27)=> nossa legislação adotou excepcionalmente o critério biológico.
O artigo 5°, item 5 da Convenção Americana de Direitos Humanos fala em “menores”, não adotando idade do menor, eis que deixou ao encargo de cada Estado signatário a discricionariedade de dizer o que é “menor”.
“§ 5°. Os menores, quando puderem ser processados, devem ser separados dos adultos e conduzidos a tribunal especializado, com a maior rapidez possível, para o seu tratamento”.
	
No Brasil é a CF que estabelece no seu artigo 228 que: “São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação especial”. Tal preceito foi seguido pelo CP em seu artigo 27.
Eventual emancipação na esfera cível não antecipa a maioridade penal, pois o direito penal está preocupado, nesse caso, com a idade biológica.
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Causas legais de inimputabilidade 
4. Emoção e Paixão
Emoção é um profundo abalo do estado de consciência, determinada por uma mudança repentina, à vista de alguém ou pela percepção de algo bom ou ruim, ou seja, trata-se de um estado súbito e passageiro (ira, medo, alegria, surpresa, vergonha).
Paixão é um sentimento crônico e duradouro que ofende a integridade do espírito e mesmo do corpo, causando intensa perturbação dos sentidos (amor, ódio, avareza, ambição, ciúme, patriotismo).
“A emoção é rápida e passageira, ao passo que a paixão é lenta e duradoura. A emoção é o gol marcado pelo seu time, enquanto que a paixão é o amor pelo clube, ainda que não lhe traga nenhuma emoção. A ira momentânea é a emoção; o ódio recalcado, a paixão. O ciúme excessivo, deformado pelo egoístico sentimento de posse, é a paixão em sua forma mais perversa. A irritação despertada pela cruzada de olhos da parceira com um terceiro é pura emoção”. 
De qualquer forma, os estados emocionais ou passionais não excluem a imputabilidade (artigo 28, I), até porque a emoção e a paixão não são classificadas como enfermidades mentais, sendo situações freqüentes da vida de qualquer indivíduo equilibrado. 
PREVISÃO LEGAL: Art. 28 do CP: “não excluem a imputabilidade penal: I – a emoção e a paixão”.
Obs. a emoção pode funcionar como atenuante genérica (art. 65, III, c) ou como causa de diminuição de pena (art. 121, § 1º), desde que acompanhada de outros requisitos.A paixão não funciona sequer como causa de diminuição de pena.
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Causas de inimputabilidade 
5. Embriaguez
Embriaguez é uma causa capaz de levar à exclusão da capacidade de entendimento e vontade do agente, em virtude de uma intoxicação aguda e transitória causada pelo álcool ou por substância de efeitos psicotrópicos análogos, sejam eles entorpecentes (morfina, ópio, etc.), estimulantes (cocaína) ou alucinógenos (lsd). 
Fases: 
1. inicial de euforia (excitação) – o agente torna-se inconveniente, perde a acuidade visual e tem seu equilíbrio afetado; 
2. depressão – estabelece-se uma confusão mental e há irritabilidade, que deixam o sujeito agressivo; e 
3. sono (letargia) – quando grandes doses são ingeridas, podendo o agente ficar em estado de dormência profunda e levar até ao coma.
Considera-se completa a embriaguez nas duas últimas fases, pois ela retira por completo a capacidade de discernimento do agente.
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Causas de inimputabilidade 
a) EMBRIAGUEZ NÃO ACIDENTAL, que se divide em: 
voluntária (quando o agente quer embriagar-se) ou 
culposa (quando o agente, embora não pretendendo embriagar-se, bebe demais e, por imprudência, excede-se nas doses e atinge o estado etílico). 
Ambas comportam as modalidades de embriaguez completa e incompleta, ou seja, quando o agente perde totalmente ou parcialmente a capacidade de entendimento.
Nesses casos não se exclui a imputabilidade, mesmo que, ao tempo da ação ou omissão, o agente esteja em embriaguez completa, pois, adota-se a teoria da actio libera in causa (a ação livre na causa), segundo a qual, o agente, ao se embriagar, sabia da possibilidade de praticar o delito e era livre para decidir. 
Considera-se, portanto, o momento da ingestão da substância e não o momento da prática delituosa. 
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Causas de inimputabilidade 
b) EMBRIAGUEZ ACIDENTAL é aquela decorrente de:
caso fortuito: o agente que tropeça e cai dentro de um tonel de vinho e o agente que ingere bebida na ignorância de que tem conteúdo alcoólico
força maior: deriva de uma força externa ao agente, que a obriga a consumir a droga, como são os casos da coação física ou moral irresistível.
Nesses casos se a embriaguez for completa exclui a imputabilidade (artigo 28, § 1º); se incompleta, há diminuição de pena (artigo 28, § 2º). 
c) EMBRIAGUEZ PATOLÓGICA (doentia): é o caso dos alcoólatras e dependentes e está equiparada a doença mental e, com esse entendimento, fica excluída a imputabilidade, aplicando-se as regras do art. 26, caput, se a embriaguez for completa e se incompleta, aplica-se o § 1° daquele artigo.
 d) EMBRIAGUEZ PREORDENADA: ocorre quando o agente se embriaga para tomar coragem para a prática do crime. Trata-se de circunstância agravante genérica (art. 61, II, l), tanto se completa ou incompleta.
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Causas de inimputabilidade - Embriaguez
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Causas de inimputabilidade - Embriaguez
A embriaguez não acidental e preordenada, ainda que completa (completamente inconsciente no momento da ação ou omissão) são puníveis devido a teoria da actio libera in causa.
Assim, o ato transitório revestido de inconsciência decorre de ato antecedente que foi livre na vontade, transferindo-se para o momento anterior a constatação da imputabilidade. A teoria analisa a vontade no momento em que o agente era livre (quando bebia), ocasião em que podia decidir entre beber ou não.
A teoria reconhece dois momentos distintos. Ex.: um motorista, completamente embriagado, atropela e mata o pedestre.
1. Se no momento em que bebia previu ou quis o resultado; no momento do atropelamento a embriaguez era completa, mas mesmo assim responderá por DOLO DIRETO, associando-se à embriaguez preordenada.
2. Se no momento em que bebia previu e aceitou o risco de produzir o resultado; no momento do atropelamento a embriaguez era completa, mas mesmo assim responderá por DOLO EVENTUAL.
3. Se no momento em que bebia previu, mas acreditou poder evitar o resultado; no momento do atropelamento a embriaguez era completa, mas mesmo assim responderá por CULPA CONSCIENTE.
4. Se no momento em que bebia não previu, mas era previsível o resultado; no momento do atropelamento a embriaguez era completa, mas mesmo assim responderá por CULPA INCONSCIENTE.
5. Se no momento em que bebia não previu e era imprevisível o resultado; no momento do atropelamento a embriaguez era completa, trata-se de responsabilidade penal objetiva, pois sem previsão e sem previsibilidade não há dolo e nem culpa.
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Causas de inimputabilidade – dependência ou intoxicação involuntária decorrente do consumo de drogas ilícitas (art. 45, caput)
Art. 45.  É isento de pena o agente que, em razão da dependência, ou sob o efeito, proveniente de caso fortuito ou força maior, de droga, era, ao tempo da ação ou da omissão, qualquer que tenha sido a infração penal praticada, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
Parágrafo único.  Quando absolver o agente, reconhecendo, por força pericial, que este apresentava, à época do fato previsto neste artigo, as condições referidas no caput deste artigo, poderá determinar o juiz, na sentença, o seu encaminhamento para tratamento médico adequado.
Art. 46.  As penas podem ser reduzidas de um terço a dois terços se, por força das circunstâncias previstas no art. 45 desta Lei, o agente não possuía, ao tempo da ação ou da omissão, a plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
Lei de drogas acolheu a sistemática do CP (art. 28) referente à embriaguez.
Sistema biopsicológico. Requisitos: causa (dependência ou consumo involuntário de drogas); efeito (supressão da capacidade de entendimento e autodeterminação); momento (ambos ao tempo da ação) – qualquer que seja a infração cometida.
CONSUMO INVOLUNTÁRIO: absolvição própria–não se imporá sanção penal.
DEPENDÊNCIA DE DROGAS: absolvição imprópria–medida de segurança.
INTOXICAÇÃO VOLUNTÁRIA: condenação – teoria actio libera in causa.
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Potencial consciência da ilicitude
Consciência da ilicitude não se trata de conhecimentos técnicos e sim do conhecimento leigo=> aquele que está ao alcance de qualquer indivíduo capaz que tenha acesso aos meios de comunicação. 
E o ordenamento não impõe o dever de conhecer a ilicitude, mas o dever de se informar, uma vez que, tanto o agente que pratica uma conduta cuja ilicitude conhecia, quanto aquele que a desconhecia serão responsabilizados.
Artigo 21 do CP: “o desconhecimento da Lei é inescusável” e conforme art. 3º, da LIDB: “ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece”. Há uma presunção legal absoluta. 
O desconhecimento da lei, embora não exclua a culpabilidade, é circunstancia atenuante genérica (art. 65, II).
A ignorância é o completo desconhecimento da existência da regra legal, ao passo que a errada compreensão consiste no conhecimento equivocado acerca de tal regra. Na primeira, o agente nem sequer cogita de sua existência; na segunda, possui tal conhecimento, mas interpreta o dispositivo de forma distorcida.
Conclusão: a errada compreensão de uma regra legal pode levar o agente a supor que certa conduta injusta seja justa, a tomar uma errada por certa, a encarar uma anormal como normal, surgindo, assim, o que a doutrina chama de “erro de proibição”.
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Potencial consciência da ilicitude
O agente, em virtude de uma equivocada compreensão da norma, supõe permitido aquilo que era proibido, daí o nome de “erro de proibição”.
Ex. 1: um soldado, perdido de seu pelotão, sem saber que a paz foi celebrada, mata um inimigo, acreditando ainda estar em guerra. É um erro quanto à ilicitude do fato, pois durante o período de guerra é lícito eliminar o inimigo
Ex. 2: matar uma pessoa gravemente enferma, a seu pedido, para livrá-la de um mal incurável, supondo o agente que a eutanásia é permitida.
O art. 21, 2º parte, prevê que “o erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de penae, se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço”.
O erro inevitável sobre a ilicitude do fato é o erro de proibição, que retira do agente a consciência da ilicitude e, consequentemente, exclui a culpabilidade, isentando o réu de pena. Se o erro for evitável não exclui a culpabilidade, mas diminui a pena.
Erro inevitável=> é aquele que o agente não tinha como conhecer a ilicitude do fato, em face das circunstâncias do caso concreto.
Erro evitável=> é aquele que, embora o agente desconhecesse que o fato era ilícito, tinha condições de saber, dentro das circunstâncias, que contrariava o ordenamento jurídico. Parágrafo único do art. 21: “considera-se evitável o erro se o agente atua ou se omite sem a consciência da ilicitude do fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter ou atingir essa consciência”. 
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Erro de tipo X Erro de proibição
Erro de tipo= o agente se engana sobre o fato (imagina estar fazendo algo, mas na verdade está fazendo outra coisa. Ex.: subtrai objeto alheio acreditando ser próprio; atira num homem acreditando ser um animal). 
Erro de proibição= o agente não se engana sobre o fato que pratica, mas pensa erroneamente que o mesmo é lícito (subtrair algo de um devedor, a título de cobrança forçada, pensando que sua atitude é lícita). 
No erro de tipo o agente “não sabe o que faz”, ao passo que no erro de proibição ele “sabe o que faz tipicamente, mas supõe de modo errôneo que isto era permitido” (Wessels).
O erro de tipo exclui o dolo e o crime, salvo se o fato for punível a título de culpa (artigo 20). O erro de proibição não exclui o dolo nem o crime, mas poderá excluir a culpabilidade e, em consequência, a pena (artigo 21).
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Exigibilidade de conduta diversa
É outro requisito da culpabilidade, fundado no princípio de que só devem ser punidas as condutas que poderiam ser evitadas, ou seja, caso a vontade seja anormalmente motivada, a decisão não se considera autônoma e a culpabilidade estará excluída. 
A exigibilidade de conduta diversa pode ser excluída por dois motivos: a coação moral irresistível e a obediência hierárquica a ordem não manifestamente ilegal (artigo 22, CP):
“Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência a ordem, não manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou da ordem”.
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Coação irresistível
A coação poderá ser física, quando a violência empregada retira totalmente a voluntariedade da ação, de modo que o coagido se apresenta como mero instrumento do coator e, assim, não existe vontade e consequentemente, nem a conduta e menos ainda o fato típico. Ex: operador de trilhos que foi amarrado e impedido de fazer a mudança de nível, não conseguindo evitar a colisão entre as locomotivas.
A coação poderá ser moral, decorrente de grave ameaça, na qual o coagido exerce vontade e ação, entretanto, por ser irresistível, o coagido não responde pelo crime, tão somente o coator, havendo entendimento que este poderá responder pelo crime praticado pelo coagido, tal como um homicídio em concurso material com o crime de tortura (artigo 1°, I, b da lei 9.455/97). 
Na coação moral irresistível há fato típico e ilícito, mas o agente não é considerado culpado, em face da exclusão da exigibilidade de conduta diversa. Nesses casos o mal pode ser dirigido não diretamente ao coagido, mas a alguém ligado a ele, como algum parente. Ex: coagir moralmente alguém prometendo um mal ao seu filho.
Se houver coação moral resistível, o agente é culpável, eis que sendo resistível a ameaça, era exigível conduta diversa, sendo-lhe reconhecida apenas uma atenuante genérica (art. 65, III, c).
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Obediência hierárquica
Conforme art. 22, se o fato é cometido em estrita obediência a ordem, não manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da ordem. 
Exige-se que haja um superior e um subordinado e que, entre ambos, haja uma relação de direito público, já que o poder hierárquico é inerente à Administração Pública, excluindo-se, portanto, a obediência hierárquica decorrente de direito privado, ou seja, entre patrão e empregado; diretor e gerente; eclesiásticas, familiares.
Também se exige uma ordem do superior para o subordinado e que esta seja ilegal, mas envolta de aparente legalidade, eis que, se for manifestamente ilegal o subordinado que executar a ordem também responderá pelo crime, juntamente com o ordenador. 
Se a ordem não for manifestamente ilegal, exclui-se a imputabilidade do subordinado, respondendo pelo crime somente o superior hierárquico.

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