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GABRIELLY FRIZON XXXIII TUTORIA 4- TRANSTORNO E ABSTINÊNCIA DE ÁLCOOL Definir os fatores de risco e epidemiologia do transtorno do álcool EPIDEMIOLOGIA - O consumo de álcool é considerado atualmente um dos principais problemas de saúde pública no mundo. - Estima-se que quase 14% da população americana preencha os critérios de dependência ou abuso de álcool em algum período da vida. - O uso de álcool constitui a terceira causa de mortalidade que poderia ser prevenida. - Ao contrário de outras drogas, nem todo consumo de álcool é prejudicial ao organismo. O consumo em baixas doses, especialmente na forma de vinho, parece diminuir o risco de doença cardiovascular esses achados, no entanto, são extremamente controversos. - Os efeitos fisiológicos do álcool incluem depressão do sistema nervoso central e alteração da arquitetura do sono, com diminuição do sono REM. FATORES DE RISCO O início da ingestão de álcool provavelmente depende, em grande parte, de fatores sociais, religiosos e psicológicos, embora características genéticas também possam estar presentes. Os fatores que influenciam a decisão de consumir álcool ou que contribuem para os problemas temporários, no entanto, podem ser diferentes daqueles que contribuem para o risco de problemas graves e recorrentes de dependência de álcool. Provavelmente várias influências genéticas se combinam para explicar cerca de 60% da proporção de risco para alcoolismo, sendo que o ambiente é responsável pela proporção restante da variação. Não existe um fator isolado, diversos fatores em conjunto determinam as condições para o aumento progressivo do consumo de álcool, criando a base para o desenvolvimento da dependência. A motivação inicial para o uso de álcool e outras substâncias deve-se, em parte, aos efeitos dessas substâncias no comportamento, no humor e na cognição. As mudanças subjetivas decorrentes desse consumo podem ser experimentadas como muito prazerosas por algumas pessoas e levá-las ao uso repetido. Elas podem passar a ter a sensação de não conseguirem mais desempenhar suas funções adequadamente sem o uso da substância, o que aumenta as chances de desenvolver a dependência. GABRIELLY FRIZON XXXIII TUTORIA 4- TRANSTORNO E ABSTINÊNCIA DE ÁLCOOL Fatores genéticos também exercem influência no risco de desenvolvimento de dependência, especialmente no sexo masculino com antecedente de familiar alcoolista do mesmo sexo. A maioria dos pacientes inicia o uso de álcool precocemente. Os primeiros episódios de intoxicação costumam aparecer na adolescência e a dependência desenvolve-se mais comumente entre os vinte e quarenta anos de idade. O abuso e a dependência de álcool potencialmente acarretam problemas sociais, legais, financeiros, no trabalho, na escola e nas relações interpessoais, além de estarem relacionados a doenças gastrointestinais, cardiovasculares, endócrinas, imunológicas e neurológicas. SUBTIPOS DE DEPENDÊNCIA DO ÁLCOOL Uma classificação recente indica que a dependência de álcool tipo A se caracteriza por início tardio, poucos fatores de risco na infância, dependência relativamente leve, poucos problemas relacionados ao álcool e pouca psicopatologia. A dependência de álcool tipo B se caracteriza por muitos fatores de risco na infância, dependência grave, início precoce de problemas relacionados ao álcool, muita psicopatologia, história familiar de abuso de álcool, abuso frequente de várias substâncias, longa história de tratamento para o uso de álcool e várias situações de vida estressantes graves. Um grupo de pesquisadores propôs três subtipos: consumidores problemáticos em estágio inicial, que ainda não desenvolveram síndromes completas de dependência de álcool; consumidores afiliados, propensos a beber diariamente em quantidades moderadas em contextos sociais; e consumidores esquizoides isolados, que apresentam dependência grave e ingerem álcool em ondas compulsivas e frequentemente sozinhos. Outro pesquisador sugeriu um tipo I, uma variedade de dependência de álcool exclusivamente masculina, caracterizada por início tardio, mais evidências de dependência psicológica do que física e a presença de sentimentos de culpa. O tipo II, dependência de álcool exclusivamente masculina, caracteriza-se pelo início muito precoce, busca espontânea por álcool para consumo e um conjunto de comportamentos socialmente perturbadores durante a intoxicação. Outros quatro subtipos de alcoolismo também foram postulados em um estudo. O primeiro é o alcoolismo antissocial, em geral com predominância em homens, com prognóstico desfavorável, início precoce de problemas relacionados ao álcool e íntima associação com o transtorno da personalidade antissocial. O segundo é o alcoolismo cumulativo de desenvolvimento, em que a tendência primária para abuso de álcool é exacerbada com o tempo, ao passo que expectativas culturais propiciam mais oportunidades para a ingestão de álcool. O terceiro é o alcoolismo de afeto negativo, mais comum em mulheres do que em homens; conforme essa hipótese, mulheres têm propensão a usar o álcool para regulação do humor e para facilitar relacionamentos sociais. O quarto é o alcoolismo limitado de desenvolvimento, com períodos frequentes de consumo de grandes quantidades de álcool; esses períodos se tornam menos frequentes com a idade e com o aumento das expectativas da sociedade quanto ao trabalho e à família. GABRIELLY FRIZON XXXIII TUTORIA 4- TRANSTORNO E ABSTINÊNCIA DE ÁLCOOL Estudar a etiologia e fisiopatologia da abstinência e tolerância ao álcool ETIOLOGIA - Teorias psicológicas: Relacionam o uso de álcool à intenção de reduzir a tensão, aumentar os sentimentos de poder e reduzir os efeitos de dor psicológica. As teorias psicológicas se baseiam, em parte, na observação, entre indivíduos não alcoolistas, de que a ingestão de baixas doses de álcool em um contexto social tenso ou após um dia difícil pode ser associada a uma sensação intensificada de bem-estar e uma facilidade de interações. No entanto, em doses elevadas, especialmente quando os níveis de álcool no sangue caem, a maioria das medições de tensão muscular e sentimentos psicológicos de nervosismo e tensão aumentam. - Teorias psicodinâmicas: Talvez os efeitos de desinibição ou redução de ansiedade com o consumo de baixas doses de álcool estejam relacionados à hipótese de que alguns indivíduos podem usar essa droga para ajudá-los a lidar com um superego severo e autopunitivo e a reduzir níveis inconscientes de estresse. -Teorias comportamentais: Expectativas quanto aos efeitos de recompensa do consumo de álcool, atitudes cognitivas voltadas para a responsabilidade pelo próprio comportamento e subsequentes reforços após a ingestão de álcool contribuem para a decisão de beber novamente após a primeira experiência com álcool e continuar seu consumo apesar dos problemas que a experiência origina. - Teorias socioculturais: Extrapolações de grupos sociais que apresentam índices elevados e baixos de alcoolismo. - História infantil: Pesquisadores identificaram vários fatores na história infantil de indivíduos que mais tarde desenvolveram transtornos relacionados ao álcool e em crianças com risco elevado de desenvolver um transtorno relacionado ao álcool porque um ou ambos os pais eram afetados. - Teorias genéticas: A conclusão de que o alcoolismo sofre influência genética é defendida por quatro linhas de evidências. Em primeiro lugar, um risco 3 a 4 vezes maior para problemas graves com álcool é observado em parentes próximos de indivíduos alcoolistas. O índice de problemas com álcool aumenta com a quantidade de parentes alcoolistas, com a severidade de sua doença e com a proximidade da relação genética ao indivíduo estudado. FISIOPATOLOGIA A ativação da via de recompensa cerebral é o elemento comum a todas as substâncias com potencial de causar dependência, entre elas o álcool,produzindo reforço positivo (sensação agradável e prazerosa), que leva à intensificação do consumo. Assim, o álcool age sobre os corpos celulares de neurônios dopaminérgicos da área tegmental ventral. Tais neurônios lançam projeções para áreas límbicas, como o núcleo accumbens, a amígdala e o hipocampo (via mesolímbica). Essa via está ligada às sensações subjetivas e motivacionais do uso da substância. Além disso, projeções para o córtex pré-frontal também são ativadas (via mesocortical), sendo responsáveis pela experiência consciente dos efeitos da substância, bem como pela fissura e compulsão ao uso. GABRIELLY FRIZON XXXIII TUTORIA 4- TRANSTORNO E ABSTINÊNCIA DE ÁLCOOL A transição do uso para a dependência de álcool envolve memória e aprendizado e é mediada pelos sistemas glutamatérgico e GABAérgico orquestrados pelos sistemas dopaminérgicos. Os receptores GABA-A parecem ser particularmente importantes na predisposição genética à dependência. As teorias dominantes que tentam explicar a transição para dependência abordam a perda do controle executivo pré-frontal sobre a ingesta de álcool, a mudança na saliência dos gatilhos de ingesta de álcool ou a conversão do reforço positivo em reforço negativo. O álcool é uma substância que se difunde facilmente pelas membranas celulares de todo o corpo, de modo que a alcoolemia tem múltiplas variáveis, como: tipo de bebida, peso, sexo, fatores genéticos, função hepática, presença de alimentos no estômago etc. A depuração do álcool é de aproximadamente uma dose por hora. A via mais comum de metabolização é a hepática, em que a enzima álcool desidrogenase produz acetaldeído (substância tóxica) que é metabolizado pela enzima aldeído desidrogenase. à Efeitos no cérebro A teoria sobre os efeitos bioquímicos do álcool é voltada para seus efeitos sobre as membranas dos neurônios. Dados apoiam a hipótese de que o álcool produz seus efeitos ao se intercalar nas membranas e, desse modo, aumentar a fluidez das membranas com o uso de curto prazo. Com o uso prolongado, no entanto, a teoria postula que as membranas se tornam rígidas ou endurecidas. A fluidez das membranas é essencial para o funcionamento normal dos receptores, dos canais iônicos e de outras proteínas funcionais ligadas a membranas. Especificamente, estudos revelaram que atividades nos canais iônicos associadas aos receptores de acetilcolina nicotínica, serotonina 5-hidroxitriptamina3 (5-HT3) e GABA tipo A (GABAA) são intensificadas pelo álcool, enquanto atividades dos canais iônicos associadas aos receptores de glutamato e canais de cálcio disparados por voltagem são inibidas. à Efeitos no sono O uso de álcool está associado a diminuição do sono do movimento rápido dos olhos (sono REM ou sono com sonhos) e do sono profundo (estágio 4) e maior fragmentação do sono, com episódios mais frequentes e mais longos de vigília. Portanto, a noção de que ingerir álcool ajuda a dormir é um mito. à Efeitos no fígado O uso de álcool, mesmo que de curta duração, como episódios semanais de aumento de consumo, pode resultar em acúmulo de gorduras e proteínas, as quais produzem a aparência de um fígado gorduroso, às vezes encontrado em exames físicos como um fígado aumentado (hepatomegalia). O uso de álcool, está associado ao desenvolvimento de hepatite alcoólica e cirrose hepática. à Efeitos no sistema gastrintestinal O consumo intenso de álcool em longo prazo está associado ao desenvolvimento de esofagite, gastrite, acloridria e úlceras gástricas. O desenvolvimento de varizes esofágicas pode acompanhar abuso de álcool particularmente intenso; a ruptura dessas varizes é uma emergência médica que costuma resultar em morte por hemorragia. GABRIELLY FRIZON XXXIII TUTORIA 4- TRANSTORNO E ABSTINÊNCIA DE ÁLCOOL O abuso de álcool também parece inibir a capacidade do intestino de absorver diversos nutrientes, como vitaminas e aminoácidos. Esse efeito, em conjunto com hábitos alimentares com frequência inadequados dos indivíduos com transtornos relacionados ao álcool, pode causar graves deficiências vitamínicas, sobretudo das vitaminas do complexo B. à Outros efeitos A ingestão significativa de álcool foi associada a aumento da pressão arterial, desregulação do metabolismo de lipoproteínas e triglicerídeos e aumento do risco de infarto do miocárdio e de doença cerebrovascular. COMORBIDADES Os diagnósticos psiquiátricos mais comumente associados aos transtornos relacionados ao álcool são transtornos relacionados a outra substância, transtorno da personalidade antissocial, transtornos do humor e transtornos de ansiedade. - Transtorno da personalidade antissocial: Alguns estudos sugerem que o transtorno da personalidade antissocial é particularmente comum em homens com transtorno relacionado ao álcool e que pode antecedê-lo. Outros estudos, no entanto, sugerem que o transtorno da personalidade antissocial e transtornos relacionados ao álcool são entidades completamente distintas, não havendo uma relação causal. - Transtornos do humor: Aproximadamente 30 a 40% dos indivíduos com um transtorno relacionado ao álcool satisfazem os critérios diagnósticos para transtorno depressivo maior em algum momento da vida. Acredita-se que pacientes com transtorno bipolar tipo I corram risco de desenvolver um transtorno relacionado ao álcool; eles podem usar a substância como automedicação para seus episódios maníacos. - Transtornos de ansiedade: Embora a comorbidade entre transtornos relacionados ao álcool e transtornos do humor seja amplamente identificada, um fato menos conhecido é que 25 a 50% de todos os indivíduos com transtornos relacionados ao álcool também satisfazem os critérios diagnósticos para um transtorno de ansiedade. Fobias e transtorno de pânico são diagnósticos comórbidos particularmente frequentes nesses pacientes. Há dados que indicam que o álcool pode ser usado como tentativa de automedicar sintomas de agorafobia ou fobia social, mas um transtorno relacionado ao álcool provavelmente antecede o desenvolvimento de transtorno de pânico ou transtorno de ansiedade generalizada. - Suicídio: A maioria das estimativas da prevalência de suicídio entre indivíduos com transtornos relacionados ao álcool varia de 10 a 15%, embora o uso de álcool em si possa estar envolvido em um percentual muito mais elevado de suicídios. Compreender o quadro clínico do transtorno e da abstinência do álcool QUADRO CLÍNICO – Dependência e abuso de álcool Os indivíduos dependentes de álcool necessitam de uma grande quantidade diária de álcool para o funcionamento adequado. Quando não o fazem, apresentam sintomas de abstinência. Frequentemente, deixam de cumprir as obrigações de forma adequada, com atrasos ou faltas ao trabalho e conflitos familiares por conta disso. GABRIELLY FRIZON XXXIII TUTORIA 4- TRANSTORNO E ABSTINÊNCIA DE ÁLCOOL Também abandonam outras atividades que, no passado, eram prazerosas. A vida passa a girar em torno do hábito de beber, mesmo que esteja havendo prejuízos evidentes. à Intoxicação aguda Os sinais e os sintomas da intoxicação alcoólica caracterizam-se por níveis crescentes de depressão do sistema nervoso central. Inicialmente, há sintomas de euforia leve, evoluindo para tontura, ataxia e incoordenação motora, passando por confusão, desorientação e atingindo graus variáveis de disartria, anestesia, podendo chegar ao estupor, coma, depressão respiratória e morte. A intensidade da sintomatologia tem relação direta com a alcoolemia. O desenvolvimento de tolerância, a velocidade da ingestão, o consumo de alimentos e alguns fatores ambientais também são capazes de interferir nessa relação. A maioria dos casos não requer tratamento farmacológico. Na intoxicação alcoólica idiossincrática ou patológica (forma peculiar, rara e grave), há graves alterações de comportamento após a ingestão de pequena quantidade de álcool. Pode haver alteraçõesda consciência, desorientação, amnésia lacunar, alucinações, delírios e atividade psicomotora aumentada. O comportamento pode ser impulsivo e agressivo, e o indivíduo pode tomar atitudes agressivas, das quais não se recorda. à Síndrome de abstinência A abstinência de álcool, mesmo sem delirium, pode ser grave; ela inclui convulsões e hiperatividade autonômica. Condições que podem predispor a sintomas de abstinência ou agravá-los incluem fadiga, desnutrição, doença física e depressão. O sinal mais precoce e mais clássico da abstinência é representado pelos tremores. A maioria dos dependentes apresenta uma síndrome de abstinência entre leve a moderada, caracterizada por tremores, insônia, agitação e inquietação psicomotora. Cerca de 5% dos pacientes apresentarão sintomas graves. A síndrome de abstinência é autolimitada, com duração média de sete a dez dias. Os sintomas leves, como ansiedade, irritabilidade, insônia e tremor, costumam aparecer mais precocemente, cerca de 24 a 36 horas após a interrupção do uso. Já os sintomas mais graves costumam surgir cerca de três a quatro dias depois da abstinência. O delirium tremens é um estado confusional breve, mas ocasionalmente com risco de morte, geralmente resultante de uma abstinência absoluta ou relativa de álcool em usuários gravemente dependentes, com longa história de uso. A clássica tríade de sintomas inclui obnubilação da consciência, confusão, desorientação temporoespacial, alucinações e ilusões vívidas, além de tremores Tontura, ataxia (equilíbrio/coordenação motora prejudicados), confusão, desorientação, disartria (fraqueza dos músculos usados para a fala deixando-a arrastada e lenta), anestesia – coma, depressão respiratória e morte. GABRIELLY FRIZON XXXIII TUTORIA 4- TRANSTORNO E ABSTINÊNCIA DE ÁLCOOL marcantes e sudorese profusa. Delírios, agitação, insônia, ou inversão do ciclo sono- vigília e hiperatividade autonômica (hipertensão arterial, taquicardia, taquipneia, hipertermia) também estão geralmente presentes. As alucinações visuais costumam ser de animais, denominadas zoopsias. Tremores se desenvolvem de 6 a 8 horas após a interrupção do consumo, convulsões, em 12 a 24 horas, e Delirium Tremens, a qualquer momento durante as primeiras 72 horas, embora médicos devam estar atentos para o desenvolvimento de DTs durante a primeira semana de abstinência. Outros sintomas de abstinência incluem irritabilidade geral, sintomas gastrintestinais (p. ex., náusea e vômito) e hiperatividade simpática autonômica, incluindo ansiedade, excitação, sudorese, rubor facial, midríase, taquicardia e hipertensão leve. Outro quadro, mais raro, que pode ocorrer na síndrome de abstinência é a alucinose alcoólica se caracteriza por alucinações predominantemente auditivas, mas que também podem ser visuais ou táteis, e que podem causar ansiedade, medo ou agitação. Uma característica peculiar deste tipo de fenômeno é que ele ocorre na ausência de rebaixamento do nível da consciência e sem alterações autonômicas. à Convulsões de abstinência Os pacientes costumam ter mais de uma convulsão 3 a 6 horas após a primeira ocorrência. Atividade convulsiva em indivíduos com história conhecida de abuso de álcool ainda assim deve despertar no clínico a consideração de outros fatores causais, como lesões na cabeça, infecções do SNC, neoplasias do SNC e outras doenças cerebrovasculares; abuso de álcool grave de longa duração pode resultar em hipoglicemia, hiponatremia e hipomagnesemia – sendo que todas essas condições podem estar associadas a convulsões. Indivíduos dependentes do álcool podem ser identificados com os seguintes questionários: CAGE (Cut down, Annoyed, Guilty, Eye-opener) Contém quatro questões e a resposta afirmativa em duas ou mais é um indicativo de dependên-cia do álcool. Observe as perguntas: 1 – Você já tentou diminuir ou cortar (“Cut down”) a bebida? 2 – Você já ficou incomodado ou irritado (“Annoyed”) com outros porque criticaram seu jeito de beber? 3 – Você já se sentiu culpado (“Guilty”) por causa do seu jeito de beber? 4 – Você já teve que beber para aliviar os ner- vos ou reduzir os efeitos de uma ressaca (“Eye-opener”)? Aos jovens em situação de risco para o álcool pode-se somar algumas perguntas interessantes, do questionário denominado CRAFFT. (C) Alguma vez você dirigiu um Carro logo após beber, ou enquanto estava bêbado? (R) Você sente necessidade de usar bebidas alcoólicas para relaxar, para se sentir melhor ou para se encaixar entre as pessoas? (A) Você usa bebidas alcoólicas quando está abandonado, sozinho ou solitário? (F) Você esquece coisas, ou lhe falta a memória, quando usa álcool? (F) Seus amigos ou sua Família costumam dizer que você deveria parar de beber? (T) Você já teve Transtornos ou incômodos em função da bebida? GABRIELLY FRIZON XXXIII TUTORIA 4- TRANSTORNO E ABSTINÊNCIA DE ÁLCOOL AUDIT (Alcohol Use Disorders Identification Test) Utiliza dez questões, com pontuações específicas para cada resposta. Interpretação: até 7 pontos indica consumo de baixo risco; de 8 a 15 pontos indica uso de risco; 16 a 19 pontos indica uso nocivo; e 20 ou mais pontos, provável dependência. Perguntas: Nunca – zero ponto. Mensalmente ou menos – um ponto. De 2 a 4 vezes por mês – dois pontos. De 2 a 3 vezes por semana – três pontos. 4 ou mais vezes por semana – quatro pontos. 2– Quantas doses alcoólicas você consome tipicamente ao beber? 0 ou 1 – zero ponto. 2 ou 3 – um ponto. 4 ou 5 – dois pontos. 6 ou 7 – três pontos. 8 ou mais – quatro pontos. 3– Com que frequência você consome cinco ou mais doses de uma vez? Nunca – zero ponto. Menos de uma vez por mês – um ponto. Mensalmente – dois pontos. Semanalmente – três pontos. Todos ou quase todos os dias – quatro pontos. 4– Quantas vezes ao longo dos últimos doze meses você achou que não conseguiria parar de beber uma vez tendo começado? Nunca – zero ponto. Menos de uma vez por mês – um ponto. Mensalmente – dois pontos. Semanalmente – três pontos. Todos ou quase todos os dias – quatro pontos. 5– Quantas vezes ao longo dos últimos doze meses você, por causa do álcool, não conseguiu fazer o que era esperado de você? Nunca – zero ponto. Menos de uma vez por mês – um ponto. Mensalmente – dois pontos. Semanalmente – três pontos. Todos ou quase todos os dias – quatro pontos. 6– Quantas vezes ao longo dos últimos doze meses você precisou beber pela manhã para poder se sentir bem ao longo do dia após ter bebido bastante no dia anterior? Nunca – zero ponto. Menos de uma vez por mês – um ponto. Mensalmente – dois pontos. Semanalmente – três pontos. Todos ou quase todos os dias – quatro pontos. 7– Quantas vezes ao longo dos últimos doze meses você se sentiu culpado ou com remorso depois de ter bebido? Nunca – zero ponto. Menos de uma vez por mês – um ponto. GABRIELLY FRIZON XXXIII TUTORIA 4- TRANSTORNO E ABSTINÊNCIA DE ÁLCOOL Mensalmente – dois pontos. Semanalmente – três pontos. Todos ou quase todos os dias – quatro pontos. 8– Quantas vezes ao longo dos últimos doze meses você foi incapaz de lembrar o que acon- teceu devido à bebida? Nunca – zero ponto. Menos de uma vez por mês – um ponto. Mensalmente – dois pontos. Semanalmente – três pontos. Todos ou quase todos os dias – quatro pontos. 9– Você já causou ferimentos ou prejuízos a você mesmo ou a outra pessoa após ter bebido? Não – zero ponto. Sim, mas não nos últimos doze meses – dois pontos. Sim, nos últimos doze meses – quatro pontos. 10– Algum parente, amigo ou médico já se preocupou com o fato de você beber ou sugeriu que você parasse? Não – zero ponto. Sim, mas não nos últimos doze meses – dois pontos. Sim, nos últimos doze meses – quatro pontos. COMPLICAÇÕES CLÍNICAS O uso excessivo de álcool pode gerar diversas complicações clínicas, sendo as principais: - Gastrointestinais: pancreatite,gastrite, úlcera gástrica e duodenal, esteatose e cirrose hepática, tumores hepáticos; - Cardiovasculares: hipertrigliceridemia, hipertensão, aumento do LDL, cardiomiopatia; - Endócrinas: diminuição da libido, amenorreia, impotência; - Miopatia periférica induzida por álcool; - Cognitivas: disfunções cognitivas subclínicas, demência; - Neurológicas: relacionadas à deficiência de vitaminas, principalmente tiamina: neuropatias periféricas, déficits cognitivos, prejuízo da memória, alterações degenerativas cerebelares. Entender os critérios diagnósticos do paciente com transtorno e abstinência do álcool e seus diagnósticos diferenciais DIAGNÓSTICO à Intoxicação alcoólica GABRIELLY FRIZON XXXIII TUTORIA 4- TRANSTORNO E ABSTINÊNCIA DE ÁLCOOL àAbstinência alcoólica Critérios Diagnósticos A. Cessação (ou redução) do uso pesado e prolongado de álcool. B. Dois (ou mais) dos seguintes sintomas, desenvolvidos no período de algumas horas a alguns dias após a cessação (ou redução) do uso de álcool descrita no Critério A: 1. Hiperatividade autonômica (p. ex., sudorese ou frequência cardíaca maior que 100 bpm). 2. Tremor aumentado nas mãos. 3. Insônia. 4. Náusea ou vômitos. 5. Alucinações ou ilusões visuais, táteis ou auditivas transitórias. 6. Agitação psicomotora. 7. Ansiedade. 8. Convulsões tônico-clônicas generalizadas. C. Os sinais ou sintomas do Critério B causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. D. Os sinais ou sintomas não são atribuíveis a outra condição médica nem são mais bem explicados por outro transtorno mental, incluindo intoxicação por ou abstinência de outra substância. Especificar se: Com perturbações da percepção: Este especificador aplica-se aos raros casos em que alucinações (geralmente visuais ou táteis) ocorrem com teste de realidade intacto ou quando ilusões auditivas, visuais ou táteis ocorrem na ausência de delirium. àTranstorno por uso de álcool GABRIELLY FRIZON XXXIII TUTORIA 4- TRANSTORNO E ABSTINÊNCIA DE ÁLCOOL DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL As principais condições clínicas que deveriam ser levadas em consideração como diagnóstico diferencial da síndrome de abstinência alcoólica são: a) Infecções (pneumonia, meningite, encefalite); b) Traumatismo crânio-encefálico, hematoma subdural; c) Encefalopatia hepática, má nutrição; d) Efeitos adversos de outros medicamentos; e) Com convulsões: tumor, alterações minerais ou hidroeletrolíticas, traumatismo craniano; f) Outras causas de delirium, não alcoólicas. Definir os exames complementares ao diagnóstico do paciente com transtorno e abstinência do álcool TESTES LABORATORIAIS Os níveis de γ-glutamil (gama gt) transpeptidase são elevados em cerca de 80% dos indivíduos com transtornos relacionados ao álcool, e o volume corpuscular médio (VCM) é elevado em cerca de 60%, mais em mulheres do que em homens. Outros valores de testes laboratoriais que podem ter resultados elevados em associação ao abuso de álcool são os de ácido úrico, triglicerídeos, aspartato aminotransferase (AST) e alanina aminotransferase (ALT). Deve ser realizada, ainda, criteriosa avaliação clínica, com exame físico cuidadoso e avaliação completa com exames complementares, com ênfase na avaliação da função renal e hepática e na presença de infecções, como hepatites B ou C, além do vírus da imunodeficiência humana (HIV, do inglês, human immunodeficiency virus). O eletrocardiograma (ECG) também é fundamental, uma vez que diversas substâncias, como os estimulantes, que podem ser usados em conjunto com o álcool, podem interferir na perfusão e na eletrofisiologia cardíacas. Pesquisas de anemia ou outras alterações hematológicas também são de grande importância. A avaliação nutricional também é fundamental, considerando-se que o uso crônico de álcool está comumente associado à depleção de muitos nutrientes, como ácido fólico e vitamina B12, muitas vezes sintomática com alterações no sistema nervoso periférico. Elucidar como deve ser realizado o manejo do paciente com transtorno e abstinência no SUS Recomenda-se que todo profissional de saúde investigue o uso de álcool e drogas nas pessoas atendidas, com atenção especial aos adolescentes. A avaliação inicial deve ser feita preferencialmente pela equipe de Saúde da Família (SF) nos Centros de Saúde (CS), constituindo-se a porta de entrada preferencial na rede de atenção à saúde do usuário de álcool e outras drogas. Intervenções breves, com uso de técnicas motivacionais, podem ser eficazes e aplicáveis por qualquer profissional de saúde. A equipe de saúde da família pode contar com o suporte das equipes dos núcleos de apoio à saúde da família (NASF). GABRIELLY FRIZON XXXIII TUTORIA 4- TRANSTORNO E ABSTINÊNCIA DE ÁLCOOL A família do paciente deve receber orientações e participar do tratamento. Além do acolhimento e aconselhamento da família pela equipe da unidade sanitária local, pode-se também encaminhá-las para grupos de autoajuda como Alcoólicos Anônimos (conhecido pela sigla AA, para dependentes do álcool), AL-ANON (para esposas de alcoolistas), AL-Ateen (para filhos de alcoolistas), NAR-ANON (para pais, parentes e amigos de dependentes de drogas que não o álcool). Quando a equipe de SF e/ou NASF constatar a necessidade de intervenções especializadas (por exemplo: alto risco de auto ou hetero-agressão, pessoas com dependência química grave, síndrome de abstinência alcoólica grave, comorbidade psiquiátricas graves, etc.), o indivíduo pode ser encaminhado para um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS). Quando for necessária internação hospitalar ou em comunidade terapêutica (ineficácia do tratamento ambulatorial incluindo tentativa de internação domiciliar com suporte da ESF/NASF e/ou CAPS na modalidade intensiva, alto risco de hetero ou auto- agressão/suicídio), o CAPS fará a avaliação da indicação de tal procedimento, individualizando as opções de tratamento junto ao paciente e familiares. Em situações de emergências e urgências médicas (tais como convulsões, coma, traumatismos graves, etc.), acionar o SAMU (telefone: 192). Há quase duas décadas há estudos indicando que o tratamento do alcoolismo, com exceção dos quadros graves de abstinência, pode ser feito em regime ambulatorial, valendo-se e intervenções psicossociais, de terapias psicodinâmicas, terapias de grupo e comportamentais, com a ajuda de entidades auto-ajuda. Compreender como é realizado o tratamento dos pacientes com transtorno e abstinência do álcool TRATAMENTO O tratamento da síndrome de abstinência visa o alívio dos sintomas existentes, a prevenção do agravamento do quadro com convulsões e delirium e a vinculação do paciente no tratamento, que pode ocorrer de forma ambulatorial ou internação hospitalar, dependendo da gravidade do quadro. O tratamento baseia-se no uso de benzodiazepínicos e reposição de vitaminas para evitar a síndrome de Wernicke. Os objetivos do tratamento devem ser a abstinência, a prevenção de recaídas e a reabilitação. FASES DO TRATAMENTO Motivação Constitui uma etapa importante do tratamento, devendo ser uma responsabilidade do paciente e do médico. Há quatro estágios descritos para a motivação: - Pré-contemplação: quando o paciente ainda não dimensiona as consequências negativas de beber e não planeja mudar seu comportamento; - Contemplação: quando o paciente começa a comparar as vantagens e desvantagens de beber e a possibilidade de realizar alguma mudança já é mais real; - Ação: quando mudanças objetivas no comportamento são realizadas; GABRIELLY FRIZON XXXIII TUTORIA 4- TRANSTORNO E ABSTINÊNCIA DE ÁLCOOL - Manutenção: quando alterações mais profundas no estilo de vida são concretizadas a fim de possibilitara abstinência. Recaídas Desintoxicação Os dois principais objetivos são a melhora das condições gerais do paciente e emprego de medicações que possam aliviar os sintomas de abstinência. Intervenção breve Geralmente realizada em uma a três sessões, inclui avaliar a gravidade do alcoolismo e oferecer feedback motivacional e aconselhamento. Grupos de autoajuda Geralmente funcionam em esquema de reuniões diárias, nos quais são compartilhadas as experiências de cada um no processo de dependência e recuperação. Medicamentos De modo geral, o uso de medicamento está indicado para pacientes com consumo moderado a severo, que estão motivados a reduzirem a ingestão de álcool e que não tem contraindicação ao uso individual do medicamento. - Reposição de glicose - Reposição de Tiamina IM – Vitamina B1: Deficiente em pacientes que ingerem muito álcool 300mg/dia IM por 7 a 15 dias Via oral 300 a 600mg/dia Quanto mais álcool o paciente ingere pior é a absorção da tiamina no intestino - TTO agudo: Glicose + Tiamina - Benzodiazepínicos: Só para abstinência (Se ligam ao GABA, no lugar do álcool) Se tiver intoxicação por excesso de álcool não se deve usar benzodiazepínicos porque os receptores estarão todos ocupados. Em abstinência é de primeira escolha pois se liga aos receptores GABA no lugar do álcool. Diazepam 10 a 20mg/dia VO: Efeito longo, doses pequenas costumam ser suficientes Clordiazepóxido 25 a 100mg/dia Lorazepam 2 a 4mg/dia: Utilizado em pacientes com problemas no fígado, pois não possui metabolização no fígado. • Dependência química - Problemas: Taxas de abandono do tto (70%), negação (eu não sou alcoólatra), efeitos colaterais, falsas crenças (dependência, engordar, ficar chapado). - Recaídas -TTO: Individualizado, abordagem farmacológica, grupo de mutua ajuda, sessões informativas, psicoterapia, participação da família - TTO medicamentoso para diminuir o desejo pela bebida GABRIELLY FRIZON XXXIII TUTORIA 4- TRANSTORNO E ABSTINÊNCIA DE ÁLCOOL Dissulfiram (Antietanol): Medicamento para induzir o paciente a parar de beber, é sensibilizante ao álcool, causa acúmulo de acetaldeído-desidrogenase, efeito punitivo e antabuse. Mecanismo de punição: Freio externo. Toma o medicamento de manha, se beber a noite, passa mal. Dissulfiram (Antabuse): age inibindo a enzima acetaldeído desidrogenase, o que faz com que o acetaldeído (metabólito tóxico) se acumule no organismo, provocando vários efeitos colaterais, como rubor facial, cefaleia, tonturas, náuseas, vômitos, fraqueza, sonolência, sudorese, visão turva, taquicardia e sensação de morte eminente. Não deve ser utilizado em portadores de miocardiopatia grave, assim como em portadores de doença coronariana. Atualmente é considerado de segunda linha para o tratamento. Naltrexona: antagonista opioide que tem a função de diminuir o prazer ao beber, por meio da liberação das endorfinas e consequente bloqueio da liberação de dopamina. A dose usual é de 50 mg/dia, mas pode chegar a 100 mg/dia. Não deve ser utilizado junto com opioides, e é contraindicado para indivíduos portadores de hepatite ou insuficiência hepática. Acamprosato: o acamprosato, ao contrário da naltrexona, reduz o desejo compulsivo que aparece na abstinência, por meio da redução da atividade glutamatérgica e aumento da gabaérgica. Seu principal cuidado são os pacientes com insuficiência renal. Também é considerado uma droga de primeira linha. • Tratamento Delirium tremens Haloperidol 5mg IM – após o BZD e contenção física • Transtornos específicos - Falta da tiamina (B1) = Encefalopatia de Wernicke Distúrbio oculomotor é o nistagmo A maioria tratado sem tiamina evolui para demência (De Korsakoff). GABRIELLY FRIZON XXXIII TUTORIA 4- TRANSTORNO E ABSTINÊNCIA DE ÁLCOOL - Síndrome/Demência de Korsakoff Confabulações: Conta história e cria varias partes e acredita que tudo é verdadeiro. Normalmente é irreversível, a lesão neurológica já está instalada.
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