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O relato de queixas e problemas em um aten-
dimento psicoterápico frequentemente faz 
referências a emoções e sentimentos. Embora 
esses eventos tenham a mesma natureza de 
outras respostas presentes no repertório hu-
mano, diferenciando -se apenas em relação à 
acessibilidade, sua valorização social e seu ca-
ráter privado podem resultar em uma percep-
ção de estados emo-
cionais como eventos 
particularmente im-
portantes. Cultural-
mente, somos treina-
dos a valorizar o que 
sentimos como uma 
parte constituinte de nossa própria subjetivi-
dade (Tourinho, 2006).
Em uma perspectiva analítico -com por-
ta mental, emoções e sentimentos costumam 
ser chamados, em conjunto, de “respostas 
emocionais” (Darwich e Tourinho, 2005), e 
são tratados como fenômenos complexos, en-
volvendo componen-
tes respondentes e 
operantes (verbais e 
não verbais). Isso se 
dá em razão de que 
diferentes tipos de 
respostas podem 
ocor rer simultanea-
mente, sob controle 
de contingências am-
bientais comuns. As-
sim, um único even-
to pode controlar 
uma resposta motora e diferentes respostas 
pri vadas, como pensar, sentir uma emoção ou 
uma sensação corporal.
De acordo com Skinner (1989/1991), 
relatos sobre estados emocionais podem ser 
 19 O trabalho com relatos 
 de emoções e sentimentos 
 na clínica analítico - 
 -comportamental
João Ilo Coelho Barbosa 
Natália Santos Marques
ASSunToS do CAPÍTulo
> Emoções e sentimentos como “respostas emocionais”.
> Cuidados em relação à avaliação baseada em relatos.
> A variação de respostas emocionais em um continuum.
> Funções que as respostas emocionais podem exercer em uma relação comportamental.
Culturalmente, 
somos treinados 
a valorizar o que 
sentimos como uma 
parte constituinte 
de nossa própria 
subjetividade.
Em uma pers‑
pectiva analítico‑
‑comportamental, 
emoções e senti‑
mentos costumam 
ser chamadas, em 
conjunto, de “res‑
postas emocionais”, 
e são tratadas 
como fenômenos 
complexos, envol‑
vendo componentes 
respondentes e 
operantes (verbais e 
não verbais).
Clínica analítico ‑comportamental 179
tão úteis quanto a descrição daquilo que as 
pessoas fazem, na medida em que podem 
fornecer pistas sobre o ambiente presente e 
passado do indivíduo. Sua investigação, por-
tanto, é terapeuticamente relevante e parti-
cularmente valiosa quando condições am-
bientais passadas ainda controlam o com-
portamento presente do cliente. Essa 
situação, recorrente na prática clínica, ocor-
re, por exemplo, 
quando o cliente fala 
dos momentos difí-
ceis vividos ao per-
der um ente queri-
do. Embora possam 
ter se passado alguns 
anos do fato, o espa-
çamento temporal 
entre o momento 
presente e as contin-
gências passadas não o impede de descrevê-
-las em meio a choro intenso, relatando ain-
da sentir profunda tristeza.
Porém, embora seja útil para a terapia, a 
análise dos relatos dos clientes sobre estados 
emocionais merece 
cuidados, visto que 
alguns problemas ad-
vêm da utilização de 
relatos verbais como 
a principal fonte de 
informação sobre as 
contingências inaces-
síveis à observação 
do clínico. Em pri-
meiro lugar, descri-
ções verbais costu-
mam apresentar im-
precisões quando o 
evento descrito está ausente, pois, nesse caso, 
o controle do relato não é tão preciso como 
aquele sob controle direto das características 
de um objeto ou situação presente.
Um segundo problema se refere às ca-
racterísticas do comportamento verbal. A 
despeito do contato 
tão próximo do su-
jeito com as altera-
ções em seu próprio 
corpo, tateá -las e 
nomeá -las depende 
de um processo de 
aprendizagem con-
duzido pela comuni-
dade verbal. Portan-
to, o desenvolvimen-
to desse processo pode ser um fator limitante 
da capacidade do cliente de descrever seus 
sentimentos. Um repertório autodescritivo 
pobre, desse modo, sugere um ambiente ver-
bal insuficiente para a aprendizagem de des-
crições sob controle de condições corporais 
privadas.
Também é importante salientar que o 
comportamento de relatar respostas emocio-
nais, enquanto um operante verbal do tipo 
tato, está sujeito às variáveis que afetam o 
controle de estímulos sobre esse operante 
(tais como a presença de reforços não genera-
lizados contingentes ao relato ou a punição 
do comportamento verbal), o que pode resul-
tar em um relato distorcido, não correspon-
dente aos eventos descritos.
Assim, considerando a relevância e as 
dificuldades envolvidas na análise de respos-
tas emocionais na clínica, faz -se necessário 
discutir aspectos relativos a essa tarefa, tais 
como a observação de respostas emocionais e 
a identificação das suas funções.
> a obseRvação das 
Respostas emocioNais
Tomando a observação como a primeira ati-
vidade do clínico para o desenvolvimento de 
uma intervenção efetiva, é necessário que ele 
esteja atento às diferentes formas como as res-
postas emocionais podem se apresentar. Estas 
podem variar em um continuum cujos extre-
Relatos sobre 
estados emocionais 
podem ser tão úteis 
quanto a descrição 
daquilo que as 
pessoas fazem, na 
medida em que po‑
dem fornecer pistas 
sobre o ambiente 
presente e passado 
do indivíduo.
Embora seja útil 
para a terapia, a 
análise dos relatos 
dos clientes sobre 
estados emocionais 
merece cuidados, 
visto que alguns 
problemas advêm 
da utilização de 
relatos verbais 
como a principal 
fonte de informação 
sobre as contingên‑
cias inacessíveis 
à observação do 
clínico.
A despeito do 
contato tão próximo 
do sujeito com 
as alterações em 
seu próprio corpo, 
tateá ‑las e nomeá‑
‑las depende de 
um processo de 
aprendizagem 
conduzido pela 
comunidade 
verbal. 
180 Borges, Cassas & Cols.
mos são os respon-
dentes eliciados de 
forma quase automá-
tica (p. ex., olhos ar-
regalados e contração 
dos músculos da face 
diante de uma amea-
ça à sua integridade 
física) e respostas ver-
bais que descrevem 
para um ouvinte 
aquilo que está ocor-
rendo privadamente 
ao sujeito, com a par-
ticipação de poucos 
respondentes ou de outros operantes publica-
mente observáveis.
A observação, por parte do clínico, de 
respondentes e operantes não verbais envolvi-
dos no comportamento emocional do cliente 
é dificultada por uma razão básica: várias des-
tas respostas são privadas. Mesmo quando 
parte destas respostas é publicamente acessí-
vel, podem ser de difícil discriminação, pois 
nem sempre caracterizam uma alteração brus-
ca no comportamento público do cliente.
Assim, para conseguir relacionar res-
pondentes ou operantes específicos a uma 
mudança emocional do cliente, o clínico pre-
cisa estar constante-
mente avaliando a 
variabilidade com-
portamental apresen-
tada, lançando mão 
da comparação com 
o repertório do clien-
te previamente ob-
servado em outros 
momentos, seja na 
mesma sessão ou em 
situações anteriores. 
Detalhes sutis, como 
a mudança no ritmo 
e tom da voz, forma-
ção de lágrimas ou o aumento de gestos mo-
tores do cliente podem ser os únicos indicati-
vos da presença de uma resposta emocional.
Por outro lado, 
a observação dos as-
pectos topográficos 
de respondentes e 
operantes não ver-
bais não garante, por 
si só, a discriminação 
da resposta emocio-
nal relacionada a tais 
respostas, já que dife-
rentes emoções po-
dem produzir mu-
danças corporais parecidas. Contrações do 
rosto, por exemplo, podem estar relacionadas 
à sensação de dor ou tristeza; e uma maior 
gesticulação acompanhada de voz alta pode, 
às vezes, sinalizar eventos discriminados como 
raiva e, em outras vezes, indicar a presença de 
ansiedade.
Para uma caracterização do comporta-
mento emocional vigente, o clínico precisa 
relacionar a presença de respostas emocionais 
ao contexto verbal no qual elasestão ocorren-
do. A confrontação do relato com as respostas 
observadas pode sugerir a ocorrência de uma 
emoção específica. Quando as verbalizações 
do cliente sobre seu estado emocional estão 
de acordo com as mudanças corporais obser-
vadas, o clínico pode conferir uma maior 
confiabilidade às suas observações. De outra 
forma, a não concordância entre o comporta-
mento verbal e o não verbal precisa ser inves-
tigada.
Uma possível razão para a inconsistên-
cia entre comportamento verbal e não verbal 
pode estar na falta de um repertório verbal 
adequado de discriminação e/ou descrição do 
que ocorre privadamente ao cliente. Caso se 
confirme ser esta a dificuldade do cliente, 
cabe ao clínico planejar contingências capa-
zes de modelar tatos autodescritivos. Um re-
As respostas emo‑
cionais podem variar 
em um continuum 
cujos extremos são 
os respondentes 
eliciados de forma 
quase automática 
e respostas verbais 
que descrevem para 
um ouvinte aquilo 
que está ocorren‑
do privadamente 
ao sujeito, com a 
participação de 
poucos respondentes 
ou de outros ope‑
rantes publicamente 
observáveis.
Para conseguir 
relacionar respon‑
dentes ou operantes 
específicos a uma 
mudança emocional 
do cliente, o clínico 
precisa estar cons‑
tantemente avaliando 
a variabilidade com‑
portamental apre‑
sentada, lançando 
mão da comparação 
com o repertório do 
cliente previamente 
observado em outros 
momentos na mesma 
sessão ou em situa‑
ções anteriores.
A observação dos 
aspectos topográfi‑
cos de respondentes 
e operantes não 
verbais não garante, 
por si só, a discrimi‑
nação da resposta 
emocional relaciona‑
da a tais respostas, 
já que diferentes 
emoções podem 
produzir mudanças 
corporais parecidas.
Clínica analítico ‑comportamental 181
curso terapêutico in-
teressante para essa 
finalidade são filmes 
que evidenciam rela-
ções entre contin-
gências específicas vi-
venciadas por um 
personagem e as res-
postas emocionais 
derivadas dessa inte-
ração do sujeito com o ambiente. Estratégia 
parecida pode ser adotada na análise e discus-
são de poemas ou outras produções artísticas, 
que poderão ter ainda maior valor terapêuti-
co quando abordam temas próximos aos pro-
blemas trazidos pelo cliente.
O clínico também pode suspeitar que o 
problema não esteja na falta de um repertório 
autodescritivo, e sim na participação de ou-
tras variáveis de controle das verbalizações do 
cliente. Seria o caso de sentimentos social-
mente punidos, os quais o cliente frequente-
mente se esquiva em tatear acuradamente, o 
que resulta na emissão de relatos não corres-
pondentes ao comportamento não verbal do 
falante. Nesse caso, o terapeuta precisa sinali-
zar ao cliente a ausência de condições aversi-
vas no contexto terapêutico, constituindo -se 
no que Skinner (1953/1965) chamou de au-
diência não punitiva.
> ideNtificaNdo as fuNções 
das Respostas emocioNais
As relações comportamentais que determi-
nam a função de uma resposta são complexas, 
pois, em uma cadeia comportamental, cada 
elemento pode desempenhar diferentes fun-
ções em relação a elementos subsequentes e 
antecedentes. Como um exemplo, a negativa 
do pai ao pedido do filho de comer um cho-
colate pode alterar a frequência da classe de 
respostas que a antecedeu (por exemplo, a 
resposta de fazer soli-
citações ao pai). O 
mesmo evento tam-
bém pode eliciar res-
pondentes aversivos, 
como a raiva, e ainda 
interferir na emissão 
de outros operantes, 
como a resposta de 
agredir o pai.
Para que o clí-
nico não se limite a uma intervenção restrita 
frente às possíveis funções desempenhadas 
pelas respostas emocionais apre sentadas pelo 
cliente, é preciso ampliar a análise daqueles 
eventos, procurando identificar os compo-
nentes respondentes e operantes verbais e não 
verbais do comportamento emocional, e en-
tender como esses componentes se relacio-
nam entre si e com o ambiente. Algumas fun-
ções comportamentais possivelmente desem-
penhadas por respostas emocionais serão dis-
cutidas a seguir.
Respostas emocionais enquanto 
comportamento respondente
Estudos comparativos de emoções foram fun-
damentais para a concepção de emoção en-
quanto um comportamento respondente. 
Após 34 anos de pesquisas com inúmeros 
animais, Darwin (1872/2000) comparou e 
demonstrou que certas expressões emocionais 
humanas correspondiam a outras observadas 
em animais, argumentando que tais compor-
tamentos estariam relacionados a aspectos fi-
logenéticos.
Para Darwin, o processo de seleção na-
tural estabeleceu e manteve no repertório hu-
mano um conjunto de “emoções básicas”, as-
sim como outras características filogenetica-
mente herdadas, comuns a indivíduos de 
diferentes culturas e sociedades.
Uma possível razão 
para a inconsistên‑
cia entre o compor‑
tamento verbal e não 
verbal pode estar na 
falta de um repertó‑
rio verbal adequado 
de discriminação e/
ou descrição do que 
ocorre privadamente 
ao cliente. 
As relações com‑
portamentais que 
determinam a função 
de uma resposta 
são complexas, 
pois, em uma cadeia 
comportamental, 
cada elemento pode 
desempenhar dife‑
rentes funções em 
relação a elementos 
subsequentes e 
antecedentes.
182 Borges, Cassas & Cols.
Watson (1930/1990) partilhava da 
crença de Darwin em um conjunto de emo-
ções primárias: a raiva, o medo e a alegria. To-
das as demais emoções humanas, segundo o 
autor, seriam derivadas destas, descritas a par-
tir de padrões complexos de respondentes es-
pecíficos.
Embora não pareça conveniente limitar 
a resposta emocional a um padrão respon-
dente, a investigação das relações de controle 
em tal resposta pode levar terapeuta e cliente 
a reconhecerem a existência de condições am-
bientais eliciadoras de emoções, favorecendo 
uma explicação externalista e, portanto, mais 
consistente com os princípios da análise do 
comportamento para tais fenômenos.
função reforçadora das 
respostas emocionais
Por serem natural-
mente eliciados pelo 
próprio comporta-
mento do indivíduo, 
estados emocionais 
constituem -se em es-
tímulos potencial-
mente reforçadores 
ou punidores. Nos casos de excessos compor-
tamentais, como no uso abusivo de álcool e 
de outras drogas, no jogar ou no comer de 
forma compulsiva, emoções e estados corpo-
rais eliciados podem manter o responder em 
alta frequência e mais resistente à extinção.
Além de exercer a função de reforçador 
positivo, estados emocionais também podem 
reforçar negativamente uma resposta. Isso ocor-
re quando, por exemplo, clientes com transtor-
nos de ansiedade realizam rituais, os quais são 
mantidos pela redução no nível de ansiedade. A 
ansiedade, nesse caso, exerce controle sobre um 
conjunto de respostas de fuga e esquiva da pró-
pria condição emocional sentida.
função discriminativa 
das respostas emocionais
Uma vez que emoções específicas podem ante-
ceder e acompanhar a apresentação de conse-
quências reforçadoras ou punitivas, é possível 
que futuras ocorrências dessas emoções, mes-
mo que desacompanhadas do mesmo contex-
to ambiental, possam 
exercer controle dis-
criminativo sobre ou-
tros operantes. Isto 
pode ser observado 
quando o cliente rela-
ta ansiedade ou triste-
za sem motivo apa-
rente, e emite respos-
tas que, em situações 
anteriores, foram re-
forçadas na presença 
desses sentimentos, 
tais como pedir ajuda 
ou tomar um medicamento.
O clínico precisa estar atento à possibi-
lidade de existência do controle discriminati-
vo exercido por variáveis emocionais, pois tal 
controle pode estar envolvido na manutenção 
de uma alta frequência de “com portamentos-
-problema”. Clientes com um padrão de 
comportamento evitativo podem ficar exage-
radamente sensíveis ao seu estado emocional, 
aumentando a frequência de respostasde fuga 
ou esquiva mesmo em ocasiões em que não 
haja nenhum estímulo ambiental externo que 
sinalize a ocorrência de condições aversivas.
Além das respostas emocionais não ver-
bais, componentes verbais a respeito das emo-
ções sentidas também podem adquirir uma 
função discriminativa. Uma das possibilida-
des de intervenção frente ao relato de respos-
tas emocionais enquanto estímulo discrimi-
nativo foi proposta por Wilson e Hayes 
(2000). Esses autores valorizam os aspectos 
Por serem natural‑
mente eliciados pelo 
próprio comporta‑
mento do indivíduo, 
estados emocionais 
constituem ‑se em 
estímulos potencial‑
mente reforçadores 
ou punidores.
Clientes com um 
padrão de compor‑
tamento evitativo 
podem ficar exage‑
radamente sensíveis 
ao seu estado 
emocional, aumen‑
tando a frequência 
de respostas de fuga 
ou esquiva mesmo 
em ocasiões em que 
não haja nenhum 
estímulo ambiental 
externo que sinalize 
a ocorrência de con‑
dições aversivas.
Clínica analítico ‑comportamental 183
verbais descritivos das condições privadas 
auto -observadas, e acreditam que, da mesma 
forma que os eventos privados afetam a for-
ma como o cliente os descreve, o inverso tam-
bém pode ocorrer. Dessa forma, ao promover 
uma reestruturação do discurso do cliente so-
bre seus sentimentos e emoções, o clínico te-
ria, em determinadas condições, a oportuni-
dade de alterar a função daquelas respostas 
emocionais, mesmo que não tivesse acesso di-
reto às contingências que estabeleceram o 
controle discriminativo presente.
Entretanto, outros analistas do compor-
tamento, embora considerem a possibilidade 
de respostas verbais controlarem parcialmente 
respostas não verbais subsequentes, criticam 
um modelo de intervenção comportamental 
voltada prioritariamente para os aspectos ver-
bais das emoções. De acordo com esses auto-
res, tal modelo de intervenção corre o risco de 
valorização exagerada das autodescrições em 
detrimento da investigação externalista de 
contingências ambientais na determinação do 
comportamento (Tourinho, 1997).
Respostas emocionais enquanto 
operações motivadoras
Quando respostas 
emocionais anterio-
res a outra resposta 
não foram direta-
mente relacionadas a 
consequências espe-
cíficas, mas interfe-
rem na forma como 
o cliente interage 
com os eventos am-
bientais a sua volta, 
podemos tratá -las 
como variáveis motivadoras (cf. Catania, 
1998/1999; Michael, 1993).
Assim como ocorre com as condições 
de privação, respostas emocionais (como, por 
exemplo, as discriminadas como raiva, medo 
ou ansiedade) podem interferir em toda a ca-
deia comportamental subsequente, aumen-
tando ou diminuindo a efetividade das con-
sequências reforçadoras de uma resposta, 
além de potencializar ou reduzir o controle 
de estímulos discriminativos sobre esta. 
Como produto dessa interferência, tais con-
dições emocionais alteram a probabilidade de 
ocorrência da resposta subsequente.
Como um exemplo de condições emo-
cionais com função motivadora, Holland e 
Skinner (1961/1975) apontaram a presença 
da ansiedade, que, ao potencializar a efetivi-
dade das consequências de respostas de fuga 
e/ou esquiva, aumenta a probabilidade de 
ocorrência destes comportamentos. Esse 
exemplo de ansiedade com função motivado-
ra se diferencia das demais referências à ansie-
dade, discutidas previamente, em termos do 
tipo de controle que esta resposta emocional 
exerce sobre as de-
mais respostas. Nesse 
caso, observa -se a 
função moduladora 
dessa emoção, en-
quanto, nos demais 
casos, discutiram -se 
as funções evocativa 
e reforçadora.
Eventos que eliciam reações emocionais 
fortes frequentemente funcionam como ope-
rações motivadoras com efeitos a longo pra-
zo, tais como a morte de alguém amado, um 
estupro ou um acidente grave. O efeito esta-
belecedor de tais eventos pode persistir até 
que seja eventualmente suplantado ou modi-
ficado por outros eventos.
Na clínica, frequentemente a verbaliza-
ção do cliente acerca de eventos passados 
traumáticos é acompanhada de uma intensa 
Respostas emocio‑
nais podem interferir 
em toda a cadeia 
comportamental 
subsequente, 
aumentando ou dimi‑
nuindo a efetividade 
das consequências 
reforçadoras de 
uma resposta, além 
de potencializar ou 
reduzir o controle de 
estímulos discrimi‑
nativos sobre esta.
Alguns analistas 
do comportamento 
dirão que neste 
caso não se falaria 
de uma função de 
operação motivado‑
ra, mas sim de uma 
função alteradora de 
função de estímulo.
184 Borges, Cassas & Cols.
reação emocional1 que pode potencializar o 
efeito aversivo daqueles eventos, bem como 
evocar comportamentos de fuga ou esquiva 
em relação a eles. A 
intervenção terapêu-
tica adequada, neste 
caso, requer o ofere-
cimento de um con-
texto seguro para a 
observação e descri-
ção dos estados emo-
cionais aversivos re-
lacionados a tais 
eventos, de forma a 
enfraquecer o efeito 
dessas condições motivadoras sobre os ante-
cedentes e consequentes da resposta.
> coNsideRações fiNais
A multiplicidade de formas de participação 
dos eventos emocionais nas relações com-
portamentais conferem relevância à investi-
gação e intervenção dos analistas do com-
portamento frente aos estados emocionais, 
especialmente na prática clínica, em que tais 
eventos são mais evidentes. Assim, conhecer 
os mecanismos pelos quais as respostas emo-
cionais se relacionam com outros comporta-
mentos humanos é fundamental para a ela-
boração de uma análise e intervenção clínica 
adequadas.
Além de participarem de diversas rela-
ções comportamentais, respostas emocionais 
podem desempenhar uma variedade de fun-
ções. Por esse motivo, cabe ao clínico manter-
-se sensível às variações emocionais apresen-
tadas pelo cliente ao longo do processo te-
rapêutico, sendo capaz de identificá -las e 
analisá -las a partir do repertório compor-
tamental do cliente e do seu contexto am-
biental.
Tendo em vista tais condições, pode -se 
afirmar que a sensibilidade do clínico às res-
postas emocionais do cliente e às variações 
apresentadas por essas respostas é um fator 
contingente ao sucesso da terapia e, portanto, 
qualquer planejamento de intervenção com-
portamental deve levar em conta os efeitos 
emocionais que as mudanças planejadas pos-
sam produzir.
> Nota
 1. Este fenômeno ocorre em razão do que Sidman 
(1994) designou como “formação de classes de 
equivalência de estímulos”, o que possibilitaria aos 
estímulos verbais adquirirem as funções dos eventos 
aos quais eles se referem.
> RefeRêNcias
Catania, A. C. (1999). Aprendizagem: Comportamento, lin‑
guagem e cognição. Porto Alegre: Artmed. (Trabalho original 
publicado em 1998)
Darwich, R. A., & Tourinho, E. Z. (2005). Respostas emo-
cionais à luz do modo causal de seleção por consequências. 
Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, 
7(1), 107-118.
Darwin, C. (2000). A expressão das emoções nos homens e nos 
animais. São Paulo: Companhia das Letras. (Trabalho origi-
nal publicado em 1872)
Holland, J. G., & Skinner, B. F. (1975). A análise do com‑
portamento. São Paulo: EPU. (Trabalho original publicado 
em 1961)
Kohlenberg, R. J., & Tsai, M. (1991). Functional analytic 
psychotherapy. New York: Plenum.
Michael, J. (1993). Establishing operations. The Behavior 
Analyst, 16, 191-206.
Sidman, M. (1994). Equivalence relations and behavior: A 
research story. Boston: Authors Cooperative.
Skinner, B. F. (1965). Science and human behavior. New 
York: Free Press. (Trabalho original publicado em 1953)
Skinner, B. F. (1991). Questões recentes na análise comporta‑
mental. Campinas: Papirus. (Trabalho original publicado 
em 1989)
Skinner, B. F. (1994). Ciência e comportamento humano (9. 
ed.). São Paulo: Martins Fontes. (Trabalho originalpubli-
cado em 1994)
Cabe ao clínico 
manter‑se sensí‑
vel às variações 
emocionais apresen‑
tadas pelo cliente ao 
longo do processo 
terapêutico, sendo 
capaz de identificá‑
las e analisá‑las a 
partir do repertório 
comportamental 
do cliente e do seu 
contexto ambiental.
Clínica analítico ‑comportamental 185
Tourinho, E. Z. (1997). Eventos privados em uma ciência 
do comportamento. In R. A. Banaco (Org.), Sobre compor‑
tamento e cognição: Aspectos teóricos, metodológicos e de for‑
mação em análise do comportamento e terapia comportamen‑
tal (vol. 1, pp. 174-187). São Paulo: Arbytes.
Tourinho, E. Z. (2006). Subjetividade e relações comporta‑
mentais. Tese para concurso de professor titular. Programa 
de Pós -Graduação em Teoria e Pesquisa do Comporta-
mento, Universidade Federal do Pará, Belém.
Watson, J. B. (1990). Behaviorism. New York: W. W. Nor-
ton & Company. (Trabalho original publicado em 1930)
Wilson, K. G., & Hayes, S. C. (2000). Why it is crucial to 
understand thinking and feeling: An analysis and applica-
tion to drug abuse. The Behavior Analyst, 23(1), 25-43.

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