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Evolução do Pensamento da Administração e Tecnologias de Gestão Unidade 2 1ª edição 2019 A abordagem clássica da Administração Produção do Material Didático - Pedagógico Delinea Tecnologia Educacional Diretoria Executiva Charlie Anderson Olsen Larissa Kleis Pereira Margarete Lazzaris Kleis Gestão de Produção Camila Sayury Nakahara Coordenação de Produção Fátima Satsuki de Araujo Iino Professor Conteudista Alice Castro Erica Sarraf Fernandes Biondo Flaviana Totti Custódio dos Santos Design Educacional Juliana Bordinhão Diana Revisão Gramatical Sílvia Almeida Coordenação de Design Gráfico Edison Valim Projeto Gráfico Hortência Granair Diagramação Thiago Rocha Sumário 2.1 Primeiras teorias da administração do século XX ................................... 6 2.2 A linha de montagem e o fordismo ....................................................... 10 2.2.1 O fordismo ........................................................................................ 10 2.3 Aportes de Fayol à Administração científica ......................................... 12 2.3.1 O nível gerencial ................................................................................ 14 2.4 A burocracia de Weber ......................................................................... 14 2.4.1 Disfunções da burocracia .................................................................. 16 Unidade 2 A abordagem clássica da Administração Para iniciar seus estudos Compreender a teoria da burocracia, a administração científica e a teoria clássica da administração, bem como suas principais características e contribuições para o desenvolvimento do pensamento administrativo. Objetivos de Aprendizagem • Compreender os preceitos que balizaram a administração científica de Frederick Winslow Taylor: estudo dos tempos e movimentos; padronização das ferramentas e dos movimentos; cartões de instrução do sistema de pagamento conforme desempenho; cálculo dos custos. • Compreender os preceitos que balizaram o modelo de produção fordista: linha de montagem; inovação; economia de escala; dentre outros. • Compreender os preceitos que balizaram a administração clássica de Henri Fayol: processos administrativos; princípios e funções da administração; estrutura das organizações; princípios da administração; papel dos gerentes; dentre outros. • Compreender os preceitos que balizaram a teoria da burocracia de Max Weber: processos buro- cráticos; formalidade; impessoalidade; profissionalismo; poder nas organizações; hierarquias; unidade de comando; normas para as organizações. 5 2.1 Primeiras teorias da administração do século XX No início do século XX, dois importantes engenheiros desenvolveram os primeiros trabalhos a respeito da administração: o americano Frederick Winslow Taylor, considerado pai da administração e criador da escola da administração científica, com ênfase no estudo dos tempos e movimentos; e o francês Henri Fayol, que desenvolveu a chamada teoria clássica, com a aplicação de princípios gerais da admi- nistração em bases científicas. Figura 2.1: Base da administração Fonte: Plataforma Deduca (2018). Taylor foi responsável pela proposição dos chamados princípios da administração científica e pelo estudo dos tempos e movimentos para a melhoria do processo produtivo, a redução de custos e o aumento de produtividade. Por sua vez, Fayol preocupou-se em melhorar o processo administrativo, por meio da formulação de seus famosos princípios: planejar, organizar, comandar e controlar. Segundo Maximiano (2015), Taylor defendeu que sempre haverá um método mais fácil e rápido de executar uma tarefa. Para tanto, esse engenheiro empreendeu o estudo dos tempos e movimentos na produção. Tal fato evidenciou que, com observação e análise de dados, a organização poderia produzir mais para o “patrão”, bem como melhorar, ao máximo, a prosperidade do empregado. Essa abordagem de Taylor ficou conhecida como organização racional do trabalho, transformando os métodos de traba- lhos empíricos em métodos científicos. De acordo com Chiavenato (2014), essa tentativa de substituir métodos empíricos e rudimentares por métodos científicos recebeu o nome de Organização Racional do Trabalho (ORT), que se fundamenta nos seguintes aspectos: a. Estudo dos tempos e movimentos: o trabalho é metodicamente analisado, em sua totalidade, visando à eliminação de movimentos desnecessários. Nesse estudo, os movimentos úteis são simplificados, a fim de diminuir o tempo médio que o operário leva para desenvolver uma tarefa. Nesse tempo médio, são acrescentados os tempos considerados mortos, como, por exemplo, o tempo de espera pela matéria-prima (com finalidade de padronizar o método de trabalho) e, também, o tempo destinado à execução desse trabalho. 6 Evolução do Pensamento da Administração e Tecnologias de Gestão | Unidade 2 - A abordagem clássica da Administração Conforme Chiavenato (2014), Taylor observou as seguintes vantagens no desenvolvimento de um método padrão de produção: » elimina desperdício de esforço humano e movimentos inúteis; » facilita e racionaliza a seleção e o treinamento de operários e melhora a eficiência e o rendi- mento da produção pela especialização das atividades; » distribui uniformemente o trabalho e evita períodos de falta ou de excesso de trabalho; » define métodos e estabelece normas para execução do trabalho; » estabelece base uniforme para salários equitativos e prêmios de produção. b. Estudo da fadiga humana com base na anatomia e na fisiologia humana: possui dupla finali- dade: » evita movimentos inúteis na execução de tarefas, do ponto de vista fisiológico; » reduz a fadiga para aumentar a eficiência. c. Divisão do trabalho e especialização do operário: há eliminação de movimentos desnecessá- rios, economizando, assim, energia e tempo, consequentemente, elevando a produtividade do operário. d. Desenho de cargos e de tarefas: tem como finalidade criar, projetar e combinar cargos para que uma tarefa seja executada com os demais cargos existentes dentro da organização. A simplifi- cação no desenho de cargos permite algumas vantagens, tais como: » admissão de empregados com qualificações mínimas, o que reduz os custos de produção; » minimização de custos de treinamentos; » redução de erros na execução do trabalho. e. Incentivos salariais e prêmios de produção: o operário é estimulado a produzir mais e também a ganhar mais pelos seus serviços, uma vez que a remuneração é baseada na produção. f. Condições ambientais de trabalho: a eficiência depende não somente do método de trabalho e do incentivo salarial, mas de um conjunto de condições que garantam o bem-estar do trabalha- dor, o que inclui: » a adequação de instrumentos e ferramentas de trabalho e equipamentos de produção para minimizar o esforço do operador; » o arranjo físico das máquinas e equipamentos para racionalizar o fluxo de produção. g. Padronização: o objetivo é minimizar a variabilidade no processo produtivo e, consequente- mente, eliminar desperdícios, aumentando, assim, a eficiência. Cabe observar, conforme Chiavenato (2014), que a Organização Racional do Trabalho, maior contri- buição de Taylor à teoria administrativa, é, sobretudo, uma forma de executar melhor as tarefas, tendo como referência a observação no chão de fábrica. Ao desenvolver esses princípios, Taylor, de acordo com Chiavenato (2014), tinha como objetivo tornar a empresa mais eficiente e mais produtiva, algo que, para a época, era impensável. Foi também uma preocupação de Taylor desenvolver uma forma de aplicar esses princípios na prática administrativa das fábricas, porque, para ele, a ferramenta administrativa era uma prática estruturada 7 Evolução do Pensamento daAdministração e Tecnologias de Gestão | Unidade 2 - A abordagem clássica da Administração que ajudaria a desenvolver não só o processo de administração, mas também a qualidade decisória das organizações. Chiavenato (2014) define que a preocupação de racionalizar, padronizar e prescrever normas de con- duta ao administrador levou os engenheiros da administração científica a pensar que tais princípios pudessem ser aplicados em todas as situações possíveis. Dentre a profusão de princípios defendidos pelos autores, os mais importantes são: 1. Princípios de planejamento: substituir a improvisação por métodos baseados em procedimen- tos científicos, por meio de planejamento. 2. Princípio de preparo: os trabalhadores são selecionados de acordo com suas aptidões e, então, é necessário prepará-los e treiná-los para produzir mais e segundo o método planejado. 3. Princípio do controle: controlar o trabalho para certificar que esteja sendo executado de acordo com os métodos estabelecidos e segundo o plano previsto. 4. Princípios da execução: distribuir atribuições e responsabilidades para que a execução do tra- balho seja disciplinada. Posteriormente, o século XX foi marcado por grandes mudanças no ambiente econômico e social das organizações. Um exemplo disso foi o grande desenvolvimento econômico dos Estados Unidos, no início do século, em virtude do sucesso do modo de produção fordista, idealizado por Henry Ford. Tam- bém, em meados desse século, Max Weber, nos seus estudos sobre a ação social, descreveu as formas de autoridade e de legitimidade que lhe permitiram refletir sobre as características da burocracia que se encaixariam em um tipo de autoridade racional-legal e que contemplariam alguns princípios centrais, como a impessoalidade, o profissionalismo, a hierarquia, o formalismo etc. O século XX foi marcado por grandes mudanças no ambiente econômico e social das organizações, tendo como grande exemplo o desenvolvimento econômico dos Estados Unidos, decorrente da mudança no modo de produção. Atenção Observe no quadro a seguir as principais ideias da administração no século XX. 8 Evolução do Pensamento da Administração e Tecnologias de Gestão | Unidade 2 - A abordagem clássica da Administração Quadro 2.1: Principais ideias da administração no século XX Ideias/Enfoques/Teorias 1900-1925 1925-1950 1950-1975 1975-2000 Produção em massa, preocupação com eficiência (ênfase na eficiência dos processos produtivos). Administração científica, linha de montagem. Popularização do fordismo. Sistema toyota de produção. Modelo japonês, empresa de classe mundial, “Seis Sigma”, redesenho de processos. Humanismo, enfoque comportamental, escola das relações humanas (ênfase nas pessoas e na condição humana). Características individuais. Relações humanas, dinâmicas de grupo, liderança. Administração participativa. Gestão de pessoas, qualidade de vida no trabalho, ética. Escola da qualidade (ênfase na uniformidade, na conformidade e na adequação ao uso). Controle estatístico da qualidade. Administração da qualidade. Qualidade total, qualidade no Japão. Sistemas da qualidade, qualidade garantida, normas ISO. Enfoque no processo administrativo (ênfase no papel dos gerentes e no processo de administrar organizações). Enfoque funcional da administração, políticas de negócios. Processo decisório, estruturação das grandes empresas, política de negócios, administração por objetivos. Planejamento estratégico. Administração de projetos, administração por processos, cadeia de suprimentos, papéis e competências gerenciais. Teorias das organizações (ênfase no entendimento da natureza das organizações). Tipo ideal de burocracia. Teoria das organizações. Modelos de organização. Imagens das organizações, aprendizagem organizacional. Pensamento sistêmico (ênfase na compreensão de totalidades e nas relações entre as partes). Aplicação do pensamento sistêmico na concepção de processos produtivos, especialmente na linha de montagem. Teoria geral dos sistemas. Pensamento sistêmico influenciando todas as ideias da administração. Fonte: Maximiano (2015). 9 Evolução do Pensamento da Administração e Tecnologias de Gestão | Unidade 2 - A abordagem clássica da Administração 2.2 A linha de montagem e o fordismo Segundo Chiavenato (2014), Henry Ford nasceu em 30 de julho de 1863, na cidade norte-americana Springwells. Em 1903, superando inúmeras adversidades, fundou a “Ford Motors Company”, com mais 11 acionistas, ficando com 25% das ações. Com o passar dos anos, comprou as ações dos demais investidores e, em 1919, passou a ser o controlador da companhia. Sua grande ambição sempre foi construir um carro para o povo e, então, em 1913, inaugurou a primeira fábrica com linha de produção em série. Figura 2.2: Linha de produção Fonte: Plataforma Deduca (2018). Ford foi pioneiro no que ficou conhecido como linha de montagem e produção em série. Produzir em série significa fabricar produtos iguais, em grande quantidade, fato que reduz os custos de produção e aumenta sua velocidade. Pensando nisso, Ford entendeu que seria vantajosa a fabricação de automó- veis padronizados. 2.2.1 O fordismo O processo produtivo inventado por Henry Ford ficou conhecido como fordismo e funcionava da seguinte maneira: o automóvel passava por uma esteira de montagem em movimento, e os operários colocavam as peças. Isso era possível em função da especialização dos funcionários, ou seja, cada um executava uma função específica (ou única) no processo. Por exemplo: alguns operários trabalhavam com a pintura; outros colocavam os pneus; alguns retificavam os motores, e assim por diante. Em ape- nas 98 minutos, o automóvel ficava pronto. O modelo de automóvel “T” foi o mais famoso produzido por Henry Ford. Também conhecido como “Ford Bigode”, esse veículo foi o mais vendido no fim do século XIX. Desse tempo, é famosa a frase de Ford a seus clientes, de que poderiam pedir a cor que quisessem para seus automóveis, desde que fosse preta. (MAXIMIANO, 2015). 10 Evolução do Pensamento da Administração e Tecnologias de Gestão | Unidade 2 - A abordagem clássica da Administração Figura 2.3: Modelo Ford “T” Fonte: Plataforma Deduca (2018). Segundo Chiavenato (2014), foi utilizando as abordagens da administração científica que Henry Ford aplicou de forma intensiva o novo conceito de linha de montagem na sua indústria “Ford Motors Com- pany”. Esse sistema revolucionou o mercado, em virtude da produção em massa, tornando os automó- veis mais baratos. Cabe destacar que as inovações de Ford permitiram eliminar quase todos os movimentos desnecessá- rios às atividades dos trabalhadores. Para Ford, era importante organizar o trabalho de forma a requerer o mínimo possível de força e de esforço físico dos trabalhadores. O sucesso do invento de Ford foi tão grande que, na década de 1920, chegou a produzir dois milhões de automóveis por ano. O sistema de produção de Ford foi muito importante para a sociedade, uma vez que democratizou o acesso à aquisição de automóveis. A estratégia de negócio no fordismo era produzir o automóvel o mais rápido possível e vendê-lo no mercado no menor prazo. A rapidez nesse processo é um fator importante, pois, quando a linha de montagem está parada, não gera lucros, o que deve ser evitado. Isso também requer um estoque de peças de reposição indispen- sáveis para que a linha de montagem não pare. Com essa forma de produção, Ford desenvolveu um sistema de pagamento com base em bônus, que crescia à medida que a produtividade aumentava. O taylorismo e o fordismo são sistemas de trabalho que visavam à racionalizaçãoextrema da produção e, consequentemente, à maximização da produção e do lucro. O sucesso desses dois modelos fez com que várias empresas adotassem as técnicas desenvolvidas por Taylor e Ford, sendo utilizadas até hoje por algumas indústrias. O fordismo se baseou nas propostas do taylorismo e desenvolveu alguns avan- ços. Assim, enquanto Taylor focava a divisão eficiente e racional das tarefas dentro da fábrica, Ford buscava colocar seus trabalhadores em posições fixas no sistema produtivo. Conforme Maximiano (2015), cabe destacar, ainda, que o fordismo era visto como um modelo de ges- tão da produção; mas, a partir de 1930, passou a ser concebido como um modelo técnico-econômico, irradiando-se pelo mundo no pós-guerra. Antes do fordismo, a produção de veículos era artesanal, dependente da habilidade técnica da mão de obra disponível e sem padronização. Outro fator importante que contribuiu para as ferramentas de gestão diz respeito à aplicação dos princí- pios da administração científica no sistema fordista de produção, que levou à redução da complexidade das tarefas e à padronização e ao controle do processo produtivo: o processo saiu das mãos dos tra- 11 Evolução do Pensamento da Administração e Tecnologias de Gestão | Unidade 2 - A abordagem clássica da Administração balhadores e passou para a gerência, levando até às últimas consequências a ideia de separação entre o planejamento (engenheiros) e a execução (operário). A administração clássica de Taylor e o fordismo recuperaram o ideário do homem “economicus”, ou seja, o homem é um ser racional que toma suas decisões com base no conhecimento de todas as pos- sibilidades de ações viáveis, bem como de suas consequências. Segundo Maximiano (2015), esse modelo de homem, reduzido e simplificado, serviu de fundamento para a construção de uma teoria da administração que tinha como base a concepção de um homem racional e previsível, que se satisfazia com incentivos financeiros, vigilância e treinamento. Investir nes- ses quesitos, portanto, auxiliaria a aumentar a produtividade esperada. Como consequência dessa visão de homem, os pensadores clássicos – Taylor, Fayol e Ford – compar- tilhavam da ideia de que o comportamento humano não era um problema em si. Isso quer dizer que, quando os gerentes percebiam nos trabalhadores um comportamento inadequado, deduziam que o problema decorria de defeitos na estrutura da organização ou no processo produtivo. 2.3 Aportes de Fayol à Administração científica Henri Fayol nasceu em 1841, em Istambul, e faleceu em 1925, em Paris. Ele foi um importante pesqui- sador da chamada escola clássica da administração. Fayol dedicou-se a disseminar os princípios da administração, com base em seus anos de aprendizado prático na indústria. Para esse engenheiro, a administração compreende, basicamente, cinco funções: • planejamento; • organização; • comando; • coordenação; • controle. De acordo com Maximiano (2015), para Fayol, a administração é uma atividade que pode ser encon- trada em todos os empreendimentos humanos, como a família, os negócios, as religiões e os governos, exigindo, mesmo que não nos demos conta, o uso de, pelo menos, alguma das cinco funções supraci- tadas. Fayol propôs a divisão das organizações em seis estruturas de operações específicas, mas que se relacionam mutuamente: • Técnica: produção, manufatura. • Comercial: compra, venda, troca. • Financeira: empréstimos, capital de giro. • Segurança: proteção da propriedade privada e das pessoas. • Contabilidade: registro de estoques, custos, estatísticas. • Administração: planejamento, organização, comando, coordenação e controle. 12 Evolução do Pensamento da Administração e Tecnologias de Gestão | Unidade 2 - A abordagem clássica da Administração Observe, na figura a seguir, as funções da empresa. Figura 2.4: Funções da empresa EM PR ES A Função comercial Função financeira Função de administração Função de segurança Função de contabilidade Função técnica Planejamento Organização Comando Coordenação Controle Fonte: Maximiano (2015, p. 68). Lembre-se de que cada área empresarial tem, sob sua responsabilidade, diferentes funções. A área administrativa demanda planejamento, organização, comando, coor- denação e controle. Atenção Perceba que, para Fayol, o conceito de administração está ligado ao ato de administrar, englobando as funções de administrador, as quais estão descritas a seguir, de acordo com Maximiano (2015): • prever o futuro e traçar o programa de ação; • organizar, isto é, constituir o duplo organismo material e social da empresa; • comandar, o que significa dirigir e orientar o pessoal; • coordenar: ligar, unir e harmonizar todos os atos e esforços coletivos; • controlar compreende garantir que tudo ocorra de acordo com as regras estabelecidas e as ordens dadas. Chiavenato (2014) acha importante informar que nenhuma organização pode fazer mais do que per- mitem seus principais administradores, afinal de contas, o gargalo está sempre na parte superior da garrafa. De todas as tarefas de uma organização, a mais difícil, mas também a mais importante, é estruturar sua alta administração. 13 Evolução do Pensamento da Administração e Tecnologias de Gestão | Unidade 2 - A abordagem clássica da Administração 2.3.1 O nível gerencial As atividades para o nível gerencial são a essência da administração. Sua característica principal é conseguir resultados por meio de terceiros. Chiavenato (2014) afirma que as atividades gerenciais são divididas em três níveis, cada um com res- ponsabilidades específicas, conforme apresentamos a seguir. Gerência geral Comando geral do processo produtivo e acionamento dos recursos disponíveis para a reali- zação dos objetivos fixados pelo nível de direção. Gerencia unidades complexas, englobando mais de uma função. Às vezes, esses gerentes são responsáveis por empresas subsidiárias. Gerência média (ou funcional) Comando das atividades de operações especializadas, como: finanças, marketing, recursos humanos, manutenção etc. Supervisão imediata Comando da realização propriamente dita e das tarefas, implicando contato direto com os executores. São os supervisores de primeira linha. Ainda de acordo com Chiavenato (2014, p. 34-35): O papel dos gerentes é fundamental para obter a cooperação dos subordinados, para os quais ele representa a empresa e deve ser capaz de motivá-los e fazê-los “vestir a camisa”. Por outro lado, deve ser capaz de levar aos níveis superiores as aspirações, os desejos e as necessidades do seu pessoal. Um gerente que não prestigia os subordinados não consegue mantê-los dedicados. 2.4 A burocracia de Weber Max Weber nasceu no dia 21 de abril de 1864, na Alemanha. Foi um sociólogo que se preocupou com o estudo da organização burocrática e, por isso, propôs a teoria da burocracia. (CHIAVENATO, 2014). 14 Evolução do Pensamento da Administração e Tecnologias de Gestão | Unidade 2 - A abordagem clássica da Administração Conforme Maximiano (2015), o ponto central dos estudos de Weber é a investigação sobre a ação social. Para esse sociólogo, as normas que compartilhamos na sociedade só se tornam concretas quando se manifestam em cada um de nós, sob forma de motivação. Cada sujeito age levado por um motivo, orientando-se pela tradição, por interesses racionais ou pela afetividade. Figura 2.5: A ação social Fonte: Plataforma Deduca (2018). Para Weber, a ação social consiste na conduta humana, dotada de sentido e orientada pela ação de outros, apresentando quatro formas distintas: 1. Ação racional com relação a fins: determinada pela expectativa de alcançar os objetivos racio- nalmente avaliados e perseguidos. 2. Ação racional com relação a um valor: definida pela crença consciente no valor (moral, religiosoe estético) de uma determinada conduta. 3. Ação afetiva: ditada por afetos ou por estados sentimentais e emocionais. 4. Ação tradicional: ditada pelos hábitos, pelos costumes e pelas crenças. Chiavenato (2014) afirma que a aplicação da burocracia de Weber levou, em muitos casos, a um excesso de normas e de regulamentos impessoais, não condizentes com a agilidade e a flexibilidade das orga- nizações modernas. No entanto, ainda é empregada em grandes administrações públicas, por falta de substitutos eficazes para alguns casos. Para Weber, a burocracia deveria ter as seguintes características: 1. organização contínua de cargos, limitados por normas escritas, às quais estão subordinados os detentores de poder, o sistema administrativo e os dominados; 2. divisão de trabalho definida e sistemática, com áreas específicas de competência; 15 Evolução do Pensamento da Administração e Tecnologias de Gestão | Unidade 2 - A abordagem clássica da Administração 3. cargos organizados segundo o princípio hierárquico; 4. regras e normas técnicas claramente definidas por escrito; 5. separação entre propriedade e administração, ou seja, as atividades administrativas deverão ser exercidas por profissionais contratados em virtude de suas qualificações técnicas. Ainda na visão de Weber, as ênfases da burocracia serão as seguintes: 1. formalização (obediência a normas, rotinas, regras, regulamentos etc.); 2. divisão do trabalho; 3. hierarquia; 4. impessoalidade; 5. profissionalização e competência técnica dos empregados. De acordo com Chiavenato (2014), a descrição de Weber sobre a burocracia não levou em conta a cha- mada organização informal nem o excesso de formalismo, que é fonte das denominadas disfunções da burocracia. Vamos verificar quais são as características das disfunções da burocracia. 2.4.1 Disfunções da burocracia Quando as características da burocracia são levadas ao extremo, o excesso de rigidez e a falta de flexi- bilidade fazem surgir as disfunções da burocracia: no lugar de propiciar segurança e qualidade, acaba por emperrar o andamento dos serviços e a produção de bens, ou seja, é como se o sistema criasse vida própria. É a burocracia pela burocracia, que perde sentido e finalidade, beirando o absurdo, ao exigir carimbos e comprovantes desnecessários. Confira a seguir as principais características e disfunções da burocracia, conforme colocado por Chia- venato (2014). Quadro 2.2: Características e disfunções da burocracia Engessamento de regras e regulamentos No modelo ideal de burocracia de Weber, as regras e os regulamentos têm objetivo de normatizar os procedimentos, ajudando, assim, a aumentar a produtividade e a melhorar a qualidade do que é produzido e realizado. No entanto, a falta de flexibilidade na aplicação de regras e regulamentos faz com que estes deixem de ser um meio para se atingir um dado fim, transformando-se em um objetivo em si mesmo: é o momento em que as pessoas cumprem regras e regulamentos sem saber o motivo pelo qual estão cumprindo. Excesso de documentação Para formalizar tudo e controlar a qualidade e a produtividade, é produzida uma quantidade excessiva de documentos, que geram perda de tempo – tanto no preenchimento de formulários e papéis quanto no resgate de informações. 16 Evolução do Pensamento da Administração e Tecnologias de Gestão | Unidade 2 - A abordagem clássica da Administração Despersonalização de relacionamentos Como nos sistemas burocráticos o poder está no cargo, e não nas pessoas, as relações interpessoais ficam em segundo plano. No entanto, o ser humano necessita de interações sociais. A despersonalização pode provocar estresse excessivo. Autoridade aparente Como a autoridade é exercida pelo cargo, busca-se exibir sinais exteriores que reforcem tal posição, como uniformes, crachás de identificação com o cargo em destaque, placas na porta etc. Autoridade descontrolada Como a pessoa está em um cargo de autoridade, passa a utilizar esse poder de maneira agressiva. Fonte: Adaptado de Chiavenato (2014). 17 Evolução do Pensamento da Administração e Tecnologias de Gestão | Unidade 2 - A abordagem clássica da Administração Nesta unidade, estudamos a abordagem clássica da administração, com ênfase nos seguintes tópicos: • As primeiras teorias da administração do século XX. • A administração científica de Frederick Winslow Taylor, com destaque para os conceitos relacio- nados à padronização das ferramentas e ao estudo dos tempos e movimentos. • O modelo de produção fordista, entendido e aplicado por Henry Ford, com sua linha de monta- gem e de inovação. • Os processos administrativos liderados por Henri Fayol, por meio da abordagem da estrutura das organizações, dos princípios da administração e do papel dos gerentes nas organizações. • A teoria da burocracia de Max Weber e suas disfunções. Conheça mais sobre as divergências e convergências entre os princípios da adminis- tração pública brasileira e os princípios de Henri Fayol. Acesse: <http://periodicos. uesc.br/index.php/reflexoeseconomicas/article/view/1324/1493>. Saiba mais 18 Síntese CHIAVENATO, I. Introdução à teoria geral da administração. 9. ed. São Paulo: Manole, 2014. MAXIMIANO, A. A. Fundamentos de administração: introdução à teoria geral e aos processos da administração. 3. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2015. 19 Referências 2.1 Primeiras teorias da administração do século XX 2.2 A linha de montagem e o fordismo 2.2.1 O fordismo 2.3 Aportes de Fayol à Administração científica 2.3.1 O nível gerencial 2.4 A burocracia de Weber 2.4.1 Disfunções da burocracia