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Capítulo 12 (Guyton) - Interpretação eletrocardiográfica das anormalidades do músculo cardíaco e do fluxo sanguíneo coronariano

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Sarah Akemi Sasaki - XXIV 
Interpretação 
eletrocardiográfica das 
anormalidades do 
músculo cardíaco e do 
fluxo sanguíneo 
coronariano: análise 
vetorial 
PRINCÍPIOS DA ANÁLISE VETORIAL DOS 
ELETROCARDIOGRAMAS 
Uso de vetores para responder potenciais elétricos 
 Vetor é uma seta que aponta na direção do 
potencial elétrico gerado pelo fluxo da corrente, com a 
ponta voltada para a direção positiva; o comprimento da 
será é traçado em proporção à voltagem do potencial. 
 
Vetor “resultante” no coração em qualquer momento dado 
 Na imagem, vê-se a despolarização do septo 
ventricular e de partes das paredes endocárdicas apicais dos 
dois ventrículos, indicados pela área sombreada. 
 As setas elípticas indicam que a corrente elétrica 
move-se das áreas despolarizadas para as não 
despolarizadas (parte externa do coração); alguma corrente 
também segue por dentro das câmaras cardíacas. 
 De maneira geral, muito mais corrente segue da 
base dos ventrículos em direção ao ápice que o contrário. 
Assim, o vetor instantâneo médio (seta preta) segue em 
sentido base-ápice. 
 
 
A direção de um vetor é definida em termos de grau 
 Do ponto de referência zero (vetor na horizontal, 
direcionado para a esquerda da pessoa), a escala de vetores 
gira em sentido horário: 
 Direção de +90°: na vertical, de cima para baixo; 
 Direção de +180°: na horizontal, estendendo-se do 
lado esquerdo ao direito da pessoa; 
 Direção de -90° (+270°): vai de baixo para cima. 
 
 No coração normal, a direção usual do vetor 
durante a propagação da onda de despolarização pelos 
ventrículos (vetor QRS médio) é por volta de +59° (vetor A 
na figura), indicando que, na maior parte da onda de 
despolarização, o ápice do coração permanece positivo em 
relação à base. 
 
 
Eixo para cada derivação bipolar padrão e cada derivação 
unipolar dos membros 
 Cada derivação é um par de eletródios conectados 
ao corpo em lados opostos do coração, sendo a direção do 
eletródio negativo ao positivo chamada de “eixo” da 
derivação. 
 
 Na figura acima, que mostra o sistema de 
referência diagonal, é possível identificar as direções dos 
eixos de todas as derivações e as polaridades dos eletródios 
(representadas por sinais de + e de -). 
 Derivação I – registrada por dois eletródios 
colocados na horizontal, sendo que o positivo fica na 
esquerda; seu eixo de derivação é de 0 grau. 
 Derivação II – eletródios colocados no braço 
direito, que se liga ao tronco em seu limite superior direito, 
e na perna esquerda, no limite inferior esquerdo; seu eixo de 
derivação é de cerca de +60°. 
 
Análise vetorial dos potenciais registrados em diferentes 
derivações 
 É possível determinar o potencial instantâneo 
registrado no cardiograma em cada derivação para dado 
vetor cardíaco. 
 Sarah Akemi Sasaki - XXIV 
 
 O vetor A representa a direção média instantânea 
do fluxo de corrente nos ventrículos; sua direção é +55° e 
sua voltagem potencial é de 2 mV. Abaixo, na mesma figura, 
o vetor é novamente mostrado, o eixo da derivação I, na 
direção de 0 grau; traça-se uma linha pontilhada 
perpendicular ao eixo da derivação I, que permite o desenho 
do vetor projetado (B). A seta do vetor B aponta na direção 
da extremidade positiva do eixo da derivação I, o que 
significa que o registro no eletrocardiograma da derivação I 
é positivo. Voltagem instantânea registrada = (B/A) x 2 mV. 
 
 
 Na figura acima, o vetor A representa o potencial 
elétrico e seu eixo em dado momento durante a 
despolarização ventricular, com o lado esquerdo se 
despolarizando mais rápido que o direito, caso em que o 
vetor instantâneo tem a direção de 100° e voltagem de 2 
mV. A fim de encontrar o potencial realmente registrado na 
derivação I, traça-se o vetor projetado B, que é muito 
pequeno e fica na direção negativa, indicando que, nesse 
instante particular, o registro na derivação I será negativo e 
a voltagem de cerca de -0,3 mV. 
 Conclui-se que, quando o vetor cardíaco tem 
direção praticamente perpendicular ao eixo da derivação, a 
voltagem registrada é muito baixa; já quando o vetor tem 
quase o mesmo eixo da derivação, praticamente toda a 
voltagem do vetor será registrada. 
 
Análise vetorial dos potenciais nas três derivações bipolares 
padronizadas dos membros 
 Na figura, o vetor A representa o potencial elétrico 
instantâneo de coração parcialmente polarizado. A fim de 
determinar o potencial registrado nesse instante no 
eletrocardiograma, para cada uma das três derivações 
bipolares padronizadas dos membros, são desenhadas linhas 
pontilhadas perpendiculares, que auxiliam na determinação 
dos vetores projetados B, C e D que representam os 
potenciais registrados nas derivações I, II e III, 
respectivamente; em todos os casos, o registro no 
eletrocardiograma é positivo. 
 
 É possível fazer análise semelhante para 
determinar os potenciais registrados nas derivações 
aumentadas dos membros usando–se os eixos das 
derivações aumentadas. 
 
ANÁLISE VETORIAL DO ELETROCARDIOGRAMA NORMAL 
Vetores que ocorrem a intervalos sucessivos durante a 
despolarização dos ventrículos – o complexo QRS 
 Com a chegada do impulso cardíaco transmitido 
pelo feixe atrioventricular, a superfície endocárdica 
esquerda do septo é a primeira a se despolarizar; em 
seguida, a despolarização atinge ambas as superfícies 
endocárdicas do septo. A despolarização continua a se 
espalhar, atingindo o restante dos dois ventrículos e, por 
fim, chega à superfície externa do coração. 
 Esse processo é ilustrado nas figuras a seguir: o 
potencial elétrico médio instantâneo dos ventrículos é 
representado pelo vetor vermelho sobre os ventrículos; à 
direita é mostrado o desenvolvimento progressivo do 
complexo QRS eletrocardiográfico. 
 
Vetores e complexos QRS 0,01 segundo após início da 
despolarização ventricular. O vetor é pequeno (apenas o 
septo está despolarizado). 
 
 
0,02 segundo depois do início da despolarização. O vetor é 
grande, pois muito da massa ventricular já se despolarizou. 
 Sarah Akemi Sasaki - XXIV 
 
0,035 segundo depois do início da despolarização. As 
voltagens eletrocardiográficas são menores porque o lado 
externo do ápice do coração está eletronegativo, 
neutralizando grande parte da positividade nas outras 
superfícies endocárdicas; o eixo do vetor começa a girar para 
o lado esquerdo do tórax, já que o ventrículo esquerdo se 
polariza mais lentamente. 
 
 
0,05 segundo depois do início da despolarização. O vetor 
aponta em direção à base do ventrículo esquerdo e seu 
tamanho se deve à pequena massa ainda despolarizada 
 
 
Fim da despolarização dos ventrículos, 0,06 segundo depois 
do início. Toda massa ventricular está despolarizada e não 
há nenhuma corrente elétrica fluindo em torno do coração. 
 Às vezes, quando a despolarização inicial ocorre no 
ventrículo esquerdo, pode haver a criação de um fraco vetor 
da esquerda para a direita antes do usual vetor base-ápice. 
Nesse caso, o complexo QRS apresenta pequena depressão 
em seu início (onda Q). 
 
Eletrocardiograma durante a repolarização – a onda T 
 A repolarização começa cerca de 0,15 segundo 
após a despolarização ventricular e se completa em cerca de 
0,35 segundo, causando a onda T do eletrocardiograma. 
 O septo e as outras áreas endocárdicas têm um 
período de contração mais longo, assim, a superfície 
externa, especialmente perto do ápice do coração, é a 
primeira a se repolarizar. A alta pressão sanguínea nos 
ventrículos durante a contração reduza o fluxo coronariano, 
retardando a repolarização das áreas endocárdicas, as 
últimas se repolarizar. 
 As superfícies apicais externas dos ventrículos se 
repolarizam antes das superfícies externas, portanto, a 
extremidade positiva do vetor resultante aponta em direção 
ao ápice do coração. Consequentemente, a onda T normalnas derivações bipolares dos membros é positiva. 
 
 As variações de tamanho do vetor demonstram 
que seu máximo ocorre quando cerca de metade do coração 
está polarizado e cerca de metade está despolarizada. 
 
Despolarização dos átrios – a onda P 
 A despolarização dos átrios tem início no nodo 
sinusal (próximo ao ponto de entrada da veia cava superior) 
e se espalha em todas as direções pelos átrios. 
 O vetor, indicado pela seta preta na figura a seguir, 
permanece em geral na mesma direção durante todo o 
processo da despolarização atrial normal. Essa direção é 
usualmente a positiva dos eixos nas três derivações 
bipolares padronizadas dos membros, assim, os 
eletrocardiogramas aí registrados também são positivos. 
Esse registro da despolarização é conhecido como onda P 
atrial. 
 
 
Repolarização dos átrios – a onda T atrial 
 A propagação da despolarização pelo músculo 
atrial é muito mais lenta que nos ventrículos devido à 
ausência do sistema de Purkinje, assim, a musculatura ao 
redor do nodo sinusal fica despolarizada por longo tempo 
antes que o processo atinja as partes distais do átrio. Assim, 
a área nos átrios que se repolariza primeiro é a região do 
nodo sinusal, que originalmente se despolarizou primeiro. 
 Quando a repolarização começa, a região em torno 
do nodo sinusal fica positiva em relação ao restante dos 
átrios e o vetor de repolarização atrial é oposto em relação 
ao de despolarização, formando uma onda T atrial negativa. 
 Sarah Akemi Sasaki - XXIV 
 No eletrocardiograma normal, a onda T ocorre 
quase simultaneamente ao complexo QRS ventricular e 
costuma ser obscurecido por ele. 
 
Vetorcardiograma 
 A variação do vetor do fluxo da corrente pelo 
coração durante a disseminação do impulso ocorre devido a: 
 Variações de tamanho em virtude da voltagem 
crescente e decrescente do vetor; 
 Mudanças de direção por causa das variações da 
direção média do potencial elétrico originário do 
coração. 
 A figura a seguir traz um vetorcardiograma, que 
mostra as variações do vetor durante o ciclo cardíaco. 
 
 O vetorcardiograma do QRS é a figura elíptica 
formada pelas extremidades positivas dos vetores e o ponto 
5 é o ponto de referência zero, a extremidade negativa de 
todos os vetores que se sucedem. 
 Enquanto o músculo cardíaco está polarizado entre 
batimentos cardíacos, a extremidade positiva do vetor 
permanece no ponto zero, pois não há potencial elétrico 
vetorial. 
 No início da despolarização, o vetor 1 se estende 
para baixo, em direção ao ápice dos ventrículos, ainda 
relativamente fraco; à medida que a despolarização 
continua, o vetor fica mais forte, em geral se desviando para 
um lado, como mostra o vetor 2, cerca de 0,02 segundo após 
o 1. Após mais 0,02 segundo, o potencial é representado 
pelo vetor 3 e o vetor 4 ocorre 0,01 segundo depois. Por fim, 
os ventrículos ficam totalmente despolarizados e o vetor 
volta ao valor zero (ponto 5). 
 O vetorcardiograma pode ser registrado por um 
osciloscópio, com a conexão de eletródios na superfície do 
pescoço e abdome inferior às placas verticais do aparelho e 
da superfície torácica de cada lado do coração às placas 
horizontais. 
 
EIXO ELÉTRICO MÉDIO DO QRS VENTRICULAR – E SEU 
SIGNIFICADO 
 A direção predominante dos vetores e do potencial 
elétrico durante a despolarização é conhecida como eixo 
elétrico médio dos ventrículos, que, em condições normais, 
costuma ser de 59° (direcionado da base dos ventrículos 
para o ápice). 
 
Determinação do eixo elétrico pelas derivações 
eletrocardiográficas padronizadas 
 Depois do registro das derivações padronizadas, 
determina-se a polaridade e o potencial resultante/efetivo 
para cada derivação (representado pelas setas pretas). Em 
seguida, o potencial resultante das derivações I e III é 
marcado nos eixos das respectivas derivações, com a base 
do potencial no ponto de interseção dos eixos. Potenciais 
resultantes positivos devem ser marcados na direção 
positiva, e potenciais resultantes negativos, na direção 
negativa. 
 
 Para determinar o vetor potencial elétrico 
ventricular médio total do QRS, deve-se encontrar a 
resultante dos vetores traçados nos eixos I e III, como 
demonstrado na figura. O ponto de interseção dos eixos das 
derivações I e III representa a extremidade negativa do vetor 
médio, enquanto o ponto de encontro das linhas tracejadas 
representa a extremidade positiva. 
 O potencial médio aproximado gerado pelos 
ventrículos durante a despolarização é representado pelo 
comprimento do vetor QRS médio, enquanto o eixo elétrico 
médio é representado pela direção do vetor médio. 
 
Condições ventriculares anormais que causam desvio de eixo 
 Apesar do eixo elétrico médio dos ventrículos ser 
por volta de 59°, pode haver um desvio de 20° até cerca de 
100°. Em geral, essas variações são causadas por diferenças 
anatômicas do sistema de distribuição de Purkinje ou da 
própria musculatura dos diferentes corações. 
 Mudança de posição do coração no tórax. Se o 
coração está angulado para a esquerda, o eixo elétrico 
médio do coração também é desviado para a esquerda. Isso 
pode ocorrer: 
 Ao fim de expiração profunda; 
 Quando a pessoa se deita (pressão do conteúdo 
abdominal sobre o diafragma); 
 Em pessoas obesas (diafragma faz pressão para 
cima devido ao aumento da adiposidade visceral). 
 Analogamente, a angulação do coração para a 
direita desvia o eixo elétrico médio para a direita, situação 
que ocorre: 
 Ao fim de uma inspiração profunda; 
 Quando a pessoa se levante; 
 Em pessoas altas e longilíneas cujos corações 
pendem. 
 
 Hipertrofia de um ventrículo. Nesse caso, o eixo do 
coração é desviado na direção do ventrículo hipertrofiado 
porque a maior quantidade de músculo no lado 
hipertrofiado faz com que ocorra maior geração de potencial 
elétrico e é necessário mais tempo para que a onda de 
despolarização passe pelo ventrículo hipertrofiado que pelo 
normal. Isso causa um grande vetor do lado normal do 
coração para o lado hipertrofiado, que permanece com 
carga positiva. 
 A figura 12-12 demonstra o que ocorre no desvio à 
esquerda do eixo, que aponta na direção de -15°. Esse é um 
 Sarah Akemi Sasaki - XXIV 
eletrocardiograma típico causado pelo aumento de massa 
muscular do ventrículo esquerdo, nesse caso causado por 
hipertensão, que hipertrofiou o ventrículo esquerdo. 
 
 O eletrocardiograma da figura 12-13 mostra desvio 
acentuado do eixo para a direita, em um eixo elétrico de 
170° (111° à direita do eixo ventricular médio do QRS que é 
de 59°). Esse desvio foi resultante de estenose valvar 
pulmonar congênita. 
 
 
 Bloqueio de ramo causa desvio do eixo. Os ramos 
esquerdo e direito do sistema de Purkinje transmitem o 
impulso cardíaco quase simultaneamente para as duas 
paredes ventriculares, que se despolarizam quase no mesmo 
instante e cujos potenciais quase se neutralizam 
mutuamente. Contudo, caso um dos maiores ramos do feixe 
esteja bloqueado, o impulso cardíaco se espalhará pelo 
ventrículo normal muito mais rapidamente, causando o 
desvio de eixo. 
 Na figura a seguir, o ramo esquerdo está 
bloqueado e, assim, grande porção do ventrículo esquerdo 
permanece polarizada por até 0,1 segundo após a 
despolarização total do ventrículo direito. Assim, este passa 
a ser eletronegativo, enquanto o ventrículo esquerdo 
permanece eletropositivo durante a maior parte do processo 
de despolarização e o vetor tem desvio para a esquerda em 
cerca de -50°. Além do desvio, a duração do complexo QRS é 
muito prolongada, devido à lentidão de condução do 
impulso com o sistema de Purkinje bloqueado (lentidão da 
despolarização). 
 
 A figura 12-15 mostra o que ocorre durante um 
desvio de eixo para a direita no bloqueio de ramo direito. É 
possível perceber o desvio do eixo, localizado em 
aproximadamente105° e o complexo QRS alargado. O 
processo é semelhante ao que ocorro no desvio para a 
esquerda. 
 
 
CONDIÇÕES QUE CAUSAM VOLTAGENS ANORMAIS DO 
COMPLEXO QRS 
Voltagem aumentada nas derivações bipolares padronizadas 
dos membros 
 Em condições normais, as voltagens nas três 
derivações, do pico da onda R ao fundo da onda S, variam 
entre 0,5 e 2,0 mV; com a derivação III usualmente 
registrando a voltagem mínima e a derivação II, a máxima. 
Contudo, mesmo para o coração normal, pode haver 
variações. 
 O eletrocardiograma de alta voltagem é 
caracterizado por uma soma da voltagem dos complexos 
QRS nas três derivações maior que 4 mV. A causa costuma 
ser uma hipertrofia do músculo em resposta a uma carga 
excessiva, provocando geração aumentada de eletricidade 
em volta do coração, que resulta em potenciais elétricos 
 Sarah Akemi Sasaki - XXIV 
muito maiores que o normal, como nas figuras 12-12 e 12-
13. (Ex: VD se hipertrofia quando precisa bombear sangue 
por uma valva pulmonar estenosada e o VE, em casos de 
hipertensão arterial). 
 
Voltagem diminuída no eletrocardiograma 
 Uma série de antigos infartos do miocárdio que 
resulta em massa muscular diminuída pode diminuir a 
voltagem e alargar o complexo QRS, pois, nesses casos, a 
onda de despolarização se espalha de forma lenta pelos 
ventrículos, permitindo que grandes áreas do coração 
permaneçam despolarizadas ao mesmo tempo. 
 
 A presença de líquido no pericárdio também causa 
voltagem diminuída nas derivações eletrocardiográficas. O 
líquido extracelular conduz correntes elétricas com muita 
facilidade, assim, grande parte da eletricidade gerada pelo 
coração é conduzida pelo líquido pericárdico, produzindo um 
“curto-circuito” dos potenciais elétricos cardíacos, 
diminuindo as voltagens que atingem a superfície do corpo. 
“Curtos-circuitos” também podem ser causados por derrame 
pleural. 
 O enfisema pulmonar também pode diminuir os 
potenciais eletrocardiográficos, pois a quantidade excessiva 
de ar nos pulmões diminui a sua capacidade de conduzir a 
corrente elétrica. Além disso, a cavidade torácica aumenta e 
os pulmões tendem a envolver o coração mais que o normal, 
agindo como um isolante e impedindo a dispersão da 
voltagem elétrica para a superfície do corpo, produzindo 
potenciais eletrocardiográficos diminuídos. 
 
PADRÕES PROLONGADOS E BIZARROS DO COMPLEXO QRS 
Complexo QRS prolongado como resultado de hipertrofia ou 
dilatação cardíaca 
 O complexo QRS perdura enquanto a 
despolarização continua a se espalhar pelos ventrículos, 
processo que costuma durar entre 0,06 e 0,08 segundo. 
Contudo, em caso de hipertrofia ou dilatação dos 
ventrículos, a condução do impulso pode se prolongar, 
causando o prolongamento do complexo QRS até 0,09 a 0,12 
segundo. 
 
Complexo QRS prolongado decorrente de bloqueio do 
sistema de Purkinje 
 Quando as fibras de Purkinje são bloqueadas, o 
impulso cardíaco é conduzido pelo músculo ventricular; a 
velocidade de condução cai para 1/3 do normal e a duração 
do complexo QRS aumenta para 0,14 segundo ou mais. 
 O complexo QRS é considerado anormalmente 
longo quando dura mais de 0,09 segundo; quando dura mais 
que 0,12 segundo, é quase certa a presença de um bloqueio 
patológico no sistema de condução ventricular, como 
mostrado nas figuras 12-14 e 12-15. 
Condições que causam complexos QRS bizarros 
 A condução irregular do impulso cardíaco causa 
rápidas inversões das voltagens e desvios de eixo, gerando 
picos duplos e até mesmo triplos em algumas derivações 
eletrocardiográficas (figura 12-14). Na maioria dos casos, 
esses complexos bizarros são causados por: 
 Destruição do músculo cardíaco em várias áreas do 
sistema ventricular, com substituição por tecido 
cicatricial; 
 Múltiplos bloqueios pequenos e locais na 
condução do impulso em vários pontos do sistema 
de Purkinje. 
 
CORRENTE DE LESÃO 
 Muitas anormalidades cardíacas distintas, 
principalmente as que lesam o próprio músculo cardíaco, 
deixam parte do coração parcial ou totalmente 
despolarizada o tempo todo e causam as correntes de lesão 
(a corrente flui entre as áreas despolarizadas por patologias 
e as normalmente polarizadas mesmo durante os 
batimentos cardíacos). Essa condição costuma ser causada 
por: 
 Trauma mecânico, que pode fazer com que as 
membranas permaneçam tão impermeáveis que 
não permitam a repolarização; 
 Processos infecciosos que lesam as membranas 
celulares; 
 Isquemia de áreas do músculo cardíaco, causada 
por oclusões coronarianas locais (causa mais 
comum). 
 
Efeito da corrente de lesão no complexo QRS 
 Na figura 12-17, uma pequena área na base do 
ventrículo esquerdo foi infartada e fica permanentemente 
despolarizada. Assim, durante o intervalo T-P – quando o 
músculo ventricular normal está totalmente polarizado – 
ainda flui uma corrente negativa anormal da área infartada 
para o restante dos ventrículos. O vetor dessa corrente de 
lesão está na direção de 125° com a extremidade negativa 
voltada para o músculo lesado. 
 
 
 
 Como mostrado na figura, antes do início do 
complexo QRS, esse vetor já produz registro inicial na 
derivação I abaixo da linha de potencial zero, porque o vetor 
projetado da corrente de lesão na derivação I aponta na 
direção da extremidade negativa do eixo. Nas derivações II e 
III, o vetor projetado aponta na direção da extremidade 
positiva dos eixos, de modo que o registro é positivo. 
 À medida que o coração continua em seu processo 
normal de despolarização, o septo se despolariza primeiro; 
 Sarah Akemi Sasaki - XXIV 
em seguida, a despolarização se espalha para a região do 
ápice e em direção às bases dos ventrículos, sendo que a 
última porção a ser totalmente despolarizada é a base do 
ventrículo direito. Quando o coração fica totalmente 
despolarizado, todo o músculo ventricular está em estado 
negativo e não há fluxo de corrente. 
 Por fim, à medida que ocorre a repolarização, todo 
o coração se repolariza, exceto a parte lesada 
(permanentemente despolarizada). Assim, há o reapare-
cimento da corrente de lesão em todas as derivações. 
 
O ponto J – o potencial de referência zero para analisar a 
corrente de lesão 
 Existem muitas correntes extras no corpo que não 
permitem a determinação do nível exato de referência zero 
no eletrocardiograma quando os eletródios são conectados 
entre os braços ou entre um braço e uma perna. 
 Dessa forma, a fim de determinar o nível de 
potencial zero, deve-se verificar o ponto exato em que a 
onda de despolarização acaba de completar sua passagem 
pelo coração (fim do complexo QRS), quando todas as partes 
dos ventrículos estão despolarizadas e não existe fluxo de 
corrente (ausência até da corrente de lesão); esse é o ponto 
“J”, em que o potencial do eletrocardiograma está no zero, 
como mostra a figura anterior. 
 Então, para análise do eixo elétrico do potencial de 
lesão, é traçada uma linha horizontal no nível do ponto J 
para cada derivação. Essa linha é o nível de potencial zero do 
eletrocardiograma, referência para a medida de todos os 
potenciais causados por correntes de lesão. 
 
 A figura a seguir mostra os eletrocardiogramas de 
um coração lesado, em que ambos os registros mostram 
potenciais de lesão, que são a diferença entre a voltagem do 
eletrocardiograma imediatamente antes do aparecimento 
da onda P e o nível de voltagem zero, determinado pelo 
ponto “J”. Na derivação I, a voltagem registrada do potencial 
de lesão está acima do nível de potencial zero e é, portanto, 
positiva; na derivação III, o potencial de lesão está abaixo do 
nível de voltagem zero, sendo negativo. 
 
 
 Os potenciais de lesão estão representados nas 
derivações I e III e o vetor resultante do potencial de lesão é 
determinado pela análise vetorial. Quando o vetor 
resultante é colocado diretamente sobre osventrículos, a 
extremidade negativa do vetor apontará para a área lesada 
(despolarizada permanentemente). No caso apresentado 
pela figura, o vetor direcionado para a direção esquerda e 
ligeiramente para cima indicaria a parede lateral do 
ventrículo direito como área lesada. 
 
Isquemia coronariana como causa do potencial de lesão 
 A isquemia diminui o metabolismo das células 
musculares pelos seguintes processos: 
 Falta de oxigênio; 
 Acúmulo excessivo de dióxido de carbono; 
 Falta de nutrientes. 
 Em áreas de isquemia coronariana grave, a 
repolarização das membranas não ocorre, ainda que o 
músculo cardíaco seja capaz de se manter vivo com o fluxo 
sanguíneo. Enquanto isso persiste, um potencial de lesão 
continua a fluir durante o tempo diastólico (segmento T-P) 
de cada ciclo cardíaco. 
 Depois de uma oclusão coronária, ocorre uma 
isquemia extrema do músculo cardíaco e uma forte corrente 
de lesão flui da área infartada durante o intervalo T-P, 
configurando um dos aspectos diagnósticos mais 
importantes dos eletrocardiogramas registrados após 
trombose coronariana aguda. 
 Infarto agudo na parede anterior. O aspecto 
diagnóstico mais importante é o grande potencial de lesão 
negativo durante o intervalo T-P na derivação torácica V2; 
isso indica que o eletródio torácico na parte anterior do 
coração está em área de potencial fortemente negativo, ou 
seja, a extremidade negativa do vetor do potencial de lesão 
está contra a parede torácica anterior e a corrente de lesão 
é emanada da parede anterior dos ventrículos. 
 
 
 A análise dos potenciais de lesão indica um 
potencial negativo na derivação I e um potencial positivo na 
derivação III, o que significa que o vetor resultante do 
potencial de lesão do coração está em cerca de +150°, com a 
extremidade negativa apontando para o ventrículo 
esquerdo. Portanto, nesse eletrocardiograma, a corrente de 
lesão vem principalmente do ventrículo esquerdo e da 
parede anterior do coração; assim, conclui-se que esse 
infarto foi causado por trombose do ramo descendente 
anterior da artéria coronária esquerda. 
 
 Infarto na parede posterior. O principal aspecto 
diagnóstico é o potencial de lesão positivo durante o 
intervalo T-P na derivação torácica V2, o que indica que a 
extremidade negativa (lesada) aponta para fora da parede 
 Sarah Akemi Sasaki - XXIV 
torácica, ou seja, a corrente de lesão vem da parte de trás 
do coração. 
 Os potenciais de lesão são negativos nas 
derivações II e III; a análise vetorial, mostrada na figura, 
indica que o vetor resultante do potencial de lesão é de 
cerca de -95°, com a extremidade negativa apontando para 
baixo, denunciando uma lesão na porção apical do coração. 
Conclui-se, assim, que o infarto está perto do ápice, na 
parede posterior do ventrículo esquerdo. 
 
 Infarto em outras partes do coração. Por meio dos 
procedimentos anteriormente demonstrados, é possível 
determinar o local de qualquer área infartada causadora de 
corrente de lesão. Para tal, deve ser lembrado que: 
 A extremidade positiva do vetor potencial de 
lesão aponta na direção do músculo cardíaco 
normal; 
 A extremidade negativa aponta na direção da 
porção lesada do coração que está gerando a 
corrente de lesão. 
 
 Recuperação da trombose coronariana aguda. A 
partir da figura a seguir, nota-se que o potencial de lesão é 
forte imediatamente após o ataque agudo (segmento T-P 
deslocado positivamente em relação ao segmento S-T), mas 
que tende a desaparecer. Esse é o padrão usual de 
recuperação de infarto agudo do miocárdio de grau 
moderado, mostrando que um novo fluxo sanguíneo 
coronariano colateral se desenvolve o suficiente para 
restabelecer a nutrição apropriada. Contudo, caso não haja 
o desenvolvimento de novo aporte sanguíneo, o músculo 
cardíaco continua a mostrar um potencial de lesão enquanto 
a isquemia persistir sua morte. 
 
 Infarto miocárdico recuperado.

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