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RESUMO DE DIREITO CONSTITUCIONAL - ALISSA SUGUI
ESPÉCIES NORMATIVAS
MEDIDA PROVISÓRIA
Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional.
§ 1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria:
I - relativa a: 
a) nacionalidade, cidadania, direitos políticos, partidos políticos e direito eleitoral; 
b) direito penal, processual penal e processual civil;
c) organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a garantia de seus membros; 
d) planos plurianuais, diretrizes orçamentárias, orçamento e créditos adicionais e suplementares, ressalvado o previsto no art. 167, § 3º;
II - que vise a detenção ou seqüestro de bens, de poupança popular ou qualquer outro ativo financeiro;
III - reservada a lei complementar; 
IV - já disciplinada em projeto de lei aprovado pelo Congresso Nacional e pendente de sanção ou veto do Presidente da República. 
§ 2º Medida provisória que implique instituição ou majoração de impostos, exceto os previstos nos arts. 153, I, II, IV, V, e 154, II, só produzirá efeitos no exercício financeiro seguinte se houver sido convertida em lei até o último dia daquele em que foi editada. 
§ 3º As medidas provisórias, ressalvado o disposto nos §§ 11 e 12 perderão eficácia, desde a edição, se não forem convertidas em lei no prazo de sessenta dias, prorrogável, nos termos do § 7º, uma vez por igual período, devendo o Congresso Nacional disciplinar, por decreto legislativo, as relações jurídicas delas decorrentes. 
§ 4º O prazo a que se refere o § 3º contar-se-á da publicação da medida provisória, suspendendo-se durante os períodos de recesso do Congresso Nacional. 
§ 5º A deliberação de cada uma das Casas do Congresso Nacional sobre o mérito das medidas provisórias dependerá de juízo prévio sobre o atendimento de seus pressupostos constitucionais. 
§ 6º Se a medida provisória não for apreciada em até quarenta e cinco dias contados de sua publicação, entrará em regime de urgência, subseqüentemente, em cada uma das Casas do Congresso Nacional, ficando sobrestadas, até que se ultime a votação, todas as demais deliberações legislativas da Casa em que estiver tramitando.
§ 7º Prorrogar-se-á uma única vez por igual período a vigência de medida provisória que, no prazo de sessenta dias, contado de sua publicação, não tiver a sua votação encerrada nas duas Casas do Congresso Nacional.
§ 8º As medidas provisórias terão sua votação iniciada na Câmara dos Deputados.
§ 9º Caberá à comissão mista de Deputados e Senadores examinar as medidas provisórias e sobre elas emitir parecer, antes de serem apreciadas, em sessão separada, pelo plenário de cada uma das Casas do Congresso Nacional. 
§ 10. É vedada a reedição, na mesma sessão legislativa, de medida provisória que tenha sido rejeitada ou que tenha perdido sua eficácia por decurso de prazo. 
§ 11. Não editado o decreto legislativo a que se refere o § 3º até sessenta dias após a rejeição ou perda de eficácia de medida provisória, as relações jurídicas constituídas e decorrentes de atos praticados durante sua vigência conservar-se-ão por ela regidas. 
§ 12. Aprovado projeto de lei de conversão alterando o texto original da medida provisória, esta manter-se-á integralmente em vigor até que seja sancionado ou vetado o projeto. 
A medida provisória é adotada pelo Presidente da República, por ato monocrático, unipessoal, sem a participação do Legislativo, chamado a discuti-la somente em momento posterior, quando já adotada pelo Executivo, com força de lei e produzindo os seus efeitos jurídicos.
Origem
A medida provisória foi estabelecida pela CF/88 com a esperança de corrigir as distorções verificadas no regime militar, que abusava de sua função atípica legiferante por intermédio do decreto-lei. Entretanto, o real sentido das medidas provisórias foi alterado, trazendo insegurança jurídica, verdadeira “ditadura do Executivo”, governando por inescrupulosas “penadas”, em situações muitas das vezes pouco urgentes e nada relevantes.
Assim, até o advento da EC n˚ 32/2001, constatava-se a total desvirtuação do instituto da medida provisória, admitindo-se, com o consentimento do STF e do próprio Congresso Nacional, a reedição das medidas provisórias, mantendo-se os efeitos de lei a partir da primeira edição, desde que não houvesse expressa rejeição pelo Congresso Nacional e fosse dentro do seu antigo prazo de eficácia de 30 dias.
A Emenda Constitucional nº 32, prevendo as regras de processo legislativo, teve como finalidade diminuir a excessiva discricionariedade na edição de medidas provisórias, prevendo uma série de limitações materiais, bem como a impossibilidade de reedições sucessivas.
Nos termos do art. 62, caput, da CF/88, em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas provisórias com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional. Assim, a MP individualiza-se por nascer apenas pela manifestação exclusiva do Chefe do Executivo, que a publica no D.O.U.
Limites Materiais
Embora consubstancie espécie normativa primária, é certo que a medida provisória não pode disciplinar qualquer matéria, em virtude da existência de limitações constitucionais à sua edição (CF, art. 25, § 2˚; art. 62, § 1˚; art. 246).
É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria (CF, art. 62, § 1˚):
I - relativa a:
a) nacionalidade, cidadania, direitos políticos, partidos políticos e direito eleitoral;
b) direito penal, processual penal e processual civil;
c) organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a garantia de seus membros;
d) planos plurianuais, diretrizes orçamentárias, orçamento e créditos adicionais e suplementares, ressalvado o previsto no art. 167, § 3.o;
II - que vise a detenção ou sequestro de bens, de poupança popular ou qualquer outro ativo financeiro;
III - reservada a lei complementar;
IV - já disciplinada em projeto de lei aprovado pelo Congres- so Nacional e pendente de sanção ou veto do Presidente da República.
Anote-se que - pela alínea "b" do inciso I do § 1. do art. 62 da Constituição Federal - há vedação expressa para a edição de medida provisória sobre matéria relativa a direito penal, processual penal e processual civil. Logo, contrario sensu, entende-se que a disciplina dos demais ramos do direito (direito civil, direito do trabalho, direito administrativo etc.) por medida provisória é permitida.
A alínea "d" do inciso I do § 1˚ do art. 62 - ao vedar a adoção de medida provisória sobre matéria relativa a planos plurianuais, diretrizes orçamentárias, orçamento e créditos adicionais e suplementares - ressalva o previsto no art. 167, § 3˚, da Constituição Federal. Significa dizer que, em se tratando de matéria orçamentária, só é permitida a adoção de medida provisória para a abertura de crédito extraordinário, para atender a despesas imprevisíveis e urgentes, como as decorrentes de guerra, comoção interna ou calamidade pública.
É relevante destacar, ainda, que os direitos individuais e o direito tributário não foram incluídos entre as matérias insuscetíveis de serem tratadas por meio de medida provisória.
Embora não haja disposição constitucional expressa nesse sentido, é certo que as matérias de iniciativa e competência privativas do Congresso Nacional (art. 49), da Câmara dos Deputados (art. 51), do Senado Federal (art. 52), do Poder Judiciário, do Ministério Público e dos tribunais de contas também não podem ser disciplinadas por medida provisória.
Processo de criação de Medida Provisória, segundo EC n˚ 32/2001
Legitimado para a edição de MP: o Presidente da República (competência exclusiva – indelegável)
Pressupostos constitucionais: relevância e urgência
Prazo de duração da MP: uma vez adotada a MP pelo Presidente da República,ela vigorará por 60 dias, contados de sua publicação no Diário Oficial. Contudo, segundo o art. 62, § 4˚, o prazo será suspenso durante os períodos de recesso parlamentar. Ademais, a EC n˚ 32/2001 estabeleceu que, em eventual convocação extraordinária, havendo medidas provisórias em vigor na data de sua convocação, serão elas automaticamente incluídas na pauta de convocação (art. 57, § 8˚)
Prorrogação do prazo: Caso, ao final do prazo de 60 dias a partir da publicação no D.O.U., não tenha sido encerrada a votação nas duas Casas do Congresso Nacional, o prazo inicial será prorrogado por mais 60 dias, uma única vez, totalizando o prazo de 120 dias, quando então, se não for convertida em lei, a MP perderá a eficácia desde a sua edição
Eficácia da MP: conforme o art. 62, § 3˚, as medidas provisórias perderão eficácia desde a edição, operando efeitos ex tunc, confirmando a sua efemeridade e precariedade, se não forem convertidas em lei no prazo de 60 dias, prorrogável uma vez por igual período, devendo o Congresso Nacional disciplinar, por decreto legislativo, as relações jurídicas delas decorrentes. A prorrogação dá-se automaticamente.
Regime de urgência constitucional: o art. 62, § 6˚, da CF/88 dispõe que, se a medida provisória não for apreciada em até 45 dias contados de sua publicação, entrará em regime de urgência, subsequentemente, em cada uma das Casas do Congresso Nacional, ficando sobrestadas, até que se ultime a votação, todas as demais deliberações legislativas da Casa em que estiver tramitando. Vale enfatizar: sempre que houver trancamento de pauta na Câmara dos Deputados, a MP, invariavelmente, chegará ao Senado Federal já trancando a sua pauta (automaticamente, sem contagem de novo prazo de quarenta e cinco dias no Senado).
Reedição de medida provisória: o § 10˚ do art. 62 da CF/88 estabelece ser vedada a reedição de medida provisória, na mesma sessão legislativa, expressamente rejeitada pelo Congresso Nacional, ou que tenha perdido a sua eficácia por decurso de prazo. Com efeito, em decorrência do princípio da irrepetibilidade, previsto no art. 67 da Constituição, o Presidente da República não pode se valer de medida provisória para disciplinar matéria que já tenha sido objeto de projeto de lei anteriormente rejeitado na mesma sessão legislativa.
IMPORTANTE! 
NÃO confundir os dois prazos em relação ao processo legislativo de medida provisória: (a) prazo para apreciação da medida provisória (conversão em lei ou rejeição) – 60 dias; (b) prazo para trancamento da pauta da Casa Legislativa em que estiver tramitando – 45 dias.
Procedimento da Medida Provisória
Adotada a MP pelo Presidente da República, será submetida, de imediato, ao Congresso Nacional, sendo que, de acordo com o art. 62, §§ 5˚ e 9˚, da CF/88, as medidas provisórias serão apreciadas por uma comissão mista (composta de senadores e deputados), que apresentará um parecer favorável ou desfavorável à sua conversão em lei, examinando a MP, devendo sobre ela emitir parecer, apreciando os seus aspectos constitucionais (inclusive os pressupostos de relevância e urgência) e de mérito, bem como a sua adequação financeira e orçamentária e o cumprimento, pelo Presidente da República, da exigência contida no art. 2˚, § 1˚, da Res. n˚ 1/2001-CN, qual seja, no dia da publicação da MP no D.O.U. ter enviado o seu texto ao Congresso Nacional, acompanhado da respectiva mensagem e de documento expondo a motivação do ato. 
O parecer prévio da comissão mista é meramente opinativo, mas essa fase - anterior ao exame, em sessão separada, pelo plenário de cada uma das Casas do Congresso Nacional - é de observância obrigatória no processo constitucional de conversão de medida provisória em lei ordinária. Assim, a substituição do exame da comissão mista por mero parecer do relator implica flagrante inconstitucionalidade formal.
Emitido o parecer, passar-se-á à apreciação pelo plenário de cada uma das Casas, em sessão separada, iniciando-se obrigatoriamente pela Câmara dos Deputados, sendo o Senado Federal a Casa revisora. O Plenário de cada uma das Casas do Congresso Nacional decidirá, em apreciação preliminar e por maioria simples, o atendimento ou não dos pressupostos constitucionais de relevância e urgência de medida provisória, nos termos do § 5º, do art. 62, da Constituição Federal, ou de sua inadequação financeira ou orçamentária, antes do exame de mérito.
Se o Plenário da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal decidir no sentido do não atendimento dos pressupostos constitucionais ou da inadequação financeira ou orçamentária da Medida Provisória, esta será arquivada.
Na hipótese de ela ser integralmente convertida em lei, sem alteração de mérito, o Presidente da Mesa do Congresso Nacional, a promulgará, remetendo-a para publicação (observa-se que, nesse caso, não haverá possibilidade de sanção ou veto por parte do Presidente da República, uma vez que a medida provisória foi aprovada exatamente nos termos por ele propostos).
Se for integralmente rejeitada (ou perder sua eficácia por decurso de prazo, em decorrência da não apreciação pelo Congresso Nacional no prazo constitucionalmente estabelecido – rejeição tácita), a medida provisória será arquivada, o Congresso Nacional baixará ato declarando-a insubsistente e deverá disciplinar, por meio de decreto legislativo, no prazo de sessenta dias contados da rejeição ou da perda de eficácia por decurso de prazo, as relações jurídicas dela decorrentes; caso o Congresso Nacional não edite o decreto legislativo no prazo de sessenta dias, as relações jurídicas surgidas no período permanecerão regidas pela medida provisória.
Caso sejam introduzidas modificações no texto adotado pelo Presidente da República (conversão parcial), a medida provisória será transformada em “projeto de lei de conversão”, e o texto aprovado no Legislativo será encaminhado ao Presidente da República, para que o sancione ou vete (a partir da transformação da medida provisória em “projeto de lei de conversão”, este segue idêntico trâmite ao dos projetos de lei em geral); aos dispositivos eventualmente rejeitados aplica-se o descrito no parágrafo anterior.
O art. 62, § 12˚ estabelece que, aprovado o projeto de lei de conversão alterando o texto original da medida provisória, esta continuará integralmente em vigor até que seja sancionado ou vetado o projeto. Enquanto o projeto de lei de conversão estiver pendente da sanção ou do veto, o texto original da medida provisória manter-se-á integralmente em vigor, ainda que expirado o prazo constitucionalmente fixado para a apreciação dessa espécie normativa (sessenta + sessenta dias, desconsiderados os períodos de recesso parlamentar).
Durante o trâmite legislativo, a medida provisória poderá receber emendas parlamentares, desde que haja pertinência temática entre estas e o conteúdo da norma original, apresentada pelo Presidente da República. Essa exigência de pertinência temática foi reconhecida em importante decisão do Supremo Tribunal Federal, na qual restou assentado que o Congresso Nacional não pode, por meio de emendas parlamentares, incluir em projeto de lei de conversão de medida provisória matéria estranha àquelas tratadas na norma original - isto é, foi declarada contrária à Constituição a prática do assim chamado "contrabando legislativo".
Perda da Eficácia
Se o Congresso Nacional não editar o decreto legislativo no prazo de sessenta dias, as relações jurídicas constituídas e decorrentes de atos praticados durante a vigência da medida provisória permanecerão por ela regidas (CF, art. 62, § 11).
Por força do art. 62 da Carta Política, a medida provisória perderá sua eficácia desde a edição (ex tunc), voltando a produzir efeitos, em todo o período, a lei ordinária pretérita (em razão da exclusão retroativa, do ordenamento jurídico, do ato que lhe suspendia a eficácia).
Vale dizer,o decreto legislativo do Congresso Nacional não disciplinará "o período de vigência da medida provisória", mas sim "as relações jurídicas que se constituíram no período de vigência da medida provisória". O período de vigência da medida provisória volta a ser regulado pela legislação ordinária anterior, se houver.
Retirada
As medidas provisórias, com a sua publicação no Diário Oficial, subtraem-se ao poder de disposição do Presidente da República e ganham, em consequência, autonomia jurídica absoluta, desvinculando-se da autoridade que as instituiu.
Assim, o STF não admite que seja retirada do Congresso Nacional medida provisória ao qual foi remetida para o efeito de ser, ou não, convertida em lei. Vale dizer: não pode o Presidente da República solicitar ao Congresso Nacional a retirada de medida provisória por ele anteriormente enviada para apreciação. 
Revogação
Se, por um lado, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal não admite que medida provisória submetida ao Congresso Nacional seja retirada pelo Chefe do Executivo, por outro, aceita o Tribunal que medida provisória nessa situação seja revogada por outro ato normativo da mesma espécie.
Em tal hipótese - quando medida provisória ainda pendente de apreciação pelo Congresso Nacional é revogada por outra - ficará suspensa a eficácia daquela que foi objeto de revogação, até que haja pronunciamento do Poder Legislativo sobre a medida provisória revogadora. Posteriormente, na apreciação da medida provisória revogadora, se esta for convertida em lei, tomará definitiva a revogação; se não o for, retomará os seus efeitos a medida provisória que houvera sido objeto de revogação pelo período que ainda lhe restava para vigorar.
Apreciação Judicial dos Pressupostos Constitucionais
Matéria objeto de grande controvérsia na doutrina e, mesmo, na jurisprudência diz respeito à competência para aferição dos pressupostos constitucionais de urgência e relevância, justificadores da edição de medida provisória.
A questão foi objeto de grande discussão também no âmbito do STF, tendo a Corte firmado orientação de que a aferição dos pressupostos de relevância e urgência tem caráter político, ficando sua apreciação, em princípio, por conta do Chefe do Executivo (no momento da adoção da medida) e do Poder Legislativo (no momento da apreciação da medida).
Todavia, se uma ou outra, relevância ou urgência, evidenciar-se improcedente, no controle judicial, o Poder Judiciário deverá decidir pela ilegitimidade constitucional da medida provisória.
Na esteira dessa orientação, temos que os conceitos de relevância e de urgência a que se refere o art. 62 da Constituição, como pressupostos para a edição de medidas provisórias, decorrem, em princípio, do juízo de discricionariedade, oportunidade e de valor do Presidente da República e do Poder Legislativo, mas admitem o excepcional controle judiciário quando há excesso do poder de legislar.
A conversão da medida provisória em lei, pelo Congresso Nacional, tem o condão de convalidar o vício quanto à inexistência de urgência e relevância para a sua edição?
Examinando essa questão, o Supremo Tribunal Federal firmou entendimento de que a lei de conversão não convalida os vícios existentes na medida provisória, isto é, tais vícios poderão ser objeto de exame pelo Poder Judiciário mesmo após a conversão em lei da medida provisória.
Significa dizer que a Corte Suprema entende que os eventuais vícios ocorridos na edição da MP, no que tange à eventual ausência dos requisitos de urgência e relevância, contaminam a lei de conversão, podendo acarretar a invalidade desta. Caso não se tenha verificado a ocorrência dos referidos pressupostos na edição da medida provisória, a sua conversão em lei pelo Congresso Nacional não tem o condão de sanar essa irregularidade.
Medidas Provisórias nos Estados-Membros
Os estados-membros podem adotar medidas provisórias, desde que essa espécie normativa esteja expressamente prevista na Constituição estadual e nos mesmos moldes impostos pela Constituição Federal, tendo em vista a necessidade da observância simétrica do processo legislativo federal.
Nessa esteira, entendemos que também seria legítimo aos municípios instituírem a espécie legislativa medida provisória, desde que prevista na sua Lei Orgânica e, na sua adoção, fossem fielmente observados os limites estabelecidos pela Constituição Federal.
LEI DELEGADA
“Art. 68, CF: As leis delegadas serão elaboradas pelo Presidente da República, que deverá solicitar a delegação ao Congresso Nacional.
§ 1º Não serão objeto de delegação os atos de competência exclusiva do Congresso Nacional, os de competência privativa da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal, a matéria reservada à lei complementar, nem a legislação sobre:
I - organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a garantia de seus membros;
II - nacionalidade, cidadania, direitos individuais, políticos e eleitorais;
III - planos plurianuais, diretrizes orçamentárias e orçamentos.
§ 2º A delegação ao Presidente da República terá a forma de resolução do Congresso Nacional, que especificará seu conteúdo e os termos de seu exercício.
§ 3º Se a resolução determinar a apreciação do projeto pelo Congresso Nacional, este a fará em votação única, vedada qualquer emenda”.
A lei delegada caracteriza-se como exceção ao princípio da indelegabilidade de atribuições, na medida em que a sua elaboração é antecedida de delegação de atribuição do Poder Legislativo ao Executivo, através da chamada delegação externa corporis.
Essa espécie normativa será elaborada pelo Presidente da República, após a prévia solicitação ao Congresso Nacional (art. 68, caput), delimitando o assunto sobre o qual pretende legislar. Trata-se da primeira fase do processo legislativo de elaboração da lei delegada, denominada iniciativa solicitadora.
A solicitação será submetida à apreciação do Congresso Nacional, que, no caso de aprovação, tomará a forma de resolução (art. 68, § 2˚), especificando o conteúdo de delegação e os termos de seu exercício. Será flagrantemente inconstitucional um ato de delegação genérico, vago, impreciso, que passe ao Presidente da República um verdadeiro "cheque em branco" em termos de competência legislativa.
O campo de atuação da lei delegada sofre algumas restrições, conforme o art. 68, § 1˚, sendo vedada a delegação:
De atos de competência exclusiva do Congresso Nacional (art. 49)
Dos de competência privativa da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal (arts. 51 e 52)
De matéria reservada à lei complementar
De legislação sobre: 
a organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a garantia de seus membros; 
a nacionalidade, cidadania, direitos individuais, políticos e eleitorais; 
planos plurianuais, diretrizes orçamentárias e orçamentos.
A Carta da República outorgou ao Congresso Nacional a competência para sustar os atos do Executivo que exorbitem os limites da delegação legislativa (CF, art. 49, V). O ato de sustação do Congresso Nacional surtirá efeitos não retroativos (ex nunc), porquanto não se cuida de pronúncia de inconstitucionalidade, mas sim de sustação de eficácia. Esse controle legislativo, de natureza política, tem recebido da doutrina a denominação "veto legislativo".
Entretanto, cabe ressaltar que esse controle legislativo não obsta a eventual declaração de inconstitucionalidade da lei delegada pelo Poder Judiciário. Por outro lado, o ato do Congresso Nacional, que, nos termos do art. 49, inciso V, da Carta Federal susta os efeitos de ato normativo do Poder Executivo, está sujeito ao controle repressivo judicial. Significa dizer que, baixado o ato de sustação pelo Congresso Nacional, poderá o Chefe do Executivo pleitear judicialmente a declaração de sua inconstitucionalidade.A delegação poderá ser típica ou atípica.
Na delegação típica (que é a regra, presumível nesse tipo de ato), o Congresso Nacional concede os plenos poderes para que o Presidente da República elabore, promulgue e publique a lei delegada, sem participação ulterior do Poder Legislativo, ou seja, não haverá apreciação pelo Congresso Nacional.
Na delegação atípica, a resolução poderá determinar a apreciação do projeto pelo Congresso Nacional. Dessa forma, o Presidente da República elaborará o projeto de lei delegada e o submeterá à apreciação do Congresso Nacional, que sobre ele deliberará, em votação única, vedada qualquer emenda (art. 68, § 3˚).
Nessa situação, o Congresso só poderá aprovar ou rejeitar, integralmente, o projeto elaborado pelo Presidente da República. Segundo Manoel Gonçalves Ferreira Filho, temos um caso de “inversão do processo de elaboração de leis ordinárias”, chegando a afirmar que o Congresso Nacional “sancionará” o projeto elaborado pelo Chefe do Executivo.
Elaborada a lei delegada (aprovada, quando solicitada na resolução a apreciação parlamentar), o Presidente da República a promulgará, determinando a sua publicação no órgão oficial.
Se ocorrer rejeição integral do projeto de lei delegada, este será arquivado, somente podendo ser reapresentado, na mesma sessão legislativa, por solicitação da maioria absoluta dos membros de uma das Casas do Congresso Nacional (CF, art. 67).
A delegação não vincula o Presidente da República, que, mesmo diante dela, poderá não editar lei delegada alguma, vale dizer, mesmo havendo solicitado a delegação e obtido a resolução do Congresso Nacional o Presidente da República pode abster-se de elaborar a lei delegada.
Por outro lado, o ato de delegação do Congresso Nacional não impede que o Legislativo venha a cuidar da matéria, mediante lei, diante da omissão do Presidente da República em editar a lei delegada. A delegação não retira do Legislativo seu poder de regular a matéria, não há renúncia ao seu poder de editar lei sobre a matéria.
Da mesma forma, não há impedimento para que o Congresso Nacional, antes de encerrado o prazo fixado na resolução, revogue a delegação.
Por fim, constata-se a pouca utilização do instituto da lei delegada pelo Presidente da República, tendo em vista tanto o seu poder de iniciativa como, principalmente em termos de “agilidade” e efetividade normativa, a previsão da medida provisória.
DECRETO LEGISLATIVO
Os decretos legislativos são atos do Congresso Nacional destinados ao tratamento de matérias da sua competência exclusiva (art. 49, CF), para as quais a Constituição dispensa a sanção presidencial.
Entre as funções do decreto legislativo, destacam-se a aprovação definitiva dos tratados, acordos e atos internacionais celebrados pela República Federativa do Brasil (CF, art. 49, I) e a regulação dos efeitos de medida provisória não convertida em lei pelo Congresso Nacional (CF, art. 62, § 3˚).
O decreto legislativo não pode ser confundido com o decreto administrativo, de competência do Chefe do Executivo.
Embora a Carta Política tenha enumerado como objeto do processo legislativo a elaboração de decretos legislativos, nada disse sobre o procedimento de sua formação. Em face dessa ausência de regramento, coube aos regimentos internos das Casas Legislativas o estabelecimento do processo de formação de tal espécie normativa.
Cabe destacar, apenas, que o processo legislativo do decreto legislativo, como ato privativo do Congresso Nacional, será realizado obrigatoriamente por meio da atuação das duas Casas do Congresso Nacional, através de votação de maioria simples, e que ademais não haverá participação do Chefe do Executivo no procedimento para o fim de sanção, veto ou promulgação.
RESOLUÇÃO
As resoluções são atos utilizados pelas Casas Legislativas, separadamente, ou pelo Congresso Nacional, para dispor sobre assuntos políticos e administrativos de sua competência, que não estejam sujeitos à reserva de lei. 
Por meio das resoluções regulamentar-se-ão as matérias de competência privativa da Câmara dos Deputados (art. 51), do Senado Federal (art. 52) e algumas de competência do Congresso Nacional, fixadas, além das poucas hipóteses constitucionais, regimentalmente.
Entretanto, a Constituição Federal requer a edição de resolução, também, em outros dispositivos constitucionais, a saber:
a) a delegação legislativa para a edição de lei delegada será efetivada por meio de resolução do Congresso Nacional (art. 68, § 2˚);
b) as alíquotas máximas do imposto da competência dos estados e do Distrito Federal, sobre transmissão causa mortis e doações, de quaisquer bens ou direitos, serão fixadas por resolução do Senado Federal (art. 155, § 1˚, IV);
c) a fixação das alíquotas do ICMS aplicáveis às operações e prestações, interes- taduais e de exportação será feita por meio de resolução do Senado Federal, de iniciativa do Presidente da República ou de um terço dos senadores, aprovada pela maioria absoluta de seus membros (art. 155, § 2˚, IV);
d) é facultado ao Senado Federal, ainda, por meio de resolução, fixar as alíquotas mínimas e máximas do ICMS, nas condições estabelecidas no art. 155, § 2˚, V;
e) a fixação das alíquotas mínimas do IPVA deve ser feita por meio de resolução do Senado Federal (art. 155, § 6˚, I);
f) a suspensão de execução de lei declarada inconstitucional pelo STF é efetivada por meio de resolução do Senado Federal (art. 52, X).
Na prática, portanto, a efetiva distinção entre decreto legislativo e resolução tem sido fixada pelos regimentos das Casas Legislativas e do próprio Congresso Nacional, que apontam, matéria a matéria, quando é o caso de uma ou de outra.
Vale lembrar, apenas, que, enquanto as resoluções podem ser expedidas pela Câmara dos Deputados, pelo Senado Federal ou pelo Congresso Nacional, os decretos legislativos são atos privativos do Congresso Nacional.
A Constituição Federal não estabeleceu o processo legislativo para a elaboração da espécie normativa resolução, deixando essa matéria à competência do Regimento Interno das Casas Legislativas e do Congresso Nacional.
A promulgação da resolução será efetivada pelo Presidente da respectiva Casa, através de voto de maioria simples, ressaltando-se que, no processo legislativo de aprovação das resoluções, como ato privativo do Poder Legislativo, não haverá participação do Chefe do Executivo para o fim de sanção, veto ou promulgação.
REFERÊNCIAS
LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 22˚ ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018.
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 35˚ ed. São Paulo: Atlas, 2019. 
PAULO, Vicente; ALEXANDRINO, Marcelo. Direito constitucional descomplicado. 16˚ ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2017.

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