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TCC Edivania e Vânia

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O PAPEL DO TÉCNICO EM ENFERMAGEM NO APOIO ÀS FAMÍLIAS DE ALCOÓLATRAS EM CRISE DE ABSTINÊNCIA
 Edivânia da Natividade Alves; Vânia Santos Coutinho educandas do Curso Técnico em Enfermagem do Centro de Educação Profissional – Escola Técnica de Planaltina – CEP-ETP/ Unidade Remota CESAS – Programa Mulheres Mil
Resumo: O objetivo deste estudo foi apresentar uma revisão de artigos, que abordam o papel do Técnico em Enfermagem no apoio às famílias de alcoólatras em crise de abstinência, de maneira simples e objetiva de como o técnico em enfermagem poderá atuar no apoio às famílias de usuários de álcool em suas crises de abstinência durante o tratamento. É importante ressaltar que o usuário não se cura sozinho, necessitando de acompanhamento de perto durantes as crises de abstinências, para voltarem ao convívio da sociedade e familiares sem julgamentos.
Palavras-chave: Crises de Abstinência em Alcoólatras. Família. Técnico em Enfermagem. 
Introdução
Alcoolismo é um vício que desestrutura uma vida familiar, vida social, profissional, descontrole emocional, financeiro, prejudicando de uma maneira geral a saúde física e psicológica. Em muitos casos, levam a pessoa à tentativa de suicídio, tendo alucinações entre outros. Infelizmente são poucos os casos que conseguem retomar a vida social, devido a uma vontade, as vezes por sentir a necessidade incontrolável do consumo de álcool.
Como surgiu o uso da bebida alcoólica? Essa é a primeira pergunta a ser feita para entender como deu sua origem, há muitos anos atrás encontrou na agricultura a produção de uvas que deu origem aos vinhos e com o passar dos tempos também veio a produção da cana de açúcar que por sua vez, deu origem a “cachaça” ambas elaboradas por processo de fermentação natural. Hoje, vimos que os usos de bebidas alcoólicas estão presentes em diversos momentos da vida, em simples encontro de amigos, reuniões em famílias, datas comemorativas, no encorajar de algumas atitudes, no enfraquecer devidos as situações vividas, em momentos de beber e não conseguir mais parar e assim levando a uma independência, trazendo consigo efeitos que por muitas vezes são irreversíveis devido aos sinais, sintomas e sequela que ocorrem no corpo.
De acordo ano de 1967, o conceito de doença do alcoolismo foi incorporado pela Organização Mundial de Saúde à Classificação Internacional das Doenças (CID-8), a partir da 8ª Conferência Mundial de Saúde. No CID-8, os problemas relacionados ao uso de álcool foram inseridos dentro de uma categoria mais ampla de transtornos de personalidade e de neuroses. Esses problemas foram divididos em três categorias: dependência, episódios de beber excessivo (abuso) e beber excessivo habitual. A dependência de álcool foi caracteriza pelo uso compulsivo de bebidas alcoólicas e pela manifestação de sintomas de abstinência após a cessação do uso de álcool. 
A partir do século XVII, a sociedade conservadora chamou o consumo de bebidas alcoólicas de pecado social, devido ingerir bebidas destiladas, mais fortes, sem controle de quantidade de consumo.
De acordo com SOURNIA, 1986, o alcoolismo surgiu na Europa no século XIX, época de transformações sociais, industriais e políticas, aproximadamente cerca de um século houve um grande aumento no consumo, trazendo desordem para sociedade, separações de famílias, prejudicando à saúde, estado emocional, moral e ético do usuário excessivo.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) 2,5 milhões de pessoas morrem anualmente por problemas relacionados ao uso de álcool que é causa de cerca de sessenta tipos de doenças. O álcool figura como causa das quatro doenças mais incapacitantes. Na faixa etária dos 15 aos 29 anos a taxa de mortes relacionadas ao uso de álcool pode atingir 9%. A última pesquisa por domicílio, 2005 demonstrou que o Brasil apresenta 12,3% de dependentes ao álcool e pesquisas do Ministério da Saúde relatam aumento do consumo de álcool entre as mulheres nos últimos anos: 2006 8,1%, 2007 9,3% e 2008 10,5%. No mesmo ano 29% dos homens relataram consumo de álcool. Em torno de 60% dos acidentados no transito apresentam índices de alcoolemia superiores aos permitidos pelo Código Brasileiro de Trânsito. Esses dados justificam que a investigação sobre o uso de álcool seja realizada em todos os atendimentos (livro , pg. ) 
Para os cientistas Edwards e Gross (1970), os principais sinais e sintomas da Síndrome da Dependência do Álcool são os seguintes:
• Estreitamento do repertório de beber, as situações em que o sujeito bebe se tornam mais comuns, com menos variações em termos de escolha da companhia, do horário, do local ou dos motivos para beber, ficando ele cada vez mais estereotipado à medida que a dependência avança.
 • Saliência do comportamento de busca pelo álcool o sujeito passa gradualmente a planejar seu dia a dia em função da bebida, como vai obtê-la, onde vai consumi-la e como vai recuperar-se, deixando as demais atividades em plano secundário. 
 • Sensação subjetiva da necessidade de beber o sujeito percebe que perdeu o controle, que sente um desejo praticamente incontrolável e compulsivo de beber.
 • Desenvolvimento da tolerância ao álcool por razões biológicas, o organismo do indivíduo suporta quantidades cada vez maiores de álcool ou a mesma quantidade não produz mais os mesmos efeitos que no início do consumo.
 • Sintomas repetidos de abstinência em paralelo com o desenvolvimento da tolerância, o sujeito passa a apresentar sintomas desagradáveis ao diminuir ou interromper sua dose habitual. Surgem ansiedade e alterações de humor, tremores, taquicardia, enjoos, suor excessivo e até convulsões, com risco de morte.
 • Alívio dos sintomas de abstinência ao aumentar o consumo nem sempre o sujeito admite, mas um questionamento detalhado mostrará que ele está tolerante ao álcool e somente não desenvolve os sintomas de abstinência descritos porque não reduz ou até aumenta gradualmente seu consumo, retardando muitas vezes o diagnóstico.
 • Reinstalação da síndrome de dependência
O antigo padrão de consumo pode se restabelecer rapidamente, mesmo após longo período de abstinência. 
Os sinais e sintomas mais comuns da SAA são agitação, ansiedade, alterações de humor (irritabilidade, disforia), tremores, náuseas, vômitos, taquicardia, hipertensão arterial, entre outros. Podendo evoluir com complicações como alucinações, Delirium Tremens (DT) e convulsões e óbito. O manejo da SAA frequentemente é o primeiro passo no tratamento da dependência do álcool e representa um momento privilegiado para a adesão do paciente ao tratamento. O sintoma de abstinência mais comum é o tremor31(D), acompanhado de irritabilidade, náuseas e vômitos. Ele tem intensidade variável e aparece algumas horas após a diminuição ou parada da ingestão, mais observados no período da manhã. Acompanham os tremores a hiperatividade autonômica, desenvolvendo-se taquicardia, aumento da pressão arterial, sudorese, hipotensão ortostática e febre (< 38ºC). 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Ansiedade Irritabilidade Insônia Tremor Febre Desorientação Alucinações Confusão profunda tremores grosseiros Alucinações visuais atemorizantes SAA leve SAA moderada Delirium tremens dias de abstinência Figura 5: Períodos da SAA mais prováveis para o aparecimento de tremores, hiperatividade e convulsões. 
A escala de CIWA-Ar (Clinical Institute Withdrawal Assessment from Alcohol-revised) como ferramenta para a avaliação da gravidade e evolução da SAA. Pois auxilia na tomada de decisão em três esferas do tratamento: a necessidade do uso de medicação, o local aonde realizar a desintoxicação, e a gravidade e acompanhamento dos sintomas durante o tratamento.
 Escore >8 – Quadro leve: O paciente pode não necessitar de internação para desintoxicação a não ser que tenha história de ingestão de álcool nas últimas 6-8 horas, história de vários episódios anteriores de abstinência. Nestes casos deve permanecer em observação;
 Escores entre 8 e 15 – Quadro moderado: O paciente ainda pode ser tratado ambulatoriamente ou necessitar permanecer em observação(Hospital-Dia ou Ambulatório de Crise). Deve ser encaminhada após a alta para o Serviço de Atendimento a Dependência Química (Centro de Atenção Psicossocial- CAPS-ad.
Escores <15 – Quadro grave: É muito provável que este paciente necessite internação clínica, particularmente se estiverem presentes sinais de delirium, como temperatura elevada, alterações sensoriais e cognitivas.
Álcool e sua definição
O álcool é um produto da fermentação de carboidratos (açúcares), presentes em vegetais, como a cana de açúcar, a uva e a cevada.
A fermentação produz bebidas com a concentração de álcool de até 10% (proporção de volume de álcool puro no total da bebida). São obtidas concentrações maiores por meio da destilação. Em doses baixas, o álcool é utilizado, sobre tudo, por causa de sua ação euforizante e dá capacidade de diminuir as inibições, o que facilita a interação social. 
Possíveis efeitos do álcool de acordo com os níveis da substância no Sangue
 Baixo 
• Desinibição do comportamento; 
• Diminuição da crítica; 
• Hilaridade e labilidade afetiva (a pessoa ri ou chora por motivos pouco significativos); 
• Certo grau de ataxia; 
• Prejuízo das funções sensoriais. 
Médio
• Maior ataxia; 
• Fala pastosa, dificuldades de marcha e aumento importante do tempo de resposta (reflexos mais lentos); 
• Aumento da sonolência, com prejuízo das capacidades de raciocínio e concentração. 
Alto
• Náuseas e vômitos; 
• Visão dupla (diplopia); 
• Acentuação da ataxia e da sonolência (até o coma); 
• Hipotermia e morte por parada respiratória.
Abordagem familiar
O abuso ou dependência de droga geralmente representa o impacto profundo sobre toda a família, desestruturando-a e “adoecendo-a”, e as abordagens psicológicas reconhecem a importância do papel da família tanto na prevenção como no tratamento dos dependentes de drogas. Segundo os pressupostos cognitivos e sistêmicos, o habito do uso de drogas é circular, repetitivo e reforçado pela expectativa em relação aos efeitos imediatos da substância. A teoria sistêmica da família enfatiza que a pessoa, apesar de suas características individuais, não está isolada do contexto socio familiar.
A terapia familiar tem por objetivo:
Auxiliar a família a resgatar competências;
Desenvolver habilidades na resolução de problemas;
Trabalhar o impacto da presença da droga no sistema familiar e os padrões de relacionamento disfuncionais.
O profissional técnico em enfermagem, a Lei Federal nº 7.498 de 25 de Junho de 1986 que dispõe sobre a regulamentação do exercício da enfermagem e dá outras providências, em seu artigo 12, consta que este profissional exerce atividades de nível médio, envolvendo orientação e acompanhamento do trabalho de Enfermagem em grau auxiliar, e participação no planejamento da assistência de Enfermagem.
Expectativas de resultados
De acordo com os estudos, a expectativa foi entender melhor as atribuições que o técnico de enfermagem pode executar no momento de uma crise de abstinência. Saber reconhecer uma crise, maneiras para conter o paciente, os principais medicamentos e a conscientização dos riscos e consequências dos atos causadores.
Orientar de forma clara informações científicas quanto ao uso e a relação saúde-álcool;
Orientar menores de 18 anos;
Gravidez e seus riscos nesse período;
Mostrar ao usuário o quanto suas ações e reações ficam limitadas ao conduzir veículos automotores e operação de máquinas;
Pessoas com dependência do álcool ou em uso de medicamentos cujos efeitos possam ser alterados pelo uso frequente de bebidas alcoólicas
 Diagnóstico
A redução ou interrupção do uso do álcool de paciente e dependentes produz um conjunto de sintomas chamado de síndrome de abstinência, embora para alguns pacientes apresenta sintomas leves existem aqueles que desenvolvem sintomas graves que podem levar até mesmo a óbito, iniciando após 6 horas da redução ou interrupção do consumo do álcool, causando os primeiros sintomas e sinais que são, tremores, ansiedade, insônia, náuseas e inquietação.
Aproximadamente 10% dos pacientes os sintomas podem ser severos, causando febre baixa, taquipneia, tremores e sudorese profunda, quando não tratados poderá desenvolver convulsões, o paciente sendo idoso aumenta mais ainda a possibilidade de mortalidade, devido as complicações que são apresentadas no tratamento. 
Principais condições clinicas que devem ser analisadas no diagnóstico da SAA:
Infecções (pneumonia, meningite, encefalite).
Traumatismo crânio-encefálico, hematomas subdural.
Encefalopatia hepática, má nutrição.
Efeitos adversos de outros medicamentos.
Convulsões, tumor, alterações minerais ou hidroeletrolíticas, traumatismo craniano com DT.
Avaliação laboratorial 
Complementando a avaliação inicial é necessário que realize alguns exames laboratoriais com o objetivo de investigar adequadamente as alterações orgânicas decorrentes da dependência do álcool que influenciam a síndrome de abstinência. Os exames indicados são:
Volume corpuscular médico (VCM).
Níveis das enzinas hepáticas (TGO, GGT).
Eletrólitos, magnésio, sódio e posso. 
Radiografia ou ultrassonografia do tórax, do abdômen ou crânio.
Tomografia computadorizada de crânio.
Tratamentos
Existem as seguintes possibilidades de tratamentos:
Alivio dos sintomas existentes.
Prevenção do agravamento do quadro com convulsões e delírios.
Vinculação e o engajamento do paciente no tratamento da dependência.
Possibilidade de tratamento adequado da SAA possa prevenir ocorrências de síndromes de abstinência mais graves.
Planejamento geral do tratamento
Três níveis de atendimento são considerados com complexidade crescente:
Tratamento ambulatorial.
Internação domiciliar.
Internação hospitalar.
O tratamento pode ser divido:
Não-farmacológico, ou seja, inclui os cuidados gerais e orientações. 
Farmacológicos, reposição de vitaminas.
Farmacológico clinico, uso de substancias psicoativos.
Dentre as medidas do tratamento não-farmacológico, destacamos o monitoramento frequente do paciente, com o intuito de proporcionar um ambiente tranquilo, com luminosidade reduzida, transmitindo orientação em relação a tempo, local, e procedimentos que serão efetuados.
Principais medicamentos
Diazepam.
Tiamina.
Sedativos.
Clordiazepóxido.
Lorazepam.
Conclusão
As formas de tratamento, ambulatorial, abordagem não-farmacológica, abordagem farmacológica, internação domiciliar, tratamento hospitalar, internação ambulatorial, farmacoterapia servem para que paciente prossiga com o tratamento e não desista de procurar um auxilio de um profissional da saúde.
O técnico em enfermagem ao atender o paciente, deverá ter uma atitude profissional, acolhedora, com empatia, sem preconceitos, pois o tratamento da SAA é um momento para motivar o paciente a fazer o tratamento de dependência, sendo necessário informar ao paciente ou a família o tratamento adequado, quais os sintomas serão apresentados e as possíveis evoluções que terão.
Fontes:
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Rossetti ZL, Melis F, Diana M, Gessa GL. Alcohol withdrawal in rats is associated with a marked fall in extraneuronal dopamine. Alcohol Clin Exp Res 1992;16:529-32. 
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DePetrillo PB, McDonough MK. AWS and the AWS typology. In: Alcohol Withdrawal Treatment Manual. Adobe Trade Markers; 1999. p. 7-17. 
Carboni S, IsolaR, Gessa GL, Rossetti ZL. Ethanol prevents the glutamate release induced by N-methil-D-aspartate receptors in the rat striatum. Neur Letters 1990;152:133-6. 
Matsumoto I. Molecular neurobiology of alcohol withdrawal. J Neurochem 1998;70(Suppl 2):S45. 9. Rossetti ZL, Carboni S. Ethanol Withdrawal is associated with increased extracellular glutamate in the rat striatum. Eur J Pharmacol 1995;283(1-3):177-83.
https://www.scielosp.org/article/physis/2015.v25n4/1335-1360/pt/
http://www.fhemig.mg.gov.br/index.php/docman/Protocolos_Clinicos-1/58-016-sindrome-de-abstinencia-alcoolica-07082014/file
Fé na Prevenção (Prevenção do uso de Drogas por Instituições Religiosas e Movimentos Afins; Ed 3ª; ano 2014 pág. 244.
Livro: Integração de Competências no desempenho de atividade Judiciárias com Usuários e Dependências de drogas 2ª edição, Editora MJ, Brasília 2015.

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