Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
gestão empresarial negócios internacionais Os EstadOs UnidOs E O PrOcEssO dE intEgraçãO EcOnômica 15 ObjetivOs da Unidade de aprendizagem Discutir o papel dos Estados Unidos na Economia global sua participação junto ao Nafta e a ALCA. COmpetênCias Identificar os mecanismos políticos que levaram os EUA a hegemonia, as características do NAFTA e a diferença frente a proposta da ALCA. Habilidades Descrever o ambiente geopolítico e econômico com intuito de gerar uma análise crítica acerca da evolução americana. Negócios iNterNacioNais Os EstadOs UnidOs E O PrOcEssO dE intEgraçãO EcOnômica ApresentAção Nesta UA iremos entender um pouco da história dos EUA e perceber sua evolução no contexto político e econômi- co mundial, dessa maneira pretende-se conhecer o pa- pel dos Estados Unidos na Economia global. Ainda assim espera-se que o aluno compreenda o sentido do bloco econômico denominado NAFTA e a diferença entre este e o projeto que por muito tempo fora discutido chamado de ALCA, suas diferenças e custos econômicos aos paí- ses participantes. Pretende-se avançar nas propostas de entendimento sobre a ALCA e de como poderia ser benéfico e prejudi- cial para vários países, dada a hegemonia política e eco- nômica dos EUA. pArA ComeçAr Oi, tudo bem? Pronto para encarar mais uma Unidade de Aprendizagem? Você sabia que a colonização dos EUA foi na mesma época que a colonização brasileira? O que aconteceu para que hoje esses países tenham resultados tão diferentes? Os Estados Unidos representam ainda hoje o país mais forte de forma econômica e o celeiro da liberdade e expressão. A partir de 1900 o termo “american way of life” tomou conta dos meios de informação mundial, re- presentando o comportamento da economia americana frente ao mundo. Todos devem pensar que seria muito bom se aliar a um país como os EUA, mas iremos discutir nesta unidade o NAFTA e a proposta da ALCA e ver que não é bem assim... Boa leitura... Negócios Internacionais / UA 15 Os Estados Unidos e o Processo de Integração Econômica 4 FundAmentos 1. Um pOUCO de História ameriCana A data oficial da fundação dos Estados Unidos é 4 de julho de 1776, quan- do o Segundo congresso Continental, representando as 13 colônias seces- sionistas, assinou a declaração da independência. Contudo, a estrutura do governo sofreu uma grande mudança em 1788, quando os Artigos da Confederação foram substituídos pela Constituição dos Estados Unidos. A cidade de Nova York foi a capital durante um ano, antes de o governo transferir-se para a Filadélfia. Em 1791, os estados ratificaram a Carta dos Direitos, dez emendas à constituição que proíbem as restrições às liber- dades pessoais e garantem uma série de proteções legais. Os estados do norte aboliram a escravidão entre 1780 e 1804. Em 1800, o governo fede- ral mudou-se para Washington, DC (Distrito de Columbia). No intuito de expandir seu território em direção ao oeste, o governo americano iniciou um ciclo de guerras contra as populações indígenas, que durou até o fim do século XIX. A guerra contra a Inglaterra, que aca- bou empatada, serviu para reforçar o nacionalismo americano. As tensões entre estados escravistas e abolicionistas, junto com o au- mento dos desacordos entre o governo federal e os estatais provocaram conflitos na expansão da escravidão nos novos estados. Abraham Lincoln, candidato do partido republicano e um grande abolicionista, foi eleito pre- sidente em 1860. Antes que tomasse posse do seu cargo, os sete estados escravistas declararam sua secessão, formando os Estados Confederados da América. O governo federal argumentou que a secessão era ilegal e, assim, teve início a Guerra Civil Estadunidense. Em 1867, os Estados Unidos compram da Rússia o Alaska, completa- do a expansão continental do país. Em 1898, o Havaí foi anexado pelos americanos. No mesmo ano, os americanos vencem a Espanha, anexando Porto Rico e as Filipinas. Quando começou a I Guerra Mundial, os EUA mantiveram-se neutros, mas em 1917, uniram-se aos Aliados, contribuindo com a derrota das Po- tências Centrais. Durante a maior parte da década de 1920, os EUA viveram um período de prosperidade. Em 1929, teve início a Grande Depressão, causada pelo aumento da dívida e um mercado de valores inflacionados. A este fato, o então presidente Frank D. Roosvelt, responde com o New Deal, uma série de políticas de aumento da intervenção do governo na economia. Durante a fase inicial da II Guerra Mundial, os EUA também foram neu- tros, mas, no dia 7 de dezembro de 1941, juntaram forças com os aliados contra as Potências do Eixo, depois do ataque japonês a Pearl Harbour, fato que ajudou os EUA a alavancarem sua economia. Os EUA foram o Negócios Internacionais / UA 15 Os Estados Unidos e o Processo de Integração Econômica 5 único país a enriquecer com a guerra. Em agosto de 1945, os EUA lança- ram bombas atômicas nas cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, pondo fim à guerra, perante a rendição japonesa. Entre 1958 e 1975, os EUA participaram de uma guerra contra o Viet- nã e a perderam. A influência estadunidense, depois disso, atingiu níveis nunca antes alcançados em vários aspectos, tais como: econômico, cien- tífico, tecnológico e cultural. Em 1969, os americanos chegam à Lua com o Apolo XV. 1.1. As guerrAs dos euA Com o desmanche da URSS e o consecutivo fim da Guerra Fria, os EUA tor- nam-se a única superpotência do globo. Em 1991, participam da Guerra do Golfo, expulsando as tropas iraquianas que tinham invadido o Kuwait. Apesar da queda da União Soviética, os Estados Unidos viram-se envol- vidos noutra ação militar, a Guerra do Golfo, ocorrida em 1990. Essa ação militar foi necessária depois do exército de Saddam Hussein invadir o Kuwait. O Conselho de Segurança da ONU votou a favor do ataque contra o Iraque e pela expulsão das tropas iraquianas do Kuwait. Essa campanha militar bem-sucedida foi empreendida pelo governo americano do Presi- dente George H. W. Bush que foi sucedido pelo democrata Bill Clinton, em 1992. Clinton liderou os Estados Unidos durante o mais longo período de expansão econômica da história americana, um efeito colateral da revo- lução digital e de novas oportunidades de negócios criadas pela Internet. Em 11 de setembro de 2001, já sob a liderança do Presidente George W. Bush, os Estados Unidos sofreram o pior atentado terrorista da história do país e do mundo, que culminou na destruição do World Trade Center, na parcial destruição do Pentágono e na morte de cerca de 3 mil pessoas. Este ataque terrorista, conhecido como Ataques de 11 de setembro, foi orquestrado pela Al Qaeda, comandada por Osama Bin Laden. Em res- posta aos ataques de 11 de setembro, sob a administração do Presidente George W. Bush, os Estados Unidos, com suporte da OTAN e o apoio da ONU, invadiu o Afeganistão e derrubou os Taliban do poder do país com a ajuda da Aliança do Norte, apresentando como justificativa o suposto suporte financeiro, treinamento militar dado pelo país a terroristas, inclu- sivamente a Al Qaeda. No entanto, a não captura de Bin-Laden, possibilitou ao presidente George W. Bush continuar o que ficou conhecido como Guerra Contra o Terror. O primeiro evento significativo desta empreitada foi a invasão do Iraque em 2003, depois que polêmicas em torno da posição do ditador iraquiano, Saddam Hussein, com respeito a inspeções de supostas armas de destruição em massa, levaram o governo de George W. Bush a tentar Negócios Internacionais / UA 15 Os Estados Unidos e o Processo de Integração Econômica 6 aprovar no Conselho de Segurança da ONU, sem sucesso, a invasão do Iraque e a deposição de Saddam Hussein. Mesmo sem o aval do Conselho de Segurança da ONU, os Estados Uni- dos invadiram o Iraque, juntamente como outros países aliados tais comoo Reino Unido, a Itália e a Espanha, levando rapidamente à deposição e à prisão de Saddam Hussein. Esta segunda invasão mostrou-se contrária a alguns interesses da comunidade internacional, entre países como a França, a Alemanha e a Rússia. Em 16 de dezembro de 2005, a lei H. R. 4437 foi aprovada pela Câmara dos Representantes. A lei possui o alvo de reforçar o controle americano contra a imigração ilegal, tornando mais rigorosa as medidas contra imi- grantes ilegais, e tornando um ato criminoso ajudar um imigrante ilegal permanecer no país. A lei, que está atualmente sendo discutida no Congres- so, gerou grandes manifestações populares em diversas cidades do país. 2. aCOrdO de livre COmérCiO da amériCa dO nOrte – naFta Constituem em um instrumento de integração das economias dos EUA, do Canadá e do México. O NAFTA (North-America Free Trade Agreement) foi iniciado em 1988, entre norte-americanos e canadenses, e por meio do Acordo de Liberali- zação Econômica, assinado em 1991, formalizou-se o relacionamento co- mercial entre os Estados Unidos e o Canadá. Em 13 de agosto de 1992, o bloco recebeu a adesão dos mexicanos. (LÓPEZ-CÓRDOVA, 2001) O NAFTA entrou em vigor em 1º de janeiro de 1994, com um prazo de 15 anos para a total eliminação das barreiras alfandegárias entre os três países, estando aberto a todos os Estados da América Central e do Sul. O NAFTA consolidou o intenso comércio regional no hemisfério norte do Continente Americano, beneficiando grandemente à economia mexi- cana, e aparece como resposta à formação da Comunidade Europeia, aju- dando a enfrentar a concorrência representada pela economia japonesa e por este bloco econômico europeu. O bloco econômico do NAFTA abriga uma população de 417,6 milhões de habitantes, produzindo um PIB de US$ 11.405,2 trilhões, que gera US$ 1.510,1 trilhão de exportações e US$ 1.837,1 trilhão de importações. São Países-Membros do NAFTA: Estados Unidos, Canadá e México. 2.1. objetivos do NAFtA → Garantir aos países participantes uma situação de livre comércio, derrubando as barreiras alfandegárias, facilitando o comércio de mercadorias entre os países membros; Negócios Internacionais / UA 15 Os Estados Unidos e o Processo de Integração Econômica 7 → Reduzir os custos comerciais entre os países membros; → Ajustar a economia dos países membros, para ganhar competitivida- de no cenário de globalização econômica; → Aumentar as exportações de mercadorias e serviços entre os paí- ses membros. 2.2. FuNcioNAmeNto do NAFtA (vANtAgeNs pArA os pAíses membros) → Empresas dos Estados Unidos e Canadá conseguem reduzir os cus- tos de produção, ao instalarem filiais no México, aproveitando a mão de obra barata; → O México ganha com a geração de empregos em seu território; → O México exporta petróleo para os Estados Unidos, aumentando a quantidade desta importante fonte de energia na maior economia do mundo; → A produção industrial mexicana, assim como as exportações, tem aumentado significativamente na última década; → A geração de empregos no México pode ser favorável aos Estados Unidos, no sentido em que pode diminuir a entrada de imigrantes ilegais mexicanos em território norte-americano; → Negociando em bloco, todos países membros podem ganhar vanta- gens com relação aos acordos comerciais com outros blocos econô- micos. (LÓPEZ-CÓRDOVA, 2001) 3. a alCa – área de livre COmérCiO das amériCas O esforço para unir as democracias do Hemisfério Ocidental em uma única área de livre comércio iniciou-se com a Cúpula das Américas, onde lá os Chefes de Estados de todos os países democráticos do continente comprometeram-se a formular mecanismos capazes de estimular o de- senvolvimento e a prosperidade do Hemisfério, através da cooperação mútua e da liberdade de comércio. A Cúpula das Américas foi realizada em Miami-EUA, em dezembro de 1994. Lá os chefes de Estado e de Governo de 34 democracias decidiram então construir a área de Livre Comércio das Américas (ALCA), na qual se eliminarão progressivamente as barreiras ao comércio e ao investimento, e concluir as respectivas negociações até o ano de 2005. Esses líderes se comprometeram também a alcançar progressos substanciais no estabele- cimento da ALCA até o ano de 2000. Suas decisões constam da Declaração de Princípios e do Plano de Ação aprovados na Cúpula de Miami. Negócios Internacionais / UA 15 Os Estados Unidos e o Processo de Integração Econômica 8 Desde a Cúpula de Miami, os Ministros de Comércio do Hemisfério já se reuniram várias vezes para formular e executarem um plano de ação para a ALCA. A primeira reunião ocorreu em junho de 1995 em Denver – EUA, os mi- nistros da área de comércio das nações americanas reuniram-se para dar início à preparação das negociações em torno da criação da ALCA. Foram estabelecidos sete grupos de trabalho, com temário e cronograma, para identificar os pontos a serem negociados e avaliar os impactos da futura integração sobre os diversos setores da economia e da organização social das nações de hemisfério. A segunda ocorreu em Cartagena – Colômbia, em março de 1996. Nela reafirmaram o compromisso de concluir as negociações para a criação da ALCA até o ano de 2005, garantindo empenho e transparência às etapas do processo, e criaram mais quatro grupos de trabalho, incorporando no- vos temas à agenda. A segunda reunião representou um novo e importan- te passo no sentido da maior integração entre o setor privado e governos dos países do hemisfério. A terceira reunião ocorreu em maio de 1997 em Belo Horizonte – Brasil. Os Ministros do Comércio aprovam o single undertaking, ou seja, a ALCA só será assinada quando todos os pontos estiverem acordados. O meca- nismo impede que um país aprove apenas itens do seu interesse e adie o restante dos acertos. Em março de 1998 em San José – Costa Rica ocorreu o quarto encontro dos Ministros de Comércio. Nela foi assinada a “Declaração de São José”, na qual os países se comprometeram com a liberalização do comércio. Os ministros recomendaram aos Chefes de Estado e de Governo o lança- mento das negociações, estabeleceram a estrutura, princípios e objetivos gerais para guiar as negociações. Esta declaração serviu de base para o lançamento das negociações da ALCA em abril de 1998 na segunda Cúpu- la das Américas, em Santiago – Chile (LÓPEZ-CÓRDOVA, 2001). Na segunda Cúpula das Américas, os líderes concordaram que o pro- cesso de negociação da ALCA seria transparente e deveria levar em con- sideração as diferenças dos níveis de desenvolvimento e tamanho das economias participantes, a fim de facilitar a participação integral de todos os países. A quinta reunião ministerial foi realizada em Toronto – Canadá, em novembro de 1999. Nessa reunião, os ministros instruíram os Grupos de Negociação a preparar uma minuta dos respectivos capítulos a serem re- presentados na sexta reunião Ministerial em Buenos Aires – Argentina, em abril de 2001. Foi solicitado aos grupos responsáveis por acesso a mercados que discutissem as modalidades e procedimentos para as negociações nas Negócios Internacionais / UA 15 Os Estados Unidos e o Processo de Integração Econômica 9 suas respectivas áreas. Os ministros também aprovaram várias medidas de facilitação de negócios, designadas a facilitar o intercâmbio comercial no Hemisfério, particularmente na área de procedimentos alfandegários. A terceira Cúpula das Américas ocorreu em Quebec – Canadá em abril de 2001. Como ficou acordado na Cúpula de Miami, o Livre Comércio, sem subsí- dio em práticas desleais, associado a um crescente fluxo de investimentos produtivos e a uma maior integração econômica, promoverá a prosperi- dade regional, permitindo, assim, o aumento do padrão de vida, a melho- ria das condições de trabalho dos povos das Américas e melhor proteçãodo meio ambiente. A 4ª Cúpula das Américas foi em abril de 2003, em Buenos Aires, Ar- gentina. 3.1. As três mAiores vANtAgeNs → Mão de obra barata: O elevado desemprego, a baixa escolaridade da população e a des- valorização cambial tornam os custos com empregados no Brasil mais baixos que nos Estados Unidos, o que estimula a abertura de filiais voltadas à exportação. → Grande mercado consumidor: Apesar de pobre, o Brasil é considerado a maior oportunidade de negócios pelos empresários dos Estados Unidos. Eles acreditam que com a Alca, o país Brasil exportará mais, receberá mais dólares e ficará mais rico para importar. → Indústria em desenvolvimento: País carente em tecnologia, o Brasil é importador de equipamentos inovadores, necessários à redução de custos na indústria. A Alca se- ria a chance dos Estados Unidos de manter cativa a clientela indus- trial brasileira. 3.2. priNcipAis motivos do desequilíbrio O Brasil possui uma pauta de exportações concentradas em produtos do agronegócios, que sofrem restrições não tarifárias (como barreiras sani- tárias). A simples isenção tarifária não é suficiente. Os Estados Unidos são exportadores de equipamentos inovadores e caros, que precisam ser adquiridos por países emergentes para se moder- nizar. A isenção tarifária torna mais atraentes as importações. Negócios Internacionais / UA 15 Os Estados Unidos e o Processo de Integração Econômica 10 3.3. As três mAiores desvANtAgeNs → Taxas de juros altas: Os financiamentos para atividades produtivas são muito onerosos. Vale mais a pena aplicar o dinheiro no mercado financeiro do que investir em um projeto produtivo arriscado, que pode malograr. → Infraestrutura: Principal meio de exportação e importação, o sistema portuário bra- sileiro é excessivamente caro. Nos países desenvolvidos, a carga ou descarga de uma tonelada custa US$ 9. No Brasil, o serviço não sai por menos de US$ 25. → Instabilidade macroeconômica: O Brasil depende de capital externo e é conhecido no resto do mun- do por seu governo "equilibrista" que está sempre cortando gastos porque precisa garantir dinheiro suficiente ao pagamento de dívidas (LÓPEZ-CÓRDOVA, 2001). 3.4. quem está proNto pArA A bAtAlhA? Veja os setores que serão afetados pela Alca e o tempo que cada um pre- cisa para competir de igual para igual com os produtos norte-americanos após 2006. Não precisam prazo: → Vestuário; → Calçados; → Siderurgia; → Cafeicultura; → Cervejas e Refrigerantes. Precisam de um a dois anos → Agricultura; → Autopeças; → Embalagens; → Metalurgia; → Vestuário. Precisam de dois a três anos Negócios Internacionais / UA 15 Os Estados Unidos e o Processo de Integração Econômica 11 → Armamento; → Cimento; → Cosméticos; → Madeira e Móveis; → Têxtil (fibras sintéticas); → Software e informática; Mais de cinco anos; → Bens de capital; → Brinquedos; → Componentes; → Eletrônicos; → Eletrodoméstico; → Papel e Celulose; → Química; → Oportunidade. A Alca representa um mercado potencial de US$ 12 bilhões para fabrican- tes de calçados das Américas. 3.5. priNcípios regulAdores dAs NegociAções dA AlcA Um número de princípios rege as negociações. Esses itens incluem, entre outros: → As decisões serão tomadas por consenso; → As negociações serão conduzidas de uma maneira transparente; → A ALCA será consistente com as regras e disciplinas da OMC e deverá seguir essas regras e disciplinas sempre que possível e apropriado; → A ALCA poderá coexistir com acordos bilaterais e sub-regionais e os países poderão negociar e aceitar as obrigações da ALCA individual- mente ou como membros de um grupo de integração sub-regional; → A ALCA constituirá um compromisso único ("nada é decidido, até que todos estejam de acordo"); → Atenção especial será dada às necessidades das economias menores. 3.6. A AlcA vistA com outros olhos A ALCA é mais do que um acordo comercial. É uma necessidade da eco- nomia norte-americana e do capitalismo internacional que passam por uma crise de capital financeiro e de realização de bens. Precisam imprimir um novo padrão de acumulação de capital baseados em novos centros Negócios Internacionais / UA 15 Os Estados Unidos e o Processo de Integração Econômica 12 hegemônicos. Por um lado, se utilizam da guerra, e do combate ao terro- rismo para deslocar recursos públicos para o complexo industrial-militar. E por outro lado, jogam pesado para sair o acordo da ALCA. O resultado imediato é que a economia do hemisfério será dolarizada, tirando auto- nomia dos governos em relação a moeda e política cambial. A soberania nacional dos países e povos estará comprometida, pois não controlarão mais o território, marginalizará o pape dos exércitos nacionais e também do próprio estado nacional. Com a ALCA, a marginalização da agricultura familiar dará através do controle do comércio agrícola e das agroindústrias pelas grandes empre- sas norte-americanas, que também colocarão em risco a soberania ali- mentar dos povos, através do controle das sementes e dos alimentos. A consequência óbvia deste desequilíbrio entre importação e exporta- ção seria a ampliação do mercado para as “grandes empresas norte-ame- ricanas e a falência das empresas nacionais que ainda conseguem sobre- viver atualmente no mercado. O país sofreria um retrocesso industrial, causando enorme ampliação do desemprego, com índices, que poderiam atingir o patamar de 30 a 40% (GUEDES, 2007). A Argentina é um exemplo. Naquele país, o plano neoliberal foi apli- cado à risca, mais radicalmente do que no Brasil (com a redução quase completa das tarifas, a semidolarização da economia, a privatização de todas as estatais e a flexibilização dos direitos trabalhistas). Foi uma espé- cie de teste do que pode ser a ALCA. O resultado foi uma devastação que só pode ser comparada aos efeitos de uma guerra, levando à crise e ao empobrecimento pelos quais passou o país. O desemprego passou de 7% há cerca de quinze anos, para os 30%. 4. as COntrOvérsias entre Os países Diplomatas de 34 países das três Américas reuniram-se para uma sessão preparatória da Área de Livre Comércio das Américas (ALCA), que pretende ser um bloco semelhante ao europeu, o Mercado Comum Europeu. O acor- do, se bem-sucedido, se limitará a eliminar as tarifas que os países cobram no comércio de produtos entre eles. Os objetivos do ALCA são menos am- biciosos que do europeu. A ideia de um continente americano sem frontei- ras leva a um cenário caótico de milhões de deserdados latino-americanos tomando o rumo norte, em direção à riqueza e às oportunidades do Im- pério Ianque. A União Europeia pôde liberar não apenas o trânsito livre de mercadorias, mas também o de pessoas, porque juntou países muito parecidos entre si. Em termos de renda, cultura, mentalidade e burocracia, eram todos mais ou menos equiparados. O acordo das Américas enfrenta Negócios Internacionais / UA 15 Os Estados Unidos e o Processo de Integração Econômica 13 uma realidade oposta. Terá de harmonizar países tão díspares como El Salvador e o Suriname, Canadá e Paraguai ou Estados Unidos e Jamaica. O documento oficial sobre a criação da ALCA tem 900 páginas e 800 pontos sobre os quais nenhum dos países envolvidos está de acordo. O acordo demanda um monumental esforço diplomático. O caminho rumo à ALCA tem quase uma pedra por página do tratado original. Fora os Es- tados Unidos, que sabem bem o que querem, os demais países das três Américas vivem atolados em dúvidas sobre os benefícios do acordo. Em linhas gerais, a ALCA é uma ampliação da Nafta, o bloco de co- mércio que une Estados Unidos, Canadá e México, mas tudo está ainda para ser feito. Os Estados Unidos começaram a se movimentar em 1994, quando se aliaram ao Canadá e ao México.A experiência foi muito bem- -sucedida, especialmente para os sócios menores. Graças ao acesso ao mercado americano, o México saltou de uma posição inexpressiva para o oitavo posto entre as grandes economias exportadoras do mundo. O Ca- nadá também virou tigre. Seis anos depois de entrar para o Nafta, 46% do PIB canadense vem de suas exportações. Oito de cada 10 dólares originá- rios de suas vendas externas chegam dos Estados Unidos. Os americanos propagam nas Américas a ideia de que a ALCA seria um grande Nafta. É aí que moram as dúvidas. Outros países não têm tão claras as vantagens ou desvantagens do acordo. 4.1. o processo evolutivo Há muito para discutir. Em primeiro lugar, Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai precisam se entender sobre o que querem de seu acordo local, o Mercosul. Com as agruras atuais da economia Argentina, o acordo do Cone Sul nunca esteve tão ameaçado. Na reunião da semana passada, em Buenos Aires, economistas e altos funcionários argentinos sondavam a hipótese de cada país integrante do Mercosul discutir em separado com os Estados Unidos. Talvez seja essa a saída. A legislação comercial americana é cheia de sutilezas. Com um déficit comercial que caminha para os 400 bilhões de dólares neste ano, os Es- tados Unidos são a economia mais aberta do planeta. Os produtos im- portados pagam em média 4% para entrar no mercado americano. Mas, quando se examina especificamente a pauta brasileira de produtos com- prados pelos Estados Unidos, a tarifa salta para 45%. E incidem sobre eles as famosas barreiras não tarifárias. Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), seis em cada dez produtos brasileiros vendidos nos Esta- dos Unidos sofrem esse tipo de discriminação, que os torna mais caros e, portanto, menos competitivos (GUEDES, 2007). Negócios Internacionais / UA 15 Os Estados Unidos e o Processo de Integração Econômica 14 Para que a ALCA funcione, os americanos admitem baixar ainda mais os impostos de importação, mas não querem discutir a eliminação das centenas de barreiras não tarifárias que impõem a seus parceiros comer- ciais. Para os países menores, uma pequena concessão dos Estados Uni- dos pode representar um ganho imenso na balança comercial. Os maio- res, como Brasil e Argentina, precisam de muito mais. Os acordos da Alca estão todos ainda por fazer, não existe consenso sobre nenhum dos pon- tos fundamentais do acordo: → Protecionismo: os Estados Unidos topam zerar as tarifas comer- ciais, mas insistem em continuar protegendo sua agricultura com subsídios e barreiras sanitárias e ecológicas. Como são normais al- guns produtos locais que desejam proteger. Uma vez que a maioria dos países latino-americanos produz coisas semelhantes, a encrenca será grande. → Serviços: o acordo atingirá também os serviços ou só produtos? Nin- guém sabe. Se incluir serviços, empresas de aviação e de malotes americanos poderão dominar a América Latina. → Investimentos: os americanos reivindicam um artigo que proíba os países de estatizar empresas de capital estrangeiro e querem que companhias estrangeiras possam processar governos em caso de mudanças legais ou econômicas que as prejudiquem. Os demais acham que isso seria ingerência na soberania dos países. → Brasil: é consenso que sem o Brasil, a ALCA não decola. A estratégia americana é atrair todos os vizinhos e isolar o país, que não tem pressa de ver a ALCA em ação. → Mão de obra: os Estados Unidos querem o direito de exigir que salá- rios e condições de trabalho sejam padronizados em todos os países, é irreal. A única vantagem competitiva dos países latino-americanos na ALCA seria o baixo custo da mão de obra. → Ambiente: a padronização das regularizações ecológicas é outra exi- gência americana, que também inviabiliza boa parte das fábricas de fora dos Estados Unidos e do Canadá. 4.2. Abuso do poder ecoNômico: A ALCA não sabe como regular o poder das corporações de modo que elas não engulam companhias menores de outros países. Os diplomatas não chegaram a um acordo sobre como impedir que empresas e países diminuam artificialmente os preços de seus produtos para competir em vantagem com os do vizinho. Negócios Internacionais / UA 15 Os Estados Unidos e o Processo de Integração Econômica 15 A ALCA vai principalmente exigir recriar certas carreiras já existentes e que outras sejam praticamente reinventadas. Muitas oportunidades vão surgir. A ALCA será sinônimo de oportunidades para as pessoas criativas, ambiciosas que pensam de forma mais cosmopolita e menos provincia- na. A ALCA vai mudar a forma pela qual pensamos sobre várias carreiras atuais. Profissionais de marketing vão ter de entender muito mais sobre o consumidor americano e mexicano. Vão ter de aprender a não apenas a exportar o excedente que não é consumido no Brasil e a conhecer gostos, preferências, hábitos de consumidores nos EUA. O pessoal de publicidade vai ter de criar para públicos mais diversos. Os financistas vão ter de ope- rar em realidades distintas das atuais. A ALCA vai exigir um conjunto de novas competências, como profissionais trilíngues, que dominem o inglês e o espanhol, além do português. Vai também exigir uma multicultura- lidade maior e uma multifuncionalidade grande. Terá um novo tipo de profissional: o especialista em logística de distribuição. Nos EUA, Méxi- co e Canadá a logística e a distribuição são competências essenciais das empresas vencedoras. As empresas brasileiras vão evoluir para um novo estágio, deixando de ser meras exportadoras de bens e serviços para pro- duzir esses bens e serviços em bases e fábricas no exterior. Os maiores palcos de atuação das empresas brasileiras no exterior serão EUA, México e Canadá. O que há, hoje, no Mercosul é muito pouco quando comparado a ALCA. O PIB do Uruguai é semelhante ao PIB do bairro de Santo Amaro, em São Paulo. O da Argentina não ultrapassa o PIB da gran- de São Paulo. Enquanto isso, o PIB da ALCA é de quase US$ 12 trilhões. O mercado da ALCA é de 823 milhões de potenciais consumidores. Com a entrada na ALCA, o Brasil irá crescer muito e o setor têxtil, aço, sucos, agrobusiness, calçados, e todos os que são intensivos em mão de obra, vão se beneficiar. As empresas brasileiras vão vender para um mer- cado muito maior e isso é sinônimo de ofertas de empregos. Entrar ou não na ALCA e em que circunstância é uma decisão coletiva e não apenas de poucos. Vários países fizeram um plebiscito para decidir se entravam ou não na União Europeia. É preciso saber muito mais sobre os clientes atuais e potenciais. Deve-se investir mais em conhecer o con- sumidor americano, para que assim o Brasil possa formatar, produzir e escoar os produtos para aquele mercado gigantesco. A ALCA não irá criar livre trânsito profissional, assim como não ocor- reu no Nafta quando o México e o Canadá se uniram aos EUA. E mesmo na Europa, levaram-se anos para haver um certo trânsito que ainda não é livre. Na Europa há reconhecimento de diplomas, mas salários são di- ferentes e a legislação trabalhista é diferente. Mas, na medida em que grande número de empresas americanas e mexicanas entram no Brasil Negócios Internacionais / UA 15 Os Estados Unidos e o Processo de Integração Econômica 16 ou decidem se dedicar mais ao mercado brasileiro, isso facilita muito o acesso de brasileiros ao mercado de trabalho americano, pois as empre- sas vão necessitar de brasileiros em seus quadros. Ou seja, o fluxo vai aumentar. O mercado vai determinar uma maior convergência de práticas traba- lhistas e salariais. Empresas brasileiras vão operar lá fora e vão repensar suas práticas. A legislação trabalhista e as práticas salariais vão se ajustar com o andar da ALCA. A tendência, em longo prazo, vai ser o Brasil se ajustar às práticas salariais dos EUA e do Canadá. Os trabalhadores brasileiros,de alguns setores, vão ter problemas, pois algumas empresas onde eles trabalham vão ter problemas. O setor de Papel e Celulose é um deles. Máquinas e equipamentos outro. Mas os trabalhadores de muitos setores vão se beneficiar. O conjunto e o número dos beneficiados serão maiores do que dos perdedores. A médio e lon- go prazo, a ALCA pode representar um ganho de produtividade, salários e oportunidades para todos. Em curto prazo, o Brasil terá um inevitável período de ajuste. antena pArAbóliCA Em outra unidade de aprendizagem discutimos a inte- gração da América Latina e o enfraquecimento frente aos produtos chineses e de outros países. Hoje o assun- to ALCA volta a ser polêmico, pois existem aqueles que defendem o acordo para o fortalecimento frente a China e existem aqueles que dizem, que existirá uma tendên- cia dos países pobres ficarem ainda mais pobres. O que você pensa ao respeito, com base no texto abaixo. EUA: América Latina desconfia da Alca1 Governos da América Latina seguem desconfiando da criação da área de livre comércio das Américas (Alca), um projeto frustrado em 2005, reconheceu nesta terça- -feira o subsecretário americano de Comércio, Francis- co Sánchez. “Provavelmente seria preciso uma mudança de ideias em algumas capitais da América Latina antes que possa- mos reviver a Alca”, declarou Sánchez durante uma inter- venção em um centro de análises em Washington. Sánchez participará do Fórum Econômico Mundial que ocorre na próxima semana no Rio de Janeiro. “Acre- dito que não deveríamos esperar que a Alca seja ressus- citada, há muitas outras coisas que podemos fazer”, ex- plicou Sánchez no centro de política progressista NDN. Sánchez declarou-se um “entusiasta” da Alca, um pro- jeto que nasceu em 1994 para ir reduzindo progressiva- mente as barreiras comerciais em todo o continente. A Alca morreu ante a oposição dos líderes mais de es- querda da região na Cúpula das Américas de 2005, em Mar del Plata, Argentina. O funcionário de alto escalão citou especificamente os acordos de livre comércio dos EUA com a Colômbia e Panamá como um novo passo na agenda comercial do governo do presidente Barack Obama a curto prazo, junto ao da Coreia do Sul. “Acredito muito que podemos apresentar estes três acordos (perante o Congresso) neste ano”, disse. Os 1. UOL, Economia. 2011. acordos com Colômbia e Panamá, que aguardam ratifi- cação desde 2006 e 2007, respectivamente, receberam um forte impulso negociador nas últimas semanas. O governo de Obama quer duplicar as exportações americanas até 2015 e a América Latina é importante para conquistar isso, enfatizou Sánchez. O subsecretá- rio para Comércio Internacional se reunirá no Brasil com autoridades do governo para identificar áreas onde seja possível reduzir barreiras, e para debater temas como transparência e direitos de propriedade intelectual. e AgorA, José? Na unidade de hoje, vimos como os EUA estão tentando criar uma grande integração nas Américas, sabe-se que é um processo lento e talvez impossível. Tratamos dos blo- cos econômicos existentes ou sugeridos, gerando uma visão crítica sobre a participação dos países nos blocos e o seu papel diante do abuso de poder diante de gran- des potências econômicas. Na próxima unidade você vai aprender sobre o perfil do executivo internacional. Boa leitura e até a próxima. Negócios Internacionais / UA 15 Os Estados Unidos e o Processo de Integração Econômica 19 reFerênCiAs GUEDES, A. L. Negócios internacionais. São Paulo: Thomson Pioneira, 2007. LÓPEZ-CÓRDOVA, J.E. NAFTA and the Mexican Economy: Analytical Issues and Lessons for the FTAA. México. Intal, 2001.
Compartilhar