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Fenômenos de Transporte II Prof. Esp. Germano Ribeiro Página 1 FENÔMENOS DE TRANSPORTE II CALOR E MASSA FACULDADES OWALDO CRUZ – ESQ PROF. ESP. GERMANO RIBEIRO Fenômenos de Transporte II Prof. Esp. Germano Ribeiro Página 2 Fenômenos de Transporte II – Calor e massa O processo de transporte é caracterizado pela tendência ao equilíbrio, que é uma condição onde não ocorre nenhuma variação. Os fatos comuns a todos os processos de transporte são: A Força Motriz – O movimento no sentido do equilíbrio é causado por uma diferença de potencial O Transporte – Alguma quantidade física é transferida O Meio – A massa e a geometria do material onde as variações ocorrem afetam a velocidade direção do processo Como exemplos, podemos citar: Os raios solares aquecem a superfície externa de uma parede e o processo de transferência de calor faz com que energia seja transferida através da parede, tendendo a um estado de equilíbrio onde a superfície interna será tão quente quanto à externa. Quando um fluido está entre duas placas paralelas e uma delas se movimenta, o processo de transferência de quantidade de movimento faz com que as camadas de fluido adjacentes à elas se movimentem com velocidade próxima à da mesma, tendendo a um estado de equilíbrio onde a velocidade do fluido varia de V na superfície da placa em movimente até 0 na superfície da placa estacionária. Uma gota de corante é colocada em recipiente com água e o processo de transferência de massa faz com que o corante se difunda através da água, atingindo um estado de equilíbrio, facilmente detectado visualmente. INTRODUÇÃO À TRANSFERÊNCIA DE CALOR Transferência de calor (ou Calor) é energia em trânsito devido a uma diferença de temperatura. Sempre que existir uma diferença de temperatura em um meio, ou entre meios, ocorrerá transferência de calor. Se dois corpos são colocados em contato direto, como mostra a figura abaixo haverá uma transferência de calor do corpo de maior, para o de menos temperatura até o ponto em que ocorra o equilíbrio térmico. A condição de equilíbrio é aquela na qual há o menor desprendimento possível de energia do sistema. Nas definições acima está implícito que um corpo não contém calor. O calor é identificado quando cruza a fronteira de um sistema. Desta forma pode – se determinar que o calor é um fenômeno transitório, que cessa quando não existe mais uma diferença de temperaturas. Os diferentes processos de transferência de calor podem também ser denominados de mecanismos de transferência de calor. São três os tipos de ocorrência deste fenômeno. Fenômenos de Transporte II Prof. Esp. Germano Ribeiro Página 3 1. Condução O fenômeno da condução ocorre quando a transferência de energia ocorre em meio estacionário, que pode ser um fluído ou um sólido, em função de um gradiente de temperatura. Usualmente a condução ocorre em meio sólido, porém, quando se assume um meio estacionário é possível que ocorra a condução em um meio líquido. No exemplo abaixo há uma parede submetida a diferentes temperaturas em suas faces, assim como, a direção do fluxo de energia. 2. Convecção A convecção ocorre quando há transferência de energia entre um fluído, seja ele um líquido ou ar, e um meio sólido, basicamente a troca térmica entre um fluído e uma superfície com diferença de temperaturas entre eles. Abaixo o um exemplo de uma placa aquecida sendo resfriada por um fluído. OBS: a temperatura do fluído é classificada como T∞ porque diferentes massas do fluído passarão por um ponto específico da placa, desta forma, sempre “renovando” a capacidade de troca térmica daquele local. 3. Radiação A radiação está presente em praticamente todos os fenômenos de troca térmica, porém, sua caracterização se identifica pela ausência de um meio interveniente. Quando ocorre uma troca líquida de energia (através de ondas eletromagnéticas) entre dois meios fica evidente este fenômeno. Abaixo um exemplo deste fenômeno. Fenômenos de Transporte II Prof. Esp. Germano Ribeiro Página 4 MECANISMOS COBINADOS Os mecanismos de transferência de calor, na grande maioria dos casos não ocorrem de forma isolada, isto é, existem pelo menos aos pares atuando ao mesmo tempo em um corpo ou sistema. Para efeito dos problemas de engenharia pode – se desconsiderar um deles. Essa simplificação pode ser feita desde que os efeitos deste mecanismo não gerem grande influência sobre o todo. Uma consideração deve ser feita: durante o processo de transferência de energia, casos as condições de processo sejam alteradas de alguma forma, se deve fazer uma nova avaliação para ter a certeza de que um efeito anteriormente desconsiderado não passe a ter relevância para os cálculos. Para o projeto de uma simples garrafa térmica, devem ser inicialmente considerados oito mecanismos de troca térmica, conforme esquema abaixo: No caso acima a troca térmica representada por “q8” pode ser desconsiderada para projeto do produto, visto que a troca entre a parede externa da garrafa e a parede do ambiente no qual a mesma estará é extremamente baixa. Vale ressaltar que as escolhas dos materiais de construção também são de fundamental importância no projeto, reduzindo ou aumentando a eficiência da troca térmica associada em função das características dos mesmos. Fenômenos de Transporte II Prof. Esp. Germano Ribeiro Página 5 CONDUÇÃO Conforme já estudado a condução é um fenômeno de transferência de energia através de um solido, ou de um fluído em regime estacionário, desde que exista uma diferença de temperatura entre as extremidades do meio. A principal equação para os trabalhos de condução é a Lei de Fourier, esta lei é baseada em vasta experimentação, isto é, foi desenvolvida empiricamente através de diversos experimentos e ensaios. Para uma melhor entendimento desta lei será analisada uma barra cilindra de ferro: Variando – se a temperatura entre as extremidades, o comprimento e a secção transversal pela qual há o fluxo contínuo é possível observar a seguinte proporcionalidade: O fator da proporcionalidade pode ser traduzido em uma equação através de uma característica do material: a condutividade térmica. A condutividade é característica de cada material e é tabelada, desta forma, possibilitando determinar a variação de temperatura entre as extremidades e a quantidade de calor trocado. O fator k varia de acordo com o material, temperatura e constituição físico – química do mesmo. Quanto maior o valor de k melhor condutor térmico é o mesmo e quanto menor, melhor isolante térmico será o mesmo. Alguns materiais como o cobre e o alumínio o fator k varia muito pouco com a temperatura, porém, alguns tipos de aço possuem grande variação de k com pequenas variações de temperaturas. Como condição de contorno adota – se o valor de k em função de faixas de temperaturas. Pode – se observar a unidade de k da seguinte forma: Desta forma a Lei de Fourier fica com a seguinte configuração: Fenômenos de Transporte II Prof. Esp. Germano Ribeiro Página 6 Sendo: q° fluxo de calor por condução (Kcal / h) k condutividade térmica do material A área da secção através da qual o calor flui. Esta área é medida perpendicularmente à direção na qual o calor flui (m2) IMPORTANTE: na Lei de Fourier o sinal negativo se deve ao fato do fluxo de calor sempre ocorrer no sentido da fonte mais fria no processo. A temperatura diminui à medida que a distância aumenta, desta forma, o sinal negativo garanteque o fluxo de energia em si será positivo. CONDUÇÃO – PAREDE PLANA A transferência de calor através de uma parede plana possui grande aplicação nos problemas de engenharia, como por exemplo, retenção de calor em fornos, ou sistemas de resfriamento. Para determinação deste tipo de mecanismo de troca térmica será analisado um caso que pode ser generalizado para o todo. Será estudada a parede de um forno submetida á duas temperaturas distintas em suas extremidades. Para a construção deste forno, considerar uma espessura L, material com condutividade k, e temperaturas T1 e T2 (ambas constantes), assim como área A de secção transversal ao fluxo térmico. Pode – se aplicar a Lei de Fourier para o caso particular Através da separação das variáveis: Na face interna do forno a temperatura é T1 e é considerado o “zero” para efeito do comprimento, na extremidade de fora da parede temos T2 e comprimento L. Algumas hipóteses devem ser adotadas para este tipo de configuração: Regime permanente (estacionário): a temperatura em cada ponto é independente do tempo Área da secção transversal: deve ser constante por todo o meio de troca térmica Fenômenos de Transporte II Prof. Esp. Germano Ribeiro Página 7 Condutividade k: será considerada constante ao longo do material e com as variações de temperaturas existentes. Desta forma, temos: Sendo (T1 – T2) a diferença de temperatura entre as fases, podemos definir que: Para um melhor entendimento da equação e do propósito da mesma será analisado um quadro com variáveis que influenciam na transferência de calor. Na tabela abaixo o objetivo é a redução de perda térmica em um forno, por exemplo: Nota: Trocar a parede ou reduzir a temperatura interna podem ser ações de difícil implantação, porém, a colocação de isolamento térmico sobre a parede cumpre ao mesmo tempo as ações de redução da condutividade térmica e aumento de espessura da parede. EXERCÍCIO PROPOSTO Um equipamento condicionador de ar deve manter uma sala, de 15 m de comprimento, 6 m de largura e 3 m de altura a 22 °C. As paredes da sala, de 25 cm de espessura, são feitas de tijolos com condutividade térmica de 0,14 Kcal/h.m.°C e a área das janelas são consideradas desprezíveis. A face externa das paredes pode estar até a 40 °C em um dia de verão. Desprezando a troca de calor pelo piso e teto, que estão bem isolados, pede-se o calor a ser extraído da sala pelo condicionador ( em HP ). Dado: 1HP = 641,2 Kcal/h. Resolução: Deve se considerar as seguintes hipóteses Regime permanente Condutividade térmica constante Área da secção transversal constante Fenômenos de Transporte II Prof. Esp. Germano Ribeiro Página 8 Através deste exemplo é possível avaliar a importância do conhecimento das características térmicas e do comportamento das mesmas. Para o mesmo exercício determine a nova potência, porém, agora, considerando o teto e o piso e a janelas com 4 m2 e condutividade 0,20 Kcal /h.m.°C. ANALOGIA ENTRE RESISTÊNCIA TÉRMICA E ELÉTRICA Diversos são os pontos nos quais há relação e analogia entre situações distintas. Existe uma analogia entre difusão de calor e carga elétrica. Da mesma forma que uma resistência elétrica esta associada a condução de eletricidade uma resistência térmica está associada com condução de calor. Por definição resistência é a razão entre o potencial motriz pela taxa de transferência, isto é, pelo fator que gera a força pela taxa na qual a mesma ocorre. O fato de dois sistemas serem análogos faz com que eles possuam características semelhantes e obedeçam a equações semelhantes. Podemos arranjar a equação que já trabalhamos da seguinte forma: A lei de Ohm estabelece a resistência elétrica de forma similar. Fenômenos de Transporte II Prof. Esp. Germano Ribeiro Página 9 Simplificando – se temos a seguinte leitura: Sendo: ΔT – Potencial térmico R – Resistência térmica da parede A equação simplificada para o sistema elétrico Baseando – se nessa analogia pode – se utilizar uma notação semelhante, tanto para sistemas elétricos, como para os sistemas de transferência de calor: ASSOCIAÇÃO DE PAREDES PLANAS EM SÉRIE Novamente para estudo deste fenômeno vamos adotar um exemplo de aplicação prática dos conceitos envolvidos para estudarmos este evento. Consideremos uma parede composta com paredes associadas em série, isto é, uma parede com diversos materiais envolvidos na sua construção. A parede de um forno é composta por três paredes de materiais distintos internamente uma parede de refratário (k1, L1), uma camada intermediária de isolante térmico (k2, L2) e uma camada externa de chapa de aço (k3, L3). O fluxo de calor irá atravessar todas as três paredes através de um regime permanente e contínuo, conforme esquema: Fenômenos de Transporte II Prof. Esp. Germano Ribeiro Página 10 O calor que atravessa a parede composta, pode ser analisado inicialmente considerando a quantidade de calor que atravessa parede por parede. Considerando – se que as paredes estão em contato direto (sólido – sólido) há a condução. Pode – se colocar as diferença de temperaturas em evidência: Observa – se que o calor está presente em todos os termos da equação desta forma pode – se colocar o mesmo em evidência: Desta forma, se obtém a equação geral para paredes com “n” componentes com associações em série: Fenômenos de Transporte II Prof. Esp. Germano Ribeiro Página 11 ASSOCIAÇÃO DE PAREDES PLANAS EM PARALELO O conceito é bastante similar ao adotado para as paredes planas associadas em série, porém, agora a associação é em paralelo. As condições são as mesmas adotadas para todos os demais eventos estudados, regime permanente e fluxo térmico contínuo. São feitas as seguintes considerações: Todas as paredes envolvidas na transferência de calor estão sujeitas às mesmas diferenças de temperatura. As paredes podem ser de materiais e dimensões diferentes. Assim como na parede associada em paralelo o calor também pode ser analisado individualmente em cada parede. O fluxo de calor total no sistema, será a soma da contribuição de cada parede: Desta forma, podemos considerar a equação geral para uma parede composta em paralelo: Fenômenos de Transporte II Prof. Esp. Germano Ribeiro Página 12 Exercício Uma camada de material refratário ( k=1,5 kcal/h.m.oC ) de 50 mm de espessura está localizada entre duas chapas de aço ( k = 45 kcal/h.moC) de 6,3 mm de espessura. As faces da camada refratária adjacentes às placas são rugosas de modo que apenas 30 % da área total está em contato com o aço. Os espaços vazios são ocupados por ar ( k=0,013 kcal/h.m.oC) e a espessura média da rugosidade de 0,8 mm. Considerando que as temperaturas das superfícies externas da placa de aço são 430 oC e 90 oC, respectivamente. Determine o fluxo de calor que se estabelece na parede composta. OBS: Na rugosidade, o ar está parado (considerar apenas a condução). Exercício Uma parede de um forno é constituída de duas camadas: 0,20 m de tijolo refratário (k = 1,2 kcal/h.m.oC) e 0,13 m de tijolo isolante (k = 0,15 kcal/h.m.oC). A temperatura da superfície interna do refratário é 1675 oC e Fenômenos de Transporte II Prof. Esp. Germano Ribeiro Página 13 a temperatura da superfície externado isolante é 145 oC. Desprezando a resistência térmica das juntas de argamassa, calcule: a) o calor perdido por unidade de tempo e por m2 de parede; b) a temperatura da interface refratário/isolante. TRANSFERÊNCIA DE CALOR ATRVÉS DE CONFIGURAÇÕES CILINDRICAS Para efeito de estudo desta configuração vamos considerar um cilindro vazado um tubo, por exemplo, conforme segue esquema abaixo: O conceito da Lei de Fourier também é válido para esta configuração, isto é, a mesma Lei pode ser utilizada se fazendo os devidos ajustes na modelagem matemática envolvida. Nesta leitura da Lei de Fourier a relação dT/dr é o gradiente de temperatura na direção radial. Em configurações cilíndricas a área de troca térmica é a do corpo do mesmo, sendo: Fenômenos de Transporte II Prof. Esp. Germano Ribeiro Página 14 Substituindo – se na equação de Fourier teremos: Seguindo o mesmo procedimento que foi seguido até o momento, podemos separar as variáveis e assumir as hipóteses Neste momento, se faz uso das propriedades dos logaritmos: Todos os conceitos referentes à analogia entre os sistemas de transferência de calor e de condução elétrica também são válidos para esta configuração. Para a parede cilíndrica temos: Para configurações cilíndricas o caso com real aplicabilidade é o das paredes em série e, novamente, se fazendo analogia com as paredes planas, temos: Fenômenos de Transporte II Prof. Esp. Germano Ribeiro Página 15 Exercício Um tubo de aço ( k = 35 kcal/h.m.°C ) tem diâmetro externo de 3”, espessura de 0,2”, 150 m de comprimento e transporta amônia a -20 °C (convecção na película interna desprezível). Para isolamento do tubo existem duas opções: isolamento de borracha (k = 0,13 kcal/h.m.°C ) de 3” de espessura ou isolamento de isopor ( k = 0,24 kcal/h.m.oC ) de 2” de espessura. Por razões de ordem técnica o máximo fluxo de calor não pode ultrapassar 7000 Kcal/h. Sabendo que a temperatura na face externa do isolamento é 40 °C, pede-se: a) As resistências térmicas dos dois isolamentos; b) Calcule o fluxo de calor para cada opção de isolante e diga qual isolamento deve ser usado; c) Para o que não deve ser usado, calcule qual deveria ser a espessura mínima para atender o limite. TRANSFERÊNCIA DE CALOR ATRVÉS DE CONFIGURAÇÕES ESFÉRICAS O estudo das esferas segue o mesmo racional adotado até o momento no nosso curso. Analisemos o caso abaixo: Fenômenos de Transporte II Prof. Esp. Germano Ribeiro Página 16 Novamente os conceitos da Lei de Fourier são válidos. O gradiente de temperaturas ocorrerá entre as extremidades interna e externa da esfera. A área de troca térmica é toda a superfície da esfera, sendo modelada como: Aplicando – se a nova área na Lei de Fourier: Seguindo o mesmo procedimento que foi seguido até o momento, podemos separar as variáveis e assumir as hipóteses. Todos os conceitos referentes à analogia entre os sistemas de transferência de calor e de condução elétrica também são válidos para esta configuração. Para a configuração esférica temos: Fenômenos de Transporte II Prof. Esp. Germano Ribeiro Página 17 Exercício Um tanque de aço (k = 40 Kcal/h.m.°C), de formato esférico e raio interno de 0,5 m e espessura de 5 mm, é isolado com 1½" de lã de rocha (k = 0,04 Kcal/h.m.°C). A temperatura da face interna do tanque é 220 oC e a da face externa do isolante é 30 °C. Após alguns anos de utilização, a lã de rocha foi substituída por outro isolante, também de 1½" de espessura, tendo sido notado então um aumento de 10% no calor perdido para o ambiente (mantiveram-se as demais condições). Determinar: a) fluxo de calor pelo tanque isolado com lã de rocha; b) o coeficiente de condutividade térmica do novo isolante; c) qual deveria ser a espessura (em polegadas) do novo isolante para que se tenha o mesmo fluxo de calor que era trocado com a lã de rocha.
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