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A StuDocu não é patrocinada ou endossada por nenhuma faculdade ou universidade Fichamento - Baschet, J. A História Medieval (Universidade Federal de São Paulo) A StuDocu não é patrocinada ou endossada por nenhuma faculdade ou universidade Fichamento - Baschet, J. A História Medieval (Universidade Federal de São Paulo) Baixado por Diogo Quintas (diogo.quintas@hotmail.com) lOMoARcPSD|4022286 Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP. São Paulo, 29 de dezembro de 2010. História Noturno - 6 Termo. Prof. Fabiano Fernandes. U.C. História Medieval. FICHAMENTO BASCHET, J. A civilização Feudal : Do ano mil à colonização da América. São Paulo: Globo, 2006, pp. 98 - 246. Jérôme Baschet (...) O fichamento da presente obra, irá limitar-se da página 98 até a página 246, em cujas quais, o autor aborda o período que contempla a partir do século X da Idade Média até seu fim - de modo a introduzir algumas noções daquilo que será chamado "Idade Moderna". Ao longo de todas estas páginas - que aqui serão brevemente fichadas - interessante notar ao menos duas constatações principais e que dão unidade a obra: a preocupação de Baschet de, a todo momento, introduzir debates historiográficos e diferentes visões de diferentes autores, bem como apoia todas suas posições e argumentos, sobre fatos e "provas". Ao lado disso, o autor parece ter um objetivo particular, cujo qual, deixa transparecer ao longo da leitura da obra. Trata-se do objetivo em propor uma nova visão da Idade Medieval, que vai contra os pressupostos da historiografia tradicional que, quase sempre, sugere a Idade Medieval como a "Idade das Trevas" ou uma época "obscura", "violenta" e sem quase nada de positivo a oferecer. Portanto, Baschet procura construir todos seus argumentos e reflexões de modo a Baixado por Diogo Quintas (diogo.quintas@hotmail.com) lOMoARcPSD|4022286 mostrar o equívoco que há por trás destas visões tão comuns e tradicionais. Obviamente, tal período, caracterizou-se pela violência, conflitos, perseguições etc, contudo, o autor nos propõem uma nova visão que, não excluindo tais características, também aborda seus pontos positivos, contribuições e, assim, o autor por fim, é capaz de oferecer uma nova perspectiva bastante enriquecedora, perante este momento tão peculiar da história. A seguir, ao lado de um breve resumo e destaques de passagens importantes da obra, será delineada uma breve reflexão com comentários pessoais acerca desta respectiva parte do livro. O autor abre o capítulo II, introduzindo uma breve idéia sobre o ano mil - em particular, fim do séc. X e início do séc. XI. Neste momento, de forma bastante breve, ele expõem um panorama sobre as visões equivocadas atribuídas a tal período, de modo a posicionar-se : " (...) evocar o ano mil, consiste em inverter a perspectiva tradicional e a transformar o sinistro símbolo de obscurantismo medieval em uma etapa no surgimento e na afirmação do Ocidente cristão". E, nas palavras do próprio autor : " Longe de afundar nas trevas do obscurantismo, o Ocidente do ano mil faz-se luminoso e inaugura um novo começo". Em seguida, o autor irá abordar alguns tópicos pertinentes às transformações que a sociedade sofrera - em especial do séc. XI ao XII: O desenvolvimento dos campos e da população: Apesar da insuficencia de base de documentos históricos confiáveis sobre a época, certamente, B. explicita algumas mudanças notáveis que, em consequencia, acabariam também por provocar mudanças em todos os aspectos da vida e da sociedade compreendida neste momento: - O aumento demográfico; Entre os séculos XI e o início do XIV, parece que todas as populações do ocidente, no mínimo, duplicaram. Apesar das crises de fome, a Baixado por Diogo Quintas (diogo.quintas@hotmail.com) lOMoARcPSD|4022286 substituição de alimentos, a alta da fecundidade, a regressão da mortalidade e um aumento da expectativa de vida, possivelmente foram fatores contribuintes. - O estabelecimento e difusçao de desenvolvimentos e técnicas agrícolas; · Se estabelece a rede de aldeias, · Melhoras nas técnicas da agricultura e do artesanato. · Ampliação das superfícies cultivadas, · Cultivo de espécies mais resistentes; · Desenvolvimento da metalurgia - dentre outras. Assim, em seguida, B. introduz o debate historiográfico em torno dos possíveis motivos para tais mudanças. Tradicionalmente, a história considerava tais motivos fundamentalmente externos, ao passo que o autor, posiciona-se de modo a partir de pressupostos internos e, ainda, denota que tais motivos embarcariam causalidades sociais. Tais mudanças acima expostas, consequentemente acabariam por atingir toda a estrutura social. Nesse sentido, B. irá agora, abordar sobre a estrutura da sociedade: · Nobreza: a noção de nobreza, conforme B. propõem, seria um grupo social e não como qualidade, é apenas a forma tardia e consolidada da aristocracia medieval. A nobreza é, de início, essa distinção que estabelece uma separação entre uma minoria que exibe sua superioridade (...) e dominação social. · Aristocracia Medieval: a aristocracia medieval, Baixado por Diogo Quintas (diogo.quintas@hotmail.com) lOMoARcPSD|4022286 contempla uma formação bastante compelxa e que gera bastante debate. Segundo B., a aristocracia feudal é definida, de início, pelo nascimento - uma inserção herdada. Contudo, no fim do séc. XI, a cavalaria ganha importância e identifica-se com a nobreza - uma inserção adquirida. · As formas do poder aristocrático: o autor inicia sua abordagem sobre tal tópico, através do significado de um elemento bastante simbólico da Idade Medieval : os castelos. Símbolos de poder, o castelo domina, assim, o território, como o senhor domina seus habitantes. Ao lado do simbolismo dos castelos, também destacam-se as guerras, no que concerne a este aspecto de forma do poder aristocrático. Nesse sentido, B. sabiamente contrapõem a visão tradicionalista da historiografia, cuja qual reproduz a visão da guerra privada entre senhores, violência sem limites característica das desordens da idade feudal. Com efeito, a guerra corresponde, então, a uma lógica própria (...). Seu fundamento é o código de honra, que impõe um dever de vingança, não apenas dos crimes de sangue, mas também dos ataques contra os bens. Disso resulta uma violência entre senhores, inegável mas regulamentada e codificada. Por fim, o autor relacional tal concepção de guerra com a reprodução do sistema senhorial, uma vez que, este parte do pressuposto da necessidade de "proteção" dos camponeses e, assim, cria-se toda a lógica de laços que será abordado mais adiante. Os chamados torneios, também seriam outra forma de exibir o poder aristocrático: seriam demonstrações de força (destinadas a impressionar) através de batalhas ritualizadas - também uma forma de Baixado por Diogo Quintas (diogo.quintas@hotmail.com) lOMoARcPSD|4022286 reproduções de tensões entre as facções aristocráticas. Ao lado de tais demonstrações do poder aristocrático, também verifica-se as caças. Em todas essas práticas, a Igreja opõem-se e condena, contudo, tais atividades possuíam toda uma significação simbólica, manifestando prestígio e hegemonia social. Na página 122, o autor irá agora, refletir sobre as relações feudo- vassálicas. Conforme procura fazer no início da abordagem de cada assunto, Baschet começa introduzindo o debatehistoriográfico, e trazendo a luz o ritual de homenagem : · As relações vassálicas : Formalizavam entre os dominantes um laço de homem para homem, entre um senhor e seu vassalo. Trata-se de uma relação ao mesmo tempo muito próxima e hierárquica, que se colore de um valor quase familiar. B. Prossegue, fornencendo-nos um panorama de como funcionava tal relação: O vassalo é o homem de seu senhor e se engaja a servi-lo conforme as obrigações do costume feudal. Assim, apesar de variar bastante de região para região, tais obrigações possuiam ao menos três aspectos corriqueiros, como obrigação do vassalo para com seu senhor: a obrigação de atuar nas guerras e operações militares de seu senhor, a ajuda financeira e o "dever de bem aconselhar seu senhor". Já quanto as obrigações do senhor para com seu vassalo : deve-lhe proteção e respeito e, ainda, responsabiliza-se pela educação do filho deste, quando jovem - além de concerde-lhe um feudo. · A homenagem : Seria o ritual pelo qual formaliza tais posteriores relações vassálicas. Tal ritual contempla, um conjunto de ações simbólicas, que exprimiriam a Baixado por Diogo Quintas (diogo.quintas@hotmail.com) lOMoARcPSD|4022286 fidelidade e a hierarquia assim estipulada. Contudo, tal sistema também tinha suas tensões. Por exemplo, quando um nobre prestava homenagem a vários senhores - eventualmente rivais entre si - e, ainda, conflitos gerados através das disputas pelas heranças do feudo. Mas, em geral, a transmissão hereditária dos feudos modifica o equilíbrio da relaçãos entre senhores e vassalos e contribui para uma crescente autonomização dos vassalos. Assim, obviamente, delineia-se toda uma mudança na disseminação do poder. Isso ocorre na medida em que, o poder do rei é enfraquecido em detrimento dos "principados": A norma da lógica feudal consiste, assim, em uma disseminação da autoridade até os níveis mais locais da organização social. (BASCHET,p. 127). Em seguida, de modo ainda a explorar a estrutura da socieadade, B. irá falar um pouco sobre como essa sociedade vivia espacialmente e fisicamente. Neste momento que deparamo- nos com o que ele convém chamar de "nascimento da aldeia" e "encelulamento dos homens". Inicialmente, o habitat rural do fim da Idade Média é disperso e instável - bem como suas construções são frágeis e periodicamente abandonadas (do mesmo modo a agricultura é parcialmente itinerante). Depois, em momentos diferentes e em diferentes regiões, passa-se a ocorrer uma graduativa fixação estabilização na fixação do habitat rural - também agora, as construções são feitas de pedras - e, assim, resulta do "nascimento das aldeias" (segundo o autor, irá perdurar Baixado por Diogo Quintas (diogo.quintas@hotmail.com) lOMoARcPSD|4022286 até o século XIX). Importante contudo ter-se em mente que, tal processo, fora fortemente marcado pela vontade dos dominantes e pela intervenção da Igreja. Ao lado deste processo ocorre, paralelamente e em consequencia do mesmo, o "encelulamento dos homens", ou seja, dali em diante, os homens serão "encelulados", a um só tempo reagrupados em aldeias mais estáveis e fixados no interior dessas unidades de base que se chamam senhorios. O encelulamento supõe, então, a formação de uma rede de senhorios que cobre, mais ou menos, todo o território ocidental. (BASCHET,pp.130). Também é importante ressaltar que, em todo o contexto, a Igreja está presente direta e| ou indiretamente: seu objetivo principal é a manutenção de uma ordem senhorial que delineia-se e que, assim, a Igreja pretende dominar. Conforme B. ressalta : Seja antes, seja depois do ano mil, são sempre a aristocracia e a Igreja que dominam a sociedade, mas ambas conhecem uma vigorosa reorganização. Em linhas gerais: Enfim, o essencial consiste em reconhecer a (...) reconfiguração socioespacial - da qual o castelo e o senhorio, a igreja e a paróquia, a aldeia e a comunidade são as facetas diversamente combináveis - leva à formação de um sistema dotado de uma Baixado por Diogo Quintas (diogo.quintas@hotmail.com) lOMoARcPSD|4022286 coerência nova e que é o quadro de um desenvolvimento de amplitude inédita. (BASCHET,pp.132). O movimento que se segue no capítulo, retoma a questão da servidão. O autor conceitua o dominium e enfatiza que a relação de exploração que ocorre, é apenas uma dentre várias e, da mesma forma, varia segundo as regiões. O dominium, que corresponde a uma série de obrigações, contudo, possui o caráter geral do poder do senhor perante o respectivo vassalo, seja através da obrigação de receber taxas - abusivas ou baixas - seja através de sua liberdade em exercer ele próprio a justiça segundo suas vontades ou através das corvéias.Obviamente tal situação, coloca o senhor em vantagem em detrimento de seus vassalos. Contrariamente o que a historiografia tradicional costuma relatar, B. nos esclarece que, tais tensões entre dominantes e dominados, também proporcionou certa "resistência" em torno dos aldeãos. Isso uma vez que, segundo o autor, tem-se a ocorrência de organizações de auxílio mútuo entre os mesmos e até mesmo a escolha de representantes e assembléias. Ou seja, isso apenas exprime a hipótese do autor, de que os camponeses estariam longe de sofrer passivamente a dominação senhorial e a aldeia sabia organizar-se independentemente do castelo e da igreja. Por fim, antes de partir para a reflexão da dinâmica do sistema feudal propriamente dita, o autor "fecha" esta reflexão sobre o dominium, de modo a admitir, em linhas gerais, que de certo modo, trata-se de um sistema circular: o dominante exerce o poder porque possui a terra, mas ele possui a terra porque ele Baixado por Diogo Quintas (diogo.quintas@hotmail.com) lOMoARcPSD|4022286 pode demonstrar que exerce nela o poder. (pp.142) O movimento seguinte do texto, empreende a reflexão de Baschet acerca da dinâmica do sistema feudal: - Desenvolvimento comercial e urbano : · As cidades do Ocidente conhecem um forte crescimento (metade da Idade Mécia); · Numerosas cidades novas também são criadas; · Formação das "comunas"; · Atividades produtivas organizadas em ofícios e, estes, fortemente hierarquizados; Portanto, a cidade a partir do século XII, constitui um novo mundo, embora bastante cercada de falta de higiene, estrutura, organização e sem, ainda, um contraste claro com a vida rural. Importante destacar, conforme enfatiza o autor, que mesmo as cidades integrando o sistema feudal, neste momento, elas caracterizam-se de modo totalmente limitada e, a Idade Média, permanece um mundo essencialmente rural. Paralelamente, nos séculos IX a XI, dissemina-se a autoridade pública através dos castelos e senhores conforme aqui foi abordado anteriormente.Tratando-se dos reis, apesar de seu poder estar relativamente enfraquecido frente a dinâmica feudal, o mesmo ainda possui o prestígio, uma vez que ele é investido de alta missão desejada por Deus. Contudo, Baschet expressa uma interessante problemática em torno disso, na medida em que, (...) a consagração contribui inegavelmente para afirmação da figura real (...) contudo (...) o rito põe a realeza em uma forte dependência simbólica em relação ao clero e seus representantes eclesiáticos. Portanto, tal paradoxo, nos traduz a questão que, o rei, repousa necessariamente sobre uma adequação às normas ideológicas definidas pela Igreja. Ainda dentro deste Baixado por Diogo Quintas (diogo.quintas@hotmail.com) lOMoARcPSD|4022286 tópico, podemos destacar alguns pontos que caracterizam, basicamente, a figura correspondente ao Rei neste período: - O rei é um nobre; ele partilha os valores e o modo de vida da aristocracia, mesmo (...) que o põem acima desta ; - Utiliza as regras da vassalidade em seu benefício; - Dispõem de uma variáveis meios de estender seu domínio ou reino, tal como o direito de manusear o direito feudal e fazer uso de alianças matrimoniais, para tal fim; - O Rei deve garantir a paz e a justiça; Contudo, segundo o autor, no século XIII a concepção do poder real passa a afirmar preocupação com a coisa pública e reivindica uma soberania estendida ao conjunto de seu reino e fundada sobre a lei. Em linhas gerais: A tensão monarquia\aristocracia, mesmo se ela atua, agora, a favor da primeira, permanece no interior do quadro definido pela lógica feudal. Trata-se de um jogo feito de rivalidade e de unidade, de conivências e de afastamentos, que esboça, é verdade, futuras rupturas, mas que não atinge a intensidade de uma alternativa - a nobreza ou a Baixado por Diogo Quintas (diogo.quintas@hotmail.com) lOMoARcPSD|4022286 monarquia - da qual surgirá, no século XVII, o Estado. (BASCHET,pp. 164). No capítulo seguinte, o autor irá abordar como temática principal, a Igreja. Certamente a Igreja, fora a instituição dominante durante o feudalismo. Dois aspectos em particular, aparecem na abordagem de B. : a questão Clérigos X Laicos e o poder que tal instituição representa. Obviamente, antes de comentar sobre estes dois aspectos, é importante ter-se em mente, uma característica fundamental de tal período : a Igreja neste momento é antes de tudo, a própria sociedade - uma vez que dirigi, domina e dita todas as regras e disciplina da própria (também, é necessário levar-se em conta todo o contexto que está inserida, sendo a Igreja, a garantia da unidade feudal, sua coluna vertebral e o fermento de seu dinamismo (BASCHET,pp.169). Quanto à caracterização do clero: No geral, o clero constitui um grupo privilegiado e investido de um prestígio sagrado, que engloba, bem menos de um décimo da populaçãp medieval. (BASCHET, p.171) Em relação ao aspecto do poder da Igreja, as principais constatações que podemos enumerar: - O poder material da Igreja, atribui-se à sua excepcional capacidade de acúmulo de terra e de bens; - As grandes e abundantes doações que recebem, por parte de Baixado por Diogo Quintas (diogo.quintas@hotmail.com) lOMoARcPSD|4022286 todas as camadas da sociedade; Obviamente, as doações de tais riquezas à Igreja, adquirem um significado que vão além de um simples ato de "caridade" ou "bondade". Nesse período, a Igreja assume um papel - como já fora dito antes - muito forte sobre a sociedade : ela seria a responsável pela transmutação do material em espiritual e intermediária obrigatória nas trocas entre os homens e Deus, e seria através das missas que os clérigos celebram que os bens materiais oferecidos pelos doadores transformam-se em benesses para as almas. Portanto, é porque ela ocupa essa posição de operadora decisiva e de intermediária obrigatória na troca generalizada que a Igreja dispõe de tantos bens materiais. Como já fora dito aqui anteriormente, a Igreja estrutura praticamente todos os quadros importantes vida e da sociedade de modo a contribuir de maneira decisiva para a sua manutenção. Nesse sentido, vale destacar a inicial, praticamente, exclusividade da escrita e da transmissão da leitura que a Igreja possui. Tendo em mente que a escrita e a transmissão da leitura são instrumentos de prestígio e poder, soma-se a isso, o fato de que, em consequencia do quase monopólio, a Igreja acaba por se apoderar do controle, propagação e interpretação segundo sua vontade em relação a bíblia - cuja qual assume significado essencial na vida das pessoas neste período. Dessa forma, podemos notar a importância que assume a Igreja, a partir de todos os aspectos acima retratados: No século X, a disseminação do poder de comando faz da Igreja a única instituição capaz de conclamar à ordem pública e à "paz de Deus". Ao mesmo tempo o processo de Baixado por Diogo Quintas (diogo.quintas@hotmail.com) lOMoARcPSD|4022286 encelulamento e o estabelecimento dos senhorios obrigam-na a uma viva reação para evitar tornar-se prisioneira da malha senhorial e a fim de, ao contrário, ser sua principal ordenadora. (BASCHET,pp. 184). Obviamente tal "paz de Deus" fora lançada na tentativa de rearfimar e consolidar a posição dominante da Igreja em meio ao feudalismo. Tal ação acabou por restaurar a hierarquia eclesiática, afirmar a autoridade absoluta do papa e, por fim, atinge seu objetivo inicial, tornando a Igreja uma instituição consolidada, estável e absolutamente dominante. Paralelamente, também pode-se notar tal reestruturação, através da própria arquitetura da Igreja (edíficio físico): dos simples e mal iluminados prédios românicos, para construções cada vez mais elaboradas e exponenciais e, igualmente, mais integrada e 'aberta' ao novo mundo urbano que,aos poucos, vai delineando- se: (...) a catedral parece, ao mesmo tempo, dominar a cidade, quase esmagá-la com suas dimensões, o que talvez seja apenas uma maneira de tornar sensível o poderio de uma instituição eclesial então triunfante. (BASCHET,pp. 207). Baixado por Diogo Quintas (diogo.quintas@hotmail.com) lOMoARcPSD|4022286 Outra novidade também surge, no tocante a esta nova realidade que a Igreja insere-se. Trata-se das novas ordens tais como a franciscana e a dominicana. Nelas, o ideal de pobreza, associado à humildade e à penitência, é a característica principal. Obviamente, o surgimento de tais ordens - chamadas mendicantes- relaciona-se à uma 'sintonia' com a própria vida urbana: contribuem para a Igreja ao mesmo tempo em que adaptam-se aos meios urbanos. Ao lado da novidade das grandes arquiteturas e das ordens mendicantes, também encontra-se integrado, as universidades - uma das mais notáveis criações da Idade Média - cujas quais caracterizam-se: · As escolas monásticas declinam, enquanto que as escolas de catedrais conhecem rápido crescimento; · O número de estudantes aumenta, bem como a ambição dos ensinamentos - tanto em direito e medicina, como também a teologia; · Emergência dos "intelectuais" medievais; · Desejo de auto-organização da comunidade dos mestres e estudantes em relação ao bispo; · Posteriormente, o ensino não é mais submetido à autoridade do bispo; · A escolástica é seu método por excelência. Ao lado de todas novidades acima expostas, mais uma vez, a Idade Média conhece outra novidade relacionada à Igreja. Trata- se da tríade pregação- confissão - comunhão. - Confissão: Como preço do perdão que ela concede, a Igreja se atribui, graças à confissão, um temerário instrumento de controle Baixado por Diogo Quintas (diogo.quintas@hotmail.com) lOMoARcPSD|4022286 dos comportamentos sociais e se imiscui no mais secreto das consciências humanas. (BASCHET,pp.219) - Pregação: A pregação visa, evidentemente, "fazer crer", quer dizer, inculcar os rudimentos doutrinais e as normas elementares da moral definida pela Igreja. Nesse sentido, é um instrumento decisivo de aprofundamento da "aculturação cristã" nos últimos séculos da Idade Média. Segue-se assim, paralelamente, à esta nova 'tríade', uma nova dimensão de mentalidade: seria a preocupação com a moral: Decorre disso um desenvolvimento do que se pode chamar a devoção pessoal: a prece e a meditação piedosa, antes reservadas aos clérigos, são doravante acessíveis a uma elite laica, para a qual é copiado um número crescente de obras de devoção (...). (BASCHET,pp.221). A partir disso, a consequencia é a submissão ainda mais estrita aos valores e às normas elaboradas pela Igreja (...) e a dominação ideológica da instituição eclesial parece mais absoluta do que nunca. (...) só pode significar uma maior difusão, no corpo social, das normas clericais (...), que os conduz a participar mais ativamente da reprodução de um sistema eclesial dominado pelo clero. (BASCHET,pp. 221). Baixado por Diogo Quintas (diogo.quintas@hotmail.com) lOMoARcPSD|4022286 Obviamente, conforme o autor nos alerta, a Igreja -apesar de sua incontestável força e legitimidade- também confrontou-se com alguns atritos e contestações, além daquelas internas. É nesse momento, que Baschet introduz a idéia de heresia e heréticos, ou seja, todos aqueles que se opunham a Igreja. Vale enfatizar, contudo, que os considerados heréticos bem como a Inquisição, NESSE MOMENTO, significa apenas um esboço daquilo que viria a tomar forma anos mais tarde durante a Idade Moderna. Seguindo tal tópico sobre as 'contestações' e ocorrências que caminhavam no sentido contrário daquilo que emanava a Igreja, o autor ainda destaca alguns pontos interessantes, tais como: - As "superstições", ou seja, práticas consideradas condenáveis, por exemplo : rituais de proteção, culto dos astros, crença nos lobisomens e rituais de fecundidade; - O carnaval, ou seja, um momento de transgressão autorizada e de libertação dos impulsos antes da retenção penitencial da Quaresma; - Os judeus e os "feiticeiros" - entre outras questões que ia "contra" os ideais da Igreja. Certamente, a partir de tais constatações podemos notar o claro sentido que a Igreja parece seguir, ou seja, cada vez mais excludente e repressiva. Entretanto, segundo o autor, é preciso marcar a diferença entre uma situação inicial, que se degrada pouco a pouco, e os picos de fúria repressiva e de obsessão de pureza atingidos durante a época moderna: se se compara, é tentador evocar uma relativa tolerância da Idade Média. Ainda, podemos admitir também que, ao excluir e reprimir aqueles que a Igreja considera 'inimigos', ela também está agindo de modo a LEGITIMAR e IMPOR cada vez mais sua presença e força. Baixado por Diogo Quintas (diogo.quintas@hotmail.com) lOMoARcPSD|4022286 Após essa breve prévia do conteúdo e dos principais conceitos, argumentos e idéias do autor - relativas às páginas 98 até 246 - podemos, portanto, chegar a algumas conclusões básicas: · Em primeiro lugar, todas as abordagens do autor, são acompanhadas por debates historiográficos, bem como relação com diferentes pontos de vista a partir da citação de diferentes autores; · Baschet sempre reflete de modo a apoiar seus argumentos com embasamentos nos documentos e nos próprios fatos históricos; · Uma das principais contribuições e o objetivo principal do autor, gira em torno da tentativa de trazer-nos a luz uma visão contrária daquela que a historiografia tradicional convenciona ao tratar dos acontecimentos e da própria Idade Medieval. Ou seja o autor parte do pressuposto contrário que a época Medieval seria aquela, fundamentalmente, negativa, obscura, confusa e com 'poucas contribuições'. O autor é capaz de distanciar a relação da "Idade das Trevas" com a Idade Média de modo a propor outras perspectivas tais como: a contribuição do período quanto ao surgimento e desenvolvimento das universidades, do início das cidades e da dinâmica urbana, o nascimento de uma arquitetura majestosa - como as imensas e gloriosas catedrais, do estabelecimento de técnicas e o desenvolvimento da agricultura notavelmente nunca antes visto e, principalmente, nos apresenta os sujeitos históricos contrariamente àquela visão de "passivos" - como por exemplo o camponês e sua articulação em torno dos laços de dominação, ou a Igreja - mesmo forte e dominante - frente às tentativas de Baixadopor Diogo Quintas (diogo.quintas@hotmail.com) lOMoARcPSD|4022286 contestações. · Portanto, o respectivo período retratado, contempla como características principais: - A grande importância assumida pela Igreja cuja qual, na Idade Média, é a própria forma de organização social e a instituição que a domina; - As relações de vassalidade, configuram parcialmente as hierarquias no seio do grupo dominante; - Mudanças ocorrem constantemente : no interior das Igrejas, no nascimento (embora lento) das cidades, no surgimento de um estilo de vida urbano, no encelulamento dos homens - entre outros. · Por fim, o autor também possui como uma concepção central a idéia de que o feudalismo, bem como todas as características que compõem as estruturas do período medieval, possuem uma dinâmica e movimento próprios que, assim, permitiriam a mantenção e reprodução do sistema. Ou seja, é preciso abster-se de anacronismos e definições pré- concebidas e-ou preconceituosas, uma vez que, dentro dos contextos de tal período, as relações de dominação, a 'violência' ou as ações da Igreja, eram totalmente 'justificáveis'; havia um sentido e toda uma integridade em torno da organização dessa sociedade medieval. Baixado por Diogo Quintas (diogo.quintas@hotmail.com) lOMoARcPSD|4022286 Baixado por Diogo Quintas (diogo.quintas@hotmail.com) lOMoARcPSD|4022286
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