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Distúrbios Psiquiátricos e Comportamentais Maysa Araújo Gomes Ferraz MED 14 FPS CASO 7 - TRANSTORNOS RELACIONADOS AO ÁLCOOL EPIDEMIOLOGIA Segundo o Ministério da Saúde, 17,9% dos adultos no Brasil fazem uso abusivo de bebida alcoólica (4 ou mais doses entre as mulheres e 5 ou mais doses entre os homens, em uma mesma ocasião, nos últimos 30 dias). Mesmo com percentual menor, as mulheres apresentaram maior crescimento em relação aos homens, de 2006 a 2018. Isso se explica porque hoje elas estão mais presentes no mercado de trabalho e com vida social mais ativa. O uso abusivo entre os homens é mais frequente na faixa etária de 25 a 34 anos (34,2%) e entre as mulheres nas idades de 18 a 24 anos (18%). O percentual de consumo abusivo tende a diminuir com o avanço da idade, em ambos os sexos. 1,45% do total de óbitos ocorridos entre os anos de 2000 a 2017 estão totalmente atribuídos à ingestão abusiva de bebidas, como doença hepática alcoólica. Os homens morrem aproximadamente 9 vezes mais do que as mulheres por causas totalmente atribuídas ao álcool. Os óbitos excluem acidentes e violências e outras causas parcialmente atribuídas. De acordo com a OMS, em todo o mundo, mais de 3 milhões de pessoas morrem por ano pelo uso nocivo de bebidas alcoólicas. 5% das doenças mundiais são causadas pelo álcool. Não existe volume seguro de álcool a ser consumido, porque ele é tóxico para o organismo humano e pode provocar uma série de DCNTs, além de episódios de violência física contra si ou contra outras pessoas. 28% das mortes atribuíveis ao álcool são resultado de lesões, como acidentes de trânsito, autolesão e violência interpessoal; 21% se devem a distúrbios digestivos; 19% a doenças cardiovasculares e o restante por doenças infecciosas, câncer, transtornos mentais e outras condições de saúde. Apesar de algumas tendências globais positivas na prevalência de episódios de uso nocivo do álcool e no número de mortes relacionadas a ele desde 2010, a carga geral de doenças e lesões ainda é inaceitavelmente alta, particularmente nas regiões Europeia e das Américas. COMORBIDADE Os diagnósticos psiquiátricos mais comumente associados aos transtornos relacionados ao álcool são transtornos relacionados a outra substância, transtorno da personalidade antissocial, transtornos do humor e transtornos de ansiedade. Embora os dados sejam controversos, a maioria sugere que indivíduos com transtornos relacionados ao álcool apresentam índice de suicídio acentuadamente mais elevado do que a população em geral. ETIOLOGIA O início da ingestão provavelmente depende de fatores sociais, religiosos e psicológicos, embora características genéticas também possam estar presentes. Provavelmente várias influências genéticas se combinam para explicar cerca de 60% do risco para alcoolismo, sendo que o ambiente é responsável pela proporção restante. Teorias psicológicas: Se baseiam, em parte, na observação, entre não alcoolistas, de que a ingestão de baixas doses de álcool em um contexto social tenso ou após um dia difícil pode ser associada a sensação intensificada de bem-estar e facilidade de interações. No entanto, em doses elevadas, especialmente quando os níveis de álcool no sangue caem, a maioria das medições de tensão muscular e sentimentos psicológicos de nervosismo e tensão aumentam. Portanto, os efeitos relaxantes podem ter impacto maior em usuários de leve a moderados, ou contribuir para o alívio dos sintomas de abstinência, mas desempenham um papel menor na causa do alcoolismo. Teorias psicodinâmicas: Talvez os efeitos de desinibição ou redução de ansiedade com o consumo de baixas doses de álcool estejam relacionados à hipótese de que alguns indivíduos podem usar essa droga para ajudá-los a lidar com um superego severo e autopunitivo e a reduzir níveis inconscientes de estresse. Além disso, a teoria psicanalítica clássica postula que ao menos alguns alcoolistas podem ter ficado fixados no estágio oral de e usam o álcool para aliviar suas frustrações ao consumi-lo. Teorias comportamentais: Expectativas quanto aos efeitos de recompensa do consumo de álcool, atitudes cognitivas voltadas para a responsabilidade pelo próprio comportamento e reforços subsequentes após a ingestão de álcool contribuem para a decisão de beber novamente após a primeira experiência com álcool e continuar seu consumo apesar dos problemas que a experiência origina. Essas questões são relevantes para a tentativa de modificar comportamentos de consumo de álcool na população em geral e contribuem para alguns aspectos importantes da reabilitação. Teorias socioculturais: Baseadas em extrapolações de grupos sociais. Teóricos postulam que grupos étnicos, como judeus, que introduzem os filhos a níveis comedidos de consumo de álcool em atmosfera familiar e se abstêm de embriaguez apresentam baixos índices de alcoolismo. Alguns outros grupos, como irlandeses ou algumas tribos de índios norte-americanos com índices elevados de abstinência, mas com tradição de consumir álcool até a embriaguez, apresentem índices elevados de alcoolismo. Embora sejam de difícil estudo, é provável que atitudes culturais com relação ao consumo de álcool, embriaguez e responsabilidade pessoal por suas consequências sejam fatores importantes. História infantil: Pesquisadores identificaram vários fatores na história infantil de indivíduos que mais tarde desenvolveram transtornos relacionados ao álcool e em crianças com risco elevado de desenvolver um transtorno relacionado ao álcool porque um ou ambos os pais eram afetados. Essas crianças exibiam, em média, uma variedade de déficits em testes neurocognitivos, baixa amplitude da onda P300 em teste de potencial evocado e diversas anormalidades em registros de eletroencefalograma. Estudos com descendentes com alto risco na faixa dos 20 anos também demonstraram um efeito geralmente direto do álcool em comparação ao que foi observado em indivíduos cujos pais não foram diagnosticados com um transtorno relacionado ao álcool. Tais achados sugerem que, do ponto de vista biológico, uma função cerebral hereditária pode predispor um indivíduo a um transtorno relacionado ao álcool. Uma história infantil de TDAH, transtorno da conduta, ou ambos, aumenta o risco da criança desenvolver um transtorno relacionado ao álcool na idade adulta. Distúrbios Psiquiátricos e Comportamentais Maysa Araújo Gomes Ferraz MED 14 FPS Transtornos da personalidade, particularmente transtorno da personalidade antissocial, também predispõem o indivíduo a um transtorno relacionado ao álcool. Teorias genéticas: Um risco 3 a 4 vezes maior para problemas graves com álcool é observado em parentes próximos de indivíduos alcoolistas. O índice de problemas com álcool aumenta com a quantidade de parentes alcoolistas, com a severidade da doença e com a proximidade da relação genética ao indivíduo estudado. A taxa de semelhança, ou concordância, para diversos problemas relacionados ao álcool é significativamente mais elevada em gêmeos idênticos de alcoolistas do que em gêmeos fraternos na maioria das investigações. Todosos estudos de adoção revelaram um risco significativamente maior de alcoolismo na descendência de pais alcoolistas, mesmo quando os filhos foram separados dos pais biológicos logo após o nascimento e criados sem conhecimento dos problemas da família biológica. Por fim, estudos com animais sustentam a importância de uma variedade de genes ainda a ser identificada na livre escolha do uso de álcool, níveis subsequentes de intoxicação e outras consequências. EFEITOS DO ÁLCOOL Álcool etílico, também denominado etanol (CH3–CH2–OH), é a forma comum do álcool; às vezes referido como álcool potável, o álcool etílico é utilizado para ingestão. Considera-se uma única dose a quantidade de 12 g de etanol, o conteúdo de 355 mL de cerveja, 118 mL de vinho não fortificado, ou 30 a 45 mL de destilado com 40% de etanol (uísque/gim). De acordo com a OMS, pessoas saudáveis podem consumir, no máximo, 30 g de álcool por dia. Absorção Aproximadamente 10% do álcool consumido é absorvido a partir do estômago e o restante a partir do intestino delgado. O auge da concentração de álcool no sangue é atingido após 30 a 90 minutos e normalmente entre 45 e 60 minutos, dependendo se o álcool foi ingerido com o estômago vazio (o que intensifica a absorção). O tempo até o pico de concentração sanguínea também depende do tempo que levou para o álcool ser consumido; a ingestão rápida reduz o tempo até o pico, e a ingestão lenta aumenta. A absorção é mais rápida com bebidas que contêm de 15 a 30% de álcool. O corpo dispõe de mecanismos de proteção contra grandes quantidades de álcool. Se a concentração de álcool no estômago se eleva demais, o corpo secreta muco e a válvula pilórica se fecha. Isso reduz a absorção e impede que o álcool passe para o intestino delgado, onde não há obstáculos significativos para a absorção. Assim, uma grande quantidade de álcool pode permanecer sem absorção no estômago por horas. O piloroespasmo costuma resultar em náusea e vômito. Assim que o álcool é absorvido na circulação, ele é distribuído para todos os tecidos do corpo. Como ele se dissolve uniformemente na água corporal, tecidos contendo uma grande proporção de água recebem concentração elevada de álcool. Os efeitos intoxicantes são maiores quando a concentração de álcool no sangue aumenta do que quando se reduz (efeitos Mellanby). Por isso, a taxa de absorção influencia diretamente a resposta de intoxicação. Metabolismo Aproximadamente 90% do álcool absorvido é metabolizado por meio de oxidação no fígado; os 10% restantes são excretados inalterados pelos rins e pulmões. A taxa de oxidação pelo fígado é constante e independe das exigências de energia do corpo. O corpo pode metabolizar cerca de 15 mg/dL por hora, com uma variação de 10 a 34 mg/dL por hora. Ou seja, uma pessoa comum oxida 22 mL de 40% de álcool por hora. Em indivíduos com história de consumo excessivo de álcool, a suprarregulação das enzimas necessárias resulta em rápido metabolismo da substância. O álcool é metabolizado por duas enzimas: álcool desidrogenase (ADH) e aldeído desidrogenase. - A ADH catalisa a conversão de álcool em acetaldeído, que é um composto tóxico; a aldeído desidrogenase catalisa a conversão de acetaldeído em ácido acético. - A aldeído desidrogenase é inibida por dissulfiram, frequentemente utilizado no tratamento de transtornos relacionados ao álcool. Alguns estudos demonstraram que mulheres apresentam concentração sanguínea de ADH menor do que homens, o que pode explicar a tendência de uma mulher ficar mais intoxicada que um homem após ingerir a mesma quantidade de álcool. Efeitos sobre a bioquímica do cérebro Em contraste com a maioria das outras substâncias de abuso com alvos receptores – como o receptor N-metil-D-aspartato (NMDA) de fenciclidina (PCP) –, não foi identificado nenhum alvo molecular como mediador para os efeitos do álcool. Dados apoiam a hipótese de que o álcool produz seus efeitos ao se intercalar nas membranas e, desse modo, aumentar a fluidez das membranas com o uso de curto prazo. Com o uso prolongado, no entanto, as membranas se tornam rígidas ou endurecidas. A fluidez das membranas é essencial para o funcionamento normal dos receptores, dos canais iônicos e de outras proteínas funcionais ligadas a membranas. Especificamente, estudos revelaram que atividades nos canais iônicos associadas aos receptores de acetilcolina nicotínica, serotonina 5-hidroxitriptamina3 (5-HT3) e GABA tipo A (GABAA) são intensificadas pelo álcool, enquanto atividades dos canais iônicos associadas aos receptores de glutamato e canais de cálcio disparados por voltagem são inibidas. Distúrbios Psiquiátricos e Comportamentais Maysa Araújo Gomes Ferraz MED 14 FPS Efeitos comportamentais Como resultado final das atividades moleculares, o álcool funciona como depressor, assim como os barbitúricos e benzodiazepínicos, com os quais o álcool apresenta, parcialmente, tolerância cruzada e dependência cruzada. Em um nível de 0,05% de álcool no sangue, pensamento, discernimento e inibição são relaxados e às vezes perturbados. Numa concentração de 0,1%, atos motores voluntários normalmente se tornam perceptivelmente desajeitados. Em 0,2%, a depressão da função de toda a área motora do cérebro pode ser medida, e as partes do cérebro que controlam o comportamento emocional também são afetadas. Em 0,3%, o indivíduo fica confuso ou entra em estupor; em 0,4 a 0,5%, entra em coma. Em níveis mais elevados, os centros primitivos do cérebro que controlam a respiração e a frequência cardíaca são afetados, e ocorre morte secundária a depressão respiratória direta ou a aspiração de vômito. Indivíduos com histórias antigas de abuso de álcool, no entanto, podem tolerar concentrações muito mais elevadas do que pessoas com baixo consumo de álcool; sua tolerância à substância pode causar a impressão errônea de que estão menos intoxicados do que de fato estão. Efeitos no sono Embora o álcool consumido à noite normalmente aumente a facilidade em adormecer (redução da latência do sono), também tem efeitos adversos sobre a arquitetura do sono. Especificamente, o uso de álcool está associado a diminuição do sono do movimento rápido dos olhos (sono REM ou sono com sonhos) e do sono profundo (estágio 4) e maior fragmentação do sono, com episódios mais frequentes e mais longos de vigília. Portanto, a noção de que ingerir álcool ajuda a dormir é um mito. Efeitos no fígado Os principais efeitos adversos do uso de álcool estão relacionados a lesões no fígado. O uso de álcool, mesmo que de curta duração, como episódios semanais de aumento de consumo, pode resultar em acúmulo de gorduras e proteínas, as quais produzem a aparência de um fígado gorduroso, às vezes encontrado em exames físicos como hepatomegalia. A associação entre a infiltração de gorduras no fígado e lesões hepáticas graves ainda é incerta. O uso de álcool, no entanto, está associado ao desenvolvimento de hepatite alcoólica e cirrose hepática. Efeitos no sistema gastrointestinal O consumo intenso de álcool em longo prazo está associado ao desenvolvimentode esofagite, gastrite, acloridria e úlceras gástricas. O desenvolvimento de varizes esofágicas pode acompanhar abuso de álcool particularmente intenso; a ruptura dessas varizes é uma emergência médica que costuma resultar em morte por hemorragia. Distúrbios do intestino delgado ocorrem eventualmente, e pancreatite, insuficiência pancreática e câncer pancreático também estão associados ao uso intenso da substância. A ingestão intensa de álcool pode interferir nos processos normais de digestão e absorção dos alimentos; como resultado, os alimentos consumidos são digeridos de forma inadequada. O abuso de álcool também parece inibir a capacidade do intestino de absorver diversos nutrientes, como vitaminas e aminoácidos. Esse efeito, em conjunto com hábitos alimentares inadequados dos indivíduos com transtornos relacionados ao álcool, pode causar graves deficiências vitamínicas, sobretudo do complexo B. Efeitos em outros sistemas corporais A ingestão significativa de álcool foi associada a aumento da PA, desregulação do metabolismo de lipoproteínas e triglicerídeos e aumento do risco de IAM e doença cerebrovascular. Demonstrou-se que ele afeta o coração de indivíduos não alcoolistas que normalmente não ingerem álcool, aumentando a descarga cardíaca em repouso, a FC e o consumo de oxigênio do miocárdio. Evidências indicam que pode afetar de modo adverso o sistema hematopoiético e aumentar a incidência de câncer, especialmente na cabeça, no pescoço, no esôfago, no estômago, no fígado, no colo e no pulmão. Intoxicação aguda também pode estar associada a hipoglicemia, que, quando não identificada, pode ser responsável por parte das mortes súbitas de indivíduos intoxicados. Fraqueza muscular é outro efeito colateral. Evidências recentes mostram que a ingestão de álcool também aumenta a concentração sanguínea de estradiol em mulheres. Testes laboratoriais Os níveis de γ-glutamil (gama gt) transpeptidase são elevados em cerca de 80% dos indivíduos com transtornos relacionados ao álcool, e o volume corpuscular médio (VCM) é elevado em cerca de 60%, mais em mulheres do que em homens. Outros valores que podem ter resultados elevados em associação ao abuso de álcool são os de ácido úrico, triglicerídeos, aspartato aminotransferase (AST/TGO) e alanina aminotransferase (ALT/TGP). Interações medicamentosas Interações entre álcool e outras substâncias podem ser perigosas e até mesmo fatais. Determinadas substâncias, como álcool e fenobarbital, são metabolizadas pelo fígado, e seu uso prolongado pode levar à aceleração do metabolismo. Quando o indivíduo com transtorno relacionado ao álcool está sóbrio, esse metabolismo acelerado o deixa excepcionalmente tolerante a vários fármacos, como sedativos e hipnóticos; durante a intoxicação, no entanto, esses fármacos competem com o álcool pelos mesmos mecanismos de desintoxicação, e concentrações potencialmente tóxicas das substâncias envolvidas podem se acumular no sangue. Os efeitos do álcool e de outros depressores do SNC costumam ser sinérgicos. Sedativos, hipnóticos e fármacos que proporcionam o alívio de dor, de náusea causada por movimento, de resfriados e de sintomas alérgicos devem ser usados com cautela por indivíduos com transtornos relacionados ao álcool. Narcóticos deprimem as áreas sensoriais do córtex cerebral e podem produzir analgesia, sedação, apatia, entorpecimento e sono; doses elevadas podem resultar em falência respiratória e morte. Aumentar a dosagem de sedativo-hipnóticos, como hidrato de cloral e benzodiazepínicos, especialmente quando combinados com álcool, produz uma gama de efeitos desde sedação, passando por prejuízo motor e intelectual, até estupor, coma e morte. Distúrbios Psiquiátricos e Comportamentais Maysa Araújo Gomes Ferraz MED 14 FPS Como sedativos e outros psicotrópicos podem potencializar os efeitos do álcool, deve-se instruir os pacientes sobre os perigos de se combinar depressores do SNC e álcool, sobretudo ao dirigir ou operar maquinário. PROGNÓSTICO Há vários sinais prognósticos favoráveis. O primeiro é a ausência de transtorno da personalidade antissocial preexistente ou de um diagnóstico de abuso ou dependência de outra substância. O segundo são evidências de estabilidade geral, com emprego, contato familiar próximo ininterrupto e ausência de problemas legais graves. Em terceiro, se o paciente não interrompe ou abandona o curso integral da reabilitação inicial (talvez de 2 a 4 semanas), há boas chances de manter abstinência. A combinação desses três atributos antecipa uma chance de pelo menos 60% de um ano ou mais de abstinência. Alcoolistas com problemas graves com drogas (especialmente uso de drogas intravenosas ou dependência de cocaína ou anfetaminas) e indivíduos sem-teto podem apresentar chance de apenas 10 a 15% de atingir um ano de abstinência. TRANSTORNO POR USO DE ÁLCOOL Critérios Diagnósticos DSM-5 A. Um padrão problemático de uso de álcool, levando a comprometimento ou sofrimento clinicamente significativos, manifestado por pelo menos dois dos seguintes critérios, ocorrendo durante um período de 12 meses: 1. Álcool é frequentemente consumido em maiores quantidades ou por um período mais longo do que o pretendido. 2. Existe um desejo persistente ou esforços mal sucedidos no sentido de reduzir ou controlar o uso de álcool. 3. Muito tempo é gasto em atividades necessárias para a obtenção de álcool, na utilização de álcool ou na recuperação de seus efeitos. 4. Fissura ou um forte desejo ou necessidade de usar álcool. 5. Uso recorrente de álcool, resultando no fracasso em desempenhar papéis importantes no trabalho, na escola ou em casa. 6. Uso continuado de álcool, apesar de problemas sociais ou interpessoais persistentes ou recorrentes causados ou exacerbados por seus efeitos. 7. Importantes atividades sociais, profissionais, recreacionais são abandonadas ou reduzidas em virtude do uso de álcool. 8. Uso recorrente de álcool em situações nas quais isso representa perigo para a integridade física. 9. O uso de álcool é mantido apesar da consciência de ter um problema físico ou psicológico persistente ou recorrente que tende a ser causado ou exacerbado pelo álcool. 10. Tolerância, definida por qualquer um dos seguintes: a. Necessidade de quantidades progressivamente maiores de álcool para alcançar a intoxicação ou o efeito desejado. b. Efeito acentuadamente menor com o uso continuado da mesma quantidade de álcool. 11. Abstinência, manifestada por qualquer um dos seguintes: a. Síndrome de abstinência característica de álcool b. Álcool (ou uma substância estreitamente relacionada, como benzodiazepínicos) é consumido para aliviar ou evitar os sintomas de abstinência. Especificar se: Em remissão inicial: Após todos os critérios para transtorno por uso de álcool terem sido preenchidos anteriormente, nenhum dos critérios foi preenchido durante um período mínimo de 3 meses, porém inferior a 12 meses (com exceção do Critério A4, “Fissura ou forte desejo ou necessidade de usar álcool”, ainda pode ocorrer). Em remissão sustentada: Após todos os critérios para transtorno por uso de álcool terem sido satisfeitos anteriormente, nenhum doscritérios para transtorno por uso de álcool foi satisfeito em qualquer momento durante um período igual ou superior a 12 meses (com exceção de que o Critério A4, “Fissura ou um forte desejo ou necessidade de usar álcool”, ainda pode ocorrer). Especificar se: Em ambiente protegido: Especificador usado se o indivíduo se encontra em um ambiente no qual o acesso a álcool é restrito. Especificar a gravidade atual: 305.00 (F10.10) Leve: Presença de 2 ou 3 sintomas. 303.90 (F10.20) Moderada: Presença de 4 ou 5 sintomas. 303.90 (F10.20) Grave: Presença de 6 ou mais sintomas. A abstinência de álcool caracteriza-se por sintomas de abstinência que se desenvolvem aproximadamente 4 a 12 horas após a redução do consumo que se segue a uma ingestão prolongada e excessiva de álcool. Como pode ser desagradável e intensa, os indivíduos podem continuar o consumo apesar de consequências adversas, frequentemente para evitar ou aliviar os sintomas de abstinência. Alguns desses sintomas podem persistir com intensidade menor durante meses e contribuir para a recaída. A fissura por álcool é indicada por um desejo intenso de beber, o qual torna difícil pensar em outras coisas e frequentemente resulta no início do consumo. Características Associadas que Apoiam o Diagnóstico O transtorno por uso de álcool costuma estar associado a problemas associados a outras substâncias. O álcool pode ser usado para aliviar os efeitos indesejados dessas outras substâncias ou para substituí-las quando não estão disponíveis. Problemas de conduta, depressão, ansiedade e insônia frequentemente acompanham o consumo intenso e às vezes o antecedem. A ingestão repetida de doses elevadas de álcool pode afetar praticamente todos os sistemas de órgãos, especialmente o TGI, o sistema cardiovascular e os sistemas nervoso central e periférico. Uma das condições associadas mais comuns é a hipertensão leve. Miocardiopatia e outras miopatias são menos comuns, mas ocorrem em maior proporção entre usuários pesados. Esses fatores, em Distúrbios Psiquiátricos e Comportamentais Maysa Araújo Gomes Ferraz MED 14 FPS conjunto com aumentos acentuados nos níveis de triglicerídeos e colesterol LDL, contribuem para um risco elevado de cardiopatia. Efeitos mais persistentes sobre o SNC incluem déficits cognitivos, grave comprometimento da memória e alterações degenerativas do cerebelo. Esses efeitos estão relacionados aos efeitos diretos do álcool ou traumatismos e deficiências vitamínicas (particularmente vitamina B, inclusive tiamina). Um efeito devastador é o transtorno amnéstico persistente induzido por álcool, relativamente raro, ou síndrome de Wernicke-Korsakoff, na qual a capacidade de codificar novas memórias fica gravemente prejudicada. Desenvolvimento e Curso O primeiro episódio de intoxicação por álcool tende a ocorrer no período intermediário da adolescência. Problemas relacionados ao álcool que não satisfazem todos os critérios para transtorno por uso, ou problemas isolados, podem ocorrer antes dos 20 anos, mas a idade no início de um transtorno por uso de álcool com dois ou mais critérios agrupados chega ao ápice no fim da adolescência ou entre os 20 e 25 anos. A grande maioria dos indivíduos que desenvolvem transtornos relacionados ao álcool o faz até o fim da faixa dos 30 anos. As primeiras evidências de abstinência dificilmente aparecem antes que outros aspectos do transtorno se desenvolvam. O transtorno por uso de álcool apresenta um curso variável, caracterizado por períodos de remissão e recaídas. Uma decisão de parar de beber tende a ser seguida por um período de semanas ou meses de abstinência, em geral seguido por períodos limitados de consumo controlado e não problemático. Contudo, assim que a ingestão é retomada, é muito provável que o consumo aumente rapidamente e que voltem a ocorrer problemas graves. Embora a maioria dos indivíduos com transtorno por uso de álcool desenvolva a condição antes dos 40 anos, talvez 10% apresente início tardio. Mudanças físicas relacionadas à idade em indivíduos mais velhos resultam em suscetibilidade mais elevada do cérebro aos efeitos depressores do álcool; taxas menores de metabolismo hepático de uma variedade de substâncias, incluindo o álcool; e redução do percentual de água no corpo. Essas alterações podem fazer pessoas mais velhas desenvolverem intoxicação mais grave e problemas subsequentes com níveis menores de consumo. Pessoas mais velhas também apresentam grande probabilidade de associação a outras complicações médicas. Marcadores Diagnósticos Indivíduos cujo consumo mais intenso os faz correr maior risco de transtorno por uso de álcool podem ser identificados tanto por questionários padronizados como por elevações nos exames de sangue provavelmente observadas com consumo mais intenso da substância. Essas medidas não estabelecem o diagnóstico de um transtorno relacionado ao álcool, mas podem ser úteis. O teste mais direto disponível para medir o consumo de álcool por observação transversal é a concentração de álcool no sangue, que também pode ser usado para estabelecer a tolerância ao álcool. Pode-se presumir que um indivíduo com concentração de 150 mg de etanol por dL de sangue que não demonstra sinais de intoxicação desenvolveu pelo menos um pouco de tolerância ao álcool. No patamar de 200 mg/dL, a maioria dos indivíduos sem tolerância demonstra intoxicação grave. No que se refere a exames laboratoriais, um indicador sensível é uma elevação modesta ou níveis elevados (> 35 unidades) de gamaglutamiltransferase (GGT). Esse pode ser o único achado. Pelo menos 70% dos indivíduos com nível elevado de GGT são consumidores persistentes de álcool em altas doses (ingerem regularmente oito ou mais doses diárias de bebidas alcoólicas). Um segundo exame com níveis comparáveis ou até maiores de sensibilidade e especificidade é o da transferrina deficiente em carboidrato (CDT), níveis 20 unidades ajudam a identificar os ≥ indivíduos que consomem regularmente 8 doses ou mais por dia. Uma vez que os níveis de GGT e CDT retornam ao normal no período de alguns dias a semanas depois que o indivíduo para de beber, ambos os marcadores são úteis no controle da abstinência. Outros exames úteis incluem o volume corpuscular médio (VCM), que pode estar elevado em indivíduos que consomem álcool em demasia – devido aos efeitos tóxicos diretos da substância sobre a eritropoiese. Embora o VCM possa ser usado para identificar os consumidores crônicos, é um método fraco de monitoração da abstinência em virtude da meia-vida longa dos eritrócitos. Os testes de função hepática (alanina aminotransferase [ALT] e fosfatase alcalina) podem revelar danos hepáticos resultantes da ingestão maciça de álcool. Outros marcadores potenciais de consumo pesado que não são específicos para álcool, mas que podem auxiliar o clínico a pensar sobre possíveis efeitos da substância, incluem elevações nos níveis de lipídios no sangue ou de ácido úrico. INTOXICAÇÃO POR ÁLCOOL Critérios Diagnósticos DSM-5 A. Ingestão recente de álcool. B. Alterações comportamentais ou psicológicas clinicamente significativas e problemáticas (ex: comportamentosexual ou agressivo inadequado, humor instável, julgamento prejudicado) desenvolvidas durante ou logo após a ingestão de álcool. C. Um (ou mais) dos seguintes sinais ou sintomas, desenvolvidos durante ou logo após o uso de álcool: 1. Fala arrastada. 2. Incoordenação. 3. Instabilidade na marcha. 4. Nistagmo. 5. Comprometimento da atenção ou da memória. 6. Estupor ou coma. D. Os sinais ou sintomas não são atribuíveis a outra condição médica nem são mais bem explicados por outro transtorno mental, incluindo intoxicação por outra substância. Evidências do uso de álcool podem ser obtidas a partir do odor alcoólico no hálito do indivíduo, da história do indivíduo ou de outro observador e, quando necessário, de material respiratório, sanguíneo ou urinário do indivíduo para análise toxicológica. A intoxicação por álcool às vezes está associada a amnésia dos eventos que ocorreram no curso da intoxicação (“apagões”). Esse fenômeno pode estar relacionado ao nível elevado de álcool no sangue e, talvez, à velocidade com que esse nível é atingido. Distúrbios Psiquiátricos e Comportamentais Maysa Araújo Gomes Ferraz MED 14 FPS Evidências de intoxicação por álcool leve podem ser observadas na maioria após aproximadamente 2 doses (dose-padrão contém aproximadamente 10 a 12g de etanol e eleva a concentração de álcool no sangue em cerca de 20 mg/dL). No início do consumo de álcool, quando os níveis da substância no sangue começam a se elevar, os sintomas frequentemente incluem loquacidade, sensação de bem-estar e humor alegre e expansivo. Mais tarde, sobretudo quando os níveis de álcool no sangue entram em queda, o indivíduo tende a tornar-se progressivamente mais deprimido, retraído e com prejuízos cognitivos. Com níveis de álcool no sangue muito elevados (200 a 300 mg/dL), uma pessoa que não desenvolveu tolerância tende a adormecer e entrar em um primeiro estágio anestésico. Níveis excedendo 300 a 400 mg/dL podem causar depressão respiratória e cardíaca e até mesmo a morte em indivíduos que não desenvolveram tolerância. A intoxicação costuma ocorrer como um episódio que normalmente se desenvolve ao longo de minutos a horas e tem duração típica de várias horas, sendo que a prevalência mais alta ocorre entre os 18 e os 25 anos. A duração da intoxicação depende da quantidade e do intervalo de tempo da ingestão de álcool. Os sinais e sintomas tendem a ser mais intensos quando o nível da substância no sangue está em ascensão do que quando está em queda. A frequência e a intensidade costumam diminuir com o avanço da idade. Quanto mais cedo o início de intoxicações regulares, maior a probabilidade de que o indivíduo desenvolva transtorno por uso de álcool. A intoxicação por álcool contribui consideravelmente para o comportamento suicida. ABSTINÊNCIA DE ÁLCOOL Critérios Diagnósticos DSM-5 A. Cessação (ou redução) do uso pesado e prolongado de álcool. B. Dois (ou mais) dos seguintes sintomas, desenvolvidos no período de algumas horas a alguns dias após a cessação (ou redução) do uso de álcool descrita no Critério A: 1. Hiperatividade autonômica (ex: sudorese ou FC>100 bpm). 2. Tremor aumentado nas mãos. 3. Insônia. 4. Náusea ou vômitos. 5. Alucinações ou ilusões visuais, táteis ou auditivas transitórias. 6. Agitação psicomotora. 7. Ansiedade. 8. Convulsões tônico-clônicas generalizadas. C. Os sinais ou sintomas do Critério B causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. D. Os sinais ou sintomas não são atribuíveis a outra condição médica nem são mais bem explicados por outro transtorno mental, incluindo intoxicação por ou abstinência de outra substância. Especificar se: Com perturbações da percepção: Este especificador aplica-se aos raros casos em que alucinações (geralmente visuais ou táteis) ocorrem com teste de realidade intacto ou quando ilusões auditivas, visuais ou táteis ocorrem na ausência de delirium. Embora confusão mental e alterações na consciência não sejam critérios para abstinência de álcool, delirium por abstinência de álcool pode ocorrer. Quando se desenvolve delirium por abstinência, provavelmente há uma condição médica clinicamente relevante (ex: insuficiência hepática, pneumonia, sangramento gastrintestinal, sequelas de traumatismo craniano, hipoglicemia e desequilíbrio eletrolítico ou estado pós-operatório). Convulsões associadas à abstinência de álcool têm características estereotipadas, generalizadas e são tônico-clônicas. Os pacientes costumam ter mais de uma convulsão 3 a 6 horas após a primeira ocorrência. Estado epiléptico é relativamente raro e ocorre em menos de 3% dos pacientes. Embora anticonvulsivantes não sejam necessários para o manejo, a causa da convulsão é difícil de estabelecer na primeira avaliação na sala de emergência; portanto, muitos pacientes com convulsões de abstinência recebem medicamentos anticonvulsivantes, os quais são descontinuados assim que a causa das convulsões é identificada. Atividade convulsiva em indivíduos com história conhecida de abuso de álcool ainda assim deve despertar no clínico a consideração de outros fatores causais, como lesões na cabeça, infecções do SNC, neoplasias do SNC e outras doenças cerebrovasculares; abuso de álcool grave de longa duração pode resultar em hipoglicemia, hiponatremia e hipomagnesemia – sendo que todas essas condições podem estar associadas a convulsões. OBS: A abstinência aguda de álcool ocorre na forma de episódio com duração de 4 a 5 dias e apenas após períodos prolongados de consumo pesado. A abstinência é relativamente rara em menores de 30 anos, e o risco e a gravidade aumentam com a idade. Tratamento A principal medicação para o controle dos sintomas de abstinência de álcool são os benzodiazepínicos. Vários estudos descobriram que eles ajudam a controlar a atividade convulsiva, delirium, ansiedade, taquicardia, hipertensão, diaforese e tremor associado à abstinência de álcool. Os benzodiazepínicos podem ser ministrados por via oral ou parenteral. Diazepam e clordiazepóxido não devem ser administrados por via intramuscular! Distúrbios Psiquiátricos e Comportamentais Maysa Araújo Gomes Ferraz MED 14 FPS Os médicos devem titular a dosagem do benzodiazepínico, começando com uma dosagem elevada, reduzindo-a conforme a recuperação do paciente. Embora benzodiazepínicos sejam o tratamento-padrão para abstinência de álcool, estudos demonstraram que a carbamazepina em doses diárias de 800 mg é tão eficaz quanto, com a vantagem adicional de mínima chance de abuso. Antagonistas do receptor β-adrenérgico e clonidina também foram usados para bloquear os sintomas de hiperatividade simpática, mas nenhum desses fármacos é eficaz para convulsões ou delirium. Delirium tremens O delirium por abstinência de álcool é uma emergência médica que pode resultar em morbidade e mortalidade significativas. Pacientes com delirium são um perigo para si mesmos e para os outros. Devido à imprevisibilidade de seu comportamento, esses pacientes podem ser agressivos ou suicidas, ou podem agir em resposta a alucinações ou pensamentos delirantes comose fossem perigos genuínos. Sem tratamento, o índice de mortalidade é de 20%, geralmente como resultado de uma doença médica intercorrente, como pneumonia, doença renal, insuficiência hepática ou insuficiência cardíaca. O melhor tratamento é a prevenção. O paciente em abstinência de álcool que exibe fenômenos de descontinuação deve ser medicado com benzodiazepínicos, como 25 a 50 mg de clordiazepóxido a cada 2 a 4 horas até evidências de que esteja fora de perigo. Assim que o delirium surge, 50 a 100 mg de clordiazepóxido devem ser ministrados a cada 4 horas VO, ou lorazepam IV caso medicação oral não seja possível. Antipsicóticos devem ser evitados. Uma alimentação rica em calorias e carboidratos, complementada por multivitamínicos, também é importante. Conter fisicamente o paciente é arriscado; ele pode lutar contra as contenções até um nível perigoso de exaustão. Quando está turbulento e fora de controle, pode-se usar uma sala de reclusão. A desidratação, frequentemente exacerbada por diaforese e febre, pode ser corrigida com administração oral ou IV de líquidos. Anorexia, vômito e diarreia costumam ocorrer durante a abstinência. O surgimento de sintomas neurológicos focais, lateralidade de convulsões, aumento da pressão intracraniana ou evidências de fraturas no crânio ou outras indicações de patologia do SNC devem levar o clínico a buscar uma nova doença neurológica. A psicoterapia de apoio é fundamental. O paciente costuma ficar desnorteado, assustado e ansioso devido aos sintomas perturbadores, e o apoio verbal competente se faz imperativo. Demência persistente induzida por álcool Problema cognitivo de longo prazo, heterogêneo e pouco estudado, que pode se desenvolver no curso do alcoolismo. Há reduções globais do funcionamento intelectual, das capacidades cognitivas e da memória, mas dificuldades na memória recente são consistentes com o prejuízo cognitivo global. Há tendência de melhora do funcionamento cerebral com a abstinência, mas talvez metade de todos os pacientes afetados apresente deficiências de longo prazo e até mesmo permanentes. Aproximadamente 50 a 70% desses pacientes apresentam evidência de aumento do tamanho dos ventrículos encefálicos e diminuição dos sulcos cerebrais, embora essas alterações pareçam ser parcial ou completamente reversíveis durante o primeiro ano de abstinência total. Transtorno amnéstico persistente induzido por álcool Perturbação na memória de curto prazo causada pelo uso intenso de álcool. Como geralmente ocorre em indivíduos que consomem álcool intensamente há vários anos, o transtorno é raro em indivíduos com menos 35 anos. Síndrome de Wernicke-Korsakoff A denominação clássica para transtorno amnéstico persistente induzido por álcool é composta por encefalopatia de Wernicke (sintomas agudos) e síndrome de Korsakoff (condição crônica). A encefalopatia de Wernicke é totalmente reversível com tratamento, mas só 20% dos casos de síndrome de Korsakoff se recuperam. A conexão fisiopatológica entre as duas síndromes é deficiência de tiamina (vitamina B1), causada por maus hábitos nutricionais ou por problemas de absorção. A tiamina é um cofator de várias enzimas importantes e pode estar envolvida na condução do potencial de ação ao longo do axônio e na transmissão sináptica. As lesões neuropatológicas são simétricas e paraventriculares, envolvendo corpos papilares, o tálamo, o hipotálamo, o mesencéfalo, a ponte, a medula, o fórnice e o cerebelo. A encefalopatia de Wernicke (encefalopatia alcoólica) é um transtorno neurológico agudo caracterizado por ataxia (que afeta principalmente a marcha), disfunção vestibular, confusão e várias anormalidades de motilidade ocular, incluindo nistagmo horizontal, paralisia orbital lateral e paralisia do olhar conjugado. Esses sinais oculares costumam ser bilaterais, mas não necessariamente simétricos. Outros sinais oculares podem incluir uma reação lenta à luz e anisocoria. A encefalopatia de Wernicke pode desaparecer espontaneamente em alguns dias ou semanas, ou progredir para síndrome de Korsakoff, cujas características são a síndrome de prejuízo mental (especialmente a memória recente) e amnésia anterógrada em um paciente alerta e responsivo. O paciente pode ou não apresentar o sintoma de confabulação. Tratamento Nos estágios iniciais, a encefalopatia de Wernicke reage rapidamente a grandes doses de tiamina parenteral, que se acredita ser eficaz na prevenção da progressão para síndrome de Korsakoff. A dosagem de tiamina costuma ser iniciada em 100 mg VO de 2 a 3 vezes por dia e continua durante 1 a 2 semanas. Distúrbios Psiquiátricos e Comportamentais Maysa Araújo Gomes Ferraz MED 14 FPS Em pacientes com transtornos relacionados ao álcool que recebem administração IV de solução de glicose, a boa prática recomenda incluir 100 mg de tiamina em cada litro de solução. Para a síndrome de Korsakoff, o tratamento também consiste em 100 mg de tiamina administrada VO 2 a 3 vezes ao dia; o regime de tratamento deve continuar de 3 a 12 meses. Poucos pacientes que progridem para síndrome de Korsakoff se recuperaram totalmente, embora vários apresentem melhoras. Transtorno psicótico induzido por álcool Aproximadamente 3% dos alcoolistas experimentam alucinações auditivas ou delírios paranoides no contexto do consumo pesado ou abstinência de álcool. As alucinações auditivas mais comuns são vozes, mas elas costumam ser desestruturadas. As vozes são caracteristicamente caluniosas, repreensivas ou ameaçadoras, embora alguns pacientes relatem que elas sejam agradáveis e não perturbadoras. As alucinações normalmente duram menos de uma semana, mas durante esse período frequentemente há prejuízo no teste de realidade. Depois do episódio, a maioria dos pacientes percebe a natureza alucinatória dos sintomas. Nos casos em que permanecem após esse período, o clínico deve considerar outros transtornos psicóticos no diagnóstico diferencial. Alucinações após a abstinência de álcool são consideradas raras. Alucinações relacionadas à abstinência de álcool se diferenciam das de esquizofrenia devido à ausência de história de esquizofrenia clássica e curta duração. Alucinações relacionadas à abstinência de álcool se diferenciam de delirium tremens pela presença de um sensório claro no paciente. O tratamento é muito semelhante ao tratamento de DTs – benzodiazepínicos, nutrição adequada e líquidos, caso necessário. Se esse regime não surtir efeito, ou para casos de longa duração, podem-se usar antipsicóticos. Transtorno do humor induzido por álcool A ingestão intensa de álcool ao longo de vários dias resulta em vários sintomas observados no transtorno depressivo maior, mas a intensa tristeza melhora acentuadamente no prazo de vários dias até 1 mês de abstinência. 80% dos indivíduos com alcoolismo relatam histórias de depressão intensa, sendo que 30 a 40% ficam deprimidos durante 2 ou mais semanas em um dado momento. Contudo, apenas 10 a 15% dos alcoolistas apresentam depressão que satisfaz os critérios para transtorno depressivo maior sem consumo intenso de álcool. Mesmo depressões graves induzidas por substâncias têm chancesde melhora razoavelmente rápida com abstinência, sem medicação nem psicoterapia intensiva voltada para os sintomas depressivos. Uma abordagem lógica para essas condições é ensinar ao paciente a melhor maneira de encarar e lidar com a tristeza temporária por meio de esclarecimento e tratamento cognitivo-comportamental e esperar para ver o que acontece durante um período mínimo de 2 a 4 semanas antes de dar início a um curso de antidepressivos. Transtorno de ansiedade induzido por álcool Sintomas de ansiedade que satisfazem os critérios diagnósticos para transtorno de ansiedade induzido por álcool também são comuns no contexto de abstinência de álcool aguda e prolongada. Quase 80% dos alcoolistas relatam ataques de pânico durante pelo menos um episódio de abstinência aguda; suas queixas podem ser suficientemente intensas para que o clínico considere o diagnóstico de transtorno de pânico. De modo semelhante, nas primeiras 4 semanas de abstinência, indivíduos com problemas graves com álcool ficam propensos a evitar situações sociais com medo de serem dominados por ansiedade (sintomas que se parecem com fobia social); seus problemas, às vezes, podem ser graves o suficiente a ponto de se parecerem com agorafobia. Contudo, quando sintomas de ansiedade são observados em alcoolistas apenas no contexto de consumo intenso ou nas primeiras semanas ou no primeiro mês de abstinência, provavelmente diminuem e desaparecem com o tempo. Disfunção sexual induzida por álcool Transtorno do sono induzido por álcool Transtorno relacionado ao álcool não especificado Intoxicação por álcool idiossincrática: Síndrome comportamental grave que se desenvolve rapidamente depois que o indivíduo consome uma pequena quantidade de álcool que teria efeitos comportamentais mínimos sobre a maioria das pessoas. Esse diagnóstico é importante em foro jurídico, porque intoxicação por álcool não costuma ser um argumento aceito para julgar indivíduos não responsáveis por suas ações. No entanto, intoxicação por álcool idiossincrática pode ser usada em defesa de um indivíduo caso o advogado consiga argumentar com sucesso que o réu apresenta uma reação inesperada, idiossincrática e patológica a uma quantidade mínima de álcool. Síndrome alcoólica fetal A síndrome alcoólica fetal ocorre quando a mãe que consome álcool expõe o feto ao álcool no útero. O álcool inibe o crescimento intrauterino e o desenvolvimento pós-natal. Microcefalia, malformações craniofaciais e falhas cardíacas e nos membros são comuns. Baixa estatura na idade adulta e desenvolvimento de uma série de comportamentos desadaptativos adultos também foram associados à síndrome. Mulheres com transtornos relacionados ao álcool apresentam um risco de 35% de dar à luz uma criança com imperfeições. Embora o mecanismo exato do dano ao feto seja desconhecido, ele parece resultar da exposição in utero a etanol e seus metabólitos; o álcool também pode causar desequilíbrios hormonais que aumentam o risco de anormalidades. TRATAMENTO E REABILITAÇÃO Existem três medidas gerais envolvidas no tratamento do alcoolista depois do diagnóstico do transtorno: intervenção, desintoxicação e reabilitação. Distúrbios Psiquiátricos e Comportamentais Maysa Araújo Gomes Ferraz MED 14 FPS Intervenção (confrontação) Processo destinado a aumentar a motivação para o tratamento e a continuidade da abstinência. Frequentemente envolve convencer o paciente de que ele é responsável por seus próprios atos e lembrá-lo de como o álcool gerou prejuízos significativos em sua vida. Com frequência, o psiquiatra tira vantagem da queixa principal do paciente, seja insônia, dificuldades com o desempenho sexual, seja incapacidade de lidar com os estresses da vida, depressão, ansiedade ou sintomas psicóticos. A maioria dos alcoolistas precisa ser lembrada das várias vezes e maneiras como o álcool contribuiu para cada nova crise antes de considerar abstinência. A família pode ser de grande auxílio na intervenção. Não se deve proteger o paciente dos problemas causados pelo álcool; senão, ele pode não conseguir reunir a energia e a motivação necessárias para interromper o consumo. Pode-se sugerir que o paciente se encontre com pessoas que estão se recuperando do alcoolismo, talvez no AA, familiares também podem ir a encontros de grupos. Desintoxicação Se o paciente gozar de saúde relativamente boa, estiver adequadamente alimentado e tiver um bom sistema de apoio social, a síndrome de abstinência depressora normalmente lembra uma gripe leve. O primeiro passo fundamental na desintoxicação é o exame físico. Na ausência de condição médica grave ou abuso de outra substância, é pouco provável que haja abstinência de álcool grave. O segundo passo é proporcionar descanso, alimentação adequada e vitaminas, especialmente as que contêm tiamina. Abstinência leve ou moderada: A abstinência ocorre porque o cérebro se adaptou fisicamente à presença de um depressor e não consegue funcionar de maneira adequada sem a substância. Administrar depressores cerebrais suficientes no 1º dia para reduzir os sintomas e, então, reduzir a dosagem do fármaco até sua interrupção ao longo dos 5 dias seguintes proporciona, à maioria dos pacientes, o máximo de alívio com a menor possibilidade de desenvolver abstinência grave. Qualquer depressor – álcool, barbitúricos ou benzodiazepínicos – pode funcionar, mas a maioria dos profissionais prefere um benzodiazepínico, devido a sua relativa segurança. Pode-se administrar um tratamento adequado seja com fármacos de ação breve (ex: lorazepam), seja com substâncias de ação prolongada (ex: clordiazepóxido e diazepam). Um exemplo é a administração de 25 mg de clordiazepóxido via oral 3 ou 4 vezes por dia no primeiro dia, com indicação de pular a dose se o paciente estiver dormindo ou se sentindo sonolento. Podem ser ministradas 1 ou 2 doses adicionais de 25 mg nas primeiras 24h se o paciente estiver com tremores ou mostrar sinais de aumento de tremor ou disfunção autonômica. Qualquer que seja a dosagem de benzodiazepínicos necessária no 1º dia, ela pode ser reduzida em 20% a cada dia subsequente, o que resulta em falta de necessidade da medicação após 4 ou 5 dias. OBS: Ao tomar um fármaco de ação breve, como lorazepam, o paciente não pode perder nenhuma dose, porque alterações rápidas nas concentrações de benzodiazepínicos no sangue podem precipitar abstinência grave. Abstinência grave: Para aprox. 1% dos alcoolistas com extrema disfunção autonômica, agitação e confusão (delirium por abstinência alcoólica ou delirium tremens) ainda não foi desenvolvido um tratamento ideal. O primeiro passo é questionar o motivo pelo qual uma síndrome de abstinência tão grave e relativamente incomum ocorreu; a resposta costuma estar relacionada a um problema médico concomitante grave que precisa de tratamento imediato. Os sintomas de abstinência podem ser reduzidos ao mínimo por meio do uso de benzodiazepínicos (dependendo do caso, requerem doses elevadas) ou antipsicóticos, como haloperidol. No 1º ou 2º dia, as doses são usadas para controlar o comportamento, e amedicação pode ser suspensa gradualmente até o quinto dia. 1% dos pacientes podem sofrer uma convulsão tônico-clônica; apenas em casos raros há crises múltiplas, sendo que a incidência de pico ocorre no 2º dia. Esses pacientes necessitam de avaliação neurológica, mas, na ausência de evidências de um transtorno convulsivo, não se beneficiam de anticonvulsivantes. Abstinência prolongada: Sintomas de ansiedade, insônia e hiper-reatividade autonômica leve provavelmente continuam durante 2 a 6 meses após a cessação da abstinência aguda. Embora não pareça haver tratamentos farmacológicos apropriados para essa síndrome, alguns medicamentos usados para a fase de reabilitação, especialmente acamprosato, podem reduzir alguns sintomas. É importante advertir o paciente de que algum tipo de problema de sono ou sentimentos de nervosismo podem permanecer após a abstinência aguda e discutir abordagens cognitivo-comportamentais adequadas. Esses sintomas de abstinência prolongada podem aumentar a probabilidade de recaída. Reabilitação Processo contínuo que dura de 6 a 12 meses ou mais. Para a maioria dos pacientes, inclui 3 componentes principais: (1) esforços contínuos para aumentar e manter níveis elevados de motivação para abstinência; (2) ajudar o paciente a se readaptar a um estilo de vida sem álcool; e (3) prevenção de recaída. Como essas medidas são tomadas no contexto de síndromes de abstinência aguda e prolongada, e crises de vida, exige a constante reintrodução de recursos semelhantes que lembrem o paciente o quanto a abstinência é importante e que o ajudem a desenvolver novos sistemas de apoio diários e estilos de enfrentamento. A mesma abordagem de tratamento geral é usada em contextos ambulatoriais e de internação. A escolha do modo de internação intensiva, mais oneroso, costuma depender das evidências de outras síndromes psiquiátricas ou médicas graves, da ausência de grupos ambulatoriais próximos adequados e da história do paciente de fracasso em um sistema de cuidados ambulatorial. O processo de tratamento em qualquer um dos contextos envolve intervenção, melhora do funcionamento físico e psicológico, intensificação da motivação, colaboração da família e uso das primeiras 2 a 4 semanas de cuidados como um período intensivo de auxílio. Esses esforços devem ser seguidos por um período mínimo de 3 a 6 meses de cuidados ambulatoriais menos frequentes. A abordagem ambulatorial combina aconselhamento individual e em grupo, evitação criteriosa de medicamentos psicotrópicos, a menos que sejam necessários para transtornos independentes comórbidos. Distúrbios Psiquiátricos e Comportamentais Maysa Araújo Gomes Ferraz MED 14 FPS - Aconselhamento Os esforços de aconselhamento nos primeiros meses devem estar voltados para questões da vida diária com a finalidade de ajudar os pacientes a manter um nível elevado de motivação para abstinência e para melhorar seu funcionamento. Aconselhamento ou terapia pode ocorrer individualmente ou em grupo. As sessões devem explorar as consequências do consumo, o provável curso futuro de problemas de vida relacionados ao álcool, e a grande melhora que se pode esperar com a abstinência. Em contexto de internação ou ambulatorial, o aconselhamento individual ou em grupo costuma ser pelo menos oferecido 3 vezes por semana, nas primeiras 2 a 4 semanas, seguido por esforços menos intensos, 1 vez por semana, nos 3 a 6 meses seguintes. A prevenção de recaídas, primeiramente identifica situações nas quais há grande risco de recaída. O conselheiro deve ajudar o paciente a desenvolver modos de enfrentamento para que sejam usados quando a fissura por álcool aumentar ou quando um evento ou estado emocional tornar mais provável a retomada do hábito de beber. Uma parte importante é lembrar o paciente da atitude adequada para lidar com deslizes. A recuperação é um processo de tentativa e erro; o paciente faz uso dos deslizes que ocorrem para identificar situações de alto risco e para desenvolver técnicas de enfrentamento mais apropriadas. - Medicamentos Caso a desintoxicação tenha sido finalizada e o paciente não integre os 10 a 15% de alcoolistas que apresentam um transtorno do humor independente, esquizofrenia ou transtorno de ansiedade, há poucas evidências que indiquem a prescrição de psicotrópicos. Níveis residuais de ansiedade, insônia, tristeza e oscilações de humor como parte de uma reação a estresses de vida e abstinência prolongada devem ser tratados com modificação de comportamento e tranquilização. Uma possível exceção à recomendação contra o uso de medicamentos é um agente de sensibilização ao álcool, dissulfiram. O dissulfiram é administrado em doses diárias de 250 mg antes que o paciente receba alta da primeira fase intensiva de reabilitação ambulatorial ou dos cuidados durante a internação. O objetivo é colocar o paciente em uma condição na qual a ingestão de álcool precipite uma reação física desconfortável, incluindo náusea, vômito e sensação de queimação na face e no estômago. Vários profissionais pararam de prescrevê-lo de forma rotineira, em parte por reconhecerem os perigos associados ao próprio fármaco: alterações do humor, psicose (rara), possibilidade de aumento de neuropatias periféricas, ocorrência relativamente rara de outras neuropatias significativas e hepatite potencialmente fatal. Ademais, pacientes com condições preexistentes, como doença cardíaca, trombose cerebral, diabetes e uma série de outras, não podem ser medicados com dissulfiram porque uma reação do álcool ao medicamento pode ser fatal. Outras 2 intervenções farmacológicas promissoras foram objeto de estudo recentemente. A primeira é a naltrexona, que ao menos em teoria, apresenta a possibilidade de reduzir o desejo de consumo de álcool ou embotar os efeitos de recompensa do ato de beber. O segundo medicamento é o acamprosato, doses aprox. 2.000mg/dia foram associadas a cerca de 10 a 20% de resultados mais positivos do que o placebo. O mecanismo de ação é desconhecido, mas pode agir direta ou indiretamente nos receptores GABA em sítios NMDA, cujos efeitos alteram o desenvolvimento de tolerância ou dependência física de álcool. OBS: Outro medicamento promissor é a buspirona, embora seu efeito na reabilitação não apresente consistência entre estudos. Não há evidências de que antidepressivos, como ISRSs, lítio ou medicamentos antipsicóticos, sejam significativamente eficazes. Alcoólicos anônimos Membros dos AA dispõem de ajuda 24 horas por dia, associam-se a um grupo de pares sóbrios, aprendem que é possível participar de reuniões sociais sem álcool e ganham um modelo de recuperação ao observar as realizações dos membros sóbrios do grupo. Para pacientes com transtornos psiquiátricos coexistentes, o clínico deve lembrá-los de que alguns membros dos AA podem não compreender a necessidade de medicamentos e sugerirem, inadequadamente, que eles interrompam o curso da medicação. CLASSIFICAÇÃO DE JELLINEK - Alcoolismo alfa: o indivíduo bebe por razões puramente psicológicas, geralmente em contexto social. Há uma dependência psicológica, sem dependência fisiológica;também chamado beber problemático, beber como fuga. - Alcoolismo beta: deteriorações físicas, envolvendo um ou mais sistemas orgânicos, com enfraquecimento geral da saúde e tempo de vida reduzido, incluindo principalmente polineuropatias, gastrite, cirrose e carência nutricional, especialmente de vitamina B12. - Alcoolismo gama: aumento da tolerância, perda de controle e síndrome de abstinência após interrupção do consumo de álcool; alcoolistas crônicos. - Alcoolismo delta: aumento de tolerância, sintomas de abstinência e incapacidade de abster-se, mas nunca perda do autocontrole sobre a quantidade consumida. - Alcoolismo épsilon: beber paroxística ou periodicamente, beber compulsivo; às vezes referido como dipsomania. O consumo de álcool periódico, contudo, o indivíduo parece que só fica satisfeito quando perde o controlo de si próprio, podendo mesmo ficar inconsciente com a alcoolização. QUESTIONÁRIOS CAGE C (cut down): Alguma vez sentiu que deveria diminuir a quantidade de bebida ou parar de beber? A (annoyed): As pessoas o aborrecem porque criticam o seu modo de beber? G (guilty): Se sente culpado pela maneira que costuma beber? E (eye opened): Costuma beber pela manhã (ao acordar), para diminuir o nervosismo ou a ressaca? 1 resposta positiva - alto risco de abuso 2 respostas positivas ou mais - alto risco de dependência Distúrbios Psiquiátricos e Comportamentais Maysa Araújo Gomes Ferraz MED 14 FPS AUDIT Some os números, > 8 indica problemas com a bebida. ASSIST
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