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CAPÍTULO 48 - SENSAÇÕES SOMÁTICAS - II DOR, CEFALEIA E SENSAÇÕES TÉRMICAS

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Leonardo F. R. Isquerdo – Medicina UFMS 2022 
CAPÍTULO 48 – Sensações Somáticas: II. Dor, Cefaleia e Sensações 
Térmicas 
 A dor ocorre sempre que os tecidos são lesionados, fazendo com que o 
indivíduo reaja para remover o estímulo doloroso 
Tipos de Dor e suas Qualidades – Dor Rápida e Dor Lenta 
 A dor rápida é sentida, dentro de 0,1 segundo, após a aplicação do estímulo 
doloroso, enquanto a dor lenta começa somente após 1 segundo ou mais 
 Dor rápida: sentida quando agulha é introduzida na pele, quando a pele é 
cortada por faca, ou quando a pele é agudamente queimada 
 Dor lenta: associada à destruição tecidual 
Receptores para Dor e sua Estimulação 
 Os receptores para dor são terminações livres 
 A dor pode ser desencadeada por estímulos mecânicos, térmicos e químicos. 
A dor rápida é geralmente desencadeada por estímulos mecânicos e térmicos, 
enquanto a dor crônica pode ser desencadeada pelos três tipos 
 Substâncias que excitam o tipo químico de dor: bradicinina, serotonina, 
histamina, íons potássio, ácidos, acetilcolina, enzimas proteolíticas. Além 
disso, as prostaglandinas e a substância P aumentam a sensibilidade das 
terminações nervosas mas não excitam diretamente essas terminações 
 Os receptores para dor se adaptam muito pouco e algumas vezes não se 
adaptam. Em certas circunstâncias, a excitação das fibras dolorosas ficam 
progressivamente maior, chamada de hiperalgesia >> a ausência de 
adaptação possibilita que a pessoa fique ciente da presença do estímulo lesivo 
 A bradicinina é a substância que parece induzir a dor de modo mais acentuado 
do que as outras substâncias. Além disso, a intensidade da dor se correlaciona 
ao aumento local da concentração de íons potássio ou ao aumento de enzimas 
proteolíticas >> membranas nervosas ficam mais permeáveis aos íons 
 Uma das causas para a dor, durante a isquemia, é o acúmulo de grande 
quantidade de ácido lático nos tecidos, em associação com a produção de 
bradicinina e enzimas proteolíticas 
 O espasmos muscular também é causa comum de dor >> estimula receptores 
para dor mecanossensíveis e comprime vasos sanguíneos 
 Os sinais dolorosos pontuais rápidos são transmitidos por fibras Adelta. Já os 
sinais dolorosos lentos crônicos são transmitidos por fibras do tipo C. Dessa 
forma, o estímulo doloroso súbito, causa sensação doloroso “dupla” 
 Ao entrar na medula pelas raízes espinhais dorsais, as fibras da dor terminam 
em neurônios-relé nos cornos dorsais. Aí existem dois sistemas para o 
processamento dos sinais dolorosos em seu caminho para o encéfalo 
 Ao entrar na medula, os sinais dolorosos tomam duas vias para o encéfalo, 
pelos tratos neoespinotalâmico e paleoespinotalâmico 
 As fibras de dor rápida terminam em sua maioria na lâmina I dos cornos 
dorsais, e excitam neurônios de segunda ordem do trato neoespinotalâmico. 
Estes neurônios cruzam para o lado opostos e ascendem ao encéfalo nas 
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colunas anterolaterais. Algumas fibras desse trato terminam nas áreas 
reticulares do tronco encefálico mas a maioria segue até o tálamo sem 
interrupção, terminando no complexo ventrobasal. Algumas também terminam 
no grupo nuclear posterior do tálamo. Dessas áreas, os sinais são transmitido 
para outras áreas basais do encéfalo, bem como para o córtex 
somatossensorial. O glutamato é o neurotransmissor secretado nas 
terminações nervosas para dor do tipo Adelta da medula espinhal, dor rápida 
 A dor pontual rápida pode ser bem melhor localizada do que a dor lenta 
crônica. Quando os receptores táteis são estimulados juntamente com os 
receptores dolorosos rápidos, a localização pode ser quase exata 
 As fibras de dor lenta transmite por fibras periféricas do tipo C, mas também 
pode transmitir alguns sinais por fibras Adelta. As fibras periféricas terminam 
quase totalmente nas lâminas II e III dos cornos dorsais (substância 
gelatinosa). Em seguida, os sinais passam por neurônios de fibras curta do 
corno dorsal, antes de entrar principalmente na lâmina V. Aí, os neurônios dão 
origem a axônios longos que se unem, em sua maioria, às fibras de dor rápida, 
passando antes pela comissura anterior e depois para cima, em direção ao 
encéfalo, pela via anterolateral 
 Os terminais de fibras do tipo C (lenta) que entram na medula espinhal liberam 
tanto o neurotransmissor glutamato como a substância P. O primeiro atua 
instantaneamente e persiste por alguns milissegundos. A substância P é 
liberada mais lentamente, com sua concentração aumentando lentamente 
 A via paleoespinotalâmica termina de modo difuso no tronco cerebral, e 
somente poucas fibras ascendem até o tálamo. A maioria das fibras terminam: 
(1) núcleos reticulares do tronco; (2) na área tectal do mesencéfalo; ou (3) na 
região cinzenta periaquedutal. De áreas do tronco, vários neurônios transmitem 
sinais ascendentes de dor para núcleos intralaminares e ventrolateral do 
tálamo e em direção de certas regiões do hipotálamo e outras regiões basais 
do encéfalo 
 As dores crônicas são de difícil localização devido à conectividade 
multissináptica difusa dessa via 
 Os impulsos dolorosos que cheguem à formação reticular do tronco cerebral, 
do tálamo e outras regiões inferiores do encéfalo causam percepção 
consciente de dor. O córtex desempenha papel na interpretação da qualidade 
da dor, mesmo que a percepção seja função principalmente dos centros 
inferiores 
Sistema de Supressão da Dor (“Analgesia”) no Encéfalo e na Medula Espinhal 
 O grau de reação da pessoa à dor varia muito, devido a capacidade do 
encéfalo de suprimir as aferências de sinais dolorosos pelo sistema de 
analgesia. 
 O sistema consiste em três grandes componente: (1) as áreas periventricular e 
da substância cinzenta periaquedutal do mesencéfalo e região superior da 
ponta que circunda o aqueduto cerebral e porções do III e IV ventrículos. Os 
neurônios dessa área enviam sinais para (2) núcleo magno da rafe e núcleo 
reticular paragigantocelular. Dessas áreas os sinais vão para (3) o complexo 
inibitório da dor localizado nos cornos dorsais da medula. Nesse ponto os 
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sinais de analgesia podem bloquear a dor antes dela ser transmitida para o 
encéfalo 
 A encefalina e a serotonina se destacam como neurotransmissores da 
analgesia. Assim, o sistema de analgesia pode bloquear os sinais dolorosos, 
no ponto de entrada inicial para a medula espinhal 
 Os opioides, agentes semelhantes à morfina, também atuam em vários pontos 
do sistema de analgesia, incluído o corno dorsal da medula espinhal 
 A estimulação das grandes fibras sensoriais do tipo Abeta originadas nos 
receptores táteis periféricos pode reduzir a transmissão dos sinais da dor 
originados da mesma área corporal, devido ao fenômeno da inibição lateral. 
Dor Referida 
 Dor referida é a dor que fica distante do tecido causador da dor. Por exemplo, a 
dor em órgãos visceral geralmente é referida à área na superfície do corpo 
 Quando as fibras viscerais para a dor são estimuladas, os sinais dolorosos das 
vísceras são conduzidos pelo menos por alguns dos mesmos neurônios que 
conduzem os sinais dolorosos da pele, e a pessoa tem a sensação de que as 
sensações se originam na pele propriamente dita 
 Cefaleia de Origem Intracraniana: a distensão dos seios venosos, em torno 
do encéfalo, lesões do tentório, a distensão da dura, na base do encéfalo, 
compressões ou distensões dos vasos sanguíneos podem causar dor intensa. 
Os tecidos encefálicos propriamente dito são quase insensíveis a dor 
Sensações Térmicas 
 As graduações térmicas são discriminadas por pelo menos três tipos de 
receptoressensoriais: receptores para frio, receptores para calor e receptores 
para dor (frio congelante e calor extremo) 
 Na maioria das áreas do corpo existem mais receptores para frio do que para 
calor 
 Os receptores para o calor são terminações nervosas livres, pois os sinais são 
transmitidos principalmente por fibras do tipo C 
 O receptor para o frio é um tipo especial de terminação nervosa mielinizada do 
tipo Adelta, mas também os sinais podem ser transmitidos por fibras nervosas 
do tipo C (terminações livres) 
 Acredita-se que os receptores para frio e para calor sejam estimulados pelas 
alterações de suas intensidades metabólicas e que estas resultam do fato de 
que a temperatura altera a velocidade das reações químicas intracelulares 
 Os sinais térmicos são transmitidos por vias paralelas às vias da dor. Na 
medula espinhal, os sinais cursam por alguns segmentos de modo ascendente 
ou descendente no trato de Lissauer, terminando principalmente nas lâminas 
I, II e III dos cornos dorsais. Após processamento por neurônios da medula, os 
sinais ascendem por fibras térmicas que cruzam para o trato sensorial 
anterolateral oposto e terminam (1) áreas reticulares do tronco cerebral e (2) 
complexo ventrobasal do tálamo 
 Alguns sinais vão do complexo ventrobasal do tálamo para o córtex 
somatossensorial

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