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Caderno-livro de Direito de Família

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DIREITO CIVIL VI – DIREITO DE FAMÍLIA
Profa. Lília Simone
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO	4
BIBLIOGRAFIA	4
ESTUDO DA DISCIPLINA	4
DIREITO DE FAMÍLIA	5
CONCEITO	5
O QUE ESTUDAREMOS NO DIREITO DE FAMÍLIA?	5
NATUREZA JURÍDICA DO DIREITO DE FAMÍLIA	5
PRINCÍPIOS DO DIREITO DE FAMÍLIA	6
O QUE É FAMÍLIA?	7
ESPÉCIES DE FAMÍLIAS	9
RELAÇÃO DE PARENTESCO	9
FILIAÇÃO:	17
CASAMENTO	28
NATUREZA JURÍDICA DO CASAMENTO	28
EFEITOS JURÍDICOS DO CASAMENTO	29
CARACTERÍSTICAS DO CASAMENTO	32
HABILITAÇÃO PARA O CASAMENTO	34
ESPÉCIES DE CASAMENTO VÁLIDO	43
1.	CASAMENTO PUTATIVO	43
2.	CASAMENTO NUNCUPATIVO (EM CASO DE MOLÉSTIA GRAVE)	49
3.	CASAMENTO RELIGIOSO COM EFEITOS CIVIS	51
4.	CASAMENTO CONSULAR	52
5.	CASAMENTO POR PROCURAÇÃO (PROCURADOR INVESTIDO DE PODERES ESPECIAIS)	53
CASAMENTO: REQUISITOS DE EXISTÊNCIA (PLANO DA EXISTÊNCIA)	55
INVALIDADE DO CASAMENTO	56
1.	CASAMENTO INEXISTENTE	56
2.	CASAMENTO NULO	56
3.	CASAMENTO ANULÁVEL	80
4. CASAMENTO COM PENALIDADE	83
OPOSIÇÃO DE IMPEDIMENTO X AÇÃO PARA ANULAÇÃO DE CASAMENTO	87
CASOS DE ANULABILIDADE	90
BEM DE FAMÍLIA	91
BEM DE FAMÍLIA VOLUNTÁRIO	91
BEM DE FAMÍLIA LEGAL	91
SEPARAÇÃO E DIVÓRCIO	97
AINDA EXISTE A FIGURA DA SEPARAÇÃO JUDICIAL? (EC 66/2010)	97
1.	ARGUMENTOS FAVORÁVEIS À MANUTENÇÃO DA SEPARAÇÃO JUDICIAL	97
2.	ARGUMENTOS CONTRÁRIOS À MANUTENÇÃO DA SEPARAÇÃO JUDICIAL	97
3.	JORNADAS DE DIREITO CIVIL E A SEPARAÇÃO JUDICIAL	97
4.	ENTENDIMENTO STJ	98
SEPARAÇÃO X DIVÓRCIO	98
SEPARAÇÃO JUDICIAL	98
1.	A SEPARAÇÃO PÕE FIM À SOCIEDADE CONJUGAL. PODE SER:	98
2.	TIPOS DE SEPARAÇÃO	99
3.	O PAPEL DA CULPA NA SEPARAÇÃO	99
DIVÓRCIO	101
CONVERSÃO DE SEPARAÇÃO EM DIVÓRCIO	102
REGIME DE BENS	103
PACTO ANTENUPCIAL	103
PRINCÍPIOS APLICADOS AOS REGIMES DE BENS	103
POSSIBILIDADE DE ALTERAÇÃO DO REGIME DE BENS – ART. 734, NCPC	103
REGIME DE BENS	104
1.	COMUNHÃO PARCIAL DE BENS	104
2.	COMUNHÃO UNIVERSAL DE BENS	105
3.	SEPARAÇÃO TOTAL DE BENS	106
4.	REGIME DE PARTICIPAÇÃO FINAL NOS AQUESTOS	107
UNIÃO ESTÁVEL	112
CONCUBINATO X UNIÃO ESTÁVEL	112
EVOLUÇÃO NO TRATAMENTO DA UNIÃO ESTÁVEL EM RELAÇÃO À PARTILHA	112
1.	EVOLUÇÃO	112
2.	NATUREZA JURÍDICA – RESP 63.524	112
3.	TRATAMENTO DADO PELA CRFB/88	112
4.	SOBRE A NECESSIDADE DE COABITAÇÃO PARA UNIÃO ESTÁVEL	113
5.	LEGISLAÇÃO POSTERIOR À CRFB/88	113
6.	TESES FIXADAS PELO STJ	114
7.	TEMAS POLÊMICOS EM MATÉRIA DE UNIÃO ESTÁVEL	115
8.	DECISÃO RECENTE DO STF – EQUIPARAÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL E CASAMENTO:	120
9.	INFORMATIVO 595 STJ	120
ALIMENTOS	121
CONCEITO	121
FILHOS COMO BENEFICIÁRIOS	121
BINÔMIO NECESSIDADE X POSSIBILIDADE	121
CLASSIFICAÇÃO DOS ALIMENTOS	121
JURISPRUDÊNCIA	121
CARACTERÍSTICAS DOS ALIMENTOS	124
REGRAS SOBRE A ORDEM PREFERENCIAL	125
OBRIGAÇÃO DO EX-CÔNJUGE E EX-COMPANHEIRO	126
SOLIDARIEDADE NA PRESTAÇÃO DE ALIMENTOS	126
ALIMENTOS COMPENSATÓRIOS	127
ALIMENTOS PROVISÓRIOS E ALIMENTOS PROVISIONAIS	127
JURISPRUDÊNCIAS	128
ALIMENTOS GRAVÍDICOS	131
SENTENÇA DE ALIMENTOS: COISA JULGADA FORMAL	131
ALIMENTOS X RENDA VITALÍCIA	131
BASE DE CÁLCULO DOS ALIMENTOS	132
JURISPRUDÊNCIAS	132
PODER FAMILIAR	136
SUSPENSÃO DO PODER FAMILIAR	136
DA PROTEÇÃO AOS FILHOS – GUARDA	139
GUARDA COMPARTILHADA	139
GUARDA COMPARTILHADA E ALIMENTOS; GUARDA COMPARTILHADA E REGIME DE CONVIVÊNCIA	139
ALIENAÇÃO PARENTAL	140
RECONHECIMENTO DOS FILHOS	141
MULTIPARENTALIDADE	144
DA TUTELA	145
CURATELA	146
CURATELA COMO EXCEÇÃO	146
É O FIM DA INTERDIÇÃO?	146
LEGITIMIDADE DA INTERDIÇÃO – QUESTÕES PROCESSUAIS	146
TOMADA DE DECISÃO APOIADA – NOVO REGIME ALTERNATIVO À CURATELA	147
TEXTO: INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE E EFEITO DA REVELIA (com base no ncpc)	148
PROVAS	154
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
Introdução ao Direito de Família. Casamento. Regime de Bens.
Dissolução do vínculo. União estável.
Relações de parentesco. Filiação. Adoção. Bem de família.
Tutela. Curatela. ECA.
Alimentos.
BIBLIOGRAFIA
Manual de Direito das Famílias – Maria Berenice Dias;
Curso de Direito Civil – Direito de Família – Paulo Nader;
Maria Helena Diniz - Curso de direito civil brasileiro: direito de família. v. 5;
Sílvio Salvo Venosa - Direito civil: direitos de família. v. 6;
Washington de Barros Monteiro - Curso de direito civil: direito de família v. 2;
Gustavo Tepedino - Temas de direito civil. 4;
Rolf Madaleno - Curso de Direito de Família. 5. ;
Caio Mário da Silva Pereira - Instituições de direito civil: direito de família. V. 5;
Cristiano Chaves Farias e Nelson Rosenvald - Curso de direito civil: famílias. v. 6. São Paulo: Atlas.
ESTUDO DA DISCIPLINA
Legislação: CRFB/88, CC e outras leis pertinentes;
Jurisprudência;
Informativos do STJ;
Enunciados;
Enunciados das Jornadas de Direito Civil;
Revista IBDFAM.
DIREITO DE FAMÍLIA
CONCEITO
Conjunto de normas que regulam o casamento, a união estável, a filiação, a adoção, o poder familiar (direito parental), os alimentos, a tutela e a curatela. 
O QUE ESTUDAREMOS NO DIREITO DE FAMÍLIA?
O casamento, sua validade e consequências dele advindas; as relações pessoais e econômicas da sociedade conjugal; a dissolução desta; a união estável; as relações entre pais e filhos; o vínculo de parentesco e os institutos complementares da tutela e curatela.
NATUREZA JURÍDICA DO DIREITO DE FAMÍLIA
Ramo do direito privado, embora sofra forte intervenção estatal; direito extrapatrimonial ou personalíssimo; suas normas são cogentes ou de ordem pública; suas instituições jurídicas são direitos-deveres.
Como coloca a autora Rosa Nery, o direito de família é o ramo mais público do direito privado.
	COMPLEMENTO DO LIVRO – CARLOS ROBERTO GONÇALVES
	PREDOMINÂNCIA DAS NORMAS DE ORDEM PÚBLICA
	Em razão da importância social de sua disciplina, predominam no direito de família as normas de ordem pública, impondo antes deveres do que direitos. Todo o direito familiar se desenvolve e repousa, com efeito, na ideia de que os vínculos são impostos e as faculdades conferidas não tanto para atribuir direitos quanto para impor deveres. Não é principalmente o interesse individual, com as faculdades decorrentes, que se toma em consideração. Os direitos, embora assim reconhecidos e regulados na lei, assumem, na maior parte dos casos, o caráter de deveres.
Daí por que se observa uma intervenção crescente do Estado no campo do direito de família, visando conceder-lhe maior proteção e propiciar melhores condições de vida às gerações novas. Essa constatação tem conduzido alguns doutrinadores a retirar do direito privado o direito de família e incluí-lo no direito público. Outros preferem classifica-lo como direito sui generis ou “direito social”.
	CARÁTER PREDOMINANTEMENTE PRIVADO
	Malgrado as peculiaridades das normas do direito de família, o seu correto lugar é mesmo junto ao direito privado, no ramo do direito civil, em razão da finalidade tutelar que lhe é inerente, ou seja, da natureza das relações jurídicas a que visa disciplinar. Destina-se a proteger a família, os bens que lhe são próprios, a prole e interesses afins.
A íntima aproximação do direito de família ao direito público não retira o caráter privado, pois está disciplinado num dos mais importantes setores do direito civil, e não envolve diretamente uma relação entre o Estado e o cidadão. As relações adstringem-se às pessoas físicas, sem obrigar o ente público na solução dos litígios.
	NATUREZA PERSONALÍSSIMA
	Outra característica dos direitos de família é a sua natureza personalíssima: são direitos irrenunciáveis e intransmissíveis por herança. Desse modo, ninguém pode transferir ou renunciar sua condição de filho. O marido não pode transmitir seu direito de contestar a paternidade do filho havido por sua mulher; ninguém pode ceder seu direito de pleitear alimentos, ou a prerrogativa de demandar o reconhecimento de sua filiação havida fora do matrimônio.
POTESTADES FAMILIARES
São poderes inerentes a quem possui deveres familiares a serem cumpridos. São poderes de que se acham investidos quem deve praticar atos em favor de outra pessoa, incapaz
de cuidar de seus próprios interesses. O titular do potestades não age em função de um interesse próprio, mas de outrem
PRINCÍPIOS DO DIREITO DE FAMÍLIA
Princípio da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da CF);
Princípio da igualdade jurídica entre os cônjuges (art. 226, § 5º, da CF); 
Princípio da igualdade jurídica entre todos os filhos (art. 227, § 7º, da CF);
Princípio do pluralismo familiar; 
Princípio da liberdade; 
Princípio da solidariedade familiar (art. 3º, I, da CF); 
Princípio do maior interesse da criança e do adolescente (art. 227, da CF);
Princípio da paternidade responsável; 
Princípio da função social da família (art. 226, da CF); 
Princípio do afeto.
	COMPLEMENTO DO LIVRO – CARLOS ROBERTO GONÇALVES
	PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA (art. 1º, III, da CF)
	Verifica-se, do exame do texto constitucional, que a milenar proteção da família como instituição, unidade de produção e reprodução dos valores culturais, éticos, religiosos e econômicos, dá lugar à tutela essencialmente funcionalizada à dignidade de seus membros, em particular no que concerne ao desenvolvimento da personalidade dos filhos.
O direito de família é o mais humano de todos os ramos do direito. A evolução do conhecimento científico, os movimentos políticos e sociais do século XX e o fenômeno da globalização provocam mudanças profundas na estrutura da família e nos ordenamentos jurídicos de todo o mundo. Todas essas mudanças trouxeram novos ideais, provocaram um “declínio do patriarcalismo” e lançaram bases de sustentação e compreensão dos Direitos Humanos, a partir da noção da dignidade da pessoa humana, hoje insculpida em quase todas as constituições democráticas.
O princípio do respeito à dignidade da pessoa humana constitui, assim, base da comunidade familiar, garantindo o pleno desenvolvimento e a realização de todos os seus membros, principalmente da criança e do adolescente (CF/88, art. 227).
	PRINCÍPIO DA IGUALDADE JURÍDICA ENTRE OS CÔNJUGES (art. 226, § 5º, da CF)
	A regulamentação instituída no aludido dispositivo acaba com o poder marital e com o sistema de encapsulamento da mulher, restrita a tarefas domésticas e à procriação. O art. 233 do CC/1916 proclamava que o marido era o chefe da sociedade conjugal, competindo-lhe a administração dos bens comuns e particulares da mulher, o direito de fixar o domicílio da família e o dever de prover à manutenção festa.
Todos esses direitos agora são exercidos pelo casal, em sistema de cogestão, devendo as divergências ser solucionadas pelo juiz (CC, art. 1.567, parágrafo único). O dever de prover a manutenção da família deixou de ser apenas um encargo do marido, incumbindo também à mulher, de acordo com as possibilidades de cada qual (art. 1.568).
	PRINCÍPIO DA IGUALDADE JURÍDICA ENTRE TODOS OS FILHOS (art. 227, § 7º, da CF)
	O dispositivo em apreço estabelece absoluta igualdade entre todos os filhos, não admitindo mais a retrograda distinção entre filiação legítima ou ilegítima, segundo os pais fossem casados ou não, e adotiva, que existia no Código Civil de 1916. Hoje, todos são apenas filhos, uns havidos fora do casamento, outros em sua constância, mas com iguais direitos e qualificações (CC, arts. 1.596 a 1.629).
	PRINCÍPIO DA PATERNIDADE RESPONSÁVEL E PLANEJAMENTO FAMILIAR
	Dispõe o art. 226, § 7º, da CF/88 que o planejamento familiar é livre decisão do casal, fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável. Essa responsabilidade é de ambos os genitores, cônjuges ou companheiros. A Lei nº 9.256/96 regulamentou o assunto, especialmente no tocante à responsabilidade do Poder Público.
O Código Civil de 2002, no art. 1.565, traçou algumas diretrizes, proclamando que “o planejamento familiar é de livre decisão do casal” e que é “vedado qualquer tipo de coerção por parte de instituições públicas e privadas”.
O QUE É FAMÍLIA?
É uma instituição social, composta por mais de uma pessoa física, que se irmanam no propósito de desenvolver, entre si, a solidariedade nos planos assistencial e da convivência ou simplesmente descendem uma da outra ou de um tronco comum. (Paulo Nader). Preexiste ao Estado e está acima do Direito (Maria Berenice Dias). É direito extrapatrimonial e por isso: irrenunciável, intransmissível, incondicionado, personalíssimo, de forma que é o interesse da família que, em regra, prevalece em detrimento do interesse individual.
*Polimorfismo familiar: múltiplos modelos de família.
	COMPLEMENTO DO LIVRO – CARLOS ROBERTO GONÇALVES
	A CF/88 alargou o conceito de família, passando a integrá-lo nas relações monoparentais, de um pai com seus filhos. Esse redimensionamento, calcado na realidade que se impôs, acabou afastando a ideia de família o pressuposto de casamento. Para sua configuração, deixou-se de exigir a necessidade de existência de um par, o que, consequentemente, subtraiu de sua finalidade a proliferação.
O art. 227 da CF/88 redimensionou a ideia de filiação, enquanto o art. 226 incluiu no plano constitucional o conceito de entidade familiar, quer decorrente da união estável entre homem e mulher, quer daquele oriundo da comunidade entre qualquer dos pais e seus descendentes, previsto no art. 226, § 4º, da CF/88. O dispositivo constitucional reconheceu a existência das famílias monoparentais que passam, a partir de então, a ser protegidas pelo Estado. Ao lado do casamento (legalizado), o constituinte reconheceu a união livre (não legalizada), e entre os dois extremos da vaga, indefinida, a noção de família monoparental, ainda aguardando integral definição, estruturação e limites pela legislação infraconstitucional.
Ao reconhecer como família a união estável entre um homem e uma mulher, a CF/88 conferiu juridicidade ao relacionamento existente fora do casamento.
O Código Civil de 2002 inseriu título referente à união estável no Livro de Família, incorporando, em cinco artigos, os princípios básicos das aludidas leis, que têm agora caráter subsidiário, tratando, nesses artigos, dos aspectos pessoais e patrimoniais.
Verifica-se, assim, que a CF/88, alterando o conceito de família, impôs novos modelos. Embora família continue a ser a base da sociedade e a desfrutar da especial proteção do Estado, não mais se origina apenas no casamento, uma vez que, a seu lado, duas novas entidades familiares passaram a ser reconhecidas: a constituída pela união estável e a formada por qualquer dos pais e seus descendentes.
	COMPLEMENTO DO LIVRO – CARLOS ROBERTO GONÇALVES
	O DIREITO DE FAMÍLIA NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988
	A CF/88 absorveu essa transformação e adotou uma nova ordem de valores, privilegiando a dignidade da pessoa humana, realizando verdadeira revolução no Direito de Família, a partir de três eixos básicos:
O art. 226 afirma que a entidade familiar é plural e não mais singular, tendo várias formas de constituição.
O segundo eixo transformador encontra-se no § 6º do art. 227. É a alteração do sistema de filiação, de sorte a proibir designações discriminatórias decorrentes do fato de ter a concepção ocorrido dentro ou fora do casamento.
A terceira grande revolução situa-se nos arts. 5º, I, e 226, § 5º. Ao consagrar o princípio da igualdade entre homens e mulheres, derrogou mais de uma centena de artigos do CC/1916.
A nova Carta abriu ainda outros horizontes ao instituto jurídico da família, dedicando especial atenção ao planejamento familiar e à assistência direta à família (art. 226, §§ 7º e 8º).
No tocante ao planejamento familiar, o constituinte enfrentou o problema da limitação da natalidade, fundando-se nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável, proclamando competir ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito. Não desconsiderando o crescimento populacional desordenado, entendeu, todavia, que cabe ao casal a escolha dos critérios e dos modos de agir, “vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou particulares” (art. 226, §
7º).
	O DIREITO DE FAMÍLIA NO CÓDIGO CIVIL DE 2002
	Todas as mudanças sociais havidas na segunda metade do século passado e o advento da CF/88, com as inovações mencionadas, levaram à aprovação do Código Civil de 2002, com a convocação dos pais a uma “paternidade responsável” e assunção de uma realidade familiar concreta, em que os vínculos de afeto se sobrepõem à verdade biológica, após as conquistas genéticas vinculadas aos estudos do DNA. Uma vez declarada a convivência familiar e comunitária como direito fundamental, prioriza-se a família socioafetiva, a não discriminação de filhos, a corresponsabilidade dos pais quanto ao exercício do poder familiar, e se reconhece o núcleo monoparental como entidade familiar.
O Código Civil de 2002 destina um título para reger o direito pessoal, e outro para a disciplina do direito patrimonial da família. Desde logo enfatiza a igualdade dos cônjuges (art. 1.511), materializando a paridade no exercício da sociedade conjugal, redundando no poder familiar, e proíbe a interferência das pessoas jurídicas de direito público na comunhão de vida instituída pelo casamento (art. 1.513), além de disciplinar o regime do casamento religioso e seus efeitos.
O novo diploma:
Amplia, ainda, o conceito de família, com a regulamentação da união estável como entidade familiar;
Revê os preceitos pertinentes à contestação, pelo marido, da legitimidade do filho nascido de sua mulher, ajustando-se à jurisprudência dominante;
Reafirma a igualdade entre os filhos em direitos e qualificações, como consignado na CF/88;
Atenua o princípio da imutabilidade do regime de bens no casamento;
Limita o parentesco, na linha colateral, até o quarto grau, por ser este o limite estabelecido para o direito sucessório;
Introduz novo regime de bens, em substituição ao regime dotal, denominado regime de participação final nos aquestos;
Confere nova disciplina à matéria de invalidade do casamento, que corresponde melhor à natureza das coisas;
Introduz nova disciplina do instituto da adoção, compreendendo tanto a de crianças e adolescentes como a de maiores, exigindo procedimento judicial em ambos os casos;
Regula a dissolução da sociedade conjugal, revogando tacitamente as normas de caráter material da Lei do Divórcio, mantidas, porém, as procedimentais;
Disciplina a prestação de alimentos segundo nova visão, abandonando o rígido critério da mera garantia dos meios de subsistência;
Mantém a instituição do bem de família; e
Procede a uma revisão das normas concernentes à tutela e à curatela, acrescentando a hipótese de curatela do enfermo ou portador de deficiência física, dentre outras alterações.
ESPÉCIES DE FAMÍLIAS
Família matrimonial: decorrente do casamento;
Família informal: decorrente da união estável (hoje já se pode falar em formalismo mínimo);
Família monoparental: formada por qualquer dos pais e seus descendentes, ou seja, constituída por um dos genitores com seus filhos; 
Família anaparental: constituída somente pelos filhos, ou seja, sem pais (ex. a jurisprudência reconhece como bem de família o imóvel de duas irmãs);
Homoafetiva: decorrente da união de pessoas do mesmo sexo (vide ADI 4.277 e ADPF 132, de 5/5/2011, dando interpretação conforme a CF, para excluir qualquer significado do artigo 1723 do CC que impeça o reconhecimento da união entre pessoas do mesmo sexo como entidade familiar. Já há decisão do STJ autorizando o casamento direto de pessoas do mesmo sexo. Há também diversas decisões autorizando a conversão da união estável de pessoas do mesmo sexo em casamento. Há também a resolução 175 do CNJ);
Eudemonista: caracterizada pelo vínculo afetivo.
Baseada no afeto, mas com busca da felicidade individual.
Eudemonismo é um sistema ou teoria filosófico-moral segundo a qual o fim e o bem supremo da vida humana é a felicidade.
Maria Berenice Dias observa:
Surgiu um novo nome para essa tendência de identificar a família pelo seu envolvimento efetivo: família eudemonista, que busca a felicidade individual vivendo um processo de emancipação de seus membros. O eudemonismo é a doutrina que enfatiza o sentido de busca pelo sujeito de sua felicidade. A absorção do princípio eudemonista pelo ordenamento altera o sentido da proteção jurídica da família, deslocando-o da instituição para o sujeito, como se infere da primeira parte do § 8º do art. 226 da CF: o Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos componentes que a integram.
O termo família eudemonista refere-se à primazia do afeto na realidade das novas configurações das entidades familiares constituídas. 
Substituta: decorrente da guarda ou tutela; 
A Lei nº 12.010/2009 (Lei de Adoção), conceitua família extensa “aquela que se estende para além da unidade pais e filhos ou da unidade do casal, formada por parentes próximos com os quais a criança ou adolescente convive e mantém vínculos de afinidade e afetividade”.
RELAÇÃO DE PARENTESCO
CONCEITO 
Parentesco é a relação vinculatória existente não só entre pessoas que descendem umas das outras ou de um mesmo tronco comum, mas também entre o cônjuge e os parentes do outro e entre adotante e adotado (Maria Helena Diniz).
ESPÉCIES DE PARENTESCO
Parentes em linha reta: são parentes em linha reta as pessoas que estão ligadas umas às ouras em uma relação de ascendentes e descendentes.
Parentes em linha colateral: o parentesco em linha colateral é aquele em que as pessoas são provenientes de um só tronco, sem descender uma das outras. Esse tipo de parentesco só é contado até o quarto grau.
Parentesco por afinidade: é aquele que se estabelece com o casamento ou com a união estável. Está limitado aos descendentes, ascendentes e irmãos do cônjuge ou companheiro.
Parentesco civil: decorrente da adoção, da reprodução heteróloga e da relação socioafetiva. 
Parentes:
Linha reta
Linha colateral
Por afinidade
Civil: por adoção e a socioafetiva
Por consanguinidade 
Contagem de parentesco:
	ANOTAÇÕES EM SALA DE AULA
	
Parentesco 	Consanguíneo sangue
		Afinidade até o segundo grau; decorre de casamento ou união estável
	Linha:
Reta: ascendente e descendente
Colateral: até 4º grau
Art. 1.523 – Não podem casar
		 devem
Podem casar? Sim, mas é melhor evitar (questão biológica e patrimonial)
	Plano da existência
	Plano da validade
	Plano da eficácia
	Consentimento
Autoridade competente (absolutamente competente)
*com exceções
	Coação moral
Nulo (declaratória) X Anulável (convalidação)
Em havendo coação física ou moral, não há consentimento. Coação física leva à inexistência do casamento. Coação moral leva à nulidade do casamento.
Coação física inexistência
Coação moral nulidade
Casamento nulo não sujeito à convalidação
Casamento anulável sujeito à convalidação
Sentença que reconhece a nulidade é declaratória.
	Condição
Causas suspensivas 
Art. 1.511, 1.514, 1.516, caput e § 2º, do Código Civil
Art. 1.521 efeitos da sentença anulável ex tunc 
Até que momento pode opor impedimento ao casamento? Até a celebração.
Qualquer um pode opor, inclusive o MP e o Juiz, de ofício.
A oposição se faz perante o Cartório, e depois vai para o juiz. em seguida, promove a ação anulatória.
Idade núbil 16 anos
180 dias anulabilidade
Casamento 5 anos
	COMPLEMENTO DO LIVRO – CARLOS ROBERTO GONÇALVES
	DAS RELAÇÕES DE PARENTESCO – INTRODUÇÃO
	As pessoas unem-se em uma família em razão:
De vínculo conjugal ou união estável;
De parentesco por consanguinidade ou outra origem; e
Da afinidade.
Parentesco é a relação que vincula entre si as pessoas que descendem uma das outras, ou de autor comum (consanguinidade), que aproxima cada um dos cônjuges dos parentes do outro (afinidade), ou que estabelece, por fictio iuris, entre o adotado e o adotante.
Parentesco em sentido estrito. Em sentido estrito, a palavra “parentesco” abrange somente o consanguíneo, definido de forma mais correta como a relação que vincula entre si pessoas que
descendem umas das outras, ou de um mesmo tronco.
Parentesco em sentido amplo. Em sentido amplo, no entanto, inclui o parentesco por afinidade e o decorrente da adoção ou de outra origem, como algumas modalidades de técnicas de reprodução medicamente assistida.
O conhecimento em relação de parentesco, reverte-se de grande importância prática, porque a lei lhe atribui efeitos relevantes, estatuindo direitos e obrigações recíprocos entre os parentes, de ordem pessoal e patrimonial, e fixando proibições com fundamento em sua existência.
Parentesco por afinidade. Afinidade é o vínculo que se estabelece entre um dos cônjuges ou companheiro e os parentes do outro (sogro, genro, cunhado etc.). A relação tem os seus limites traçados na lei e não ultrapassa esse plano, pois que não são entre si parentes ou afins de afins. Tal vinculo resulta exclusivamente do casamento e da união estável.
Parentesco resultante da consanguinidade ou de outra origem (adoção, inseminação artificial, paternidade socioafetiva). Dispõe o art. 1.593 do Código Civil que “o parentesco é natural ou civil, conforme resulte de consanguinidade ou outra origem”. Assim, é natural o parentesco resultante de laços de sangue. O civil recebe esse nome por se tratar de uma criação da lei. O emprego da expressão “outra origem” constitui avanço verificado no Código Civil de 2002, uma vez que o diploma de 1916 considerava civil apenas o parentesco que se originava da adoção.
A inovação teve em vista alcançar, além da adoção, “as hipóteses de filhos havidos por reprodução assistida heteróloga, que não têm vínculo de consanguinidade com os pais. Em razão do art. 227, § 6º, da CF/88, bem como da presunção de paternidade do marido que consente que sua esposa seja inseminada artificialmente com sêmen de terceiro, conforme o art. 1.597, V, a pessoa oriunda de uma das técnicas de reprodução assistida deve ter vinculo de parentesco não só com os pais, mas, também, com os parentes destes, em linha reta e colateral”.
Nova modalidade de filiação adveio, a qual se pode designar “filiação social”, pela qual o marido ou companheiro admite como filho o ente gerado por inseminação artificial.
Parentesco civil, portanto, é o resultante da adoção ou outra origem, como a inseminação artificial.
Relações de parentesco socioafetivas. O aludido art. 1.593 do Código Civil, ao utilizar a expressão “outra origem” também abre espaço ao reconhecimento da paternidade desbiologizada ou socioafetiva, em que, embora não existam elos de sangue, há laços de afetividade que a sociedade reconhece como mais importantes que o vínculo consanguíneo.
A doutrina tem, efetivamente, identificado no dispositivo em apreço elementos para que a jurisprudência possa interpretá-lo de forma mais ampla, abrangendo também as relações de parentesco socioafetivas. São elas comuns no Brasil, e inscrevem-se na realidade segundo o qual uma pessoa é recepcionada no âmbito familiar, sendo neste criada e educada, tal como se da família fosse.
É duvidoso ter o Código Civil reconhecido, no art. 1.593, outras espécies de parentesco civil além daquele decorrente da adoção, acolhendo a paternidade socioafetiva, fundada na posse de estado de filho, aduzindo que essa verdade socioafetiva não é menos importante que a verdade biológica. A realidade jurídica da filiação não é, portanto, fincada apenas nos laços biológicos, mas na realidade de afeto que une pais e filhos, e se manifesta em sua subjetividade e, exatamente, perante o grupo social e a família.
Nessa linha, tem o STJ proclamado que o vínculo socioafetivo prevalece sobre a verdade biológica e que a maternidade socioafetiva deve ser reconhecida, mesmo no caso em que a mãe tenha registrado a filha de outra pessoa como sua.
Todavia, a paternidade socioafetiva, mantida com o pai registral, não afasta os direitos decorrentes da paternidade biológica, sob pena de violar o princípio constitucional da dignidade da pessoa humana. Reconhecida a paternidade biológica, prospera a petição de herança, não subsistindo aos sucessores do investigado legitimidade para pugnar pela prevalência da paternidade socioafetiva, sobretudo quando o próprio pai registral concorda com o pleito. Se é o próprio filho quem busca o reconhecimento do vínculo biológico com outrem, porque durante toda a sua vida foi induzido a acreditar em uma verdade que lhe foi imposta por aqueles que o registraram, não é razoável que se lhe imponha a prevalência da paternidade socioafetiva, a fim de impedir sua pretensão, ainda que haja a consequência patrimonial advinda do reconhecimento do vínculo jurídico do parentesco.
Na V Jornada de Direito Civil do Conselho da Justiça, foi aprovado o Enunciado 519, com a seguinte redação: “O reconhecimento judicial” do vínculo de parentesco em virtude de socioafetividade deve ocorrer a partir da relação entre pai(s) e filho(s), com base na posse do estado de filho, para que produza efeitos pessoais e patrimoniais.
A multiparentalidade. Destaca-se a aceitação, na doutrina, da possibilidade de reconhecimento da dupla parentalidade ou multiparentalidade. Contudo, já surgiram algumas decisões afastando a escolha entre o vínculo biológico e o socioafetivo e admitindo a hipótese de a pessoa ter dois pais ou duas mães em seu registro civil. Entre as que deferiram o duplo registro do menor, em nome da mãe biológica e da mãe socioafetiva, ante o pedido de ambos para que a dupla parentalidade fosse reconhecida, destaca-se a proferida pelo TJSP, nestes termos:
MATERNIDADE SOCIOAFETIVA. Preservação da Maternidade Biológica. Respeito à memória da mãe biológica, falecida em decorrência do parto, e de sua família – Enteado criado como filho desde dois anos de idade – Filiação socioafetiva que tem amparo no art. 1.593 do Código Civil e decorre da posse do estado de filho, fruto de longa e estável convivência, aliada ao afeto e consideração mútuos, e sua manifestação pública, de forma a não deixar dúvida, a quem não conhece, de que se trata de parentes – A formação da família moderna não consanguínea tem sua base na afetividade e nos princípios da dignidade da pessoa humana e da solidariedade.
A multiparentalidade consiste, pois, no fato de o filho ter dois pais ou mães reconhecidos pelo direito, o biológico e o socioafetivo, em função da valorização da filiação socioafetiva.
O STF, em julgamento realizado em 21/09/2016, negou pedido de reconhecimento da preponderância da paternidade socioafetiva sobre a biológica. A decisão admitiu a multiparentalidade, com a manutenção dos pais afetivos e biológicos. Proclamou a referida Corte que a existência de pai socioafetivo não tira deveres do pai biológico, como o de pagar alimentos.
Parentesco resultante da adoção. O art. 227, § 7º, da CF/88, proibindo designações e tratamentos discriminatórios, atribuiu aos filhos adotivos os mesmos direitos e deveres oriundos da filiação biológica. Essa regra foi reafirmada no art. 1.596 do Código Civil, tendo o aludido diploma ainda unificado a adoção para menores e maiores de 18 anos ao estatuir, no art. 1.619, com a redação dada pela Lei de Adoção (Lei nº12.010/2009), que a medida depende “da assistência efetiva do Poder Público e sentença constitutiva”.
Parentesco espiritual. Sublinhe-se que o nosso direito positivo não confere importância ao denominado “parentesco espiritual” (spiritualis cognatio), derivado das qualidades de padrinho ou madrinha e afilhado, cuja existência o direito canônico sempre reconheceu, inclusive como impedimento matrimonial.
	O VÍNCULO DE PARENTESCO – LINHAS E GRAUS
	O vínculo de parentesco estabelece-se por linhas: reta e colateral, e a contagem faz-se por graus.
Parentesco em linha reta. Parentes em linha reta são as pessoas que descendem umas das outras, ou, na dicção do art. 1.591 do Código Civil, são “as pessoas que estão umas para com as outras na relação de ascendentes e descendentes”, tais como bisavô, avô, pai, filho, neto e bisneto. Confira-se:
Linha reta ascendente. A linha reta é ascendente quando se sobe
de determinada pessoa para os seus antepassados (do pai para o avô etc.). Toda pessoa, sob o prisma de sua ascendência, tem duas linhas de parentesco: a linha paterna e a linha materna. Essa distinção ganha relevância no campo do direito das sucessões, que adota, para partilhar a herança, o modo denominado “partilha in lineas”. A linha ascendente, depois de bifurcar-se entre os ascendentes do pai e os ascendentes da mãe, prossegue em sucessivas bifurcações, pois cada pessoa se origina de duas. Por isso, fala-se em “arvore genealógica”. Veja-se:
Linha reta descendente. A linha reta descendente quando se desce dessa pessoa para os seus descendentes. Tal assertiva igualmente repercute no direito das sucessões, quanto ao modo de partilhar a herança in stirpes, tendo em vista que cada descendente passa a constituir uma estirpe relativamente aos seus pais.
Efeitos importantes do parentesco em linha reta. O parentesco em linha reta produz diversos efeitos importantes, merecendo destaque:
“O dever de assistir, criar e educar os filhos menores”, imposto aos pais pelo art. 229 da CF/88, que também atribui aos filhos maiores o encargo de “ajudar a amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade”;
O direito deferido aos parentes, no art. 1.694 do Código Civil, de pedirem uns aos outros “os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social”;
A indicação dos descendentes e ascendentes, no art. 1.829, como sucessores legítimos, e como herdeiros necessários, no art. 1.845;
A inclusão da aludida relação no rol dos impedimentos absolutos à realização do casamento, em consequência do vínculo da consanguinidade etc.
Contagem de parentesco em linha reta. A distância entre dois parentes mede-se por graus. Grau, portanto, é a distância em gerações, que vai de um a outro parente.
Na linha reta, contam-se os graus “pelo número de gerações”. Geração é a relação existente entre o genitor e o gerado. Assim, pai e filho são parentes em linha reta em primeiro grau. Já avô e neto são parentes em segundo grau, porque entre eles há duas gerações. Confira-se:
Parentesco em linha colateral. São parentes em linha colateral, transversal ou oblíqua as pessoas que provêm de um tronco comum, “sem descenderem uma da outra”. É o caso de irmãos, tios, sobrinhos e primos. Na linha reta não há limite, pois a contagem do parentesco é ad infinitum; na colateral, este se estende somente até “o quarto grau”. Dispõe, com efeito, o art. 1.592 do Código Civil que “são parentes em linha colateral ou transversal, até o quarto grau, as pessoas provenientes de um só tronco, sem descenderem uma da outra”.
Importantes efeitos do parentesco em linha colateral. Dentre outros efeitos, assinale-se:
O que acarreta, até o terceiro grau inclusive, impedimento para o casamento (CC, art. 1.521, IV);
A obrigação de pagar alimentos aos parentes necessitados extensiva aos irmãos, que são colaterais de segundo grau (art. 1.697);
O chamamento para suceder somente dos colaterais até o quarto grau, no âmbito do direito das sucessões (art. 1.839);
A adoção do princípio de que os mais próximos excluem os mais remotos (art. 1.840).
Contagem de parentesco na linha colateral. Na linha colateral a contagem faz-se também pelo número de gerações. Parte-se de um parente situado em uma das linhas, subindo-se, contando as gerações, até o tronco comum, e descendo pela outra linha, continuando a contagem das gerações “até encontrar o outro parente” (CC, art. 1.594). Trata-se do sistema romano de contagem de graus na linha colateral.
Assim, irmãos são colaterais em segundo grau. Partindo-se de um deles, até chegar ao tronco comum conta-se uma geração. Descendo pela outra linha, logo depois de uma geração já se encontra o outro irmão. Tios e sobrinhos são colaterais em terceiro grau; primos, em quarto. No caso dos primos, cada lado da escala de contagem terá dois graus. Também são colaterais de quarto grau os sobrinhos-netos e tios-avós, hipóteses em que um dos lados da escala terá três graus, e o outro um. Veja-se:
O parentesco mais próximo da linha colateral é o de segundo grau, existente entre irmãos. Não há parentesco em primeiro grau na linha colateral, porque quando contamos uma geração ainda estamos na linha reta. Para a contagem dos graus, como se observa, utiliza-se sistema segundo o qual o ascendente comum não é incluído na contagem – stipite deempto.
Irmãos germanos e unilaterais. Denominam-se irmãos germanos ou bilaterais os que têm o mesmo pai e a mesma mãe; e unilaterais os irmãos somente por parte de mãe (uterinos) ou somente por parte do pai (consanguíneos). O Código Civil regulamenta, nos arts. 1.841 a 1.843, os direitos sucessórios dos irmãos germanos e unilaterais.
Linha colateral igual, desigual e dúplice. A linha colateral pode ser:
Igual: como no caso de irmãos, porque a distância que os separa do tronco comum, em número de gerações, é a mesma;
Desigual: como no caso de tio e sobrinho, porque este se encontra separado do tronco comum por duas gerações e aqueles por apenas uma;
Dúplice ou duplicada: como no caso de dois irmãos que se casam com duas irmãs. Nesse caso, os filhos que nascerem dos dois casais serão parentes colaterais em linha duplicada.
Família e parentesco. Observa-se, do exposto, que família e parentesco são categorias distintas. O cônjuge pertence à família, e não é parente do outro cônjuge, posto que seja parente afim dos parentes consanguíneos do outro cônjuge.
É possível ação declaratória do parentesco, ainda que se não alegue ligação a qualquer outro interesse. Basta o interesse mesmo do parentesco.
	ESPÉCIES DE PARENTESCO
	O art. 227, § 6º, da CF/88 proclama terem os filhos, havidos ou não da relação de casamento, ou por adoção, os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.
Essa regra foi reproduzida ipsis literis no art. 1.596 do Código Civil. Não mais podem, portanto, os filhos ser chamados, discriminatoriamente, de legítimos, ilegítimos ou adotivos, a não ser em doutrina.
Parentesco natural ou civil. Malgrado o retrotranscrito art. 1.593 do Código Civil preceitue que o parentesco é natural ou civil, conforme resulte de consanguinidade ou outra origem, sob o prisma legal não pode haver diferença entre parentesco natural ou civil, especialmente quanto à igualdade de direitos e proibição de discriminação. Devem todos ser chamados apenas de parentes.
Parentesco por afinidade. O casamento e a união estável dão origem ao parentesco por afinidade. Cada cônjuge ou companheiro torna-se parente por afinidade dos parentes do outro (CC, art. 1.595). Mesmo não existindo, in casu, tronco ancestral comum, contam-se os graus por analogia com o parentesco consanguíneo. Se um dos cônjuges ou companheiros tem parentes em linha reta (pais, filhos), estes se tornam parentes por afinidade em linha reta do outro cônjuge ou companheiro. Essa afinidade em linha reta pode ser ascendente (sogro, sogra, padrasto e madrasta, que são afins em 1º grau) e descendente (genro, nora, enteado e enteada, no mesmo grau de filho ou filha, portanto afins de primeiro grau).
Limitação do parentesco ao segundo grau. Proclama o § 1º do aludido art. 1.595 do Código Civil que “o parentesco por afinidade limita-se aos ascendentes e aos irmãos do cônjuge ou companheiro”. Cunhados (irmãos de um e de outro cônjuge ou companheiro) são afins na linha colateral em segundo grau.
A afinidade é um vínculo de ordem jurídica e decorre somente da lei. Essa circunstância vem claramente expressa na língua inglesa, que designa o afim pelo mesmo vocábulo com o qual indica o consanguíneo correspondente, acrescentando-lhe a frase in law (segundo a lei). Assim, sogro é chamado father-in-law (pai segundo a lei) e cunhado brother-in-law.
Como a afinidade é relação de natureza estritamente pessoal, cujos limites são traçados na lei, ela não se estabelece entre os parentes dos cônjuges ou companheiros, sendo que os afins de cada
um não o são entre si (concunhados não são afins entre si). E, no caso de novo casamento ou união estável, os afins da primeira comunhão de vidas não se tornam afins do cônjuge ou companheiro da segunda.
Perpetuidade da afinidade na linha reta. Dispõe, por sua vez, o § 2º do mencionado art. 1.595 do Código Civil que, “na linha reta, a afinidade não se extingue com a dissolução do casamento ou da união estável”. Nesse dispositivo se encontra a razão do impedimento matrimonial previsto no art. 1.521, II, do mesmo diploma, que também se aplica à união estável (art. 1.723, § 1º).
Desse modo, rompido o vínculo matrimonial permanecem o sogro ou sofra, genro ou nora ligados pelas relações de afinidade. Significa dizer que, falecendo a esposa ou companheira, por exemplo, o marido ou companheiro continua ligado à sogra pelo vínculo da afinidade. Se se casar novamente, terá duas sogras.
Na linha colateral, contudo, a morte ou divórcio de um dos cônjuges ou companheiros faz desaparecer a afinidade. Como o impedimento matrimonial refere-se apenas à linha reta (CC, art. 1.521, II), nada impede, assim, o casamento do viúvo no divorciado com a cunhada.
Se a dissolução da sociedade conjugal se der pela separação judicial, que não rompe o vínculo, subsiste a afinidade entre o cônjuge separado e os parentes do consorte. Com o divórcio e consequente rompimento do vínculo, não mais persiste a afinidade. O casamento do cônjuge separado judicialmente com a cunhada só poderá realizar-se, pois, após a conversão da separação em divórcio (ou divorcio direto, para quem, como nós, entende que o divórcio-conversão foi eliminado do nosso ordenamento jurídico pela “PEC do Divórcio”).
Nos casos de nulidade ou anulabilidade, somente persistirá a afinidade se reconhecida a putatividade do casamento. Tendo em vista que o citado art. 1.595 do Código Civil incluiu o companheiro no rol dos parentes por afinidade, não pode ele, dissolvida a união estável, casar-se com a filha de sua ex-companheira.
FILIAÇÃO:
O art. 1596, CC estabelece a igualdade entre todos os filhos. Qualquer classificação de filiação é meramente didática.
HÁ PRESUNÇÃO DE PATERNIDADE:
Filhos nascidos 180 dias, pelo menos, depois de estabelecida a convivência conjugal;
Nascidos nos 300 dias subsequentes à dissolução da sociedade conjugal;
Havidos por fecundação artificial homóloga;
Havidos por inseminação artificial heteróloga desde que com prévia autorização do marido. 
	FILHOS
	Havidos no casamento
	Havidos fora do casamento
	Presunção de paternidade
	Reconhecimento voluntário por escritura pública, testamento, no registro ou perante o juiz;
Ação de investigação de paternidade.
	COMPLEMENTO DO LIVRO – CARLOS ROBERTO GONÇALVES
	INTRODUÇÃO
	Conceito
Filiação é a relação de parentesco consanguíneo, em primeiro grau e em linha reta, que liga uma pessoa àquelas que geraram, ou a receberam como se a tivessem gerado. Todas as regras sobre parentesco consanguíneo estruturam-se a partir da noção de filiação, pois a mais próxima, a mais importante, a principal relação de parentesco é a que se estabelece entre pais e filhos.
Em sentido estrito, filiação é a relação jurídica que liga o filho a seus pais. É considerada filiação propriamente dita quando visualizada pelo lado dos genitores em relação ao filho, o vínculo se denomina paternidade ou maternidade. Em linguagem jurídica, todavia, às vezes se designa por paternidade, num sentido amplo, tanto a paternidade propriamente dita como a maternidade. É assim, por exemplo, que deve ser entendida a expressão “paternidade responsável” consagrada na CF/88, art. 226, § 7º.
Princípio da igualdade dos filhos
A CF/88 em seu art. 227, § 6º, estabeleceu absoluta igualdade entre todos os filhos, não admitindo mais a retrograda distinção entre filiação legítima e ilegítima, segundo os pais fossem casados ou não, e adotiva, que existia no Código Civil de 1916. Naquela época, dada a variedade de consequências que essa classificação acarretava, mostrava-se relevante provar e estabelecer a legitimidade.
Filhos legítimos eram os que procediam de justas núpcias. Quando não houvesse casamento entre os genitores, denominavam-se ilegítimos e se classificavam, por sua vez, em naturais e espúrios. Naturais, quando entre os pais não havia impedimento para o casamento. Espúrios, quando a lei proibia a união conjugal dos pais. Estes podiam ser adulterinos, se o impedimento resultasse do fato de um deles ou de ambos serem casados, e incestuosos, se decorresse do parentesco próximo, como entre pai e filha ou entre irmão e irmã.
Hoje, todavia, todos são apenas filhos, uns havidos fora do casamento, outros em sua constância, mas com iguais direitos e qualificações. O princípio da igualdade dos filhos é reiterado no art. 1.596 do Código Civil, que enfatiza: “Os filhos, havidos ou não da relação de casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação”.
Malgrado a existência, por vedação expressa da lei, de diversidade de direitos, qualificações discriminatórias e efeitos diferenciados pela origem da filiação, estabelece ela, para os filhos que procedem de justas núpcias, uma presunção de paternidade e a forma de sua impugnação, para os havidos fora do casamento, critérios para o reconhecimento, judicial ou voluntário; e, para os adotados, requisitos para sua efetivação.
	PRESUNÇÃO LEGAL DE PATERNIDADE
	Não se podendo provar diretamente a paternidade, toda a civilização ocidental assenta a ideia de filiação num “jogo de presunções”, a seu turno fundadas numa probabilidade: o casamento pressupõe as relações sexuais dos cônjuges e fidelidade da mulher; o filho que é concebido durante o matrimonio tem por pai o marido de sua mãe. E, em consequência, “presume-se filho o concebido na constância do casamento”. Esta regra já vinha proclamada no Direito Romano: pater is est quem justae nuptiae demonstrant.
Baseado no que normal ou comumente acontece (quod plerumque accidit), presume o legislador que o filho da mulher casada foi fecundado por seu marido. Tal presunção visa preservar a segurança e a paz familiar, evitando que se atribua prole adulterina à mulher casada e se introduza, desnecessariamente, na vida familiar, o receio da imputação de infidelidade.
Já diziam os romanos: mater semper certa est. Em regra, o simples fato do nascimento estabelece o vínculo jurídico entre a mãe e o filho. Se a mãe for casada, esta circunstância estabelece, automaticamente, a paternidade: o pai da criança é o marido da mãe, incidindo a aludida presunção pater is est quem justae nuptiae demonstrani. 
A presunção pater it est
O Código Civil, no capítulo concernente à filiação, enumera as hipóteses em que se presume terem os filhos sido concebidos na constância do casamento. Embora tal noção não tenha mais interesse para a configuração da filiação legítima, continua sendo importante para a incidência da presunção legal de paternidade.
Essa presunção, que vigora quando o filho é concebido na constância do casamento, é presumida a paternidade do marido no caso de filho gerado por mulher casada.
Dispõe o art. 1.597 do Código Civil que se presumem concebidos na constância do casamento os filhos:
I – nascidos 180 dias, pelo menos, depois de estabelecida a convivência conjugal;
II – nascidos nos 300 dias subsequentes à dissolução da sociedade conjugal, por morte, separação judicial, nulidade e anulação do casamento;
III – havidos por fecundação artificial homóloga, mesmo que falecido o marido;
IV – havidos, a qualquer tempo, quando se tratar de embriões excedentários, decorrentes de concepção artificial homóloga;
V – havidos por inseminação artificial heteróloga, desde que tenha prévia autorização do marido.
Inciso I – Período mínimo de gestação viável. 
Baseiam-se os dois primeiros incisos do aludido dispositivo nos períodos mínimo e máximo de gestação viável. O prazo de 180 dias começa a fluir não da data da celebração do
casamento, mas do momento em que se estabelece a convivência conjugal (caso de pessoas que se casam por procuração ou se veem impossibilitadas de iniciar o convívio por algum motivo relevante, como um repentino problema de saúde, por exemplo).
A ciência moderna, com seus constantes avanços, autoriza, todavia, outras soluções, uma vez que consegue determinar com precisão a data em que se deu a concepção, com pequenas e desprezíveis diferenças. Por outro lado, o exame de DNA possibilita definir a paternidade com a certeza necessária.
Assim, pouca ou nenhuma valia terá na prática do aludido inciso I ora comentado.
Relativização da origem biológica, na família socioafetiva.
Não se pode deixar de enfatizar que, todavia, sob o ponto de vista da família socioafetiva prestigiada pela CF/88, que relativiza a origem biológica, essa presunção não é determinante da paternidade ou da filiação, pois, independentemente da fidelidade da mulher, pai é marido ou o companheiro que aceita a paternidade do filho, ainda que nascido antes do prazo de 180 dias do início da convivência, sem questionar a origem genética, consolidando-se o estado de filiação. Não se deve esquecer que a origem dessa presunção, e sua própria razão de ser, antes da CF/88, era a atribuição da legitimidade ou ilegitimidade da filiação.
Inciso II – período máximo de gestação viável. 
No inciso II, como as separações judiciais, divórcios e anulações não se resolvem em um dia, é evidente que o prazo deve iniciar-se da separação de fato, devidamente comprovada.
Se o filho nascer depois dos trezentos dias, a contar da morte do marido, não o socorrerá a presunção de legitimidade, e, nesse caso, aos herdeiros caberá o direito de propor ação impugnativa da filiação. Preceitua, a propósito, o art. 1.598 do Código Civil:
Salvo prova em contrário, se, antes de decorrido o prazo previsto no inciso II do art. 1.523, a mulher contrair novas núpcias e lhe nascer algum filho, este se presume do primeiro marido, se nascido dentro dos 300 dias a contar da data do falecimento desde e, do segundo, se o nascimento ocorrer após esse período e já decorrido o prazo a que se refere o inciso I do art. 1.597.
Para impedir esse conflito de presunções, instituiu-se a causa suspensiva do inciso II do art. 1.523 do Código Civil. Se não obstante, vier a casar-se a viúva, ou aquela cujo casamento se desfez, aduz, recorrer-se-á à produção dos meios regularidades de prova: exame de DNA, documentos, oitiva de testemunhas. Baldadas as provas, institui o artigo uma presunção, a exemplo do Código Civil Alemão (art. 1.600): o filho presume-se do primeiro marido, se nascer dentro dos 300 dias a contar do falecimento dele, ou da anulação do casamento. Será do segundo marido, se ocorrer mais tarde. É a solução que melhor se coaduna com a ciência.
Somente incide a presunção pater is est se houver convivência do casal. Com o desenvolvimento da ciência e a possibilidade de se realizarem exames que apurem a paternidade com certeza científica, especialmente por meio de DNA, cuja molécula contém o código genético pela herança cromossômica de cada indivíduo, prevalecerá a verdade biológica.
A procriação assistida e novo Código Civil 
O art. 1.597 do Código Civil prevê, nos incs. III, IV e V, mais três hipóteses de presunção de filhos concebidos na constância do casamento, todas elas vinculadas à reprodução assistida. A doutrina tem considerado tais presunções adequadas aos avanços ocorridos nessa área.
Inciso III – Presunção decorrente de fecundação ratificação homóloga
O inciso III do aludido dispositivo faz incidir a presunção de filhos concebidos na constância do casamento nos “havidos por fecundação artificial homóloga, mesmo que falecido o marido”.
O vocábulo fecundação indica a fase de reprodução assistida consistente na fertilização do óvulo pelo espermatozoide. A fecundação ou inseminação homóloga é realizada com sêmen originário do marido. Nesse caso o óvulo e o sêmen pertencem à mulher e ao marido, respectivamente, pressupondo-se, in casu, o consentimento de ambos. A fecundação ou inseminação artificial post mortem é realizada com embrião ou sêmen conservado, após a morte do doador, por meio de técnicas especiais.
Na Jornada de Direito Civil realizada no Conselho da Justiça Federal em junho/2002, aprovou-se proposição (Enunciado 106) para que se interprete o inciso III do citado art. 1.597 no sentido de ser obrigatório, para que se presuma a paternidade do marido falecido, que a mulher, ao se submeter a uma das técnicas de reprodução assistida com o material genético do falecido, esteja ainda na condição de viúva, devendo haver ainda autorização escrita do marido para que se utilize seu material genético após sua morte.
Não se pode falar em direitos sucessórios daquele que foi concebido por inseminação artificial post mortem, uma vez que a transmissão da herança se dá em consequência da morte (CC, art. 1.784) e dela participam as “pessoas nascidas ou já concebidas no momento da abertura da sucessão” (art. 1.798).
Enquanto não houver uma reforma legislativa, até mesmo para atender ao princípio constitucional da não discriminação dos filhos, caberá à doutrina e à jurisprudência fornecer subsídios para a solução dessa questão. 
Inciso IV – Presunção, no caso de embriões excedentários 
Dispõe o inciso IV do art. 1.597 do Código Civil que se presumem filhos aqueles “havidos, a qualquer tempo, quando se tratar de embriões excedentários, decorrentes de concepção artificial homóloga”.
Sobre fertilização assistida, que embrião é o ser oriundo da junção de gametas humanos, sendo que há basicamente dois métodos de reprodução artificial: a fertilização in vitro, na qual o óvulo e o espermatozoide são unidos numa proveta, ocorrendo a fecundação fora do corpo da mulher, e a inseminação artificial, consistente na introdução de gameta masculino, por meio artificial, no corpo da mulher, esperando-se que a própria natureza faça a fecundação.
O embrião é excendentário quando é fecundado fora do corpo (in vitro) e não é introduzido prontamente na mulher, sendo armazenado por técnicas especiais.
Considera-se embrião o ser humano durante as 8 primeiras semanas de seu desenvolvimento intrauterino, ou em proveta e depois no útero, nos casos de fecundação in vitro, que é a hipótese cogitada no inciso IV do artigo sob comento. O Código Civil não define a partir de quando se considera embrião, mas a Resolução nº 1.358/92, do CFM, indica que, “a partir de 14 dias, tem-se propriamente o embrião, ou vida humana. Essa distinção é aceita em vários direitos estrangeiros, especialmente na Europa”.
Apenas é admitida a concepção de embriões excedentários se estes derivarem de fecundação homóloga, ou seja, de gametas da mãe e do pai, sejam casados ou companheiros de união estável. Por consequência, está proibida a utilização de embrião excedentário por homem e mulher que não sejam os pais genéticos ou por outra mulher titular de entidade monoparental. O que ocorrerá, contudo, se a vedação for descumprida e ocorrer a concepção no útero da mulher que não seja a mãe genética? O filho será juridicamente daquela e, no caso de par casado, do marido, neste caso em virtude do princípio pater is est e da presunção de maternidade da mulher parturiente, além da circunstância de não ter o Brasil, ao lado da maioria dos países, acolhido o uso instrumental do útero alheio, sem vínculo de filiação (popularmente conhecido como “barriga de aluguel”).
Barriga de aluguel 
A Resolução nº 1.957/2010, do Conselho Federal de Medicina, prescreve que as clínicas, centros ou serviços de reprodução humana podem usar técnicas de reprodução assistida para criarem a situação identificada como gestação de substituição (barriga de aluguel), desde que exista um problema médico que impeça ou contraindique a gestação da doadora genética. Na sequência, proclama a referida Resolução: “As doadoras temporárias do útero devem pertencer à família da doadora genética, num parentesco até o segundo grau, sendo os demais casos
sujeitos à autorização do Conselho Regional de Medicina”.
Frisa, ainda, a mencionada Resolução: “A doação temporária do útero não poderá ter caráter lucrativo ou comercial”.
A mencionada Jornada de Direito Civil, realizada em junho/2002, aprovou proposição no sentido de que, “finda a sociedade conjugal, na forma do art. 1.571, deste Código, a regra do inciso IV somente poderá ser aplicada se houver autorização prévia, por escrito, dos ex-cônjuges, para a utilização dos embriões excedentários, só podendo ser revogada até o início o procedimento de implantação destes embriões”.
Inciso V – Presunção decorrente de inseminação artificial 
Por fim, o inciso V do art. 1.597 presume concebidos na constância do casamento os filhos “havidos por inseminação artificial heteróloga, desde que tenha prévia autorização do marido”.
Ocorre tal modalidade de inseminação quando é utilizado “sêmen de outro homem, normalmente doador anônimo, e não o do marido, para a fecundação do ovulo da mulher. A lei não exige que o marido seja estéril ou, por qualquer razão física ou psíquica, não possa procriar. A única exigência é que tenha o marido previamente autorizado a utilização de sêmen estranho ao seu. A lei não exige que haja autorização escrita, apenas que seja ‘prévia’, razão por que pode ser verbal e comprovada em juízo como tal”.
Se o marido anuiu na inseminação artificial heteróloga, será o pai legal da criança assim concebida, não podendo voltar atrás, salvo se provar que, na verdade, aquele bebê adveio da infidelidade de sua mulher (CC, arts. 1.600 e 1.602).
Tal anuência só será revogável até o momento da inseminação; feita esta, não poderá desconhecer a paternidade do filho de sua esposa.
Na esteira desse entendimento que é o princípio universalmente seguido o de que o marido que teve conhecimento e consentiu na inseminação artificial com esperma de um terceiro não pode, depois, impugnar a paternidade... Seria antijurídico, injusto, além de imoral e torpe, que o marido pudesse desdizer-se e, por sua vontade, ao seu arbítrio, desfazer um vínculo tão significativo, para o qual aderiu, consciente e voluntariamente.
Relatividade da presunção legal de paternidade
Em regra, a presunção de paternidade do art. 1.597 do Código Civil é juris tantum, admitindo prova em contrário. Pode, pois, ser elidida pelo marido, mediante ação negatória de paternidade, que é imprescritível (art. 1.601). Não incidirá se o filho nascer antes de a convivência conjugal completar 180 dias.
Compreensível, desse modo, não bastar “a confissão materna para excluir a paternidade” (art. 1.602), nem “o adultério da mulher, ainda que confessado” (art. 1.600). Com efeito, a confissão não vale quanto a direitos indisponíveis (CPC, art. 392). E o reconhecimento da filiação tem essa natureza.
A confissão da mulher não é suficiente para ilidir a presunção, porque pode ser produto de interesses materiais, e não da verdade. Ademais, referida confissão implicaria um prejuízo para a prole, com o qual o legislador não concorda. Compete ao marido propor a ação de contestação da paternidade, instruindo-a com prova que complemente convincentemente a confissão maternidade.
Afastamento da presunção mediante prova da impotência do cônjuge 
No entanto, “a prova da impotência do cônjuge para gerar, à época da concepção, ilide a presunção da paternidade” (art. 1.599). Exigia o Código de 1916 que a impotência fosse absoluta, isto é, total, insuscetível de ser sanada por intervenção médica. O novo diploma, todavia, não considera mais necessário que seja absoluta, “o que reflete o avanço das provas técnicas existentes para a demonstração da filiação, dentre as quais se destaca o exame de DNA”.
O importante é que a patologia tenha ocorrido depois de estabelecida a convivência conjugal e no prazo legal atribuído ao momento da concepção, traduzido nos 120 dias, ou mais, dos 300 que houverem precedido ao nascimento do filho.
Ressalte-se que a esterilidade pode ter sido provocada mediante cirurgia de vasectomia no homem, que é reversível em muitos casos, ou por fatores físicos que, após tratamento médico adequado, tenham sido afastados, restabelecendo-se a capacidade do paciente de gerar filhos. Daí a razão pela qual o citado art. 1.599 do Código Civil exige prova da impotência “à época da concepção”.
Só a impotência generandi, que é a incapacidade para gerar ou esterilidade, não a coeundi ou instrumental, que é a incapacidade para o coito, pode ser arguida pelo marido, provando a ausência total de espermatozoides em seu líquido seminal (azoospermia) no período em que a mulher foi fecundada.
Os avanços da ciência e da técnica no campo da reprodução assistida têm conseguido contornar a impossibilidade de o portador de impotência coeundi fecundar sua mulher, uma vez que hoje se pode extrair o sêmen do home, sem ejaculação natural, para fins de inseminação artificial. A mutilação, que poderia ser uma espécie de impotência instrumental, inviabiliza a fecundação natural pela impossibilidade de ejaculação, mas não a inseminação artificial.
A palavra “impotência” não é empregada no sentido de impossibilidade instrumental, de inaptidão para o coito (impotentia coeundi), mas na acepção de impotência de gerar (impotentia generandi).
	AÇÃO DENEGATÓRIA DE PATERNIDADE E DE MATERNIDADE
	No sistema do CC/1916 a presunção pater is est mostrava-se rigorosa, pois se o casal vivia sob o mesmo teto e o marido não se achava fisicamente impossibilitado de manter relação sexual com a mulher, não teria como ilidi-la, mesmo provado o adultério por ela praticado.
O diploma de 2002, contudo, suprimiu todas as limitações à contestação da paternidade e declarou imprescritível a ação negatória (art. 1.601), levando em conta o desenvolvimento da ciência e a possibilidade de se apurar o “pai biológico” com a desejada certeza científica, em razão da evolução dos exames hematológicos.
Legitimidade ativa para a ação
Conhecida também como ação de contestação de paternidade, a ação negatória destina-se a excluir a presunção legal de paternidade. A legitimidade ativa é privativa do marido (CC, art. 1.601). Só ele tem a titularidade, a iniciativa da ação, mas, uma vez iniciada, passa a seus herdeiros (art. 1.601, parágrafo único), se vier a falecer durante o seu curso. Assim, entende a doutrina que nem mesmo o curador do marido interdito poderia ajuizar tal ação. Corrente mais consentânea com a realidade sustenta, no entanto, que a iniciativa do curador deve ser acolhida quando as circunstâncias evidenciam de forma ostensiva que o marido não é o pai.
Imaginemos que o marido esteja no hospício, internado, sem ter relações sexuais com a mulher, ou que esta resida em outro lugar e nunca visite, sequer, o marido. Seria absurdo ir-se considerando filho do marido, com todos os deveres de pai para esse, cada filho que nasça à mulher. O curador pode propor a ação, representando o pai interdito por incapacidade absoluta. O problema de não correr o prazo é outro.
Legitimidade passiva
Legitimado passivamente para essa ação é o filho, mas, por ter sido efetuado o registro pela mãe – e porque objetiva desconstruir um ato jurídico, retirando do registro civil o nome que figura como pai –, deve ela também integrar a lide, na posição da ré. Se o filho é falecido, a ação deve ser movida contra seus herdeiros (normalmente a mãe é a herdeira).
Direito do filho de impugnar a paternidade
Mesmo que o marido não tenha ajuizado a negatória de paternidade, tem sido reconhecido ao filho o direito de impugnar a paternidade, com base no art. 1.604 do novo diploma, correspondente ao art. 348 do CC/1916, provando o erro ou a falsidade do registro.
Mais se evidenciou essa possibilidade com o advento da Lei nº 8.560/1992, elaborada com o intuito de conferir maior proteção aos filhos, por permitir que a investigação da paternidade, mesmo adulterina, seja proposta contra o homem casado, ou pelo filho da mulher casada contra o seu verdadeiro pai; e por permitir, também, no art. 8º, a retificação, por
decisão judicial, ouvido o Ministério Público, dos “registros de nascimento anteriores à data da presente lei”.
O Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/90) também contribuiu para que a rigidez da presunção legal de paternidade existente no CC/1916 fosse afastada, ao dispor, no art. 27: “O reconhecimento do estado de filiação é direito personalíssimo, indisponível e imprescritível, podendo ser exercitado contra os pais ou seus herdeiros, sem qualquer restrição, observado o segredo de justiça”.
Como reflexo dessa evolução, o STJ deferiu a produção de prova pericial (exame de DNA) em ação negatória de paternidade movida por marido que vivia com a mulher e não estava impossibilitado de manter relações sexuais com ela. Havia somente a prova do adultério da mulher, que o referido estatuto também considerava insuficiente. Frisou o acórdão: “Na fase atual da evolução do Direito de Família, é injustificável o fetichismo de normas ultrapassadas em detrimento da verdade real, sobretudo quando em prejuízo de legítimos interesses de menor. Deve-se ensejar a produção de provas sempre que ela se apresentar imprescindível à boa realização da justiça”.
A restrição à iniciativa da ação (CC, art. 1.601) incide, porém, somente sobre a negatória de paternidade, não impedindo que a filiação venha a ser discutida em outras ações, de natureza diversa. Assim, o filho pode investigar a paternidade em face de terceiros que, se acolhida, compromete aquela presunção. Igualmente, a pessoa que teria mantido a relação adulterina com a mãe tem o direito de ver reconhecida a filiação em ação própria. Tanto em um como em outro caso, o resultado final poderá desconstituir a paternidade presumida, porém como efeito reflexo das ações próprias, não por meio da negatória que, repita-se, é privativa do pai presumido.
Ação de impugnação de paternidade ou maternidade
Dispõe o art. 1.608 do Código Civil que, “quando a maternidade constar do termo do nascimento do filho, a mãe só poderá contestá-la, provando a falsidade do termo, ou das declarações nele contidas”. Tal dispositivo abre exceção à presunção mater in jure semper certa est, que visa à proteção da família constituída pelo casamento. A falsidade do termo de nascimento pode ser atribuída ao próprio oficial do registro civil ou à declaração da mãe ou do pai, induzidos a erro por falta de cuidado de hospitais e maternidades, como ocorre nos casos de troca de bebês.
Deve-se, pois, distinguir a ação negatória de paternidade ou maternidade daquela destinada a impugnar a paternidade ou a maternidade.
Ação negatória da paternidade: tem por objeto negar o status de filho ao que goza da presunção decorrente da concepção na constância do casamento. 
Ação de impugnação da paternidade ou da maternidade: visa negar o fato da própria concepção, ou provar a suposição de parto, para afastar a condição de filho, como nas hipóteses de troca de crianças em maternidades, de simulação de parto e introdução maliciosa na família da pessoa portadora do status de filho e de falsidade ideológica do assento de nascimento.
Somente a ação negatória é privativa do marido ou da mulher. A de impugnação da paternidade ou da maternidade pode ser ajuizada: 
Pelo próprio filho, por interesse moral ou até mesmo de natureza sucessória, para demonstrar que não é seu pai ou sua mãe a pessoa que figura como tal no registro civil;
Pelo pai e mãe verdadeiros, com citação dos pais presumidos, fazendo-o com base no art. 1.604 do Código Civil e provando erro ou falsidade do registro; ou, ainda,
Por quem demonstre legítimo interesse, como os irmãos da pessoa registrada como filho. 
Já decidiu o STJ, com efeito, que “a anulação do registro de nascimento ajuizada com fulcro no art. 1.604 do Código Civil, em virtude de falsidade ideológica, pode ser pleiteada por quem tenha legítimo interesse moral ou material na declaração da nulidade”.
O mesmo STJ já decidira:
Nada obsta que se prove a falsidade do registro no âmbito da ação investigatória de paternidade, a teor da parte final do art. 1.604. O cancelamento do registro, em tais circunstâncias, será consectário lógico e jurídico da eventual procedência do pedido de investigação, não se fazendo mister, pois, cumulação expressa.
A contestação da paternidade não pode ser decisão arbitrária do marido, quando declarou no registro que era seu o filho que teve com a mulher, em virtude do princípio venire contra factum proprium nulli conceditur. A contestação, nesse caso, terá de estar fundada em hipótese de invalidade dos atos jurídicos, que o direito acolhe, tais como erro, dolo, coação.
Por sua vez, o TJRS, no julgamento de ação de anulação de registro civil mediante pedido de exame de DNA, decidiu que “o registro civil somente será anulado nos casos em que comprovada a ocorrência de um dos vícios do ato jurídico, tais como coação, erro, dolo, simulação ou fraude, não servindo o exame de DNA como prova do erro no registro de nascimento, uma vez que há casos em que a paternidade se dá por afetividade e não por laços de sangue. Indeferimento do pedido de exame de DNA”.
Nessa linha, tem o STJ decidido que, para obter êxito em ação negatória de paternidade, é necessário comprovar a inexistência de vínculo genético e, além disso, de vínculo social e afetivo. Assim, exame de DNA negativo não basta para anular registro de nascimento. Para a 4ª Câmara da aludida Corte, “em conformidade com os princípios do Código Civil de 2002 e a CF/88, o êxito em ação negatória de paternidade depende da demonstração, a um só tempo, da inexistência de origem biológica e também de que não tenha sido constituído o estado de filiação, fortemente marcado pelas relações socioafetivas e edificado na convivência familiar”.
Segundo o relator, Min. Luis Felipe Salomão, a negatória de paternidade submete-se a outras considerações que não a simples base da consanguinidade. “Exames laboratoriais hoje não são, em si, suficientes para a negação de laços estabelecidos nos recônditos espaços familiares. A paternidade atualmente deve ser considerada gênero do qual são espécies a paternidade biológica e a socioafetiva”.
Igualmente assentou a 3ª Turma do STJ, no julgamento de ação negatória de paternidade cumulada com retificação do registro civil, que, “se o genitor, após um grande lapso temporal entre o nascimento do filho e o reconhecimento da paternidade, entendeu por bem reconhecer a paternidade, esse ato é irrevogável e irretratável, pois deve prevalecer a paternidade socioafetiva sobre a biológica”. No caso, por remanescerem dúvidas quanto à paternidade, o pai havia feito um exame de DNA, que revelou não ser ele o pai biológico.
A mesma Turma decidiu, após 7 anos de disputa judicial entre pai biológico e pai de criação, que o registro civil da filha deverá permanecer com o nome do pai afetivo, uma vez que a filiação socioafetiva predomina sobre o vínculo biológico, pois atende ao melhor interesse do menor. Salientou a Turma Julgadora que, no futuro, ao atingir a maioridade civil, a menina poderá pedir a retificação de seu registro, se quiser.
Presunção de paternidade na união estável
Assinale-se que o Código Civil não inclui a união estável no regime das presunções, restringindo-as aos filhos nascidos do casamento, sendo tal fato objeto de críticas procedentes da doutrina, que reclama imediata revisão do sistema adotado.
O STJ, a propósito, teve a oportunidade de decidir que “a regra pater est aplica-se também aos filhos nascidos de companheira, casada eclesiasticamente com o extinto suposta união estável e prolongada”, afirmando-se expressamente na ocasião: “Negar esta presunção aos filhos nascidos de união estável, sob o pálio de casamento religioso, com vivencia como marido e mulher, será manter funda discriminação, que a CF/88 não quer e proíbe, entre filhos nascidos da relação de casamento civil e filhos nascidos da união estável, que a vigente Lei Maior igualmente tutela”.
	PROVA DE FILIAÇÃO
	Dispõe o art. 1.603 do Código Civil que “a filiação prova-se pela certidão
do termo de nascimento registrada no Registro Civil”. O registro, que deve conter os dados exigidos no art. 54 da Lei dos Registros Públicos (Lei nº 6.015/73), discriminados em nove itens, prova não só o nascimento como também a filiação.
Prova-se também a filiação pelos meios de prova elencados no art. 1.609 do Código Civil como modos de reconhecimento voluntário dos filhos havidos fora do casamento:
Escritura pública ou escrito particular, a ser arquivado em cartório;
Testamento, ainda que incidentalmente manifestado; e
Manifestação direta e expressa perante o juiz.
Formalidades do registro
O registro torna público o nascimento e estabelece presunção de veracidade das declarações efetuadas.
Exigem os arts. 50 e 52 da Lei de Registros Públicos que todo nascimento ocorrido no território nacional seja levado a registro, no lugar em que tiver ocorrido o parto ou no lugar da residência dos pais, dentro do prazo de quinze dias, pelo pai, em primeiro lugar, ou, na falta ou impedimento deste, pela mãe e, sucessivamente, pelo parente mais próximo, pelos administradores de hospitais ou pelos médicos e parteiras, por pessoa idônea da casa em que ocorrer o parto e pela pessoa encarregada da guarda do menor.
O registro conterá o nome do pai ou da mãe, ainda que não sejam casados, quando qualquer deles for o declarante (LRP, art. 60). Se o pai for casado, o seu nome constará obrigatoriamente do registro público, ainda que não seja o declarante, em virtude da presunção pater is est. Se o declarante for outra pessoa, não será declarado o nome do pai não casado com a mãe do menor sem que ele expressamente o autorize e compareça, por si ou por procurador especial, para assinar o respectivo assento com duas testemunhas (art. 59).
Presunção de veracidade do registro
Preceitua, por sua vez, o art. 1.604 do Código Civil: “Ninguém pode vindicar estado contrário ao que resulta do registro de nascimento, salvo provando-se erro ou falsidade do registro”.
A presunção que dele emana é quase absoluta, uma vez que ninguém será admitido a impugnar-lhe a veracidade sem antes provar ter havido erro ou falsidade do declarante. O que consta do registro, pro veritate habetur, vale como verdade em relação à data do nascimento, a menção de quem são os pais, e, por via de consequência, não pode este pretender ou ostentar estado diverso do que do registro resulta. Mencionados os nomes dos pais, ou o que mais seja, tem força probante enquanto subsistir o registro, cujo conteúdo é indivisível.
Outros meios de prova, em caso de inexistência de registro
Se os pais desapareceram ou faleceram sem registrar o filho, ou não procederam ao registro de nascimento por algum outro motivo, bem como se ocorreu a destruição ou o desaparecimento do livro ou há algum outro obstáculo intransponível para a obtenção da certidão do termo, pode ser utilizado qualquer outro meio de prova, desde que admitido em direito.
Prescreve, com efeito, o art. 1.605 do Código Civil:
Art. 1.605. Na falta, ou defeito, do termo de nascimento, poderá provar-se a filiação por qualquer modo admissível em direito:
I – quando houver começo de prova por escrito, proveniente dos pais, conjunta ou separadamente;
II – quando existirem veementes presunções resultantes de fatos já certos.
Admitem-se provas documentais, periciais e testemunhais. Todas elas, porém, são complementares dos dois requisitos mencionados. Consideram-se começo de prova por escrito, proveniente dos pais, quaisquer documentos que revelem a filiação, como cartas, autorizações para atos em benefício dos filhos, declaração de filiação para fins de imposto de renda ou de previdência social, anotações dando conta do nascimento do filho.
Pode ser enquadrada como veemente presunção resultante de fatos já certos a convivência familiar, conhecida como “posse do estado de filho”, caracterizada pelo tractatus (quando o interessado é tratado publicamente como filho), nomen (indicativo de que a pessoa utiliza o nome de família dos pais) e fama (quando a pessoa goza da reputação da filha, na família e no meio em que vive).
Na realidade, em razão do avanço da ciência e, principalmente, do advento do exame de DNA, o reconhecimento forçado da paternidade ou da maternidade independente de começo de prova por escrito ou das mencionadas veementes presunções. O dispositivo em apreço, além de obsoleto, está em desacordo com o princípio da verdade real.
A Lei nº 12.004/2009, que regula a investigação de paternidade dos filhos havidos fora do casamento, acrescentando-lhe o art. 2º-A, do seguinte teor:
Art. 2º-A. Na ação de investigação de paternidade, todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, serão hábeis para provar a verdade dos fatos.
Parágrafo único. A recusa do réu em se submeter ao exame de código genético – DNA gerará a presunção da paternidade, a ser apreciada em conjunto com o contexto probatório.
CASAMENTO
Silvio Rodrigues: É o contrato de direito de família que tem por fim promover a união do homem e da mulher, de conformidade com a lei, a fim de regularem suas relações sexuais, cuidarem da prole comum e se prestarem mútua assistência.
Clóvis Beviláqua: O casamento é um contrato bilateral e solene, pelo qual um homem e uma mulher se unem indissoluvelmente, legalizando por ele suas relações sexuais, estabelecendo a mais estreita comunhão de vida e de interesses, e comprometendo-se a criar e a educar a prole, que de ambos nascer. Tem a virtude aderir à concepção contratualista e de enfatizar a tradicional e estreita comunhão de vida e de interesses, realçando o mais importante dos deveres, que é o relacionado à prole.
José Lamartine Corrêa de Oliveira: Casamento é o negócio jurídico de Direito de Família por meio do qual um homem e uma mulher se vinculam através de uma relação jurídica típica, que é a relação matrimonial. Esta é uma relação personalíssima e permanente, que traduz ampla e duradoura comunhão de vida. 
Na realidade a referência à prole não é essencial. Embora os cônjuges normalmente objetivem ter filhos, tal não ocorre, por exemplo, no casamento in articulo mortis, que pode dissolver-se logo depois de celebrado. A falta de filhos não afeta o casamento, pois podem casar-se pessoas que, pela idade avançada ou por questões de saúde, não têm condições de procriar. E nunca se pensou em anular todos os casamentos de que não advenha prole.
Como se observa, todas as definições apresentam o casamento como união entre homem e mulher, ou seja, entre duas pessoas de sexo diferente. Tal requisito, todavia, foi afastado pelo STJ, que reconheceu expressamente a inexistência do óbice relativo à igualdade de sexos (uniões homoafetivas), nestes termos:
Assim sendo, as famílias formadas por pessoas homoafetivas não são menos dignas de proteção do Estado se comparadas com aquelas apoiadas na tradição e formadas por casais heteroafetivas. O que se deve levar em consideração é como aquele arranjo familiar deve ser levado em conta e, evidentemente, o vínculo que mais segurança jurídica confere às famílias é o casamento civil. assim, se é o casamento civil a forma pela qual o Estado melhor protege a família e se são múltiplos os arranjos familiares reconhecidos pela CF/88, não será negada essa via a nenhuma família que por ela optar, independentemente de orientação sexual dos nubentes, uma vez que as famílias constituídas por pares homoafetivos possuem os mesmos núcleos axiológicos daquelas constituídas por casais heteroafetivos, quais sejam, a dignidade das pessoas e o afeto. Por consequência, o mesmo raciocínio utilizado tanto pelo STJ quanto pelo STF para conceder aos pares homoafetivos os direitos decorrentes da união estável deve ser utilizado para lhes proporcionar a via do casamento civil, ademais porque a CF/88 determina a facilitação da conversão da união estável em casamento (art. 266, § 3º).
NATUREZA JURÍDICA DO CASAMENTO
Concepção clássica (individualista): é uma relação puramente contratual, resultante de um acordo de vontades, como acontece nos

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