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1 MICRONUTRIENTES Fernando Felipe Ferreyra Hernandez Prof. Titular UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA DO SOLO 1 1. Introdução �Os tecidos vegetais contem entre 80 e 98% de água. O peso seco é constituído por elementos, onde a sua presencia, qualitativa e quantitativa, não necessariamente indicam que são essenciais para as plantas. � Dos 106 elementos conhecidos, 17 são considerados essenciais e outros poucos como benéficos para as plantas. � Um elemento para ser considerado essencial deve atender os três critérios propostos por Arnon e Stoud, 1939. 2 1.1 Critérios de essencialidade (Arnon e Stoud, 1939). 1. A omissão do elemento resulta em desenvolvimento anormal das plantas, as plantas não completam seu ciclo de vida ou morrem de forma prematura 2. O elemento deve apresentar uma função especifica e não pode ser substituído por outro. 3. O elemento deve ter um efeito direto sobre o desenvolvimento ou metabolismo e não efeitos indiretos tais como antagonismos com outro elemento presente a níveis tóxicos. 3 � São dezessete os elementos minerais (nutrientes minerais) essenciais para o desenvolvimento das plantas e pelas quantidades exigidas são classificados em macronutrientes (99,5% da MS) e miconutrientes (0,5% da MS). � Três (C, H e O), são fornecidos pelo ar e pela água e combinados no processo chamado de fotossíntese : CO2 + H2O + energia = (CH2O) + O2 �Os demais elementos são fornecidos pelo solo, e com a fertilização de cultivos agrícolas. 4 2 1.2 Nutrientes essenciais Tabela 1 Elementos essenciais as plantas � MACRONUTRIENTES Carbono (C) Oxigênio (O) Hidrogênio (H) Nitrogênio (N) Fósforo (P) Potássio (K) Cálcio (Ca) Magnésio (Mg) Enxofre (S) � MICRONUTRIENTES Boro (B) Cloro (Cl) Cobre (Cu) Ferro (Fe) Manganês (Mn) Molibdênio (Mo) Níquel (Ni) Zinco (Zn) 5 � A quantidade requerida de macronutrientes varia entre 10 a 5.000 vezes mais do que os micronutrientes. � Também são chamados: “elementos menores” e “elementos traços” (conteúdo menor aos macronutrientes e traços nos tecidos das plantas). � Elementos benéficos: definidos como aqueles elementos que tem efeito positivo no desenvolvimento das plantas, entretanto, não se ajustam aos critérios de essencialidade(Al, Co, Se, Na e Si) 6 2.0 Abundancia dos micronutrientes Fonte: Krausckopf, 1972 TABELA 2 Teores totais de micronutrientes em rochas e solos 7 3.0 Formas em que os micronutrientes se encontram no solo e sua dinâmica 3.1 Formas no solo 1. Solúvel em água: ións livres e complexos orgânicos solúveis, na solução do solo. 2. Trocáveis nas superfícies do solo: chamados também de “não especificamente adsorvidos”, são retidos nas superfícies por cargas elétricas negativas do complexo coloidal do solo e podem ser extraídos por soluções de sais neutras ou ácidos 3. Especificamente adsorvidos: retidos em sítios orgânicos e inorgânicos e não são liberados com os extratores de íons trocáveris 8 3 4. Retidos em resíduos biológicos e organismos vivos: podem ser liberados pelo processo de mineralização, e 5. Componentes da estrutura de minerais primário e secundários: Podem formar parte da estrutura de minerais ou encontrar-se como elementos acessórios (impurezas) 6. Precipitados: relacionado com a solubilidade dos compostos que formam com outros componentes da solução do solo. Quando a concentração na solução excede o máximo permissível precipitam. 7. Oclusos em óxidos e hidróxidos de Fe, Al e/ou Mn: os óxidos podem reter íons Zn2+, Cu2+ e (B3O7)2- e ao precipitar ficar oclusos nos mesmos. 9 7 SOLUÇÃO DO SOLO Mn+ An- COMPLEXOS M SOLÚVEIS Oxidação-redução 8 Adsoção pela matéria orgânica 4. Absorção plantas 5. Redução nas raízes 3. Incorporação no húmus 1 Sais solúveis e minerais intemperizados 2. Precipitação 6. Adsorção por argilas e óxidos de Fe e Al 9. Lixiviação Figura 1 : Dinâmica dos micronutrientes 10 4.0 Disponibilidade dos micronutrientes para as plantas 4.1 Fatores que afetam a disponibilidade 4.1.2 Reação do solo (pH): � O pH influencia nas reações que controlam a solubilidade dos ions adsorvidos pelas plantas (micronutrientes) � O aumento do pH diminui os teores de Cu, Fe, Zn e Mn na solução do solo e no complexo de troca cationica. � A calagem é uma prática eficiente no controle da toxidez de Fe, por reduzir sua solubilidade. 11 Figura 2: Influencia do pH na disponibilidade de nutrientes 12 4 4.1.2 Matéria orgânica: � A matéria orgânica do solo(Ac. Húmicos e fúlvicos, polifenóis, aminoácidos, peptídeos, proteínas e polisacarídeos) formam complexos com Fe, Cu, Mn e Zn que podem diminuir sua disponibilidade (Ac, húmicos) ou aumentá-la (Ac. fúlvicos). � Condições que favorecem a decomposição da MOS (calor, umidade, aeração, atividade microbiana favorecem a biodisponibilidade dos micronutrientes. � O boro disponível no solo (extraído com água quente) apresenta correlação positiva com a matéria orgânica, atribuída a complexação do B, mantendo-o relativamente disponível e minimizar a lixiviação. 13 4.1.3 Compostos de Ferro e alumínio Estes compostos reduzem sua solubilidade com o aumento do PH. Os óxidos precipitam e devido as cargas dependentes do pH, podem reter cátions metálicos que ficam oclusos com o crescimento dos cristais 4.1.4 Conteúdo e tipo de argila. Solos com maiores teores de argila e e do tipo 2:1 (maior CTC) comumente possuem maior quantidade de micronutrientes disponíveis. 4.1.5 Umidade do solo. Atua aumentando a solubilidade dos compostos e indiretamente favorecendo a atividade de microorganismos (humificação e mineralização). 14 4.1.6 Interações com outros íons � Adubações com altas doses de fósforo, reduzem a absorção de zinco pelas plantas. � Altas doses de nitrogênio reduzem o efeito tóxico do boro. 15 4.2 Formas em que são absorvidos e função dos micronutrientes nas plantas 4.2.1 Ferro (Fe) � O Fe é absorvido pelas raízes das plantas como Fe2+ e Fe3+. � Participa em reações de oxi-redução tanto em solos como nas plantas (aceita ou doa prótons). � Participa em diversas transformações enzimáticas (transferência de elétrons). Algumas dessas envolvidas na síntese de clorofila. � O Fe é componente estrutural de moléculas de porfirina: citocromos, hematina, ferricromo, e leghemoglobina. Substâncias envolvidas nas reações de oxi-redução da respiração e fotossíntese. � A faixa de suficiência de Fe nos tecidos das plantas normalmente varia entre 50 e 250 mg/kg. � Concentração na MS de 50 mg/kg ou menor, em geral ocorre deficiência de Fe. Os sintomas iniciam nas folhas jovens, devido a que o Fe não se transloca dos tecidos velhos para os meristemas apicais e o crescimento cessa. As Folhas novas desenvolvem clorose internerval, a qual progride para a folha inteira. Em casos severos, as folhas se tornam inteiramente brancas. 16 5 Figura 3: Deficiência de Ferro em milho 17 Figura 4: Deficiência de Ferro em bananeira. 18 Figura 5: Deficiência de Ferro em girassol. 19 4.2.2 Zinco (Zn) � O Zn está envolvido na atividade enzimática, entretanto não se sabe se sua atuação é funcional, estrutural ou como cofator de regulação. � Importante na síntese de triptofano, componente de algumas proteínas e importante para a produção de hormônios de crescimento (auxinas) como o ácido indol acético. � A deficiência de Zn pode ser identificada por sintomas visuais que aparecem com maior freqüência nas folhas. Entretanto ossintomas de deficiência podem aparecer em ramos, frutos ou ser evidentes em todo o desenvolvimento das plantas. � As raízes das plantas absorvem o Zn como Zn2+ e como componentes de complexos orgânicos naturais e artificiais. � Os sintomas mais comuns nas culturas incluem: � Ocorrência de cor verde claro, amarelo ou áreas brancas internervais nas folhas, principalmente folhas velhas. � Morte dos tecidos nas áreas cloróticas. � Redução do tamanho do caule com internódios curtos, que resulta em adensamento das folhas que adquirem aparência de roseta. 20 6 Figura 6: Deficiência de Zinco em milho: A) Planta deficiente e B) planta Normal. 21 Figura 7: Deficiência de Zinco em bananeira 22 4.2.3 Manganês (Mn) � Mn é absorvido pelas plantas como Mn2+ e em combinações moleculares com agentes complexantes naturais e sintéticos. � A concentração de Mn nas plantas, comumente varia entre 20 e 500 mg/kg. Concentrações inferiores a 15- 20 mg/kg são consideradas deficientes. � É conhecida sua participação na fotossíntese e na evolução do O2. Participa dos processos de oxi- redução e das reações de descarboxilação e hidrólise � Semelhante ao Fe, o Mn é relativamente imóvel na planta, e os sintomas de deficiência usualmente são mostrados nas últimas folhas jovens. Em plantas de folhas largas, os sintomas aparecem como clorose internerval. 23 Figura 8: Deficiência de manganês em milho 24 7 Figura 9: Plantas de milho deficientes em Zinco, Ferro, Manganês e Planta Normal. 25 Figura 10: Deficiência de Manganês em bananeira. 26 4.2.4 Cobre (Cu) � Absorvido pelas plantas como íon cúprico Cu2+ e como componente de complexos orgânicos naturais e sintéticos. � A concentração normal nas plantas varia entre 5 a 20 mg/kg. Concentrações abaixo de 4 mg/kg na matéria seca, indicam provável deficiência. � Os sintomas visuais de deficiência de Cu variam muito com a cultura. No milho, as folhas jovens ficam amareladas e o crescimento é retardado. Em estágios avançados de deficiência, as folhas jovens são pálidas e as velhas começam a morrer. � Em estágios avançados de deficiência, a morte dos tecidos se inicia nas pontas e bordas das folhas, seguindo um padrão similar ao da deficiência do potássio. � Em algumas culturas as folhas perdem o turgor. Desenvolvem cor verde azulada, que passa para clorótica e encrespa e ocasiona falhas na produção de flores. � O Cu em sua forma reduzida facilmente se liga e reduz o O2. Na forma oxidada, o metal é facilmente reduzido 27 4.2.5 Boro (B) � Absorvida pelas plantas como ácido bórico (H3BO3) não dissociado. Outras formas como B4O72-, H2BO3-, HBO32- é BO33- podem estar presentes em pequenas quantidades embora não contribuam de forma significativa. � O B é um elemento necessário para as plantas superiores e algumas algas, entretanto não é necessário para animais, fungos e microrganismos. � Importante para o desenvolvimento de novas células em tecidos de meristemas. � Favorece a polinização e frutificação ou produção de sementes. � Translocação de açúcares, amido, N e P � Síntese de aminoácidos e proteína � Formação de nódulos em leguminosas. � Regula o metabolismo de carbohidratos. 28 8 Figura 11: Deficiência de Boro em bananeira 29 Figura 12: Deficiência de boro em bananeira 30 Figura 13: Deficiência de boro em girassol. 31 Figura 3: Deficiência de boro em girasol em Diversos solos do cerá. 32 9 4.2.6 Cloro (Cl) nas Plantas � Cl é absorvido como íon Cl- tanto pelas raízes como pelas folhas. É facilmente transportado nos tecidos das plantas. � A concentração normal na maioria das plantas varia entre 0,2 a 2,0% podendo chegar a níveis tão altos como 10%. Concentrações abaixo de 70-700 mg/kg usualmente são indicativo de deficiência. � Não é considerado um metabólito verdadeiro em plantas superiores. Sua essencialidade esta relacionada com sua inércia bioquímica. Essa inércia permite satisfazer funções osmóticas e de neutralização de cátions, as quais possuem importantes conseqüências químicas e biofísicas. O Cl- é o íon que contrabalança durante o fluxo rápido do potássio, contribuindo para o turgor das folhas. � Os sintomas mais comuns de deficiência de Cl- são a clorose em folhas jovens e murcha geral das plantas. � Também pode ser observada necrose em algumas partes das plantas, bronzeado das folhas e redução do sistema radicular. 33 4.2.7 Molibdênio (Mo) � O Mo é um não metal absorvido pelas plantas como ânion molibdato (MoO42- ). � É um ácido fraco e pode formar complexos polianionicos como o fosfomolibdato. � O conteúdo normal de Mo nas plantas comumente e inferior a 1 mg/kg e as deficiências ocorrem quando a concentração é inferior a 0,2 mg/kg. � O Mo e componente essencial da enzima NO3- - reductase, a qual cataliza a redução de NO3- para NO2-. � Componente estrutural da nitrogenase, enzima ativamente envolvida na fixação de N2 por nódulos bacterianos em raízes de leguminosas, em algumas algas e actinomicetos, e por organismos fixadores de N2 de vida livre como o Azotobacter. � Possui um rol essencial na absorção e transporte do Fe nas plantas 34 4.2.8 Níquel (Ni) � Elemento mais recente identificado como essencial para as plantas superiores (Brown et al 1987) � Absorvido pelas plantas como Ni2+ e pode tornar-se inativo com os ácidos orgânicos. � Faz parte da metaloenzima uréase que participa da decomposição da uréa em CO2 e amônio. � Teores de Ni próximos a 1,5 mg Kg-1 são considerados adequados para as plantas. Teores menores a 100 ng.kg reduzem a germinação de grãos de cevada. � Deficiência de Ni origina acúmulo de uréia e necrose nos folíolos. O Ni aumenta a resistência a doenças. 35 Elemento Forma de Absorção Funções C, H, O, N, S íons na solução: HCO3-, NO3- NH4+, SO4-2 atmosfera O2, N2, SO2 Principais constituintes de substâncias orgânicas P, B íons na solução: H2PO4-1, H1PO4-2, B(OH)4-, H2BO3- e moléculas H3BO3 transferência de energia e movimento de carboidratos. K, Mg, Ca, Cl Ions na solução (K+, Mg+2, Ca+2, Cl-) Funções não específicas, componentes específicos de compostos orgânicos, ou manutenção do balanço iônico Cu, Fe, Mn, Mo, Ni, Zn íons (Cu+2, Fe+2, Mn+2, Ni2+, MoO4-2, Zn+2) ou quelatos em solução habilitação do transporte de prótons e ativação enzimática Tabela 3: Elementos essenciais, suas formas de absorção e funções nas plantas 36 10 5. Avaliação da fertilidade do solo para micronutrientes 5.1 Análises de solos para micronutrientese sua Interpretação. � Comumente se usam extratores (Soluções salinas, ácidas ou complexantes) que retiram os micronutrientes em quantidades que se relacionam com as quantidades extraidas pelas plantas. � Extratores mais comuns : Mehlich-1: solução de HCl 0,05N + H2SO4 0,025N, na relação solo:extrator 1:2,5. HCl 0,1N: solução de HCl 0,1N e na relação solo extrator 1:4 EDTA + CaCl2: solução de Na-EDTA 0,005M + CaCl2 0,01M, na relação solo: extrator 1.2,5 DTPA: solução de DTPA 0,005M + TEA 0,01M, pH 7,3, na relação solo: extrator 1:2 AB-DTPA: solução de DTPA + bicarbonato de amônio, na relação solo extrator 1:2 37 � Se realizam experimentos em condições de campo e/ou casa de vegetação para estabelecimento dos níveis críticos ( ou limites de teores de nutrientes no solo a partir dos quais as plantas respondem a aplicação de nutrientes. � Em experimentos de campo podem obter-se funções de produção para os nutrientes (variação da produção com a aplicação de quantidades crescentes de um elemento dado). � Em condições de casa de vegetação podem realizar-se experimentos com um número de solos grande e sem adubação com um nutriente, adubando-se com todos os demais para que não limitem o crescimentodas plantas. As diferencias de produção podem expressar-se em forma relativa e estabelecer os limites críticos (muito baixo, baixo, médio alto e muito alto (figura ). 38 Figura 4 Produção relativa de matéria seca do girassol em função do boro no solo, solúvel em água quente; setas indicam nível crítico para 70 e 90 % de produção relativa. 0 20 40 60 80 100 120 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1,2 BORO NO SOLO, mg/kg P R O D U Ç Ã O R E L A T I V A , % BAIXO Y = -102,02x2 + 163,26x + 37,942 R2 = 0,484 MÉDIO ALTO 39 Tabela 4: Interpretação de resultados para análise do solo para micronutrientes no Estado do Ceará 40
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