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O PRINCÍPIO DA FRAGMENTARIEDADE UTILIZADO PARA RESGUARDAR O DIREITO PENAL E O PRINCÍPIO DA HUMANIDADE (DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA) EM DIVERGÊNCIA COM A PSICOPATIA André Felipe Carvalho Dias Davi Limongi Amaro RESUMO O Direito penal tem por um de seus principais objetivos a proteção da sociedade, assim suas normas têm fundamentação em princípios que devem também auxiliar. O Princípio da Fragmentariedade mostra-se unicamente para separar ao Direito Penal os bens jurídicos mais importantes a vida e convívio. É exposto no respectivo artigo a contramão do Princípio da Humanidade e o quadro de psicopatia. Palavras-chave: Direito Penal. Princípios. Princípio da Fragmentariedade. Princípio da Humanidade. Dignidade da Pessoa Humana. Psicopata. Psicopatia. Sumário: 1.0 Introdução 1.1 Introdução ao Direito 1.2 Direito Penal e seus princípios 2.0 Princípio da Fragmentariedade 3.0 Princípio da Humanidade (Dignidade da Pessoa Humana) 4.0 Psicopatia 4.1 Psicopatia e Ordenamento Jurídico 5.0 Conclusão 6.0 Referências Bibliográficas 1. INTRODUÇÃO Será apresentado neste artigo a necessidade do Direito Penal desde o fundamento e organização das primeiras sociedades. Apresentando no Direito Penal atual alguns princípios que o fundamentaram e o equiparam, com o Princípio da Fragmentariedade necessário para diferenciar o Direito Penal dos demais ordenamentos jurídicos, por salvaguardar apenas os mais importantes elementos ao indivíduo e o convívio na civilização. Abordará também acerca do Princípio Humanidade (Dignidade da Pessoa Humana), seus objetivos e efeitos no ordenamento jurídico. É de difícil conceituação e também é interligado a inúmeros outros princípios. Tratará da Psicopatia e as características do seres que têm esse transtorno, fazendo uma comparação com a sua periculosidade e com alguns pontos impostos no ordenamento jurídico sendo baseados no princípio da Humanidade, mostrando a grande dificuldade atual no país em lidar juridicamente com criminosos com esse problema. 1.1 INTRODUÇÃO AO DIREITO Para entender os fundamentos dos Princípios do Direito Penal é necessário uma caminhada pelos primórdios do Direito. No princípio, assim relatado no livro de Gênesis, escrito por Moisés, onde ocorre o primeiro fato do Direito Penal, Deus expulsou do Paraíso Adão e Eva após comerem do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, logo seus descendentes, como consequência da desobediência de seus pais, também perderam a pureza e se tornaram herdeiros do pecado. Assim, em decorrência deu-se o primeiro homicídio, Caim ao invejar a oferta de seu irmão Abel à Deus, o matou. Vivemos a consequência do pecado original, todas as gerações que viveram desde os primórdios ao contemporâneo enfrentam dificuldades, grande parte dessas em relações sociais (Greco, 2017). Para se tornar possível o convívio em sociedade é fundamental um mínimo de organização social (o Estado), pela aplicação do Direito que estabelece um conjunto de condiçoẽs existenciais asseguradas pelo Estado. O Direito tem o papel de regulamentar normas que visam melhorar a relação entre os indivíduos(Maluf, 2017). Nader traz uma reflexão clara da necessidade do Direito: “Os conflitos são fenômenos naturais à sociedade, podendo-se até dizer que lhe são imanentes. Quanto mais complexa a sociedade, quanto mais se desenvolve, mais se sujeita a novas formas de conflito e o resultado é o que hoje se verifica, como já se afirmou, em que “o maior desafio não é o de como viver e sim o da convivência”.(NADER, Paulo. Introdução ao Estudo do Direito, 40ªed. 2017, página 25) O Direito, para solucionar a grande demanda de conflitos é dividido em ramos, tendo um desses ramos como específico para proteger e salvaguardar os bens jurídicos considerados mais importantes, necessários, e indispensáveis ao convívio (sobrevivência) em sociedade, como a vida, a liberdade, segurança (incolumidade física), a honra e semelhantes. Seu código é composto por normas definidoras de crimes, normas que definem condutas ou às proíbe, ante medida de segurança para aqueles que são inimputáveis e sanção para os imputáveis, abrangendo também toda a legislação penal extravagante, segundo o entendimento de Professor de Rogério Greco (2017) tratando-se do Direito Penal. 1.2 DIREITO PENAL E SEUS PRINCÍPIOS O Direito Penal assim como os demais ramos do Direito é fundamentado em Princípios, todos eles são agregados a valores, experiências, costumes, em aspectos sociológicos e filosóficos da evolução do Homem e consequentemente do Estado, visando sempre estabelecer o bem comum a todos. Temos uma grande demanda de princípios em nosso ordenamento jurídico, sendo alguns deles: Princípio da Exclusiva Proteção dos Bens Jurídicos,Princípio da Intervenção Mínima, Princípio da Insignificância, Princípio da Exteriorização ou Materialização do Fato, Princípio da Legalidade, Princípio da Lesividade, Princípio da Responsabilidade Pessoal, Princípio da Responsabilidade Subjetiva, Princípio da Culpabilidade, Princípio da Igualdade, Princípio da Presunção de Inocência, Princípio da Individualização da Pena, Princípio da Proporcionalidade, Princípio da Pessoalidade, Princípio da Adequação Social, Princípio da Fragmentariedade e Princípio da Humanidade, todos estes se inter relacionam de forma direta ou indireta, para concretizar uma das mais importantes finalidades do Direito, que é a aplicação da Justiça. Dos muitos Princípios citados no parágrafo anterior, este artigo tratará dos dois últimos citados, Princípio da Fragmentariedade e Princípio da Humanidade. 2.0 PRINCÍPIO DA FRAGMENTARIEDADE Fragmentariedade vem da palavra Fragmentar, que significa reduzir a pequenas partes, tem como sinônimo fracionar, e é nesse sentido que é aplicado esse Princípio. Entende-se que o os ramos do ordenamento jurídico são fracionados, e cada área corresponde a um matéria de valor para a sociedade, são esses ramos divididos em Públicos - Direito Constitucional, Direito Administrativo, Direito Financeiro, Direito Penal, Direito Processual, Direito Internacional Público - e Privado - Direito Civil, Direito do Trabalho, Direito Comercial, Direito Internacional Privado - além de alguns outros ramos que estão subdivididos dentro do direito. Ao Direito Penal é concedido o menor fragmento dentro do ordenamento jurídico, pois este cuida não do todo, mas do que seria a menor parte, contudo os de maior valor, que são os bens jurídicos tutelados por este (Prado, 2004). O Professor Fernando Capez ao descrever as características deste princípio, descreve que este “Trata-se de um gigantesco oceano de irrelevância, ponteado por ilhas de tipicidade, enquanto o crime é um náufrago à deriva, procurando uma porção de terra na qual se possa achegar”(Fernando Capez, 2003). Rogério Greco utiliza em sua doutrina os pensamentos de Muñoz Conde, pois percebeuo excelente esclarecimento que Muñoz nos deu sobre este princípio: “Nem todas as ações que atacam os bens jurídicos são proibidas pelo Direito Penal, nem tampouco todos os bens jurídicos são protegidos por ele. O Direito Penal, repito mais uma vez, se limita somente a castigar as ações mais graves contra os bens jurídicos mais importantes, daí seu caráter ‘fragmentário’, pois que de toda gama de ações proibidas e bens jurídicos protegidos pelo ordenamento jurídico, o Direito Penal só se ocupa de uma parte, fragmentos, se bem que da maior importância.” “Este caráter fragmentário do direito penal aparece sob uma tríplice forma nas atuais legislações penais: em primeiro lugar, defendendo o bem jurídico somente contra ataques de especial gravidade, exigindo determinadas intenções e tendências excluindo a punibilidade da comissão imprudente em alguns casos.; em segundo lugar tipificando somente uma parte do que nos demais ramos do ordenamento jurídico se estima como antijurídico; e, por último deixando, em princípio, sem castigo as ações meramente imorais, como a mentira.” (MUÑOZ CONDE, Francisco. Introducción al derecho penal, p. 71-72. Barcelona: Bosch, 1975). Este princípio é a consequência de alguns outros, o Princípio da Intervenção Mínima e Princípio da Adequação Social e da Lesividade, é classificado por alguns doutrinadores como um subprincípio. 3.0 PRINCÍPIO DA HUMANIDADE (DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA) Este é um princípio basilar, fundamental ao Ordenamento Jurídico Brasileiro, é quase que indissociável dos demais, no entanto por ter uma natureza abstrata tem por consequência uma grande demanda de interpretações, motivo este, que levam à muitos mestres do Direito o classificarem como sendo talvez o de mais difícil conceituação, pois a todos é classificado de maneira distinta mas ainda sim não deixando de ser correta. É um conceito histórico, presente desde o início das primeiras civilizações, sendo evoluído ao passar das eras crescendo de acordo com o conhecimento empírico filosófico e sociológico dos seres, abreviando este princípio preferencialmente desde a segunda metade do século XX, constata-se que teve seu destaque maior no período pós-guerra, mais precisamente em dez de dezembro de 1948 passado o fim da Segunda Guerra Mundial, onde surgiu a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Conforme o entendimento do Professor Anderson Schreiber da Universidade Estadual do Rio de Janeiro este princípio “é um valor síntese da condição humana”, desta forma tende a proteger e normatizar os direitos e garantias fundamentais da condição do ser. Complementando com dizeres de Paulo Bonavides, veremos a importância deste princípio, “nenhum princípio é mais valioso para compendiar a unidade material da Constituição que o princípio da dignidade da pessoa humana”.(Bonavides. 2001.p.233). “A ninguém pode ser imposta pena ofensiva à dignidade da pessoa humana, vedando-se reprimenda indigna, cruel, desumana, ou degradante. Este mandamento guia o Estado na criação, aplicação e execução das leis penais.”(Sanches, 2019.p. 136). Este princípio também tem por finalidade a impossibilidade da pena passar da pessoa do delinquente, Fernando capez faz um breve comentário acerca do que este princípio traz consigo: “Princípio da Humanidade: a vedação constitucional da tortura e de tratamento desumano ou degradante a qualquer pessoa (art. 5º, III), a proibição da pena de morte, da prisão perpétua, de trabalhos forçados, de banimento e das penas cruéis (art. 5º, XLVII), o respeito e proteção à figura do preso (art.5º, XLVIII, XLIX e L) e ainda normas disciplinadoras da prisão processual (art. 5º, LXI, LXII, LXIII, LXIV, LXV e LXVI), apenas para citar alguns casos, impõem ao legislador e ao intérprete mecanismos de controle de tipos legais.” (Capez, Fernando. Curso de Direito Penal parte Geral. 15ª edição. São Paulo. Saraiva. 2011. p. 40). Zaffaroni observa nesse princípio a existência de uma “ inconstitucionalidade de qualquer pena ou consequência do delito que crie uma deficiência física, como também qualquer consequência jurídica inapagável do delito”(Zaffaroni. 1991. p.139). Bitencourt traz em sua doutrina uma crítica a este princípio: “O princípio de humanidade — afirma Bustos Ramirez — recomenda que seja reinterpretado o que se pretende com “reeducação e reinserção social”, uma vez que se forem determinados coativamente implicarão atentado contra a pessoa como ser social. Contudo, não se pode olvidar que o Direito Penal não é necessariamente assistencial e visa primeiramente à Justiça distributiva, responsabilizando o delinquente pela violação da ordem jurídica. E isso, na lição de Jescheck, “não pode ser conseguido sem dano e sem dor, especialmente nas penas privativas de liberdade, a não ser que se pretenda subverter a hierarquia dos valores morais e utilizar a prática delituosa como oportunidade para premiar, o que conduziria ao reino da utopia. Dentro destas fronteiras, impostas pela natureza de sua missão, todas as relações humanas reguladas pelo Direito Penal devem ser presididas pelo princípio de humanidade”.(BITENCOURT, César Roberto. Direito Penal Parte Geral,24ª ed. São Paulo, Saraiva, 2018.p.99). É colocado em confronto até em que ponto é considerado apropriado dentro da hierarquia de valores o uso e finalidade deste princípio, assim é exposto que é necessário impor certos limites a este objetivo para que o Direito Penal chegue a sua finalidade. Dando continuidade a este raciocínio Francesco Carrara faz uma complementação acerca da perpetuidade da pena, “O princípio de humanidade do Direito Penal é o maior entrave para a adoção da pena capital e da prisão perpétua. Esse princípio sustenta que o poder punitivo estatal não pode aplicar sanções que atinjam a dignidade da pessoa humana ou que lesionam a constituição físico-psíquica dos condenados.”(Victor Roberto Prado Saldarriaga, Comentarios al Código Penal de 1991, Lima, Alternativas, 1993, p. 33; José Miguel Zugaldía Espinar, Fundamentos de Derecho Penal, Granada, Universidad de Granada, 1990, p. 196). O pensamento trazido acima vem para colocar a análise de o que é que devemos esperar da chamada “reeducação” e “reinserção social” do indivíduo delituoso, se esses objetivos forem tratados como precípuos, então trará confronto com uma das finalidades do Direito Penal, que visa a Justiça Distributiva, assim ao ultrapassar os limites do ordenamento jurídico o criminoso possa ser responsabilizado devidamente a penar por seus atos. 4.0 PSICOPATIA Será abordado a seguir o caráter do Psicopata dentro de estudo de especialistas no assunto relacionando com a maneira enxergada e tratada no ordenamento jurídico, não será o foco as ações cometidas por estes, se sabe que em graus de psicopatia o indivíduo comete inúmeros delitos, “em geral eles estão envolvidos em transgressẽs sociais, como tráfico de drogas, corrupção, roubos, assaltosà mão armada, estelionatos, fraudes no sistema financeiro, agressões físicas, violência no trânsito etc, … Se existe uma “personalidade criminosa”, esta se realiza por completo no psicopata.Ninguém está tão habilitado a desobedecer às leis, enganar ou ser violento como eles.”(Barbosa Silva, Ana Beatriz. Mentes Criminosas O Psicopata mora ao Lado. Rio de Janeiro. Principium. 2ª edição, 2017,p.180). Para ser ter a consciência da importância do assunto pode-se observar pesquisas que comprovam o percentual de 4% das pessoas apresentam essa personalidade em graus diferentes (Hare, 1993; Barbosa Silva, 2017). Primeiramente é preciso esclarecer que há divergência de nomenclaturas e seus significados aos estudos de Psicologia e Psiquiatria que se direcionam a este termo, há confusão até mesmo entre especialistas ao relacionarem outros termos - sociopatia; transtorno de personalidade antissocial; condutopatia; transtorno de personalidade dissocial; - como sinônimos de Psicopatia. Na mente e fala dos populares a confusão é ainda maior, ao relacionarem como sendo semelhante o louco, o insano, o psicótico, o serial killer, por esse motivo, neste artigo será utilizado somente o termo Psicopata/Psicopatia para referenciar o indivíduo dentro desse quadro. A confusão começa logo com a palavra psicopatia, pois em seu sentido literal quer dizer “doença mental” (psique quer dizer “mente” e pathos quer dizer “doença”). É possível encontrar esse significado ainda presente em alguns dicionários. A verdade é que esse termo vem sendo empregado de maneira errônea na fala de populares, porém médicos psiquiatras em seus conhecimentos sabem que a psicopatia vai contra a visão tradicional da doença mental. São características de algumas doenças mentais os delírios, as alucinações, angústia intensa, desorientação, sofrimento mental intenso, dentre uma série de sintomas, mas esses sintomas não se enquadram dentro da psicopatia. Os psicopatas são seres conscientes, racionais e tem total entendimento de seus atos, a parte cognitiva ou racional de seu cérebro é de perfeito funcionamento, então sabem quando estão infringindo regras sociais, e até mesmo leis, pois praticam seus atos precipuamente para satisfazer seu ego, ou seja seu a seu bel-prazer, sabem porque agem de tal maneira, assim muito bem colocado por um dos maiores especialistas do assunto Robert Hare (1993). O Psiquiatra Guido Arturo Palomba utiliza de uma metáfora esclarecedora para descrever esses seres “por analogia é como se tivéssemos de um lado a noite; do outro, o dia; e no meio a aurora, tal qual de um lado está a doença mental, do outro, a normalidade e entre ambas encontra-se a psicopatia”(Palomba. 2016. p.197). Também a descreve de maneira mais clínica: “Psicopatia é uma perturbação da saúde mental que se caracteriza por transtornos de conduta, ou seja a deformidade do indivíduo está no comportamento anormal. A Psicopatia não é propriamente doença mental pois está pressupõe ruptura com a realidade, mas também não é normalidade mental. Fica portanto na zona fronteiriça entre ambas.”(PALOMBA, Guido Arturo. Perícia na Psiquiatria Forense.São Paulo. Saraiva. 2016. p.197). Dra. Ana Beatriz Barbosa Silva, psiquiatra e escritora do assunto faz uma dura mas realística abordagem desses indivíduos: “Seus atos criminosos não provêm de uma mente adoecida, mas sim de um raciocínio frio e calculista combinado com uma total incapacidade de tratar as outras pessoas como seres humanos pensantes e com sentimentos.”(Barbosa Silva, Ana Beatriz. Mentes Criminosas O Psicopata mora ao Lado. Rio de Janeiro. Principium. 2ª edição, 2017,p.42) Segundo entendimento da Dra. Ana Maria os psicopatas se diferenciam do restante da população por serem em geral: “indivíduos frios, calculistas, inescrupulosos, dissimulados, mentirosos, sedutores, e que visam apenas o próprio benefício. São incapazes de estabelecer vínculos afetivos ou de se colocarem no lugar do outro. São desprovidos de culpa e remorso, e muitas vezes revelam-se agressivos e violentos. Em maior o menor nível de gravidade, e com formas diferentes de manifestar os seus atos transgressores, os psicopatas são verdadeiros predadores sociais, em cujas veias e artérias corre um sangue gélido.(Barbosa Silva, Ana Beatriz. Mentes Criminosas O Psicopata mora ao Lado. Rio de Janeiro. Principium. 2ª edição, 2017,p.43) A deficiência apresentada pelos psicopatas se encontra no Campo afetivo das emoções, para ser claro esses indivíduos não gozam da capacidade de empatia, não conseguem sentir culpa ou remorso por seus maus atos, quando assemelham demonstrar qualquer sentimento não passa de mera atuação, se sentem algo em relação aos atos delituosos cometidos está associado ao prejuízo e consequências que caíram sobre si, e não arrependimento pelo dano causado (Hare, 2013). “Estudos revelam que a taxa de reincidência criminal (a capacidade de cometer novos crimes) dos psicopatas é cerca de duas vezes maior que a dos demais criminosos. E quando se trata de crimes assemelhados a violência a reincidência cresce para três vezes mais. No sistema carcerário brasileiro não existe um procedimento de diagnóstico para a psicopatia, quando há solicitação de benefícios ou redução de penas ou para julgar se o preso está apto a cumprir sua pena em regime semi aberto. Se tais procedimentos fossem utilizados dentro dos presídios brasileiros, com toda a certeza os psicopatas ficariam presos por muito mais tempo e as taxas de reincidência de crimes de violência diminuiriam significativamente. No país onde a escala de Hare (PCL) foi aplicada com essa finalidade, constatou-se uma redução de dois terços das taxas de reincidência nos crimes mais graves e violentos.”(Silva, Ana Beatriz Barbosa. Mentes Criminosas O Psicopata mora ao Lado. Rio de Janeiro. Principium. 2ª edição, 2017,p.188). Se existisse preocupação do governo, em buscar meios para reduzir o índice de violência no país, casos como o de Ângela de Souza Silva diminuiriam consideravelmente. Ângela aos seus 34 anos foi morta por Francisco Costa Rocha o “chico picadinho”, na época do crime (1976), Francisco já havia sido preso e condenado a 18 anos de reclusão por homicídio qualificado e mais 2 anos por destruição de cadáver. Se instrumentos de diagnóstico, como a Psychopathy Checklist (Avaliação de Psicopatia) criada por Robert Hare, fossem implementadas nos exames psicológicos dos criminosos ao adentrarem as prisões já causaria um grande impacto na segurança da sociedade. 4.1 PSICOPATIA E ORDENAMENTO JURÍDICO Uma das primeiras dúvidas a surgir é se a psicopatia será considerada doença mental ou não. Guido Palomba psiquiatra forense abrange três possíveis formas ao elaborar o diagnóstico do criminoso, “Psicopatia (condutopatia)é uma perturbação da saúde mental. Portanto, via de regra, nos casos criminais de verificação, de imputabilidade penal, deve o perito opinar pela semi-imputabilidade, excepcionalmente pela imputabilidade ou pela inimputabilidade. Na primeira exceção, quando não houver significativo comprometimento da capacidade de determinação, de acordo com a capacidade de entendimento totalmente íntegra. Na segunda quando, os distúrbios de comportamento forem exacerbados, com quadro clínico geral bastante alterado e houver elementos sobejos que convençam que à época do fato, o criminoso, embora com bom entendimento (se for condutopata o distúrbio não é de entendimento), era totalmente incapaz de determinar-se de acordo, com nexo causal entre patologia e o ato-delituoso. No plano cível,tudo dependerá do tipo de ação judicial e do grau de manifestações comportamentais, em matéria de psicopatia não existem regras fixas. (Palomba, Guido Arturo.Perícia na Psiquiatria Forense. São Paulo. Saraiva. 2016. p.199). Ou seja, na maioria dos casos em que o criminoso recebe o diagnóstico de semi-imputabilidade o criminoso recebe a pena corporal ou medida de segurança, assim o juiz toma toma como entendimento que o tal necessita de tratamento ao o assemelhar ao doente mental e comina medida de segurança ao equipará-lo com o criminoso comum aplicando-lhe pena privativa de liberdade (Palomba, 2016). A verdade é que não existe tratamento, ou cura para a psicopatia, são considerados seres irrecuperáveis, seja por terapia, tratamento farmacológico e até mesmo intervenções cirúrgicas no cérebro não causaram mudança significativa deste quadro, assim Robert Hare destaca alguns pontos do porque os psicopatas não são candidatos apropriados a terapia: “.Os psicopatas não são indivíduos “frágeis”. O que eles pensam e fazem são extensões de uma estrutura de personalidade sólida como uma rocha, extremamente resistente à influência externa. Quando concordam em participar de um programa de tratamento, suas atitudes e padrões comportamentais já estão tão fortalecidos, que é difícil fazê-los ceder mesmo nas melhores circunstâncias. .Muitos psicopatas são protegidos das consequências dos próprios atos por familiares ou amigos bem-intencionados; o comportamento deles permanece relativamente sem controle e sem punição. Outros são tão hábeis que conseguem traçar o próprio caminho na vida sem muita inconveniência pessoal. E inclusive aqueles que são pegos e punidos por suas transgressões, geralmente culpam o sistema, os outros, o destino - com exceção a si mesmo - pelo próprio apuro. Muitos simplesmente gostam do estilo de vida que levam. Diferentemente de outros indivíduos, os psicopatas não buscam ajuda por conta própria. Em vez disso, são empurrados para terapia pela família desesperada ou então aceitam se tratar para cumprir uma ordem judicial ou como prelúdio do pedido de liberdade condicional. Quando estão em terapia, em geral fazem pouco mais do que fingir. São incapazes de desenvolver a intimidade emocional e de fazer as buscas profundas que a maioria das terapias se empenha em estimular. As relações interpessoais cruciais para o sucesso, não têm valor intrínseco para o psicopata. A maioria dos programas de terapia faz pouco mais do que fornecer ao psicopata novas desculpas e racionalizações para seu comportamento e novos modos de compreensão da vulnerabilidade humana. Eles aprendem novos e melhores modos de manipular as outras pessoas, mas fazem pouco esforço para mudar suas próprias visões e atitudes ou para entender que os outros têm necessidades, sentimentos e direitos. Em especial, tentativas de ensinar aos psicopatas como “de fato sentir” remorso ou empatia estão fadadas ao fracasso. Como observei antes, os psicopatas frequentemente dominam as sessões de terapia individual e em grupo, impõe seus próprios pontos de vista e interpretações aos outros participantes, Por exemplo, o líder de um grupo de terapia do programa prisional disse o seguinte a respeito de um preso com pontuação muito alta na Psychopathy checklist (Avaliação de Psicopatia): “Ele se recusou a falar sobre coisas que não foram introduzidas por ele mesmo, não gosta de ser confrontado ou questionado a respeito do próprio comportamento… Recusa-se a reconhecer que bloqueia a comunicação e domina o grupo de terapia com seus monólogos intermináveis, que tentam contornar a discussão sobre seu próprio comportamento.” Ainda sim, logo depois desse trecho, o psiquiatra escreveu: “Eu tenho certeza de que ele melhorou. Ele assume a responsabilidade por seus atos”. E um psicólogo escreveu: “Ele tem feito bons progressos. Parece que está mais preocupado com os outros e que perdeu muito do seu comportamento criminoso”. Dois anos depois dessas declarações otimistas a seu respeito, o preso foi entrevistado por uma aluna de graduação de um dos meus projetos de pesquisa. A estudante disse que aquele era o infrator mais terrível que já tinha encontrado e que ele havia se gabado abertamente de ter enganado os funcionários da prisão, fazendo-os pensar que estava seguindo os caminhos da reabilitação.”Eu nem acredito que esses caras existem”, disse ele. “Quem é que deu a eles a credencial para trabalhar? Eu não deixaria nem meu cachorro fazer terapia com eles! Ele ia enganar todo mundo, como eu fiz.” .Em um Estudo,os psicopatas não se motivaram, abandonaram o tratamento logo no início e obtiveram pouco benefício em função do programa. Em seguida a liberação da prisão, eles apresentaram taxa de retornos mais alta do que a dos demais pacientes.”(Hare, Robert D. Sem Consciência O Mundo Perturbador dos psicopatas que vivem entre nós. São Paulo. Artmed. 2013. páginas 201, 202, 203, 204). É perceptível o atraso no ordenamento jurídico brasileiro em ainda abrir hipóteses para considerar esses seres tratáveis. Compactuando dos Pensamentos de Robert Hare, Dra. Ana Maria Barbosa Silva também reconhece o psicopata como lúcido e com total raciocínio de seus atos, então é inconcebível caracterizá-lo como portador de doença mental e submetê-lo a medidas de segurança. No Código Penal Brasileiro é declarado que “O tempo de cumprimento de cumprimento das penas privativas de liberdade não pode ser superior a 30 (trinta) anos.”Art.75 C.P., sendo derivado da Constituição Federal, “ Não haverá penas: b) de caráter perpétuo;”Art.5°, XLVII, b. C.R./88. Artigo estes bases também no Princípio da Humanidade. Fica claro em que há um atraso em nosso ordenamento jurídico em não reconhecer a periculosidade do psicopata e a sua irrecuperabilidade. Já houve uma tentativa de mudança no que se trata da perícia psicológica do criminoso ao adentrar a prisão, tentando inserir a Psychopathy Checklist utilizada em países de maior avanço cientĩfcoque o nosso, porém o projeto de lei não foi aprovado. “A psiquiatra forense Hilda Morana, responsável pela tradução, adaptação e validação do PCL para o Brasil, além de tentar aplicar o teste para identificação de psicopatas nos presídios, lutou para convencer deputados a criar prisões especiais para eles. A idéia virou um projeto de lei que, lamentavelmente, não foi aprovado.”((Barbosa Silva, Ana Beatriz. Mentes Criminosas O Psicopata mora ao Lado. Rio de Janeiro. Principium. 2ª edição, 2017,p.188, 189). A criminóloga Ilana Casoy especialista brasileira em assassinos em séries e psicopatas também comentando o caso de “chico picadinho”, relata como a falta de uma legislação específica a esse assunto pode trazer confusão, “Existe discussão entre o conceito jurídico e psiquiatra da doença mental. O Diagnóstico de personalidade psicopata ou transtorno de personalidade anti social implica na semi-imputabilidade, na qual inclusive o preso tem direito à diminuição da pena sem ser obrigatoriamente internado, já que não é considerado doente mental. O problema é que, apesar de o portador desse transtorno entender o caráter e seus atos, ele não consegue controlar sua vontade. Dessa forma, a probabilidade de reincidir é extremamente alta, e sua periculosidade, indiscutível. Quando em 1994, houve mudança na lei, ficou impossível aplicar para um mesmo preso, medida de segurança e pena - o sistema denominado duplo binário. Todos os condenados assim passaram a cumpir apenas pena restritiva de liberdade, o que significa ficar por no máximo trinta anos em instituição prisional. A curiosidade jurídica, nesse caso, é que a Justiça Civil, e não a Criminal, é quem está impedindo a liberação de Chico Picadinho.” (Casoy, Ilana. Made in Brazil. Rio de Janeiro. Darkside.2017. 461). 5.0 CONCLUSÃO Conclui-se no referido artigo a importância do Direito Penal em toda a sociedade, com o precípuo objetivo de proteger os cidadão dela pertencente, foi observado que nosso ordenamento jurídico é respaldado e fundamentado em princípios. Princípios estes que visam o bem comum a todos, buscando implementar direitos e garantias fundamentais. Porém, algumas vezes, como no caso exposto, eles podem ser utilizados de forma errada, sendo utilizado para defender e até impedir criminosos de grande periculosidade sejam perpetuamente separados da sociedade, para proteger a mesma, tornando mais forte a impunibilidade do transgressor e diminuindo a segurança do povo. É necessário um pensamento e análise mais profundo da Psicopatia pelo poder Legislativo, averiguando-se de proteger com “braços fortes” a sociedade num todo, e não utilizar de princípios para prejudicá-la. 6.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BITENCOURT, César Roberto. Direito Penal Parte Geral,24ª ed. São Paulo, Saraiva, 2018. BONAVIDES, Paulo, Teoria Constitucional da Democracia Participativa, São Paulo, Malheiros. 2001. CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal Parte Geral. 15ªed. São Paulo, Saraiva. 2003. CASOY, Ilana. Made in Brazil. Darkside. Rio de Janeiro. 2017. CONDE, Francisco Muñoz. Introducción al derecho penal. Barcelona: Bosch, 1975. CUNHA, Rogério Sanches. Manual do Direito Penal Parte Geral. 7ªed. Salvador. Editora Jus Podivm. 2019. GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal Parte Geral. 31ª ed. Rio de Janeiro, Niterói. Impetus. 2017. HARE, Robert D. Sem Consciência O mundo perturbador dos Psicopatas que vivem entre nós. Porto Alegre. Artmed. 1993. MALUF, Sahid. Teoria Geral do Estado. 33ªed. São Paulo. Saraiva. 2017. MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual do Direito Penal Parte Geral. 31ªed. São Paulo, Atlas. 2015. MOISÉS. Gênesis, Bíblia de Estudo Do Expositor. Jimmy Swaggart. 2016. NADER, Paulo. Introdução ao Estudo do Direito. 40ªed. Rio de Janeiro. Forense 2017. PALOMBA, Guido Arturo. Insania Furens Casos Verídicos de Loucura e Crime. 2ªT. 1ªed.. São Paulo. 2017. PALOMBA, Guido Arturo. Perícia na Psiquiatria Forense. 3ªT. 1ªed. São Paulo. Saraiva 2016. PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro. v.1 4ªed. São Paulo. Editora Revista dos Tribunais. 2004. SALDARRIAGA, Victor Roberto Prado. Comentarios al Código Penal de 1991, Lima, Alternativas, 1993, p. 33; ESPINAR José Miguel Zugaldía, Fundamentos de Derecho Penal , Granada, Universidad de Granada, 1990, p. 196. SANCHES, Rogério Cunha. Manual de Direito Penal Parte Geral. 7ª ed. São Paulo. Saraiva. 2019. SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Mentes Criminosas O Psicopata mora ao Lado. Rio de Janeiro. Principium. 2ª edição, 2017. ZAFFARONI, Eugênio Raul. Manual de Derecho Penal Parte Geral, 6ª edição. Buenos Aires. Ediar. 1991.
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