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ComérCio ExtErior Prof. José Alfredo Pareja Gomes de La Torre Prof. Anderson da Silva 2016 Copyright © UNIASSELVI 2016 Elaboração: José Alfredo Pareja Gomes de La Torre Anderson da Silva Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 382 L111c La Torre; José Alfredo Pareja Gomes de Comércio Exterior / José Alfredo Pareja Gomes de La Torre: UNIASSELVI, 2016. 194 p. : il ISBN 978-85-515-0025-5 1. Comércio exterior. I. Centro Universitário Leonardo da Vinci. Impresso por: III AprEsEntAção Seja bem-vindo ao caderno de estudos de Comércio Exterior. Desde as civilizações antigas, o comércio internacional ajuda no desenvolvimento socioeconômico das sociedades. A grande diferença é que hoje esse comércio é muito mais dinâmico e interdependente entre países. É difícil encontrar uma mercadoria que seja 100% de um só país, a maioria das mercadorias produzidas aqui, no Brasil, e nos demais países, dificilmente terão 100% de insumos nacionais. A dinâmica econômica mundial demanda que os países estejam inter- relacionados tanto comercialmente como financeiramente, fenômeno conhecido como globalização. Devemos observar que nesse mundo globalizado há uma constante troca comercial e financeira, fato que determina a quase inexistência de limites comerciais entre os diversos territórios entre países. Nesse contexto, o comércio exterior brasileiro possui um papel de destaque para que as empresas possam executar seus interesses comerciais internacionais. E quem executa essas atividades de comércio exterior, tanto no âmbito público como no privado? As atividades de comércio exterior são executadas pelos profissionais competentes das organizações, tanto dos órgãos públicos como das empresas que fazem parte ativa do comércio exterior brasileiro, ou seja, você, futuro gestor. Assim, neste caderno de estudos vamos lhe ajudar a gerar essas competências necessárias. Para poder lhe ajudar nos seus estudos desta disciplina, este caderno está dividido em três unidades. Na Unidade 1, vamos estudar sobre o contexto histórico e atual da importância do comércio internacional para o desenvolvimento socioeconômico das nações. Vamos também abordar o tema da necessidade de os países gerarem parceiros comerciais, financeiros e econômicos, parcerias que são feitas por meio de blocos econômicos. E para finalizar a unidade estaremos lendo sobre a importância dos organismos internacionais no contexto do comércio mundial. Na Unidade 2, vamos estudar sobre o contexto financeiro do comércio internacional, pois para executar uma comercialização internacional é necessário de um mercado cambial e fontes de financiamento. Também estaremos estudando sobre quais são os principais órgãos do governo que compõem a parte administrativa do comércio exterior brasileiro. Na Unidade 3, vamos estudar sobre as condições técnicas do comércio exterior brasileiro, apreendendo sobre como são classificadas as mercadorias IV no padrão de comercialização internacional e como elas são codificadas por meio da Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM). Logo depois estaremos lendo sobre as condições logísticas do comércio internacional, apreendendo sobre os Incoterms. E por último, estaremos analisando como é feita a precificação no comércio exterior. Agora deixo você se concentrar nos seus estudos. Lembrando-o que ao longo de sua caminhada você tem acesso ao material de apoio por meio da trilha de aprendizagem, disponível no seu Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA). Bons Estudos! Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! UNI V Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, que é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar mais essa facilidade para aprimorar seus estudos! UNI VI VII sumário UNIDADE 1 - DINÂMICA COMERCIAL INTERNACIONAL ..................................................... 1 TÓPICO 1 - O COMÉRCIO INTERNACIONAL E O COMÉRCIO EXTERIOR DOS PAÍSES................................................................................................. 3 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3 2 EVOLUÇÃO COMERCIAL INTERNACIONAL ........................................................................... 3 2.1 LIBERALISMO DO SÉCULO XIX ................................................................................................. 5 2.2 GRANDE DEPRESSÃO DE 1929 ................................................................................................... 6 2.3 CENÁRIO ECONÔMICO INTERNACIONAL APÓS A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL ................................................................................................ 7 2.4 NOVO CENÁRIO MUNDIAL DAS PRIMEIRAS DÉCADAS DO SÉCULO XXI .................. 8 3 DIFERENÇA ENTRE COMÉRCIO INTERNACIONAL E COMÉRCIO EXTERIOR ............. 14 3.1 EXPORTAÇÕES ............................................................................................................................... 15 3.2 DETERMINANTES PARA EXPORTAR ....................................................................................... 17 3.3 AS IMPORTAÇÕES ......................................................................................................................... 18 3.4 DETERMINANTES DAS IMPORTAÇÕES .................................................................................. 19 3.4.1 Recursos necessários à economia de um país ..................................................................... 19 3.4.2 Interesse de uma empresa para importar ........................................................................... 20 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 23 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................24 TÓPICO 2 - BLOCOS ECONÔMICOS E O MERCOSUL ............................................................... 27 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 27 2 CONCEITO DE BLOCO ECONÔMICO .......................................................................................... 28 3 FASES NO DESENVOLVIMENTO DE BLOCOS ECONÔMICOS ........................................... 29 3.1 PRIMEIRA ETAPA – ZONA DE LIVRE-COMÉRCIO................................................................ 29 3.2 FASE DE UNIÃO ADUANEIRA ................................................................................................... 30 3.3 FASE MERCADO COMUM ........................................................................................................... 31 3.3.1 Mercosul ................................................................................................................................... 32 3.4 UNIÃO ECONÔMICA E POLÍTICA ............................................................................................ 34 3.4.1 A União Europeia (EU) .......................................................................................................... 34 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 37 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 38 TÓPICO 3 - ORGANISMOS INTERNACIONAIS E BARREIRAS AO COMÉRCIO INTERNACIONAL .................................................................................. 39 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 39 2 FINALIDADE DOS ORGANISMOS INTERNACIONAIS ......................................................... 39 2.1 PRINCIPAIS ORGANISMOS INTERNACIONAIS .................................................................... 40 2.2 ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE COMÉRCIO (OMC)............................................................. 41 2.3 CÂMARA DE COMÉRCIO INTERNACIONAL (CCI) ............................................................. 42 3 BARREIRAS AO COMÉRCIO INTERNACIONAL ...................................................................... 44 3.1 BARREIRAS TARIFÁRIAS ............................................................................................................. 47 3.1.1 Sobretaxa de alíquota de importação e antidumping ....................................................... 48 VIII 3.1.2 O dumping e antidumping ................................................................................................... 49 3.2 BARREIRAS NÃO TARIFÁRIAS .................................................................................................. 50 3.2.1 Barreiras técnicas .................................................................................................................... 51 3.2.2 Subsídios .................................................................................................................................. 54 3.2.3 Quotas de importação ............................................................................................................ 55 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 56 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 59 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 60 UNIDADE 2 - ESTRUTURA FINANCEIRA E COMERCIAL INTERNACIONAL .................... 63 TÓPICO 1 - CENTROS FINANCEIROS E A MOVIMENTAÇÃO DE CAPITAIS INTERNACIONAIS .............................................................................. 65 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 65 2 OS PRINCIPAIS CENTROS FINANCEIROS INTERNACIONAIS E REGIONAIS .............. 65 3 CAPITAIS ESTRANGEIROS ............................................................................................................. 67 4 MERCADO DE CÂMBIO ................................................................................................................... 70 4.1 PARTICIPANTES DO MERCADO ................................................................................................ 72 4.2 MERCADO LIVRE E MERCADO CONTROLADO ................................................................... 73 5 INFLUÊNCIA ECONÔMICA NO COMÉRCIO EXTERIOR ....................................................... 74 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 76 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 77 TÓPICO 2 - RECURSOS MONETÁRIOS AO COMÉRCIO EXTERIOR BRASILEIRO ........... 79 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 79 2 FONTES DE FINANCIAMENTO ÀS PRÁTICAS DO COMÉRCIO EXTERIOR BRASILEIRO .................................................................................................................... 79 2.1 ACC .................................................................................................................................................... 80 2.2 ACE .................................................................................................................................................... 80 2.3 PROEX ............................................................................................................................................... 81 2.4 FINAMEX.......................................................................................................................................... 81 2.5 EXPORT NOTE ................................................................................................................................ 81 2.6 COMMERCIAL PAPERS ................................................................................................................ 82 2.7 SUPPLIER’S CREDIT ...................................................................................................................... 82 2.8 BUYERS CREDIT ............................................................................................................................. 82 2.9 CÂMBIO FUTURO .......................................................................................................................... 83 2.10 FINAMIM........................................................................................................................................ 83 3 RELAÇÕES COMERCIAIS BRASILEIRAS .................................................................................... 83 4 POLÍTICAS DE COMÉRCIO EXTERIOR BRASILEIRO ............................................................. 85 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 88 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 92 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 93 TÓPICO 3 - ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA DO COMÉRCIO EXTERIOR NO BRASIL ..................................................................................................95 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 95 2 ESTRUTURA GOVERNAMENTAL DO COMÉRCIO EXTERIOR BRASILEIRO ................. 95 2.1 CÂMARA DE COMÉRCIO EXTERIOR - CAMEX ..................................................................... 95 2.2 MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES – MRE OU “ITAMARATY” .......................... 99 2.3 MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR - MDIC .................................................................................................. 100 2.4 SECRETARIA DE COMÉRCIO EXTERIOR – SECEX ................................................................ 101 2.4.1 Departamento de Operações de Comércio Exterior – DECEX ........................................ 101 IX 2.4.2 Departamento de Negociações Internacionais – DEINT .................................................. 102 2.4.3 Departamento de Defesa Comercial – DECOM ................................................................. 102 2.4.4 Departamento de Planejamento e Desenvolvimento do Comércio Exterior – DEPLA ................................................................................................ 102 2.5 SECRETARIA DA RECEITA FEDERAL - SRF ............................................................................ 103 2.6 BANCO CENTRAL DO BRASIL – BACEN ................................................................................. 104 2.7 MINISTÉRIO DA SAÚDE .............................................................................................................. 104 2.8 MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO ................................ 105 3 REGIME ADUANEIRO BRASILEIRO ............................................................................................. 106 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 110 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 111 TÓPICO 4 - QUESTÕES CULTURAIS E SEU IMPACTO NO COMÉRCIO INTERNACIONAL ................................................................................... 113 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 113 2 A GENERALIDADE DO COMÉRCIO EXTERIOR NAS CULTURAS ...................................... 113 3 IMPACTOS CULTURAIS NAS RELAÇÕES COMERCIAIS ENTRE PAÍSES ......................... 116 3.1 O TEMPO .......................................................................................................................................... 116 3.2 PROTOCOLO DE CUMPRIMENTO E CORDIALIDADE ........................................................ 117 3.3 AS CORES E IMAGEM ................................................................................................................... 118 3.4 O IDIOMA ........................................................................................................................................ 118 3.5 A RELIGIÃO ..................................................................................................................................... 119 4 PAÍSES COM DISPOSIÇÕES PECULIARES ................................................................................. 119 4.1 CHINA .............................................................................................................................................. 120 4.2 ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA .............................................................................................. 120 4.3 ARÁBIA ............................................................................................................................................. 121 4.4 JAPÃO ............................................................................................................................................... 122 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 122 RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................ 127 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 128 UNIDADE 3 - A NOMENCLATURA COMUM DO MERCOSUL (NCM) E OS INCOTERMS .......................................................................................... 131 TÓPICO 1 - CODIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS MERCADORIAS ................................. 133 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 133 2 A MERCEOLOGIA E O SISTEMA HARMONIZADO (SH) ....................................................... 133 2.1 CODIFICAÇÃO DO SISTEMA HARMONIZADO (SH) ........................................................... 135 3 A NOMENCLATURA COMUM DO MERCOSUL (NCM) .......................................................... 136 3.1 CLASSIFICAÇÃO DOS PRODUTOS CONFORME A NCM .................................................... 139 4 A TARIFA EXTERNA COMUM (TEC) E TRATAMENTOS ADMINISTRATIVOS ............... 140 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 145 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 146 TÓPICO 2 - A LOGÍSTICA E FORMALIZAÇÃO DA COMERCIALIZAÇÃO INTERNACIONAL .................................................................................................................................. 147 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 147 2 OBRIGAÇÕES NA COMERCIALIZAÇÃO INTERNACIONAL ............................................... 147 3 CLASSIFICAÇÃO E RESPONSABILIDADES DOS INCOTERMS .......................................... 149 4 INTERNACIONALIZAÇÃO E NACIONALIZAÇÃO DAS MERCADORIAS ....................... 156 4.1 DESPACHO ADUANEIRO ............................................................................................................ 156 4.1.1 O despacho aduaneiro de importação ................................................................................. 157 4.1.2 Despacho aduaneiro de exportação ..................................................................................... 159 X RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 161 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 162 TÓPICO 3 - MODALIDADE DE PAGAMENTOS E COMERCIALIZAÇÃO INTERNACIONAL ........................................................................................................... 163 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 163 2 MODALIDADES DE PAGAMENTO ............................................................................................... 163 2.1 MODALIDADE PAGAMENTO E RECEBIMENTO ANTECIPADO....................................... 165 2.2 REMESSA SEM SAQUE .................................................................................................................. 166 2.3 COBRANÇA COM SAQUE ...........................................................................................................167 2.4 CRÉDITO DOCUMENTÁRIO ....................................................................................................... 168 2.4.1 Opções de pagamento da carta de crédito (L/C) ................................................................ 172 3 COMERCIALIZAÇÃO DIRETA E INDIRETA ............................................................................... 174 3.1 COMERCIALIZAÇÃO INDIRETA ............................................................................................... 174 3.2 COMERCIALIZAÇÃO DIRETA .................................................................................................... 177 4 PRECIFICAÇÃO ................................................................................................................................... 178 4.1 FORMAÇÃO DO PREÇO NA IMPORTAÇÃO .......................................................................... 178 4.2 FORMAÇÃO DE PREÇO NA EXPORTAÇÃO ........................................................................... 180 4.2.1 Valoração das exportações ..................................................................................................... 182 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 186 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 190 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 191 REFERÊNCIAS ......................................................................................................................................... 192 1 UNIDADE 1 DINÂMICA COMERCIAL INTERNACIONAL OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS Esta unidade tem por objetivos: • compreender a necessidade do comércio internacional entre países; • diferenciar entre o que é o comércio internacional e o que é comércio exte- rior; • saber qual o cenário global de hoje e o motivo da formação de blocos eco- nômicos; • identificar quais são os parceiros do Brasil no MERCOSUL; • compreender o papel dos organismos internacionais na dinâmica do co- mércio internacional; • saber identificar o porquê dos países estabelecerem limites ao comércio internacional por meio das barreiras comerciais. Esta unidade está dividida em três tópicos. Em cada um deles você encontrará atividades que o auxiliarão a fixar os conhecimentos abordados. TÓPICO 1 – O COMÉRCIO INTERNACIONAL E O COMÉRCIO EXTERIOR DOS PAÍSES TÓPICO 2 – BLOCOS ECONÔMICOS E O MERCOSUL TÓPICO 3 – ORGANISMOS INTERNACIONAIS E BARREIRAS AO COMÉRCIO INTERNACIONAL 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 O COMÉRCIO INTERNACIONAL E O COMÉRCIO EXTERIOR DOS PAÍSES 1 INTRODUÇÃO Para entender como funciona a dinâmica do comércio internacional devemos saber que o comércio faz parte da economia de qualquer civilização atual ou antiga. O ser humano comercializa bens e serviços entre irmãos, entre famílias, entre vizinhos, entre cidades de um mesmo estado, entre estados do Brasil, entre países vizinhos e entre países distantes. Antigamente, civilizações distantes da Ásia e do mundo mediterrâneo também realizavam comércio, e graças a esse comércio é que muitas inovações foram aproveitadas para a evolução das civilizações, a tal ponto que, hoje, praticamente somos uma só civilização moderna ao redor do mundo. Nesta unidade, e especificamente neste tópico, iremos estudar sobre como o comércio internacional faz parte de qualquer país do mundo, observando a importância das exportações e importações na dinâmica econômica das nações. 2 EVOLUÇÃO COMERCIAL INTERNACIONAL Antes de adentrar na história comercial da civilização devemos nos perguntar: desde quando existe comércio internacional? É difícil colocar uma data exata, mas há relatos históricos da necessidade de troca comercial entre civilizações antigas há mais de 5.000 anos antes de Cristo (a.C.). Desde essa época praticava-se o comércio entre povos diferentes, por exemplo, entre a China e o mundo antigo existia o comércio por meio da famosa “rota da seda”. Inclusive existem relatos arqueológicos de que essa rota já era utilizada desde antes de 7.000 a.C. A seguir podemos observar a rota da seda e suas ramificações para as diversas civilizações do mundo antigo por onde comercializavam ativamente desde aquela época, ajudando assim, aos poucos, no desenvolvimento socioeconômico daquela área. UNIDADE 1 | DINÂMICA COMERCIAL INTERNACIONAL 4 FIGURA 1 – ROTA DA SEDA FONTE: Disponível em: <http://es.paperblog.com/la-ruta-de-la-seda-2328256/>. Acesso em: 6 maio 2016. No mundo antigo, um dos povos que era bem ativo no comércio exterior eram os fenícios, o povo fenício foi um dos principais povos a contribuir para o desenvolvimento do comércio exterior de 2.300 a 50 a.C. A civilização fenícia, por meio do comércio internacional, contribuiu significativamente para o desenvolvimento da economia e da ciência das civilizações da antiguidade que se localizavam no entorno do Mar Mediterrâneo. No progresso de suas atividades comerciais, os fenícios tiveram expressivo destaque no desenvolvimento de embarcações que pudessem lhes colocar em contato com as diversas civilizações do Mar Mediterrâneo. O deslocamento pelo mar acabou firmando uma ampla rede de rotas comerciais que garantia a circulação dos vários produtos que despertavam o interesse da poderosa classe mercante mantenedora desse tipo de atividade econômica (BRASIL ESCOLA, 2016). Por meio de sua participação ativa, os fenícios viraram eixo fundamental às necessidades de comércio entre os povos ao redor do mundo antigo ocidental, ou seja, ao redor do Mar Mediterrâneo. Qual seria o futuro da civilização grega e do Império Romano, base estrutural da civilização moderna atual, sem os fenícios? Difícil de responder em poucas palavras, mas por meio da análise histórica do comércio internacional do mundo antigo podemos observar que a troca comercial entre nações é fundamental para suprir necessidades e ajudar ao desenvolvimento econômico e cultural como um todo. Assim como na antiguidade, hoje os países dependem do comércio internacional, só que no mundo atual essa atividade é muito mais acirrada e TÓPICO 1 | O COMÉRCIO INTERNACIONAL E O COMÉRCIO EXTERIOR DOS PAÍSES 5 essencial para a dinâmica econômica dos países. Aliás, hoje, sem o comércio exterior, a economia de qualquer país do mundo simplesmente ficaria parada. De fato, por meio do fenômeno conhecido como “globalização” é que os países geram intercâmbios de bens e serviços de maneira contínua todos os dias do ano, por meio de uma logística internacional que cada dia é mais dinâmica e interativa. Tanto as empresas como os governos devem estar preparados para as demandas de um mundo globalizado. As empresas precisam se manter competitivas no que elas produzem e oferecem aos mercados internacionais, e os governos precisam oferecer serviços e logística adequados para que as empresas possam atuar da maneira mais produtiva nesse mercado internacional altamente acirrado. Como foi que o comércio internacional chegou aos patamares de interdependência global atual? Para responder isso teríamos que adentrar num processo de estudo histórico desde a época dos fenícios, romanos, época mercantilista (século XVI até século XVIII), Revolução Industrial e o liberalismo do século XIX, Grande Depressão de 1929, e a época logo após a Segunda Guerra Mundial até os dias de hoje. Esse estudo poderia levar, facilmente, todo o tempo de nossa disciplina, assim, vamos focar nossa análise a partir do liberalismo do século XIX até o fenômeno da globalização atual. 2.1 LIBERALISMO DO SÉCULO XIX Podemosdizer que o mundo já teve uma globalização econômica prévia à atual. Em finais do século XVIII e durante todo o século XIX aconteceu uma série de descobrimentos tecnológicos e inovações que mudaram totalmente o comportamento produtivo das empresas e do consumidor. A seguir veremos alguns desses grandes descobrimentos tecnológicos, desdobrados em dois grandes grupos: • Descobrimentos nos processos produtivos. Invenções e inovações fundamentais para a cadeia produtiva dessa época e de hoje: o A locomotiva (1813), quase essencial para o transporte de mercadorias e pessoas. o Máquina de costura (1830), base da indústria têxtil de hoje. o Máquina analítica (1835), a base inicial dos sistemas de informação. o Código Morse e telégrafo (1835), início da transmissão de mensagens em tempo real. o Telefone (1876), essencial para a comunicação distante em tempo real. o Motor de combustão interna (1858), o início de toda uma indústria que transformou a maneira como mercadorias e pessoas são deslocadas. o Turbina de vapor (1884), essencial para a geração de energia elétrica. ATENCAO UNIDADE 1 | DINÂMICA COMERCIAL INTERNACIONAL 6 o Plástico (1862). Onde não há plástico? Aliás, hoje é um problema ambiental de grande escala. • Descobrimentos que ajudaram as necessidades dos consumidores. Além do aumento expressivo da produtividade graças às invenções expostas anteriormente, existem mais outras que transformaram o comportamento do consumidor, tais como: Fotografia (1837-1839); Papel higiênico (1857); Cinematógrafo (1895); Aspirador de pó; Pasteurização (1856); Caldo concentrado (1873), marcas como Maggi e Knorr começaram a comercializar seus produtos desde essa época. Acabamos de observar somente algumas das grandes inovações e descobrimentos do século XIX. Esses descobrimentos, e outros, transformaram o mundo de maneira que a civilização nunca antes tinha experimentado. Fato que trouxe um desenvolvimento econômico acelerado na maioria dos países atuais, momento da história econômica conhecida como a época de industrialização. O século XIX é a época do desenvolvimento industrial, comercial e econômico galopante da economia mundial. Nunca antes se havia experimentado tal fenômeno, o mundo como um todo não voltaria a ser o mesmo. Além de impactos sociais, um dos efeitos desse grande desenvolvimento foi o excesso de produtividade e o aumento constante de novos fornecedores vindos de dentro e de fora dos territórios nacionais. Resultado disso? Uma explosão no comércio internacional, mercadorias de consumo saindo para diversos países, assim como insumos vindos de diversos países entravam na cadeia produtiva e de consumo, gerando um período de comércio nunca antes visto na história da humanidade. 2.2 GRANDE DEPRESSÃO DE 1929 No início do século XX essa onda de aumento da produtividade e comércio mundial continuou aumentando, aceleradamente, nos primeiros anos do século passado. Cabe destacar que nos primeiros anos - e décadas - do século XX começou a produção em massa da indústria automobilística. Com o lançamento do “Modelo T” da Ford, Henry Ford iniciou a massificação na produção e comercialização de automóveis. O “Modelo T” foi lançado no mercado no ano de 1908 e só acabou sua comercialização em 1927, foram 19 anos de sucesso comercial! No que tange, especificamente, ao comércio internacional, a inovação e o aprimoramento das máquinas a vapor fizeram com que o transporte marítimo de mercadorias e pessoas só viesse a aumentar, especialmente nas primeiras décadas do século XX. Nesse cenário de explosão industrial e comercial, a economia mundial só vinha crescendo ano após ano, em especial na nova grande economia da época, os Estados Unidos. Resultado? A economia dos Estados Unidos e do mundo industrial tinha se aquecido demais, os mercados comerciais e financeiros internacionais só experimentavam resultados econômicos positivos, tudo era ótimo e feliz no TÓPICO 1 | O COMÉRCIO INTERNACIONAL E O COMÉRCIO EXTERIOR DOS PAÍSES 7 mundo das empresas capitalistas. No entanto, os mercados financeiros, como um todo, estavam à beira de um colapso. Colapso que veio à tona com o estouro da Bolsa de Valores de Nova York. Logo depois a crise se espalhou na economia real, refletindo em falências e desemprego em grande escala, tanto nos Estados Unidos como no resto do mundo. Assim foi o início da Grande Depressão, que ficou por vários anos causando estragos estruturais na economia mundial. Poderíamos analisar a Grande Depressão por diferentes aspectos, mas isso quitaria espaço para os demais temas interessantes deste caderno. O que podemos dizer da Grande Depressão é que nessa época o comércio internacional sofreu uma grande contração, os países começaram a se fechar e os interesses próprios, aliás, exacerbados, levaram para crises contínuas. Aliás, foi nessa época que tiveram início os governos fascistas da Alemanha, Itália e Espanha. E o resultado? Entre outros fatores históricos/socioeconômicos – a Segunda Guerra Mundial. Época que todos nós conhecemos, que foi muito negativa para o mundo, porém, época que também trouxe grandes aprendizados, como veremos a seguir. 2.3 CENÁRIO ECONÔMICO INTERNACIONAL APÓS A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL Ao final da Segunda Guerra Mundial, em 1945, nada seria igual, uma nova fase da história moderna estava começando. Duas grandes potências novas ficaram como líderes do cenário mundial, os Estados Unidos e a União Soviética, a primeira representava o capitalismo e o comércio livre entre as nações, a segunda representava o socialismo extremo ou comunismo. Esse conflito entre duas maneiras opostas de enxergar e fazer economia é que gerou a conhecida “Guerra Fria”, briga ideológica e de armamento em grande escala entre o mundo capitalista e o mundo socialista/comunista. Guerra Fria que por grande sorte da humanidade nunca passou a se materializar em uma guerra mundial, mas instalou-se como uma ameaça constante e perigosa, de grandes repercussões mundiais, por várias décadas. Por meio da liderança dos Estados Unidos é que a partir de 1945 se iniciou um processo de reorganização internacional, e no que diz respeito ao comércio internacional algumas mudanças importantes aconteceram. Nessa época, perante a reconstrução das relações internacionais, os países precisavam reorganizar e reestruturar o comércio internacional. Assim, nesse ambiente de cooperação entre países foi que tiveram início as negociações para a criação de órgãos internacionais de controle e ajuda ao UNIDADE 1 | DINÂMICA COMERCIAL INTERNACIONAL 8 comércio internacional. Inclusive, estas negociações entre as nações iniciaram um pouco antes de terminar a Segunda Guerra Mundial, em julho de 1944, em Bretton Woods – EUA. Nessa data foi concluído e firmado o primeiro grande acordo, o nascimento de três grandes organismos internacionais que visam ao controle e incentivo comercial e financeiro entre as nações do mundo. Aliás, órgãos e acordos internacionais ativos até os dias de hoje. Os organismos internacionais definidos e normatizados por meio de acordos internacionais em Bretton Woods foram: O Fundo Monetário Internacional (FMI); o Banco Mundial; e o Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT). A partir de 1993 as funções e acordos comerciais do GATT passaram ao comando da Organização Mundial do Comércio (OMC). Mais adiante iremos abordar com maior detalhe as funções de cada um destes órgãos internacionais. 2.4 NOVO CENÁRIO MUNDIAL DAS PRIMEIRAS DÉCADAS DO SÉCULO XXI A partir da última década do século passado, quando as atividades do GATT passaram a ser parte do recente órgão internacional para o comércio mundial – Organização Mundial do Comércio (OMC) –, as inter-relações comerciais entre os países só vêm aumentando. Até finais do século XX os mercados mundiais estavam concentrados,principalmente, entre os países desenvolvidos, liderados pelos EUA, Europa e o Japão, enquanto os países em desenvolvimento eram maioritariamente fornecedores de commodities. Assim, as grandes tendências da economia internacional ficavam em função da liderança dos países desenvolvidos. Commodity é um termo que vem do inglês e significa mercadorias sem valor agregado, em sua maioria, matéria-prima, com grau padrão, ou uniforme, sem diferenciação, que podem ser comercializadas na bolsa de valores, tais como: petróleo, minério de ferro, grão de soja, milho, café etc. Esse cenário praticamente estabelecido durante décadas estava prestes a mudar e se materializar a partir do ano 2000. A mudança do cenário mundial possui dois grandes elementos de análise econômica e histórica: o crescimento acelerado das economias em desenvolvimento, e a grande crise internacional do ano 2008; e o crescimento econômico acelerado das economias menos desenvolvidas a partir de 1990. Entre os países de economia menos desenvolvida vale a pena analisar, especialmente, a China, seu Produto Interno Bruto (PIB) cresceu na média de NOTA TÓPICO 1 | O COMÉRCIO INTERNACIONAL E O COMÉRCIO EXTERIOR DOS PAÍSES 9 9% ao ano desde a década de 1980, época na qual esse país começou a abrir sua economia ao mundo. GRÁFICO 1 – CRESCIMENTO DO PIB E DO CONSUMO DE ENERGIA ELÉTRICA DA CHINA DESDE 1980 FONTE: Disponível em: <http://www.perpe.es/2013/07/17/oc10813/>. Acesso em: 14 maio 2016. Qual o resultado desse crescimento econômico galopante? Ao observar o gráfico, a China passou de um PIB de menos de US$ 500 bilhões no ano de 1980 para mais de US$ 5 trilhões no ano 2010! De acordo com dados do Banco Mundial, o PIB da China, no ano 2014, foi de US$ 10,4 trilhões. Esse crescimento econômico único no globo tornou a China a segunda potência econômica do mundo, fato que há duas décadas era inimaginável. As outras economias subdesenvolvidas também tiveram crescimentos econômicos relevantes, porém, bem menores que o da China. O Brasil também passou de uma economia de pouco impacto no cenário mundial há duas décadas, para ser hoje uma das maiores economias do mundo. Vamos dar uma olhada no gráfico das maiores economias (excluindo a China) com nível médio de desenvolvimento: UNIDADE 1 | DINÂMICA COMERCIAL INTERNACIONAL 10 GRÁFICO 2 – CRESCIMENTO DO PIB DO BRASIL, ÍNDIA E RÚSSIA DESDE 1980 FONTE: Disponível em: <http://data.worldbank.org/indicator/NY.GDP.MKTP.CD>. Acesso em: 14 maio 2016. Do gráfico exposto podemos observar que: • O Brasil passou de um PIB de US$ 235 bilhões, em 1980, para US$ 2.2 trilhões em 2012. • A Índia passou de US$ 190 bilhões para US$ 1,9 trilhões em 2012. • A Rússia passou de US$ 506 bilhões, em 1989, para US$ 2,1 trilhões em 2012. Cabe observar que a Rússia só possui dados a partir de 1989, antes disso fazia parte, como o Estado principal, da ex-União Soviética. De todos esses dados expostos acima sobre a China, o Brasil, a Rússia e a Índia, o que podemos observar? Basicamente, esses Estados passaram de ostentar um papel secundário para um papel de liderança no cenário mundial a partir do ano 2000. Assim como estes países de tamanhos continentais, também poderíamos adicionar mais outros, mas de tamanhos menores, países tais como: México, Chile, Colômbia, Peru, alguns países asiáticos, entre outros. Todos eles com crescimentos econômicos relevantes. Destes países menores, ao comparar com o Brasil, devemos dar uma olhada especial para o Chile. País que atingiu um grau de desenvolvimento econômico quase de primeiro mundo. O Chile teve um PIB de US$ 280 bilhões em 2012, mas com uma população de só 17 milhões de pessoas, ou seja, em termos de riqueza média, o país possui o melhor nível de desenvolvimento da América Latina. Como um todo e com a liderança das maiores economias de desenvolvimento médio (tais como a China e o Brasil), os países em vias de desenvolvimento passaram a ter maior peso na economia mundial, portanto, maior impacto nas transações comerciais globais. Isto é de grande importância no momento de analisar como o TÓPICO 1 | O COMÉRCIO INTERNACIONAL E O COMÉRCIO EXTERIOR DOS PAÍSES 11 cenário comercial atual está sendo articulado, especialmente a partir do ano 2008, quando aconteceu a grande crise econômica dos países desenvolvidos. A crise econômica mundial de 2008 Durante o segundo semestre de 2008 a bolha imobiliária dos Estados Unidos estourou. Com exceção de poucos economistas e profissionais financeiros, ninguém esperava o grande impacto negativo que isso teria no mercado financeiro e de valores. Em setembro de 2008, um dos maiores bancos de investimento do mundo foi à falência, a famosa instituição financeira Lehman Brothers. Este banco esteve no mercado financeiro desde o ano 1850 até setembro de 2008, portanto foram 158 anos de atividade bancária. Assista ao filme “A Grande Aposta”. Esse filme retrata como estourou a bolha imobiliária e financeira e suas repercussões internacionais. Imediatamente após a falência desta instituição, a Bolsa de Valores de Nova York despencou e um efeito em cadeia se espalhou pela economia real dos Estados Unidos e do mundo, situação bem semelhante à Grande Depressão de 1929. Depois de setembro de 2008, uma série de bancos e multinacionais começaram a ir à falência também, entre estas empresas, a General Motors. A diferença é que na recente crise de 2008 o governo dos Estados Unidos realizou uma operação de salvatagem financeira em grande escala para socorrer diversas corporações financeiras e industriais. Hoje, ao contrário da Grande Depressão, as economias modernas possuem ferramentas para amortizar esse tipo de grandes crises econômicas. Talvez você esteja se perguntando, qual o significado da palavra salvatagem? A palavra salvatagem significa executar um conjunto de medidas objetivando o resgate logo após um desastre. Apesar da grande salvatagem feita pelo governo dos EUA, assim como pelos governos europeus para salvar suas economias, a crise espalhou-se pelo mundo com grande força. Ainda hoje, economias europeias estão lutando com as sequelas do terremoto econômico. DICAS NOTA UNIDADE 1 | DINÂMICA COMERCIAL INTERNACIONAL 12 Após ter ido à falência, a General Motors fez uma engenharia financeira e de processos de produção, conseguindo pagar a bilionária salvatagem do governo dos EUA. Veja na íntegra o artigo de opinião do jornal O Estado de São Paulo: <http://economia.estadao. com.br/noticias/geral,gm-sera-terceira-maior-falencia-da-historia-dos-eua,380334>. O interessante dessa grande crise – aliás, a pior desde 1929 – é que as economias em desenvolvimento, como o Brasil, tiveram só um impacto menor, ou seja, o grande motor da economia mundial já não estava somente nos EUA, Europa e Japão. O desenvolvimento da crise de 2008 deixou claro esse recado. No século passado, qualquer crise econômica do mundo desenvolvido deixava as economias em desenvolvimento à beira de quebrar. O Brasil e os demais países da América Latina são um exemplo disso, com várias salvatagens financeiras do Fundo Monetário Internacional (FMI). Um dos grandes motivos desse impacto menor da crise econômica de 2008 nos países como o Brasil foi o motor econômico da China, aliás, a maioria das economias em desenvolvimento começou a crescer novamente a partir do ano 2010. A China, apesar da crise, continuou crescendo aceleradamente, entre 8% e 9% ao ano, e dado seu grande tamanho, a procura por commodities por parte deste país só continuou aumentando. Resultado? Economias como o Brasil mantiveram o aumento em suas exportações. Eis um novo peso na economia mundial que no século XX não existia, a liderança econômica de países em desenvolvimento. Hoje, já não é somente o sucesso das economias desenvolvidas que mantémo motor econômico e comercial do mundo, grande parte desse motor depende também dos países em desenvolvimento, como a China, o Brasil, a Índia, o México, entre outros, fato que o gráfico a seguir demonstra. DICAS TÓPICO 1 | O COMÉRCIO INTERNACIONAL E O COMÉRCIO EXTERIOR DOS PAÍSES 13 GRÁFICO 3 – PIB DE PAÍSES DESENVOLVIDOS E EM DESENVOLVIMENTO FONTE: Disponível em: <http://www.imf.org/external/index.htm>. Acesso em: 14 maio 2016. A partir do gráfico acima, podemos observar que em 1980 os países desenvolvidos possuíam 60% da economia mundial, entretanto, os países em desenvolvimento possuem cerca de 40%. Hoje, e desde o ano 2012, os países em desenvolvimento possuem mais de 50% da economia global. Isto demanda uma série de implicações de impacto internacional. O que acontece hoje no Brasil, e em outros países, traz atenção imediata dos mercados internacionais. Antigamente o que acontecia aqui tinha um impacto mínimo nos mercados globais. Dos países em desenvolvimento, o que possui maior atenção mundial é a China, o que acontece lá impacta imediatamente os quatro cantos do mundo, literalmente. Eis uma das grandes preocupações a partir do ano 2015, pois a China vem apresentando uma série de questionamentos muito sérios da real situação de sua economia. A partir do ano 2014, a procura de commodities da China vem caindo, consequentemente as economias exportadoras de commodities, como o Brasil, vêm apontando uma série de problemas econômicos. Acabamos de nos informar sobre como funciona a dinâmica do atual cenário econômico. O divisor de águas é a crise de 2008, data na qual ficou marcada a real importância e peso comercial na economia global dos países em desenvolvimento. O foco de todo este breve histórico econômico mundial é de entender a importância, como um todo, tanto dos mercados dos países desenvolvidos como dos países em desenvolvimento. Antigamente, todos os países desejavam exportar para os UNIDADE 1 | DINÂMICA COMERCIAL INTERNACIONAL 14 Estados Unidos, Europa e Japão. Hoje, o foco é praticamente “o mundo”, com especial atenção nas grandes potências econômicas, isto é, os EUA, a China, a Europa e o Japão. 3 DIFERENÇA ENTRE COMÉRCIO INTERNACIONAL E COMÉRCIO EXTERIOR No cenário atual de comércio interdependente, os países procuram satisfazer tanto suas necessidades de produção como de consumo não somente por meio de mercados nacionais, mas sim no mercado mundial, onde a comunidade internacional atua ativamente nos mercados mundiais. Seguramente você ouve, no seu cotidiano, as notícias que falam sobre comércio exterior e sobre comércio internacional, mas já pensou qual é a diferença entre “comércio exterior” e “comércio internacional”? Será que estas duas expressões possuem o mesmo significado? Essas duas expressões possuem um contexto de uso diferenciado. O comércio internacional aborda todas as operações comerciais realizadas entre os diversos países que fazem parte da comunidade comercial internacional. Desta maneira, existe a possibilidade de fazer intercâmbio contínuo de mercadorias, serviços e capitais financeiros entre os países ao redor do mundo. Já o comércio exterior aborda todas as transações comerciais de um país, em específico, com o resto do mundo, assim, esse país executa exportações e importações de mercadorias e serviços. O comércio exterior de um país acontece em função das necessidades específicas da dinâmica econômica desse país. O comércio exterior brasileiro aborda uma série de necessidades de processos econômicos, cujo objetivo é satisfazer as necessidades das empresas e dos consumidores do país. No contexto do comércio internacional, a cada segundo acontecem milhares de transações internacionais. Neste momento, um país pode estar exportando uma mercadoria, enquanto outro país estará executando o processo de importação dessa mercadoria, ou seja, para cada exportação haverá uma importação. No contexto brasileiro é igual, todos os dias se executam milhares de exportações e importações. Essas exportações e importações brasileiras são interpretadas como a corrente de comércio exterior do Brasil, ou seja, todas as exportações e importações durante um período de tempo determinado, que pode durar meses, trimestres, semestres ou anos. TÓPICO 1 | O COMÉRCIO INTERNACIONAL E O COMÉRCIO EXTERIOR DOS PAÍSES 15 3.1 EXPORTAÇÕES Qual o significado de exportar? Exportar significa oferecer produtos e serviços no mercado internacional, ou seja, é o ato comercial de vender uma mercadoria ou serviços para outro país, fora das fronteiras nacionais. Segundo Vazquez (2009, p. 181): A exportação é a atividade que proporciona a abertura do país para o mundo. É uma forma de se confrontar com os demais parceiros e, principalmente, frequentar a melhor escola de administração, já que, lidando com diferentes países, o país exportador assimila técnicas e conceitos a que não teria acesso em seu mercado interno. Para quem e para onde exportar dependerá muito da vantagem competitiva que possa ter um país em função dos outros países, ou seja, a capacidade produtiva relativa à produtividade dos outros países. Assim, quanto maior for a competitividade relativa de um país, maior será a capacidade de exportação desse país. Em termos gerais, as nações desenvolvidas possuem alta competitividade em produzir mercadorias e serviços de alto valor agregado, enquanto que as nações com menor grau de desenvolvimento focam sua estratégica na exportação de mercadorias com menor valor agregado, pois estes países possuem alta competitividade na oferta desses produtos. Apesar de o Brasil ser considerado uma economia de grau médio de desenvolvimento, o país exporta alguns produtos com alto valor agregado também, tal como aviões da Embraer, peças industriais, entre outros. Porém, na sua grande maioria, as exportações do Brasil são de fato produtos de pouco valor agregado: semimanufaturados, como óleo de soja; e matérias-primas, tais como grão de café, grão de soja, minério de ferro, entre outros. Assim, tanto os países desenvolvidos como aqueles com menor grau de desenvolvimento exportam diversos tipos de produtos e serviços. Exportações que dependerão do grau de competitividade (produtividade) relativa dos produtos a serem exportados. Nesse sentido, os países podem exportar: • Recursos naturais e commodities: tal como petróleo, minério de ferro e grão de soja. • Produtos semimanufaturados: tais como óleo de soja, farinha de mandioca, leite em pó, entre outros. • Produtos manufaturados: tais como veículos, computadores, entre outros. • Bens de capital: equipamento e maquinaria, tais como fornos industriais, tratores, equipamento pesado utilizado nos processos produtivos, entre outros. UNIDADE 1 | DINÂMICA COMERCIAL INTERNACIONAL 16 • Direitos de propriedade intelectual: invenções e direitos de autor, ou seja, regalias, tais como patentes de desenho industrial e de invenção. Também podemos citar os direitos de autor, tais como da famosa escritora Joanne Ketlin Rowling, autora dos livros de Harry Potter, direitos de autor que representam milhões de dólares de exportação para o Reino Unido. • Fatores tecnológicos e aplicativos: Office da Microsoft, ou aplicativo SAP, sistema ERP para empresas. Geralmente, a exportação de fatores tecnológicos está ligada às exportações de inovações. No contexto do comércio internacional, os países exportam para suprir as necessidades dos países importadores que atuam no comércio internacional. Nesse sentido, o Brasil estabelece acordos comerciais internacionais para suprir as necessidades de seus parceiros atuais e potenciais, por exemplo: • A China precisa alimentar mais de 1 bilhão de pessoas, assim, procura soja, milho e outros produtos do Brasil. • A China e outros países precisam do minério de ferro produzidoaqui no país. • Vários países do mundo compram os aviões da Embraer. Estes são alguns exemplos dos produtos que o Brasil exporta, mas quem realmente faz a exportação acontecer são as empresas. O governo, por meio de seus órgãos e infraestrutura pública, oferece serviços às necessidades de comércio exterior das empresas, agindo como uma peça-chave nos processos administrativos da exportação. As exportações são parte essencial da estrutura econômica e comercial de qualquer país, eis a importância de exportar. Através da execução das exportações é que a economia nacional consegue acumular divisas (moeda estrangeira) necessárias para poder bancar a compra de insumos, bens de capital (equipamento, máquinas etc.), serviços e bens de consumo que não são produzidos no país. A dinâmica da geração de divisas começa nas empresas exportadoras que cobram em moeda estrangeira (principalmente em dólar). Essa moeda estrangeira, por meio do mercado de câmbio, irá se converter em moeda nacional – reais. O Banco Central do Brasil compra essas divisas, em troca entrega reais aos exportadores, assim, o Banco Central acumula divisas necessárias para que os importadores possam realizar suas atividades comerciais. Eis o elo entre a atividade exportadora e a acumulação de divisas necessárias para importar mercadorias e serviços necessários à atividade econômica. TÓPICO 1 | O COMÉRCIO INTERNACIONAL E O COMÉRCIO EXTERIOR DOS PAÍSES 17 3.2 DETERMINANTES PARA EXPORTAR Como foi exposto acima, as empresas são os agentes que fazem acontecer as exportações. Quais os motivadores para que uma empresa fique incentivada para realizar exportações? Os motivos e as particularidades das exportações podem ser diversos, a seguir veremos alguns deles. • Complementar a produção nacional. Uma empresa pode apresentar capacidade produtiva ociosa, assim, a venda ao exterior vira uma possibilidade para aproveitar ao máximo possível sua produtividade. • Novos mercados. Uma empresa pode reparar que os mercados internacionais estariam dispostos a pagar um melhor preço por seus produtos. Logo, o incentivo de melhorar sua margem de lucro por meio de melhores preços e volumes de venda é um grande motivador para exportar, além de ajudar a diversificar mercados. • Benefício financeiro. Levando em consideração qualquer das duas situações expostas – complementar a produção nacional e novos mercados –, a exportação em si traz grandes benefícios financeiros. As exportações estão isentas de qualquer tipo de impostos, não faz sentido exportar impostos! Assim, uma exportação não possui ICMS, IPI, entre outros tributos cobrados ao realizar vendas no mercado nacional. Esta isenção de impostos faz que o exportador possa melhorar a gestão de seu fluxo de caixa e aumentar sua capacidade de gerar lucro. • Diferencial competitivo. Se uma empresa conseguir se inserir no mercado internacional, a experiência comercial internacional irá trazer um diferencial de competitividade (ou produtividade), pois a empresa exportadora terá que se manter inovando e aprimorando processos para se manter nos mercados internacionais. Além disso, a empresa exportadora ganha experiência em enxergar e em compreender culturas, costumes, leis e regras comerciais diferentes das nacionais. Isto automaticamente traz diferencial e inovação à gestão da empresa, inclusive ajuda a melhorar as vendas do mercado nacional. No entanto, nem toda empresa precisa ou está apta para exportar, muito dependerá das particularidades do tipo de negócio, e de indústria, onde a empresa está inserida. Assim, o motivo de exportar deve ser uma decisão de estratégia de negócio em si. É uma questão de estratégia porque, para poder executar, com sucesso, a exportação existe a necessidade de tempo de análise e consolidação de mercados. Assim como demandará análise das particularidades dos hábitos, costumes e leis dos consumidores desses mercados internacionais. Essa adequação aos costumes e leis desses mercados internacionais exigirá adequações na produção, na gestão e nas embalagens, entre outros assuntos. Ao cumprir todo o exposto anteriormente, a empresa exportadora ficará menos dependente do mercado interno, abrindo suas portas para diversos mercados ao redor do mundo. Isto poderá diluir o risco de possíveis quedas de vendas em vários mercados, diversificando o risco tanto nos mercados nacionais UNIDADE 1 | DINÂMICA COMERCIAL INTERNACIONAL 18 como nos espalhados em diversos países. E do lado das importações, será que um país consegue se virar só exportando, sem ter que importar? Seria muito difícil, inclusive, muitos dos produtos que o Brasil exporta possuem insumos importados. 3.3 AS IMPORTAÇÕES Para fazer acontecer uma exportação, muitas vezes é necessário importar parte das matérias-primas e insumos dessa mercadoria a ser exportada. Por que acontece isso? Em um mundo globalizado, os fornecedores de uma indústria são de fato nacionais e internacionais. No contexto do comércio internacional, tudo fica em função da competitividade relativa dos mercados, sejam estes nacionais ou internacionais. Qual a diferença entre matéria-prima e insumo? A matéria-prima é extraída diretamente da natureza, por exemplo: grão de trigo (matéria-prima) que vira farinha de trigo (insumo); petróleo (matéria-prima) que pode virar polipropileno/termoplástico (insumo). O comércio nacional de bens e serviços não seria viável sem a participação das importações. Sem a participação de insumos, peças e equipamentos importados, a empresa brasileira não poderia dar conta da fabricação de grande parte das mercadorias de produção nacional. Isso acontece não só no Brasil, acontece em todo país ao redor de mundo que esteja inserido nos mercados internacionais. Do exposto acima, podemos dizer que as importações são realmente necessárias para a economia de um país. Os países podem ter diversas necessidades de importação, desde produtos básicos, bens de consumo, insumos, até maquinaria com tecnologia de ponta. As importações desempenham um papel vital na vida econômica de qualquer país desenvolvido, subdesenvolvido ou em desenvolvimento, pois nenhum país é totalmente autossuficiente. Todos os países dependem, de alguma forma, do resto do mundo para suprir suas necessidades. Quanto mais desenvolvido e industrializado, maior será sua necessidade de relacionamento com outros países (SCHULZ, 2000, p. 104). Um país pode importar diversas mercadorias em função de suas necessidades econômicas e “desejos” de sua população, mas qual o significado de importar? Importar é a execução de adquirir um produto em outro país e poder nacionalizá-lo (introduzi-lo legalmente) para que possa circular e/ou ser comercializado ao longo do território nacional. NOTA TÓPICO 1 | O COMÉRCIO INTERNACIONAL E O COMÉRCIO EXTERIOR DOS PAÍSES 19 Como foi exposto anteriormente, é por meio das exportações que um país acumula divisas (moeda estrangeria) para poder importar. Assim, podemos dizer que tanto as exportações como as importações estão interligadas. Essa inter-relação é administrada pelo comércio exterior de um país, e todo país tenta manter um saldo positivo da Balança Comercial, ou seja, exportações menos importações. O objetivo disso é manter um mínimo de reservas internacionais, isto é, manter uma cesta de divisas (moeda estrangeira) para que o país possa garantir suas obrigações comerciais e financeiras com a comunidade internacional. Podemos dizer que importar além do realmente necessário para um país não é um bom negócio. Sendo assim, é necessária uma excelente gestão do comércio exterior para que um país possa manter sob controle esse balanço positivo entre as exportações e importações. Quais os motivos, tanto para um país como para as empresas, de realizarem importações? 3.4 DETERMINANTES DAS IMPORTAÇÕESQuais os determinantes que fazem um país gastar divisas (recurso monetário em moeda estrangeira) em bens e serviços vindos de fora? Existem muitos determinantes, mas, de fato, um país não pode ficar isolado do mercado internacional. Muitos tentaram diminuir drasticamente suas importações, para assim economizar recursos. Resultado? Em curto prazo esses países talvez tenham conseguido algum resultado positivo, mas a longo prazo não existe na história econômica casos de sucesso nesse sentido. Assim como foi na antiguidade, as sociedades precisam comercializar entre elas para complementar suas economias. O comércio é um meio para compartilhar experiências culturais e tecnológicas entre as diversas sociedades que fazem parte do mundo. Hoje, esse comércio internacional é muito mais intenso que na antiguidade. O maior determinante para importar é complementar os recursos escassos, ou inexistentes, em uma economia, mas fundamentais para suprir necessidades produtivas e de consumo. 3.4.1 Recursos necessários à economia de um país Não existe país no mundo que seja autossuficiente, existem diversas variáveis geográficas, solos, recursos naturais disponíveis, climas secos e/ou úmidos, climas mais frios, outros mais quentes, e assim por diante. Essas variáveis fazem com que os países não consigam todos os recursos de seu próprio território para suas economias. Assim, a importação é fundamental para complementar os recursos e bens de consumo que uma sociedade possa precisar. UNIDADE 1 | DINÂMICA COMERCIAL INTERNACIONAL 20 Se você reparar, toda mercadoria está composta por minerais essenciais que graças ao poder de transformação da natureza, dos processos agrícolas, dos processos industriais do mundo moderno, viram produtos para usarmos e consumir. Esses elementos essenciais estão presentes tanto em alimentos simples e processados, como em vestimentas, ferramentas, moradia, bens de capital, entre outros. Segundo o economista Glycon de Paiva (1963 apud PIFFER, 2013, p. 12): “Dos 300 minerais normalmente necessários ao progresso e à sobrevivência de um país, até agora nos faltam 250”. Ou seja, na média, um país, para poder manter suas atividades econômicas, precisa importar 250 minerais fundamentais, e no caso do Brasil não é diferente. Dos minerais expostos pelo economista Glycon de Paiva, muitos são importados na sua forma primária, como matéria-prima, petróleo, minério de ferro e outros; outros são importados por meio do poder de transformação da natureza, tais como grãos, leite, ovos, frutas; e outros são importados com processos de transformação industrial e com valor agregado, produtos industrializados. Assim, todo país, de uma maneira ou outra, consome na sua economia esses minerais essenciais, extraindo-os dos recursos naturais de seu próprio solo ou devendo importá-los. Uma das maiores economias do mundo – o Japão – possui pouco recurso natural, importando a maior parte das matérias-primas e insumos para sua indústria, porém, graças à sua capacidade competitiva e transformadora, esse país é um dos maiores exportadores do mundo! Aliás, grande parte dessas importações viram exportações com valor agregado. Você sabia que o Japão é um país pouco maior que o Estado de Rio Grande do Sul, mas possui uma população de 130 milhões de pessoas e é a terceira economia do mundo? Esse país, em função de seu território pequeno e grande população, importa diversos produtos alimentares do Brasil. Entre esses, importa ovos frescos. Sabia que o Brasil é o maior fornecedor de ovos frescos para esse país? Se ficou curioso, acompanhe o seguinte artigo: <http://www.agricultura.gov.br/comunicacao/noticias/2016/04/crescem- exportacoes-brasileiras-de-ovos-frescos-para-o-japao>. 3.4.2 Interesse de uma empresa para importar Observamos que os países, como um todo, precisam importar para complementar os recursos que não existem na economia nacional, mas que são necessários à dinâmica econômica. Esta necessidade de importar acontece seja para suprir recursos produtivos (matéria-prima, insumos, equipamento industrial etc.) às indústrias, ou para suprir necessidades e “desejos” do consumidor. Ao observarmos o contexto comercial, quem faz acontecer as importações em um país? DICAS TÓPICO 1 | O COMÉRCIO INTERNACIONAL E O COMÉRCIO EXTERIOR DOS PAÍSES 21 Igualmente às exportações, as empresas estabelecidas em um país fazem acontecer as importações, mas qual será o motivo que incentiva as empresas a importar? Embora existam muitos fatores, a maioria das empresas é incentivada a importar pelo interesse de buscar maiores margens operativas, portanto, gerar maior potencial de lucro nas suas atividades industriais e comerciais. Em função de suas particularidades comerciais e de processos produtivos e de fato a busca de melhorar esse potencial lucro é que a importação pode se materializar. Essa busca de potencializar o lucro por meio da importação pode ser analisada através de quatro grandes motivadores, expostos a seguir: • Matéria-prima e insumos que não estão disponíveis no mercado nacional. Nesta situação a importação vira indispensável, pois estes são materiais essenciais aos processos produtivos da indústria nacional. • Bens de capital que não são produzidos no país. Nesta situação a importação de equipamento industrial ou diversos tipos de máquinas se torna indispensável. Uma empresa, para se manter competitiva, precisa de bens de capital de alta produtividade, caso contrário, corre o risco de ficar fora do mercado. Geralmente este tipo de bens de capital importados oferece um know- how (tecnologia industrial de última geração) que ainda a indústria nacional não consegue desenvolver. • Matéria-prima, insumos ou bens de capital importados que sejam mais baratos que os nacionais. Por algum motivo, a indústria nacional que oferece estes recursos não é competitiva, logo, a empresa interessada em se abastecer destes insumos irá procurar os recursos com um preço mais barato (matéria-prima, insumos ou bens de capital) no mercado interacional, por meio da importação. • Mercadoria diferenciada para o consumidor. Muitas empresas possuem mercados diferenciados, oferecendo produtos de qualidade superior para seus clientes, tornando-se, nestas situações, a importação a alternativa única. No contexto brasileiro podemos citar alguns exemplos: o Produtos diferenciados. Desde um queijo gourmet francês, uma lavadora de roupa de última geração, até um carro de luxo (Mercedes Benz, Masseratti, Ferrari etc.). o Insumos e bens de capital. Muitas das matérias-primas, insumos e bens de capital (equipamento industrial) não são produzidos no Brasil, tornando-se assim a importação uma necessidade. o Bens de capital e tecnologia de última geração. Em um mundo competitivo, as indústrias procuram constantemente aprimorar seus processos e economias de escala. Assim, a importação permite ter acesso à tecnologia, know- how (saber como fazer), e equipamento de última geração que ainda não esteja disponível no mercado nacional. UNIDADE 1 | DINÂMICA COMERCIAL INTERNACIONAL 22 Assim como acabamos de estudar, podemos observar que um país importa para suprir diversas necessidades essenciais para sua economia, inclusive, podemos importar para suprir diversos desejos da população. Seja qual for o motivo comercial, as empresas ficam motivadas em importar para aproveitar oportunidades do mercado, e com isso visam melhorar suas chances de uma melhor margem de lucro em suas atividades. 23 Neste tópico, vimos que: • As civilizações antigas começaram a comercializar entre elas desde antes de 7.000 anos a.C., observando-se aí a importância que teve o comércio na evolução dessas civilizações até chegar à civilização moderna atual. • A importância do liberalismo do século XIX no contexto do comércio internacional. Nessaépoca houve uma série de descobrimentos tecnológicos e inovações que fazem parte das atividades econômicas e comerciais de hoje. • O impacto da Grande Depressão e da Segunda Guerra Mundial. O contexto de como as crises mundiais destes dois eventos contribuíram para que os países pudessem se organizar para desenvolver os organismos internacionais atuais que supervisionam o comércio internacional. • O impacto da grande recessão de 2008 e como isso mudou a estrutura comercial atual, na qual hoje temos novos países importantes atuando na liderança do comércio internacional. • A diferença entre comércio internacional e comércio exterior, e como se deve usar estes termos no contexto do comercial internacional. • A necessidade que têm os países para atuar no comércio internacional, analisando as necessidades de os países precisarem exportar, e o porquê de também importar. Sem a exportação não há importação, é uma dinâmica comercial de mão dupla. RESUMO DO TÓPICO 1 24 1 Explique desde quando há dados da existência e rotas de comércio entre as civilizações antigas, e qual a civilização que ajudou no desenvolvimento comercial e econômico das grandes civilizações antigas do mundo do Mediterrâneo. 2 Nos momentos prévios à Grande Depressão de 1929 o mundo estava em um processo de globalização de décadas de crescimento econômico e comercial global, o mundo capitalista estava no ápice de seu próprio sucesso. A seguir, analise as sentenças e determine qual é correta sobre a Grande Depressão de 1929. a) ( ) Previamente à Grande Depressão os países vinham praticando anos de políticas protecionistas, isto sob a liderança de países como os Estados Unidos, o Reino Unido e a União Soviética. Esta condição, mais o fato do aquecimento econômico dos países, induz ao desenvolvimento de uma grande bolha nas grandes bolsas de valores, estourando assim a Grande Depressão. b) ( ) Antes da Grande Depressão os países vinham experimentando uma fartura econômica sem precedentes, porém, as economias dos países desenvolvidos estavam aquecidas além de suas capacidades, principalmente os Estados Unidos. Nessa situação, tanto o setor financeiro como as bolsas de valores estavam à beira de um colapso, estourando a bolha em 1929 e começando a Grande Depressão. AUTOATIVIDADE 4 Até finais do século passado, os mercados mundiais estavam concentrados majoritariamente entre os países desenvolvidos, liderados pelos EUA, a Europa e o Japão, já os países com menor grau de desenvolvimento tinham pouca liderança no comércio internacional. Na virada do século essa situação estava prestes a mudar. A partir do século XXI o comércio mundial não só seria liderado pelos países mais desenvolvidos, mas também pelas novas grandes economias, como a China. A seguir, determine a sentença correta. a) ( ) Esse novo cenário do comércio mundial possui dois grandes momentos referenciais: o crescimento acelerado das economias em desenvolvimento e a grande crise internacional do ano 2008. b) ( ) Esse novo cenário veio a se materializar graças ao sucesso de anos de políticas protecionistas dos países menos desenvolvidos. Finalmente, o resultado dessas políticas foi um drástico crescimento das economias da China, da Rússia, do Brasil, do México, entre outras. 3 Com as grandes experiências negativas, tanto da Grande Depressão como da Segunda Guerra Mundial, explique qual era o ambiente após a Segunda Guerra Mundial, e quais órgãos internacionais com repercussão no comércio internacional nasceram nessa época. 25 5 Muitas vezes falamos sobre comércio internacional e comércio exterior, mas qual a diferença entre esses termos? Escolha as sentenças corretas. I- O comércio internacional aborda todas as operações comerciais executadas por um determinado país e o resto do mundo. II- O comércio internacional aborda todas as operações comerciais executadas no mundo entre os diversos países que atuam no comércio mundial. III- O comércio exterior aborda todas as operações comerciais executadas por um determinado país e o resto do mundo. IV- O comércio exterior aborda todas as operações comerciais executadas no mundo entre os diversos países que atuam no comércio mundial. Agora, determine as sentenças corretas: a) ( ) As sentenças II e III estão corretas. b) ( ) As sentenças I e IV estão corretas. 6 Determine o porquê da necessidade de exportar para a economia de um país e quem é o responsável por fazer acontecer a exportação. 7 Determine o porquê da necessidade de importar para a economia de um país e quem é o responsável por fazer acontecer a importação. 26 27 TÓPICO 2 BLOCOS ECONÔMICOS E O MERCOSUL UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Desde a antiguidade, os países vêm tendo a necessidade de criar parcerias comerciais em função de suas necessidades econômicas e comerciais. Na era mercantilista, entre 1500 até finais do século XVIII, e a Revolução Industrial; no século XIX esses interesses comerciais ficaram bem mais evidentes, inclusive, entre outras coisas, foram grandes motivadores de guerras longas e contínuas dessa época. Perante as diversas necessidades socioeconômicas, os países precisam negociar posições e assim levar a cabo seus interesses comerciais. Vários líderes mundiais têm expressado a famosa frase: “As nações não têm amigos, as nações têm interesses”. Entre estes grandes líderes podemos citar: • Winston Churchill, primeiro-ministro britânico duas vezes. A primeira vez entre 1940 até 1945, basicamente durante quase toda a Segunda Guerra Mundial; e a segunda vez durante 1951 até 1955. • Franklin Roosevelt, presidente dos Estados Unidos por quatro vezes, sendo seu último período até 1945 ao final da Segunda Guerra Mundial. • Charles-Maurice de Talleyrand, famoso pensador e político ativo francês da época da Revolução Francesa, como também foi parte importante da época imperialista de Napoleão Bonaparte. • Gilberto Amado, famoso escritor e político brasileiro, nasceu no Rio de Janeiro no ano de 1887 e faleceu em 1969, foi membro da Academia Brasileira de Letras. • John Foster, político e diplomata dos Estados Unidos, como secretário de Estado participou nas negociações para a elaboração de vários tratados internacionais, entre os mais importantes, o acordo multilateral para formalizar o organismo internacional de todas as nações, a Organização das Nações Unidas (ONU). Como acabamos de observar, existem vários líderes mundiais de diferentes épocas e nações que têm expressado a ideia de que os países, afinal de contas, possuem interesses a serem negociados no cenário global, que, aliás, muitas vezes têm levado a guerras desnecessárias. Depois da Segunda Guerra Mundial e em UNIDADE 1 | DINÂMICA COMERCIAL INTERNACIONAL 28 decorrência da grande catástrofe que causou, os países, por meio da formalização de acordos, começaram a institucionalizar esses “interesses” por meio de parcerias comerciais e econômicas, objetivando, entre outras coisas, evitar guerras de grande escala. 2 CONCEITO DE BLOCO ECONÔMICO Hoje esses “interesses” são negociados por meio de acordos internacionais e executados através de blocos ou grupos de países que compartilham interesses comerciais e econômicos semelhantes. Esse compartilhamento de interesses, em comum, é representado no cenário internacional como blocos econômicos, os quais representam interesses de um grupo de países perante o resto do mundo. Por exemplo, o bloco econômico do Mercosul negocia interesses comerciais de seus países-membros perante a acirrada concorrência internacional dos produtos que o bloco deseja vender nos mercados internacionais. Os países, por meio de blocos econômicos, conseguem se posicionar melhor no cenário mundial, atingindo melhores acordos comerciais e financeiros para o desenvolvimento socioeconômico dos países-membros.
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