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Segundo Princípio da Indução Matemática Suponha que queremos mostrar que uma certa conjectura vale para todos os valores de n ∈ N, n ≥ a. Para demonstrar essa conjectura pelo segundo princípio de indução matemática, basta mostrar que (1) A conjectura vale para n = a. (2) Se assumirmos que a conjectura é verdadeira para todo n tal que a ≤ n ≤ k, então ela necessariamente é verdadeira para k + 1. A diferença entre o primeiro princício de indução e o segundo é que na segunda parte do primeiro princício assumimos que a tese é válida para k e utilizamos isso para mostrar que a tese é válida para k+1, enquanto na segunda parte do segundo princípio de indução, assumimos que a tese é válida para todo n ≤ k satisfazendo a hipótese e utilizamos essas teses para mostrar que a tese vale para k + 1. Em outras palavras, se q(n) é a tese a ser provada para n ∈ N, n ≥ a, então: • No primeiro princípio de indução temos que mostrar que (1) q(a) é verdadeira. (2) se k ≥ a e se q(k) é verdadeira, então q(k + 1) é verdadeira. • No segundo princípio de indução temos que mostrar que (1) q(a) é verdadeira. (2) se q(n) é verdadeira para todo n tal que a ≤ n ≤ k, então q(k + 1) é verdadeira. Muitas vezes o Primeiro Princípio de Indução Matemática é chamado de Princípio da In- dução Fraca e o Segundo Princípio de Indução Matemática é chamado de Princípio da Indução Forte (por ser necessário usar as teses de mais números do que só a tese do número exatamente anterior ao k + 1, que é o k). Para demonstar os próximos exemplos precisamos da seguinte definição: Definição 1. Dizemos que um número n ∈ Z é primo se n possuir exatamente quatro divisores distintos: 1,−1, n e −n. Definição 2. Dizemos que um número n ∈ N é primo se n possuir exatamente dois divisores positivos distintos: 1 e n. Exemplo 1. Prove as seguintes afirmações utilizando a técnica de indução matemática. (a) Todo número natural maior ou igual a 2 pode ser fatorado em números naturais primos (ou seja, todo número natural maior ou igual a 2 é primo ou pode ser escrito como o produto de números naturais primos). (b) Todo valor de postagem de 20 centavos ou mais pode ser formado utilizando-se apenas selos de 5 e 6 centavos. (c) Todo valor de postagem de 18 centavos ou mais pode ser formado utilizando-se apenas selos de 4 e 7 centavos. (d) A sequência 1, 1, 2, 3, 5, 8, 13, ... é chamada de sequência de Fibonacci. Se denotarmos o n-ésimo termo da sequência por Fn, então os termos da sequência seguem a regra: 1 • F1 = 1 • F2 = 1 • Fn = Fn−1 + Fn−2 se n ≥ 3 Mostre que Fn < ( 7 4 )n para todo n ∈ N. (e) Considere a sequência cujo n-ésimo termo an é dado por • a1 = 1 • a2 = 2 • an = 4an−1 − 4an−2 se n ≥ 3 Mostre que an = 2 n−1 para todo n ∈ N. (f) Considere a sequência cujo n-ésimo termo an é dado por • a1 = 1 • a2 = 2 • a3 = 3 • an = an−1 + an−2 + an−3 se n ≥ 4 Mostre que an < 3 n para todo n ∈ N. Resolução: (a) A conjectura pode ser escrita como (n ∈ N, n ≥ 2) → n pode ser fatorado em números naturais primos Hipótese: n ∈ N, n ≥ 2 Tese: n pode ser fatorado em números naturais primos Utilizando o segundo princípio de indução matemática temos que (1) O primeiro natural que satisfaz a hipótese é n = 2. Como 2 é primo, então ele em si já é uma fatoração em números primos. Logo, a tese é verdadeira para n = 2. (2) Suponha que a tese é verdadeira para todo n ∈ N tal que 2 ≤ n ≤ k, ou seja, que todo número natural entre 2 e k pode ser fatorado em números primos positivos. Vamos mostrar (utilizando a tese para esses valores de n) que a tese também vale para k + 1. Temos que: • Se k + 1 for primo, então ele em si já é uma fatoração em números primos. • Se k + 1 não for primo, então k + 1 possui algum divisor natural a diferente de 1 e de k + 1. Ou seja, ∃ a ∈ N / (a 6= 1, a 6= k + 1 e a|(k + 1)) Logo, ∃ b ∈ N / k + 1 = ab. Mas, como 2 ≤ a ≤ k + 1 e 2 ≤ b ≤ k + 1, então a e b podem ser fatorados em números naturais primos e o produto dessas duas fatorações é uma fatoração para k + 1. Concluímos que a tese é verdadeira para todo n ∈ N, n ≥ 2. 2 (b) A conjectura pode ser escrita como (n ∈ N, n ≥ 20) → (∃ m, c ∈ (N ∪ {0}) / n = 5m+ 6c) Hipótese: n ∈ N, n ≥ 20 Tese: ∃ m, c ∈ (N ∪ {0}) / n = 5m+ 6c Utilizando o segundo princípio de indução matemática temos que (1) O primeiro natural que satisfaz a hipótese é n = 20. Como 20 = 5 · 4 + 6 · 0, então 20 pode ser escrito como uma soma de múltiplos não-negativos de 5 e de 6. Logo, a tese é verdadeira para n = 20. (2) Suponha que a tese é verdadeira para todo n ∈ N tal que 20 ≤ n ≤ k, ou seja, que todo número natural entre 20 e k pode ser escrito como uma soma de múltiplos não- negativos de 5 e de 6. Vamos mostrar que a tese também vale para k + 1. Observe que k + 1 = (k − 4) + 5 Logo, se a tese for verdadeira para k− 4, então ela será verdadeira para k+1, uma vez que teremos k − 4 = 5m+ 6c para algum m, c ∈ (N ∪ {0}) e, portanto, k + 1 = (k − 4) + 5 = 5m+ 6c+ 5 = 5 (m+ 1)︸ ︷︷ ︸ ∈N +6c Entretanto temos que tomar cuidado, pois estamos assumindo que a tese é válida para os valores de n ∈ N tais que 20 ≤ n ≤ k e k − 4 ≥ 20 ↔ k ≥ 24 Logo, se k + 1 ≥ 25, então a tese é válida para k − 4 e, portanto, é válida para k + 1. Nos resta mostrar então apenas que a tese vale para n = 21, n = 22, n = 23 e n = 24. Temos que • 21 = 5 · 3 + 6 · 1 e, portanto, a tese vale para n = 21 • 22 = 5 · 2 + 6 · 2 e, portanto, a tese vale para n = 22 • 23 = 5 · 1 + 6 · 3 e, portanto, a tese vale para n = 23 • 24 = 5 · 0 + 6 · 4 e, portanto, a tese vale para n = 24 Concluímos que a tese é verdadeira para todo n ∈ N, n ≥ 20. (c) A conjectura pode ser escrita como (n ∈ N, n ≥ 18) → (∃ m, c ∈ (N ∪ {0}) / n = 4m+ 7c) Hipótese: n ∈ N, n ≥ 18 Tese: ∃ m, c ∈ (N ∪ {0}) / n = 4m+ 7c Utilizando o segundo princípio de indução matemática temos que (1) O primeiro natural que satisfaz a hipótese é n = 18. Como 18 = 1 · 4 + 2 · 7, então 18 pode ser escrito como uma soma de múltiplos não-negativos de 4 e de 7. Logo, a tese é verdadeira para n = 18. 3 (2) Suponha que a tese é verdadeira para todo n ∈ N tal que 18 ≤ n ≤ k, ou seja, que todo número natural entre 18 e k pode ser escrito como uma soma de múltiplos não- negativos de 5 e de 6. Vamos mostrar que a tese também vale para k + 1. Observe que k + 1 = (k − 3) + 4 Logo, se a tese for verdadeira para k− 3, então ela será verdadeira para k+1, uma vez que teremos k − 3 = 4m+ 7c para algum m, c ∈ (N ∪ {0}) e, portanto, k + 1 = (k − 3) + 4 = 4m+ 7c+ 4 = 4 (m+ 1)︸ ︷︷ ︸ ∈N +7c Entretanto temos que tomar cuidado, pois estamos assumindo que a tese é válida para os valores de n ∈ N tais que 18 ≤ n ≤ k e k − 3 ≥ 18 ↔ k ≥ 21 Logo, se k + 1 ≥ 22, então a tese é válida para k − 3 e, portanto, é válida para k + 1. Nos resta mostrar então apenas que a tese vale para n = 19, n = 20 e n = 21. Temos que • 19 = 4 · 3 + 7 · 1 e, portanto, a tese vale para n = 19 • 20 = 4 · 5 + 7 · 0 e, portanto, a tese vale para n = 20 • 21 = 4 · 0 + 7 · 3 e, portanto, a tese vale para n = 21 Concluímos que a tese é verdadeira para todo n ∈ N, n ≥ 18. (d) Hipótese: n ∈ N Tese: Fn < ( 7 4 )n Observe que para n = 1 e n = 2 a tese é verdadeira, pois F1 = 1 < 7 4 e F2 = 1 < 49 16 Vamos utilizar o segundo princípio de indução matemática para mostrar que a tese vale para n ≥ 3. (1) O primeiro natural que satisfaz a hipótese na qual estamos utilizando indução é n = 3. Temos que F3 = F2 + F1 = 1 + 1 = 2 = 128 64 < 343 64 = ( 7 4 )3 Logo, a tese é verdadeira para n = 3. (2) Suponha que a tese é verdadeira para todo n ∈ N tal que 3 ≤ n ≤ k, isto é, que Fn < ( 7 4 )n para 3 ≤ n ≤ k. Vamos mostrar que a tese também vale para k + 1. Observe que k−1 ≥ 2 e, portanto, a tese vale para k−1, uma vez que já mostramos o resultado para 4n = 2 e estamos assumindo que o resultado vale para n se 3 ≤ n ≤ k (e 2 ≤ k−1 < k). Logo, Fk+1 = Fk + Fk−1 < ( 7 4 )k + ( 7 4 )k−1 = ( 7 4 )k + ( 7 4 )k 7 4 = ( 7 4 )k + ( 7 4 )k · 4 7 = ( 7 4 )k [ 1 + 4 7 ] = ( 7 4 )k [ 11 7 ] < ( 7 4 )k [ 7 4 ] = ( 7 4 )k+1 Logo, a tese é verdadeira para k + 1. Concluímos que a tese é verdadeira para todo n ∈ N. (e) Hipótese: n ∈ N Tese: an = 2 n−1 Observe que para n = 1 e n = 2 a tese é verdadeira, pois a1 = 1 = 2 0 e a2 = 2 = 2 1 Vamos utilizar o segundo princípio de indução matemática para mostrar que a tese vale para n ≥ 3. (1) O primeiro natural que satisfaz a hipótese na qual estamos utilizando indução é n = 3. Temos que a3 = 4a2 − 4a1 = 8− 4 = 4 = 22 Logo, a tese é verdadeira para n = 3. (2) Suponha que a tese é verdadeira para todo n ∈ N tal que 3 ≤ n ≤ k, isto é, que 4an−1 − 4an−2 = 2n−1 para 3 ≤ n ≤ k. Vamos mostrar que a tese também vale para k + 1. Observe que k − 1 > k − 2 ≥ 2 e, portanto, a tese vale para k − 1 e para k − 2, uma vez que já mostramos o resultado para n = 1, n = 2 e estamos assumindo que o resultado vale para n se 3 ≤ n ≤ k (e 1 ≤ k − 2 < k − 1 < k). Logo, ak+1 = 4ak − 4ak−1 = 4 · 2k−1 − 4 · 2k−2 = 22 · 2k−1 − 22 · 2k−2 = 2k+1 − 2k = 2 · 2k − 2k = 2k Logo, a tese é verdadeira para k + 1. Concluímos que a tese é verdadeira para todo n ∈ N. 5 (f) Hipótese: n ∈ N Tese: an < 3 n Observe que para n = 1, n = 2 e n = 3 a tese é verdadeira, pois a1 = 1 < 3 1 a2 = 2 < 3 2 a3 = 3 < 3 3 Vamos utilizar o segundo princípio de indução matemática para mostrar que a tese vale para n ≥ 4. (1) O primeiro natural que satisfaz a hipótese na qual estamos utilizando indução é n = 4. Temos que a4 = a3 + a2 + a1 = 3 + 2 + 1 = 6 < 3 4 Logo, a tese é verdadeira para n = 4. (2) Suponha que a tese é verdadeira para todo n ∈ N tal que 4 ≤ n ≤ k, isto é, que an < 3 n para 4 ≤ n ≤ k. Vamos mostrar que a tese também vale para k + 1. Observe que k − 1 > k − 2 > k − 3 ≥ 1 e, portanto, a tese vale para k − 1, para k − 2 e para k − 3, uma vez que já mostramos o resultado para n = 1, n = 2, n = 3 e estamos assumindo que o resultado vale para n se 4 ≤ n ≤ k (e 1 ≤ k − 3 < k − 2 < k − 1 < k). Logo, ak+1 = ak + ak−1 + ak−2 < 3k−1 + 3k−2 + 3k−3 = 32 · 3k−3 + 3 · 3k−3 + 3k−3 = (32 + 3 + 1)3k−3 = 13 · 3k−3 < 27 · 3k−3 = 33 · 3k−3 = 3k Logo, a tese é verdadeira para k + 1. Concluímos que a tese é verdadeira para todo n ∈ N. Exercício 1. Mostre que todo valor de postagem de 12 centavos ou mais pode ser formado utilizando-se apenas selos de 3 e 4 centavos. Exercício 2. Considere a sequência cujo n-ésimo termo an é dado por • a1 = 12 • a2 = 29 • an = 5an−1 − 6an−2 se n ≥ 3 Mostre que an = 5 · 3n−1 + 7 · 2n−1 para todo n ∈ N. 6
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