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Sorologia e biologia molecular no diagnóstico das hepatites Informações elementares Presidente da República Fernando Henrique Cardoso Ministro da Saúde José Serra Presidente da Fundação Nacional de Saúde Mauro Ricardo Machado Costa Diretor Executivo George Hermann Rodolfo Tormin Diretor do Centro Nacional de Epidemiologia Jarbas Barbosa da Silva Júnior Diretor do Departamento de Administração Celso Tadeu de Azevedo Silveira Diretor do Departamento de Planejamento e Desenvolvimento Institucional Antônio Leopoldo Frota Magalhães Ω Endereço para correspondência: Instituto Evandro Chagas Seção de Hepatologia Rua Almirante Barroso, n.492 Cep: 66090-000 Belém, Pa Cx.Postal 1128 Telefone: (XX) 91-2114461 Fax: (XX) 91-211-4418 Endereço eletrônico: www.iec.pa.gov.br e-mail: msoares@iec.pa.gov.br M.S.-FUNASA INSTITUTO EVANDRO CHAGAS Seção de Hepatologia Sorologia e biologia molecular no diagnóstico das hepatites Informações elementares Belém 2001 ©1991 Instituto Evandro Chagas Jorge F. Soares Travassos da Rosa Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Biblioteca do Instituto Evandro Chagas Belém, PA, Brasil Instituto Evandro Chagas (Belém). Seção de Hepatologia. Sorologia e biologia molecular no diagnóstico das hepatites; informações elementares. Belém, 2001. p. 1.Hepatites-diagnóstico. 2.Hepatites-sorologia. 3.Hepatites- biologia molecular. I.Título. CDU:616.36-002 Serviços Administração Epidemiologia Seções Científicas Arbovirus Bacteriologia Biotérios Hepatologia Meio Ambiente Parasitologia Patologia Virologia Editoração e normalização técnica Capa: Foto da contracapa: Desenhos: Supervisão Gráfica: Tiragem João Carlos Lopes da Silva Gilberta Bensabath Pedro F. da Costa Vasconcelos Edvaldo C. Brito Loureiro Reinaldo de Amorim Carvalho Manoel do Carmo Pereira Soares Elizabeth C. de Oliveira Santos Marco Antonio Vasconcelos Santos Vera Lúcia R. Souza de Barros Alexandre da Costa Linhares Vânia Barbosa da Cunha Araújo Delta Gráfica e Editora (Ednir Fonseca) British liver trust Adlai Souza José Paulo Nascimento Cruz 2.000 exemplares Sumário Apresentação Lista de reduções 1. Introdução 13 2. Hepatites virais 17 2.1. Transmissão e etiologia 18 2.1.1. Hepatite A 18 2.1.2. Hepatite B 18 2.1.3. Hepatite C 18 2.1.4. Hepatite D 19 2.1.5. Hepatite E 19 2.1.6. Hepatite G 19 2.1.7. Vírus TT (TTV) 20 2.2. Aspectos evolutivos das hepatites virais 20 2.2.1. Hepatite A 20 2.2.2. Hepatite B 20 2.2.3. Hepatite C 21 2.2.4. Hepatite D 21 2.2.5. Hepatite E 22 2.2.6. HGV e TTV (Vírus-candidatos a Hepatites) 22 2.3. A relação da hepatite B com a hepatite D 23 2.4. Os marcadores sorológicos no diagnóstico das hepatites virais 24 2.4.1. Pacientes com hepatite aguda 25 2.4.1.1. Anti-HAV IgM 25 2.4.1.2. Anti-HBc IgM 25 2.4.2. Pacientes com hepatite crônica e/ou cirrose: 28 2.4.3. Prognóstico clínico da hepatite B 30 2.4.4. Potencial de transmissibilidade de portador do HBV 31 2.4.5. Detecção de imunidade natural 31 2.4.6. Detecção de imunidade pré e pós-vacinal 32 2.4.7. Detecção de portador do HBV e HCV entre doadores de sangue e hemodialisados 32 2.5. Esquemas e gráficos relacionados ao diagnóstico sorológico das hepatites virais 33 2.6. Diagnóstico por provas de biologia molecular 36 2.6.1. Testes qualitativos e quantitativos do genoma viral 36 2.6.2. Testes de genotipagem e mutação viral 39 2.6.2.1. Para o HCV 39 2.6.2.2. Para o HBV 40 3. Doenças hepáticas auto-imunes 45 3.1. Hepatite auto-imune 45 3.2. Cirrose biliar primária (CBP ou PBC) 46 3.3. Colangite esclerosante primária (CEP ou PSC) 47 Bibliografia Recomendada 49 Anexos Quadro 1 – Informações resumidas sobre algumas dosagens bioquímicas no diagnóstico das hepatites 50 Quadro 2 – Instruções gerais sobre coleta, processamento e remessa de soro/plasma para diagnósticos de hepatites virais 51 Quadro 3 – Monitorização e acompanhamento laboratorial no tratamento para hepatite C, de acordo com a Portaria 639/2000 do Ministério da Saúde 52 Quadro 4 – Sistema de escore para diagnóstico de hepatite auto-imune 52 Apresentação Em 1990, sob o título Diagnóstico Sorológico das Hepatites Virais, editamos um primeiro folheto de conteúdo prático sobre a interpretação de resultados de marcadores sorológicos das infecções pelos vírus das hepatites, com o objetivo de dividir experiência e atender às solicitações de estudantes e profissionais de saúde da região, os quais não tendo a hepatologia dentro das suas atividades principais, necessitavam de um referencial imediato que os apoiassem na investigação diária. Em 1992, novamente procurando atender a esses mesmos usuários, uma nova edição foi atualizada, preservando-se as características iniciais. Neste ano de 2001, acatando algumas sugestões, estamos apresentando esta nova edição com o título de Sorologia e biologia molecular no diagnóstico das hepatites, onde foram contemplados, além da sorologia das hepatites virais, alguns comentários sobre as provas de biologia molecular aplicadas ao diagnóstico das hepatites e referentes à sorologia das doenças hepáticas auto-imunes, estes últimos, assuntos definitivamente incorporados à rotina do profissional de saúde afeito à área de diagnóstico. Voltado, principalmente, para quem deseja uma consulta concisa e objetiva sobre assunto de certa complexidade, este manual apresenta no seu final uma bibliografia recomendada para aqueles interessados numa visão mais aprofundada dos temas considerados. Manoel C. P. Soares Chefe da Seção de Hepatologia do IEC Lista de reduções 1 AMA (AAM) Anticorpos antimitocondriais ANA (AAN) Anticorpos antinucleares Anti-HAV Anticorpos totais contra o HAV2 Anti-HAV IgG Anticorpos da classe IgG contra o HAV Anti-HAV IgM Anticorpos da classe IgM contra o HAV Anti-HBc Anticorpos totais contra HBcAg Anti-HBc IgG Anticorpos da classe IgG contra o HBcAg Anti-HBc IgM Anticorpos da classe IgM contra o HBcAg Anti-HBe Anticorpos contra o antígeno e do HBV Anti-HBs Anticorpos contra o HBsAg Anti-HCV Anticorpos contra o HCV Anti-HD Anticorpos totais contra o HDV Anti-HD IgG Anticorpos da classe IgG contra o HDV Anti-HD IgM Anticorpos da classe IgM contra o HDV Anti-HEV Anticorpos contra o HEV Anti-LKM1 Anticorpos anti-microssomos figado/rim tipo 1 Anti-SLA Anticorpos contra antígenos solúveis do fígado bDNA branched DNA ou método do DNA ramificado HAV Vírus da hepatite A HAAg Antígeno do HAV HBV Vírus da hepatite B. HBcAg Antígeno de centro do HBV HBeAg Antígeno e do HBV HBsAg Antígeno de superfície do HBV HBV-DNA Ácido desoxirribonucléico do HBV HCV Vírus da hepatite C HCVAg Antígeno (de core) do HCV HCV-RNA Ácido ribonucléico do HCV HDV Vírus da hepatite D (ou vírus da hepatite Delta) HDAg Antígeno do HDV HEV Vírus da hepatite E HGV Vírus da hepatite G LiPA “Line probe assay” NANBH Hepatite não A, não B3 NASBA “Nucleic Acid Sequence-Based Amplification” PBC (CBP) Cirrose biliar primária PCR Reação em cadeia da polimerase PSC (CEP) Colangite esclerosante primária RFLP Restriction fragment lenght polymorphism SMA (AAM) Anticorpos anti-músculo liso TMA Amplificação mediada por transcrição TTV Vírus transmitido por transfusão 1 Foram adotadas as abreviaturas de língua inglesa por serem de aceitação universal 2 A expressão “anticorpos totais” é empregada quando se considera a pesquisa de todos os anticorpos (IgG, IgM, etc.) concomitantemente, sem particularizar a classe de imunoglobulinas 3 Uma vez caracterizados, alguns vírus anteriormente incluídos como agentes das hepatites não-A e não-B foram retirados desse grupo e, mais recentemente, a expressão hepatites não A-E ou hepatite X têm sido utilizadas para as hepatites virais não devidamente identificadas quanto à etiologia. Existem repetidasreferências sobre um tipo de hepatite com características anátomo-patológicas de formação de células hepáticas gigantes sinciciais em adultos, estas, talvez, ligadas à infecção por vírus da família Paramyxoviridae, embora outras referências apontem origem auto-imune e até de outros vírus hepatotrópicos para a doença. Recentemente, tem a proposta de mais um vírus-canditato para as hepatites de origem obscura, trata-se do SEN-V. Este último vírus têm associações preliminares com casos de hepatites pós-transfusionais. Introdução Instituto Evandro Chagas. Seção de Hepatologia 12 Sorologia e biologia molecular no diagnóstico das hepatites: informações elementares 13 1. Introdução Para efeito didático podemos definir sorologia como a detecção, nos fluidos corpóreos, de antígenos ou anticorpos por meio de reação antígeno-anticorpo específica, utilizando artifícios para tornar tal reação visível ou interpretável. Na dependência do “artifício” utilizado, cada método recebe a sua respectiva denominação (hemaglutinação, enzimaimunoensaio, imunofluorescência, etc). À semelhança dos marcadores sorológicos (detectados por sorologia) existem os marcadores teciduais. Assim, se em lugar dos fluidos corpóreos (soro, plasma, LCR, etc.) a pesquisa é realizada em células ou tecidos, o processo é denominado imunocitoquímica ou imunohistoquímica, respectivamente. Embora de grande interesse na investigação científica, a imunohistoquímica tem sido de utilidade clínica mais restrita no diagnóstico das hepatites, exceto para o esclarecimento e notificação dos casos insuficiência hepática aguda (hepatite fulminante) de evolução letal, quando por necrópsia, a coleta de fragmento de fígado em fixador permite, por exemplo, o diferencial entre hepatite B e febre amarela ou dengue, ainda que mesmo nesses casos, deva ser encorajada a remessa de material para sorologia e tentativas de isolamento viral para ampliar a possibilidade do diagnóstico. Com frequência cada vez maior vem sendo introduzidas as técnicas biomoleculares de detecção do ácido nucléico viral como a PCR e muitas outras. Essas técnicas, já se encontram incorporadas ao diagnóstico em hepatologia e serão objeto de breves considerações. A propriedade que um exame de laboratório tem em não fornecer resultados falsos positivos é denominada de especificidade, enquanto que sensibilidade é a propriedade que o exame possui de não fornecer falsos negativos. Um dos perenes desafios do laboratório clínico consiste em adequar a alta sensibilidade de um exame com a devida especificidade e vice-versa. Certamente que hoje dispõe-se de exames Instituto Evandro Chagas. Seção de Hepatologia 14 que respondem de modo muito satisfatório a essas questões, ainda assim, é prudente ratificar que o Laboratório não prescinde das elementares informações epidemiológicas e clínicas que subsidiam a impressão diagnóstica do médico, para orientar conduta e auxiliar na interpretação dos resultados. Enquanto exame complementar, é de competência do médico, dependendo dos recursos disponíveis e da necessidade específica de cada caso, o uso criterioso de cada etapa mencionada para estabelecer o diagnóstico e o prognóstico do seu paciente, quando for o caso. Portanto, como todos os demais parâmetros manuseados pela clínica, o diagnóstico sorológico e biomolecular devem ser utilizados em consonância com o contexto, só assim, evidenciando os seus devidos significados. Por outro lado, cabe ao Laboratório a intransferível tarefa de zelar pela precisão e exatidão dos seus resultados, otimizando a sensibilidade e especificidade dos testes até a liberação para o uso na clínica e na saúde pública. Sorologia e biologia molecular no diagnóstico das hepatites: informações elementares 15 Hepatites Virais Sorologia e biologia molecular no diagnóstico das hepatites: informações elementares 17 2. Hepatites Virais As hepatites virais podem ser definidas como infecções nas quais os fenômenos inflamatórios que acometem o fígado são os responsáveis diretos ou indiretos pelos sinais e sintomas mais freqüentes, proeminentes e característicos. São provocadas por, pelo menos, cinco vírus definidos como primariamente hepatotrópicos, os quais diferem entre si em suas características epidemiológicas e antigênicas, dentre outras. A doença pode evoluir de modo agudo (inclusive fulminante) ou crônico, na dependência do agente viral envolvido e de fatores imuno- genéticos inerentes ao paciente. Para consolidar o diagnóstico das hepatites é obrigatório lançar mão de alguns parâmetros diagnósticos mínimos como, por exemplo: a) perfil epidemiológico da doença na região; b) diagnóstico clínico; e c) diagnóstico laboratorial4 – Hematológico-bioquímico (provas de função hepática, etc.); (Quadro 1) – etiológico: – sorológico (marcadores sorológicos) – imunohistoquímico (marcadores teciduais) – molecular (detecção do ácido nucléico viral por técnicas de biologia molecular) – histopatológico 4 Vale ressaltar que o diagnóstico por imagens (ultrassonografia, tomografia computadorizada, ressonância magnética, etc.), vem crescendo em importância, principalmente, no diagnóstico das hepatopatias crônicas. Instituto Evandro Chagas. Seção de Hepatologia 18 2.1. Transmissão e etiologia 2.1.1. Hepatite A Transmissão: – fecal-oral, por veiculação hídrica, alimentos contaminados, etc. Agente etiológico: Vírus da hepatite A Família: Picornaviridae Ácido nucléico: RNA 2.1.2. Hepatite B Transmissão: – parenteral, percutâneo-mucosa, pós-transfusional, por procedimentos de diálise, agulhas e seringas mal esterilizadas, etc. – sexual – perinatal ou vertical (mãe-filho) Agente etiológico: Virus da hepatite B Família: Hepadnaviridae Ácido nucléico: DNA Existem, pelo menos, seis genótipos do HBV. 2.1.3. Hepatite C Transmissão: – parenteral, percutâneo-mucosa semelhante, em princípio, à transmissão da hepatite B. A transmissão por transfusão de sangue e hemoderivados é a mais bem documentada para a doença. Encontra-se em discussão os mecanismos de transmissão dos casos esporádicos da doença. A importância da transmissão sexual e perinatal é menor do que para a hepatite B. Sorologia e biologia molecular no diagnóstico das hepatites: informações elementares 19 Agente etiológico: Vírus da hepatite C Família: Flaviviridae Ácido nucléico: RNA Por meio de estudos moleculares admite-se, atualmente, a existência de, pelo menos, seis variantes genotípicas do HCV no mundo. 2.1.4. Hepatite D Transmissão: – parenteral, percutâneo-mucosa (por co- infecção ou superinfecção). Agente etiológico: Vírus da hepatite D (Delta), acompanhado do HBV. Família: Não classificado5 Ácido nucléico: RNA 2.1.5. Hepatite E Transmissão: – fecal-oral Agente etiológico: Vírus da hepatite E Família: Não classificado6 Ácido nucléico: RNA Estudos recentes tem demonstrado a existência de variantes genotípicas do vírus dependendo da área geográfica de procedência. Existem evidências de que a hepatite E é uma zoonose, sendo os suínos os seus principais reservatórios. 2.1.6. Hepatite G Transmissão: 5 Estudos em andamento para possível definição taxonômica da família viral. No caso do HEV, tem constituído impasse o fato de observações moleculares terem apontado similaridades com os alfavirus, embora as características biofísicas e morfológicas sejam compatíveis com os calicivirus. 6 Ver nota 5 Instituto Evandro Chagas. Seção de Hepatologia 20 – pós-transfusional e, provavelmente, outros modos de transmissão parenteral. Agente etiológico: Vírus da hepatite G Família: Flaviviridae Ácido nucléico: RNA 2.1.7. Vírus TT (TTV) Transmissão: – em fase de definição Família Circinoviridae Ácido nucléico: DNA 2.2. Aspectos evolutivos das hepatites virais 2.2.1. HepatiteA a) geralmente benigna, com baixo índice de mortalidade (0,l a 0,2%); b) casos ocasionais de evolução prolongada, principalmente em adultos, algumas vezes associados a colestase importante; c) não evolui para a cronicidade; e d) em geral a severidade clínica aumenta com a idade 2.2.2. Hepatite B a) quanto mais precoce a idade em que ocorre a infecção: – menor a sintomatologia – maior a probabilidade de evoluir para a cronicidade b) um percentual variável dos indivíduos infectados (dependendo, principalmente, da idade em que Sorologia e biologia molecular no diagnóstico das hepatites: informações elementares 21 ocorre a infecção) fica portador crônico do vírus, podendo evoluir, de modo assintomático, progredir para hepatite crônica, cirrose ou hepatocarcinoma; c) índice de letalidade em torno de 0,8 a 2% dos pacientes com doença aguda 2.2.3. Hepatite C a) evidências que, principalmente quando adquirida de modo pós-transfusional, evolui para a cronicidade em mais de 70% dos casos; b) de um modo geral a infecção aguda parece evoluir com sintomatologia mais branda do que nas hepatites A e B; c) é característica a oscilação das aminotransferases (transaminases) no curso da doença crônica; d) a infecção pelo HCV tem demonstrado ser uma das principais causas de hepatite crônica e cirrose nas áreas mais urbanas da Amazônia brasileira; e) tem-se como comprovada a participação do HCV no hepatocarcinoma. Informações mais recentes sugerem que determinadas variantes genotípicas do vírus estariam mais implicadas na carcinogênese. Dados preliminares têm mostrado associação da infecção pelo HCV com os casos de carcinoma hepatocelular na Amazônia, embora ainda aquém da associação dessa neoplasia com a infecção pelo HBV; f) a resposta terapêutica aos antivirais dependeria, parcialmente, da variante viral envolvida. 2.2.4. Hepatite D a) agrava as infecções pelo HBV principalmente na Instituto Evandro Chagas. Seção de Hepatologia 22 Amazônia, elevando a letalidade por hepatite fulminante ou acelerando a progressão para cirrose. 2.2.5. Hepatite E a) mundialmente, tem sido registrado o seu envolvimento em grandes epidemias e surtos epidêmicos (Índia, Nepal, União Soviética, México); b) existem registros de maior gravidade, com altos índices de letalidade, quando acomete mulheres grávidas. Entretanto, esta circustância tem sido revista ultimamente, e ao que parece, toda doença hepática que curse com icterícia e colestase tende a complicar-se durante a gravidez; c) sem evidências de que possa evoluir para a cronicidade; d) tem acometido, principalmente, adultos e adultos- jovens; e) não existe registro de epidemia no Brasil; f) existem relatos de casos esporádicos da doença, inclusive de rara ocorrência no Brasil. 2.2.6. HGV e TTV (Vírus-candidatos a Hepatites) a) ambos com ampla distribuição no mundo, inclusive no Brasil e na Amazônia; b) ambos sem relação definida com hepatites, contrariando a proposta original; c) os estudos controlados têm demonstrado a mesma incidência entre pacientes com hepatite e os respectivos grupos-controle. Sorologia e biologia molecular no diagnóstico das hepatites: informações elementares 23 2.3. A relação da hepatite B com a hepatite D O vírus da hepatite D (ou Delta) é considerado um vírus defectivo (incompleto) pois, não tem a capacidade de produzir o seu próprio antígeno de superfície o qual seria indispensável para exercer a sua ação patogênica. Utilizando o antígeno de superfície do vírus da hepatite B (HBsAg), o HDV consegue a sua replicação com potencial patogênico de gravidade variável (Fig.1). A infecção associada entre o HBV e HDV pode, em princípio, ocorrer de duas maneiras: a) Por co-infecção - quando o indivíduo é infectado, concomitantemente, com os dois vírus. É o caso, por exemplo, da transfusão de sangue de um portador crônico do HDV para um suscetível b) Por superinfecção - neste caso um indivíduo portador crônico do HBV ao se infectar com o HDV (provavelmente proveniente de portador da infecção associada entre o HBV e HDV) passa a ser portador de ambos os vírus. Fig 1 - Relação entre o vírus da hepatite B (HBV) e o vírus da hepatite Delta (HDV) HBcAg HBeAg DNA HDAg RNA HBsAgHBV HDV Instituto Evandro Chagas. Seção de Hepatologia 24 Estudos mais recentes realizados , em grande parte em pacientes transplantados, apontam uma terceira possibilidade da infecção pelo HDV que seria a sua infecção isoladamente. Estes mesmos estudos, entretanto, indicam que tal condição não se expressaria como doença hepática a não ser que ocorra uma “superinfecção” pelo HBV. Ratifica- se, dessa maneira, a necessidade da associação viral para a expressão clínica da doença. Quando a hepatite viral exibe a associação do HDV (por co-infecção ou superinfecção) com o HBV, passa a obedecer a denominação de hepatite D. 2.4. Os marcadores sorológicos no diagnóstico das hepatites virais. Coerente com a hierarquia de diagnóstico proposta no início deste manual, enfatiza-se aqui o essencial pré-requisito da impressão diagnóstica quanto à fase clínico-evolutiva do agravo, para orientar a solicitação dos exames e interpretação dos resultados, tanto referentes aos exames sorológicos como aos biomoleculares. Dessa forma, no caso de uma hepatite clinicamente expressa, antes da solicitação dos exames precisa ser definido: a suspeita é de hepatite aguda ou crônica? Reconhecem-se situações especiais em que tal discernimento possa ser difícil mesmo para clínicos experientes, o cuidado é para não transformar isso em regra. Entende-se como pertinente, também, separar exames essenciais ao diagnóstico daqueles mais afeitos ao prognóstico da doença. Ademais, diversas outras circunstâncias específicas que levam à solicitação de exames sorológicos ligadas aos vírus hepatotrópicos merecem breve citação neste tópico. Sorologia e biologia molecular no diagnóstico das hepatites: informações elementares 25 2.4.1. Pacientes com hepatite aguda 2.4.1.1. Anti-HAV IgM A presença deste marcador é compatível com infecção recente pelo HAV, confirmando o diagnóstico de hepatite aguda A. De um modo geral já é encontrado no soro por ocasião do início do quadro clínico, devendo, preferencialmente, ser pesquisado até seis semanas após o início da doença (Fig. 2). Cuidado! Como a infecção pelo HAV é algo frequente na população regional, não é tão improvável a presença do anti- HAV IgM sem relação com a doença hepática ou extra-hepática vigente. 2.4.1.2. Anti-HBc IgM Sua presença é compatível com infecção recente pelo HBV, ou seja, confirma o diagnóstico de hepatite aguda B. Á partir do início dos sintomas, geralmente, já é encontrado no soro devendo, preferencialmente, ser pesquisado até três meses após o início dos sintomas. (Fig. 3). Caso os dois marcadores sorológicos anteriormente mencionados se mostrem negativos, quando pesquisados em tempo hábil, seriam as seguintes as alternativas mais imediatas em relação a uma hepatite aguda: a) Outras hepatites de etiologia não viral (tóxico- medicamentosas, auto-imune, etc); b) Hepatite aguda C (pode ser sorologicamente caracterizada por paciente inicialmente anti-HCV negativo que converte tornando-se anti-HCV positivo). A futura introdução da sorologia para Instituto Evandro Chagas. Seção de Hepatologia 26 HCVAg deverá propiciar a detecção desse antígeno, isoladamente, no início da infecção aguda; c) Hepatite aguda por vírus secundariamente hepatotrópicos como o vírus de Epstein-Barr, citomegalovírus, vírus da Febre Amarela, parvovírus B19, dentre outros. A informação sobre a procedência do paciente e dados clínicos adicionais fortalecem ou até excluem essas possibilidades; d) Hepatite D por superinfecção em portador crônico do HBV (Fig. 5). Lembrarque o portador crônico do HBV, geralmente, não expressa sorologicamente a presença do anti-HBc IgM. Para a região Norte, pacientes procedentes da Amazônia ocidental, microrregião do Tapajós e Altamira, merecem suspeita maior para hepatite D; e) Hepatite aguda E (infreqüente em nossa região e sorologicamente caracterizada por eventual conversão sorológica para anti-HEV ou deteção de anti-HEV IgM). A pesquisa do HBsAg como marcador sorológico durante a hepatite aguda B, possui o inconveniente de se apresentar negativa depois de cessada a viremia. Ademais, avaliado isoladamente, o resultado positivo pode representar um estado de portador crônico do HBV. Alertado para estas ressalvas, a pesquisa desse marcador pode ser utilizada na rotina clínica, inclusive por ser um teste mais exeqüível e que pode ser realizado em laboratórios menos estruturados. É interessante Sorologia e biologia molecular no diagnóstico das hepatites: informações elementares 27 ressaltar que em caso de suspeita de inoculação acidental do HBV, o monitoramento sorológico deve ser iniciado com o HBsAg que é o marcador mais precoce da infecção (Fig.3). Excepcionalmente o HBsAg pode ser detectado simultaneamente ao anti-HBs, na nossa experiência tal circunstância só tem adquirido significado maior quando o anti-HBs encontra-se em altos títulos e relacionados a hepatites fulminantes, associadas ou não a superinfecção por HDV. À partir dos testes sorológicos de 2ª geração para o anti- HCV, foi otimizada a sensibilidade no diagnóstico de hepatite aguda C, principalmente à partir da 2ª semana de doença. Caso não se disponha de provas de biologia molecular (que detecta a viremia antes do aparecimento do anticorpo), sugerimos a pesquisa do anti-HCV em soros pareados com intervalo mínimo de l5 dias, no caso de suspeita de hepatite aguda C e com o primeiro exame negativo. A pesquisa de anticorpos da classe IgM para os antigenos conhecidos do HCV, embora disponível comercialmente, tem mostrado mais relação com a atividade da doença do que com o tempo em que ocorreu a infecção. Como já considerado neste manual, brevemente, deverá estar disponível a pesquisa sorológica do HCVAg (antígeno do core viral do HCV), que poderá atestar o diagnóstico de uma hepatite aguda C, quando esse marcador inicialmente positivo de modo isolado converter para anti-HCV (persistindo ou não com a antigenemia). Embora o HAAg possa ser detectado nas fezes dos pacientes com hepatite A, na fase bem inicial da doença, tal pesquisa não é feita de rotina pela sua complexidade e por não oferecer vantagem significativa sobre a pesquisa do anti-HAV IgM no soro. Já existem disponíveis testes para a detecção do anti-HEV total e anti-HEV IgM, entretanto, inclusive pelo seu custo, não temos aconselhado o uso sistemático desses marcadores até que as suas reais importâncias sejam aferidas entre nós. Instituto Evandro Chagas. Seção de Hepatologia 28 Como já referido, vírus como o HGV e TTV não têm sido ratificados como agentes importantes de hepatites agudas ou crônicas, não merecendo, portanto serem incluídos como de pesquisa corrente no diagnóstico etiológico das hepatites. Ambos os vírus demonstram presença na população geral, independente da ocorrência de hepatite. Como são vírus de caracterizações recentes, necessita- se aguardar futuras informações. Este subtópico pode ser concluído, respeitando-se as ressalvas já feitas, recomendando em caso de suspeita de hepatite aguda, a pesquisa inicial do anti-HAV IgM, anti-HBc IgM e HBsAg. A necessidade da pesquisa de marcadores adicionais poderá ser orientada pelos resultados iniciais. Faz parte das boas práticas do Laboratório, manter acondicionados os espécimes já examinados por, pelo menos, duas semanas após a emissão do laudo, isso para elucidar eventuais dúvidas ou complementar algum exame referente à amostra. 2.4.2 Pacientes com hepatite crônica e/ou cirrose A presença do HBsAg no curso de uma hepatite crônica é compatível, conforme o caso com hepatite crônica B ou cirrose pós- hepatite B. Geralmente o anti-HBc total ou IgG estão presentes e o anti- HBc IgM está ausente nestas fases da doença (Fig. 4). A eventual positividade para o anti-HBc IgM, geralmente em baixos títulos, em casos de Doença Hepática Crônica, é uma circunstância não freqüente embora seja possível. Caso esse marcador seja solicitado, o resultado deve ser avaliado pelo médico conforme algumas ponderações, dentre as quais destacamos: a) a principal utilidade do anti-HBc IgM é no diferencial da hepatite Aguda A (anti-HAV IgM positivo) com a hepatite Aguda B (anti-HBc IgM positivo) e não no diagnóstico diferencial entre hepatite Aguda B e hepatite crônica B; b) no caso de se pretender estimar o tempo de infecção de um paciente Sorologia e biologia molecular no diagnóstico das hepatites: informações elementares 29 portador sintomático ou assintomático do HBV o significado do anti- HBc IgM é bastante limitado, pois tem interferência da resposta individual e da atividade da doença. Acrescente-se que em circustâncias especiais como, por exemplo, no hepatocarcinoma associado ao HBV, a presença desse marcador tem sido assinalada com freqüência variável por vários pesquisadores. Como já é sabido, o portador de infecção pelo HBV pode sofrer superinfecção pelo HDV. Caso existam justificativas clínico- epidemiológicas para suspeita dessa natureza, poderá ser feito o acompanhamento sorológico com a pesquisa do anti-HD. (Fig. 5). Embora a presença do anti-HCV não indique se a infecção pelo HCV é recente ou antiga, sua pesquisa constitui o passo sorológico inicial no diagnóstico da hepatite crônica C. A futura possibilidade de detecção sorológica do HCVAg poderá confirmar a antigenemia viral em pacientes com infecção crônica pelo HCV, constituindo alternativa de triagem diagnóstica operacionalmente mais viável e de menor custo em relação às provas de biologia molecular. Ensaios de Imunoblot, como o RIBA, LIATEK e outros disponíveis comercialmente, utilizam diferentes antígenos para confirmar (ou melhor, suplementar) a presença do anti-HCV, quando pertinente. Esses exames, atualmente têm a sua maior aplicação na confirmação de uma infecção pregressa, caso um indivíduo anti-HCV positivo se mostre HCV-RNA negativo. Por técnicas de biologia molecular, o ácido nucléico viral pode ser detectado no soro ou fígado (ver 2.6) Na hepatopatia crônica, deve ser considerada a possibilidade de associação das infecções pelo HBV e HCV, inclusive por apresentarem alguns mecanismos de transmissão semelhantes. Nunca Instituto Evandro Chagas. Seção de Hepatologia 30 é demais recordar que o etilismo, como fator isolado ou como agravante das hepatites virais, sempre deve ser investigado nas hepatopatias crônicas. A não consideração, na anamnese, da ingestão prolongada de substâncias tóxico-medicamentosas de possível acometimento hepático constitui aspecto freqüente de equívocos no significado do padrão sorológico apresentado em pacientes com doença hepática crônica. Todo portador crônico da HBV ou HCV, sintomático ou assintomático, deve ser submetido à dosajem (sorológica) da alfa- fetoproteína sérica, pelo menos, a cada seis meses. Essa conduta auxilia na detecção precoce do hepatocarcinoma. Este subtópico pode ser concluído com a sugestão da pesquisa do HBsAg, anti-HBc, anti-HBs e anti-HCV, como exames sorológicos na abordagem inicial do paciente com doença hepática crônica. Os referidos exames ofereceriam as primeiras informações sobre suscetibilidade, infecção e imunidade frente aos dois principais vírus implicados. 2.4.3. Prognóstico clínico da hepatite B A presença e a persistência do HBeAg em portador de infecção crônica pelo HBV é um indicador sorológico de replicação viral, significando maior propensão para evoluir com hepatite crônica além de maior atividade inflamatória, fibrosee cirrose. Por outro lado, a conversão precoce para o anti-HBe prenuncia um melhor prognóstico (portador assintomático ou hepatite crônica com pouca atividade inflamatória). Foi determinada a existência de mutações no genoma do HBV levando, por exemplo, à formação de HBeAg defectivo (replica- se sem apresentar HBeAg detectável no soro), produzindo tanto hepatite fulminante, como induzindo à hepatite crônica severa, eventualmente, mesmo na presença de anti-HBe. Entretanto, conforme a nossa Sorologia e biologia molecular no diagnóstico das hepatites: informações elementares 31 experiência, para a região Amazônica, no caso de hepatite crônica ou cirrose com HBsAg positivo e HBeAg negativo, antes de aventar a possibilidade de mutação, devem ser pesquisadas infecções concomitantes (HDV, HCV) ou outras doenças (auto-imunes, alcoolismo, drogas hepatotóxicas, etc.). Este procedimento, também aconselhamos, inicialmente, para os casos de doença hepática associada ao anti-HBc como marcador isolado. 2.4.4. Potencial de transmissibilidade de portador do HBV A presença do HBeAg (assim como o HBV-DNA) em portador do HBV (sintomático ou assintomático), indica um maior potencial de transmissibilidade, tanto na transmissão horizontal, por intercâmbio de material sangüíneo veiculado por instrumentos não esterilizados, transmissão sexual, etc; como na transmissão vertical, onde a mãe portadora do HBV com positividade para o HBeAg passa, mais freqüentemente, o vírus para o filho ao nascimento. A mãe anti-HBe positiva, mais raramente transmite o HBV ao filho. 2.4.5. Detecção de Imunidade natural a) para a hepatite A é estabelecida pela presença do anti-HAV IgG (ou anti-HAV positivo com anti-HAV IgM negativo). b) para a hepatite B é estabelecida pela presença, concomitante, do anti-HBs e anti-HBc. Eventualmente, o anti-HBc pode ser o único indicador da imunidade natural detectável sorologicamente. A ocorrência do anti-HBs como Instituto Evandro Chagas. Seção de Hepatologia 32 marcador isolado de imunidade natural do HBV é possível embora seja pouco freqüente. Aconselhamos considerar a possibilidade de um resultado falso-positivo, nesta última circunstância. 2.4.6. Detecção de imunidade pré e pós-vacinal Indivíduos sorologicamente negativos para HBsAg, anti- HBc e anti-HBs são suscetíveis à infecção pelo HBV. Indivíduos sorologicamente negativos para o anti-HAV são suscetíveis à infecção pelo HAV. Existem disponíveis, na atualidade, vacinas contra as hepatites A e B. A vacina contra a hepatite B tem como imunizante o HBsAg (produzido por técnica do DNA recombinante) induzindo, portanto, a formação do anti-HBs, isoladamente. A vacina contra a hepatite A induz à formação do anti-HAV . 2.4.7. Detecção de portador do HBV e HCV entre doadores de sangue e hemodialisados. A detecção sorológica do HBsAg e do anti-HCV, em doadores de sangue sugere a possibilidade de induzir infecção transfusional pelo HBV e HCV, respectivamente. Recentemente, a pesquisa do anti- HBc foi incorporada na seleção de doadores de sangue em todo o Brasil com o objetivo de aumentar a segurança do receptor em relação a uma possível baixa antigenemia do HBV no sangue do doador. Discute-se atualmente a possibilidade da introdução futura da pesquisa do HCVAg ou de exames biomoleculares (PCR ou similar) para otimizar a exclusão de doadores infectados pelo HCV. Diversas outras circunstâncias levam à necessidade de Sorologia e biologia molecular no diagnóstico das hepatites: informações elementares 33 7 Válidos, preferencialmente, quando a pesquisa é feita por enzimaimunoensaio (EIE) Fig.2 - Perfil sorológico da hepatite aguda A solicitar sorologia para marcadores de infecção pelos vírus das hepatites, dentre as quais citamos: monitoramento de pacientes hemofílicos e demais usuários de hemoderivados; exames pré- admissionais e periódicos fazendo parte de programas de saúde ocupacional; exames pré-natais como seleção de mães portadoras do HBV; exame de população exposta e de contactos de casos; inquéritos sorológicos e soroepidemiológicos; e exames de doadores e receptores de órgãos. 2.5. Esquemas e gráficos relacionados ao diagnóstico sorológico das hepatites virais As figuras de 2 a 5, que se seguem, apresentam gráficos7 e esquemas concernentes à cinética da produção de antígenos e anticorpos relacionados às infecções pelos vírus das hepatites A e B que em um determinado momento poderá expressar o perfil sorológico do indivíduo. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 PERÍODO DE INCUBAÇÃO 15 A 50 DIAS INÍCIO DOS SINTOMAS SEMANAS APÓS O INÍCIO DOS SINTOMAS C O NC EN TR AÇ ÃO RE LA TIV A HA Ag An ti- HA V Ig M An ti-H AV IgG Instituto Evandro Chagas. Seção de Hepatologia 34 Fig.3 - Perfil sorológico da hepatite aguda B Fig.4 - Perfil sorológico da hepatite crônica B C O NC EN TR AÇ ÃO RE LA TIV A INÍCIO DOS SINTOMAS 1 2 3 4 5 12 MESES APÓS O INÍCIO DOS SINTOMAS Anti-HBc IgG HB sA g HB eA g An ti-H Bc IgM An ti-H Be An ti-H Bs PERÍODO DE INCUBAÇÃO 40 A 180 DIAS PERÍODO DE INCUBAÇÃO HEPATITE AGUDA OU INFECÇÃO ASSINTOMÁTICA HBsAg Anti-HBc IgG HBeAg* Anti -HBc IgM CO NC EN TR AÇ ÃO RE LA TIV A MANIFESTAÇÃO DA CRONICIDADE MESES OU ANOS APÓS A INFECÇÃO AGUDA *PODE DESAPARECER OU PERSISTIR NA HEPATITE CRÔNICA, CASO DESAPAREÇA, HAVERÁ NA SEQÜÊNCIA A PRODUÇÃO DO Anti-HBe. Sorologia e biologia molecular no diagnóstico das hepatites: informações elementares 35 É oportuno lembrar, todavia, que a exemplo de todos os fenômenos biológicos, podem ocorrer variações determinadas pelas circunstâncias pertinentes a cada caso. Ainda assim, entendemos que as informações a seguir, baseadas na média das observações, devam atender à grande maioria das situações. Fig – 5. Marcadores sorológicos na hepatite D. Instituto Evandro Chagas. Seção de Hepatologia 36 Excepcionalmente, durante a fase inicial de intensa replicação do HDV, o HBsAg pode não ser sorologicamente detectado. também existe a possibilidade do desaparecimento precoce do HBsAg durante uma co-infecção. A co-infecção pode, embora mais raramente, evoluir para a cronicidade. A experiência nos tem mostrado que em se tratando de hepatite D, é necessário o uso conjunto dos diversos marcadores sorológicos e teciduais (notadamente nos casos de hepatite fulminante) para ampliar a possibilidade de diagnóstico. A positividade do anti-HBc IgM considerada neste esquema seria aquela pelo menos três vezes acima do valor de cut off (limite de referência). Tem sido objeto de discussão o significado da presença do anti-HD IgM, tanto nas hepatites agudas como crônicas, Apenas, por esse motivo tal marcador não foi incluído no esquema apresentado. 2.6. Diagnóstico por provas de biologia molecular 2.6.1. Testes qualitativos e quantitativos do genoma viral Os métodos qualitativos e quantitativos referentes à detecção dos ácidos nucléicos dos vírus das hepatites B (HBV-DNA) e C (HCV-RNA) têm se tornado importantes instrumentos no acompanhamento, prognóstico e tratamento de pacientes portadores dos respectivos vírus. A pesquisa qualitativa do genoma viral no soro seria o critério mais diferenciado para aferir a viremia. Nesse sentido, alguns testes têm a proposta de detectar até um mínimo de 40 cópias do genoma viral por mililitro. Do ponto de vista didático pode-se dizer que a quantificação das cópias de genoma viral, tanto para o HBV como Sorologia e biologia molecular no diagnóstico das hepatites: informações elementares 37 para o HCV, pode ser realizada com ou sem a amplificação dos respectivos genomas. Na primeira circunstância utiliza-se, por exemplo, a tecnologia da PCR8, NASBA9 ou TMA ena segunda, os métodos que utilizam outros artifícios, como a técnica do bDNA que amplifica não o genoma mas sim a sua sinalização. Pelo menos comercialmente, as tecnologias que usam amplificação tendem a ser mais sensíveis, dispendiosas e complexas. Para o HCV, a PCR utiliza-se de primers correspondentes à região mais conservada do vírus, uma região não codificadora da extremidade 5'. Para o HBV, geralmente, utilizam-se primers que amplificam seqüência na região pré-core/core viral. Como vantagens imediatas trazidas pela qualificação/ quantificação do HBV-DNA e HCV-RNA podem ser citadas a monitoração da resposta ao tratamento com antivirais e o relacionamento com a situação histopatológica do paciente, além de estimar o potencial de contágio. As provas de biologia molecular podem ser realizadas tanto no soro, no plasma, como no tecido hepático. Por questões logísticas óbvias, o soro é material mais freqüentemente examinado. Alguns estudos 8 Por meio da PCR , é possível a amplificação de uma seqüencia específica de DNA purificada ou presente numa mistura. A PCR necessita de dois oligômeros de nucleotídeos que se hibridizam com fitas de DNA complementares numa região de interesse. Os oligômeros servem de iniciadores (primers) para uma DNA polimerase que completa cada fita. A repetição de processo (ciclos) geram grandes quantidades da região de DNA de interesse em questão de algumas horas. Para se adaptar a PCR à amplificação no diagnóstico de virus RNA (como o HCV) o processo necessita ser precedido por uma transcrição reversa - RT PCR. 9 A tecnologia NASBA de amplificação consiste na atividade de 3 enzimas: AMV-RT (Transcriptase Reversa do Vírus da Mieloblastose Aviária), Rnase H e T7 RNA polimerase. A ação destas 3 enzimas amplifica os ácidos nucléicos em um fator maior que 109. Diferente da PCR, a amplificação NASBA é isotérmica e amplifica diretamente o RNA viral. Instituto Evandro Chagas. Seção de Hepatologia 38 revelam que os níveis de ácidos nucléicos encontrados no tecido hepático são mais elevados do que no soro. Haveria, portanto, a possibilidade da presença de HBV-DNA ou HCV-RNA no tecido hepático mesmo que a pesquisa no soro fosse negativa, embora isso não implique em importância maior para a rotina clínica. A coleta e acondicionamento de espécimes para serem submetidos a exames de biologia molecular têm características particulares.No Quadro 2, de modo conciso, são apresentadas as recomendações do laboratório de hepatites do IEC, em relação à coleta acondicionamento e remessa de material para provas de biologia molecular. Comercialmente, tem se disponibilizado, dentre os testes para a detecção do HBV-DNA e HCV-RNA, vários sistemas de diagnóstico como: a) Amplicor HBV Monitor – teste que detecta e quantifica o HBV-DNA por meio de PCR; b) Amplicor HCV – detecta o HCV-RNA de modo qualitativo; c) Amplicor HCV Monitor – detecta o HCV-RNA de modo quantitativo; d) Quantiplex B – detecta e quantifica o HBV-DNA por técnica do bDNA; e) Quantiplex C – detecta o HCV-RNA por técnica do bDNA; e f) NASBA HCV RNA QT – detecta e quantifica o HCV- RNA pela técnica NASBA. Deve ser do conhecimento do clínico que, tanto os níveis de sensibilidade como as respectivas cargas virais sofrem influência da técnica e do teste empregado, o que por vezes tem atribuído mais um valor relativo (curva da viremia) do que propriamente absoluto (número de cópias de genoma detectadas) no acompanhamento do tratamento Sorologia e biologia molecular no diagnóstico das hepatites: informações elementares 39 dos pacientes portadores do HCV. É fundamental a relação da viremia com os demais parâmetros clínicos, laboratoriais e epidemiológicos. Mais recentemente, por uma necessidade de padronização, a carga viral relativa ao HCV-RNA passou a ser universalmente expressa em Unidades Internacionais por ml (UI/ml) em substituição à tradicional Cópias do genoma por ml (Cópias/ml). Para situações de triagem dos eventuais portadores assintomáticos de vírus, como nos bancos de sangue, têm sido desenvolvidos testes biomoleculares de detecção múltipla (multiplex) incluindo os principais agentes virais implicados em doenças pós- transfusionais. 2.6.2. Testes de genotipagem e mutação viral Assim como outros vírus, os virus das hepatites possuem nos seus respectivos genomas desde regiões bem conservadas até regiões extremamente variáveis. Decorrente dessas regiões alguns desses vírus tendem a se apresentar com diferentes genótipos e subtipos, estes com implicações diversas na evolução clínica e tratamento dos pacientes. 2.6.2.1. Para o HCV Principalmente devido às variações encontradas na região não codificadora da extremidade 5’, o HCV tem sido classificado em seis genótipos principais e alguns subtipos10 .Como exemplo, a importância imediata dos referidos genótipos seria que o genótipo 1 (principalmente o subtipo 1b) tende a se relacionar com doença mais grave e de menor resposta sustentada e prolongada ao tratamento (ausência de detecção do HCV-RNA, pelo prazo mínimo de 12 meses), embora esses aspectos 10 Os genótipos do HCV são discriminados por números de 1 a 6 e os subtipos são definidos por letras minúsculas como por exemplo: 1a, 2b, etc. Instituto Evandro Chagas. Seção de Hepatologia 40 ainda estejam sendo discutidos. O genótipo 1 é o que predomina no Brasil, inclusive na região Norte. Com efeito, ao lado dos demais parâmetros, o genótipo do HCV contribui para orientar conduta médica frente às hepatites agudas e crônicas por esse agente. Dentre os métodos de determinação dos genótipos do HCV, incluem-se a RFLP, NASBA e LiPA (INNO- LiPA HCV II, Innogenetics) segundo este último, o produto da PCR é submetido a uma hibridização reversa com sondas específicas para os diferentes genótipos do HCV ligadas a uma membrana de nitrocelulose e o híbrido é revelado por um método cromogênico que, assim, estabelece a genotipagem do HCV e seus principais subtipos. Algumas discussões de cunho nacional e internacional têm orientado condutas nas diversas situações relacionadas à triagem e acompanhamento biomolecular de pacientes candidatos a tratamento para a hepatite C. No plano nacional a Portaria MS 639 de junho de 2000, ressalvando as situações especiais, orienta as condutas laboratoriais expostas no Quadro 3. Conforme a citada Portaria, uma vez consolidada a indicação de tratamento antiviral, os genótipos 1,4,5 ou 6 deverão ser tratados durante 12 meses, enquanto os genotipos 2 e 3 deverão ser tratados durante 6 meses. 2.6.2.2. Para o HBV Embora estejam definidos seis genótipos principais11 para o HBV, não foram plenamente relacionadas as influências desses com o prognóstico da infecção/doença. A situação de importância emergente para o HBV é a possível mutação viral levando a modificações antigênicas que dificultam ou impossibilitam a detecção da infecção pela pesquisa dos marcadores 11 Baseado na divergência superior a 8% entre as seqüências completas dos genomas, os genótipos do HBV são discriminados como: A, B, C, D, E e F. Com proposta para um sétimo – genótipo G. Sorologia e biologia molecular no diagnóstico das hepatites: informações elementares 41 sorológicos convencionais. E em pacientes portadores do HBV evoluindo com doença que expresse atividade importante (clínico-laboratorial, histopatologica) e que mantenham, sorologicamente, negatividade para o HBeAg e positividade para o anti-HBe, pode haver relação com a presença de mutação viral na região pré-core. Mutações na estrutura gênica que codifica o HBsAg poderia, eventualmente, induzir a formação de mutantes não detectáveis pelos métodos sorológicos habituais, ou ainda propiciar infecção mesmo em indivíduos vacinados contra a variante habitual (selvagem) do HBV. Mutações na estrutura gênica que codifica a DNA polimerase (locus YMDD) podem ocasionarfalha na resposta ao tratamento. Doenças Hepáticas Auto-imunes Sorologia e biologia molecular no diagnóstico das hepatites: informações elementares 45 3.Doenças hepáticas auto-imunes Pelo menos três entidades encontram-se clínica e laboratorialmente definidas dentro das doenças hepáticas auto-imunes, quais sejam: a) hepatite auto-imune; b) cirrose biliar primária; e c) colangite esclerosante primária. Devido o envolvimento da sorologia no diagnóstico, principalmente, das duas primeiras doenças citadas e a importância no diagnóstico diferencial com as hepatites virais, entendemos como importante tecer breves comentários sobre o assunto. 3.1. Hepatite auto-imune À luz dos conhecimentos vigentes a hepatite auto-imune é uma doença (ou melhor, uma síndrome) de evolução crônica com progressiva destruição do parênquima hepático, de causa ainda desconhecida e, particularmente, caracterizada por aspectos: a) epidemiológicos: destacando-se a predominância do sexo feminino; b) clínicos: associação com outras manifestações de auto-imunidade; c) laboratoriais: hipergamaglobulinemia, presença de autoanticorpos circulantes característicos; e d) terapêuticos: respondem bem aos imunossupressores. Tem relevância, também, alguns aspectos imuno-genéticos como a predisposição familial e a associação com alguns antígenos leucocitários. Instituto Evandro Chagas. Seção de Hepatologia 46 Definidos pelo Grupo Internacional para as Hepatites Auto-imunes, em 1992, revisados em 1999, foram publicados os critérios universais a serem cumpridos no diagnóstico da hepatite auto-imune. Foram elaborados critérios definitivos (aqueles classicamente compatíveis com a doença) e prováveis (aqueles sugestivos ou que não excluem a doença). Ficou sugerido que o diagnóstico de hepatite auto-imune deve ser considerado em pacientes que principalmente, embora não obrigatoriamente, sejam do sexo feminino, com doença hepática aguda ou crônica parenquimatosa sem evidência de uma etiologia específica conhecida, especialmente se houver história de outras manifestações de auto-imunidade no próprio paciente ou parentes de primeiro grau. Fundamentada a impressão diagnóstica, o clínico poderá consolidar o seu diagnóstico auxiliado pelo explicitado no Quadro 4. Vale relembrar a importância da boa resposta à corticoterapia para consolidação do diagnóstico Ratificamos que o diagnóstico definitivo da hepatite auto- imune subentende um processo que inclui cuidadosa avaliação clínica e laboratorial e não uma questão pontual e específica. 3.2. Cirrose biliar primária (CBP ou PBC) É uma doença inflamatória crônica relacionada a fenômenos de auto-imunidade e que leva à destruição granulomatosa progressiva dos pequenos dutos biliares com conseqüente quadro importante de colestase. Pode estar associada a xantomas cutâneos e níveis elevados de colesterol sérico. Tem predominância marcante do sexo feminino, associa-se a síndromes auto-imunes extra-hepáticas (síndrome de Sicca, Tireoidite, etc.) A pesquisa de anticorpos antimitocondriais (AMA), fração Sorologia e biologia molecular no diagnóstico das hepatites: informações elementares 47 M2 constitui o mais sensível e específico marcador sorológico para a doença. Questiona-se a existência de subgrupos de CBP com subtipos de anticorpos antimitocondriais e com diferentes prognósticos. 3.3. Colangite esclerosante primária (CEP ou PSC) É uma doença inflamatória, fibrosante e crônica que acomete principalmente os grandes ductos biliares intra e extra-hepáticos com conseqüente quadro obstrutivo do trato biliar de intensidade variável levando à cirrose biliar nos estágios finais. A pesquisa de anticorpos antimitocondriais é negativa. Ao contrário das outras síndromes hepáticas auto-imunes na CEP ocorre uma predominância do sexo masculino. Em torno da metade dos casos de CEP esta doença associa-se a doenças inflamatórias intestinais, principalmente com a colite ulcerativa. Outras doenças auto-imunes, também, podem estar associadas ao quadro. Casos, com suspeita inicial de hepatite auto-imune evoluindo com alguma colestase, e que não respondam bem à corticoterapia, são suspeitos de CEP. Embora já existam propostas para estabelecer marcadores sorológicos para a doença, até o momento não estão disponíveis para o uso clínico corrente. Devido as perspectivas do uso regular dos marcadores sorológicos no diagnóstico das doenças hepáticas auto-imunes, deixamos aqui estas noções preliminares, as quais certamente serão objeto de futuros detalhamentos nas edições subsequentes, inclusive com a introdução dos marcadores de descrição mais recente. O diagnóstico diferencial precoce entre a hepatite viral e a hepatite auto-imune é de importância fundamental na prática clínica, dentre outros motivos, porque ele define a conduta terapêutica para a doença. Sorologia e biologia molecular no diagnóstico das hepatites: informações elementares 49 Bibliografia Recomendada ALVAREZ F, BERG PA, BIANCHI FB et al. International autoimmune hepatitis group report: review of criteria for diagnosis of autoimmune hepa- titis. Journal of Hepatology,v.31, p.929-38, 1999 ANDRADE LEC. Princípios de biologia molecular e suas aplicações em medicina. Rev Ass Med Brasil. v.39, n.3: 175-86, 1993 BENSABATH G, CARTÁGENES PRB, DIAS LB, CRESCENTE JAB, MIRANDA ECBM. Hepatites por vírus. In: LEÃO RNQ, (Coord). Doenças infecciosas e parasitárias – Belém: Cejup; 1997 p. 313-44. BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Portaria no 639, de 21 de junho de 2000. Diário Oficial [Da] República Federativa do Brasil, Poder Execultivo, Brasília, DF, 26 jun. 2000. CENTERS FOR DISESASE CONTROL AND PREVENTION. NATIONAL CENTER FOR INFECTIOUS DISEASES.HEPATITIS BRANCH. Disponível na Internet <http://www.cdc.gov/ncidod/diseases/hepatitis/ index.htm> EASL International Consensus Conference on Hepatitis C - Paris Consen- sus Statement. J Hepatol 1999; 30:956-961. GAYOTTO LCC; COMITÊ SBP/SBH. Visão histórica e consenso nacional sobre a classificação das hepatites crônicas. GED; v.19,n.3, p.137-40. 2000 GUIMARÃES MCS. Exames de Laboratório: Sensibilidade, Especificidade, Valor Preditivo Positivo. Rev. Soc. Bras. Med. Trop., v.18, p 117-20. 1985; HARRISON TJ. Hepatitis E virus - an update. Liver, v.19, p.171-76. 1999. SILVA LC et al. Hepatites Agudas e Crônicas.– São Paulo: Sarvier, 1986. TANAKA, E; OHUE,C; AOYAGI,K; YAMAGUCHI,K; ET AL. Evaluation of a new enzyme immunoassay for hepatitis C virus (HCV) core antigen with clinical sensitivity approximating that of genomic amplification of HCV RNA. Hepatology v.32, n.2, p.388-93, 2000. Instituto Evandro Chagas. Seção de Hepatologia 50 Quadro 1 - Informações resumidas sobre algumas dosagens bioquímicas no diagnóstico das hepatites Bilirrubinas – Nas hepatites agudas elevam-se no sangue após o aumento das aminotransferases. Apesar de haver aumento tanto da fração não-conjugada (indireta) como da conjugada (direta), esta última apresenta-se predominante. Na urina o seu aparecimente precede à icterícia. Nas hepatites agudas, sua normalização costuma ocorrer antes das aminotransferases, exceto nas formas colestáticas da doença. Aminotransferases (Transaminases) – Tanto a Alaninoaminotransferase/ALT como a Aspartatoaminotransferase/AST podem se elevar nas doenças agudas. Níveis séricos elevados são encontrados pela inflamação e necrose dos hepatócitos devido diversas etiologias. As etiologias mais comuns são as hepatites virais, mas também, elevam- se nas hepatites tóxicas, medicamentosas, auto-imunes, etc. Na fase de doença hepática crônica e na presença de doenças com acometimento hepático secundário essas enzimas podem mostrar aumento discreto (<3 vezes) ou moderado. Em fases de fibrose/cirrose, sem maior atividade inflamatória, essas enzimas podem estar em níveis séricos normais. Fosfatase alcalina – As principaisfontes dessa enzima são os osteoblastos e as células que margeiam os canalículos biliares. Principalmente nas obstruções biliares esta enzima é regurgitada para a corrente sangüinea, a exemplo do que ocorre com a bilirrubina. Aumento dos níveis séricos da fosfatase alcalina na presença de icterícia, geralmente, indica colestase. Níveis moderados são comumente encontrados no curso das hepatites agudas. Devido a presença aumentada da fração osteoblástica dessa enzima durante o período de crescimento, esse aspecto deve ser considerado em crianças e adolescentes. Gamaglutamiltransferase (Gama-GT) – Ocorre principalmente no fígado, rins e pâncreas. Os seus níveis séricos estão aumentados em algumas condições em que também se elevam os níveis da fosfatase alcalina, indicando colestase. A gama-GT também se eleva no alcoolismo e na ingestão, inalação ou absorção de determinados medicamentos e produtos químicos. Não sofre influência do período de crescimento. Proteínas séricas – Comumente não se alteram significativamente nas hepatites agudas, podendo haver queda pouco acentuada na albuminemia. Nas hepatites crônicas e na cirrose, a albumina apresenta diminuição acentuada e progressiva, enquanto as globulinas, principalmente a fração gama, tende a se elevar. Ratificamos que a dosagem da albuminemia e de alguns fatores da coagulação (como a protrombina), correspondem a verdadeiros exames de “Função Hepática” por serem essas substâncias sintetizadas pelo fígado. Sorologia e biologia molecular no diagnóstico das hepatites: informações elementares 51 Para sorologia (marcadores virais) 1-O soro ou plasma deve ser acondicionado em um frasco esterilizado e hermeticamente fechado; 2-A tampa deve ser vedada e fixada com filme de parafina ou esparadrapo; 3-No rótulo, colocar o nome completo e data de coleta; 4-Pode ser acondicionado entre 2º e 8ºC por 72 hs. Para períodos maiores conservar, preferencialmente, entre -20º e -80ºC; 5-Para transporte o material deve ser embalado dentro de saco plástico bem vedado por um nó ou por elástico, que por sua vez será colocado em um isopor. Usar, preferencialmente, gelo reciclável ou seco. Caso seja utilizado gelo comum, este deve ser colocado em sacos plásticos vedados. Para procedimentos de biologia molecular (HBV-DNA e HCV-RNA) 1- Remeter soro ou plasma. No caso do plasma, coletar com ACD ou EDTA como anticoagulante. Não usar heparina. O ideal é centrifugar e separar a amostra nas duas primeiras horas após a coleta; 3- A amostra deve ser acondicionada em um frasco novo e esterilizado, fechar hermeticamente, vedar a tampa com parafina ou esparadrapo. No rótulo, colocar identificação completa e data de coleta. Pode ser guardada entre 2° e 8°C por 72 hs. Para períodos maiores conservar, obrigatoriamente, entre -20° e -80°C; 4-Evitar congelamentos e descon- gelamentos sucessivos; 5- Para transportar, o(s) frasco(s) deve(m) ser acondicionado(s) em recipiente(s) vedado(s) (por exemplo, dentro de um saco plástico bem vedado por um nó ou por elástico), colocado(s) dentro de caixa de isopor apropriada. Usar, preferencialmente, gelo seco. No caso de utilizar o gelo comum, este deve ser acondicionado dentro de saco plástico vedado para evitar derramamento. Para o Sistema Público, encontra-se em fase de implementação nos Laboratórios Centrais dos Estados - mediante o que preconiza o SUS - a recepção e realização dos exames sorológicos e, posteriormente, os biomoleculares de interesse para a notificação e tratamento das hepatites virais. Quadro 2- Instruções gerais sobre coleta, processamento e remessa de soro/plasma para diagnóstico de hepatites virais Instituto Evandro Chagas. Seção de Hepatologia 52 PARÂMETROS 1-SEXO Feminino 2-BIOQUÍMICA HEPÁTICA Relação FA/ALT (ou AST) <1.5 1.5 – 3.0 > 3.0 Níveis séricos de globulinas, gamaglobulinas ou IgG (vezes acima do normal >2.0 1.5-2.0 1.0-1.5 <1.0 Auto-anticorpos ANA, SMA, LKM-1 >1:80 1:80 1:40 <1/40 AMA positivo 3-OUTROS FATORES ETIOLÓGICOS Marcadores de hepatites virais Positivo Negativos Quadro 4 - Sistema de escore para diagnóstico de hepatite auto-imune ESCORE + 2 + 2 0 - 2 + 3 + 2 + 1 0 + 3 + 2 + 1 0 - 4 - 3 + 3 (continua) Quadro 3 - Monitorização e acompanhamento laboratorial no tratamento para Hepatite C de acordo com a Portaria 639/2000 do Ministério da Saúde Exame ALT AST HCV - por detecção de RNA GENOTIPO HEMOGRAMA PLAQUETAS PROTROMBINA CREATININA TSH Antes do início do tratamento SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM Cada 7 dias, no 1o mês de tratamento SIM SIM SIM SIM No 30odia SIM SIM SIM SIM SIM SIM SIM No final do 6o mês SIM SIM SIM SIM No final do 12o mês SIM SIM SIM SIM Sorologia e biologia molecular no diagnóstico das hepatites: informações elementares 53 História recente de drogas hepatotóxicas Positivo Negativo Consumo de Álcool <25g/dia >60g/dia 4- HISTOLOGIA Hepatite crônica ativa Infiltrado inflamatório linfoplasmocitário Formação de rosetas Nenhum dos acima Alterações biliares Outras alterações PARÂMETROS 5- OUTRAS DOENÇAS AUTO-IMUNES 6-PARÂMETROS OPCIONAIS Soropositividade para outros autoanticorpos definidos HLA DR3 ou DR4 Resposta à terapia Completa Recaída após suspensão - 4 + 1 + 2 - 2 + 3 + 1 + 1 - 5 - 3 - 3 ESCORE + 2 + 2 + 1 + 2 + 3 INTERPRETAÇÃO: Pré-tratamento Definitivo: > 15 pontos Após tratamento Definitivo:>17 pontos Provável: 10-15 pontos Provável: 12-17pontos Fonte: Journal of Hepatology, v.31, p.929-38, 1999.
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