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CAPÍTULO 83 – Fisiologia Fetal e Neonatal Crescimento e Desenvolvimento Funcional do Feto - O desenvolvimento inicial da placenta e das membranas fetais ocorre bem mais rapidamente do que o desenvolvimento do feto. A partir da segunda a terceira semana, o comprimento do feto aumenta proporcionalmente à idade. Desenvolvimento dos Sistemas de Órgãos - Um mês após a fertilização do óvulo, os diferentes órgãos já começaram a desenvolver suas características mais gerais. Depois do quarto mês, são iguais aos do recém- nascido. - Mesmo ao nascer, o sistema nervoso, os rins e o fígado, ainda não apresentam desenvolvimento completo. - Sistema circulatório: o coração começa a bater durante a quarta semana. - Formação das células sanguíneas: na 3ª semana, as hemácias nucleadas são formadas no saco vitelínico e nas camadas mesoteliais da placenta, seguida 1 semana depois pela formação de hemácias não nucleadas pelo mesênquima fetal e pelo endotélio vascular. Em 6 semanas, o fígado começa a formar células sanguíneas e no terceiro mês, o baço e outros tecidos. A partir do terceiro mês, a medula óssea vai gradativamente se tornando a principal fonte de hemácias. - Sistema respiratório: tentativas de movimentos respiratório ocorrem no final do primeiro trimestre, mas não ocorre respiração durante a vida fetal. - Sistema nervoso: a maioria dos reflexos está presente entre o 3º e o 4º mês de gestação. A mielinização dos principais tratos só ocorre após cerca 1 ano de vida. - Trato gastrointestinal: na metade da gravidez o feto começa a ingerir líquido amniótico e durante os últimos 2 a 3 meses a função gastrointestinal se aproxima do normal. - Rins: começa a excretar urina durante o segundo trimestre de gestação, representando de 70% a 80% do líquido amniótico. - Metabolismo fetal: o feto usa principalmente glicose para obter energia, e tem grande capacidade de armazenar gordura e proteínas. - Metabolismo de cálcio e fosfato: cerca de metade do montante armazenado de cálcio e fosfato se acumula nas últimas 4 semanas de gestação, coincidindo com o período de ossificação. - Acúmulo de ferro: grande parte estar na forma de Hb que começa a ser formada na terceira semana. Parte do ferro também está armazenado no fígado para participar da formação de novas hemácias. - Utilização e armazenamento de vitaminas: as vitaminas B são necessárias à formação de hemácias e tecidos nervosos, bem como para o crescimento global do feto; a vitamina C é necessária à formação adequada de substâncias intercelulares, especialmente a matriz óssea e as fibras do tecido conjuntivo; a vitamina D é necessária para o desenvolvimento ósseo normal e para absorção de cálcio no TGI; a vitamina E é necessária ao desenvolvimento inicial do feto; a vitamina K é necessária para a formação de fatores de coagulação. Ajustes do Bebê à Vida Extrauterina O Início da Respiração - A criança começa a respirar dentro de segundos e atinge o ritmo respiratório normal em menos de 1 minuto. Esse reflexo se inicia pelo estado de asfixia e por impulsos sensoriais que se originam na pele resfriada. - Se a mãe foi deprimida com anestésico geral durante o parto, a respiração do bebê pode demorar mais para acontecer. Além disso, bebês que tiveram trauma cefálico ou trabalho de parto prolongado, podem demorar mais para respirar. No primeiro caso, hemorragia intracraniana pode deprimir o centro da respiração. No segundo caso, pela hipóxia prolongada. - Quando o bebê nasce, seus alvéolos estão colapsados devido à tensão superficial do líquido viscoso em seu interior, sendo necessário mais de 25 mmHg depressão inspiratória negativa nos pulmões para abrir os alvéolos. Após a primeira respiração, as outras se tornam mais fácil e a normalidade é atingida após 40 minutos do nascimento. - Alguns bebês prematuros e os nascidos de mães diabéticas, desenvolvem síndrome da angústia respiratória grave. Os alvéolos possuem grande quantidade de substância proteinácea (hialina) e há uma dificuldade de secretar surfactante. Essas condições causam tendência tanto ao colapso alveolar quanto o desenvolvimento de edema pulmonar. Reajustes Circulatórios ao Nascimento - O sangue que retorna da veia umbilical atravessa o ducto venoso e vai para a veia cava inferior, desviando do fígado. O sangue que entra no AD pela veia cava inferior (oxigenado) passa pelo forame oval até o AE, sendo bombeado pelo VE e depois para a circulação sistêmica. - O sangue que entra no AD pela veia cava superior (desoxigenado) é direcionado para baixo pela valva tricúspide até o VD. É bombeado para a artéria pulmonar e sua maior parte passa para a aorta descendente pelo ducto arterioso. Chega à placenta pelas artérias umbilicais, onde se oxigena. - Ao nascimento, a perda de sangue pela placenta duplica a resistência vascular sistêmica ao nascimento, aumentando a pressão aórtica, bem como no AE e VE. - A resistência vascular pulmonar diminui muito em decorrência da expansão dos pulmões, o que diminui a pressão na artéria pulmonar, no AD e no VD. - Como a pressão no AE é maior que no AD, o sangue tenta fluir de volta para o AD, mas isso acaba causando o fechamento da pequena válvula do forame oval, impedindo a passagem. - Após o nascimento, a parede muscular do ducto arterioso se contrai de modo acentuado para interromper o fluxo da aorta para artéria pulmonar, pois durante o nascimento as pressões nesses dois vasos se invertem. Com o tempo, é depositado um tecido fibroso no seu lúmen. - Após o nascimento, o ducto venoso também se fecha e o sangue passa a fluir com maior pressão pela veia porta e pelos sinusoides hepáticos. Nutrição do Recém-nascido - Depois do nascimento, a glicose armazenada na forma de glicogênio é suficiente para suprir as necessidades energéticas por algumas horas. Depois disso, seu metabolismo utiliza gorduras e proteínas, para conseguir chegar ao segundo ou terceiro dia (quando recebe leite materno) Problemas Funcionais Especiais do Recém-nascido - O recém-nascido possui instabilidade em seus diversos sistemas de controle hormonais e neurogênicos pelo desenvolvimento imaturo dos diferentes órgãos. - Sistema respiratório: a capacidade funcional residual dos pulmões do bebê é apenas a metade da de adulto em relação ao peso corporal. Então, se a frequência respiratória diminuir muito, causará aumentos e reduções excessivas nas concentrações dos gases. - Circulação: ao ordenhar o cordão umbilical no nascimento, mais sangue entrará na circulação fetal, podendo causar edema pulmonar. Alguns recém-nascidos podem nascer com o débito cardíaco baixo por causa de hemorragias. - Icterícia neonatal e eritroblastose fetal: como o fígado, ao nascimento, é imaturo, o nível sérico de bilirrubina aumenta muito (hiperbilirrubinemia fisiológica). A causa anormal mais importante de icterícia grave é a eritroblastose fetal, por incompatibilidade do fator Rh. - Balanço hídrico, balanço acidobásico e função Renal: a intensidade da ingestão e da excreção de líquido no recém-nascido é sete vezes maior em relação ao peso do adulto. O metabolismo do bebê também é duas vezes mais acelerado, formando mais ácido. O funcionamento renal se regulariza apenas no final do primeiro mês. - Função hepática: o fígado do recém-nascido conjuga mal a bilirrubina; é deficiente na formação de proteínas plasmáticas; a função da gliconeogênese no fígado é particularmente deficiente; o fígado do recém-nascido forma muito pouco fatores de coagulação. - Digestão, absorção e metabolismo de alimentos energéticos; e Nutrição: a secreção da amilase pancreáticano recém-nascido é deficiente; a absorção de gordura pelo TGI é de certa forma menor; a concentração de glicose o sangue é instável e baixa. O metabolismo, o débito cardíaco e o volume respiratório/minuto são duas vezes maiores no recém-nascido do que no adulto. Por ter área corporal elevada em relação à massa, o bebê perde calor rapidamente. O recém-nascido está em estágio de ossificação rápida ao nascer, assim é necessário ocorrer aporte de cálcio durante a infância. A ausência de vitamina D pode causar raquitismo rapidamente. Se a mãe adotou dieta deficiente em ferro, é provável que ocorra anemia grave no bebê, após 3 meses de vida. A vitamina C não é muito bem armazenado nos tecidos fetais, mas é muito importante para a formação de cartilagem e ossos. Por isso, geralmente é indicado oferecer suco de laranja a partir da terceira semana de vida. - Imunidade: o recém-nascido herda muitos anticorpos pela placenta da mãe; após o nascimento, o nível de anticorpos caí. A concentração de anticorpos volta à normalidade em torno dos 12 a 20 meses de vida. - Problemas endócrinos: (1) se a gestante de bebê do sexo feminino for tratada com hormônio androgênico, a criança nascerá com alto grau de masculinização dos órgãos sexuais, resultando em hermafroditismo; (2) os hormônios sexuais secretados pela mãe podem fazer com que as mamas do recém-nascido produzam leite durante os primeiros dias de vida; (3) bebê nascido de mãe diabética não tratada pode ter considerável hipertrofia e hiperfunção das ilhotas, causando hipoglicemia após o nascimento; (4) ocasionalmente, a criança nasce com córtices adrenais hipofuncionantes; (5) se a gestante entrar em contato com excesso de hormônio da tireoide, a criança nascerá com tireoide temporariamente hipossecretora, o contrário também é válido; (6) se o feto não secreta hormônio da tireoide, os ossos não crescem normalmente e há retardo mental, indicando cretinismo. Problemas Especiais da Prematuridade - Desenvolvimento imaturo do bebê prematuro: o sistema respiratório imaturo é causa comum de síndrome da angústia respiratória e muitas vezes está associado à respiração de Cheyne-Stokes; os sistemas digestivo e absortivo estarão quase sempre inadequados; imaturidade do fígado está ligado à defeitos no metabolismo intermediário e aumenta o risco de sangramentos; imaturidade do rim predispõe à acidose e à anormalidades do balanço hídrico; imaturidade da medula óssea causa anemia; formação diminuída de gamaglobulinas com frequência leva a infecções graves. - Instabilidade dos sistemas de controle homeostático: o balanço acidobásico pode variar muito, pode surgir edema hipoproteinêmico, tetania hipocalcêmica, variação da concentração de glicose, incapacidade de manter a temperatura corporal. - Risco de cegueira causada por excesso de terapia com oxigênio no bebê prematuro: o excesso de oxigênio interrompe o crescimento de novos vasos sanguíneos na retina. Quando a terapia é interrompida, há um rápido de crescimento de vasos, bloqueando a entrada de luz. Crescimento e Desenvolvimento da Criança - Entre os 11 e os 13 anos de idade, os estrogênios femininos começam a ser formados e causam o rápido crescimento em altura, mas também o fechamento precoce das epífises dos ossos longos em torno do 14º ao 16º ano de vida. - A testosterona no homem causa crescimento extra entre 13 e 17 anos de idade. O crescimento do homem é mais prolongado devido ao fechamento tardio das epífises. Desenvolvimento Comportamental - Determinados tratos importantes no sistema nervoso central não estão inteiramente mielinizados até o final do primeiro ano de vida. O córtex cerebral e algumas funções, como a visão, leve muitos meses para o desenvolvimento completo.
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