Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Distúrbios tireoidianos Luiz Pedro Duarte Farias – lpdfarias.med@gmail.com Universidade Salvador – Laureate International Universities Medicina – Clínica Integrada Turma IV INTRODUÇÃO A glândula da tireoide é localizada na região cervical anterior, possuindo uma relação próxima com a traqueia. A tireoide é uma glândula muito difícil de ser palpada quando não apresenta nenhuma alteração. A tireoide possui uma relação anatômica clara com os grandes vasos no pescoço (artéria carótida e veia jugular, por exemplo). A tireoide possui uma grande relação com o nervo laríngeo recorrente – isso é importante pois quando ocorre uma cirurgia tireoidiana, se ocorrer uma lesão do nervo laríngeo, a pessoa fica rouca ou afônica; ou ocorrer de se retirar a paratireoide junto sem querer, ocorrendo um hipoparatireoidismo. Nos ácinos tireoidianos ocorre a produção do coloide, armazenando os hormônios principais – tiroxina [T4] e triiodotironina [T3]. Os hormônios, em geral, possuem receptores intracelulares, induzindo ao núcleo celular modificações em toda célula. Os hormônios tireoidianos possuem diversos efeitos como: aumento da taxa metabólica, aumento do calor corporal, ajuda no crescimento fetal, aumento do tônus nervoso, redução das taxas de colesterol e outros lipídeos, cronotropismo e inotropismo, aumento da pressão arterial, vasoditalação, produção de tremor muscular, melhora e aumenta a gliconeogênese, promove a rápida glicólise, diminuição do peso corporal, aumento da frequência respiratória (aumento do consumo de O2 e a produção de CO2), aumenta o apetite, dentre outros. HIPOTIREOIDISMO O hipotireoidismo primário [corresponde à 95% dos casos] (denominado mixedema quando é grave) se refere à deficiência hormonal provocada pela disfunção intrínseca da glândula tireoide que interrompe a síntese de T4 e T3. O hipotireoidismo manifesto se caracteriza por um nível elevado de TSH, geralmente maior do que 10mIU/L, em conjunto com um nível de T4 abaixo do limite inferior da faixa de referência. No hipotireoidismo subclínico, o nível de TSH se encontra, apenas, modestamente elevado; o T4 livre permanece normal baixo dos limites da normalidade. O hipotireoidismo secundário ou central se refere à função deficiente da glândula tireoide resultante do estímulo inadequado pelo TSH. Este se deve, por sua vez, à produção insuficiente ou ineficaz de TSH provocada por uma série de distúrbios hipofisários ou hipotalâmicos, congênitos ou adquiridos. Resistência ao hormônio tireoidiano é algo raro. O hipotireoidismo congênito acontece em 1 de 4 a 5000 dos RN (é diagnosticado no teste do pezinho). Ou seja, é uma síndrome clínica manifesta pela redução dos hormônios tireoidianos, com uma diminuição generalizada dos processos metabólicos. O hipotireoidismo primário é comum – presente em 5% das pessoas. O hipotireoidismo moderado está presente em 15% dos adultos mais velhos. O hipotireoidismo é mais comumente diagnosticado em mulheres; é mais prevalente entre brancos e latinos. A forma secundária é rara, representando menos de 1% dos casos. As causas para o hipotireoidismo são: sexo feminino, idade acima de 60, bócio, nódulos tireoidianos, história familiar de doenças tireoidianas, radioterapia de cabeça e pescoço, doenças autoimunes da própria tireoide ou não (como LES e DM1), uso de drogas como lítio e amiodarona, defeito na síntese morfogênica dos hormônios. Redução do tecido funcionante, tratamento para doença de Graves, Hashimoto sub-aguda, doenças infiltrativas e de agenesias, grave deficiência de iodo e uso de drogas. A causa mais comum é a Tireoidite de Hashimoto (doença na qual o corpo agride a tireoide [não se sabe o porquê], a partir dos anticorpos anti-TPO). Quadro cínico – Nos RN, os sintomas de hipotireoidismo são: dificuldade respiratória, icterícia, cianose, má alimentação, choro rouco, retardo na consolidação óssea. Na criança: retardo do crescimento e na aprendizagem, puberdade precoce com baixa estatura. Ou seja, o quadro na criança é muito pior do que o quadro adulto, que consiste em: fadiga, letargia e ganho de peso, baixo apetite, intolerância ao frio, rouquidão, constipação, fraqueza, mialgia, artralgias, parestesias, pele seca e perda de cabelos; as mulheres podem desenvolver puberdade precoce, menorragia, amnorréria e galactorréia. Os indivíduos afetados podem experimentar depressão de humor com limitação da iniciativa e da sociabilidade. Os achados físicos podem ser: bradicardia, hipertensão diastólica e hipotermia moderada; a pele pode se encontrar áspera, seca, amarelada e fria ao toque, como resultado da vasoconstrição periférica. As unhas podem estar quebradiças; pulmão pode revelar sons distantes do coração. Os exames neurológicos podem revelar lenta difusão e desaceleração disártrica do tendão flexor profundo com um atraso marcado na fase de relaxamento terminal. A clínica do hipotireoidismo é mais sutil, não é tão fácil quanto a clínica do hipertireoidismo. O exame do pescoço pode revelar uma variedade de achados. Cicatrizes incisionais cervicais indicam uma história de ressecção cirúrgica do tecido tireoidiano. A glândula tireoide pode ser de tamanho normal, torna difícil de palpá-la com qualquer grau de certeza. Poder ser maleável e lisa com uma textura lobular, ou rígida e irregular com uma textura nodular variada. Retenção hídrica, edema, depressão, disfunção erétil, anemia por deficiência da produção de Hb, deficiência de ferro, deficiência de folato e vitamina B12 também são sintomas do hipotireoidismo. Toda a mulher acima de 85 anos vale a pena dosar TSH porque ocorre um aumento nesta faixa de idade da prevalência do hipotireoidismo. Se uma mulher de 40 anos chegar no consultório com queixa de ganho de peso, é bom pedir TSH pois a prevalência de sobrepeso em adultos por hipotireoidismo é alta; contudo, em pacientes jovens, é difícil ver essa situação. Uma das causas de hipercolesterolemia, é o hipotireoidismo; pacientes com quadro suspeito de hipotireoidismo e doença coronariana, deve-se pedir TSH, pois se tratada a doença base, as complicações diminuem bastante. Existe uma forma grave do hipotireoidismo que é o coma mixedematoso: paciente apresenta, em geral, bócio e face edemaciada. Fraqueza progressiva, torpor, hipotermia, hipoventilação são outros sinais do mixedematoso. O seu tratamento é tratar os fatores precipitantes (infecções, alterações hipofisárias, radioterapia, dentre outras situações), manutenção do estado vital e repor hormônios da tireoide. Na+ baixo associado a coma e edema são fatores para se alertar ao coma mixedematoso. Mixedema é um edema mais frio e mais duro. Quando o T4, TSH e TRH baixos, é bom pedir anti-TPO e tireoglobulina porque quando positivos, a suspeita principal é tireoidite de Hashimoto. [em muitas mulheres o anti-TPO pode dar positivo]. O tratamento do hipotireoidismo é muito simples e barato. Deve-se repor os hormônios tireoidianos a partir da Levotiroxina sódica (se usa em doses de microgramas). Começa com uma dose mais baixa e vai titulando com o passar do tempo, até que o TSH fique normal – as doses variam de pessoa para pessoa. HIPERTIREOIDISMO O hipertireoidismo é uma doença que tem como causa o excesso do hormônio da tireoide; ou seja, é uma síndrome sistêmica provocada pela exposição a quantidades excessivas de hormônio tireoidiano, levando ao aumento global do metabolismo. Ela prevalece em um em cada 2000 adultos, afetando 1% de todos os indivíduos durante o curso de uma vida; afeta mais mulheres do que homens (10:1).A causa mais comum para o hipertireoidismo é a Doença de Graves – que também é uma doença autoimune. Bócio multinodular, tireoidite de Hashimoto – hashitoxicose (dá tireotoxicose na fase inicial, antes de causar o hipotireoidismo), adenomas hipofisários, tireoidite granulomatosa. Suspeita de Hipotireoidismo Verificar o TSH e o T4 livre ↓ TSH ↓ T4 livre Hipotireoidismo primário – A reposição de hormônio tireoidiano visa manter um nível normal de TSH ↑ TSH T4 livre normal Hipotireoidismo leve ou subclínico – Considere a reposição de hormônio tireoidiano Normal / ↓ TSH ↓ T4 livre Hipotireoidismo central; Doença não tireoidiana; Efeito de fármacos TSH normal T4 livre normal Normal Os limites de referência para os níveis de TSH: 0,5 a 4,5 mIU/L Ao contrário do hipo, o hiper é uma doença muito exuberante. Seus sintomas clássicos incluem perda de peso, perda de apetite vigoroso, intolerância ao calor, palpitações, tremor e defecação excessiva (frequência aumentada de produção dos movimentos intestinais). A tireotoxicose pode escapar da detecção precoce devido a uma apresentação com sintomas inespecíficos comuns, como fadiga, insônia, ansiedade, irritabilidade, fraqueza, dor torácica atípica, dispneia de esforço, cefaleia, perda de peso, paralisia periódica, náuseas e vômitos. Os sinais do hipertireoidismo incluem taquicardia de repouso, hipertensão sistólica com ampliação da pressão periférica, insuficiência cardíaca de alto débito, pele quente e úmida com textura aveludada, onicólise e por um olhar fixo com retardo palpebral. O bócio do hipertireoidismo está relacionado com o infiltrado de células, enquanto o hipo é a glândula tentando suprir a deficiência. Deve-se então diferenciar a partir do TRAB – tireoide receptor anti-bárie (anticorpo receptor anti-tireotropina). A doença de Graves possui uma tríade: bócio, exoftalmia e dermopatia com mixedema (a face mixedematosa é no hipo, mas o mixedema pré tibial é mais comum no hiper). Existem vários graus de exoftalmia. Cintilografia é um exame por imagem em que se dá iodo radioativo e se vê o funcionamento da tireoide (se ela está captando pouco ou muito iodo). O tratamento é feito pelo Metimazol, Propiltiouracil, que são drogas que inibem a síntese de T4 e T3; o propiltiouracil também inibe a conversão de T4 em T3. São drogas possuem sua toxicidade como agranulocitose, mas precisam ser utilizadas (ver resumo de tireoide em caso de dúvida). Pode-se usar B-bloqueador, principalmente em pacientes que possuem taquicardia ou tremor – propranolol, adenolol... Iodeto de potássio que possui efeito inibitório sobre a tireoide, inibindo a organificação do iodo e a secreção dos hormônios – efeito Wolff Chaikoff. Os glicocorticoides inibem o T3 e T4. O tratamento da tireotoxicose pode ser feito a partir de 3 opções: medicamentos, radioterapia ou cirurgia (tireodectomia). Os americanos preferem a radioterapia, enquanto os europeus preferem a retirada da glândula tireoide. Suspeita de Tireotoxicose Níveis de TSH e T4 livre ↓ TSH ↑ T4 livre Tireotoxicose ↓ TSH T4 livre normal Tireotoxicose por T3 Tireotoxicose leve ou subclínica Doença não tireoidiana TSH/ ↑ TSH ↑ T4 livre Adenoma hipofisário secretor de TSH Síndrome de resistência ao hormônio tireoidiano Hipertireotoxinemia familiar disalbuminência TSH normal T4 livre normal Normal A pessoa pode ter tireotoxicose sem ter hipertireoidismo: paciente possui hipo e toma muito hormônio tireoidiano, apresentando uma tireotoxicose. A crise tireotóxica está para o hipertireoidismo, assim como o mixedema está para o hipo. NÓDULOS TIREOIDIANOS Os nódulos tireoidianos são comuns, e são detectados pela palpação em 6% das mulheres e em 2% dos homens. Eles estão presentes em 50% das mulheres acima de 60 anos que submetem a USG; 95% dos nódulos são benignos. Desafio de hoje: identificar os 5% que possuem nódulos malignos. Os nódulos malignos são divididos em 4 tipos: papilifero, folicular, medular e anaplásico ou inmedular. Existem metástases da tireoide que são muito raros, o mais normal é câncer primário da tireoide. O exame físico do nódulo tireoidiano deve buscar definir o seu tamanho (para palpar, o nódulo já precisa ser maior que 1cm – acima de 1,5 a 2cm deve-se preocupar), consistência, textura da superfície, mobilidade e sensibilidade. A presença de doença maligna é sugerida pela fixação e pela adenopatia regional ipsilteral, ou paresia das cordas vocais. A multinodularidade da glândula pode indicar bócio nodular benigno, mas não é suficientemente tranquilizadora para dispensar os exames diagnósticos adicionais. Isso é verdade para o denominado nódulo dominante, que é maior, cresce mais rapidamente, ou é mais sintomático, do que os outros presentes na tireoide. Quanto maior e mais préteo, mais maligno – se tiver presença de linfonodos, a chance de malignidade aumenta mais. Quando o nódulo é quente (funcionante) no PET, geralmente o nódulo não é maligno. Em alguns casos, precisa-se biopsiar esses nódulos. Um exame muito bom para esses casos é a USG com Doppler: vê a vascularização do nódulo – se for mais central do que periférica, o risco de neoplasia é maior (classificação de Bethsda). Se for maligno, tem que operar, se for benigno, acompanhar, dosar o TSH. O câncer de tireoide mais comum é o carcinoma papilifero - pode aparecer em pacientes de qualquer idade, mas é mais freqüente entre 30 e 50 anos. Estima-se que uma a cada mil pessoas tem ou já teve este tipo de câncer. A taxa de cura é alta, chegando a quase 100%. Ele cresce lentamente e dá metástase tardiamente e mata pouco, só que é preciso diagnosticar e tratar. O tratamento para os nódulos malignos é a tireododectomia quase total ou total. Iodo radioativo se houver doença residual e supressão de TSH por medicamentos, diminuindo a estimulação dos nódulos (diminuir o feedback).
Compartilhar