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Introdução à Assistência 
Farmacêutica
Aula 2 - Saúde no Brasil – Parte II
INTRODUÇÃO
Nesta aula, continuaremos a estudar os fatos históricos que marcaram o desenvolvimento do sistema de saúde brasileiro 
durante o século XX, a partir de onde paramos: o ano de 1930.
Sobre esse período, vale lembrar que a crise do setor de exportação e o consequente aumento da dívida criaram 
condições propícias para a Revolução de 1930.
Bons estudos!
OBJETIVOS
Recordar os fatos históricos marcantes para o desenvolvimento do sistema de saúde brasileiro no século XX – entre os 
anos 1902-1906 e 1961-1990;
Listar as ações-chave para a proposta do Sistema Único de Saúde (SUS) na VIII Conferência Nacional de Saúde;
Identificar as mudanças no sistema de saúde brasileiro antes e depois da criação do SUS.
FATOS HISTÓRICOS (1930-1960)
Fonte da Imagem: LiliGraphie / Shutterstock, SJ Travel Photo and Video / Shutterstock e wikimedia
A partir de 1930, o Brasil esteve sob o comando político do presidente Getúlio Vargas, quando foi promovida uma 
reforma administrativa e política. Algumas mudanças marcaram intensamente as ações de saúde nesse período. 
Vejamos:
O Estado passou a garantir direitos sociais ao trabalhador.
As medidas adotadas caminhavam no sentido de manter a força de trabalho em condições de produção, valendo-se da assistência 
médica vinculada à Previdência Social, que, a partir de 1933, unificou as Caixas de Aposentadorias e Pensões (CAPs) e criou os 
Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPs).
Várias instituições de trabalho passaram a criar serviços de atendimento ambulatorial de caráter terapêutico e alguns em nível de 
reabilitação.
Em 1953, o Ministério da Saúde foi separado do Ministério da Educação, e àquele foi destinado apenas um terço dos recursos 
alocados ao antigo Ministério da Educação e Saúde.
Sobre esse período, precisamos fazer duas considerações importantes:
1. Após a unificação das CAPs, a gestão dos IAPs passou a ser estatal. Os IAPs eram criados por categorias 
profissionais, e não mais pelas empresas, como acontecia com as CAPs. Além disso, enquanto a assistência médica era 
prerrogativa fundamental das CAPs – por meio de uma rede própria –, os IAPs visavam à contenção de gastos e ao 
acúmulo de capital, que era direcionado para outras áreas de interesse do governo.
2. O Ministério da Educação e Saúde Pública foi criado em 1930, logo após a chegada de Getúlio Vargas ao poder. A 
instituição desenvolvia atividades pertinentes a vários ministérios, tais como os de saúde, esporte, educação e meio 
ambiente, comprometendo a qualidade dos serviços prestados. Por isso, a criação de um ministério exclusivo para a 
saúde foi muito importante.
FATOS HISTÓRICOS (1961-1990)
A partir de agora, vamos conhecer os principais acontecimentos que marcaram o desenvolvimento do sistema de saúde 
brasileiro no período entre 1961 e 1990. Observe:
Com o Golpe Militar de 1964, o poder foi assumido pelas Forças Armadas. Editou-se, 
então, o Ato Institucional-1, que suspendeu as garantias constitucionais, permitindo a 
cassação de mandatos e suspendendo direitos políticos.
Nesse ano, a primeira medida do Ministério do Trabalho foi a intervenção nos IAPs e a 
consequente suspensão da participação dos representantes dos empregados e 
empregadores no desenvolvimento dos programas de saúde.
As consequências vieram em 1967, com a 
criação do Instituto Nacional da 
Previdência Social (INPS), que unificou 
todos os institutos, concentrando recursos 
financeiros e ampliando a compra de 
serviços da rede privada.
Assim, o INPS passou a ser o grande 
comprador dos serviços privados de saúde, 
estimulando o exercício da prática médica 
pela lógica do lucro e a expansão da 
medicina de grupo. Nessa modalidade de 
assistência, as empresas contratavam uma 
empresa médica para assistência a seus 
empregados, deixando de contribuir com o 
INPS.
Nesse período, ocorreu, também, a expansão 
da cobertura da assistência médica aos 
trabalhadores rurais, empregados 
domésticos, autônomos e para os casos de 
acidentes de trabalho, o que aumentava 
bastante os gastos já elevados da 
previdência, além de fraudes e corrupções 
frequentes.
A Lei nº 6.229/1975 (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6229.htm) criou o 
Sistema Nacional de Saúde. Através dessa Lei, foram definidas as responsabilidades 
das várias instituições, cabendo à Previdência Social a assistência individual e 
curativa, enquanto que os cuidados preventivos e de alcance coletivo ficaram sob a 
responsabilidade do Ministério da Saúde e das Secretarias Estaduais e Municipais de 
Saúde.
Mas, já fragilizado e com recursos limitados, o Ministério da Saúde tornou-se 
ineficiente para enfrentar os problemas de saúde da população, que, além das 
doenças infectocontagiosas, passou a sofrer com doenças crônico-degenerativas.
Na tentativa de promover a reordenação do 
sistema de saúde, foi criado o Sistema 
Nacional de Previdência e Assistência Social 
(SINPAS), que congregava:
• O Instituto de Administração Financeira da 
Previdência e Assistência Social (IAPAS), 
que gerenciaria o Fundo de Previdência de 
Assistência Social;
• O INPS, a quem competiria a concessão de 
benefícios e outras prestações em dinheiro, 
além de programas assistenciais;
• O Instituto Nacional de Assistência 
Médica da Previdência Social (INAMPS), 
que se responsabilizaria pela prestação de 
assistência médica individual aos 
trabalhadores urbanos e rurais;
• A Fundação Legião Brasileira de 
Assistência, voltada para a prestação de 
assistência social à população carente;
• A Central de Medicamentos (CEME) etc.
Esse movimento justificava-se pela 
racionalização e reorganização da saúde. 
Mas sua implantação repercutiu de forma 
totalmente diferente das proposições e 
acabou por fragmentar os poderes e dividir 
para diversos organismos as diferentes 
tarefas da previdência.
Com a crise financeira da saúde, no início de 1980, a proposta do movimento 
sanitário apresentava-se como forte reação às políticas de saúde implantadas, além 
de emergir como uma alternativa concreta para a reformulação do sistema.
Nos últimos anos do Regime Militar, o Brasil vivia uma grande crise econômica. Além 
disso, a ideia de liberdade expressa através do movimento das Diretas Já e a eleição 
de Tancredo Neves – que não chegou a assumir o mandato – incentivaram a 
movimentação social em favor da saúde e da redemocratização.
O processo de reforma sanitária, 
desencadeado por intelectuais e 
profissionais do Movimento Sanitário, 
impulsionou a realização da VIII Conferência 
Nacional de Saúde, que foi convocada, em 
1986, pelo Ministério da Saúde. Essa 
conferência foi fundamental para o 
desenvolvimento do atual sistema de saúde 
brasileiro.
A continuidade dos trabalhos iniciados a partir da VIII Conferência Nacional de Saúde 
culminou com a aprovação da Constituição Federal de 1988, que traz um título inteiro 
(Título VIII – Da ordem social) cujo Capítulo II – Da seguridade social apresenta uma 
seção dedicada à saúde (Seção II).
Além disso, há outros artigos que tratam do assunto.
O Artigo 196 é enfático ao definir que a saúde é direito de todos e dever do Estado, e 
que deve garantir o acesso universal e igualitário às ações e aos serviços para sua 
promoção, proteção e recuperação.
O Artigo 197 determina que as ações e os serviços de saúde são de relevância 
pública, cabendo ao Poder Público dispor sobre sua regulamentação, sua fiscalização 
e seu controle. Sua execução deve ocorrer diretamente ou através de terceiros.
O Artigo 198 define que o financiamento do sistema de saúde será feito com recursos 
do orçamento da Seguridade Social, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos 
Municípios, além de outras fontes.
O dispositivo determina, também, que as ações e os serviços públicosde saúde 
integram uma rede regionalizada e hierarquizada, bem como constituem um sistema 
único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes:
• Descentralização, com direção em cada esfera de governo;
• Atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas e sem prejuízo 
das atividades curativas;
• Participação da comunidade.
ATUALMENTE, O SUS CONSEGUE GARANTIR ESSES DIREITOS 
CONSTITUCIONAIS?
Fonte da Imagem: nelelena / Shutterstock
A implantação do SUS trouxe muitos desafios. Um deles foi a mudança do modelo assistencial, caracterizado pela 
assistência médica individual e curativa, associada a uma utilização irracional de medicamentos e à pouca resolutividade 
dos problemas de saúde da população.
Mas, apesar das dificuldades, esse processo de implantação está em permanente construção, e sua regulamentação 
aconteceu por meio das Leis Orgânicas da Saúde – Lei nº 8.080/1990 e Lei nº 8.142/1990 –, sobre as quais 
discutiremos na próxima aula.
ATIVIDADE PROPOSTA
Chegou a hora de exercitar o que você aprendeu!
Visite o site da Biblioteca Digital da Câmara dos Deputados (glossário) e acesse a Constituição da República Federativa 
do Brasil. Em seguida, identifique as atribuições do SUS nos termos da lei.
Resposta Correta
Glossário
ATO INSTITUCIONAL-1
Criado em 9 de abril de 1964 por uma junta militar, este Ato Institucional tinha como objetivo fortalecer o Regime Militar, além de 
evitar que os políticos depostos e a oposição se reorganizassem para combater o regime.
REFORMA SANITÁRIA
Projeto articulado no Brasil ao longo dos anos 1970 e 1980, cujo objetivo era reformular o sistema de saúde. No período do Regime 
Militar, esse projeto aprofundou a característica de assistência médica curativa fortemente vinculada ao setor privado e lucrativo, 
excludente, pouco resolutivo e dispendioso. Além disso, o projeto preconizava a criação de um sistema único de saúde que acabaria 
com o duplo comando entre o Ministério da Saúde e o INAMPS – os quais executavam as ações de saúde em perspectivas 
antagônicas.
VIII CONFERÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE
Evento realizado na cidade de Brasília, em 1986, com a participação de representantes de diversos movimentos sociais. Nele, foram 
debatidos os princípios e as diretrizes da reforma sanitária, destacando-se o reconhecimento da saúde como direito de todos e dever 
do Estado, bem como a criação do Sistema Único de Saúde (SUS). A partir dessa conferência, foi instituída uma Comissão Nacional 
de Reforma Sanitária para o encaminhamento das propostas à Assembleia Nacional Constituinte.