Buscar

O novo CPC e a tutela jurisdicional executiva -Parte 01

Prévia do material em texto

2017	-	03	-	03
Revista	de	Processo
2015
RePro	vol.	244	(Junho	2015)
Tutela	Executiva
Tutela	Executiva
1.	O	novo	CPC	e	a	tutela	jurisdicional	executiva	(parte	1)
New	CPC	and	the	judicial	enforcement	(part	1)
MARCELO	ABELHA	RODRIGUES
Doutor	e	Mestre	em	Direito	PUC-SP.	Professor	Associado	do	Mestrado	e	da	Graduação	da	UFES.	Advogado.
Sumário:
1.	Objeto	do	ensaio
2.	Digressões	preliminares	acerca	do	NCPC	(Lei	13.105/2015)
2.1	As	razões	para	um	novo	Código	de	Processo	Civil
2.1.1	A	razão	social
2.1.2	A	razão	jurídica
2.2	A	crise	do	judiciário	e	o	novo	CPC
2.3	O	novo	CPC	e	a	aproximação	com	a	common	law
3.	Os	princípios	do	CPC	e	a	tutela	executiva
4.	Dos	deveres	das	partes	e	seus	procuradores
5.	Honorários	na	execução
6.	Desconsideração	da	personalidade	jurídica	na	execução	e	no	cumprimento	de	sentença
7.	A	efetividade	da	tutela	e	os	poderes	do	juiz
8.	O	executado	e	os	atos	de	comunicação	processual
9.	A	invalidação	do	ato	negocial	realizado	na	execução	ou	no	cumprimento	de	sentença
10.	A	efetivação	da	tutela	provisória
11.	Efeitos	da	sentença	e	reflexos	na	tutela	executiva
12.	As	disposições	gerais	do	cumprimento	de	sentença
12.1	A	mão	dupla	entre	as	técnicas	executivas	de	cumprimento	de	sentença	e	as	técnicas
executivas	do	processo	de	execução
12.2	Princípio,	dispositivo	e	expropriação
12.3	O	momento	de	incidência	da	multa	pelo	inadimplemento	da	sentença	que	reconhece	a
exigência	de	pagar	quantia:	intimação	do	devedor,	termo	a	quo	e	termo	ad	quem
12.4	Adimplemento	no	prazo	de	15	dias	e	livramento	da	multa	e	dos	honorários	da	fase	executiva
12.5	O	momento	da	expedição	do	mandado	de	penhora	e	de	avaliação
12.6	A	indisponibilidade	dos	ativos	e	a	penhora	dos	ativos	financeiros
12.7	O	novo	rol	de	títulos	executivos	judiciais
12.8	As	novas	regras	de	competência	do	cumprimento	de	sentença
12.9	O	protesto	judicial	da	decisão	judicial	transitada	em	julgado	com	força	executiva
13.	As	novidades	acerca	do	cumprimento	provisório	da	sentença	que	reconheça	a	exigibilidade	para
pagamento	de	quantia
14.	O	adimplemento	provocado	pelo	devedor	antes	do	cumprimento	de	sentença
15.	A	impugnação	do	executado	ao	cumprimento	de	sentença
15.1	Impugnação	do	executado	se	restringe	ao	cumprimento	de	sentença	por	expropriação?
15.2	Impugnação	e	natureza	formal	e	material	de	defesa
15.3	Impugnação	do	executado	e	efeito	suspensivo
15.4	Prazo	da	impugnação	do	executado
15.5	Impugnação	do	executado	e	segurança	do	juizo
15.6	Matérias	que	podem	ser	objeto	da	impugnação	do	executado
15.7	Impugnação	do	executado,	impugnação	à	indisponibilidade,	impugnação	à	ordem	de	pagar
alimentos,	impugnação	à	arrematação
16.	Do	cumprimento	de	sentença	que	reconheça	a	exigibilidade	de	obrigação	de	prestar	alimentos
16.1	A	sistematização	da	obrigação	de	prestar	alimentos	fundada	em	título	judicial	e	extrajudicial
16.2	O	título	judicial:	interlocutórias,	sentenças	e	acórdão	que	fixam	o	dever	de	prestar	alimentos
16.3	Requerimento	da	parte	e	escolha	do	procedimento
16.4	Intimação	pessoal	do	executado
16.5	Comportamentos	do	executado
16.6	Decretação	da	prisão	civil	e	do	protesto	judicial
16.7	A	prisão	civil	do	executado
16.8	A	quebra	da	competência	funcional	(absoluta)	pelas	fases	do	processo
16.9	A	técnica	do	desconto	em	folha
16.10	A	constituição	de	capital	nos	alimentos	devidos	por	ato	ilícito
16.11	A	conduta	procrastinatória	do	executado	e	o	crime	de	abandono	material
17.	Do	cumprimento	da	sentença	que	reconheça	a	exigibilidade	de	obrigação	de	pagar	quantia	certa
pela	Fazenda	Pública
17.1	Processo	de	execução	e	cumprimento	de	sentença	contra	a	Fazenda	Pública
17.2	Demonstrativo	do	débito
17.3	A	multa	do	art.	523,	§	1.º,	não	se	aplica	à	Fazenda	Pública
17.4	A	defesa	da	Fazenda	Pública
17.5	A	expedição	do	precatório
18.	Do	cumprimento	da	sentença	que	reconheça	a	exigibilidade	de	obrigação	de	fazer	e	de	não	fazer
18.1	Dano,	ilícito,	direitos	não	patrimoniais	e	tutela	específica
μμ_z4qv:S:J
18.2	Atipicidade	dos	meios	executivos	e	do	procedimento	executivo
18.3	A	litigância	de	má-fé	do	executado
18.4	Defesa	do	executado
18.5	As	novas	regras	sobre	a	multa	periódica.	As	astreintes
19.	Do	cumprimento	da	sentença	que	reconheça	a	exigibilidade	de	obrigação	de	entrega	de	coisa
Área	do	Direito:	Civil
Resumo:
O	presente	artigo	tem	uma	motivação,	um	enredo	e	um	fim	que	podem	ser	intuídos	a	partir	do	seu	título	"O
novo	CPC	e	a	 tutela	 jurisdicional	executiva".	A	motivação	nasce	do	surgimento	da	Lei	11.105,	novo	CPC,	cujo
prazo	 de	 vacatio	 legis	 é	 de	 um	 ano.	 Ainda	 que	 o	 prazo	 previsto	 de	 vacatio	 legis	 seja	 de	 um	 ano,	 é	 salutar
antecipar	 discussões	 e	 problemas	 atinentes	 ao	 eventual	 "novo	 diploma".	 O	 enredo	 deste	 ensaio	 é	 voltado	 à
análise	panorâmica	dos	dispositivos	processuais	referentes	à	tutela	executiva,	ou	seja,	as	técnicas	processuais
executivas,	em	especial	a	partir	de	um	método	comparativo	com	o	que	existe	sobre	o	tema	no	Código	vigente.
Há,	 decerto,	 uma	parte	 inicial	 e	 introdutória	 que	 enfrenta	 os	 problemas,	 razões	 e	 expectativas	 de	 um	novo
Código	de	Processo	Civil,	mas	sem	que	essa	seja	a	tônica	ou	que	dê	densidade	ao	principal	enredo	do	texto.	A
finalidade	do	artigo	é	 levar	ao	contraditório	e	reflexão	da	comunidade	 jurídica	alguns	problemas	e	virtudes
que,	 ao	 nosso	 sentir,	 deverão	 ser	 enfrentados	 no	 futuro	 caso	 o	 texto	 em	 trâmite	 seja	 aprovado	 como	 se
apresenta,	sempre	sob	o	enfoque	da	atividade	executiva.
Abstract:
The	present	article	has	a	motivation,	a	plot	and	a	purpose	 that	are	seen	from	its	 title	 "The	new	CPC	and	the
executive	judicial	protection".	The	motivation	comes	from	the	real	possibility	that	in	a	short	time	we	will	have
a	new	civil	 procedure	 code,	 as	been	 said	 in	 the	political	 and	 legal	 environment,	 and,	not	by	 chance	 several
conclaves	and	encounters	have	occurred	to	debate	the	new	Code.	Even	though	the	deadline	of	vacatio	legis	is
set	down	to	one	year,	it	is	good	to	anticipate	discussions	and	issues	concerning	the	possible	"new	diploma".	The
plot	 of	 this	 rehearsal	 is	 focused	 on	 a	 panoramic	 analysis	 of	 procedural	 standards	 regarding	 executive
protection,	among	them,	executive	procedural	techniques,	particularly	from	a	comparative	method	with	what
exists	on	the	topic	in	the	Current	Code.	There	is,	certainly,	an	initial	and	introductory	part	facing	the	problems,
reasons	and	expectations	of	a	new	civil	procedure	code,	but	not	meaning	this	is	the	theme	or	to	give	density	to
the	main	plot	 of	 the	 text.	 The	purpose	of	 the	article	 is	 to	be	a	 lead	 to	 a	discussion	and	a	 reflection	by	 legal
community	about	problems	and	virtues	that,	to	our	feeling,	should	be	faced	in	the	future	if	the	selected	text	for
the	new	code	is	approved	as	presented,	always	under	the	focus	of	executive	activity.
Palavra	Chave:	Novo	Código	de	Processo	Civil	-	Tutela	executiva.
Keywords:	New	Procedure	Code	-	Executive	judicial	protection.
Recebido	em:	18.03.2015
Aprovado	em:	02.06.2015
1.	Objeto	do	ensaio
O	 presente	 ensaio	 objetiva,	 de	 forma	 direta	 e	 pragmática,	 apontar	 quais	 as	 principais	 mudanças	 da	 tutela
jurisdicional	executiva	previstas	no	novo	CPC	(Lei	13.105/2015).	Este	ensaio,	por	razões	didáticas	e	editoriais	foi
dividido	em	duas	partes	que	serão	publicados	em	sequencia	na	Revista	de	Processo.	Antes,	entrtanto,	faremos
uma	breve	digressão	sobre	as	razões	que	motivaram	a	criação	de	um	novo	Código	de	Processo	Civil.
2.	Digressões	preliminares	acerca	do	NCPC	(Lei	13.105/2015)
2.1.	As	razões	para	um	novo	Código	de	Processo	Civil
É	possível	encontrar	vários	motivos,	indiscutivelmente	legítimos	e	convincentes,	para	que	o	Código	de	Processo
Civil	 de	 1973	 fosse	 substituído	por	um	novo.	 Essas	 razões	podem	 ser	bipartidas	–	 apenas	 a	 título	 didático	 e
acadêmico,	já	que	na	realidade	elas	se	misturam	–	em	razões	sociais	e	razões	jurídicas.
2.1.1.	A	razão	social
A	razãosocial	está	diretamente	relacionada	com	o	total	descompasso,	falta	de	sintonia	mesmo	entre	as	normas
processuais	e	a	realidade	social.	O	atual	comportamento	das	pessoas	nesta	primeira	quinzena	de	novo	milênio,
a	cultura,	os	modos	de	ser,	fazer	criar	e	viver	são	totalmente	diferentes	daqueles	que	eram	vigentes	ao	tempo
da	elaboração	do	CPC/1973	(que	relembro,	foi	elaborado	pelos	idos	da	década	de	1960).
É	 absolutamente	 certo	 que	 falta	 legitimidade	 social	 às	 normas	 processuais	 do	 CPC/1973	 para	 tratar	 da
realidade	que	ele	regula.	Alguém	poderia	dizer	que	pouco	mais	de	50	anos	é	um	tempo	de	vida	muito	curto
para	um	Código	tão	importante	e	que	o	seu	aprimoramento	e	arejamento	tem	sido	feito	com	as	leis	esparsas
que	todos	os	anos	alteram	o	seu	texto.
Não	é	mentira	que	o	legislador	tem	se	esforçado	em	modificar	a	legislação	processual	para	tentar	adequa-la	à
realidade	social	e	aos	atuais	reclames	da	sociedade.	Não	foi	por	acaso	que	desde	o	seu	surgimento	o	CPC/1973	já
passou	por	mais	de	60	alterações	legislativas,	sendo	algumas,	curiosamente,	mais	de	uma	vez	sobre	o	mesmo
dispositivo	legal.
Mas,	por	mais	que	costuras	e	enxertos	tenham	sido	feitos,	a	diferença	entre	o	passado	(quando	foi	criado)	e	o
presente	é	tão	grande,	mas	tão	grande,	que	apenas	um	novo	Código	realmente	tem	condições	de	eliminar	os
atávicos	 e	 incompreensíveis	 dispositivos	 legais	 que	 ainda	 estão	 vigentes,	 mas	 que	 são	 absolutamente
descompassados	 com	 a	 nossa	 atualidade.	 É	 que,	 por	 mais	 que	 uma	 reforma	 seja	 implementada,	 não	 se
conseguiria,	 nunca,	 criar	 uma	 sintonia	 entre	 todo	 o	 sistema	 do	 Código	 depois	 dos	 enxertos	 legislativos	 que
foram	 feitos	 ao	 longo	dos	 anos,	 fato	que	pode	 ser	 comprovado	no	atual	CPC	pelas	diversas	 antinomias	nele
existentes.
Os	 singelos	 exemplos	 que	 iremos	 expor	 são	 prova	 desta	 afirmação.	 Para	 ilustrar	 como	 o	 atual	 CPC	 possui,
mesmo	diante	de	tantas	reformas	processuais,	raízes	atávicas	da	realidade	em	que	ele	pretendeu	regular	nos
idos	dos	anos	70	são,	por	exemplo,	artigos	como	o	159	do	CPC/1973	que	assim	diz:
“Art.	159.	Salvo	no	Distrito	Federal	e	nas	Capitais	dos	Estados,	todas	as	petições	e	documentos	que	instruírem	o
processo,	 não	 constantes	 de	 registro	 público,	 serão	 sempre	 acompanhados	 de	 cópia,	 datada	 e	 assinada	 por
quem	os	oferecer.
§	1.º	Depois	de	conferir	a	cópia,	o	escrivão	ou	chefe	da	secretaria	irá	formando	autos	suplementares,	dos	quais
constará	a	reprodução	de	todos	os	atos	e	termos	do	processo	original.
§	2.º	Os	autos	suplementares	só	sairão	de	cartório	para	conclusão	ao	juiz,	na	falta	dos	autos	originais.”
Honestamente,	este	dispositivo	é	um	“non	sense	 jurídico”	para	os	 tempos	atuais.	Como	imaginar	a	criação	de
autos	suplementares	para	cada	auto	de	processo	que	tramita	em	juizo	se	não	há	espaço	físico	para	tanto	papel
e	 se	 em	 futuro	breve	os	processos	 serão	eletrônicos?	Como	pensar	num	dispositivo	 como	este	 se	o	 caminho
natural	é,	como	dito,	o	processo	eletrônico,	seja	por	razões	de	eficiência	processual,	proteção	do	meio	ambiente
e	duração	razoável	do	processo,	sem	estender	muito	as	justificativas?
Enfim,	 qualquer	 pessoa	 pode	 fazer	 uma	 escolha	 aleatória	 e	 pinçar	 do	 Código	 algum	dispositivo	 anacrônico,
como,	 por	 exemplo,	 os	 ditames	 do	 art.	 796	 do	 CPC/1973	 que	 diz	 que	 “o	 procedimento	 cautelar	 pode	 ser
instaurado	antes	ou	no	curso	do	processo	principal	e	deste	é	sempre	dependente”,	quando	todos	sabem	que	o
art.	273,	§	7.º,	do	CPC/1973	incluído	num	destes	tantos	enxertos	legislativos,	permite	que	uma	medida	cautelar
incidente	 seja	 requerida	 de	 forma	 avulsa	 nos	 autos	 do	 processo	 principal	 sem	 a	 necessidade	 de	 um
procedimento	próprio	 e,	 por	 isso,	 inapelavelmente,	 e	 sem	qualquer	 remorso,	 foi	 extinto	o	processo	 cautelar
incidental,	 que	 apenas	 em	 raríssimas	 exceções,	 por	 razões	 de	 competência,	 poder	 surgir	 como	 espécies
exóticas	num	procedimento	autônomo,	e,	porque	não	dizer,	sobreviventes	de	um	formalismo	que	não	se	aceita
mais.
Como	ainda	compatibilizar	os	conceitos	diversos	de	sentença	atualmente	presentes	no	CPC	e	que	brigam	entre
si?	 É	 fato	 injustificável	 que	 os	 arts.	 162	 e	 267	 do	 CPC/1973	não	 comunguem	da	mesma	 linearidade	 jurídica.
Enfim,	qualquer	um	que	tiver	curiosidade	poderá	fazer	uma	leitura	perfunctória	do	atual	CPC	e	constatar	um
sem	 número	 de	 antinomias,	 e,	 muitas,	 muitas	 regras,	 absolutamente	 obsoletas	 e	 descompassadas	 com	 a
realidade	atual.
Todos	sabem	que	o	direito,	como	fenômeno	cultural	e	de	linguagem	que	é,	deve,	ser	e	estar,	em	compasso	com
a	realidade	social	que	ele	pretende	regular,	sob	pena	de	se	transformar	num	amontoado	de	regras	sem	sentido
e	que	não	possuem	a	menor	legitimidade	social.	Não	há	“Estado	Democrático	de	Direito”	quando	as	suas	regras
não	espelham	e	refletem	a	realidade	da	 sociedade	que	ele	 regula.	 Infelizmente,	assim	está	o	nosso	CPC,	que
nada	obstante	o	esforço	dos	reformistas	que	incluíram	inúmeras	inovações	ao	longo	de	tempo	depois	do	texto
constitucional	(permitindo	a	sua	sobrevida	após	a	Constituição	Federal),	ainda	assim	conserva	uma	axiologia
de	 outros	 tempos	 e	 de	 outra	 realidade	 social	 e	 cultural,	 com	 regras	 que	 estão	 descompassadas	 da	 atual
realidade	para	a	qual	ele	serve	hoje.	É	bem	verdade	que	o	CPC/1973	já	começou	a	ser	reformado	antes	mesmo
da	sua	vigência	 (Lei	5.975/1973),	ainda	no	período	de	 vacatio	 legis,	mas	agora	o	problema	é	outro,	pois	é	de
descompasso	social	total.
E,	 não	 é	 demasiado	 dizer	 que	 quando	 o	 CPC/1973	 substituiu	 o	 CPC/1939	 depois	 de	 34	 anos	 de	 vigência,	 a
realidade	social	que	passou	a	regulamentar	nem	era	 tão	diferente	assim	daquela	que	 justificou	a	criação	do
então	 novo	 Código.	 Agora,	 quase	 50	 anos	depois	 do	 CPC/1973,	 tem-se	 uma	 realidade	 absurdamente	 diversa
daquela	 dos	 idos	 de	 1970,	 porque	 é	 absolutamente	 incrível	 o	 montante	 de	 inovações	 científicas,	 sociais,
tecnológicas,	 culturais,	 econômicas	 e	 de	 toda	 ordem	 que	 modificaram	 sensivelmente	 a	 sociedade,
especialmente	nos	últimos	20	anos.
Fiquemos	aqui	apenas	com	as	inovações	tecnológicas	que	jamais	poderiam	ser	imaginadas	quando	se	legislou
na	década	de	1970,	tais	como	a	internet,	e	que	alteraram	grosseiramente	o	padrão	de	ser	e	viver	das	pessoas
apenas	para	me	 ater	 a	 este	 exemplo.	Os	 comportamentos	 sociais	 são	 tão	díspares,	 que	hoje	 é	 possível	 estar
presente	em	dois	 lugares	ao	mesmo	tempo,	em	tempo	real,	proferindo	palestras	para	alguém	no	Japão	e	em
Roraima.	 É	 possível	 estar	 em	 sua	 casa,	 sem	 estar	 em	 sua	 casa.	 O	 fenômeno	 de	 massificação	 social,	 pelo
consumo	e	produção	em	massa	criou	um	novo	padrão	de	consumo	e	de	consumidor,	inclusive	virtuais.	De	fato,
não	existe	a	menor	condição	de	que	um	Código,	cunhado	nos	idos	de	1960,	possa	ainda	servir	para	atender	e
tutelar	as	lides	não	penais,	de	forma	adequada	e	rente	à	realidade	do	mundo	de	2015.	Essas	são	razões	sociais
que	exortam	a	criação	de	um	novo	CPC.
2.1.2.	A	razão	jurídica
Bastaria	unicamente	a	razão	social	acima	para	que	 fosse	 legítima	a	 luta	por	um	novo	Código.	Mas	ela	não	é
única,	 pois	 soma-se	 a	 este	 fenômeno	 social	 um	outro,	 igualmente	 importante	 e	 que	 robustece	 ainda	mais	 a
necessidade	de	um	novo	CPC.	 É	 o	que	 se	pode	 chamar	de	 razão	 jurídica	que	 se	 sintetiza	na	necessidade	de
adequar	o	CPC	ao	fenômeno	de	constitucionalização	do	direito,	que,	aqui	no	Brasil	teve	como	marco	histórico	a
CF/1988.
Assim,	a	 razão	 jurídica,	 intimamente	 ligada	àquela	 razão	social	 citada	acima,	 tem	a	ver	com	o	 fenômeno	de
constitucionalização	democrática	do	direito	acentuado	em	países	de	tradição	romano	germânica	e	que	no	nosso
país	aconteceu	com	o	advento	da	CF/1988.	Inegavelmente,	também	por	causa	deste	fenômeno,	o	CPC/1973	está
completamente	defasado	em	relação	ao	novo	paradigma	jurídico	introduzido	pela	CF/1988.
A	compreensãodesse	fenômeno	de	constitucionalização	do	direito	 tem	sua	origem	histórica	na	derrocada	do
terceiro	reich	após	as	forças	aliadas	derrotarem	os	alemães	em	maio	de	1945	colocando	um	fim	na	2.ª	Grande
Guerra	Mundial	 e	 iniciando	 ali	 a	 reconstrução	 da	 democracia	 na	 Alemanha.	 Como	 a	 herança	 deixada	 pelo
Estado	 Nazista	 foi	 devastadora	 da	 raça	 humana,	 com	 violação	 da	 ética,	 da	 dignidade,	 e	 dos	 valores	 mais
primitivos	 e	 sagrados	 do	 ser	 humano,	 tudo	 isso	 feito	 em	 prol	 de	 um	 insano	 antissemitismo	 e	 racismo	 que
levariam	 a	 uma	 supremacia	 da	 raça	 alemã	 sobre	 as	 demais,	 então,	 era	 de	 se	 esperar,	 que	 o	 resgate	 da
democracia	fosse	reconstruído	de	modo	inversamente	proporcional	à	desgraça	humana	causada	pelo	Nazismo.
E	deveria	começar	pela	Constituição	Federal.
Exatamente	 por	 isso,	 pouco	 mais	 de	 4	 anos	 depois	 do	 fim	 da	 2.ª	 Guerra,	 em	 08.05.1949	 foi	 aprovada	 a
Grundgesetz	für	die	Bundesrepublik	Deutschland	(que	vem	a	ser	a	Constituição	da	Alemanha),	e	que	entrou	em
vigor	em	23.05.1949.
Verifique-se	que,	não	por	acaso,	mas	como	resposta	ao	regime	derrocado,	a	“Lei	Fundamental”	da	Alemanha
tem	 no	 seu	 artigo	 primeiro	 a	 inviolabilidade	 da	 dignidade	 humana,	 além	 da	 obrigatoriedade	 dos	 Poderes
Judiciário,	Legislativo	e	Executivo	respeitarem	a	proteção	da	dignidade;	já	no	artigo	segundo	tem-se	a	 proteção
da	vida	e	a	integridade	do	ser	humano,	afirmando	ainda	que	a	liberdade	é	um	bem	invulnerável.	E	seguindo	essa
linha	de	proteção	dos	direitos	mais	que	fundamentais	do	ser	humano,	inclusive	protegendo-os	contra	atos	do
próprio	 Estado,	 seguem	 os	 dispositivos	 seguintes	 que,	 de	 forma	 até	 pleonástica,	 reiteram	 todo	 o	 tempo	 a
proteção	 da	 vida,	 da	 dignidade	 e	 da	 liberdade	 sob	 diversas	 formas	 de	 expressão.	 Esse	 didatismo	 da	 Lei
Fundamental	alemã	era	fruto	da	necessidade	de	se	exterminar	qualquer	resquício	da	ideologia	nazista,	e,	ao
mesmo	tempo	impedir	a	sua	repristinação	no	futuro.
Não	foi	coincidência	o	fato	de	países	como	Itália,	Portugal	e	Espanha,	que	se	viram	dominadas	pelos	regimes
totalitários	 de	 Mussolini,	 Salazar	 e	 Franco,	 com	 a	 derrocada	 desses	 regimes,	 tenham	 sido	 fortemente
influenciados	pelo	processo	de	redemocratização	alemão	e	pela	Lei	Fundamental	alemã.	O	Brasil,	igualmente,
também	 sofreu	desta	 influência	 com	a	 redemocratização	 sacramentada	pela	 CF/1988	 após	 anos	 de	 ditadura
militar.
Do	ponto	de	vista	jurídico	é	certo	que	a	derrocada	do	totalitarismo	alemão	fez	com	que	com	ele	caísse	o	modelo
jurídico	positivista	que	 lhe	dava	 suporte.	Dava	 inicio	assim	ao	 fenômeno	de	 “pospositivismo	 jurídico”,	 tendo
como	base	de	sustentação	o	deslocamento	da	Constituição	Federal	para	o	centro	do	sistema	jurídico,	não	sendo
ela	 apenas	mais	um	documento	 político	e	 simbólico	de	 direitos	 do	 povo,	 tal	 como	 se	 os	 seus	 princípios	 não
tivessem	valor	normativo,	cuja	tarefa	era	exclusiva	da	lei	infraconstitucional.	A	rigor,	não	nos	parece	correto
dizer	 que	 o	 “modelo	 positivista”	 foi	 substituído	 por	 um	 “modelo	 pospositivista”,	 porque	 seguramente	 o
fenômeno	 é	 interpretativo,	 ou	 seja,	 passa-se	 a	 dar	 uma	 eficácia	 vertical	 da	 Constituição	 Federal,	 direta,	 e,
também	uma	horizontal,	 ou	 seja,	 toda	 e	 qualquer	norma	 infraconstitucional	 só	 deve	 ser	 aplicada	depois	 de
passar	pelo	filtro	constitucional,	assegurando	que	os	valores	e	princípios	constitucionais	estarão	protegidos	e
concretizados.
Todos	sabem	que	durante	o	“positivismo	jurídico”	deveria	haver	regras	de	todos	os	tipos.	Assim,	quanto	mais
específica	e	tipificadora	de	condutas	fosse	o	ordenamento,	melhor	o	direito	estaria	aparelhado,	e	bem	se	sabe
que	mais	valia	uma	portaria	ministerial	ou	uma	 “resolução	de	um	chefe	de	uma	repartição	pública”	do	que
qualquer	 invocação	 de	 uma	 norma	 constitucional.	 As	 lacunas	 do	 direito	 significavam	 “ausência	 de	 direito”,
sendo	 impensável	uma	 interpretação	principiológica	constitucional	para	colmatar	um	espaço	vazio	de	regra
legal.	É	 ilustrativo	dizer	que	a	expressão	 “ordem	e	progresso”	da	nossa	bandeira	é	reflexo	desse	positivismo,
pois	a	regra	legal	posta	e	vigente	era	a	garantia	de	obediência	e	submissão	à	lei	para	se	ter	desenvolvimento	e
progresso	social.
A	origem	da	expressão	“positivismo	jurídico”	(ius	positivum)	revela	exatamente	que	o	direito	era	a	ciência	do
direito	posto,	positivado	e	legislado	minudentemente,	justamente	para	evitar	qualquer	pecha	de	subjetivismo
do	interprete	ou	aplicador	do	direito.	A	rigor,	este	deveria	limitar-se	a	descrever	a	lei,	de	forma	neutra	e	sem
qualquer	atitude	que	pudesse	ameaçar	a	igualdade	formalmente	estabelecida	pelo	legislador.
Foi	assim	neste	ambiente	que	os	Códigos	passaram	a	ocupar	o	centro	dos	sistemas	jurídicos,	e	aqui	no	Brasil
destacamos	 o	 Código	 Civil	 como	 o	 mais	 importante	 diploma	 jurídico	 então	 vigente	 na	 metade	 do	 século
passado.	Nesse	ínterim	o	CPC,	como	fixador	das	regras	de	direito	processual	para	lides	não	penais,	assumia	um
posto	de	igual	importância.	O	mesmo	se	diga	para	o	Código	Comercial,	o	Código	Tributário,	o	Código	Penal	e	de
Processo	Penal.	Nestes	 termos	e	 sob	esta	aura,	 a	Constituição	Federal	 era	 tida	 como	um	simples	documento
político,	 no	máximo,	 enunciador	de	princípios	 simbólicos	 sem	eficácia	 vertical	 alguma.	Eficácia	 esta,	 que	 se
restringia	 ao	 direito	 legislado	 e	 efetivamente	 posto,	 qual	 seja,	 aquele	 que	 cuidava,	 minuciosamente,	 de
condutas,	tipos	e	comportamentos	sociais	onde	a	dose	de	interpretação	na	sua	aplicação	era	irrisória,	mínima,
sob	pena	de	violação	da	igualdade	formal.
Contudo,	com	a	redemocratização	alemã	e	a	demonização	do	“positivismo”	que	durante	algum	tempo	servira
para	desvirtuadamente	legitimar	os	absurdos	ideais	nazistas,	foi	necessário	repensar	o	que	seria	o	ius	positum,
e	 nesse	 ambiente	 é	 que	 o	 texto	 constitucional	 ganha	 relevo	 com	 a	 atribuição	 de	 uma	 eficácia	 vertical	 e
horizontal	dos	direitos	 fundamentais	nunca	antes	vista.	Enfim,	 a	Constituição,	 instrumento	democrático	por
natureza,	 poderia	 e	 deveria	 ser	 aplicado	 diretamente	 na	 tutela	 de	 direitos	 pelo	 Estado,	 seja	 na	 função
administrativa,	 judiciária	 e	 legislativa.	 Era	 a	 supremacia	 material	 sendo	 implantada,	 ultrapassando	 a
meramente	 formal	 existente	 no	 período	 “positivista”.	 Ademais,	 nenhuma	 lei	 poderia	 ser	 aplicada	 ou
interpretada	senão	após	uma	análise,	contraste	e	confronto,	direto	ou	indireto,	com	os	direitos	fundamentais	e
princípios	basilares	de	justiça,	liberdade	e	dignidade	da	pessoa	humana.
A	 lei	 infraconstitucional,	portanto,	nesse	novo	modelo	de	ver	o	direito	posto,	passa	a	 ser	um	mecanismo	de
também	concretizar	os	princípios	e	direitos	fundamentais,	sempre	conforme	a	Constituição.	Não	mais	haveria
lei	que	não	se	submetesse	a	este	filtro	constitucional	inserido	no	miolo	do	sistema	jurídico.
Assim,	passa	a	se	enxergar	o	direito	posto	 (ius	positum)	 tendo	na	sua	raiz	e	na	 sua	 finalidade	a	Constituição
Federal,	de	 forma	que	 toda	e	qualquer	norma	 (regra	ou	princípio)	deve	ser	aplicado	sob	a	 lente	dos	valores
fundantes	 do	 texto	 constitucional,	 tais	 como	 devido	 processo,	 justiça,	 liberdade,	 dignidade,	 igualdade	 etc.
Aproxima-se	assim	o	direito	da	ética,	e,	inculca-se	no	ordenamento	as	técnicas	de	compatibilização	das	regras	e
princípios	e	partir	de	juízos	de	razoabilidade	e	proporcionalidade,	sempre	tendo	como	motivo	e	fim	a	proteção
dos	valores	enraizadores	do	sistema	jurídico.
Como	reflexo	deste	 fenômeno	altera-se	profundamente	o	modelo	 legislativo	de	elaboração	de	 leis	que	 serão
aplicadas	pelo	administrador	e	pelo	judiciário,	adotando-se	conceitos	jurídicos	indeterminados,	com	tipos	mais
ou	menos	 abertos,	 que	 permitem	 o	 preenchimento	 desses	 conceitos	 a	 partir	 de	 análises	 concretas	 de	 cada
situação	 sub	 judice,	 segundo	 interpretações	 comprometidascom	 os	 valores	 constitucionais.	 Tal	 mecanismo
permite	que	os	valores	constitucionais	sejam	direta	e	sempre	invocados	como	forma	de	se	aplicar	o	direito.
A	 partir	 dessa	 mudança	 de	 pensar	 o	 direito	 posto,	 inserindo	 a	 constituição	 como	 lente	 e	 filtro	 de	 qualquer
atividade	do	Estado	(legislativa,	judiciária	e	executiva),	passou-se	a	reconhecer	nela	uma	eficácia	que	antes	não
lhe	era	dada,	havendo	o	que	a	doutrina	denominou,	ao	nosso	ver,	sem	um	rigor	técnico,	a	superação	do	modelo
positivista	para	um	pospositivista.
Dessa	 forma,	 vê-se	 que	 com	 este	 fenômeno	 de	 entronização	 da	 Constituição	 Federal	 para	 o	 centro	 do
ordenamento	jurídico,	sendo	filtro	necessário	para	o	nascimento	e	aplicação	de	uma	norma,	que	deve	sempre
estar	vinculada	a	 realização	dos	direitos	 fundamentais	e	princípios	 fundantes	da	carta	maior	 fez	com	que	o
CPC	fosse	deslocado	do	seu	papel	central	e	deixasse	de	ser,	ele	mesmo,	a	referência	primária	na	aplicação	das
regras	de	direito	processual.
Nesse	diapasão	tem-se	que	o	CPC/1973	revela	de	forma	inconteste	esse	descompasso	com	essa	nova	forma	de
aplicar	 o	 direito,	 ou	 seja,	 de	 enxergar	 o	 direito	 posto,	 pois,	 nos	 seus	 1.211	 artigos	 não	 há	 nenhuma,
absolutamente	 nenhuma	 referência	 a	 algum	 princípio	 processual	 existente	 na	 Constituição	 Federal,	 seja	 de
1988,	seja	na	que	estava	vigente	quando	da	sua	entrada	em	vigor.
E,	esse	fenômeno	não	se	deu	apenas	com	o	processo	civil,	senão	porque	a	CF/1988	cuidou	também	de	fixar	os
princípios	 do	 direito	 civil,	 do	 direito	 comercial,	 do	 direito	 ambiental,	 do	 direito	 tributário,	 administrativo,
financeiro,	do	trabalho,	previdenciário,	etc.	Enfim,	todos	os	campos	das	diversas	ciências	do	direito	possuem
na	CF/1988	o	reconhecimento	de	princípios	que	lhes	são	regentes	e	que	devem	estar	uniformes	e	conciliados
com	os	valores	fundantes	do	Estado	Democrático	de	Direito,	tais	como	o	devido	processo,	a	justiça,	a	dignidade,
a	igualdade,	a	liberdade	etc.
Tem-se	assim,	razões	de	ordem	jurídica	e	social	que	legitimam	a	criação	de	um	novo	CPC.
2.2.	A	crise	do	judiciário	e	o	novo	CPC
O	substantivo	feminino	“crise”	sem	um	adjetivo	que	o	qualifique	é	vago	e	de	difícil	compreensão,	perpassando
uma	 informação	 genérica	 cuja	 abstração	 deriva	 da	 própria	 natureza	 deste	 substantivo.	 Assim,	 dizer	 que	 o
“Judiciário	 está	 em	 crise”	 é	 afirmar	 algo	 genérico,	 lacônico	 e	 que	 depende	 de	 uma	 qualificação	 para	 ser
minimamente	compreendido.
É	fato	 induvidoso	a	associação	da	expressão	 “crise	no	Judiciário”	ao	fenômeno	de	morosidade	da	 justiça	e	 da
duração	 irrazoável	 do	 processo,	 que	 seria	 atribuível	 ao	 congestionamento	 de	 causas	 em	 curso	 no	 Poder
Judiciário,	e	que	tem	transformado	a	tutela	dos	direitos	em	uma	saga,	só	que	sem	um	fim.
Contudo,	é	regra	lógica	de	causa	e	efeito	que,	só	é	possível	prescrever	um	remédio	se	soubermos	qual	a	doença
acomete	 o	 paciente.	 Por	 isso,	 ao	 se	 afirmar	 que	 o	 Judiciário	 está	 em	 crise,	 é	 preciso,	 primeiro	 identificar	 a
doença,	ou	seja,	de	que	tipo	de	crise	estamos	falando	para	saber	qual	é	o	remédio	adequado	para	solucionar
este	problema.
É	fato	notório	que	muitos	juristas	tem	defendido	a	criação	de	um	novo	CPC	como	se	daí	fosse	sair	a	solução	ou
remédio	eficaz	para	a	tal	crise	do	judiciário,	chegando	ao	ponto	de	vaticinar	em	tom	popularesco	que	até	70%
do	tempo	do	processo	deverá	ser	reduzido	com	o	novo	Código.
Longe	de	defender	uma	posição	niilista,	a	grande	verdade	é	que	não	precisa	ser	futurólogo	para	se	saber	que
tal	 previsão	 percentual	 é	 completamente	 despropositada,	 e,	 que,	 verdadeiramente,	 nenhum	Código	 novo,	 e,
nem	mesmo	 o	NCPC	 (Lei	 13.105/2015),	 será	 capaz	 de	 reduzir	 o	 tempo	 do	 processo	e	 sanar	 a	 morosidade	 da
justiça,	 simplesmente	 porque	não	 são	 as	 técnicas	 atuais	 vigentes	 as	 responsáveis	 pela	 tal	 crise	 que	 assola	 o
Poder	Judiciário.
Aliás,	 esse	 arroubo	 otimista,	 revelado	 em	 frases	 de	 efeito,	 de	 que	um	novo	Código	 de	 Processo	 Civil	 seria	 a
solução	para	os	problemas	da	crise	do	judiciário,	nos	faz	lembrar	um	recente	fato,	de	otimismo	exacerbado	que
foi	 seguido	 de	 uma	 previsível	 frustração	 que	 aconteceu	 com	 a	 introdução	 no	 texto	 constitucional	 do	 inc.
LXXVIII	 do	 art.	 5.º	 pela	 EC	 45.	 Neste	 dispositivo	 consagrou-se	 o	 direito	 fundamental	 à	 razoável	 duração	 do
processo,	mas	nem	por	isso	teve	o	condão,	da	noite	para	o	dia,	de	transformar	processos	de	duração	irrazoável
em	 duração	 razoável.	 Isso	 porque,	 como	 se	 disse,	 não	 são	 os	 “excessos	 de	 recursos”,	 nem	 o	 “formalismo
processual”	os	principais	algozes	desse	fenômeno.
Enfim,	é	preciso	ter	em	mente	que	o	tema	da	crise	do	Poder	Judiciário	deve	ser	visto	sob	várias	 frentes,	pois
direta	ou	indiretamente	são	muitas	as	causas	às	quais	se	pode	atribuir	este	nefasto	efeito	de	demora	irrazoável
na	prestação	jurisdicional.
Sem	sombra	de	dúvidas	que	um	desses	fatores	decorre	da	crise	estrutural	do	Poder	Judiciário,	que	se	reflete	a
ausência	 de	 infraestrutura	 (instalação,	 espaço,	 pessoal,	 equipamentos	 etc.)	 para	 prestação	 do	 serviço
jurisdicional.	 O	 número	 de	 demandas	 que	 ingressam	 no	 Judiciário	 é	muito	maior	 do	 que	 as	 que	 saem,	 e	 a
estrutura	existente	(pessoal	e	equipamentos)	para	lidar	com	estes	números	é	arcaica,	 limitada	e	 insuficiente.
Uma	simples	 reflexão	do	nosso	dia	a	dia	 forense	nos	 faz	 lembrar	de	 inúmeras	 situações	onde	numa	sala	de
audiência	não	tem	papel,	não	tem	funcionário	para	auxiliar	uma	audiência,	não	tem	juízes	e	promotores	que,
quase	 sempre	 respondem	 por	 mais	 de	 uma	 vara	 ou	 comarcas	 dentre	 tantos	 e	 tantos	 outros	 problemas
estruturais	que	põe	em	cheque	a	infraestrutura	do	Poder	Judiciário.
Outro	 fator	considerável	desta	crise	–	 também	 já	 revelado	pela	 radiografia	do	 judiciário	 feita	pela	Fundação
Getúlio	 Vargas	 –	 é	 a	 ineficiência	 e	 incapacidade	 de	 autogestão	 administrativa	 do	 Poder	 Judiciário.	 A	 má
administração	da	deficiente	infraestrutura,	a	ausência	de	logística	e	planejamento,	a	inexistência	de	ações	de
administração,	de	resultados	e	metas	constitui	 também	um	fator	decisivo	para	tal	 fenômeno.	Enfim,	o	Poder
Judiciário	não	é	capaz	de	exercer	a	gestão	administrativa	de	si	mesmo,	o	que	não	parece-nos	nenhum	absurdo,
pois	 esta	não	 é	 sua	 atividade	 fim,	 e,	 nunca	 foi	 preparado	para	 exercer	 este	 papel	 administrativo.	 Exemplos
corriqueiros	 podem	 ser	 vistos	 nos	 cartórios	 judiciais	 pelo	 Brasil,	 onde	 há	 uma	 ausência	 total	 de
procedimentalização	de	comportamentos	e	atos.	Exemplos	simples	como	gestão	de	horários	e	atos	do	quadro
de	 pessoal,	 padronização	 de	 tipos	 e	 formas	 de	 comunicação	 judicial	 que	 deveriam	 ser	 iguais	 para	 todos	 os
cartórios,	uso	racional	dos	equipamentos	etc.
Outro	 fator,	 apontado	 por	 alguns	 juristas	 como	 o	 principal	 deles,	 é	 a	 inadequação	 do	método	 utilizado	 para
resolução	dos	conflitos,	ou	seja,	as	técnicas	processuais	vigentes	não	estariam	adequadas	à	solução	dos	conflitos
da	atualidade	porque	teriam	ficado	defasadas	com	o	tempo	e	com	a	evolução	social.	Essa	inadequação	refere-se
não	 apenas	 à	 inexistência	 ou	 insuficiência	 de	meios	 (soluções	 alternativas	 à	 judicialização,	 litigiosidade	 de
massa	etc.)	para	tratar	dos	conflitos	da	atualidade,	mas	também	da	inconveniência	da	técnica	existente	que	foi
criada	 sob	 uma	perspectiva	 de	 ultravalorização	 do	 formalismo,	 positivista	 e	 liberal	 que	 está	 ultrapassada	 e
inconveniente	para	o	modelo	sócio,	político,	econômico	e	cultural	da	atual	da	sociedade.
Certamente	 que	 outros	 fatores	 podem	 ser	 identificados	 e	 até	 arrolados	 como	 precursores	 da	 “crise	 do
judiciário”,	neles	se	incluindo	até	a	“crise	de	confiança”,	mas	que	aqui	não	serão	tratados	porque	possuem	um
viés	que	ultrapassa	uma	análise	processual.
Se	é	verdade	que	todos	estes	valoressão	responsáveis	pela	crise	da	morosidade	da	justiça,	não	nos	parece	que
todos	 eles	 contribuem	 de	 forma	 idêntica	 para	 tal	 fenômeno.	 Não	mesmo.	 Para	 se	 chegar	 a	 uma	 conclusão
legítima	 dos	 principais	 fatores,	 e,	 dessa	 forma	 encontrar	 o	 remédio	 adequado	 para	 o	 problema	 é	 preciso
conhecer,	estudar	e	refletir	sobre	os	números	do	Poder	Judiciário	que	são	revelados	pelo	CNJ	desde	2010	e	que
eriçam	à	pêlo	os	principais	vilões	do	Poder	Judiciário.
Os	dados	estatísticos	colhidos	do	CNJ	apontam	que	no	Brasil	existe	algo	em	torno	de	100	milhões	de	causas	em
trâmite	no	Poder	 Judiciário,	 cuja	organização	 judiciária	e	administrativa	 (entendam	 isso	da	 forma	mais	 lata
possível)	não	tem	a	menor,	frise-se,	a	menor	condição	de	gerir	e	julgar	em	tempo	minimamente	razoável.
No	relatório	do	Conselho	Nacional	de	 Justiça	de	2012	sobre	os	 “100	maiores	litigantes”	mostrou	que,	dos	100
milhões	de	processos	 em	 tramitação,	 38%	 são	do	Governo,	 38%	 são	dos	bancos,	 e	 o	 resto	 é	 de	 empresas	de
telefonia	e	concessionárias	de	serviços	públicos.	Então,	90%	desses	processos	são	de	10	ou	15	entidades	apenas:
bancos,	poder	público	e	agências	reguladoras.
O	surgimento	de	um	novo	Código	de	Processo	Civil	não	será	capaz	de	debelar	este	problema.
O	problema	de	 infraestrutura	para	atender	a	estes	100	milhões	de	causas	referem-se	a	uma	falta	de	política
pública	 adequada,	 e	 se	 revela	 em	 todos	 os	 setores	 da	 atuação	 estatal.	 O	modelo	 intervencionista	 de	 estado
exigido	pela	CF/1988	está	falido.	Não	há	nenhuma	política	pública	no	país	que	seja	sequer	satisfatória.	O	Estado
não	consegue	prestar	à	contento	a	saúde,	a	educação,	a	segurança,	o	meio	ambiente,	o	trabalho,	o	lazer	etc.	E,
não	é	diferente	em	relação	a	prestação	da	justiça	à	população.	Enfim,	sob	a	perspectiva	das	políticas	públicas
que	devem	ser	prestadas	pelo	Estado,	a	prestação	de	uma	 justiça	adequada	à	população,	 é	mais	um	exemplo
concreto	de	inoperância	e	ineficiência	da	atuação	estatal,	que,	certamente	não	será	resolvida	ou	remediada	por
um	novo	diploma	processual	civil.
Também	não	nos	parece	o	problema	da	gestão	administrativa	seja	resolvida	por	um	novo	Código	de	Processo
Civil.	 Ainda	 que	 a	 eficiência	 (resultado	 com	 economia)	 venha	 a	 ser	 fixada	 como	 um	 dos	 cânones	 do	 “novo
processo”	 não	 são	 as	 novas	 técnicas	 que	 serão	 capazes	 de	 otimizar	 a	 gestão	 administrativa	 dos	 Fóruns,	 das
varas,	 do	 tempo	 do	magistrado,	 do	 planejamento	 estratégico	 da	 forma	 de	 ser	 a	 atuar,	 das	metas	 etc.	 Nesse
campo,	espera-se	muito	mais	do	modelo	de	atuação	do	Conselho	Nacional	de	Justiça	do	que	de	qualquer	outra
atitude	que	venha	ser	 implementada	em	relação	à	 técnica	processual.	A	 justiça	sempre	foi	administrada	por
magistrados,	 e,	 nesse	 diapasão,	 era	 de	 se	 esperar	 que	 sem	 qualquer	 conhecimento	 técnico	 em	 gestão	 e
administração	pública,	o	resultado	fosse	desastroso	como	tem	sido	ao	longo	dos	anos.
A	simplificação	dos	procedimentos	e	da	técnica	processual	pretendido	pelo	novo	CPC	pode	sim	contribuir	para
a	otimização	do	tempo,	mas	de	forma	muito	pontual	e	não	da	forma	que	se	gostaria.	Certamente	que	não	será	o
fim	da	nomeação	à	autoria,	da	oposição,	da	ação	declaratória	incidental,	da	exceção	de	incompetência	relativa,
da	restrição	na	utilização	do	recurso	de	agravo,	no	fim	dos	embargos	infringentes,	entre	tantas	outras	técnicas
enferrujadas	e	quase	extintas	pelo	desuso	que	irão	melhorar	a	crise	de	demora	do	processo.	Igualmente,	não
será	 a	 criação	 de	 incidentes	 e	 técnicas	 individuais	 de	 repercussão	 coletiva,	 com	o	 fornecimento	 à	 fórceps	 e
comprometimento	do	sagrado	direito	constitucional	de	ação,	que	irá	resolver	o	problema	da	crise	do	judiciário.
As	novas	técnicas	deem	ao	mesmo	tempo	ser	eficazes	e	úteis	sem	comprometer	o	direito	de	acesso	à	justiça.
A	 crise	 da	 demora	 da	 prestação	 jurisdicional	 deveria	 ser	 analisada	 sob	 um	 ângulo	 inverso,	 e,	 a	 partir	 dos
números	apresentados	pelo	CNJ,	ao	se	responder	as	seguintes	indagações.	Sem	os	15	maiores	litigantes	do	país,
qual	seria	o	número	de	demandas	em	curso	no	Poder	Judiciário?	Haveria	a	tal	crise?	Os	15	maiores	litigantes
consumem	a	justiça	mais	do	que	qualquer	outro	litigante,	e,	por	que	os	custos	deste	consumo	não	são	por	ele
internalizados?	 Por	 que	 não	 desenvolver	 formas	 alternativas	 de	 solução	 de	 conflitos	 para	 estes	 15	maiores
litigantes?	Por	que	para	estes	litigantes	interessa	que	as	suas	lides	desemboquem	no	Poder	Judiciário?	Por	que
para	um	banco	é	melhor	ser	demandado	em	juizo?	Por	que	compensa	para	uma	concessionária	de	telefonia	e
telecomunicação	interessa	ser	demandado?	Por	que	para	o	Poder	Público	é	melhor	ser	réu	em	juizo	do	que	ter
que	 realizar	 as	 políticas	 públicas	 e	 respeitar	 os	 direitos	 fundamentais?	 A	 que	 custo	 será	 prestada	 a	 tutela
jurisdicional	 aos	 litigantes	 eventuais,	 reconhecidamente	 hipossuficientes,	 por	 intermédio	 das	 técnicas
individuais	de	repercussão	coletiva	como	pretende	o	novel	instituto	do	novo	CPC	do	incidente	de	resolução	de
demandas	 repetitivas?	 Por	 que	 não	 se	 implementar	 e	 robustecer	 e	 incentivar	 a	 tutela	 jurisdicional	 dos
interesses	 individuais	 homogêneos	 por	 meio	 de	 ações	 coletivas	 que	 já	 existem	 e	 mostram-se	 adequadas	 à
proteção	 dos	 litigantes	 eventuais	 e	 hipossuficientes?	 Estas	 são	 perguntas	 sérias	 e	 cujas	 respostas	 atingem	 o
coração	da	crise	da	demora	da	prestação	jurisdicional	no	nosso	país.
A	criação	de	um	novo	CPC	possui	sim	razões	jurídicas	e	sociais	que	por	si	só	legitimam	o	surgimento	do	novo
diploma,	 porém,	 “colocar	 na	 conta”	 do	 novo	 Código	 –	 numa	 regra	 de	 causa	 e	 efeito	 –	 como	 se	 ele	 fosse	 um
remédio	adequado	e	suficiente	para	debelar	a	crise	da	demora	da	prestação	do	Poder	Judiciário	é	ao	mesmo
tempo	criar	uma	falsa	expectativa	de	que	tal	crise	será	debelada,	mas	inadequadamente	ocultar	o	verdadeiro
problema,	donde	se	pode	encontrar	o	adequado	remédio	para	estancar	a	irrazoável	demora	do	processo.
Por	outro	lado	é	importante	se	dizer	que	um	diploma	desta	magnitude	não	surgirá	perfeito	e	tampouco	livre	de
críticas	que	sempre	devem	ser	feitas	no	sentido	aprimorar	o	diploma	e	texto	que	foi	construído	sob	a	batuta	de
mãos	seguras	e	competentes.	Destaco	aqui,	em	nome	de	todos	que	contribuíram,	no	projeto	original	ou	dos	que
aditados	 e	 emendados,	 o	 da	 Prof.	 Teresa	 Arruda	 Alvim	Wambier	 que	 conseguiu,	 com	 amplo	 contraditório,
paciência,	 segurança	 e	 simplicidade	 reunir	 valiosas	 contribuições	 no	 sentido	 de	 apresentar	 à	 comunidade
jurídica	um	grande	projeto	do	NCPC	(Lei	13.105/2015).
2.3.	O	novo	CPC	e	a	aproximação	com	a	common	law
A	aproximação	dos	modelos	jurídicos	da	common	law	e	civil	law	tem	uma	razão	histórica	que	se	confunde	e	se
mistura	com	a	razão	 jurídica.	A	revolução	francesa	e	a	revolução	gloriosa	 (puritana)	na	França	e	 Inglaterra,
respectivamente,	 foram	 marcos	 decisivos	 para	 o	 desenvolvimento	 –	 e	 também	 o	 isolamento	 –	 destes	 dois
regimes	jurídicos.	Contudo,	após	o	fenômeno	de	constitucionalização	do	direito	(pós	2.ª	Guerra	Mundial)	estes
regimes	 passaram	 a	 se	 comunicar	 num	 entrelaçamento	 que	 nos	 parece	 inevitável	 no	 atual	 contexto	 da
sociedade	de	massa.
Uma	leitura	política	e	filosófica	do	nosso	ordenamento	jurídico	permitirá	identificar	com	clareza	meridiana	a
marca	 indelével	 da	 revolução	 francesa.	 Todos	 sabemos	 que	 para	 aniquilar	 o	 antigo	 regime	 absolutista	 e	 ao
mesmo	 tempo	 criar	 um	 modelo	 que	 garantisse	 o	 poder	 à	 classe	 emergente	 foi	 preciso	 destruir	 o	 direito
existente,	criando	um	novo	paradigma	jurídico	que	teria	influencia	decisiva	em	países	de	tradição	civilista.
No	ancién	regime	é	célebre	e	marcante	a	frase	l’etat	c’est	moi	atribuída	a	Luis	XIV,	o	rei	sol	como	era	apelidado.
A	verdade	é	que,	mito	ou	verdade,	a	 frase	revela	com	precisão	como	funcionava	o	Estado	Absolutista.Neste
modelo	de	Estado	o	cargo	de	juiz	era	doado	ou	comprado	junto	ao	senhor	absoluto	que	mantinha	com	o	clero
uma	promíscua	relação	de	manutenção	do	status	quo.	Portanto,	o	“judiciário”	nada	mais	fazia	do	que	legitimar
o	Estado	Absolutista.
Com	 a	 revolução	 francesa,	 o	 Estado	 Absoluto	 foi	 substituído	 pelo	 Estado	 de	 Direito	 onde	 a	 lei	 deveria	 ser
garantidora	dos	ideais	da	revolução.	Considerando	a	herança	do	poder	judiciário,	a	sua	relação	promíscua	com
o	antigo	regime,	neste	novo	modelo	jurídico	introduzido	o	juiz	jamais	poderia	“interpretar	a	lei”,	senão	porque
deveria	 ser	 la	 bouche	 de	 la	 loi	 (a	 boca	 da	 lei),	 qual	 seja,	 aplicando-a	 literalmente	 aos	 casos	 que	 lhes	 fossem
submetidos.	Havia	uma	necessidade	de	que	o	juiz	fosse	um	ser	neutro,	absolutamente	isento,	e,	sem	qualquer
papel	interpretativo	da	mensagem	da	lei,	pois	se	assim	o	fosse,	suas	decisões	poderiam	ser	submetidas	a	uma
corte	de	cassação	formada	por	parlamentares	que	tornariam	nula	a	decisão	e	aplicariam	a	lei	que	tinham	feito.
Enfim,	 por	 causa	 deste	 fenômeno	 histórico	 político	 tornou-se	 regra	 comum	 aos	 países	 de	 tradição	 civil	 a
valorização	da	lei,	pois	segundo	se	imaginava	era	a	única	forma	de	legitimar	a	vontade	popular,	de	conquistar
a	liberdade	e	a	igualdade	entre	as	pessoas.
Esta	 foi	 a	 época,	 portanto,	 das	 grandes	 codificações,	 com	 regras	 de	 direito	 extremamente	minudentes,	 com
exagero	legislativo	para	evitar	lacunas,	tudo	com	vistas	a	impedir	que	o	magistrado	pudesse,	de	alguma	forma,
ameaçar	a	vontade	popular	por	intermédio	de	uma	interpretação	que	se	desviasse	dos	ditames	da	lei.	Não	por
acaso,	 nesta	 época,	 houve	 a	 valorização	 da	 igualdade	 e	 da	 liberdade	 perante	 a	 lei,	 com	mínima	 intervenção
estatal	 (aí	 incluído	 o	 Estado	 juiz),	 justamente	 para	 se	 evitar	 qualquer	 risco	 de	 retorno	 ao	 antigo	 regime.	 O
poder	 legislativo	 seria	 a	 verdadeira,	 e	única,	 fonte	da	democracia,	 e	 a	 lei	não	deveria	 ser	 interpretada,	 mas
simplesmente	aplicada	literalmente	pelo	juiz.
Esse	modelo	 foi	espraiado	para	os	países	de	 tradição	romano	germânica,	 fazendo-se	presente	aqui	no	Brasil
nos	modelos	de	codificação	civil,	processual	civil,	 comercial,	 tributário,	penal,	processual	penal,	entre	 tantos
outros	diplomas	que	revelaram	a	fonte	liberal	burguesa	do	ordenamento	jurídico.
A	 derrocada	 deste	 modelo	 jurídico	 e	 sua	 substituição	 pelo	 constitucionalismo	 democrático	 teve	 início	 na
Alemanha	pós	(2.ª)	guerra	onde,	a	sociedade	precisava	aniquilar	o	modelo	de	ordenamento	que	durante	anos
havia	legitimado	o	terceiro	reich	e	que	teria	sido	tão	nefasto	aos	aspectos	mais	sagrados	da	vida	humana.
Com	 a	 Constituição	 passando	 a	 ter	 uma	 força	 normativa,	 os	 seus	 princípios	 regentes	 passaram	 a	 ter	 uma
aplicação	vertical	e	horizontal	no	sistema	jurídico.	Nenhuma	lei	poderia	ser	criada	e	aplicada,	senão	depois	de
passar	pela	lente	constitucional.	E,	nesta	toada,	o	juiz	voltaria	a	ter	um	papel	importante	na	 interpretação	do
direito	que	deveria	ser	conforme	a	Constituição.	O	Judiciário	passaria	a	ocupar	um	papel	de	destaque	entre	os
poderes	 do	 Estado	 –	 neste	 particular	 as	 cortes	 constitucionais	 tendo	 em	 vista	 a	 pluralidade	 de	 fontes
normativas	 e	 a	 abstração	 principiológica	 –,	 na	 medida	 em	 que	 teria	 que	 proteger	 (interpretando	 a	 lei	 ou
suprindo	 lacunas)	os	 sagrados	valores	 e	princípios	 constitucionais	da	dignidade,	da	 justiça,	da	 liberdade,	da
igualdade,	 do	 devido	 processo	 legal	 etc.	 Exatamente	 por	 isso	 que	 o	 princípio	 do	 contraditório	 e	 a
fundamentação	das	decisões	judiciais	foram	eriçados	a	um	enorme	grau	de	importância,	pois	seria	a	maneira
de	se	obter	um	“processo	judicial	democrático”	com	controle	da	atuação	do	poder	judiciário.
Contudo,	nem	o	princípio	do	contraditório	na	sua	faceta	mais	democrática,	nem	a	exigência	constitucional	de
fundamentação	das	decisões	judiciais	foram	suficientes	para	garantir	coesão,	uniformidade	e	a	igualdade	das
decisões	judiciais	em	demandas	de	massa,	pois,	a	atividade	interpretativa	do	magistrado	é	ilimitada,	mormente
num	constitucionalismo	processual	com	ampla	influência	dos	princípios,	cuja	abstração	é	sempre	marcante.
É	justamente	a	partir	daí,	do	constitucionalismo	democrático,	que	a	civil	law	inclina-se	para	aproximar-se	da
common	law.	Registre-se	que	embora	a	revolução	gloriosa	tenha	também	sacramentado	a	introdução	de	uma
ordem	 liberal	 burguesa	 –	 então	 representada	 pelos	 protestantes	 –	 ela	 não	 foi	 violenta	 como	 a	 revolução
francesa,	e,	para	que	esta	nova	classe	pudesse	ascender	ao	poder	deveria	reconhecer,	junto	ao	parlamento,	o
bill	 of	 wrights	 e	 o	 toleration	 act	 que	 eram	 documentos	 fundamentais	 para	 sustentação	 da	 filosofia	 liberal.
Contudo,	curioso	notar	que	ao	invés	de	ser	a	lei	que	garantiria	a	liberdade	e	a	igualdade	dos	cidadãos,	com	a
diminuição	 do	 poder	 dos	 juízes	 tal	 qual	 ocorrera	 no	modelo	 francês,	 a	 forma	 pela	 qual	 o	 sistema	 jurídico
garantiria	 a	 preservação	 dos	 valores	 estabelecidos	 naqueles	 documentos	 seria	 através	 da	 igualdade	 dos
julgamentos.	Se,	todos	seriam	iguais	perante	a	lei,	todos	deveriam	ser	julgados	da	mesma	forma,	sem	tribunais
de	exceção,	de	maneira	que	o	resultado	de	um	julgamento	serviria	como	precedente	para	o	seguinte,	e,	assim
haveria	o	fortalecimento	do	direito,	sua	coerência,	sua	segurança,	previsibilidade,	e,	acima	de	tudo	todos,	em
concreto,	 teriam	decisões	 iguais	 para	 situações	 iguais.	Havendo	distorção	 e	 incoerência	 de	um	 julgado	para
com	 um	 outro	 anterior	 que	 lhe	 serviria	 de	 fonte,	 tais	 decisões	 poderiam	 ser	 controladas	 pelo	 próprio
parlamento.	perceba-se	que	ao	contrário	do	modelo	francês,	não	se	tentou	usurpar	do	juiz	inglês	a	inseparável
função	interpretativa,	senão	porque	vinculou-a	à	necessidade	de	ser	equânime	e	coerente	com	as	precedentes.
Assim,	com	o	constitucionalismo	democrático	passando	a	ser	regente	do	novo	sistema	jurídico	do	civil	 law,	 o
papel	 interpretativo	 do	 juiz	 ganha	 relevo	 e	 neste	 particular	muito	 se	 assemelha	 à	 função	 interpretativa	 já
exercida	no	common	law.
E,	assim,	nesta	escalada	aproximativa	a	adoção	da	técnica	do	precedente	vinculante	pelos	sistemas	da	civil	law
passa	a	 ser	uma	 “quase	necessidade”	 de	 sobrevivência	do	próprio	ordenamento	 jurídico,	 justamente	porque
num	 sistema	 de	 pluralidade	 de	 fontes,	 com	 organização	 judiciária	 esparsa,	 com	 interpretação	 vertical	 e
horizontal	dos	princípios	constitucionais,	e,	 finalmente,	numa	sociedade	massificada	com	demandas	 iguais	e
em	série,	passa	a	ser	imperiosa	a	adoção	do	sistema	de	precedentes	vinculantes.	O	tempo	dirá,	no	entanto,	se
temos	 como	 apreender	 e	 operacionalizar	 com	 justiça	 e	 acerto	 a	 técnica	 dos	 precedentes	 judiciais,	 afinal	 de
contas	não	é	da	nossa	tradição	e	nem	mesmo	fomos	preparados	ou	ensinados	a	operar.
Atento	a	isso	tudo	e,	diante	da	ineficiência	do	modelo	de	tutela	coletiva	para	a	defesa	de	direitos	individuais
homogêneos	(ineficiência	esta	causada	por	vários	fatores,	inclusive	o	político)	o	NCPC	(Lei	13.105/2015)	tratou
de	adotar	de	forma	mais	racional	o	respeito	aos	precedentes	dos	tribunais	superiores,	o	que	pode	ser	visto	em
diversas	 passagens	 e	 técnicas	 processuais	 que	 nele	 estão	 contidas.	 Resta	 saber	 se	 os	 operadores	 do	 direito
estarão	 preparados	 para	 lidar	 com	 tantas	 regras	 e	 técnicas	 que	 foram	 importadas	 sem	 que	 se	 tivesse	 uma
preparação	ou	educação	para	sua	utilização	no	dia	a	dia	forense.
3.	Os	princípios	do	CPC	e	a	tutela	executiva
A	 primeira	 mudança	 introduzida	 pelo	 NCPC	 (Lei	 13.105/2015)	 em	 relação	 à	 tutela	 jurisdicional	 executiva
encontra-se	 no	 Capítulo	 I	 do	 Livro	 I;	 capítulo	 este	 que,	 emparelhado	 com	 o	 neoprocessualismo	 (leitura	 do
processo	a	partir	de	um	filtro	constitucional)	foi	 todo	dedicado	a	concretizar	os	princípiosconstitucionais	do
processo.
Assim,	 no	 NCPC	 (Lei	 13.105/2015),	 seguindo	 a	 tendência	 mundial	 do	 constitucionalismo	 democrático,	 estão
elencados	e	corporificados	em	diversos	artigos	os	princípios	constitucionais	do	processo	previstos	na	CF/1988.
Em	relação	à	tutela	jurisdicional	executiva	merecem	destaques	os	seguintes	dispositivos:
“Art.	 4.º	As	partes	 têm	direito	de	obter	em	prazo	 razoável	a	 solução	 integral	do	mérito,	 incluída	a	atividade
satisfativa.”
“Art.	 6.º	 Todos	 os	 sujeitos	 do	 processo	 devem	 cooperar	 entre	 si	 para	 que	 se	 obtenha,	 em	 tempo	 razoável,
decisão	de	mérito	justa	e	efetiva.”
Pela	 leitura	dos	dispositivos	acima	verifica-se	que	o	NCPC	 (Lei	13.105/2015)	 trouxe,	para	dentro	do	Código,	a
interpretação	 constitucional	 de	 que	 o	 acesso	 à	 justiça	 compreende,	 também,	 a	 saída	 da	 justiça	 em	 tempo
razoável,	 impondo	 a	 máxima	 efetividade	 do	 processo	 como	 princípio	 de	 justiça	 a	 ser	 cumprido	 pelo	 Poder
Judiciário.	É,	pois,	norma	fundamental	de	direito	processual	civil,	o	princípio,	agora	descrito	no	Código,	de	que
a	tutela	efetiva	em	tempo	razoável	é	norte	a	ser	alcançado	pelo	processo.
Nos	dispositivos	citados	acima,	o	princípio	da	efetividade	da	justiça,	no	qual	se	insere	a	tutela	executiva,	está
associado	aos	princípios	da	duração	razoável	do	processo	e	da	cooperação	entre	os	seus	sujeitos,	aqui	incluídos
os	parciais	e	imparciais.
4.	Dos	deveres	das	partes	e	seus	procuradores
No	 Livro	 III,	 dedicado	 aos	 sujeitos	 do	 processo,	 e,	 precisamente	 no	 Título	 II	 (das	 partes	 e	 procuradores),
Capitulo	 II,	 o	 NCPC	 tratou	 dos	 deveres	 das	 partes	 e	 de	 seus	 procuradores,	 e,	 neste	 particular,	 seguindo	 a
principiologia	do	dever	de	cooperação	dos	sujeitos	do	processo,	manteve	a	regra	que	já	havia	sido	enxertada	no
CPC/1973,	ao	afirmar	que:
“Art.	77.	Além	de	outros	previstos	neste	Código,	são	deveres	das	partes,	de	seus	procuradores	e	de	todos	aqueles
que	de	qualquer	forma	participem	do	processo:
I	–	expor	os	fatos	em	juízo	conforme	a	verdade;
II	–	não	formular	pretensão	ou	de	apresentar	defesa	quando	cientes	de	que	são	destituídas	de	fundamento;
III	–	não	produzir	provas	e	não	praticar	atos	inúteis	ou	desnecessários	à	declaração	ou	à	defesa	do	direito;
IV	–	cumprir	com	exatidão	as	decisões	jurisdicionais,	de	natureza	provisória	ou	final,	e	não	criar	embaraços	à
sua	efetivação;
V	–	 declinar,	 no	 primeiro	momento	 que	 lhes	 couber	 falar	 nos	 autos,	 o	 endereço	 residencial	 ou	 profissional
onde	 receberão	 intimações,	 atualizando	 essa	 informação	 sempre	 que	 ocorrer	 qualquer	 modificação
temporária	ou	definitiva;
VI	–	não	praticar	inovação	ilegal	no	estado	de	fato	de	bem	ou	direito	litigioso.
§	1.º	Nas	hipóteses	dos	incs.	IV	e	VI,	o	 juiz	advertirá	qualquer	das	pessoas	mencionadas	no	caput	de	que	sua
conduta	poderá	ser	punida	como	ato	atentatório	à	dignidade	da	justiça.
§	2.º	A	violação	ao	disposto	nos	incs.	IV	e	VI	constitui	ato	atentatório	à	dignidade	da	justiça,	devendo	o	juiz,	sem
prejuízo	das	sanções	criminais,	civis	e	processuais	cabíveis,	aplicar	ao	responsável	multa	de	até	vinte	por	cento
do	valor	da	causa,	de	acordo	com	a	gravidade	da	conduta.
§	3.º	Não	sendo	paga	no	prazo	a	ser	fixado	pelo	juiz,	a	multa	prevista	no	§	2.º	será	inscrita	como	dívida	ativa	da
União	 ou	 do	 Estado	 após	 o	 trânsito	 em	 julgado	 da	 decisão	 que	 a	 fixou,	 e	 sua	 execução	 observará	 o
procedimento	da	execução	fiscal,	revertendo-se	aos	fundos	previstos	no	art.	97.
§	4.º	A	multa	estabelecida	no	§	2.º	poderá	ser	fixada	independentemente	da	incidência	das	previstas	nos	arts.
523,	§	1.º,	e	536,	§	1.º.
§	5.º	Quando	o	valor	da	causa	for	irrisório	ou	inestimável,	a	multa	prevista	no	§	2.º	poderá	ser	fixada	em	até	10
(dez)	vezes	o	valor	do	salário-mínimo.
§	6.º	Aos	advogados	públicos	ou	privados	e	aos	membros	da	Defensoria	Pública	e	do	Ministério	Público	não	se
aplica	o	disposto	nos	§§	2.º	a	5.º,	devendo	eventual	responsabilidade	disciplinar	ser	apurada	pelo	respectivo
órgão	de	classe	ou	corregedoria,	ao	qual	o	juiz	oficiará.
§	7.º	Reconhecida	violação	ao	disposto	no	 inc.	VI,	 o	 juiz	determinará	o	 restabelecimento	do	estado	anterior,
podendo,	ainda,	proibir	a	parte	de	falar	nos	autos	até	a	purgação	do	atentado,	sem	prejuízo	da	aplicação	do	§
2.º.
§	8.º	O	representante	judicial	da	parte	não	pode	ser	compelido	a	cumprir	decisão	em	seu	lugar.”
Este	dispositivo	ganha	relevo	no	NCPC	(Lei	13.105/2015)	porque	o	princípio	da	cooperação	entre	os	sujeitos	do
processo	foi	eriçado	à	condição	de	norma	fundamental	de	direito	processual	civil,	de	forma	que	o	contempt	of
court	pode,	de	fato,	ser	utilizado	com	maior	rigor	e	não	apenas	como	mera	regra	intimidadora	como	consta	no
CPC/1973.
Ainda	 em	 relação	 aos	 reflexos	 sobre	 a	 tutela	 executiva,	 é	 de	 se	 dizer	 que	 este	 dispositivo	 trouxe	 duas
novidades:
•	 a	 de	 que	 em	 relação	 ao	 inc.	 VI,	 que	 é	 o	 que	nos	 interessa,	 há	 necessidade	 de	 que	 a	 sanção	 de	multa,	 por
expressa	dicção	do	§	1.º	seja	precedida	de	uma	sanção	de	advertência,	o	que	nos	parece	um	retrocesso,	pois,	em
nosso	sentir,	bastaria	que	o	juiz,	antes	de	sancionar,	permitisse	o	contraditório	do	sujeito	no	processo,	caso	em
que,	 posteriormente,	 poderia	 ou	não	 sancioná-lo	 com	a	multa.	Da	 forma	 como	 está,	 há	 a	 necessidade	 de	 se
impor	 uma	 prévia	 sanção	 de	 advertência	 à	 imposição	 da	 multa	 ao	 improbus	 litigator	 que	 embaraça	 a
efetivação	da	decisão	judicial.
•	outra	inovação	importante,	que	já	estava	consagrada	na	doutrina,	com	alguns	vacilos	na	jurisprudência,	é	a
distinção,	 agora	 expressa,	 de	 que	 esta	 multa	 processual	 é	 punitiva	 de	 uma	 conduta	 processual	 ímproba,
caracterizando-se	como	contempt	of	court	e	aplicável	a	qualquer	sujeito	do	processo.	Ela	não	se	confunde	com
as	 astreintes	 impostas	 ao	 réu	 como	 categoricamente	 prescreve	 o	 §	 4.º	 do	 art.	 77.	 Neste	 dispositivo	 o	 objeto
tutelado	é	a	dignidade	da	justiça	e	esta	multa	não	se	baralha	com	a	astreinte,	cujo	papel	coercitivo	é	precípuo	e
o	 sujeito	 processual	 por	 ela	 atingido	 é	 sempre	 o	 requerido	 em	 desfavor	 de	 quem	 é	 efetivada	 a	 tutela.	 A
cumulatividade	 das	 duas	 multas	 processuais	 é	 absolutamente	 possível	 de	 acontecer	 como	 claramente
estabelece	o	NCPC	(Lei	13.105/2015).	É	de	se	observar,	contudo,	a	regra	do	art.	96	do	NCPC	(Lei	13.105/2015)	que
fixa	o	beneficiário	pela	sanção	de	multa	por	má-fé	imposta	pelo	juiz.
Em	 relação	 a	 esta	 novidade	 merece	 crítica	 a	 falta	 de	 sistematização	 do	 tema.	 É	 que	 na	 parte	 geral,	 aqui
comentada,	 quando	 o	 instituto	 do	 contempt	 of	 court	 é	 aplicado	mediante	 a	 punição	 com	multa	 processual
àquele	 que	 atentar	 contra	 a	 jurisdição	 (art.	 77,	 §§	 1.º,	 2.º	 e	 3.º)	 a	 referida	 verba	 será	 destinada	 aos	 cofres
públicos,	o	que	nos	parece	lógico	e	sensato,	pois,	trata-se	de	ato	que	atenta	contra	a	jurisdição	estatal.	Contudo,
quando	se	 lê	o	dispositivo	correlato,	que	trata	 igualmente	do	ato	atentatório	contra	a	dignidade	da	 justiça	só
que	 especificante	 no	 processo	 de	 execução	 (aplicável	 subsidiariamente	 ao	 cumprimento	 de	 sentença),	 o
legislador	 se	 contradiz,	 pois	 a	 sanção	 de	 multa	 eventualmente	 aplicada	 ao	 devedor	 que	 atenta	 contra	 a
dignidade	 da	 justiça,	 será	 revertida,	 como	 expressamente	 determina	 o	 art.	 774,	 parágrafo	 único,	 “(...)	 em
proveito	do	exequente,	exigível	nos	próprios	autos	do	processo,	 sem	prejuízo	de	outras	 sanções	de	natureza
processual	ou	material”.	Ora,	porque	no	art.	77,	§	3.º,	a	multa	por	tal	ato	destina-se	aos	cofres	públicos	e	aqui	no
art.	774,	parágrafo	único,	em	proveito	do	exequente	se	ontologicamente	a	conduta	é	a	mesma?	Parece-nos	que
houve	aí	uma	falha	na	sistematização	dos	dispositivos	que	tratam	do	mesmo	instituto. 1
5.	Honorários	na	execução
Ainda	no	Livro	II,	Título	III,	que	cuida	das	partes	e	procuradores,	o	NCPC	(Lei	13.105/2015)tratou	na	Seção	III
do	Capítulo	II	das	despesas,	dos	honorários	e	das	multas.
Em	relação	a	este	tema,	no	tocante	à	tutela	executiva,	duas	são	as	novidades	trazidas	pelo	CPC	que	merecem
ser	destacadas.
A	primeira	diz	respeito	ao	art.	85,	§	1.º,	que	assim	diz:
“Art.	85.	A	sentença	condenará	o	vencido	a	pagar	honorários	ao	advogado	do	vencedor.
§	1.º	São	devidos	honorários	advocatícios	na	reconvenção,	no	cumprimento	de	sentença,	provisório	ou	defitivo,
na	execução,	resistida	ou	não,	e	nos	recursos	interpostos,	cumulativamente.”
O	dispositivo	acima	traz	de	novidade	os	honorários	advocatícios	no	cumprimento	de	sentença.	Os	arts.	19	e	20,
§	4.º,	do	CPC/1973	tratavam	apenas	dos	honorários	advocatícios	devidos	na	execução,	embargada	ou	não.	É	que
os	referidos	dispositivos	legais	não	foram	atualizados	nem	pela	Lei	8.952/1994	(introduziu	o	art.	461),	nem	pela
Lei	 10.444/2002	 (introduziu	 o	 art.	 461-A)	 e	 tampouco	 pela	 Lei	 11.232/2005	 que,	 formalmente,	 introduziu	 o
cumprimento	de	sentença	de	títulos	judiciais.
Assim,	são	devidos	honorários	advocatícios	sempre	que	se	fizer	necessário	efetivar	em	juízo	o	título	executivo
judicial	 ou	 extrajudicial,	 mediante	 fase	 executiva	 do	 mesmo	 processo	 (cumprimento	 de	 sentença)	 ou	 por
processo	 autônomo	 (título	 extrajudicial).	Neste	 passo,	 o	 legislador	 segue	 o	que	 já	 vinha	 sendo	decidido	pela
jurisprudência	do	STJ.	Ainda	neste	tema,	igualmente	coerente	com	a	realidade	do	sincretismo	processual,	é	a
que	 troca	 a	 expressão	 “execução	 embargada	ou	não”	 constante	 do	 art.	 20,	 §	 4.º,	 do	 CPC/1973	 pela	 expressão
“resistida	ou	não”,	pois	no	cumprimento	de	sentença	a	forma	de	o	requerido	se	opor	à	efetivação	da	sentença	é
por	 meio	 de	 impugnação	 do	 executado,	 no	 julgamento	 da	 quual,	 inclusive,	 será	 devidos	 honorários
advocatícios	em	favor	do	executado	caso	sejam	acolhidos	como	vem	decidindo	o	STJ.
Fica	claro,	pela	combinação	com	o	art.	523,	§	1.º,	do	CPC/2015	(Lei	13.105/2015)	que	se	houver	o	cumprimento
da	 sentença	 no	 prazo	 de	 15	 dias	 após	 a	 intimação	 do	 devedor	 não	 serão	 devidos	 honorários,	 salvo	 sobre	 a
parcela	que	não	tenha	sido	paga.	Decorrido	in	albis	o	referido	prazo	então	serão	devidos	os	honorários	de	10%
e	multa	de	igual	valor	(art.	523,	§	1.º).
Neste	diapasão	vale	 o	 registro	da	 enorme	 incongruência	do	NCPC	 (Lei	 13.105/2015)	 em	 relação	à	 fixação	da
verba	 honorária	 na	 execução,	 pois,	 tratando-se	 de	 cumprimento	 de	 sentença	 (art.	 523,	 §	 1.º)	 se	 o	 devedor
adimplir	 no	 prazo	 de	 15	 dias	 ficará	 inteiramente	 livre	 da	 verba	 honorária,	 ao	 passo	 que	 tratando-se	 de
processo	de	execução	(título	extrajudicial),	se	o	devedor	adimplir	a	obrigação	no	prazo	de	3	dias,	deverá	arcar
com	metade	dos	honorários	advocatícios	 (art.	827,	§	1.º).	Ao	nosso	ver,	não	há	razão	para	esta	distinção,	até
porque	a	regra	mais	branda,	por	razões	lógicas	ligadas	à	duração	razoável	do	processo	e	a	formação	do	título
executivo	judicial,	não	deveria	estar	no	cumprimento	de	sentença,	e	sim	no	processo	de	execução.
A	outra	novidade	do	novo	CPC	em	relação	aos	honorários	na	execução	consta	do	art.	85,	§	7.º,	que	é	a	seguinte:
“§	 7.º	 Não	 serão	 devidos	 honorários	 no	 cumprimento	 de	 sentença	 contra	 a	 Fazenda	 Pública	 que	 enseje
expedição	de	precatório,	desde	que	não	tenha	sido	impugnada.”
Seguindo	a	linha	de	estabelecer	privilégios	à	Fazenda	Pública	e	fugindo	a	regra	geral	fixada	acima,	o	legislador
foi	claro	ao	dizer	que	não	são	devidos	honorários	na	execução	para	pagamento	de	quantia	contra	a	Fazenda
Pública	 que	 enseje	 a	 expedição	 de	 precatórios,	 salvo	 se	 esta	 for	 embargada,	 caso	 em	 que	 serão	 fixados
honorários	advocatícios	não	apenas	na	execução,	mas	igualmente	nos	embargos	do	executado.
6.	Desconsideração	da	personalidade	jurídica	na	execução	e	no	cumprimento	de	sentença
Uma	inovação	importante	trazida	pelo	NCPC	(Lei	13.105/2015)	foi	a	criação	do	incidente	de	desconsideração	da
personalidade	 jurídica	 (e	 a	 desconsideração	 inversa)	 que	 pode	 acontecer	 em	 todas	 as	 fases	 do	 processo	 de
conhecimento,	 no	 cumprimento	 de	 sentença	 e	 na	 execução	 fundada	 em	 título	 executivo	 extrajudicial,	 nos
termos	do	art.	134,	in	verbis:
“Art.	 134.	 O	 incidente	 de	 desconsideração	 é	 cabível	 em	 todas	 as	 fases	 do	 processo	 de	 conhecimento,	 no
cumprimento	de	sentença	e	na	execução	fundada	em	título	executivo	extrajudicial.”
Inserido	no	Título	III	do	Livro	II,	que	cuida	da	intervenção	de	terceiros,	o	Capítulo	IV	dedicou-se	ao	“incidente
de	desconsideração	da	personalidade	jurídica”,	permitindo	que	no	curso	da	execução	de	título	extrajudicial	ou
no	 cumprimento	 de	 sentença	 seja	 possível	 abrir	 uma	 bolha	 cognitiva	 onde	 se	 permita	 desconsiderar	 a
personalidade	 jurídica	 –	 inclusive	 em	 sentido	 inverso	 –	 estendendo	 a	 responsabilidade	 patrimonial	 para	 os
bens	da	pessoa	jurídica	(art.	795,	§	4.º).
Pelo	que	se	observa	da	leitura	dos	dispositivos	que	cuidam	do	tema,	é	natural	que	tal	incidente	ocorra	no	curso
da	 execução,	 mormente	 quando	 o	 exequente	 se	 veja	 frustrado	 por	 não	 encontrar	 bens	 penhoráveis	 do
devedor,	 caso	 em	 que	 pedirá	 a	 desconsideração	 neste	 incidente	 da	 personalidade	 jurídica	 para	 estender	 a
responsabilidade	 patrimonial	 para	 os	 bens	 da	 empresa,	 sempre	 que	 verificado	 os	 pressupostos	 de	 direito
material	 que	 autorizam	 a	 tal	 desconsideração.	 Não	 por	 acaso,	 portanto,	 que	 o	 art.	 137	 diz	 que	 “acolhido	 o
pedido	de	desconsideração,	a	alienação	ou	a	oneração	de	bens,	havida	em	fraude	de	execução,	será	ineficaz	em
relação	ao	requerente”.
Neste	particular,	deve	ser	ressaltada	a	regra	do	art.	792,	§	3.º,	que	assim	diz:	“Nos	casos	de	desconsideração	da
personalidade	 jurídica,	 a	 fraude	 à	 execução	 verifica-se	 a	 partir	 da	 citação	 da	 parte	 cuja	 personalidade	 se
pretende	desconsiderar”.	O	legislador	foi	adequado	ao	considerar	a	fraude	à	execução	não	a	partir	da	citação
da	parte	cuja	personalidade	se	desconsiderou	e	tampouco	da	instauração	do	incidente,	mas	de	um	momento
anterior,	 qual	 seja,	 mas	 da	 citação	 do	 próprio	 devedor	 originário	 cuja	 personalidade	 se	 pretende
desconsiderar,	afinal	de	contas	ele,	pessoa	física,	é	a	mesma	pessoa	que	encarna	a	sociedade	empresarial	que
terá	sua	desconsideração	efetivada.
De	outra	banda,	merece	elogios	o	fato	de	ter	tratado	pormenorizadamente	este	incidente	cognitivo,	acolhendo
a	jurisprudência	mais	recente	no	sentido	de	evitar	a	quebra	da	personalidade	jurídica	no	curso	da	execução
sem	qualquer	contraditório.	Da	forma	como	colocou	o	legislador	do	NCPC	(Lei	13.105/2015)	a	desconsideração	–
inclusive	a	inversa	–	deve	observar	as	garantias	processuais	do	contraditório	e	da	ampla	defesa	e	ainda	que	se
dê	no	curso	de	um	procedimento	executivo	ou	de	cumprimento	de	sentença,	o	sócio	ou	a	pessoa	jurídica	será
citada	para	manifestar-se	e	requerer	as	provas	cabíveis.
7.	A	efetividade	da	tutela	e	os	poderes	do	juiz
O	 art.	 139	 do	NCPC	 (Lei	 13.105/2015)	 alargou	 consideravelmente	 o	 art.	 125	 do	 CPC/1973.	 Ambos	 tratam	 dos
poderes	e	deveres	de	direção	do	processo	pelo	juiz.	Além	de	“velar	pela	rápida	solução	do	litígio”,	expressão	que
estava	contida	no	art.	125,	II,	e	de	onde	se	extraia	a	concretização	da	efetividade	do	processo,	agora,	de	forma
expressa	 e	 indubitável	 foram	 acrescentados	 outros	 incisos	 onde,	 de	 forma	 clara	 e	 inequívoca	 extrai-se	 a
preocupação	direta	com	a	efetividade	da	tutela	executiva.	Assim,	é	o	que	se	tem	no	novel	inc.	IV	do	art.	139,	in
verbis:
“Art.	139.	O	juiz	dirigirá	o	processo	conforme	as	disposições	deste	Código,	incumbindo-lhe:
(...)
IV	 –	 determinar	 todas	 as	medidas	 indutivas,	 coercitivas,	 mandamentais	 ou	 sub-rogatórias	 necessárias	 para
assegurar	o	cumprimento	de	ordem	judicial,	inclusive	nas	ações	que	tenham	por	objeto	prestação	pecuniária;”
Por	intermédio	deste	dispositivo	adota-sea	possibilidade	de	que	o	juiz	possa,	de	ofício,	e,	frise-se,	em	qualquer
modalidade	de	efetivação	de	tutela,	seja	ela	uma	decisão	judicial	ou	um	título	extrajudicial,	em	tutela	provisória
ou	 definitiva,	 inclusive	 quando	 se	 trate	 de	 demanda	 que	 vise	 a	 obtenção	 de	 prestação	 pecuniária,	 impor
medidas	 indutivas,	 coercitivas,	 mandamentais	 e	 subrogatórias	 que	 se	 mostrem	 necessárias	 (adequadas)	 à
obtenção	do	resultado	pretendido.	Enfim,	o	legislador	estendeu	o	que	já	era	permitido	às	tutelas	específicas	dos
arts.	 461	 e	 461-A	 do	 CPC/1973	 a	 toda	 e	 qualquer	 efetivação	 de	 tutela	 jurisdicional,	 seja	 ela	 cumprimento	 de
sentença,	seja	ela	execução	de	título	executivo	extrajudicial.
É	 curioso	 notar	 que	 esta	 inovação	 consta	 na	 parte	 geral	 do	 Código,	 portanto	 aplicável	 a	 toda	 e	 qualquer
modalidade	de	tutela,	mas	não	consta	registro	desta	possibilidade	de	atipicidade	de	meios	nos	procedimentos
específicos	para	a	efetivação	de	 títulos	 judiciais	 (prosiórios	ou	definitivos)	ou	extrajudiciais,	 o	que	de	 forma
alguma	 impede	 a	 sua	 aplicação.	 Contudo,	 pensamos	 que	 é	 preciso	 conjugar	 este	 dispositivo	 com	 as	 regras
postas	no	Livro	I	e	II	da	Parte	Especial.
Assim,	 tratando-se	 do	 procecimento	 comum	 do	 cumprimento	 de	 sentença	 e	 do	 processo	 de	 execução	 para
pagamento	 de	 quantia	 em	que	 o	 legislador	 prevê	 uma	 série	 de	 atos	 executivos,	 instrumentais	 e	 finais,	 com
itinerário	típico,	não	se	pode	simplesmente	ignorar	esta	regra	prevista	pelo	legislador	e	usar	livremente	o	art.
139,	IV,	do	CPC/2015.	Em	nosso	sentir	em	relação	a	tais	tutelas	é	preciso	conjugar	os	meios	já	existentes	e,	se	for
o	caso,	somar	ao	itinerário	executivo	previsto	pelo	legislador,	a	liberdade	do	inc.	IV	do	art.	139	do	CPC/2015.	Já
nos	 casos	 de	 tutela	 satisfativa	 (cumprimento	 ou	 execução)	 das	 obrigações	 específicas,	 dada	 a	 regra	 da
atipicidade	dos	arts.	536	e	538	do	CPC/2015,	então	não	há	qualquer	conflito	a	ser	dirimido	com	este	dispositivo.
8.	O	executado	e	os	atos	de	comunicação	processual
Sempre	se	dizia	ao	analisar	os	arts.	213	e	ss.	que	cuidam	da	citação	e	atos	de	comunicação	dos	atos	processuais
que	o	CPC/1973	enxergava	a	teoria	geral	do	processo	apenas	sob	os	olhos	do	processo	de	conhecimento,	sem
nem	 sequer	 cogitar	 a	 hipótese	 de	 tratar	 os	 institutos	 processuais	 sob	 o	manto	 também	da	 tutela	 executiva.
Assim,	 por	 exemplo,	 o	 art.	 213	do	CPC/1973	menciona	que	 a	 citação	 é	 o	 ato	pelo	qual	 se	 chama	o	 “réu	ou	o
interessado”	 afim	de	 se	 “defender”.	Ora,	mas	 e	 se,	 por	 exemplo,	 fosse	necessário	 ao	 credor	ajuizar	uma	ação
executiva	fundada	em	título	executivo	extrajudicial	contra	um	devedor?	O	credor	seria	então	um	exequente	e	o
devedor	seria	citado,	mas	não	como	réu	e	sim	como	executado,	e,	não	para	se	defender,	mas	sim	para	pagar	a
dívida	exequenda.
Assim,	no	Título	II	do	Livro	II,	reservado	à	comunicação	dos	atos	processuais,	vamos	encontrar	uma	série	de
alterações	legislativas	que	visam	corrigir	esses	pequenos	defeitos	de	linguajem	existentes	no	CPC/1973.	Por	isso,
por	exemplo,	o	novel	art.	238	do	CPC/2015	diz	que	a	“citação	é	o	ato	pelo	qual	são	convocados	o	réu,	o	executado
ou	 o	 interessado	 para	 integrar	 a	 relação	 processual”.	 É	 correto	 o	 art.	 238	 do	 CPC/2015	 porque	 o	 executado
também	pode	ser	citado,	e,	o	 fim	da	citação	não	é	convocar	o	sujeito	para	que	possa	defender-se	ou	exercer
esta	ou	aquela	 faculdade	processual	 (ou	ônus,	ou	dever,	ou	obrigação	etc.),	mas	 sim	para	 tornar	completa	a
relação	jurídica	processual.	E,	nesta	toada	segue	o	art.	252,	caput,	e	seu	prágrafo	único,	e	tantos	dispositivos	do
NCPC	(Lei	13.105/2015)	que	trocam	a	expressão	“réu”	por	“citando”,	quando	trata,	por	exemplo,	da	citação	por
hora	certa	que	também	poderá	ser	aplicada	ao	executado	como	aliás	há	muito	já	admite	a	jurisprudencia.	Ao
nosso	ver	o	NCPC	(Lei	13.105/2015),	inexplicavelmente,	não	teve	o	mesmo	rigor	ao	tratar	da	citação	por	edital,
pois	 usou	 diversas	 vezes	 a	 palavra	 “réu”,	 quando	 poderia	 ter	 usado	 “citando”	 justamente	 porque	 esta
modalidade	também	pode	ser	utilizada	in	executivis	(art.	256	e	§§	do	CPC/2015).
Outro	aspecto	que	merece	destaque	neste	tópico	é	a	regra	contida	no	art.	222,	d,	do	CPC/1973	não	foi	mantida
no	NCPC	 (Lei	13.105/2015).	Pelo	que	se	observa	no	art.	249	c/c	art.	247	do	NCPC	 (Lei	13.105/2015)	a	 regra	da
citação	pessoal	na	execução	passa	a	 ser	pelo	 correio	e	não	mais	por	oficial	de	 justiça.	Assim,	 tratando-se	de
processo	 de	 execução	 fundado	 em	 título	 executivo	 extrajudicial	 o	 executado	 será	 citado	 pelo	 correio	 para
integrar	a	relação	processual	executiva,	só	havendo	que	se	falar	em	citação	pessoal	do	executado	por	oficial	de
justiça	quando	frustrada	a	citação	pelo	correio,	nos	termos	do	art.	247	do	CPC/2015	(Lei	13.105/2015).
9.	A	invalidação	do	ato	negocial	realizado	na	execução	ou	no	cumprimento	de	sentença
Não	se	tratando	de	vício	contido	em	pronunciamento	judicial	de	mérito	transitado	em	julgado,	cujo	regime	de
invalidação	submete-se	à	ação	rescisória,	tem-se	no	art.	966,	§	4.º,	do	CPC/2015	(Lei	13.105/2015),	no	capítulo	da
ação	rescisória	(melhor	seria	no	capítulo	dedicado	à	invalidades	e	nulidades),	a	possibilidade	de	anulação,	nos
termos	 do	 lei,	 dos	 “atos	 de	 disposição	 de	 direitos,	 praticados	 pelas	 partes	 ou	 por	 outros	 participantes	 do
processo	 e	 homologados	 pelo	 juízo,	 bem	 como	 os	 atos	 homologatórios	 praticados	 no	 curso	 da	 execução”	 (e
também	no	cumprimento	de	sentença,	sejam	anulados	nos	termos	da	lei).
Este	dispositivo	é	novo	e	de	certa	 forma	substitui	o	 (antigo	e	mal	redigido)	art.	486	do	CPC/1973,	mas	não	as
hipóteses	de	que	cuida,	pois	bem	se	sabe	que	uma	das	hipóteses	mais	comuns	de	anulação	de	atos	 jurídicos
negociais	 realizados	 no	 curso	 do	 processo	 (atos	 que	 não	 se	 acobertam	 pela	 coisa	 julgada)	 estão	 no
procedimento	executivo.	Assim,	é	clássica	a	hipótese	do	art.	694,	§	1.º,	do	CPC/1973	que	prevê	a	anulação	da
arrematação,	 mormente	 quando	 já	 não	 seja	 possível	 a	 utilização	 dos	 embargos	 previstos	 no	 art.	 746	 do
CPC/1973.	 Assim,	 serve	 tal	 dispositivo	 para	 hipóteses	 de	 anulação	 de	 usufruto	 de	 bem	móvel	 ou	 imóvel,	 de
adjudicação	de	bem	penhorado	etc.	Enfim,	será	necessário	que	se	respeite	os	requisitos	e	pressupostos	legais
exigidos	para	a	decretação	da	invalidade	e	com	o	respeito	ao	devido	processo	legal.
Em	nosso	sentir	não	fez	bem	o	NCPC	(Lei	13.105/2015)	em	cuidar	da	invalidação	dos	atos	das	partes	e	sujeitos
do	processo	que	não	dependam	de	sentença	num	dispositivo	inserto	no	capítulo	da	ação	rescisória,	afinal	de
contas	tais	remédios	são	utilizados	para	fins	diversos	com	fundamentos	igualmente	diferentes.	Em	matéria	de
execução	 ainda	 prescreve	 o	 art.	 903,	 §	 4.º,	 que	 “após	 a	 expedição	da	 carta	 de	 arrematação	 ou	da	 ordem	de
entrega,	 a	 invalidação	 da	 arrematação	 poderá	 ser	 pleiteada	 por	 ação	 autônoma,	 em	 cujo	 processo	 o
arrematante	figurará	como	litisconsorte	necessário”.
10.	A	efetivação	da	tutela	provisória
O	Livro	V	foi	dedicado	à	tutela	provisória,	subdividindo-a	em	tutela	de	urgência	e	de	evidencia.	A	rigor,	a	tutela
provisória	é	uma	técnica	processual	que	permite,	com	cognição	sumária	a	obtenção	do	resultado	antes	de	um
momento	 típico,	 sob	 fundamentos	de	urgência	 (cautelar	 ou	 satisfativo)	 ou	 evidência	do	direito	postulado.	O
legislador,	enfim,	seguiu	a	orientação	doutrinária	e	jurisprudencial,	e	tratou	a	tutela	antecipatória	cautelar	e	a
tutela	antecipatória	satisfativa	sob	o	mesmo	tronco	único	da	urgência.
Na	linha	do	atual	art.	273,	§	3.º,	do	CPC/1973,	o	NCPC	(Lei	13.105/2015)	manteve	o	regime	jurídico	da	execução
provisória	de	urgência	no	art.	297,	in	verbis:
“Art.	297.	O	juiz	poderá	determinar	as	medidas	que	considerar	adequadas	para	efetivação	da	tutela	provisória.
Parágrafo	único.	A	efetivação	da	tutela	provisóriaobservará	as	normas	referentes	ao	cumprimento	provisório
da	sentença,	no	que	couber.”
Assim,	 os	 princípios	 atinentes	 à	 efetivação	provisória	 do	 cumprimento	de	 sentença	 são	 emprestados	 para	 a
efetivação	imediata	da	tutela	provisória.	Contudo,	a	forma	imediata	de	cumprimento	da	ordem	não	se	coaduna
com	a	formação	do	instrumento	que	ainda	se	dá	na	modalidade	de	efetivação	provisória	do	cumprimento	de
sentença	que	agora	encontra-se	no	art.	520	do	CPC/2015	(Lei	13.105/2015).
É	 de	 se	 notar,	 entretanto,	 que	 o	 regime	 jurídico	 da	 efetivação	 da	 tutela	 provisória	 de	 urgência,	 cautelar	 ou
satisfativa,	não	parece	 ser	o	mesmo	da	 tutela	 de	 evidência,	muito	 embora	 o	Capítulo	 I	 deste	 Título	 reuna	 as
disposições	 gerais	 para	 as	 duas	 modalidades	 de	 tutela	 (urgência	 e	 evidencia)	 e	 o	 art.	 298	 esteja	 nestas
disposições	gerais.	E	tal	conclusão	se	chega	a	partir	do	fato	de	que	o	regime	jurídico	executivo	diferenciado	da
execução	 da	 tutela	 de	 urgência	 tem	 razão	 de	 ser,	 justamente,	 por	 causa	 deste	 móvel	 que	 é	 a	 urgência	 na
realização	 da	 tutela	 sob	 pena	 de	 perecimento	 do	 direito.	 O	 móvel	 da	 tutela	 da	 evidencia	 é	 a	 distribuição
racional	e	equitativa	do	ônus	do	tempo	no	processo,	e,	apenas	quando	proferida	liminarmente,	por	modalidade
de	técnica	antecipatória	(liminar)	é	que	deve	seguir	o	regime	de	efetivação	imediata.
11.	Efeitos	da	sentença	e	reflexos	na	tutela	executiva
Já	na	parte	especial,	e,	precisamente	no	Livro	I	“do	processo	de	conhecimento	e	do	cumprimento	de	sentença”	e
dentro	do	Título	I	“do	procedimento	comum”,	no	seu	Capítulo	XIV	“da	sentença	e	coisa	julgada”,	na	Seção	II	“dos
elementos,	 dos	 requisitos	 e	 dos	 efeitos	 da	 sentença”	 o	 NCPC	 (Lei	 13.105/2015)	 traz	 regras	 sobre	 efeitos	 da
sentença	que	tocam	diretamente	a	tutela	jurisdicional	executiva.
A	primeira	delas	consta	no	art.	491	do	CPC/2015	que	assim	diz:
“Art.	 491.	 Na	 ação	 relativa	 à	 obrigação	 de	 pagar	 quantia,	 ainda	 que	 formulado	 pedido	 genérico,	 a	 decisão
definirá	desde	logo	a	extensão	da	obrigação,	o	índice	de	correção	monetária,	a	taxa	de	juros,	o	termo	inicial	de
ambos	e	a	periodicidade	da	capitalização	dos	juros,	se	for	o	caso,	salvo	quando:
I	–	não	for	possível	determinar,	de	modo	definitivo,	o	montante	devido;
II	–	a	apuração	do	valor	devido	depender	da	produção	de	prova	de	realização	demorada	ou	excessivamente
dispendiosa,	assim	reconhecida	na	sentença.
§	1.º	Nos	casos	previstos	neste	artigo,	seguir-se-á	a	apuração	do	valor	devido	por	liquidação.
§	2.º	O	disposto	no	caput	também	se	aplica	quando	o	acórdão	alterar	a	sentença.”
Da	 forma	 como	 colocou	 o	 legislador	 está	 clara	 a	 intenção	 de	 evitar	 ao	 máximo	 a	 realização	 da	 fase	 de
liquidação	de	sentença,	e	se	inevitável	for,	torná-la	mais	simples,	afinal	de	contas	ela	sempre	acaba	sendo	mais
um	incidente	protelatório	e	violador	da	duração	razoável	do	processo.
O	pedido	genérico	não	é	mais	uma	faculdade	do	autor	ao	propor	a	demanda,	como	dá	a	entender	o	art.	286	do
CPC/1973.	 Só	 será	 genérica	 a	 condenação	 em	 duas	 situações:	 (i)	 não	 seja	 possível	 desde	 logo	 liquidar	 o
montante	devido	ou;	(ii)	a	apuração	do	valor	dependa	de	prova	demorada	ou	dispendiosa,	que	aliás,	já	deve	ser
fixada	a	sua	modalidade	na	própria	sentença.
E,	mesmo	 para	 as	 hipóteses	 de	 futura	 liquidação	 ao	 proferir	 sentença	 o	magistrado	 (o	mesmo	 vale	 para	 os
acórdãos)	deve	 fazer	com	que	a	sentença	 já	contenha	todos	os	elementos	possíveis	para	a	 futura	 liquidação,
evitando	que	a	fase	liquidatória	seja	terreno	de	inúmeras	discussões	e	debates	que	comprometam	o	tempo	de
entrega	da	prestação	jurisdicional,	evitando-se	que	o	requerido	pretenda	revolver	questões	já	decididas.
Por	isso	determina	o	NCPC	(Lei	13.105/2015)	que	o	juiz	deve	elucidar	e	deixar	claro	na	sentença	a	extensão	da
obrigação,	 o	 índice	 de	 correção	 a	 ser	 utilizado,	 taxa	 de	 juros,	 termo	 inicial	 de	 ambos,	 a	 periodicidade	 da
capitalização	etc.	 Trocando	em	miúdos,	 se	não	 for	possível	na	prática	 fixar	na	 sentença	o	montante	devido,
deve	então	fixar,	pelo	menos,	a	extensão	da	obrigação	(danos	morais,	materiais	e	lucros	cessantes),	o	período
devido	de	lucros	cessantes,	qual	o	índice	de	correção	monetária	a	ser	utilizado	e	desde	quando	incide,	o	tipo	de
prova	que	será	feito	na	liquidação,	enfim,	tudo	de	forma	a	tornar	menos	problemática	a	liquidação	do	quantum
debeatur.
Em	 relação	 à	 tutela	 específica	 das	 obrigações	 de	 fazer	 e	 não	 fazer	 e	 de	 entrega	 de	 coisa	 fundada	 em	 título
judicial	o	NCPC	(Lei	13.105/2015)	 foi	mais	organizado	que	o	CPC/1973	que	tantas	vezes	foi	enxertado	por	 leis
extravagantes	que	cuidaram	deste	 tema.	Agora,	há	um	tópico	do	 julgamento	destas	modalidades	de	demanda
(art.	497	e	ss.	do	CPC/2015)	e	um	outro	dedicado	ao	cumprimento	de	sentença	que	reconheça	a	exigibilidade	de
obrigação	de	fazer,	não	fazer	e	entregar	coisa	(art.	536	e	ss.	do	CPC/2015).	Conquanto	a	redação	do	caput	do	art.
497	seja	muito	parecida	com	a	redação	do	caput	do	art.	536,	o	que	se	observa	nos	dispositivos	subsequentes	de
cada	um	deles	é	que	o	legislador	realmente	deixou	para	o	art.	536	e	ss.	aspectos	mais	próprios	da	execução.
No	art.	 497,	parágrafo	único,	do	CPC/2015	 (Lei	13.105/2015),	 acolhe	a	posição	da	doutrina	e	 jurisprudência	e
atribui	ao	conceito	de	tutela	específica	um	sentido	mais	largo,	abraçando	não	apenas	a	tutela	inibitória	ou	de
remoção	do	ilícito,	mas	também	a	ressarcitória	 in	natura	do	dano.	Assim,	tanto	se	presta,	por	exemplo,	para
evitar	um	dano	ao	meio	ambiente,	inibindo	ou	removendo	um	ilícito,	como	também	se	presta	para	determinar
o	reflorestamento	de	uma	área	já	desmatada,	em	típico	caso	de	ressarcimento	in	natura.
“Art.	497.	Na	ação	que	tenha	por	objeto	a	prestação	de	fazer	ou	de	não	fazer,	o	 juiz,	se	procedente	o	pedido,
concederá	a	tutela	específica	ou	determinará	providências	que	assegurem	a	obtenção	de	tutela	pelo	resultado
prático	equivalente.
Parágrafo	 único.	 Para	 a	 concessão	 da	 tutela	 específica	 destinada	 a	 inibir	 a	 prática,	 a	 reiteração	 ou	 a
continuação	 de	 um	 ilícito,	 ou	 a	 sua	 remoção,	 é	 irrelevante	 a	 demonstração	 da	 ocorrência	 de	 dano	 ou	 da
existência	de	culpa	ou	dolo.”
Assim,	 a	 efetivação	 desta	 modalidade	 de	 tutela	 será	 lastreada	 num	 genuíno	 provimento	 interdital	 ou
condenatório.
Por	sua	vez,	no	art.	498	do	CPC/2015	–	que	cuida	da	obrigação	de	entrega	de	coisa	–	o	legislador	avançou	em
tema	mais	próximo	da	tutela	executiva,	pois	prescreve	que	“ao	conceder	a	tutela	específica,	fixará	o	prazo	para
o	cumprimento	da	obrigação”.	Neste	particular,	manteve	o	defeito	do	art.	461-A	do	CPC/1973	que	foi	de	tratar
toda	e	qualquer	pretensão	de	entrega	de	coisa	como	se	fosse	ela	fundada	em	direito	obrigacional,	quando	se
sabe,	 por	 exemplo,	 que	numa	ação	de	 imissão	de	 posse	não	haveria	 que	 se	 falar	 em	 fixação	de	 prazo	para
cumprimento	da	entrega	de	coisa,	devendo	a	sentença	conter,	ela	mesma,	o	decreto	de	busca	e	apreensão	da
coisa	ou	imissão	na	posse	em	favor	de	quem	foi	dada	a	tutela.
Em	 relação	 aos	 efeitos	 da	 declaração	 de	 vontade	 não	 emitida	 o	 NCPC	 (Lei	 13.105/2015)	 economizou	 nos
dispositivos	que	tratam	do	tema,	já	que	no	CPC/1973	os	arts.	466-A,	B	e	C	são	aplicáveis	a	estes	tipos	específicos
de	tutela	de	obrigação	de	fazer.	E	fez	bem	mais	uma	vez	o	NCPC	(Lei	13.105/2015),	pois	é	bastante	e	suficiente	a
regra	do	novel	art.	501,	tendo	em	vista	que	ou	a	sentença	valerá	como	a	declaração	não	emitida	ou	então	ter-se-
á	que	resolver	em	perdas	e	danos	a	referida	obrigação	de	fazer:
“Art.	501.	Na	ação	que	tenha	por	objeto	a	emissão	de	declaração	de	vontade,	a	sentença	que	julgar	procedente	o
pedido,	uma	vez	transitada	em	julgado,	produzirá	todos	os	efeitos	da	declaração	não	emitida.”
Nos	casos	em	que	exista	uma	obrigação	de	realizar	um	contrato,	e,	não	simplesmente	de	conclui-lo	com	uma
assinatura,	não

Continue navegando