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HUMANIDADE E TRANSCENDÊNCIA Apostila 2018

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1 
 
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO – UNICAP 
 
CENTRO DE TEOLOGIA E CIÊNCIAS HUMANAS – CTCH 
 
ANO: 2018.1 - PAZ E BEM! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
HUMANIDADE E TRANSCENDÊNCIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PROF. LUIZ ALENCAR LIBÓRIO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RECIFE, 2018.1 
 
 
 
 
 
 
2 
 
 
HUMANIDADE E TRANSCENDÊNCIA 
 
 O FENÔMENO RELIGIOSO 
 
 
 EMENTA: 
 
 Reflexão sobre o fenômeno religioso: o encontro entre a multifacetada 
busca humana por Deus e a aproximação plural do sagrado ao mundo 
humano. 
 Análise das principais tradições religiosas, com enfoque especial para a 
tradição judaico-cristã, que marca o subsolo profundo da cultura latino-
americana. 
 
 
 OBJETIVO GERAL: 
 
 Conhecer e refletir, metódica e criticamente, sobre a dimensão 
transcendente (religiosa) do homem desde a caverna até os nossos dias, 
identificando as semelhanças e diferenças na experiência do “sagrado” 
que se faz nas diversas tradições religiosas. 
 
 OBJETIVOS ESPECÍFICOS: 
 
 Propiciar ao estudante da disciplina a descoberta da importância da 
dimensão transcendente (religiosa) na vida do homem, no seu dia a dia, 
principalmente na percepção e vivência dos valores humanos e 
transcendentais. 
 Levar o aluno a bem vivenciar os valores de sua tradição religiosa ou 
de seu grupo social, através do engajamento crítico e libertador para a 
transformação de sua vida, do ambiente onde se insere e da sociedade. 
 
 
 
C O N T E Ú D O P R O G R A M ÁTICO 
 
 
 ABORDAGENS PRELIMINARES: 
 
 Importância da disciplina na vida, no curso e na Unicap. 
 Definições: Humanidade, Transcendência, Fenômeno, Religião, Fé, etc... 
 Sondagem de interesses dos alunos sobre outros temas religiosos ou afins 
 
 
PRIMEIRA PARTE: O HUMANO SE APROXIMA DE DEUS 
 
 
 Introdução: O “vazio” e a “caminhada” existenciais do homem. 
 
 
 
 
3 
 
 
 
 I – ESTRUTURA ANTROPOLÓGICA DO FENÔMENO RELIGIOSO 
 
 
 1 – A fonte e constituição da religião, formas e cosmovisões religiosas. 
 2 - Características, interpretações e funções do fenômeno religioso. 
 3 - O fenômeno religioso no Brasil de hoje: visão panorâmica (IBGE 2010). 
 
 
II - CAMINHOS PARA A DESCOBERTA DO SAGRADO 
 
 1 - Religiosidade popular e sincretismo indo-afro-brasileiro 
 2- Experiências existenciais de Deus ontem e hoje 
 3- Religiões e compromisso social 
 
 
SEGUNDA PARTE: DEUS SE APROXIMA DO HUMANO 
 
 Introdução: A revelação de Deus no tempo-espaço 
 
 
 III - APROXIMAÇÃO DE DEUS AO HUMANO 
 
 1 - Criação e evolução, Ciência e fé: Cosmovisões materialista e espiritualista 
 2 - Processo histórico de Revelação nas religiões, e na Bíblia Sagrada 
 3 - Religiões: Lugares de encontro com Deus: As grandes Religiões 
 
 
 IV - JESUS E O MOVIMENTO CRISTÃO 
 
 1 - Jesus e o seu tempo: Dimensão sócio-político-econômico-religiosa 
 2 - Personalidade, mensagem e atuação libertadora de Jesus na Palestina 
 3 - A Páscoa do Cristo e fé cristã transformadora hoje 
 * * * 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
 
ALVES, Rubem. O que é religião?. São Paulo: Brasiliense, 1981. 
 
BOWKER, John. Para entender as religiões. São Paulo: Editora Ática, 2000. 
 
CLÉMENT, Catherine. A viagem de Théo. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. 
 
DESROCHE, Henri. O homem e suas religiões. São Paulo: Paulinas, 1985. 
 
FREI BETTO. A obra do artista. São Paulo: Ática, 1996. 
 
----------------- Entre todos os homens. São Paulo: Ática, 1998. 
 
HOONAERT, Eduardo. O movimento de Jesus. Petrópolis: Vozes, 1994. 
 
KONINGS, Johan. A Bíblia. sua história e leitura. Petrópolis: Vozes, 1992. 
 
4 
 
LlBÂNIO, João B. Deus e os homens. os seus caminhos. Petrópolis: Vozes, 1990. 
 
LIBÓRIO, Luiz Alencar – Humanidade e Transcendência – Apostila. Recife, 2014. 
 
LIBÂNIO, João B. - MURAD, Afonso. Introdução à Teologia. São Paulo: Loyola, 
1996. 
 
MORIN, Dominique. Para falar de Deus. São Paulo: Loyola, 1993. 
 
UNICAP. Teologia. Recife: FASA, 1991. 
 
 
 
 
“SITES” NA INTERNET 
 
Sociedade e Teologia: http://www.redemptor.com.br/~soter/; 
 
Conselho Mundial de Igrejas: http://www..wcc-coe.org/wcc/espanol.html; 
Cristianismo e Cidadania: http://www.cidadanet.org.br/; 
CNBB na Internet: http://www.cnbb.org.br/; 
Dom Hélder: http://www.domhelder.com.br/; 
Padre Cícero: http://www.geocities.com/MotoCity/5190/padre.html; 
Koinonia: http://www.uca.edu.ni; 
Comunidade cristã virtual: http://www.cmf.br/ccv; 
Papo católico: http://www.papocatolico.com.br/; 
Sem fronteiras: http://www.ongba.org.br/news/semfro/home.html#sf; 
Links católicos: http://esglesia.org./; 
Igreja nova: http://www.elogica.com.br/users/igrenova; 
CEHILA: http://www.ongba.org.br/memoria/cehila/home.html; 
Pastoral da juventude: http://www.pjsa.org.br; 
CEBs: http://wwwongba.org.br/memoria/10cebs/home.html; 
Mosteiro da Paz: http://www.essencial.com.br/mosteiro/; 
Biblioteca comboniana afro-brasileira: 
 http://www.ongba.org.br/org/comboni/home.html; 
Candomblé Ilê Axé: http://www.geocities.com/Athens/Acropolis/1322; 
LBV: http://www.lbv.org/; 
Chico Xavier: http://www.ldc.com.br/chicoxavier; 
Espiritismo: http://www.espiritismo.com.br/; 
Evangélico Eclesianet: http://www.eclesianet.com.br/; 
Endereços evangélicos: http://www.oh-gloria.com.br/; 
Luteranos: http://www.lutero.com.br/; 
Presbiterianos: http://www.ipb.org.br/; 
Episcopais: http://www.trindade.org.br/; 
Testemunhas de Jeová: http://www.geocities.com/Athens/5433/; 
5 
 
Igreja Messiânica: http://www.messianicos.com.br; 
Judaísmo: http://www.judaismo.com.br/; 
Budismo: http://www.members.xoom.com/dharmanet/; 
Dalai Lama: http://freespeech.org.sostibet/ensinamentos.html 
Hinduísmo: http://www.tba.com.br/pages/daran/; 
Islamismo: http://www.fst.com.br/~sbmrjbr; 
SantoDaime: http://www.geocities.com/RainForest/5949/; 
Religiones del Mundo: http://www.amarillas.com/varias/religion/index.html; 
 * * * * * 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
O FENÔMENO RELIGIOSO 
 
 
 
 ABORDAGENS PRELIMINARES: 
 
a) Importância da disciplina Humanidade e Transcendência para a pessoa, vida, 
curso e Unicap. 
 
 Pessoa e vida: As diversas dimensões do homem: Animal religiosus (Jung): A 
importância do conhecimento da religião que dá um rumo global, fundamental à 
existência da pessoa humana. Mostra o sentido da existência humana! A Dimensão de 
profundidade! 
 
 Curso: A Universidade é o lugar e tempo da cultura universal (Uno+ versare: 
Universitas). Como pode um homem versado no Todo (Uno) não conhecer, ao menos 
em nível de cultura geral! 
 
Uma pessoa é considerada culta quando: 
 
1- Conhecimentos gerais; 
2- Especialização: seu curso; 
3- Saber línguas; 
4- Viajar 
 
A dimensão religiosa acompanha o homem desde a caverna e é parte integrante 
de seu ser homem (imanente e transcendente) ? 
 
 Um Curso que visa a formação integral da pessoa deve se preocupar não 
somente com a especialização, mas com a formação global desse homem na qual se 
insere a teologia (Deus), psicologia (comportamento humano), filosofia (saber pensar 
lógica e globalmente) e outras disciplinas humanistas. 
 
 Unicap: Universidade confessional (Católica): Coerência com a “razãosocial” e 
seus princípios norteadores. O que a diferenciaria das universidades federais senão a 
preocupação com a formação global do homem? 
 
b) Definições: De + finire : Finis: Limite 
 
Humanidade: é a reflexão sobre o que é básico no ser humano em suas principais 
dimensões: biológica, psíquica e espiritual. 
 
Transcendência: é a capacidade de o homem ultrapassar-se, até atingir o Absoluto 
(Deus), gerando a Religião que supõe a Fé e faz nascer a Teologia. 
 
 Outros conceitos importantes na disciplina: 
 
Teologia: vem etimologicamente do grego Theós + loguia (ό+ί: Discurso 
sobre Deus). 
7 
 
Amplamente, Teologia é “uma ciência que, com pesquisas, aprofunda o 
conhecimento da verdade revelada”1. Ou ainda, Teologia é “Palavra organizada”, 
reflexão e discurso sobre Deus que é a questão fundamental não só de fé, como da 
própria existência (ex-sistere: estar de pé diante de, existir: Tácito) humana
2
. 
 
(Considerações sobre outras ciências e seus métodos: ά+ ‘ό: caminho 
para): Métodos indutivo e dedutivo, etc.: Passos do Método Científico: 1- Problema; 2- 
Hipóteses; 3- Verificação da Hipótese; 4- Lei; 5- Generalização. 
 
Tomando o método indutivo, observa-se que existe o fenômeno religioso. Há 
templos, os mais belos, construídos para as divindades. Os fiéis se reúnem em templos e 
em estádios para vivenciar e testemunhar sua fé. Tudo isso é fenômeno religioso. 
 
Fenômeno: vem etimologicamente do grego “fáinô: (ίω): aparecer, mostrar-se, 
fazer brilhar. É tudo que aparece aos cinco (ou seis: paranormal!) sentidos do 
homem. 
Amplamente: É o manifestar-se da dimensão religiosa do homem, chamado 
também de “homo socialis” e “homo religiosus”. 
 Vejam-se os templos de todas as religiões do mundo primitivo e atual, os livros 
sagrados, frutos dessa ligação com Deus que se chama religião. 
 
(N. B. : Mostrar fotos e cartões postais de alguns templos do mundo !) 
 
Religião: Etimologicamente vem do Latim “re-ligare” (Lactâncio): “unir de novo” 
ou “ligar junto com firmeza”, ligar o homem de novo a Deus. O homem vai a Deus 
e Deus vem ao homem. 
 
Para Cícero, “religião” vem de “re-legere” (re-ler): e é “considerar atentamente o 
que pertence ao culto divino”, ler de novo, reunir (a comunidade em nome de Deus), 
reconhecer → de novo conhecer → repetição! 
 
Para Santo Agostinho (doutor da Igreja, Tagaste, África, 354-430 d.C), “religião” 
vem de “re-eligere” (re-eleger): “tornar a escolher Deus que perdemos pelo pecado”. 
(Vide a história de Santo Agostinho!)
3
. 
 
No mundo romano, religio (religião) era o culto aos deuses romanos com 
sacrifícios de animais! Os primitivos cristãos não os aceitavam e por isso foram 
perseguidos até a morte! 
 
Como se pode observar, há várias concepções de “religião”, mas algo é comum a 
todas elas: há um Sujeito que repete a ligação, a união com um Objeto de eleição, amor 
e culto: Deus, não importando a sua concepção, nomes e quantidade, se aqui ou no 
Além! 
 
 
1
 CONCÍLIO VATICANO II, Gaudiun et Spes [Constituição Pastoral:Sobre a Igreja no mundo de hoje, 
1965, n. 62 §7]. Petrópolis: Vozes, 1968, p. 215. 
2
 Cf.BINGEMER, Maria Clara Lucchetti. Alteridade e Vulnerabilidade: experiência de Deus e 
pluralismo religioso no moderno em crise. São Paulo: Edições Loyola, 1993, p. 71. 
3
 Cf. WILGES, Irineu. Cultura Religiosa: as religiões do mundo. v. I, Petrópolis: Vozes, 1982, p. 10-11. 
8 
 
Religião: De um modo mais amplo e objetivo, “religião é a união de pessoas, 
através de crenças, doutrinas, usos e costumes, para protegê-las e dirigi-las a uma 
mesma Meta (Ser Supremo) da qual se julgam dependentes, nessa e na outra vida, e 
com quem entram em relação, através dos rituais individuais ou comunitários que 
abrangem sua vida e ética desde o nascimento até à morte de seus membros
4
. 
 
O móvel dessa ligação com Deus se chama Fé. 
 
Fé: Etimologicamente: vem do Latim: Fides: De modo amplo: Fé é uma graça e 
um ato humano. O fiel “caminha pela fé, não pela visão” (2 Cor. 5,7), conhecendo a 
Deus “como que em um espelho, de uma forma confusa... imperfeita” (1 Cor. 
13,12). 
 
Fé, segundo o Catecismo da Igreja Católica é primeiramente “uma adesão pessoal 
do homem a Deus; é, ao mesmo tempo, e inseparavelmente, o assentimento 
(consentimento) livre a toda a verdade que Deus revelou”5. 
 
Fé, segundo o teólogo M. Buber, é “a atitude de perseverança do homem em 
confronto com uma providência invisível e, todavia perceptível, escondida, mas que 
todavia se manifesta, que tira força da memória viva das gerações em consideração 
de grandes intervenções dos tempos remotos” 6. 
 
A fé pode ser mítica (recorre ao mito para abordar o divino), infantil (basicamente 
só sentimento) e adulta (sentimento e razão). 
 
A “religião”, pois, é o “sistema protetivo” mais antigo que se conhece e que gera 
as culturas. Ex. : Guerras religiosas (Irlanda, Oriente Médio, Afeganistão), etc. 
 
 c) Sondagem de interesses dos alunos sobre a religião e temas afins. 
 (Será respondida ao longo do semestre). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4
 Cf. BOWKER, John. Religiões do mundo [Religioni del mondo]. Trad. Claudia Galli et al. Torino: 
Fabbri Editori, 1998, p. 6 ). 
5
 CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. São Paulo: Edições Paulinas, 1993, p. 48, n. 150. 
6
 FRIES, Heinrich. “Fé” In: Dicionário de Teologia. v. II, São Paulo: Loyola, 1983, p. 193. 
9 
 
 
 
PRIMEIRA PARTE: O HUMANO SE APROXIMA DE DEUS 
 
 
 
 
 
HOMEM → 
 
 
 
 
 
 Introdução:” O “vazio” e a “caminhada “ existenciais do homem : 
 
O homem é esse mais (+) que carrega nas costas o “menos” (-) que o atormenta a 
ir para frente, a ultrapassar-se no tempo-espaço, fazendo história e construindo a sua 
essência e personalidade, tornando-se uma pessoa única. 
 
O “mais” (+) da composição humana é tudo o homem é (sua existência, seu ser, 
etc.) e tudo o que ele tem (qualidades, bens materiais), na sua caminhada pela 
existência, e o “menos” (-) é tudo o que ele não é (o que lhe falta no ser, seus ideais, por 
exemplo, não é ainda engenheiro, não é ainda tão paciente, etc.) e tudo o que ainda não 
tem (bens, um diploma, etc.). 
 
Esse “menos” (-) é o responsável pela busca constante do homem para se 
ultrapassar, gerando todo o agir humano, o deslocar-se, a cultura em sua complexidade 
na busca da sua realização plena (aqui e no Além): a meta final da existência. 
 
Exemplo: 
 Nascer______ ___________________________________________Morrer 
 
 E x i s t ê n c i a: Estar diante dos dois polos 
 
 
Obs.: Colocar a visão existencialista (não niilista) da caminhada do homem na 
face da terra. Colocar a importância da Vida e da Morte no caminhar humano. 
 
O homem é um ente que se desloca no espaço, gerando o tempo que acontece do 
Nascer ao Morrer (N-------------------M), havendo, depois da Morte, para quem crer a 
eternidade plena (Religiões que acreditam na Ressurreição: Judaísmo, Cristianismo e 
Islamismo) ou a eternidade intermitente (Religiões que crêem na Reencarnação, no vai 
e vem da alma: Hinduísmo, Budismo, Espiritismo). 
 
E como nasce o Fenômeno Religioso? Qual a sua fonte primeira? 
_ 
 + 
10 
 
R - É a estrutura, o ser do homem como ente que transcende essa realidade com a 
sede do Infinito, do que não cria rugas e nem envelhece: a eterna beleza, a perene 
felicidade como pregam as religiões. 
 
 
 
I – ESTRUTURA ANTROPOLÓGICA DO FENÔMENO RELIGIOSOIntrodução: 
 
Nos primórdios da humanidade, havia uma fé mais mítica com comportamentos 
mágico-religiosos dos paleantropídeos (homens antigos, primitivos) na Era geológica do 
Peleolítico (340 milhões de anos atrás). O homem tem um “vazio” que ninguém e nada 
nesse mundo preenchem e que o faz lançar-se para frente (transcender-se) buscando 
encher esse vazio. 
 Santo Agostinho dizia que o "coração do homem é irrequieto e não descansa 
enquanto não se jogar em Deus” (como o rio só pára quando vira mar!). Vide analogia 
do ímã e limalhas! 
 Segundo o médico e psicanalista Viktor Frankl, pai da Logoterapia (a terceira 
onda da Psicanálise), Deus é presença no Inconsciente do homem
7
: no homem há uma 
abertura ôntica, estrutural para Deus, para o Ser Supremo
8
. 
 
I .1 - A fonte e constituição da religião, formas religiosas e cosmovisões 
 
A fonte primeira da religião é a experiência do “sagrado” que acontece no homem 
desde a caverna até os nossos dias (Vide filme: 2001: uma odisséia no espaço). 
 
A – As fontes da religião 
 
São várias, no entanto, as Escolas que interpretam o nascer do fenômeno religioso 
no homem primitivo, partindo dessa experiência básica do “sagrado” em contraposição 
ao profano, como muito bem analisa esse fenômeno, o especialista em religião da 
antiguidade o professor Dr. Mircea Eliade
9
. 
Eis as principais Escolas que tentam explicar as fontes do fenômeno religioso: 
 
 Escola mitológica: 
 
 As formas religiosas derivam dos mitos mal interpretados pelos primitivos. O 
mito é um modo fantasioso de abordar, de se aproximar do “sagrado” (Deus), em seu 
mistério (tudo o que é, mas não se sabe direito como é). 
 
 Eis as concepções das principais fontes primitivas da religião (mitológicas). 
 
 Simbolista (Frederico Kreuzer): a sensação de ser uma só coisa com a 
natureza leva o homem a exprimir e a personificar, simbolicamente, na 
 
7
 Cf. FRANKL, Viktor. A presença ignorada de Deus: psicoterapia e religião. [Der unbewusste Gott: 
Psychoterapie und Religion].Trad. de Walter O. Schlupp e Helga H. Reinhold. Petrópolis: Vozes, 1993, p. 
18-25. 101 p. 
8
 Cf.FRANKL, Viktor. Idem, Ibidem, p. 77-91. 
9
 Cf. ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano: a essência das religiões.[Das Heilige und das Profane] 
Trad. de Rogério Fernandes. Lisboa: Edição Livros do Brasil, 1956. 234 p. 
11 
 
arte e na literatura, as forças da natureza. A natureza foi mal 
compreendida pelas gerações posteriores dando, assim, origem ao 
politeísmo. 
 
 Natural-mitológica (Max Müller): O exame filológico da mitologia, da 
natureza dos povos indo-europeus mostra que a multiplicidade de nomes 
para a mesma coisa deu origem a diversos personagens ou deuses, 
concebidos diferentemente. 
 
 Mais ou menos assim como se dá hoje com Nossa Senhora. Maria de Nazaré, 
esposa de São José, é chamada Nossa Senhora dos Navegantes, Nossa Senhora 
Medianeira, Nossa Senhora do Carmo, Nossa Senhora do Caravaggio, Nossa Senhora 
Aparecida, Nossa Senhora de Lourdes, Nossa Senhora de Fátima, Nossa Senhora da 
Salette, etc. 
 Uma pessoa menos instruída poderia pensar que se tratasse de diversas Nossas 
Senhoras. No entanto, trata-se da mesma pessoa com títulos diferentes. 
 
 Astral-mitológica (Winkler, Jeremias, Stucken): a mitologia dos astros 
(Babilônia) deu origem à religião, que foi, na sua primitiva expressão, 
politeísta. Hoje, há muitos fiéis que ainda acreditam no poder dos astros 
sobre sua vida moral e espiritual. 
 
 Crítica: A mitologia não produz a religião, mas a religião produz a mitologia, 
pois as concepções sobre os deuses, os fatos extraordinários da antiguidade, os 
antepassados, as idéias religiosas são expressas na mitologia. Noutras palavras, em 
primeiro lugar vem a dimensão religiosa do homem e depois os mitos e os seus tratados 
(mitologia). 
 
 Escola antropológica ou evolucionístico-psicológica 
 
 Essa escola estuda os povos primitivos de hoje com as suas idéias religiosas, 
para concluir, a partir das idéias religiosas desses povos, as idéias religiosas primitivas 
da humanidade. 
 Essa Escola parte do princípio de que entre o povo mais primitivo deve 
encontrar-se a forma religiosa mais primitiva da qual, psicologicamente, se 
desenvolveram as outras formas religiosas que se encontram entre os povos de cultura 
mais elevada. 
 Os autores dessa Escola se expressam diferentemente, quanto ao estágio 
religioso primitivo. Lubbock: a humanidade, em seu estágio primitivo, foi ateísta. Não 
como negação de Deus, mas como ausência da idéia de Deus. Herbert Spencer afirma 
que a forma mais primitiva foi o manismo. E. Tylor acredita que foi o animismo. King e 
Franer asseguram que foi o magismo. Mac Lennan afirma que foi o totemismo. 
 
 Crítica: A teoria do evolucionismo no terreno religioso é mera hipótese, não 
havendo ainda dados de pesquisas que afirmem o que os autores acima asseguram como 
sendo a forma religiosa primitiva. 
 
 Escola do método histórico-cultural: 
 
 
 Essa escola estuda as várias culturas dos povos, procurando as mútuas relações 
entre elas. Assim fazendo, pode determinar os vários “ciclos culturais”. Determinados 
os ciclos, procura determinar a sua antiguidade, pelo menos, sua antiguidade relativa. 
12 
 
Só então é que se entrega ao estudo do fenômeno religioso no ciclo, relativamente mais 
antigo, que se pode determinar. 
 Os fundamentos deste método foram postos pelos acatólicos Graebner e 
Ankermann. Foi aperfeiçoado pelo Pe.Guilherme Schmidt, e sua escola de Viena 
(Koppers, Schebeta, Gusindo), revista por Antropos e, na França, pelo Pe. Pinard de la 
Boulaye. 
 Pe. Schmidt chega à conclusão de que a forma mais primitiva religiosa é o 
monoteísmo. O Ser Supremo destes povos é “chamado de pai-meu, pai-celeste, nosso-
pai’. Esse pai é bom por essência. É o legislador supremo, o recompensador do bem e 
do mal. Já viveu entre os homens, criando-os e educando-os. Mas não permaneceu entre 
eles por haverem pecado (Vide Gênesis, Cap. 3). 
 
 No entanto, ele continua a cuidar dos homens, a vigiar suas ações. Os homens 
podem entrar em contato com ele, através da oração e do sacrifício. Esta idéia tão 
perfeita do Ser Supremo obscurece-se nos ciclos superiores de cultura, onde começam a 
mesclar-se as formas de magismo, humanismo e outras formas. 
 Aqui, em vez de evolução, nós temos uma depravação religiosa. Quanto mais 
elevada a cultura, tanto mais o homem se afasta do verdadeiro Deus. 
 
A. Lang, diante dos argumentos do Pe. Schmidt, passou do animismo ao 
monoteísmo. Segundo ele, o homem primitivo chegou a isso pelo raciocínio: dos efeitos 
à causa primeira. Para o Pe. Schmidt só a revelação primitiva explica o monoteísmo: 
 
 a) Porque não se encontram vestígios de que a religião provenha das próprias pes 
 quisas, mas constata-se o contrário: é Deus que comunica a fé e os preceitos 
 morais. 
 b)A ideia de um Deus bom, não obstante o sofrimento no mundo, é uma doutrina 
 que dificilmente pode provir do raciocínio
10
. 
 
 
 
 B – Elementos constitutivos da religião 
 
 Todo o grupo religioso forma uma religião ou Igreja (Comunidade de fiéis) 
cujos elementos constitutivos da religião vivenciada são essencialmente os seguintes: 
 
1) Doutrina: (crença, dogma): Toda religião tem sua doutrina. Doutrina sobre a 
origem de tudo, sobre o sentido da vida, sobre a dor, sobre a matéria, sobre o além. 
Esta doutrina tem uma fonte. 
 
 Para as religiões primitivas (animismo, fetichismo, politeísmo, etc.) a fonte é a 
Tradição dos antepassados. 
 
 Para as religiões sapienciais e para as atitudes filosóficas, a fonte é a palavra de 
sábios iluminados (hinduísmo, budismo, xintoísmo,confucionismo, taoísmo). 
 
Para as religiões proféticas (judaísmo, cristianismo, maometismo), a fonte é a 
palavra de Deus que se revela pelos profetas. 
 
 2) Ritos (cerimônias): através deles, a comunidade se une. Ritual: o ritual é algo 
feito com escrupulosa atenção até nos mínimos detalhes
11
. O homem não pode 
viver sem símbolos, sem ritos, sem estruturas visíveis. 
 
10
 WILGES, op. cit., p. 13-15. 
13 
 
3) Ética (leis): Logicamente cada religião traz consigo as conseqüências da sua 
doutrina, ensinando o que está certo e errado, dentro de sua cosmovisão. Pouco a 
pouco, vão se destacando, no emaranhado de preceitos das religiões, os preceitos 
verdadeiramente importantes: a lei do amor, a lei da natureza e a lei do bom senso. 
 
4) Comunidade: A religião tende a formar comunidade. Quem está convencido de 
uma crença, sente-se, irresistivelmente, atraído para os seus coirmãos e quer 
manifestar a sua fé junto com eles. Estes aspectos impedem que o sentimento 
religioso se dissolva em sentimentalismo individualista e incoerente. Sem isso a 
religião torna-se incomunicável e arbitrária, uma prisão em vez de um caminho. 
 
 5) Relação: Eu -Tu: Toda religião inclui uma atitude de Eu -Tu, um 
relacionamento pessoal. Religião não é, em primeiro lugar, doutrina, rito, lei, mas 
relação pessoal com Deus. Quando esta existe, as dificuldades doutrinais, rituais e 
morais desaparecem 
12
. 
 
 
 C – Principais formas religiosas 
 
 Os principais modos (formas) de manifestar o sentimento religioso são os 
seguintes: 
 
1) Teísmo - O sujeito dos atributos divinos é distinto dos outros seres e pertence à 
ordem transcendental. Esse ser é o criador do mundo e a sua causa vivificante (ou 
causa primeira: o “motor non motus” de Aristóteles, depois São Tomás de Aquino). 
2) Deísmo - O sujeito dos atributos divinos é um Deus sem atributos morais e 
intelectuais. É um Deus que não intervém na criação. Não há revelação 
sobrenatural. 
 Podemos dividir o teísmo em monoteísmo, politeísmo, henoteísmo, panteísmo e 
panenteísmo. 
 
3) Monoteísmo: Há um só Deus. 4) Politeísmo: Há vários deuses. 5) Henoteismo: 
Propõe a veneração de um Deus Supremo, mas não nega a existência de outros. 
 Opõe-se ao teísmo: 6) Ateísmo: Deus não existe. 
7) Panteísmo: Tudo é Deus: O universo, a natureza e Deus são idênticos. Não há 
nenhuma diferença quanto ao ser. 
 
8) Panenteísmo: Deus, como criador e autor de todas as coisas, está em tudo, sem 
ser tudo (panteísmo). 
9) Dualismo: há o deus do bem e do mal igualmente poderosos: No zoroastrismo: 
Ahriman e Ormuzd. 
10) Animismo - é mais crença, mentalidade, idéia do que doutrina elaborada. 
Enxerga, por detrás dos objetos sensíveis, uma vida: alma, psique ou espírito, capaz 
de entrar em relações diretas, em certos casos e sob certas condições, com o 
homem. 
 Não é, necessariamente, uma religião. É uma tentativa de explicação dos 
fenômenos da natureza. Mas pode ser religião quando leva o homem ao culto de 
adoração. 
 
11
 Cf. WILGES, op. cit., p. 6. 
12
 Cf. WILGES, op .cit. p.11-12. 
14 
 
 Exemplos de animismo: Colocando-se uma criança nos traços deixados por um 
mágico poderoso tem-se esperança de que ela participe de seu poder. As pegadas do 
mágico são animadas ainda por ele. 
 Uma mulher, tendo posto sobre si a roupa suada do homem, torna-se grávida. A 
veste é animada pelo homem. Faz-se um trabalho sobre a fotografia de uma 
determinada pessoa, pensando-se assim atingir a mesma. Ex. : Rio Ganges, na 
Índia. 
 
11) Magismo: crença numa certa força ou num poder oculto, mas impessoal, que 
excede às forças naturais, de que certos homens se podem apropriar e produzir, 
assim, efeitos extraordinários. O mágico procura captar estas forças e colocá-las à 
sua disposição. Magia branca: é aquela que procura o bem do homem. Magia negra: 
é aquela que se usa para prejudicar as pessoas. 
 Exemplos de Magia: Procura-se fazer desaparecer as doenças usando fórmulas 
como: "O papagaio voou”. O cuco voou. A codorna voou. A doença voou 
“derramando água, obedecendo-se a certos ritos, produz-se chuva. 
 Em 2003, peruanos chamaram pessoas ligadas à magia para fazer todo um ritual 
contra a seleção brasileira de futebol, empatando os dois times em 1 x 1. 
 
12) Manismo - culto às almas de defuntos, como oferecimentos de sacrifícios. Fala-
se também em Euhemerismo (Euhemero, filósofo grego): os deuses nada mais são 
do que homens divinizados. 
13) Monismo: Todas as coisas e pessoas emanam de Deus e, por isso, são divinas, 
da mesma essência de Deus (panteísmo). 
 
14) Totemismo - (etimologicamente = tribo-clã) crê-se que há um parentesco entre 
o clã e uma espécie animal ou vegetal. Julgam-se, por exemplo, descendentes da 
união de um urso com uma mulher. Então, o nome de seu totem vai ser urso. Este 
torna-se um animal sagrado. 
 Não se pode matá-lo, a não ser em condições especiais, em que se come a sua 
carne e se bebe o seu sangue para haurir a força, a inteligência, ou a agilidade desse 
animal, do totem. Há ritos de agregação ao totem
13
. 
 
15) Fetichismo: crença que a alma de um morto esteja presente num de seus objetos 
deixados. Ex.: aliança, mecha de cabelo, etc. 
 
 
 D – As principais cosmovisões religiosas 
 
 Em síntese, as religiões se dividem em: 
 
1. Religiões primitivas: a) Politeísmo; b) Animismo; c) Totemismo; d) Manismo; 
e) Magismo. 
 
2. Religiões sapienciais: a) Hinduísmo; b) Budismo; c) Jainismo; d) Taoísmo; e) 
Confucionismo; f) Xintoísmo; g) Igreja Messiânica Mundial; h) Perfect Liberty; 
i) Moonismo; j) Hare Krsna. 
 
3. Religiões proféticas: a) Judaísmo; b) Cristianismo; c) Islamismo. 
 
4. Religiões espiritualistas: a) Espiritismo (1848); b) Umbanda. 
 
 
13
 WILGES, op. cit., p. 12-13. 
15 
 
5. Atitudes filosóficas: a) Materialismo (ateísmo); b) Humanismo ateu ou deísta; c) 
Agnosticismo; d) Maçonaria; e) Yoga; f) Seicho-No-Iê; g) Rosa Cruz; h) Teosofia; 
i) Esoterismo; j) Anandra Marga
14
 , etc. 
 
 
 
 I . 2 – Características, interpretações e funções do fenômeno religioso 
 
 
 A religião é caracterizada (concebida e interpretada) de diversas maneiras desde 
o seu nascer até as funções (finalidades) que exercem na vida do indivíduo e da 
sociedade como um todo. 
 Eis as principais características, interpretações e funções da religião (fenômeno 
religioso): 
 
 
 A - Características da religião: fatores extrínsecos 
 
 1) O surgir da religião se deve ao obscurantismo dos padres que a inventaram. A 
ambição de uma casta sacerdotal criou, fraudulentamente ou não, dogmas ininteligíveis, 
práticas supersticiosas, às quais, pouco a pouco, sujeitou os fiéis pela tradição, educação 
e culto (teoria dos primeiros positivistas e enciclopedistas)
15
. 
 
 2) O Marxismo: (K. Marx: economista, filósofo e socialista alemão: 1818-1883): 
Religião é a superestrutura do poder econômico. Existe o capital e este precisa defender-
se. Para isso existe o exército, a polícia, o Estado e a religião. Por isso ela é contra o 
povo. A religião diz: é preciso obedecer ao estado, ao patrão, mesmo que eles nos 
explorem. Não se deve revoltar, mas é preciso obediência e paciência, depois, no céu, 
Deus vai recompensar. Nada de luta de classes. Por isso, a religião é o ópio do povo. O 
progresso do Socialismo acabará, necessariamente, com a religião. 
 
 Crítica: Pode-se perguntar: se os padres inventaram a religião, quem inventou os 
padres? Quanto ao Marxismo: não é o Marxismo umópio ainda pior? A religião deixa 
viva a esperança num mundo melhor, no além. O Marxismo não dá esperança nem para 
este (paraíso terrestre que nunca se realiza), nem para outro mundo. 
 
 3) Durkheim: (Émile Durkheim: sociólogo francês: 1858-1917): Teoria 
Sociológica: o indivíduo tem o sentimento de uma profunda dependência em relação à 
sociedade. Ela lhe dá tudo. Ela lhe dá a cultura, a civilização; ela é a lei do seu 
pensamento, princípio de sua ação; ela cria o fenômeno religioso. Cônscio de sua 
dependência, o homem começa a aderir à sociedade fazendo dela uma divindade. Quer 
dizer que o homem projeta para o além, numa divindade, o seu sentimento de 
dependência da sociedade. 
 
 Crítica: O homem é anterior à sociedade. Se a religião fosse contra a natureza do 
homem, ela não poderia subsistir . Ela já teria desaparecido. 
 
 4) Ludwig von Feuerbach (1804-1872), filósofo alemão (, afirmou que em vez 
de Deus ter criado o homem, foi o homem que criou, inventou Deus. O homem projetou 
num ser, dito supremo, tudo o que ele gostaria de ser e ter. Deus ninguém mais é que a 
projeção da mente do homem. 
 
14
 WILGES, op. cit., p. 19. 
15
 Positivismo de Augusto Comte, filósofo francês (1798-1857): “Conjunto de doutrinas com uma 
orientação cientificista do pensamento filosófico, visto como de capital importância para o progresso do 
conhecimento”. E o Enciclopedismo: “Conjunto de conhecimentos enciclopédicos da Renascença” (Séc. 
XV-XVI) (Cf. “Positivismo” e “Enciclopedismo”, In: Dicionário Aurélio, Rio de Janeiro: Ed. Nova 
Fronteira, 1986 ( 2ª edição, p. 1371 e 645 respectivamente). 
16 
 
 
 Crítica: E quem criou o homem que inventa, projeta Deus?! 
 
 5) Friedrich Nietzsche, (1844-1900), filósofo alemão, afirmou, por sua vez, que 
Deus morreu e as igrejas (templos) são nada mais que túmulos de Deus. 
 
 Crítica: Deus mais do que nunca está vivo e muitos templos estão cheios. 
 
 6) Revelação: O fenômeno religioso universal se explicaria por uma revelação 
positiva da parte de Deus, concebida especialmente pelos grandes monoteísmos (teoria 
dos tradicionalistas). 
 
 Crítica: A revelação explica certa forma de religião, mas não a universalidade 
do fenômeno religioso como tal. 
 
 
 B - Fatores intrínsecos: Interpretações da religião 
 
 1) A origem da religião provém do medo, da ignorância, ou, então, também do 
entusiasmo pelos fenômenos da natureza, os quais se personificam sob a influência 
destes fatores, e a religião está criada. Há três estágios na evolução religiosa: 
 
 O teológico, em que os homens procuram explicar tudo com os deuses, também 
as leis da natureza. 
 O Metafísico, em que os fenômenos da natureza são explicados com entes ou 
conceitos metafísicos. 
 O Positivo, em que os fenômenos são estudados, cientificamente, e explicados 
por meios naturais. Assim, o primeiro estágio da humanidade foi o religioso; o 
segundo, o filosófico e o terceiro é o da ciência positiva. É esta a teoria de A. 
Comte. 
 
 Crítica: O medo desapareceu e a religião continua. Os animais também têm 
medo, mas não têm religião. O entusiasmo pela natureza existe em muitas pessoas, mas 
nem de longe em todas e, assim mesmo, o fenômeno religioso persiste também nelas. 
Há grandes cientistas, como Einstein e Werner von Braun, que não podem ser acusados 
de ignorância cientifica, no entanto, acreditavam num Ser Supremo. 
 
 2) A religião provém da fantasia viva e irrefletida dos primitivos, ou do apetite 
ilusório da felicidade completa, o da demasiada tensão de afetos (James, Froschammer, 
Strauss, Stuart Mill, Ziegler, Paulsen, Wundt), ou de uma perturbação nervosa, de um 
estado psicológico doentio da psique humana (Lombroso, Janet). 
 
 Crítica: Só a fantasia não explica a universalidade do fenômeno religioso. Pode 
explicar alguma coisa. Quanto às outras opiniões, deveríamos admitir que a 
humanidade, depois de todos os progressos técnicos, ainda vive na mesma ilusão de 
felicidade, ou então, que a humanidade inteira é um hospital inteiro de doentes 
nervosos. 
 
 3) A religião provém da percepção imediata do divino. O homem perceberia o 
divino por seus sentidos (Max Müller) ou existiria no homem uma faculdade especial, 
distinta das faculdades ordinárias da psique humana, pela qual o homem tenderia ao 
divino, ao numinoso; percebê-lo-ia como tendência legítima da natureza, e assim 
espontaneamente seria levado a fazer atos religiosos. 
 
 4) Sigmund Freud (neurologista e psiquiatra austríaco, pai da psicanálise:1856 
(Moravia) – 1939 (Londres): A religião provém de uma neurose universal, uma neurose 
universal de culpa. Um patriarca tinha diversas mulheres e muitos filhos. Como os 
17 
 
filhos não tinham participação nas mulheres, eles se uniram e mataram o pai, e 
repartem, entre si, as mulheres. Mas, logo depois, veio o sentimento de culpa. Matamos 
o pai! Esse sentimento não os queria largar. Procuram, então, a tranqüilidade para sua 
consciência: procuram aplacar o pai, oferecendo sacrifícios. Eis a religião! Curando-se 
dessa neurose de culpa, libertar-se-á o homem da necessidade religiosa. 
 
 Crítica: O corpo humano rejeita um corpo que lhe é estranho. Se a religião fosse 
algo contra a natureza humana, esta já a teria rejeitado. 
 
 5) C.G. Jung: (Psicólogo e psiquiatra suíço (Basel): 1875- 1961): A psique 
humana, na sua camada mais profunda, é religiosa, crística e teísta. 
 
A inspiração e a revelação são o irromper de conteúdo do inconsciente 
individual e coletivo para a vida consciente. O "Selbst", que é o arquétipo do fenômeno 
Deus, é o pólo centralizador de toda vida psíquica e habita no mais profundo da 
realidade humana. 
 
 A emergência dessa camada profunda à consciência apresenta-se no fenômeno 
que chamamos de inspiração e de revelação. Em outras palavras, o homem é um ser 
religioso. Ele tem dentro de si uma força, um dinamismo que o impele para Deus. 
Quando o homem recalca essa energia, durante um tempo prolongado, ele se torna 
neurótico. 
 
 Jung, como já vimos, somente conseguiu curar os seus pacientes com mais de 
trinta anos, fazendo que assumissem a sua antiga fé. O ateu, portanto, é aquele que não 
permite que o seu ser religioso aflore à consciência. 
 
 6) Viktor E. Frankl (médico austríaco, pai da logoterapia, esteve no campo de 
concentração nazista: Nasceu em 1905 e morreu em 1997). 
 
 No seu livro, a Presença ignorada de Deus (Der unbewusste Gott), ele defende 
que, no inconsciente do homem, existe uma fissura ôntica, preenchida pelo próprio 
Deus e que nós a ignoramos (porque é inconsciente!). 
 
 Daí ser ele atormentado por esse “vazio” (fissura) que o leva a sentir e a buscar 
e cultuar Deus (deuses), nos diversos tempos e espaços de sua caminhada existencial 
pela face da terra. Daí nasce o fenômeno religioso, segundo Frankl. 
 
 Conclusão: Todas essas explicações esclarecem alguma coisa, mas não tudo. Por 
isso, é preciso unir os elementos extrínsecos aos intrínsecos, pois todos esses elementos 
supõem da parte do homem um conhecimento e uma adesão viva, um agir racional e 
voluntário. 
 
 Donde provém, portanto, a universalidade do fenômeno religioso? Da natureza 
humana, mas esta deve sua existência ao Ser Supremo. Logo, o fundamento último do 
fenômeno religioso é Deus mesmo
16
. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
16
 WILGES, op. cit. p. 16-19. 
18 
 
 
C – As funções (finalidades) da religião na vida do homem e da comunidade 
 
As religiões são as maiores conquistas da humanidade, achando-se o homem 
religioso na metade do caminho (com a ajuda de Deus) entre Deus e o mundo, tornando-
se cheio de força interior. A religião, portanto, serve para: 
 
1) Dar ênfase à vidae a pessoa humana, protegendo-as dos perigos internos e 
externos ao homem. A religião é o primeiro sistema protetivo da humanidade de que se 
tem notícia. 
 
A sobrevivência do homem 
 
Por causa da sobrevivência (o 1º instinto: conservação da vida; 2º: procriação » 
desejo de durar » não morrer » aponta para o que não passa: eterno) é que as religiões se 
preocupam tanto com a comida e o sexo. O alimento fará parte de nosso corpo e o sexo 
é a união primitivo-radical de duas pessoas para preservação da espécie e o prazer que 
faz a pessoa humana suportar os revezes da vida. 
 
As religiões prescrevem o que se pode comer (galinha, boi, peixe, etc.) e o que 
não se pode comer (carne de porco, ovo, etc.) com quem se casar (da mesma religião ou 
não) ou não (primos carnais, mesma religião) e que tipo de comportamento sexual 
devem os membros ter ou não (incesto, homossexualidade, etc.). 
 
O comportamento e atividades das mulheres são regulados em muitas religiões 
(cfr. Cristianismo, Judaísmo, Islamismo) e com muito cuidado já que a mulher conserva 
o embrião consigo na gestação. 
 
Tudo o que acima foi exposto tinha, no passado, uma notável importância quando 
se conhecia muito pouco sobre a “reprodução” e a vida estava exposta a vários riscos, 
especialmente a vida do feto e das crianças. 
 
Hoje já se conhece bem mais sobre a concepção e já existe a pílula 
anticoncepcional que permitem aos casais de terem relações sexuais sem 
necessariamente conceberem uma criança e por isso muitos desses elementos são 
criticados (uso da camisinha, da pílula, métodos artificiais: DIU, etc.). 
 
No entanto, não se esqueça de que por milhares de anos as religiões foram os 
melhores sistemas que a humanidade dispunha para assegurar a sua sobrevivência. “Se 
não fossem as religiões, nós não estávamos aqui hoje e teríamos sido extintos como os 
dinossauros” 17. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
17
 Cf. BOWKER, op. cit., p. 7. 
19 
 
 
2) Continuar a vivenciar a “sabedoria”: modo de viver (tradições, costumes) e de 
sobreviver (normas sociais e religiosas) dos antepassados; 
 
 A organização das religiões 
 
 Uma das funções da religião é transmitir a sabedoria e informações herdadas ou 
adquiridas das gerações passadas às novas gerações, visando a proteção ou a 
sobrevivência deles como se viu anteriormente. 
O modo como se organiza essa transmissão da sabedoria varia de religião para 
religião. Algumas são fortemente organizadas com hierarquias específicas e autoridade 
de controle (Catolicismo) e outras não tanto como o Islamismo e outros grupos 
religiosos novos. 
 Outras têm uma total ausência de controle ao nível de controle máximo 
(Hinduísmo, embora tenha uma infraestrutura embasada muito forte: mestres, gurus, 
templos e lugares sacros). 
Para manter essa organização há: os padres, bruxos, xamãs, gurus, ímãs, rabinos, 
monges, papas, etc. 
18
 
 
3) – Apontar a felicidade parcial (aqui na terra) e plena (em Deus) 
 
Religião e a busca da felicidade 
 
Se a religião une as pessoas entre si, elas podem, no entanto, fazer muito mais. 
Além do sistema protetivo, a religião leva os membros das Igrejas à descoberta de si 
mesmos (quem sou?) e do mundo circunstante (De onde vim? Para onde vou?) e à 
procura da felicidade (realização pessoal e grupal) no aquém e além-túmulo. 
 
O primeiro campo da busca da felicidade é o próprio corpo naquilo que ele pode 
experimentar ou vir-a-ser. Por exemplo, a busca de interioridade, encontrando a 
verdade no interior do corpo, através da iluminação, chegando à paz, ao sentimento de 
vazio como fez Sidharta Gautama (Buda: o iluminado). A busca desse “mar privado” 
(filósofo Thoreau) com as correntes da natureza interior é uma preocupação básica de 
quase todas as religiões, mormente o Jainismo e o Budismo. 
 
Outro campo da busca da felicidade é o mundo externo, o mundo das relações, 
encontrando a verdadeira felicidade no relacionamento fraterno com os semelhantes e 
com o Outro (Deus), através do amor, da caridade e do serviço (Judaísmo, Cristianismo 
e Islamismo), sendo o poder mais alto reconhecido como Deus, fonte suprema de toda a 
forma de vida (criatura). 
Esse Deus tem vários atributos (no Islamismo 99) entre os quais os mais 
importantes são: eterno, onisciente, onipotente, misericordioso, compassivo, Criador, 
Pai, Patrão, Senhor, a totalidade de tudo o que é bom e belo e mistério (o que é, mas não 
se sabe direito como é !). 
 
Essas concepções de Deus, nessa busca da felicidade, levaram à criação dos 
cultos, orações, meditação, procissões, yoga, zen, etc. 
Essas práticas podem levar (se tomadas seriamente!) a experiências tão intensas 
que todas as outras coisas da vida diante delas (experiências) perdem valor, não tendo 
 
18
 Cf. BOWKER, op. cit., p. 7. 
20 
 
quase nenhum sentido (vide: Sadhus nus, Sanyásis, na Índia; e no Cristianismo: monges 
contemplativos e S. Paulo que considera tudo esterco, a não ser amar Jesus e o servir!). 
 
Essas representações do mundo estão cheias de deuses e espíritos com suas 
poderosas presenças tanto no campo do bem (Brahma) quanto no campo do mal (Kali, 
demônios) no Hinduísmo e outras religiões, mormente as mais primitivas. 
 
A filosofia da religião estuda principalmente essa concepção e representação dos 
deuses e a psicologia da religião se preocupa com os sentimentos e as experiências 
religiosas dos fiéis a partir da ação dos deuses na vida do homem em todos os tempos
19
. 
 
 
4) Levar o homem a transformar esse mundo pela prática da justiça, paz, amor, 
alegria, fé e esperança (Cf. Rom. 14,17-19.), praticando a solidariedade e se 
comportando como irmãos, filhos do mesmo Deus que é Pai e Mãe (Iahweh). 
 
 Fé religiosa e comportamento humano 
 
As religiões são como famílias ampliadas, incluindo até a tribo toda ou o clã. 
Outras, como o Cristianismo, fazem de todos os povos da terra uma só família, filha do 
mesmo Deus e Pai ou uma só comunidade (“umma”) como dizem os islâmicos. 
As religiões criam códigos de comportamento (sob forma de ética ou lei), levando 
as pessoas a viverem com confiança. Quanto mais a fé é partilhada com os outros, tanto 
mais ela se fortifica, capacitando os seus membros de distinguirem quem é amigo e 
quem é inimigo. 
Os códigos religiosos de comportamento, além da dimensão ética, muitas vezes 
organizam a hierarquia e ajudam os mais carentes da mesma Igreja. Desse modo a 
religião traz luz às trevas e combate o mal e a morte: a religião é desejo, visão e 
esperança, transcendendo o simples presente, erguendo-se sobre a culpa e falência que 
Freud chamava “o ponto miserável de nossa partida”. 
As religiões, assim agindo, são quase sempre o ponto de apoio de nossa 
experiência de cada dia
20
. 
 
 
 5) Ser um instrumento de interiorização pessoal e união dos homens e mulheres 
.... ( os fiéis) em geral; 
 
Religião como prática da interiorização e da união 
 
Em praticamente quase todas as religiões, há um grupo seleto de pessoas que 
diferem, em sua vivência religiosa, dos demais membros da Igreja: os místicos. O 
místico é uma pessoa que quer experimentar Deus radicalmente, quase que 
abandonando esse mundo. 
 
A religião capacita o homem a esse descer ao seu interior, encontrar-se em suas 
raízes mais profundas, saborear Deus nessas profundezas e, bastante encontrado consigo 
mesmo, tem mais condições de se encontrar com os outros quem quer que sejam. 
 
 
19
 Cf. BOWKER, op. cit., p.7-8. 
20
 Cf. BOWKER, op. cit., p. 9. 
21 
 
No Hinduísmo temos os Sanyásis e Sadhus; No Budismo e Cristianismo, os 
monges e no Islamismo houve os Dervixes dançantes, na Turquia. 
Talvez o mal maior do homem ocidental seja a não capacidade de meditar 
(refletir) e contemplar (sentir), de entrar em seu interior, aceitar-se e amar-se como é, 
para poder entender e amar os outros como são, sem discriminações e fanatismos, 
típicos de uma ignorância radicalizada, não afeita ao pluralismo de nossos dias. 
 
Houve e há tantos homens que praticaram e praticam essa interiorização: Jesus, 
Buda, Confúcio, Gandhi, Luther King, Santa Tereza d’Ávila, São Francisco de Assis, 
Dalai lama, Madre Teresa de Calcutá, Irmã Dulce, os religiosos das Ordens e 
Congregações e tantos outros em tantas religiões e sistemas filosóficos. 
 
 6) Ajudar a enfrentar os problemas e sofrimentos da vida, dando-lhes um novo 
significado (Jo. 15,1-5). 
 
O problema do sofrimento na existência 
 
O problema do sofrimento é algo que nos desinstala porque é incoerente com o 
grito de felicidade que nasce do íntimo de nosso ser humano. No entanto, desde que o 
homem é homem que ele existe. A defasagem entre o que somos e temos e o que 
queremos ser e ter, em geral, nos traz ansiedade, angústia, depressão, medo e 
infelicidade. 
 
A Bíblia sagrada relata o sofrimento de Jó, homem justo e temente a Deus, que 
perde tudo o que tem e é carcomido em sua própria carne pela doença e desprezo de 
todos. Jó, como pessoa humana não existiu, mas aponta para nós a problemática do 
sofrimento, especialmente do justo, em sua existência terrestre. 
 
O príncipe do Nepal, Sidharta Gautama, (posteriormente o Buda: Iluminado) 
deixa o seu palácio e se torna monge, descobrindo após profunda e longa meditação que 
á vida é sofrimento e que a causa do sofrimento é o desejo que deve ser orientado e 
vencido. 
As religiões reencarnacionistas tentam explicar o sofrimento terrestre com o 
karma de vidas passadas. 
Para o cristão, o sofrimento é companheiro do homem, fazendo parte radical de 
sua caminhada existencial. A minha bagagem negativa genética e intrauterina bem 
como os revezes da vida ante o chamado à felicidade, nos atormentam e fazem doer o 
corpo e a totalidade do ser homem. 
Cristo, o homem das dores, o líder religioso dos cristãos, nos ensina como sofrer: 
tomar o sofrimento adveniente como burilação do nosso ser: o ouro só se purifica da 
ganga no cadinho (à alta temperatura) e a videira (Jo.15,1-5) só produzirá mais frutos se 
for podada (sofrimento). 
A religião nos ajuda a suportar e dar sentido transcendental ao sofrimento sem 
sermos masoquistas e muito menos sádicos. 
 
 
 
 
 
 
22 
 
 7) A religião ajuda a unificar o psiquismo humano estilhaçado, mormente nos 
grandes revezes da vida; 
 
O fragmentar-se do psiquismo humano 
 
O psiquismo de uma pessoa considerada “normal” é caracterizado por uma boa 
eutimia ( do grego “eu”: bom, bem + “thumós”: princípio vital, ânimo, vida: > 
equilíbrio do humor). 
Esse equilíbrio do humor básico acontece no jogo normal das alternâncias de 
alegrias e tristezas na existência humana, no seu processo de adaptação ao mundo 
(Vide: Adaptação > assimilação < acomodação = esquemas mentais → sobrevivência e 
realização humanas)
21
. 
No entanto, há revezes existenciais que nos jogam no fundo do poço, num estado 
depressivo profundo (de causa exógena, não endógena). A fé e amizade num Deus que 
jamais nos abandona e que é sempre fiel nos ajuda a superar essa fragmentação do 
psiquismo humano. 
A fé num Deus (Cristo) amigo e libertador, presente em nós mesmo quando 
caímos, nos ajuda a dar uma volta por cima e vencer os obstáculos da caminhada 
humana pela existência, entre o nascimento e a morte. 
 
É claro que a ajuda humana é importante, embora eivada pela instabilidade e 
infidelidade, típicas do temperamento e caráter humanos. A ligação perene e fiel ao pólo 
(Deus) que nos atrai nos dá muito mais segurança e apoio para relativizarmos as grandes 
pedras (problemas) encontradas ou postas em nosso caminho. 
 
 
 8) Oferecer respostas aos grandes problemas (de onde vim? Para onde vou?) da 
existência humana; 
 
As grandes Perguntas da existência humana 
 
Em nosso deslocar-se entre o Nascer e Morrer, fazemos tantas perguntas com “p” 
minúsculo: Como é seu nome? Quantos anos tem você? Onde mora? etc. 
 
No entanto, há Perguntas (com “p” maiúsculo) que pouca gente faz: De onde 
(quem) viemos? Por que viemos? O que somos? Como somos? Aonde vamos? Para que 
vamos? 
Essas perguntas são importantes porque abarcam toda a nossa existência e 
mostram o verdadeiro rumo do nosso ser e ter que quer ser preenchido e realizar-se. 
 
A religião se propõe (como veremos na III Unidade) dar tentativas de respostas as 
essas grandes Perguntas para mostrar o norte da existência humana, em qualquer 
religião ou cosmovisão que ele aceite e viva. 
 A religião não mostra só o aqui e o agora (imanência: vida terrestre!), mas 
aponta para a transcendência da vida ( Deus é criador responsável: teísmo!): a 
eternidade feliz. 
 
Há, portanto, o sentido da vida e não só uns sentidos na vida! ! 
 
 
21
 Cf. PIAGET, Jean. “Adaptação” In: Dicionário terminológico de Jean Piaget. São Paulo: Livraria 
Pioneira Editora, 1978, p. 22-24. 
23 
 
 Marchamos para um Todo (Deus) que nos realizará plenamente (visão 
espiritualista!), enquanto que, como caminheiros, só nos realizamos parcialmente 
porque tudo é carcomido pela temporalidade e instabilidade do nosso ser homem. 
 
Santa Tereza d’Ávila já dizia: “Nada te perturbe, nada te angustie, tudo passa 
(alegrias, tristezas, amigos, etc.), só Deus permanece” ! O grande problema é que nós 
ocidentais cometemos dois grandes erros em nossa vida: 
 
 Absolutizamos o que é relativo (coisas, dinheiro, paixões, pessoas, 
etc.) e relativizamos quem é Absoluto (Deus), nascendo assim os 
nossos ídolos hodiernos; 
 Generalizamos o que é particular, gerando uma visão deturpada das 
pessoas e coisas que nos cercam e que têm um sentido para nós. 
 
 
 9) Apontar para o que não passa e a todos chama a Si como um ímã atrai as 
limalhas (Deus: ímã > nós: limalhas); 
 
Pistas racionais da existência de Deus 
 
 Não se pode provar a existência de Deus, pois o que (ou quem) está “além-
túmulo” não é alcançável pelo método científico (Passos: 1- Fenômeno; 2- Hipótese; 3- 
Verificação da Hipótese; 4 – Lei; 5 – Generalização do que foi pesquisado). 
 
 Não há objetividade, no além-túmulo, mas fé ou crença que é um tipo de saber 
bem diferente do científico (não precisa ser oposto!). 
 
 No entanto, a nossa razão (os filósofos, teólogos de todos os tempos) aponta 
algumas pistas racionais que também recebem críticas como tudo na vida. Ei-las: 
 
 Não há efeito (“factum – ex”: feito de) sem causa = C < E: (Vide ciências 
exatas e humanas). Somos levados à Causa Primeira (Deus: “motor 
non motus”: Aristóteles); 
 Não há ordem sem ordenador (Deus: o grande Ordenador do 
macrocosmos, mesocosmos e microcosmos). O homem não o é 
totalmente, mas só em parte: O < O. 
 Não há movimento sem movimentador : m < M. 
 Não há correr sem meta: c > m. A meta suprema é Deus; 
 Não há partes sem o Todo, como não há direita sem esquerda : pp > T. 
 Fonte da religião: a experiência do sagrado desde a caverna até hoje: 
Vide sinais 
 da religiosidade nas antigas religiões (Egito, Grécia, Roma, 
Escandinávia, povos 
 primitivos). 
 
Se Deus não existisse, como seriam explicados todos esses fenômenos religiosos 
que a história das religiões,a antropologia cultural e a etnologia e a arqueologia nos 
mostram? Como se experimenta e se constrói tantos templos a quem não existe? 
Não vemos o amor, mas o experimentamos!. 
A existência de Deus pertence a um outro tipo de saber que não o científico: o 
saber da fé. Ele não é contrário ao saber da ciência, mas complementar. São saberes 
diferentes que se complementam, sem ser antagônicos. Geralmente a ignorância humana 
cria antagonismos onde realmente não há. 
 
 
24 
 
10) Inspirar as artes (arquitetura, música, teatro e dança, pintura e poesia, etc.). 
 
Religião, sentimentos e artes 
 
 O sentimento religioso universal tem sido manifestado principalmente através 
das artes, desde os sinais pictóricos das cavernas primitivas até as grandes catedrais 
cristãs ou templos belíssimos das mais diversas religiões. 
Quem viajar pelo mundo terá certamente incluídas no seu “tour” visitas aos 
templos sagrados das religiões importantes no país que é visitado. 
 
 E como são bem feitos e belíssimos! Os estilos (colonial, barroco, barroco-
rococó, romano, gótico, moderno, etc.) estão presentes em todos esses lugares que nos 
falam da dimensão religiosa do homem, em todo o tempo-espaço. 
 
 O fenômeno religioso é muito importante e por isso estamos a estudá-lo, 
principalmente como cultura humana. 
É claro que não podemos esgotá-lo num semestre, mas, ao menos, serão dados 
algumas pistas para que os horizontes do universitário sejam ampliados, cabendo a ele 
um maior aprofundamento dos diversos temas da disciplina, como o atual fenômeno 
religioso brasileiro que se verá a seguir. 
 
 
 
I. 3 – O fenômeno religioso no Brasil de hoje: visão panorâmica (Censo 2010) 
 
 Apesar do grito de Nietzsche de que “Deus morreu e que as igrejas são seus 
túmulos e mausoléus” 22, apesar de toda a influência remota e próxima da modernidade 
com a secularização (mais ênfase ao século, ao mundo que ao divino!), os movimentos 
religiosos antigos e novos têm florescido no Brasil de hoje. 
 
A modernidade é a visão de um mundo que não aceita mais, ao nível religioso, 
mitos e absolutos, tem uma nova concepção do tempo (linear e histórico, sem a 
intervenção da eternidade), promete um mundo novo (paraíso) de felicidade e realização 
pessoal, tendo, ao nível econômico, o primado 
Só no Estado do Rio de janeiro, de 1990 a 1992, 627 novas igrejas foram criadas, 
numa média de cinco novas igrejas por semana, uma por dia útil, sendo a imensa 
maioria de pentecostais (91,27%)
23
 . Os pentecostais dão ênfase a atuação do Espírito 
Santo em suas vidas, tanto no Protestantismo (Assembléia de Deus, Igrejas Pentecostais 
com diversos nomes) quanto no Catolicismo (Movimento Carismático Católico). 
 
Alguns estudiosos chamam a esses grupos de “movimentos religiosos” ou de 
seitas. 
Seita é um grupo de tendência religiosa e filosófica que une seus adeptos em torno 
de um mestre reverenciado com características paracientíficas, elitista, particularista e 
fechado, e, muitas vezes, terapêuticas, demonstrando intolerância mais ou menos 
marcante e proselitismo vigoroso
24
, gerando uma multifacetada gama de movimentos 
religiosos. 
 
 
22
 NIETZSCHE, Friedrich. Die fröhliche Wissenschaft. Werke, v. II. München: Carl Hanser, 1955, 
p.126-128. 
23
 LIBÂNIO, J.B. A religião no início do milênio. São Paulo: Loyola, 2002, p. 24. 
24
 Cf. LIBÂNIO, Idem, p. 25. 
25 
 
 
A – Os novos movimentos religiosos brasileiros: visão panorâmica 
 
São muitas as religiões cristãs ou não cristãs presentes no território brasileiro, já 
que o povo brasileiro é muito sensível e inclinado à espiritualidade em seus mais 
diversos matizes. 
Os principais grupos religiosos no Brasil de hoje são: 
 
1) - Grandes grupos religiosos monoteístas: 
 
a) Judaísmo e suas tendências: ortodoxa, conservadora, liberal e 
reformista. 
 
b) Cristianismo e seus ramos: 
 
- Catolicismo e suas tendências (conservadores, equilibrados e 
progressistas: Teologia da Libertação – Movimento Carismático 
Católico); 
 
 -Igreja Católica Apostólica Brasileira e suas dissidências (ICAB: fundada 
 em 1945 pelo bispo excomungado D. Carlos Duarte Costa); 
 
- Ortodoxos (com ou sem plena comunhão com Roma: ruptura em 1054 
com o patriarca grego Miguel Cerulário e o Cardeal Umberti: 
excomunhão mú- tua – papa Leão IX); 
 
-Evangélicos ou Protestantes (1517: com o monge católico agostiniano 
 Martinho Lutero: Questão das Indulgências com o papa Leão X) com 
suas tendências. 
 O Protestantismo se divide em: 
 
 -Luteranos (Sinodais e Missouri). Os luteranos se dividem em Igreja 
Evangélica de Confissão Luterana, ligada à Alemanha, à qual pertencem 
alemães e seus descendentes e a Igreja Evangélica Luterana do Brasil, 
ligada aos Estados Unidos (Sínodo de Missouri), à qual pertencem 
alemães e seus descendentes. 
 
 -Anglicanos (Conformistas: “The High Church”: ritualistas, compostas por 
ingleses e seus descendentes. Episcopais: não Conformistas, de origem 
norte-americana, brasileiros, japoneses e seus descendentes). Metodistas 
(de origem do Sul dos Estados Unidos: brasileiros) e Exército de 
Salvação). Igreja episcopal carismática. 
 
 -Calvinistas (Reformados, Puritanos e Presbiterianos). 
 -Batistas (Anabatistas); 
 -Testemunhas de Jeová; 
 
26 
 
 -Pentecostais Clássicos (Assembléia de Deus
25
, Congregação Cristã no 
Brasil, Igreja de Deus, Igreja pentecostal; Pentecostais autônomos: Casa 
da Bênção, Deus é Amor, Maranata, Nova Vida, Evangelho 
Quadrangular (Jesus salva, cura, batiza no Espírito Santo e em breve 
virá) ou Cruzada Nacional de Evangelização, Igreja Evangélica “O Brasil 
para Cristo”, Igreja Universal do Reino de Deus26, e outras)27. 
 -Carismáticos: Batistas de renovação, Cristã presbiteriana, metodista 
wesleyanos e outros). 
 
 -Pseudoprotestantes: Adventistas do 7° Dia (ou Sabatistas fundada pelo 
batista William Miller – 1831: fim do mundo em 1844 ?), Mórmons (ou 
Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias – fundada por Joseph 
Smith, em 1827, Manchester, USA), Testemunhas de Jeová (fundada 
pelo protestante Charles Taze Russel, em 1852, USA. Em 1931, J.F. 
Rutherford, seu sucessor, escreveu o livro: “Testemunhas de Jeová”)28. 
 
c) Islamismo (Sunismo (só a dimensão religiosa) e Xiismo (dimensões 
 religiosa e política) – Dervixes dançantes, na Turquia antiga e Líbano 
atual). 
 
 
2 - Tradições religiosas orientais: 
 
 Entre outras menores (Igreja Messiânica, Perfeita Liberdade: Perfect Liberty, Hare 
Krsna, Moonismo, etc.), o Budismo está em plena ascensão no Brasil, graças aos livros 
de Dalai Lama (do Budismo tibetano) que têm muita aceitação nesse Ocidente sem 
interiorização. 
 O povo oriental tem uma espiritualidade bem diferente da do povo ocidental. 
Enquanto o Oriente em sua dimensão espiritual sente primeiro Deus e depois o mundo, 
os ocidentais sentem primeiro o mundo e podem, então, sentir Deus, sendo assim o 
mundo um trampolim para Deus. 
 
Noutras palavras, para o oriental o mundo está permeado de Deus (com panteísmo 
ou panenteísmo), enquanto que para o ocidental há uma dicotomia (bem platônica) entre 
o mundo e Deus. 
Hoje, há, no Brasil, uma sede de orientalismo! São muitos os que viajam à Índia 
para terem contato com os gurus a fim de adquirirem experiências religiosas novas. Há 
um certo experimentalismo religioso oriental
29
, embora também haja a dimensão 
 
25
 Segundo os últimos Censos, é uma dasigrejas que mais expansão tem em todo o Brasil, nos últimos 
anos. 
26
 É uma Igreja que tem um caráter pentecostal sincrético ou autônomo. Exemplo expressivo do atual 
mercado religioso.Ela tem uma ampla difusão mundial (50 países) por sua inserção na globalização. Foi 
fundada, em 1977, por Edir Macedo, no Rio de Janeiro, tendo hoje uns 1.700 templos e uns 5 milhões de 
fiéis com 3.000 pastores. Possui 30 emissoras de rádio e a Rede Record de Televisão. Seu jornal vende 
mais de 1 milhão de exemplares. As duas Igrejas neopentecostais do Brasil (Universal do Reino de Deus 
e Internacional da Graça de Deus) surgiram da Igreja deuteroperntacostal: Igreja de Nova Vida (Cf. 
LIBÂNIO, João Batista. op. cit. p. 28-29. 
27
 MENDONÇA, Antônio Gouvêa. – VELASQUES FILHO, Prócoro. Introdução ao protestantismo no 
Brasil. São Paulo: Loyola, 1990, p. 17-18. 
28
 Classificação apresentada por CEDI, Aconteceu. Suplemento especial, n. 548. Rio de Janeiro, 1990, 
p.2. 
29
 Cf. LIBÂNIO, João Batista. op. cit., p. 26. 
27 
 
contemplativa e mística no Cristianismo (Cartuxos, Cistercienses, monges das Ordens 
religiosas, Comunidade protestante de Taizé, em Alagoinhas, BA. etc.). 
 
 
3) – Religiões mediúnicas: Espiritismo e religiões indo-afro-brasileiras 
 
 Essas religiões têm diversos veios: O Kardecismo francês, o animismo dos 
índios e dos africanos levaram os fiéis dessas religiões, apesar da força da influência do 
Catolicismo, a crerem na reencarnação, na relação com os mortos, na ação dos espíritos 
na terra e outros fenômenos de natureza espírita fazem parte do universo religioso dos 
fiéis dessas religiões. 
 Uma série de fenômenos, tidos pelos cientistas como parapsicológicos, 
acontecem como expressões religiosas espíritas e mediúnicas. 
 Os nossos indígenas e africanos, com influência religiosa xamanista (mais na 
América Latina) e animista, mantêm uma ligação com a mãe Natureza, desenvolvendo-
se, no Brasil, o Santo Daime (seita fundada pelo seringueiro maranhense Raimundo 
Serra, no Acre e codificada, em 1960, por Sebastião Melo, no Rio Branco, AC, 
sincretizando elementos cristãos, ameríndios e exóticos) de raízes indígenas e outras e a 
União do Vegetal que usam em seus rituais a bebida da ayahuasca (resultado da infusão 
de um cipó: jagube e de uma folha: chacrona) de efeitos alucinógenos. 
 
4) – Formas religiosas ecléticas 
 
Essas formas religiosas ecléticas não se enquadram em nenhuma tipologia, pois 
se fazem, refazem e desfazem ao sabor dos indivíduos que as compõem. 
Muitos são os elementos tomados de várias religiões, de maneira seletiva, sem 
nenhuma preocupação com a coerência doutrinal de seus elementos internos. 
Falta uma identidade religiosa clara, refletindo tal fenômeno a atual privatização 
da esfera religiosa. 
 
5) – “Igreja eletrônica” 
 
Essa Igreja tem suas raízes nos Estados Unidos que exportam, juntamente com a 
religião, a sua ideologia. Essa “Igreja eletrônica”, através da Mídia, aumenta o clima 
religioso dominante, tornando-se tudo “muito religioso”. 
 
Embota tal “Igreja eletrônica” seja possível por causa das condições 
socioculturais, econômicas e ideológicas do capitalismo avançado, ela se vincula na 
imaginação do fiel, a figuras de pastores e locutores de excelente desempenho na Mídia, 
como, por exemplo, o Pe. Marcelo Rossi, no Movimento Carismático Católico. 
 Há, assim, os chamados “espetáculos religiosos” de palco ou televisão com 
aparições desses personagens. 
 
6) – Neopaganismo 
 
 “Esses movimentos compreendem práticas de “Magia”, Ocultismo, 
“Gnosticismo” (Conhecimento místico das verdades divinas e transcendentes, surgidas 
à margem do Cristianismo, séc. II d. C.)” e são os seguintes: Astrologia, Tarô (78 
cartas de baralho simbólicas e que se crê que predizerem o futuro), Quiromancia (Arte 
de ler a mão e predizer o futuro), Budismo zen, Maharishi (Guru, no Hinduísmo), 
28 
 
Sufismo (Movimento místico e ascético islâmico contrário à ortodoxia islâmica e que 
gosta de dançar para louvar a Deus: Derviches!), Magia negra, Ufologia, Cientologia 
(Movimento científico-religioso, surgido nos USA, em 1950 e que defende a energia 
vital no mundo físico, mental e espiritual), Baha’i (Nova religião persa, fundada em 
1863, e que significa “Esplendor de Deus”, sendo proveniente do Babismo, ramo 
islâmico, fundado por Mirza Ali Muhammad (1820-1850), Hare Krsna, Jim Jones, 
Meditação transcendental, Seicho-no-iê, Centro de meditação Rajnesh (Movimento 
hindu, fundado em 1966, por Rajnesh: “O Sublime”), Ananda Marga (“Caminho da 
felicidade”, religião hindu, fundada em 1955 por Sarkar) e tantas outras formas de 
experiências do sagrado. 
 Há também práticas pararreligiosas: Teosofia, Antroposofia, Rosacrucianismo, 
Maçonaria, Adivinhação, Culto esotérico e outros
30
. 
 
7) O panorama das religiões no Brasil (O Globo: 3/2/14) 
 
 
 Dados do Censo 2010 sobre religião confirmam o crescimento da religião 
evangélica e a redução do número de católicos, tendência registrada desde o início do 
século XX, mas acelerada desde o Censo de 2000. No infográfico abaixo, é possível 
examinar a distribuição populacional de acordo com cada grupo religioso. 
 
 
 As religiões no Brasil em 2010 (O Globo: 3/2/14) 
 
Igreja católica apostólica romana: 123 milhões 
Sem religião: 14 milhões 
Igreja Assembleia de Deus : 12 milhões 
Igrejas evangélicas não determinadas: 9 milhões 
Igrejas evangélicas pentecostais: 5 milhões 
Espíritas: 3,8 milhões 
Igreja congregacional do Brasil: 2,2 milhões 
Igreja universal do Reino de Deus: 1,8 milhão 
Igreja do Evangelho quadrangular: 1,8 milhão 
Igreja evangélica adventista: 1,5 milhão 
Outras religiões cristãs: 1,4 milhão 
Testemunhas de Jeová: 1,3 milhões 
Igreja evangélica luterana: 999 mil 
 
No mundo há 44 mil grupos cristãos diferentes (SHERMER, 2011, p. 184). 
 
 
 
 
 a 
 
30
 Cf. LIBÂNIO, João Batista. op. cit., p.26-27. 
29 
 
 
 
Fonte: IBGE Censo 2010 
 
 
8) Dados do IBGE sobre as Religiões no Brasil (Censo 2010). 
 
a) Porcentagem das religiões declaradas no Censo de 1980 e de 2010 do IBGE 
 
 
Religião 
 
 
 % 1980 
 
 %: 2010 
Católica Romana 89,2 
64,6 
Evangélicas 6,6 
22,2 
Espírita 0,7 2,0 
Afro-brasileiras 0,6 0,3 
Outras religiões 1,3 2,9 
 
Sem religião 
 
 1,6 
 
 8,0 
 
Total* 
 100,0 
 
 
100,0 
 
 
* Não inclui religião não declarada e não determinada 
 
 
b) O candomblé e a umbanda no Censo de 1980 e de 2010. 
 
 
 
 
Religiões afro-
brasileiras: 
 
 
 % 
1980:→678.714 
 
% 2010:→588.787 
 
Candomblé 
 
 
 Sem dados 
 
 -9,20 
 
30 
 
 
Umbanda 
 
 
 Sem dados 
 
 -24,8 
 
 
 Fonte: IBGE: 1980 e 2010. c) 
 
 
 
c) População indígena e religiões (IBGE.Censo de 1991 e 2010) 
 
 
 Religiões dos 
indígenas 
 Total (milhares)→1991 Total (milhares)→2010 
Indígenas e religião 294.131 821.501 
Católica 189.031 416.201 
Evangélica de missão 14.127 52.678 
Evangélicos 
pentecostais 
 22.517 117.538(!)Outros evangélicos 3.380 39.043 (!) 
Sem religião 46.831 118.877 (!) 
 
Tradições indígenas 
 
 Sem dados 
 
 43.144 
 
Fonte: IBGE 1991 e 
2010. 
 
 
 
 
d) Principais Igrejas (seitas) cristãs: 
 
 
Nome Fundador Lugar Data 
 
 Adventistas William Miller E. U. A. 1818 
 
Adventistas do 7° dia Helena G.White E.U.A. 1863 
 
Anglicanos Henrique VIII Inglaterra 1534 
 
Assembleia de Deus Hot Springs E.U.A. 1914 
 
Batistas John Smith Inglaterra 1611 
 
Calvinistas João Calvino Suíça 1525 
 
Congregacionalistas Robert Brown Inglaterra 1631 
 
Congregação Cristã do Brasil Luigi Francescon E.U.A. 1910 
 
Discípulos de Cristo Thomas Campbell E.U.A 1763 
 
31 
 
Exército da Salvação William Booth Inglaterra 1878 
 
Igreja Universal do Reino de Deus Edir Macedo Brasil 1977 
 
Espiritismo Irmãs Fox E.U.A. 1848 
 
Legião da Boa Vontade Alziro Zarur Brasil 1979 
 
Luteranos Martinho Lutero Alemanha 1521 
 
Meninos de Deus David Berg E.U.A. 1950 
 
Menonitas Mennan Simons Holanda 1543 
 
Metodistas John Wesley E.U.A. 1784 
 
Mórmons Joseph Smith E.U.A. 1830 
 
Nazarenos Grupo E.U.A. 1919 
 
O Santo Daime Raimundo Irineu Brasil 1945 
 
Pentecostal Grupo E.U.A. 1905 
 
Presbiteriana John Knox Inglaterra 1560 
 
Rosa Cruz Harvey S. Lewis E.U.A. 1915 
 
Teosofia Ellen Blavatsky E.U.A. 1875 
 
Testemunhas de Jeová Charles Tase Russell E.U.A. 1874 
 
 
 
e) Especificações de algumas Igrejas cristãs 
 
1) Igrejas anglicanas 
 
São mais de trinta. As principais são: Igreja Alta (High Church), Igreja Baixa 
(Low Church), Igreja Ampla e Episcopalianos. 
 
2) Igrejas Batistas (Federação Batista) 
 
Associação Americana Batista, Associação Cristã da Unidade Batista, Batistas 
do Luck Rivel, Batistas do Livre Arbítrio, Associação Norte-Americana dos 
Batistas, Batistas Federais, Batistas dos seus Princípios, Batistas da Concha Dura, 
Igreja Independente da América, Convenção Batista Nacional, Assembleia Norte-
Americana Evangélica, Batistas do 7º dia, Batistas Predestinados da Dupla 
Semente, Espiritual Batista, Batistas Unidos, Batistas Renovados, etc... 
 
32 
 
Os Batistas do Brasil chegaram em 1871, em Santa Bárbara do Oeste (SP), por 
alguns americanos fugidos por causa da guerra entre o Norte e o Sul dos Estados 
Unidos. 
 
Foi fundada a Primeira Igreja Batista com fins de conquistar os brasileiros na 
Bahia, em 1882. 
 
3) Igrejas Metodistas 
 
Igreja Metodista Episcopal Africana, Igreja Metodista Episcopal Africana de Sião, 
União Africana da Primeira Igreja Metodista Protestante, Igreja Metodista 
Episcopal Cristã, Igreja Metodista Apostólica, Igreja Protestante Metodista de Cor, 
Igreja Metodista Congregacional, Igreja Evangélica Metodista, Igreja Metodista 
Livre, Igreja Metodista Salvacionista, Nazarenos, Pentecostais, Assembleia de 
Deus, Igrejas de Deus, Exército de Salvação, etc... 
 
4) Grupos pentecostais 
 
Assembleia de Deus e suas divisões: Congregação Cristã do Brasil, Cruzada 
“Brasil para Cristo”, Deus é Amor, Casa da Bênção, Cruzada Nova Vida, 
Evangelho Quadrangular, Igreja da Restauração, Reavivamento, Cristo 
Pentecostal, Igreja Universal do Reino de Deus, etc... 
 
 
 
B – Reflexão sobre os novos movimentos religiosos brasileiros 
 
A amplitude e complexidade do fenômeno religioso no Brasil têm diversas 
interpretações, gerando várias tipologias. 
Há quatro tipos de movimentos religiosos, no Brasil: 
1) Movimentos evangélicos, fundamentalistas e pentecostais fervorosos tanto 
no protestantismo quanto no catolicismo; 
2) Religiões orientais: hinduísmo, budismo, sufismo, etc. 
3) Grupos para a maximização (com as técnicas da conscientização e 
desinibição) do “potencial humano”: Grupo Est (Oriente), Cientologia,, 
Meditação transcendental, havendo um sincretismo psico-oriental com 
elementos de correntes higienistas e práticas naturopáticas; 
4) Seitas ou cultos autoritários, centrados num líder carismático, muito 
contestado do ponto de vista social. Ex.: Jim Jones, etc. 
 
 Há outra classificação, feita R. Wallis, que vê esses grupos sob a ótica da relação 
com o mundo, surgindo assim três classe de grupos: 
1) Movimentos que se acomodam ao mundo, mas rejeitam o formalismo das 
instituições religiosas e sua cumplicidade com a sociedade secular; 
2) Movimentos que rejeitam o mundo, condenando a sociedade e os seus 
valores: o materialismo e o lucro; 
3) Movimentos que assumem as realidades mundanas, tornando os indivíduos 
mais capazes de desbloquear seu potencial psíquico, mental e espiritual, sem 
ter necessidade de retirar-se do mundo. O importante é a libertação de si 
 
Sinteticamente, esses grupos acima elencados, têm as seguintes características: 
33 
 
1) Respondem às necessidades da atual situação, o que as instituições religiosas 
não o fazem; 
2) Mantêm, de modo forte, a consciência nos membros da situação de 
indigência por causa da marginalização social, solidão, falta de comunicação, 
enfermidade, carência de sentido e horizonte para a vida; 
3) Apresentam oferta de salvação, presente no indivíduo, e que se dá através da 
potencialização do mesmo, da cura, alegria, segurança, companhia, 
entusiasmo e novo modo de encarar o sofrimento. 
4) Buscam contato com o outro mundo, através da profunda experiência de si, 
ou com a ajuda de um mestre espiritual para orientar e tirar os descarregos 
que a existência impõe ao humano, ou como faz a “New Age” que cria uma 
atmosfera religiosa e uma harmonia do fiel consigo mesmo, com espaços de 
felicidade, de modo imanentista e monista, rejeitando toda a dualidade e 
buscando superar os limites do próprio ser humano em busca de uma 
totalidade; 
5) Vivem uma dimensão comunitária aconchegante, implementada pela pessoa 
do líder carismático, isso tanto nos grupos protestantes de linha carismática 
como no Movimento Carismático Católico (Canção Nova, etc.)
31
 
 
 Concluindo, pode-se afirmar que não se pode negar o surto religioso que desdiz 
Nietzsche e os outros protagonistas da morte de Deus. 
 No entanto, devemos nos questionar: Como entender o atual fenômeno 
religioso? Como nos posicionar, de modo crítico, diante dele a partir da fé cristã? 
 
 P. Berger, citando psicólogos modernos, refere-se a uma “dissonância cognitiva” 
como sendo o “doloroso desacordo entre aquilo que cremos e aquilo que outros 
defendem seguros de si mesmos”32. 
 
 No seio da fé cristã, há um mal-estar e um sofrimento com essa “dissonância”, e 
a incoerência na vivência dos princípios doutrinários quase sempre mesclados 
incompativelmente com os elementos doutrinários outras religiões - numa clara falta de 
identidade religiosa por falta de conhecimentos profundos de sua religião - presentes 
também tanto na religiosidade popular como no sincretismo religioso indo-afro-

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