Buscar

PRÉVIAS 1, 2 E 3 DIREITO PENAL IV


Continue navegando


Prévia do material em texto

Direito Penal IV – Parte Especial
1ª Prévia: Considerando o disposto no art. 121 e parágrafos do Código Penal, dê a solução para o seguinte caso (peso: 3,0 pontos)
Ao tomar conhecimento que sua noiva contratara uma empresa concorrente para cuidar da reforma de um imóvel, seu noivo, indignado, resolveu se vingar. Armou-se com um revólver e surpreendeu à jovem quando saia de casa, desfechando-lhe três tiros que lhe causaram a morte.
O caso em questão trata – se de homicídio (art. 121º do CP) que é a eliminação da vida humana extrauterina praticada por outra pessoa. O artigo 121, em seu parágrafo segundo, do Código Penal brasileiro, denota os casos de aumento de pena ao crime de homicídio doloso. Tais casos são comumente chamados de qualificadoras.
As qualificadoras são circunstâncias reveladoras de maior periculosidade ou extraordinário grau de perversidade do agente, portanto o legislador impõe sanções mais gravosas, aumentando à pena-base do crime de homicídio doloso, estabelecendo-a num mínimo de 12 (doze) anos e num máximo de 30 (trinta) anos.
No trecho apresentado para análise no caso fictício é possível observar as seguintes qualificadoras: II por motivo fútil, IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido, VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino.
Homicídio por motivo fútil significa matar por motivo de pequena importância, insignificante, ocorre à falta de proporção entre a causa e o crime.
Homicídio mediante recurso que dificulte ou torne impossível a defesa da vítima, pois o agente agiu de surpresa e com uso da arma de fogo impossibilitando a defesa da vítima.
Homicídio cometido contra a mulher por razões da condição de sexo feminino, conhecido popularmente como feminicídio, foi introduzido no código penal pela Lei 13104/2015, no art. 121 VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino, a fim de melhor esclarecer o alcance do dispositivo, o legislador inseriu no art. 121 § 2º-A, “há razões condição de sexo feminino quando o crime envolve: I – violência doméstica ou familiar”. 
Incidindo mais de uma qualificadora no crime de homicídio basta uma para qualificá-lo; as demais devem ser valoradas como circunstâncias agravantes, na hipótese de previsão legal, ou, de forma residual, como circunstâncias judiciais negativas, na pena-base, não havendo que se falar em bis in idem.
De acordo com o Supremo Tribunal Federal, “na hipótese de concorrência de qualificadoras num mesmo tipo penal, uma delas deve ser utilizada para qualificar o crime e as demais devem ser consideradas como circunstâncias agravantes genéricas, se cabíveis, ou, residualmente, como circunstâncias judiciais”. (Trecho da ementa do HC 99809, Relator (a): Min. DIAS TOFFOLI, Primeira Turma, julgado em 23/08/2011, DJe-178 DIVULG 15-09-2011 PUBLIC 16-09-2011 EMENT VOL-02588-01 PP-00048). 
Portanto o crime cometido pelo agente é o homicídio qualificado, art. 121º VI, com pena base de reclusão de 12 a 30 anos com as agravantes do Art. 61 do CP alínea a: motivo fútil e alínea c: à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação, ou outro recurso que dificultou ou tornou impossível a defesa do ofendido, cujo podem aumentar a pena em 1/6 (um sexto) e 2/3 (dois terços).
2ª PRÉVIA (3 PONTOS) Dois jovens de 18 anos, homossexuais, iniciam um relacionamento. Os pais de ambos não aceitam o namoro, proibindo-os de se relacionar. Diante da forte oposição, os jovens resolvem se matar. Conseguem adquirir uma arma de fogo. Um deles faz um disparo na cabeça do outro e depois contra a sua própria cabeça. O barulho chama a atenção de outras pessoas que levam ambos para um hospital. Ambos sobrevivem, embora com gravíssimas lesões. 
Obs.: para melhor compreensão, adotar-se-á diferenciação dos jovens como A e B – sendo A o que efetuou disparo contra B.
	Ante o exposto, cumpre discorrer acerca de algumas definições doutrinárias sobre a resolução do caso fictício:
Ocorre tentativa quando, não obstante praticados os atos de execução para a ocorrência da morte, ela não advém “... Por circunstâncias alheias à vontade do agente.” (artigo 14, inciso II, do Código Penal).
No caso apresentado, o crime praticado por A em relação a B é de tentativa de homicídio. No caso, a vítima (B) sobreviveu mesmo depois de alvejada por disparos de arma de fogo. O evento morte não ocorreu apesar do esforço do autor em tentar obtê-lo.
Quando a vítima sobreviver da tentativa e restar lesionada, contudo, não se pode reconhecer o enquadramento da conduta do autor como sendo crime de lesão corporal, justamente porque o dolo (o animus necandi) dele foi muito além da mera intenção de ofender a integridade física. O elemento subjetivo, nessas hipóteses, será, então, o que difere o homicídio frustrado (tentado) de algum outro delito menos grave e (ao menos materialmente) consumado, como pode ser a lesão corporal.
Já em relação ao crime previsto no art. 122 (praticado por B), e em consonância com o caso apresentado, conceitua a doutrina sobre o tipo penal: 
Induzir: significa despertar, dar, criar a ideia na cabeça da vítima a qual ainda não possui. Ex: (A vítima conta seus problemas a um sujeito e ele sugere que dê fim a sua vida).
Instigar: significa reforçar, encorajar uma ideia já existente. Ex: (Sujeito em cima do prédio e, a multidão em baixo gritando pula, pula).
Auxiliar: significa dar apoio material ao ato suicida, disponibilizar os meios materiais para que o suicídio morra. Ex: (emprestar arma de fogo para que a vítima se suicide).
São duas as modalidades de participação ao suicídio - Moral: (Induzir e Instigar); e Material: (Auxiliar).
A Participação ao suicídio se diferencia do Homicídio, pois, na primeira o agente ajuda a vítima se matar, já no homicídio o agente mata a pessoa mesmo a pedido da própria vítima. A participação ao suicídio se dá com a consciência da vítima, ela precisa querer o resultado.
Ademais, cumpre ressaltar que o crime de Participação ao Suicídio se consuma com a morte ou lesão corporal de natureza grave. Se não ocorrer morte ou lesão corporal de natureza a fato é atípico. Não é admitido tentativa no crime de Participação ao Suicídio.
Logo, pode-se concluir que A responderá por tentativa de homicídio (art. 14, inciso II, do Código Penal), uma vez que por motivos alheios à sua vontade, não logrou êxito em seu objetivo original (dolo) – ultrapassando, no momento em que efetuou disparo contra B, a linha de indutor, instigador ou auxiliador ao crime previsto no art. 122 do Código Penal. Já B praticou o crime previsto no art. 122 do CP - induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça – uma vez que pactuou a morte com A e o induziu à pratica do suicídio (tentativa de suicídio, conforme previsão do próprio art. 122), com pena de reclusão de um a três anos, uma vez que restou claro a lesão corporal de natureza grave em A. 
3ª PRÉVIA (4,0 PONTOS: A namorada de Asdrúbal engravida. Resolve ter a criança. O namorado não aceita a decisão e, depois de muita conversa, convence-a a abortar. A jovem, então, estando na 5ª semana de gravidez, vai a uma parteira e interrompe a gestação. Asdrúbal, a namorada e a parteira praticaram crime? Fundamente.
R.: 	O caso em questão trata-se do crime de aborto (Art. 124 a 127 do C.P), que é a interrupção da gravidez com a consequente morte do produto da concepção. O aborto é possível desde o início da gravidez, entretanto o momento exato em que a gravidez inicia é tema controvertido.
	A teoria concepcionista defende que a vida começa a partir da concepção, isto é, quando o espermatozoide penetra o ovócito e ambos se fundem (fecundação), a teoria da gastrulação a vida tem início com o processo de desenvolvimento embrionário da gástrula até a néurula, na qual usa as características fisiológicas do embrião para designar um marco inicial da vida como um ser humano e a teoria da formação dos rudimentos do sistema nervoso central o marco do início da vida seriaquando se desenvolve a organização básica do sistema nervoso central.
	Discordando das três teorias apresentadas anteriormente o direito penal adotou a corrente nidatória que o entendimento é a vida se inicia a partir do momento em que o embrião se fixa no útero, ocorrem poucos dias após a fecundação, por isso que métodos como o DIU (dispositivo intrauterino) e a pílula do dia seguinte não são considerados métodos abortivos para o direito penal.
	No Art. 29º do código penal o legislador define o concurso de pessoas como “Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade”, portanto, o caso estudado houve o concurso de pessoas que na doutrina, tem-se definido o concurso de agentes como a reunião de duas ou mais pessoas, de forma consciente e voluntária, concorrendo ou colaborando para o cometimento de certa infração penal. 
	O direito penal adotou, como regra, a teoria monista, determinando que todos os integrantes de uma infração penal incidem nas sanções de um único e mesmo crime (Art. 29º CP), nas exceções o legislador adotou a teoria dualista, distinguindo a atuação de autores e partícipes, permitindo uma efetiva dosagem de pena de acordo com a efetiva participação e eficácia causal da conduta de cada partícipe, na mediada da culpabilidade perfeitamente individualizada.
	Para configurar concurso de pessoas envolvendo a gestante e um terceiro, é necessário que a gestante tenha uma função ativa no aborto e o terceiro tenha participação. Se a gestante apresentar tão somente o consentimento, aplica-se o artigo 126 ao terceiro e o artigo 124 à gestante, inexistindo concurso. Se a gestante e o terceiro praticarem juntos o aborto, aplica-se o artigo 124 aos dois, configurando o concurso. Assim, se o terceiro, nos moldes do artigo 29, concorrer para o crime do artigo 124, seja ajudando a gestante a abortar ou apenas influenciando no âmbito do consentimento. O que importaria nesse ponto seria a atitude da gestante. Se houve consentimento dela, atitude executória dela e atividade de um terceiro, o artigo 124 combinado com o artigo 29 aplica-se especificamente ao caso. Porém, se houve somente o consentimento dela e a atividade de um terceiro, aplica-se o artigo 126 para o terceiro e o artigo 124 para a gestante, pois são crimes independentes: a gestante consentiu e o terceiro praticou o aborto. Ao contrário de a gestante praticar o aborto juntamente com o terceiro, como no caso anterior.
Logo, ante as hipóteses levantadas e o caso fictício apresentado, conclui-se que a gestante praticou o crime nos termos do artigo 124 “Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento”, pois, embora inicialmente não tenha concordado como o aborto, houve o consentido no momento do fato, sendo o aborto cometido na quinta semana de gravidez a doutrina chama de aborto embrionário (aborto na fase de embrião).
O namorado que induziu e instigou a gestante a provocar o aborto, concorre para o crime nos termos do artigo 126 e a parteira, por sua vez, provocando o aborto na gestante com o seu consentimento, praticou o crime nos termos do artigo 126 “Provocar aborto com consentimento da gestante”. Neste caso, o direito penal optou por adotar a teoria pluralista, ou seja, cada agente responde por um crime, de acordo com a sua conduta.