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Aula 01 – Nascimento da Filosofia e os Pré-socráticos Introdução ao estudo de filosofia Antes de iniciar o assunto da primeira aula, é importante você ter em mente o que é a filosofia. Quando falamos da filosofia como uma disciplina que é cobrada no ENEM, NÃO estamos nos referindo à qualquer pensamento ou frase de aparência profunda e reflexiva. A filosofia enquanto matéria do ensino médio busca analisar as principais questões iniciadas pelos intelectuais da Grécia antiga, que viveram por volta do século VI e inovaram no modo de pensar. Sendo assim, estudar filosofia é conhecer os pensadores que se posicionaram sobre tais questões e se destacaram com suas contribuições para os grandes debates da humanidade. * COMO ESTUDAR FILOSOFIA Um dos grandes desafios de estudar filosofia é conseguir organizar todos os conceitos aprendidos, relacionando-os corretamente com os seus respectivos filósofos e autores. Tendo isto em vista, nós do Não Perca a Cabeça, trouxemos pra você duas sugestões de organização desse extenso conteúdo. Confira abaixo: a) História da Filosofia: Estudar filosofia através de sua história em ordem cronológica é uma das maneiras mais usuais nos dias de hoje. Para fazer isso, é necessário fracionar essa história em períodos: 1º período – Filosofia Antiga: Dos pré-socráticos até escolas helenísticas 2º período – Filosofia Medieval: Dos padres da Igreja até início do renascimento 3º período – Filosofia Moderna: De Descartes até Kant 4º período – Filosofia Contemporânea: De Schopenhauer até os dias de hoje b) Áreas de investigação (Temas): Outra maneira de organizar seus estudos é separar os assuntos por temas: I) Teoria do Conhecimento: Discussões que envolvem investigações sobre a aquisição de conhecimento e o processo de alcançar a verdade. II) Estética: Debates sobre o padrão de beleza. III) Ética: Investigação sobre o certo e o errado. IV) Política: Investigação sobre o modo justo de organizar a sociedade. A partir daí, você pode montar seu próprio caderno ou mapa mental inserindo os filósofos aprendidos em categorias que facilitem em um momento de consulta. * ORGANIZAÇÃO DAS AULAS: Você irá notar que a forma como nossas aulas estão organizadas tem como critério majoritário a história cronológica da filosofia. Por esse motivo, começaremos com o nascimento da filosofia e os pré-socráticos, que foram os primeiros filósofos: 1 - Nascimento da Filosofia A filosofia surge na Grécia antiga no século VI. Evidentemente, as civilizações que viveram antes do surgimento dela também tentavam explicar a origem de todas as coisas e os fenômenos naturais. Porém, a filosofia se diferencia das explicações usuais da época. Para ficar clara tal diferença, observe o esquema abaixo: I) Filosofia: Busca por explicações críticas e racionais, utilizando da cosmologia para explicar a natureza. II) Mitologia: Explicações fantasiosas e fictícias sobre a natureza, utilizando o recurso da cosmogonia. A) INFLUÊNCIA DA DEMOCRACIA Alguns historiadores afirmam que a democracia foi fundamental para o surgimento da filosofia, pois estimulou o debate e reflexão dos cidadãos. Por esse motivo, é importante conhecer a forma de organização política da Grécia antiga: a) Polis (cidade-estado): Pequenas comunidades politicamente independentes. b) Ágora: Espaço reservado para os debates entre os cidadãos e as decisões tomadas em conjunto na polis Atenas. c) Isonomia: Conceito que refere-se à igualdade entre os cidadãos, existente somente na polis Atenas. d) Democracia direta: Democracia existente em Atenas, onde o cidadãos participavam diretamente da política e não elegiam alguém para representa-lo. Obs.: Embora Atenas tivesse uma democracia e a aplicação do conceito de isonomia, somente alguns membros tinham direito à cidadania, que eram: Homens, adultos, livres e nascidos em Atenas. B) GEOGRAFIA DA GRÉCIA ANTIGA Os historiadores da filosofia acreditam que a dificuldade de cultivar maior variedade de alimentos devido às montanhas presentes na região em que estavam localizadas as cidades gregas, forçou o povo grego à estabelecer relações comerciais com outros povos. Principalmente com o oriente. As cidades helênicas circundavam o Mar Egeu, que faz a intercessão entre a Europa e Ásia. Por exemplo, a região onde ficava Éfeso é onde fica parte da Turquia nos dias de Hoje. Com isso, podemos concluir que o contato com os povos orientais contribui também para o surgimento da filosofia. Devemos também lembrar da proximidade que a região tinha com o continente africano, mais especificamente com o Egito. Tales de Mileto, por exemplo, teve contato com os mestres matemáticos do Egito. Obs.: O MITO DO “MILAGRE GREGO” -> Durante muito tempo, os eruditos europeus defendiam que a filosofia surgiu como um milagre na Grécia Antiga. Ignorando a importante influência africana e oriental. Evidentemente, essa interpretação da histórica é etnocêntrica, ou seja, subestima a relevância das outras culturas não europeias. (Fonte: Google Maps) 2 - Os pré-socráticos Foram os primeiros filósofos. Esses pensadores acreditavam que era possível conhecer a natureza na sua completude e que, para desvenda-la, era necessário identificar o elemento que deu origem à essa mesma natureza. Antes de prosseguir com a exposição desse assunto, é importante você aprender que os gregos possuíam expressões específicas para se referir à natureza e ao elemento originário. Tais expressões eram, respectivamente, Physis e Arché. A) CONCEITOS Physis -> Natureza. Arché -> Elemento originário (elemento primeiro). Porém, cada filósofo pré-socrático acreditava que a arché era um elemento específico. Segue abaixo, uma tabela dos principais pré-socráticos e suas respectivas archés. Filósofo pré-socrático Arché Tales Água Anaximenes Ar Anaximandro Indeterminado (Apeirón) Pitágoras Número Demócrito Átomo B) CITAÇÕES Conhecemos o pensamento dos Pré-Socráticos através de fragmentos dos próprios filósofos ou de contemporâneos que comentaram sobre eles. O segundo tipo de fragmentos nós podemos chamar de “doxografia”. Abaixo, listamos algumas citações que resumem bem o pensamento dos pré-socráticos citados acima: Tales de Mileto: “Tales afirmava que a terra flutua sobre a água. Mover-se-ia como um navio; e quando se diz que ela treme, em verdade flutuaria em consequência do movimento.“ (Sêneca, Nat. Quaest. III, 14). Anaximenes: “Anaxímenes de Mileto, filho de Euristrato, considerou o ar como princípio das coisas; todas as coisas dele provêm e todas as coisas nele se dissipam. Como nossa alma, que é ar, nos governa e sustém .“ (Aet. I, 3, 4). Anaximandro: “Anaximandro, companheiro de Tales, dizia que o ilimitado é totalmente responsável pela gênese e pela dissolução do universo.” Anaximandro: “Anaximandro, companheiro de Tales, dizia que o ilimitado é totalmente responsável pela gênese e pela dissolução do universo.” Pitágoras: “Os assim chamados pitagóricos, tendo-se dedicado às matemáticas, foram os primeiros à faze-las progredir. Dominando-as, chegaram à convicção de que o princípio da matemática é o princípio de todas as coisas.” (Aristóteles) Demócrito: “O Homem, um microcosmos.” (Demócrito) B) HERÁCLITO E PARMÊNIDES Heráclito e Parmênides foram dois filósofos pré-socráticos que se diferenciaram por tentarem definir, cada um a seu modo, a essência e identidade da natureza.Esse debate sobre a essência podemos chamar de “ontologia”. De um lado, tem-se a crença imobilista ou seja, de que a natureza NÃO muda. Do outro, a percepção mobilista que percebe que a natureza está em constante mudança. Veja abaixo a posição de cada um desses filósofos: HERÁCLITO PARMÊNIDES A essência sempre muda, A essência NÃO muda, logo, logo, tudo muda. nada muda. Aula 02 – Sócrates 1 – Quem foi Sócrates? Sócrates viveu em Atenas, no século V a.C. Com a democracia já consolidada nessa cidade-estado, era comum encontrar na Ágora (local onde ocorriam as assembleias para tomadas de decisões) pessoas que aparentavam ser sábias devido à sua retórica (arte de falar bem). Porém, esse filósofo percebeu que aqueles que se auto proclamavam sábios, na verdade, NÃO apresentavam um conhecimento muito profundo sobre a realidade. O que é muito ruim, pois conhecimentos superficiais podem nos fazer tomar decisões equivocadas. Além disso, devemos lembrar que nessa época a filosofia já existia, inaugurada pelos pré-socráticos no século VI a.C. Entretanto, é importante ressaltar que, entre os filósofos pré-socráticos, não existia um consenso. Sendo assim, era difícil dizer qual das teorias dos primeiros filósofos era a verdadeira. A partir dos pontos levantados acima, é possível identificar que Sócrates estava lidando com algumas questões de extrema relevância. Relevantes não apenas para o seu tempo, mas também, para toda humanidade até os dias de hoje. Veja: 1) O que é a verdade? 2) Como é possível encontrar a verdade? 3) Que verdade é capaz de nos tornar pessoas melhores? * História: Quem é o Homem mais sábio de toda Grécia? (Templo em Delfos) Querendo responder essas questões, Sócrates decidiu ir em busca do Homem mais sábio de toda Grécia. Para isso, decidiu consultar o Oráculo de Delfos, que era uma espécie de intermediário entre os mundos natural e sobrenatural. Chegando lá, o oráculo diz que próprio Sócrates era o Homem mais sábio. Descrente e indignado com essa resposta, Sócrates decide buscar por conta própria o detentor de toda sabedoria. Em sua empreitada, ele percebe que aqueles que eram considerados sábios, na verdade, poucas coisas sabiam, pois, quando confrontados, não conseguiam dar respostas fundamentas. Com isso, Sócrates percebeu que realmente ele era o Homem mais sábio de toda Grécia, pois ao menos uma coisa ele sabia, que era a sua própria ignorância. Sendo assim, nota-se que Sócrates identifica que o primeiro passo para encontrar a verdade é desconfiar do nosso próprio saber. * História: A morte de Sócrates. (A morte de Sócrates) Sócrates era uma figura popular em Atenas. Vivia cercado de discípulos, onde ensinava filosofia pelas praças e ruas da polis. Era convidado para festas e banquetes onde realizava intensos debates sobre as mais diversas questões. Porém, por ser uma pessoa questionadora e crítica, ganhou também muitos inimigos. Os principais inimigos de Sócrates eram os Sofistas, personagens que veremos na próxima aula. Os seus inimigos, em um dado momento, denunciaram o filósofo para o tribunal ateniense, acusando-o de ateísmo e corrupção da juventude. Nesse julgamento Sócrates é sentenciado à morte, onde deveria tomar a cicuta, um veneno mortal. Nos seus últimos momentos, reunido com seus discípulos, declara que a morte é motivo de alegria para qualquer filósofo, pois o corpo é a parte que padece, já alma, ficara livre para conhecer finalmente a verdade sem as limitações do corpo. O que será a deixa para a teoria um dos seus discípulos, o Platão. 2 – Organizando as ideias. Para facilitar seu estudo, organizamos para você o conteúdo sobre a filosofia socrática em tópicos. Veja abaixo: a) Antropologia É importante estabelecer a principal diferença da filosofia socrática e a dos filósofos pré-socráticos. Sócrates se diferencia por buscar estender a reflexão filosófica para assuntos que envolvem as relações humanas, como a ética e a política. Por esse motivo, podemos chama-lo de filósofo antropológico. b) A verdade Sócrates é um filósofo que defenderá a existência de uma verdade capaz de revelar e explicar a realidade em si, sem a interferência daquilo que é aleatório e passageiro. Porém, existe uma grande possibilidade de nossas crenças sobre essa realidade não passarem de opiniões não fundamentadas, sendo assim, crenças que apenas aparentam ser a verdade. Sócrates chama essas crenças e opiniões não fundamentadas de Dóxa. Dóxa -> Opinião não fundamentada. Dito isto, nota-se que o principal objetivo de Sócrates é então definir uma verdade absoluta que não se confunde com nossas falsas crenças sobre a realidade, a dóxa. c) Reconhecer sua própria ignorância: Segundo Sócrates, o primeiro passo parra alcançar a verdade é admitir a própria ignorância sendo essa postura que motiva o próprio ato de se fazer filosofia. d) Maiêutica Para Sócrates, a verdade é algo que está em nosso interior. Por esse motivo, somente o próprio indivíduo é capaz de encontrar a verdade. Diante disso, Sócrates ajudava seus discípulos através do seus método pedagógico chamado de Maiêutica que significa, literalmente, parto de ideias. A Maiêutica consiste no uso de tais técnicas: Dialética: Oposição de ideias. Sócrates confrontava seus discípulos com ideias que contrariavam suas crenças. Ironia: Provocação para fazer seu discípulo desconfiar dos seus próprios preconceitos. e) Ética Socrática Sócrates percebe que o conhecimento deve nos tornar pessoas melhores. Sendo assim, é necessário refletir também sobre o que seria uma pessoa boa. Por isso, dizemos que Sócrates inicia a reflexão sobre a “ideia de Bem” e a ideias de “Justiça”. Aula 03 – Sofistas 1 – Ideias divergentes: Um problema da democracia. Quando pensamos na democracia, devemos considerar que o seu principal pilar é o livre exercício de pensamento. Porém, não é novidade o fato de que as pessoas possuem olhares diferentes sobre os mais variados temas, que vão do campo econômico aos costumes. Evidentemente, a diversidade de ideias em si não é um problema, devendo inclusive esta ser vista como uma virtude democrática. Entretanto, não se pode ignorar que todo conflito na sociedade deriva de pessoas ou grupos que possuem posicionamentos contrários. Basta analisar os conflitos que temos nas sociedades atuais. Em nosso país, por exemplo, existem aqueles que defendem o aborto e aqueles que são contrários. Em outros países, divergências dessa natureza provocam revoltas e até mesmo guerras. Diante disso, percebemos que a democracia embora seja um ideal a ser seguido ela também apresenta problemas na sua prática, como o mencionado acima. Os sofistas eram intelectuais que percebiam esse problema e tentaram soluciona-lo de um modo bem diferente de seus contemporâneos Sócrates, Platão e Aristóteles. Essa diferença gerou inclusive uma desavença histórica entre os Sofistas e estes três filósofos. 2 – Despreocupação com a verdade: Um possível caminho para o consenso. Quando construímos nossas ideias tendemos a crer que elas são grandes verdades que devem ser defendidas a qualquer custo. É muito provável que essa nossa postura seja ainda uma herança cultural que recebemos do pensamento socrático. Ao voltar para a aula anterior, você irá relembrar que Sócrates defendia a existência de uma verdade suprema que é acessível para todos. Porém, acreditar na existência de uma verdade dessamaneira gera uma dificuldade, que é o acordo que deve existir entre aqueles que estão buscando tal verdade. Além disso, em nome uma suposta verdade, deixamos de tomar ações que podem ser cruciais para um determinado momento. Por exemplo: Suponha que você acredita que a verdade deve ser dita a qualquer custo, e que toda mentira é inadmissível. Agora imagine que você está em casa e que, de repente, aparece uma pessoa desesperada pedindo esconderijo alegando que tem alguém que está querendo matá-la. Você esconde tal pessoa em sua casa e, logo em seguida, aparece o perseguidor perguntando sobre um sujeito que você sabe que é aquele que você abrigou. Caso você diga a verdade, certamente um inocente irá morrer. Vemos no exemplo acima, como uma verdade ideal pode trazer consequências práticas não muito boas. Por esse motivo, os sofistas afirmavam que nossas decisões não devem estar presas a ideias abstratas, mas sim, em nossa intuição mais imediata. Segundo essa perspectiva, no campo político, os ideais não devem prevalecer, mas sim, os anseios e necessidade mais urgentes dos indivíduos. Em suma, podemos classificar os sofistas como pensadores relativistas, ou seja, que relativizam as verdades de acordo com as necessidade políticas do momento. 3 – Retórica como meio para construir realidades. Falar, sem dúvida, é uma arte. No caso, essa arte de falar tem o nome de Retórica. E como toda arte, é possível dominar e aperfeiçoar determinadas técnicas que a tornem mais eficiente. Nota-se também que o domínio da fala traz poder, pois, através dela, conseguimos negociar interesses, emocionar, pacificar e até mesmo construir realidades. Veja, quando você encontra um amigo que está triste, por pior que pareça a situação dele, você pode fazê-lo sentir-se mais confiante se você souber usar a sua fala. A realidade percebida por seu amigo dependerá do discurso que você irá dirigir a ele. Caso você não seja habilidoso, poderá até fazer seu amigo achar que a realidade é muito pior da que ele talvez se encontre. Por esse motivo, os sofistas entendiam que a retórica deveria ser valorizada. Para eles, o mais importante em um debate não é encontrar a verdade que será revelada a partir de um processo dialético, mas sim, fazer com que todos se convençam, em igual medida, de uma ideia. Para que isso ocorra, é necessário que o orador possua uma retórica afiada. E por isso, os sofistas eram mestres da retórica. Eram tão conhecidos por essa habilidade que eram contratados pela aristocracia ateniense para ensinar-lhes tal arte de falar bem. 4 – Preconceito histórico. Você verá no decorrer do curso que o pensamento socrático permaneceu na cultura ocidental até os dias de hoje. Na idade média, todo pensamento filosófico era inspirado pela filosofia de Sócrates, Platão e Aristóteles. Sendo assim, muitos preconceitos socráticos também tiveram sua manutenção, como, por exemplo, sua crítica aos sofistas. Sócrates divergia dos sofistas basicamente nesses pontos: SÓCRATES SOFISTAS Acreditava em verdades absolutas . Ignoravam verdades absolutas. Ensinava apenas para quem tinha dom. Ensinavam para quem pagava com dinheiro. Diante dessa divergência, Sócrates entendia que os sofistas eram charlatões sem compromisso com a verdade, que usavam os jovens para conseguir enriquecer. Com tal indisposição socrática, os pensadores ocidentais tomaram o partido de Sócrates sem analisar criticamente o pensamento dos sofistas. Por isso, precisamos entender que não se pode simplesmente classificar os sofistas como picaretas, sem analisar suas premissas. É importante também ressalvar que, os indivíduos que pediram a morte de Sócrates através de denúncias no tribunal ateniense foram alguns sofistas. Através desse caso, podemos compreender o atrito existente entre esses personagens. 5 – Quem foram os sofistas. (Protágoras) Os principais sofistas foram Górgias, Hípias, Pródico e Protágoras. Protágoras ficou bem conhecido por aparecer como antagonista em um dos diálogos de Platão. Nesse diálogo a expressão de maior repercussão foi “O Homem é a medida de todas as coisas”. Com essa expressão podemos perceber o relativismo do pensamento sofista. Uma vez que é o próprio homem que é a medida dele mesmo, não é preciso tomar decisões com base em critérios que não seja o próprio sujeito. Eles viveram nos séculos V e VI a.C. Aula 04 – Platão 1 – Questão Central. Devemos levar em consideração que Platão busca compreender como é possível conciliar verdades universais com uma natureza que está em constante mudança. Em outras palavras, se tudo que existe não permanece o mesmo, como é possível existir verdades absolutas? Para resolver essa questão, Platão elabora sua conhecida teoria das ideias. 2 – Teoria das ideias. Teoria central de Platão que aponta a existência de dois mundo: O Mundo Sensível e O Mundo das Ideias/inteligível. Mundo Sensível: Realidade material que percebemos através do nosso corpo. Nesse mundo, as coisas se apresentam de forma inconstante e limitada, por esse motivo, não é possível encontrar a verdade nele. Mundo das Ideias: Realidade abstrata onde está a verdade e as ideias das coisas em si. Por exemplo, nesse mundo é possível acessar a ideia do homem em si, da cadeira em si, da justiça em sim, etc. O mundo sensível é uma cópia (mímesis) do mundo inteligível, e como toda cópia é imperfeita diante do original, qualquer tentativa de adquirir conhecimento através do mundo sensível tenderá ao fracasso. Por isso, para Platão o conhecimento é uma lembrança que nossa alma tem do tempo em que estava no mundo das ideias. * Forma para acessar o mundo inteligível: Para visualizar as verdades presentes no mundo das ideias é necessário utilizar a dialética, a filosofia e a matemática. Obs.: Nota-se que a filosofia de Platão, em última análise, defende a anulação constante do corpo e de seus atributos, como os sentidos. 3 – Mito da Caverna De acordo com a história formulada por Platão, existia um grupo de pessoas que viviam numa grande caverna, com seus braços, pernas e pescoços presos por correntes, forçando-os a fixarem-se unicamente para a parede que ficava no fundo da caverna. Atrás dessas pessoas existia uma fogueira e outros indivíduos que transportavam ao redor da luz do fogo imagens de objetos e seres, que tinham as suas sombras projetadas na parede da caverna, onde os prisioneiros ficavam observando. Como estavam presos, os prisioneiros podiam enxergar apenas as sombras das imagens, julgando serem aquelas projeções a realidade. Certa vez, uma das pessoas presas nesta caverna conseguiu se libertar das correntes e saiu para o mundo exterior. A princípio, a luz do sol e a diversidade de cores e formas assustou o ex-prisioneiro, fazendo-o querer voltar para a caverna. No entanto, com o tempo, ele acabou por se admirar com as inúmeras novidades e descobertas que fez. Assim, quis voltar para a caverna e compartilhar com os outros prisioneiros todas as informações e experiências que existiam no mundo exterior. As pessoas que estavam na caverna, porém, não acreditaram naquilo que o ex- prisioneiro contava e chamaram-no de louco. Para evitar que suas ideias atraíssem outras pessoas para os “perigos da insanidade”, os prisioneiros mataram o fugitivo. (Trecho retirado de: https://www.significados.com.br/mito-da-caverna/) 4 – Significado do mito da Caverno Platão utiliza o mito da caverna, em sua obra A República, como umametáfora para explicar sua teoria das ideias. Sendo assim, o mundo correspondente à caverna seria o mundo sensível, enquanto o exterior da caverna seria o mundo intelígel. Aula 5: Filosofia Medieval Início do período medieval da história da filosofia Entramos agora em outro momento da história da filosofia. Da aula 1 até a aula 4 é o período conhecido como Filosofia antiga. O início da filosofia medieval pode ser datado no séc. II d.C. Nesse período, alguns intelectuais do império romano se converteram ao cristianismo, que ainda era uma religião marginal, sem grandes adeptos. Porém, como os integrantes dessa crença eram perseguidos, tais intelectuais precisaram defender sua fé perante o imperador e a alta elite romana. Para fazer tal defesa, esses pensadores utilizaram o pensamento de alguns filósofos gregos provocando um sincretismo entre a filosofia grega e a filosofia cristã. Esse primeiro período ficou conhecido como Patrística. A filosofia medieval pode ser dividia em dois momentos: Patrística e Escolástica. Segue abaixo, uma breve descrição de cada um destes períodos. a) Patrística O principal pensador desse período é o filósofo Santo Agostinho, que teve grande influência do platonismo. Desse modo, já podemos identificar uma característica crucial desse momento que são as intuições do filósofo Platão, sendo a principal delas a rejeição do corpo e a valorização de elementos abstratos do conhecimento, como a fé, por exemplo. Uma vez que o conhecimento material e físico não é valorizado, a filosofia nesse período é mais dependente da fé. Então, todo pensamento filosófico sempre partia de um pressuposto de fé e a razão presente na filosofia servia apenas para confirmar o que já era conhecido pela fé. Teorias de Santo Agostinho I – Teoria da Iluminação: A crença de que o conhecimento verdadeiro é revelado por Deus no interior da subjetividade. II – Cidade de Deus: Teoria política de Agostinho que defende que toda sociedade deve se orientar pela cidade idealizada por Deus, que é uma cidade perfeitamente justa. Toda sociedade então possui uma finalidade a ser alcançada: Colocar na prática a cidade de Deus. b) Escolástica Nesse momento, a Europa, através dos povos árabes, voltou a ter contato com os escritos de Aristóteles, o que provocou um interesse muito maior sobre questões práticas e materiais. Além disso, diversas transformações sociais e culturais estimularam o desenvolvimento de uma filosofia mais experimental e científica. Com isso, surgem as primeiras universidades ocidentais que ficaram conhecidas como Escolas. Por esse motivo, esse período ficou conhecido como escolástica. Na escolástica, o pensador mais expressivo foi São Tomás de Aquino. Esse pensador teve maior influência da filosofia aristotélica. Com isso, as ideias de Aristóteles consolidaram-se como grandes verdades nas universidade, principalmente a sua física e astronomia. Teoria de São Tomás de Aquino As cinco vias para provar a existência de Deus: Tentativa de comprovar a existência de Deus através de argumentos estritamente racionais e materiais. Tomás de Aquino acreditava que a própria criação divina, a Natureza, fornecia dados suficiente para comprovar sua existência. Veja então as cinco provas apontadas por este filósofo: I – Causa Eficiente: O que dá origem a essência de todas as coisas é uma causa que a antecedeu. É necessário então que essa causa tenha sido a primeira. Essa primeira causa é Deus. II – Primeiro Motor: Tudo que existe na natureza possui movimento, se desenvolve e evolui. Porém, todo movimento precisa ter um início. Isso demonstra que foi necessário a existência de um ser imóvel que deu movimento a todas as coisas. III – Graus de perfeição: Todos os seres apresentam diferentes graus de perfeição. EXEMPLO: Uma planta é mais perfeita que uma pedra por possuir mais qualidades. Um animal é mais perfeito que uma planta pois se move além de outras qualidades que a planta não tem. Nós, seres-humanos, somos mais perfeitos que o Leão pois falamos, fazemos política e etc. É necessário então a existência de um ser absolutamente perfeito que tenha criado todas as coisas. IV – Seres necessários: Todos os seres são substituíveis, pois sua existência não depende de si mesmo. EXEMPLO: Eu existe não por minha determinação, mas por uma causa externa eu poderia existe ou não existir. Não existe necessidade. Porém, Deus é o causador da própria existência e a natureza precisa de um ser assim para existir e se manter. V – Causa final: A natureza é perfeitamente organizada, tudo tem uma função e um propósito. É necessário então que alguém tenha estabelecido essa ordem, essas funções. Aula 6: Teoria do conhecimento Empirismo e Racionalismo No século XVIII, após a secularização da sociedade ocidental, as tentativas de explicar a natureza sem precisar definir as suas causas metafísicas trouxe para o debate uma problemática entre os filósofos: Afinal, qual é a origem do conhecimento? O que nós podemos efetivamente conhecer? Qual a natureza do entendimento humano? Nesse embate de ideias, as opiniões se dividiram em duas posições que podemos classificar entre empiristas e racionalistas. Vimos na revisão da última aula que o filósofo René Descartes defendia claramente a existência de ideias inatas, ou seja, ideias que já nasceram em nossa mente. Sendo assim, resumidamente, Descartes pode ser enquadrado como um filósofo racionalista. Para simplificar, note as definições a seguir: 1. Racionalismo Tendência filosófica que afirma que o conhecimento tem sua origem na própria razão. OBS.: Além de Descartes, houveram outros racionalistas importantes, tais como: Baruch Spinoza e G.W. Leibniz. 2. Empirismo Tendência filosófica que afirma que o conhecimento tem sua origem SOMENTE na experiência e não existem ideias inatas. OBS.: O filósofo empirista que iremos estudar é o David Hume. Porém, é importante citar outros filósofos que se encaixam nessa classificação, tais como: John Locke e Francis Bacon. 2.1. David Hume Hume teve forte influência da filosofia cética, isso já nos aponta uma característica importante de seu pensamento: A desconfiança de qualquer verdade que pretende ser universal. OBS.: Uma verdade universal é aquela que é válida em qualquer tempo e qualquer espaço. Uma das demonstrações mais famosas da impossibilidade de encontrar uma verdade universalmente valida, é a crítica ao princípio de causalidade. 2.1.1. Crítica ao princípio de causalidade Nós sempre tentamos descrever o mundo a partir da relação de causa e efeito entre os entes da natureza, e as teses científicas mais relevantes utilizam esse princípio. Por exemplo: Condensação da água (causa) ? Chuva (efeito) Ocorre que, só conseguimos estabelecer a relação entre os dois fenômenos por conta repetição desses fatos. Porém, não existe nenhuma garantia de que os mesmos fatos se repetirão. Aula 7 – Filosofia Política Maquiavel Maquiavel é considerado o pai da política moderna e isso não é por um acaso. Para visualizarmos com clareza, vamos lembrar do conceito de Cidade de Deus do filósofo Santo Agostinho. Para Agostinho, uma cidade justa é aquela onde todos os indivíduos compartilham a moralidade cristã (bem-comum). Em contrapartida, Maquiavel considera que o bem-comum pode ser um obstáculo para o objetivo principal do governante que é manter-se no poder. Para facilitar, vejao esquema abaixo: SANTO AGOSTINHO (POLÍTICA CLÁSSICA) NICOLAU MAQUIAVEL (POLÍTICA MODERNA) Objetivo do príncipe Representar o Bem-Comum Manutenção do poder do governante O que determina a estabilidade política Deus A habilidade do príncipe de manter o poder (virtú) Qual é o critério de uma boa ação política A vontade de Deus (Cidade ideal) A natureza humana tal como ela é É importante também dois conceitos elementares da filosofia de Maquiavel: − Virtú: Habilidade de manter-se no poder. − Fortuna: Momento oportuno para o exercício da virtú. Thomas Hobbes Com o advento do iluminismo não convinha mais justificar a autoridade do Estado com argumentos religiosos. Junto a isso, na Inglaterra de Thomas Hobbes, com a ascensão do parlamentarismo e protestantismo, a ideia de um governo absolutista era vista como algo atrelado aos ideais do antigo regime. Hobbes brilhantemente consegue construir uma argumentação não religiosa que buscou justificar um estado absoluto. Observando o comportamento humano na sua crueza, Hobbes destaca o aspecto egoísta da natureza humana, indicando que o homem não consegue lidar com suas paixões. Levando isso em consideração, um estado de plena liberdade (estado de natureza) traria consigo um cenário de caos e de guerra. Para evitar o caos, os homens de forma consentida abririam mão de sua liberdade, entendendo que a soberania é um direito que deveria ser concedido ao rei. Veja o esquema abaixo: ESTADO DE NATUREZA: − Plena liberdade − Guerra e Caos ESTADO CIVIL (LEVIATÃ) − Liberdade restringida pelo soberano − Paz concedida pela mediação do Estado. John Locke Locke segue uma linha argumentativa semelhante a de Hobbes. A grande diferença está na concepção de que um Estado de Natureza é constituído também por Leis Naturais, ou seja, leis que não foram criadas artificialmente através de convenções humanas. Um exemplo e uma lei natural para Locke é o direito à propriedade assim como a liberdade de consciência. O contratualismo de Locke coloca ênfase na liberdade individual, como se essa fosse um direito concedido pela própria natureza, tornando-o assim um dos principais precursores do liberalismo político. Jean-Jacques Rousseau Rousseau considera que a descrição do estado de natureza de Hobbes considerou características de indivíduos já socializados, e por esse motivo, não seria capaz de definir a natureza humana em seu estado real. Rousseau considera então que a natureza humana não pode ser definida como egoísta, sendo os vícios humanos uma consequência do próprio processo de socialização. Uma vez que não nenhum indício de uma natureza indisposta ao acordo e à coesão, a soberania de um estado deverá estar nas mãos do povo. Por esse motivo, Rousseau costuma ser classifica como principal precursor do republicanismo. PACTO SOCIAL Aula 8: Ética Filosófica 1 - Ética das virtudes: O principal representante dessa corrente filosófica é Aristóteles. Para iniciar um entendimento mais aprofundado, devemos pontuar que para esse filósofo, todas as coisas possuem uma finalidade, ou uma função. Vamos pensar melhor sobre o que isso significa? a) Finalismo ou Teleologia Quando pensamos em uma caneta, presumimos que ela foi criada para uma finalidade, que é escrever. Quando não utilizamos a caneta para esse fim, podemos dizer que não é coerente e que alguma coisa não está certa. Esse sentimento se justifica pois possuímos a intuição de que as coisas possuem um lugar natural, ou seja, uma natureza que determina seus atributos, qualidade e funções e que elas devem cumprir tais determinações. A esse tipo de crença nós chamamos de finalismo ou teleologia. Seguindo essa linha de raciocínio, o ser humano há de ter também um lugar natural e uma natureza. Segundo Aristóteles, é possível identificar, através da observação, diversas finalidades nas práticas humanas. Por exemplo: Existem humanos que são professores. Essa atividade pressupõe uma finalidade que é ensinar. Outros seres humanos são médicos, cuja finalidade é a saúde, e assim por diante. Porém, acima de qualquer finalidade, existe uma que é a mais excelente e almejada por todos: A Felicidade! Veja no anexo desse módulo a citação 1 para compreender melhor. Obs.: A expressão Teleologia é derivada da palavra grega “Télos”, que significa finalidade. Obs².: A palavra Eudaimonia é a expressão em grego que traduzimos como felicidade. b) Virtude Segundo Aristóteles, uma vida só é feliz quando o indivíduo pratica ações que elevem seu estado de espírito para esse nível. Ações que nos ajudam a alcançar a felicidade são chamadas de Virtude. Podemos compreender a “virtude” como uma “boa ação”. Parece uma definição fácil, mas quando pensamos sobre o que pode ser considerada uma boa ação, as dificuldades aparecem, pois, somos tentados sempre a cair em um relativismo, no sentido de crer que: aquilo que é uma “boa ação” para uma pessoa não é necessariamente uma “boa ação” para outra. Porém, sob uma perspectiva finalista, uma ação é boa quando ela contribui para a função de uma determinada prática, ou seja, para sua finalidade (Télos). Por exemplo: A função de um flautista é produzir música. Quando a ação do flautista é dotada de técnica, ritmo, melodia, dentre outras ações que contribuem para a execução de uma música bela, podemos concluir que esse flautista possui boas ações dentro da sua função. Logo, podemos concluir que ele é um flautista virtuoso. b.I) Virtude como meio termo Veremos que, para Aristóteles, não é possível construir uma fórmula mágica que, quando aplicada, nos fará agir de forma plenamente boa. Porém, existe uma que, ao menos, nos dará um parâmetro para tentar agir virtuosamente, que é a mediania, ou meio termo. Essa fórmula consiste em classificar a virtude como um equilíbrio entre os extremos da falta e do excesso. Esses extremos são chamados de vícios. Veja o esquema abaixo: Covardia Coragem Temeridade |----------------------------------------------|----------------------------------------------| Vício Virtude Vício Observe no esquema acima, que a coragem, enquanto uma virtude, não pode ser confundida com a covardia (um extremo de falta, portanto, um vício), nem com a temeridade (um extremo de excesso, portanto, um vício) Agora, como saber que alcançamos o equilíbrio de uma ação? Segundo Aristóteles é necessário uma espécie de “feeling” que só é adquirido com a prática. b.II) Virtude como prática Assim como um flautista precisa praticar para adquirir virtudes musicais, no campo da ética, também precisamos praticar para adquirir tais virtudes. É necessário desenvolver uma sensibilidade que só acontece na convivência com outros indivíduos. Em outras palavras, o desenvolvimento das virtudes é obtido com o tempo através vida em comunidade. Por exemplo: Qual é o limite entre a honestidade e a inconveniência? Será que ser honesto é falar tudo o que vem à mente? Mas será que, quando não falo para o meu amigo que ele está se relacionando de forma amorosa com a pessoa errada, eu não estou sendo falso ou desonesto? Não há como saber sem experimentar situações onde você é desafiado encontrar esse meio termo. Somente com a prática, ou seja, vivência coletiva, podemos determinar o equilíbrio entre os vícios. b.III) Virtude como alinhamento dos prazeres A prática ela é importante para a aquisição das virtudes também porque ela nos ajuda à alinha nossos prazeres com coisas que são realmente virtuosas.Por exemplo: Não é razoável alguém sentir prazer em assistir brigas de galos, assim como não é razoável sentir prazer com piadas racistas, homo fóbicas e machistas. Sendo assim, desenvolver as virtudes é condicionar o seu corpo a deixar de sentir prazer com os vícios e passar a sentir prazer com as virtudes. c) Política Uma vez que o homem necessita da vida em comunidade para alcançar a felicidade por meio das virtudes, a política pode ser entendida como uma prática da própria natureza humana. Ora, considerando que a felicidade depende da vida coletiva por conta do exercício das virtudes, nada mais natural do que eu querer construir uma comunidade que favoreça e incentive a prática das virtudes. Além disso, a comunidade ajuda os indivíduos a compreender as ações que lhe trarão a felicidade e a natureza de suas respectivas funções. Por exemplo: Como um médico conhece a natureza de sua função? Ele conhece isso através dos valores ensinados e praticados por sua comunidade. Além disso, a natureza da função de um médico vai além dos limites do próprio ofício. Não há como negar que a compaixão, determinação, paciência, dentre outras virtudes, são fundamentais para o exercício da medicina. A assimilação dessas virtudes com a função de um médico só é ensinada pela comunidade. Sendo assim, a política na visão de Aristóteles, de a finalidade de ensinar os indivíduos as virtudes, proporcionando um contexto favorável para a prática destas. Desse modo, conclui-se que em última análise, a função da política é proporcionar a felicidade. (Veja a citação 2 no anexo para entender melhor) d) Deliberação Deliberar é escolher. Segundo Aristóteles, na natureza, somente o Homem é capaz de refletir, debater e determinar suas ações. Por esse motivo, a política e a ética são práticas tipicamente humanas. Porém, a deliberação e a escolhas ficam restritas à elas, pois, sobre as lei naturais não é possível deliberar. Por exemplo: É possível deliberar sobre a criação de um imposto ou não. Porém, no que diz respeito à lei da gravidade, não é possível escolher se ela vai funcionar ou não. Desse modo, percebe-se que não delibero sobre a natureza, mas sim, sobre assuntos políticos. 2 – Ética do Dever A ética do dever, ou ética deontológica, tem sua origem na modernidade, como um dos resultados do cientificismo e iluminismo. Seu fundador é o filósofo Immanuel Kant. Essa nova concepção sobre a moral é um desdobramento dos novos problemas encontrados como consequente das novas configurações assumidas pelas sociedades modernas. Vamos entende-las: a) Política pragmática Os modernos começam a entender a política não mais como um instrumento para ensinar os cidadãos à alcançar a felicidade. Afinal, de fato, a tentação de relativizar a noção de felicidade em sociedades plurais é muito grande, uma vez cada tem sua própria visão do que vem a ser uma vida feliz. Vimos com Maquiavel, que o Príncipe não deve ser mais representante das virtudes, um indivíduo que serve de modelo para os membros da comunidade política, mas sim, um articulador de interesses que visa manter a estabilidade política. (Demonstrar exemplo da coroa britânica). Para os contratualistas, a política é um instrumento de mediação dos interesses egoístas dos indivíduos. Essa mudança de perspectiva está relacionada com uma visão peculiar da natureza humana trazida pelos modernos. Nela percebem um ser humano individualista com uma pré- disposição à autonomia, como se fossem átomos desvinculados do seu contexto. Vamos focar na interpretação de Kant sobre essa questão: a) Autonomia da razão Vimos no módulo de Kant que através da razão pura o homem é capaz de pensar por si mesmo, independentemente da sua cultura. Por esse motivo, somente através da razão pura é possível determinar quais são as leis morais e universais. Temos aqui um marco: Para Aristóteles, a virtude e a ética são orientadas pela felicidade. Porém, Kant busca abolir definitivamente essa ideia aristotélica. De acordo com o filósofo alemão, não é possível determinar uma moral universal a partir da nossa noção de felicidade. Por isso, o que determina o que é certo e errado é nossa própria razão pura. Logo, podemos concluir que o indivíduo é capaz de determinar por si mesmo o certo e errado, e além disso, aquilo que ele considera a felicidade. Com isso, a noção de liberdade também é modificada, e a modernidade passa a entender que um indivíduo livre é aquele que capaz de determinar para si mesmo a moral e a felicidade. Veja a citação 3 do Anexo: “Ora, se num ser dotado de razão e vontade a verdadeira finalidade da natureza fosse a sua conservação, o seu bem-estar, numa palavra a felicidade, muito mal teria ela tomado as suas disposições ao escolher a razão da criatura para executora destas intenções Pois todas as ações que esse ser tem de realizar nesse propósito, bem como toda a regra do seu comportamento, lhe seriam indicadas com muito maior exatidão pelo instinto, e aquela finalidade obteria por meio dele muito maior segurança do que pela razão; e se, ainda por cima, essa razão tivesse sido atribuída à criatura como um favor, ela só lhe teria servido para se entregar a considerações sobre a feliz disposição da sua natureza, para a admirar, alegrar-se com ela e mostrar-se por ela agradecida à Causa benfazeja, mas não para submeter à sua direção fraca e enganadora a sua faculdade de desejar, achavascando assim a intenção da natureza; numa palavra, a natureza teria evitado que a razão caísse no uso prático e se atrevesse a engendrar com as suas fracas luzes o plano da felicidade e dos meios de a alcançar; a natureza teria não somente chamado a si a escolha dos fins, mas também a dos meios, e teria com sábia prudência confiado ambas as coisas ao instinto.” b) Dever ser Na ética kantiana, foi enfatizado a ideia de que, independentemente dos seus prazer, as ordens da razão devem ser seguidas. Mesmo que você sofre algum tipo de desconforto. c) Liberdade como princípio de justiça Nota-se que a liberdade na concepção de Kant é uma fato, e por esse motivo, o Estado não deve uma instituição que serve para educa-lo nas boas ações. Casso o Estado fizesse isso, estaria contrariando um princípio básico da justiça: A liberdade e autonomia individual. Obs.: Segundo Kant, ser livre é ser capaz de seguir irrestritamente a lei moral da razão. 3 – Utilitarismo a) Até que ponto podemos seguir os princípios morais do dever ou da virtude? Você já percebeu que em certas situações ser fiel a um princípio moral parece ser bastante prejudicial para você ou para o grupo em que você faz parte? Vamos supor que você é um cidadão alemão em plena segunda guerra mundial. Imagine que você está sentando na sala de sua casa escutando o rádio, ou lendo um livro. De repente, bate um judeu na sua porta pedindo ajuda, afirmando que está sendo perseguido por um soldado da Gestapo. Você acolhe a vítima em sua casa. Até que, logo em seguida, aparece o tal agente da polícia nazista perguntando se você viu algum judeu. O que você deve dizer? Obedecer o princípio ético deontológico que diz que devemos sempre dizer a verdade? Segundo a corrente utilitarista, não! Você entenderá as suas razões logo em seguida. O utilitarismo é uma corrente da filosofia moral e política de natureza pragmática, ou seja, as para essa tendência filosofia as necessidades práticas se sobressaem sobre qualquer princípio seja ele Deontológico ou Teleológico. b) Princípio da ética utilitarista. Segundo o utilitarismo, sempre quando estamos diante de um dilema moral tendemos a fazerum cálculo para saber qual escolha nos trará mais benefícios. Para essa corrente, até as filosofias deontológicas e teleológicas, mesmo sem admitir, fazem esse tipo de cálculo. Podemos definir então, que o princípio da ética utilitarista é a maximização dos prazeres e a minimização da dor. Vamos visualizar a aplicação desse princípio: O TREM DESGOVERNADO. Vamos supor que você é o controlador de um trem que não pode parar, pois perdeu o freio. A única coisa que está dentro do seu controle é o desvio desse veículo em uma bifurcação. De um lado da bifurcação tem uma pessoa presa e do outro cinco pessoas presas. Para qual lado você deve desviar o trem? ➔ Aplicação do princípio utilitarista: Uma vez que a morte de uma pessoa traz menos prejuízo do que a morte de cinco pessoas, a ação correta e desviar para o lado que tem apenas uma pessoa, pois é essa ação que trará menos dor para o grupo, ou seja, minimização da dor. c) Precursor do utilitarismo JEREMY BENTHAM (1748 – 1832) O jurista e filósofo britânico entendia que a prova do princípio utilitarista é a própria inclinação que nós temos de tentar suprimir a dor do nosso corpo a todo custo. Junto a isso, Bentham entende que a sociedade deve ser vista como um grande corpo, e assim como o indivíduo busca minimizar a dor, a sociedade deve utilizar o Estado para minimizar a dor do corpo comunitário. Por exemplo: Através de leis, e políticas públicas é possível implementar ações que minimizem o prejuízo de uma sociedade e maximize a felicidade. Para entender, a descrição que o professor Michael Sandel faz de um projeto do próprio Jeremy Bentham: “Outro plano de Bentaham foi uma estratégia para melhorar “o tratamento dado aos pobres” por meio da criação de um reformatório autofinanciável para abriga-los. O plano, que procurava reduzir a presença de mendigos nas ruas, oferece uma clara ilustração utilitarista. Bentham percebeu, primeiramente, que o fato de haver mendigos nas ruas reduz a felicidade de transeuntes de duas maneiras. Para os mais sensíveis a visão de um mendigo produz um sentimento de dor; para os mais insensíveis, causa repugnância. De uma forma ou de outra, encontrar mendigos reduz a felicidade do público e geral. Assim, Bentham propôs a remoção dos mendigos das ruas, confinando-os em abrigos.” Principal Obra Uma introdução aos princípios da moral e da legislação Aula 9: Filósofos pós-modernos 1 - ARTHUR SCHOPENHAUER (1788 – 1860) a) Posicionamento filosófico O momento em Schopenhauer vive é um contexto de fortes críticas ao racionalismo defendido pelo iluminismo. A superioridade da razão sobre os sentidos e emoções é questionada por diversas correntes de pensamento que vão da ciência à literatura. Mesmo não se filiando a nenhuma delas, Schopenhauer só posiciona também de forma contrária ao iluminismo. O impacto da filosofia schopenhauriana foi de tal modo na história do pensamento, que diversos intelectuais importantes deram a ele o crédito de precursor. Dentre tais teóricos estão: Richard Wagner, Nietzsche e Freud. De forma direta, podemos definir Schopenhaeur como um dos primeiros filósofos a propor uma filosofia pessimista sobre a capacidade de controle que o Homem tem sobre as coisas que acontecem à sua volta, e, consequentemente, a inutilidade da busca de sentido e propósito da vida. b) Mapa teórico É possível sistematizar a grosso modo a filosofia de Schopenhauer. Veja o esboço que podemos fazer: o REPRESENTAÇÃO: Não é possível ter acesso à coisa em si (Herança kantiana). Sendo assim, o mundo que conhecemos para a subjetividade apenas como representação. Exemplo: A obra abaixo do artista surrealista René Magritte ilustra bem a ideia de representação de Schopenhauer. Podemos traduzir a frase Leci n’est pas une pipe como “isto não é um cachimbo. Embora parece uma contradição, podemos concluir que Magritte está certo, pois o que está na imagem não um cachimbo, mas sim, uma representação de um cachimbo. (Magritte) Obs.: O real é algo impenetrável para o nosso conhecimento uma vez que temos acesso apenas à nossa representação. o VONTADE: Conhecemos a nós mesmo de forma imediata não conceitual. Segundo Schopenhauer a nossa essência é a Vontade. Conceito de VONTADE: Impulso e anseio de viver. Esse impulso, a vontade somente, não razão para acharmos que nossa vontade é soberana e coberta de algum significado racional ou supremo. Sendo assim, a nossa existência individual não tem importância, uma vez que o indivíduo é apenas parte de um todo, e a natureza lhe é indiferente. Diante da nossa limitação insignificância, a vontade transforma-se em angústia e sofrimento. o Experiência estética como alívio do sofrimento: A única maneira de combater o sofrimento da vontade é a experiência artística. Através da arte. 2 – FRIEDRICH NIETZSCHE (1844 – 1900) Seguindo a tendência pós-moderna de crítica ao pensamento racionalista, Nietzsche inspira-se nos escritos de Schopenhauer molda sua própria análise sobre o estado atual do pensamento ocidental e a origem que causou tal estado. Para a gente entender a análise de Nietzsche é importante conhecer previamente os conceitos: Impulso apolíneo e impulso dionisíaco. a) IMPULSO APOLÍNEO: Contém as características do deus grego Apolo. Esse impulso é aquele nos move à buscar as grandes verdade científicas. Uma inclinação racional presente em todo ser humano. Consequentemente, tal impulso nos leva também a ter uma postura mais lúcida, fria e sistemática do mundo. b) IMPULSO DIONISÍACO: Contém as características do deus grego Dionísio. Esse impulso é o que nos move a querer usufruir de todos os prazeres do nosso corpo. Uma inclinação para a festividade e exageros que a vida pode nos proporcionar. Consequentemente, as emoções, os afetos e os desejos humanos estão atrelados à esse impulso. De acordo com Nietzsche esses dois impulsos devem estar harmonizados, ou seja, todo ser humano deve valorizar tanto seu lado emocional quanto seu lado racional. Porém, o ocidente preferiu menosprezar o impulso dionisíaco, trazendo um desequilíbrio entre esses dois impulsos. o MENOSPRESO PELO IMPULSO DIONISÍACO: Nietzsche afirma que Sócrates, como principal representante da filosofia grega, inaugura uma tradição de supervalorização da razão. Seu discípulo Platão reforça ainda mais essa supervalorização quando cria sua teoria das ideias que coloca o corpo como um obstáculo para o conhecimento. Na idade média, com o advento do cristianismo, isso foi mais potencializado. Pois, segundo a fé cristã, o corpo é sinônimo de pecado, como se os desejos sempre fossem uma fonte de corrupção. Por fim, na modernidade, o iluminismo e a ciência moderna mantiveram tal tendência de supervalorização da razão. Filósofos como Kant, inclusive, criaram uma moral racional que orienta uma negação incisiva do corpo. o LINGUAGEM ARTÍSTICA COMO FILOSOFIA: Segundo Nietzsche, é necessário rever esse vício ocidental, iniciado por Sócrates, de menosprezar o corpo. Isso significa pensar a realidade também sob uma perspectiva afetiva e não somente racional. Para isso, Nietzsche propõe uma filosofia como uma linguagem artística e metafórica. o MORAL: Sobre os princípios morais, Nietzsche é contrário à tese kantiana de achar que a ética é um produto da razão. Para Nietzsche isso é uma ilusão, uma vez que é impossível suprimir plenamente os impulso dos desejos. o GENEALOGIA COMO MÉTODO: Nietzsche apreciava o método dos pré-socráticos de explicar a naturezaatravés de sua origem. Por isso, o filósofo alemão sempre recorria uma abordagem genealógica, ou seja, uma busca pela causa originária daquilo que ele está estudando. 3 – Jean-Paul Sartre (1905 – 1980) Sartre é um dos filósofos mais importantes da corrente de pensamento que nós chamamos de existencialismo. Esse filósofo foi importante também para o momento histórico em que ele viveu, tendo em vista o ano de 1968 e os movimentos sociais que ocorrem na França e no mundo durante esse período. Sartre foi uma das principais referências teóricas dos ativistas dessa época. A premissa básica do existencialismo sartreano é a inexistência de uma essência prévia que determina a identidade dos indivíduos. Segundo Sartre, a nossa identidade é formatada no decorrer da nossa existência. Por exemplo: Posso afirmar que existe uma essência de brasileiro. Uma das qualidades que estão contidas na essência do brasileiro é o gosto pelo futebol. Afirmar isso significa que todo brasileiro, obrigatoriamente, deveria gostar de futebol. Essa ideia perece ser absurda justamente porque estou tentando determinar previamente a identidade de todos que nasceram no Brasil. Sendo assim, de acordo com uma perspectiva existencialista, não existe nenhum tipo de essência, pois os indivíduos no decorrer da existência, formatam seus próprios gostos. Daí, pode-se compreender a clássica frase de Sartre: “A existência precede a essência.” Aula 10: Filósofos do século XX 1. MICHEL FOUCAULT (1926 – 1984) a) Conceito de loucura Uma das partes mais importantes da obra do Foucault são seus estudos sobre o conceito de loucura. Através dele, realiza uma “análise arqueológica” da constituição em nossa tradição do conceito de loucura e da forma de trata-la. Segundo Foucault, esse conceito sempre foi utilizado para estigmatizar aqueles que não conseguem se submeter às normas e aos padrões sociais. Dessa forma, em sociedades onde os seus membros são controlados pelas instituições sociais, a loucura torna-se eficaz para ilustrar os comportamentos que não são esperados. b) Vigilância e Panóptico. O conceito de Panóptico é usado por Foucault para referir-se ao controle por meio da vigilância. As sociedades modernas não precisam mais utilizar a violência e castigo físico para controlar os indivíduos. A própria sensação de estar sendo vigiado já inibe atitudes subversivas dos sujeitos de uma sociedade. Sendo assim, o meio social que reforça essa sensação de vigilância consegue controlar os indivíduos de forma sutil, sem o uso da força. Obs.: Foucault usa o modelo carcerário do filósofo Jeremy Bentham para ilustrar essa ideia. Tal modelo de Bentham sugere um presídio eficiente deve conter as celas no entorno de um pátio, onde no centro, deveria localizar uma torre de vigília. Dessa maneira, todos os prisioneiros perceberiam constantemente a presença da torre, enquanto o guarda que está vigiando tem uma visão completa dos presos. c) Microfísica do poder. Os filósofos da tradição filosófica sempre entenderam o poder como algo que estivesse monopolizado por uma classe, um indivíduo ou uma instituição. Para Foucault, não é dessa maneira que ocorre. O poder, segundo esse filósofo, está diluído nas micro relações sociais. Por exemplo, o poder não se encontra somente nas mão dos Estado e das pessoas que os representam. Na relação entre professor aluno, entre namorados, pais e filhos, dentre outras, o poder se encontra também. 2 – JÜRGEN HABERMAS (1929 – ) Herdeiro da escola de Frankfurt, Habermas tem como alvo central de sua filosofia investigar forma de emancipação das sociedade modernas. Em outras palavras, como as sociedade atuais se tornarão livres de ideologias, respeitando a autonomia e liberdade dos cidadãos? A resposta dada por Habermas pode ser resumida em uma expressão: Ética do discurso. Veja a explicação dos conceitos abaixo para entender seu significado. a) Razão Comunicativa Segundo Habermas, todos nós possuímos uma capacidade de raciocinar através de diálogos com outras pessoas. Sendo assim, expor nossas ideias e ouvir as ideias de outros é uma maneira de pensar através da comunicação. b) Consenso Uma vez que temos a capacidade de raciocinar coletivamente através do diálogo, é possível que as sociedade consigam chegar em um consenso nos seus debates. Por esse motivo, mesmo em sociedades amplamente plurais, ou seja, com pessoas com ideologias distintas, é possível tomar decisões coletivas que não interfiram na liberdade e autonomia dos envolvidos. c) Dialética como forma de emancipação Por fim, podemos concluir que uma sociedade livre, ou seja, emancipada, é aquela que dá voz às diferentes visões de mundo, mesmo que opostas umas às outras, com o objetivo de se alcançar um consenso que agrade a todos. 3 – JOHN RAWLS (1921 – 2002) O filósofo John Rawls tinha um objetivo muito claro: Conseguir provar que existem princípios de justiça necessários para qualquer sociedade democrática. Porém, como é possível definir esses princípios de justiça em sociedade plurais? Para conseguir definir tais princípio, Rawls utiliza método da Posição Original. Veja do que se trata abaixo: a) Posição Original Posição Original é um cenário imaginário. Nesse cenário, nós ainda não estamos organizados em sociedade e iremos decidir os princípios que irão fundamentar a sociedade que será formada. Porém, para que esses princípios sejam justos, e necessário que todos sejam encobertos por um “véu de ignorância”. b) Véu de ignorância Com esse “véu”, nós não saberemos o papel social que iremos ocupar na futura sociedade. Sendo assim, na posição original, ninguém sabe se será pobre ou rico, cristão ou mulçumano, homem ou mulher, e etc. Isso se faz necessário para que ninguém escolha um princípio de justiça que o privilegie. Por exemplo: Caso eu saiba que serei rico na sociedade, certamente escolherei princípios que me privilegiem, sem me importar com quem é pobre. Com isso, as desigualdades dessa sociedade serão permitidas e quem for pobre se sentirá injustiçado com tal situação. c) Princípio da liberdade e igualdade. Rawls conclui que os princípios que seriam escolhidos são o da liberdade e igualdade. Pois, qualquer indivíduo que não saberá qual função ocupará na sociedade, exigirá que sua liberdade seja garantida e um tratamento igual. d) A equidade. Para que a liberdade seja realmente exercida, é necessário que todos os indivíduos tenham suas necessidades mais básicas supridas. Por exemplo: Uma pessoa que passa fome não conseguirá estudar e construir uma carreira profissional. Além disso, que não tem acesso à saúde e educação também não conseguirá ter direito às mesmas escolhas que aqueles que tem acesso. Por esse motivo, é razoável a sociedade suprir essas necessidades mais básicas para que todos estejam em uma condição de equidade. Aula 03: Escolas Helenísticas Contextualização O período conhecido como helenístico foi marcado pela expansão do império da Macedônia, principalmente na Era de Alexandre, o grande. As mudanças sociais e políticas que ocorreram na Grécia foram essas: a) Fim das polis; b) Perda da autonomia política das comunidades gregas; c) Influência cultural da Macedônia. Com essas mudanças, o povo grego começou a pensar mais intensamente sobre o próprio sentido da existência, e consequentemente, sobre aquilo que torna nossa vida feliz. Isso se justifica pois definimos felicidade como um sentimento de plenitude quando alcançamos o sentido da vida. Diante dessecenário, surgem as escolas de pensamento chamadas de helenísticas, que buscaram responder tal questão: Como alcançar a felicidade? Epicurismo Escola inaugurada por Epicuro afirma que a felicidade é alcançada pela obtenção do prazer. Por esse motivo, podemos até classificar tal escola como hedonista. o Hedonismo: Prática de colocar o prazer como finalidade das ações. Sendo assim, todo aquele que quer alcançar um estado de plenitude deve conhecer aquilo lhe dá mais prazer. Obs.: É importante notar que o para a escola epicurista deve-se pensar também nas consequências das ações, pois, certos prazeres momentâneos podem ocasionar uma dor maior no futuro. Estoicismo Segundo os estoicos, o homem faz parte da natureza. Sendo assim, a felicidade é alcançada quando o indivíduo obedece aos princípios lógicos da natureza, independentemente se tal ação lhe trará prazer ou dor. Outro ponto importante da ética estoica, é aceitação que devemos ter dos acontecimentos de nossa vida. Por exemplo, quando algo de ruim acontece é porque deveria acontecer, sendo assim, não devo me desesperar por isso. Ceticismo Escola que defenderá que a felicidade é a constante busca da verdade, e que por esse motivo, nunca devemos afirmar que já a encontramos. Sendo assim, a dúvida é algo persistente na vida daquele que busca ser feliz. o Suspensão do Juízo: Suspender o juízo é nunca afirmar nada com absoluto certeza. Para entender melhor essa expressão é necessário conhecer o significado da palavra “juízo”. Juízo: Qualquer afirmação sobre o mundo Sendo assim, suspender o juízo e negar qualquer possibilidade de afirmar alguma coisa. Aula 01 – Nascimento da Filosofia e os Pré-socráticos Introdução ao estudo de filosofia Antes de iniciar o assunto da primeira aula, é importante você ter em mente o que é a filosofia. Quando falamos da filosofia como uma disciplina que é cobrada no ENEM, NÃO estamos nos referindo à qualquer pensamento ou frase de aparência profunda e reflexiva. A filosofia enquanto matéria do ensino médio busca analisar as principais questões iniciadas pelos intelectuais da Grécia antiga, que viveram por volta do século VI e inovaram no modo de pensar. Sendo assim, estudar filosofia é conhecer os pensadores que se posicionaram sobre tais questões e se destacaram com suas contribuições para os grandes debates da humanidade. * COMO ESTUDAR FILOSOFIA Um dos grandes desafios de estudar filosofia é conseguir organizar todos os conceitos aprendidos, relacionando-os corretamente com os seus respectivos filósofos e autores. Tendo isto em vista, nós do Não Perca a Cabeça, trouxemos pra você duas sugestões de organização desse extenso conteúdo. Confira abaixo: a) História da Filosofia: Estudar filosofia através de sua história em ordem cronológica é uma das maneiras mais usuais nos dias de hoje. Para fazer isso, é necessário fracionar essa história em períodos: 1º período – Filosofia Antiga: Dos pré-socráticos até escolas helenísticas 2º período – Filosofia Medieval: Dos padres da Igreja até início do renascimento 3º período – Filosofia Moderna: De Descartes até Kant 4º período – Filosofia Contemporânea: De Schopenhauer até os dias de hoje b) Áreas de investigação (Temas): Outra maneira de organizar seus estudos é separar os assuntos por temas: I) Teoria do Conhecimento: Discussões que envolvem investigações sobre a aquisição de conhecimento e o processo de alcançar a verdade. II) Estética: Debates sobre o padrão de beleza. III) Ética: Investigação sobre o certo e o errado. IV) Política: Investigação sobre o modo justo de organizar a sociedade. A partir daí, você pode montar seu próprio caderno ou mapa mental inserindo os filósofos aprendidos em categorias que facilitem em um momento de consulta. * ORGANIZAÇÃO DAS AULA: Você irá notar que a forma como nossas aulas estão organizadas tem como critério majoritário a história cronológica da filosofia. Por esse motivo, começaremos com o nascimento da filosofia e os pré-socráticos, que foram os primeiros filósofos: Nascimento da Filosofia A filosofia surge na Grécia antiga no século VI. Evidentemente, as civilizações que viveram antes do surgimento dela também tentavam explicar a origem de todas as coisas e os fenômenos naturais. Porém, a filosofia se diferencia das explicações usuais da época. Para ficar clara tal diferença, observe o esquema abaixo: I) Filosofia: Busca por explicações críticas e racionais, utilizando da cosmologia para explicar a natureza. II) Mitologia: Explicações fantasiosas e fictícias sobre a natureza, utilizando o recurso da cosmogonia. * INFLUÊNCIA DA DEMOCRACIA Alguns historiadores afirmam que a democracia foi fundamental para o surgimento da filosofia, pois estimulou o debate e reflexão dos cidadãos. Por esse motivo, é importante conhecer a forma de organização política da Grécia antiga: a) Polis (cidade-estado): Pequenas comunidades politicamente independentes. b) Ágora: Espaço reservado para os debates entre os cidadãos e as decisões tomadas em conjunto na polis Atenas. c) Isonomia: Conceito que refere-se à igualdade entre os cidadãos, existente somente na polis Atenas. d) Democracia direta: Democracia existente em Atenas, onde o cidadãos participavam diretamente da política e não elegiam alguém para representa-lo. Obs.: Embora Atenas tivesse uma democracia e a aplicação do conceito de isonomia, somente alguns membros tinham direito à cidadania, que eram: Homens, adultos, livres e nascidos em Atenas. Os pré-socráticos Foram os primeiros filósofos. Esses pensadores acreditavam que era possível conhecer a natureza na sua completude e que, para desvenda-la, era necessário identificar o elemento que deu origem à essa mesma natureza. Antes de prosseguir com a exposição desse assunto, é importante você aprender que os gregos possuíam expressões específicas para se referir à natureza e ao elemento originário. Tais expressões eram, respectivamente, Physis e Arché. Physis -> Natureza. Arché -> Elemento originário (elemento primeiro). Porém, cada filósofo pré-socrático acreditava que a arché era um elemento específico. Segue abaixo, uma tabela dos principais pré-socráticos e suas respectivas archés. Filósofo pré-socrático Arché Tales Água Anaximenes Ar Anaximandro Indeterminado (Apeirón) Pitágoras Número Demócrito Átomo HERÁCLITO E PARMÊNIDES Heráclito e Parmênides foram dois filósofos pré-socráticos que se diferenciaram por tentarem definir, cada um a seu modo, a essência e identidade da natureza. Esse debate sobre a essência podemos chamar de “ontologia”. Veja abaixo a posição de cada um desses filósofos: HERÁCLITO PARMÊNIDES A essência sempre mudo, logo, tudo muda. A essência NÃO muda, logo, nada muda. Aula 04: Platão e Aristóteles Platão a) Teoria das Ideias: Teoria central de Platão que aponta a existência de dois mundo: O Mundo Sensível e O Mundo das Ideias/inteligível. ➔ Mundo Sensível: Realidade material que percebemos através do nosso corpo. Nesse mundo, as coisas se apresentam de forma inconstante e limitada, por esse motivo, não é possível encontrar a verdade nele. ➔ Mundo das Ideias: Realidade abstrata onde está a verdade e as ideias das coisas em si. Por exemplo, nesse mundo é possível acessar a ideia do homem em si, da cadeira em si, da justiça em sim, etc. O mundo sensível é uma cópia do mundo inteligível, e como toda cópia é imperfeitadiante do original, qualquer tentativa de adquirir conhecimento através do mundo sensível tenderá ao fracasso. Por isso, para Platão o conhecimento é uma lembrança que nossa alma tem do tempo em que estava no mundo das ideias. b) Forma para acessar o mundo inteligível: Para visualizar as verdades presentes no mundo das ideias é necessário utilizar a dialética, a filosofia e a matemática. Obs.: Nota-se que a filosofia de Platão, em última análise, defende a anulação constante do corpo e de seus atributos, como os sentidos. Aristóteles Aristóteles tem o mesmo objetivo de Sócrates e Platão: Alcançar a verdade. Porém, o caminho para a verdade apontado por ele se diferencia daquele sugerido por seu mestre Platão. Segundo a filosofia a aristotélica, só é possível alcançar a ideia de alguma coisa se nós já tivermos a experimentado na sua manifestação material. Por exemplo, jamais conseguiríamos definir a ideia da cadeira em si se não tivéssemos contado com a cadeira materialmente. Sendo assim, a primeira diferença que podemos definir entre Platão e Aristóteles envolve o papel dos sentidos no ato de conhecer a verdade. Para Platão, a experiência sensível do corpo, a matéria, deve ser negada. Já para Aristóteles, o conhecimento só obtido pela sensibilidade, ou seja, com o uso da matéria. PLATÃO ARISTÓTELES Não usa a matéria Usa a matéria a) As quatro causas Aristotélicas Aristóteles em sua busca pela verdade, irá definir quatro tipos de causas que justificam as características adquiridas por cada ente que encontramos na natureza. Por exemplo, você já se perguntou porque definimos o ser-humano como um ser racional? Qual é a causa dessa natureza humana? É esse tipo de questão que Aristóteles tenta responder ao definir as “quatro causas” demonstradas abaixo: I - Causa Formal: É a ideia, o conceito de algo. Por isso, ela é puramente abstrato como qualquer conceito. Exemplo: Forma de Cadeira - Objeto com um assento, quatro pernas e um encosto. II – Causa Material: É a manifestação material, física, de uma ideia. Exemplo: A cadeira onde estou sentado; a cadeira onde você está sentado(a). Estes são a cadeira na sua forma física podendo ser composta de plástico, madeira, tinta, ferro, etc. III – Causa Final: É a função, de alguma coisa. Exemplo: A função da cadeira é servir de assento. IV – Causa Eficiente: É a primeira de todas as causas. Tudo que existe possui um causa primeira. Ex.: A arché; Deus; etc. b) Ato e Potência Ato: É a coisa como está no momento. Exemplo-> A semente de uma árvore. No momento, este objeto é uma semente. Potência: Aquilo que o objeto pode se tornar. Exemplo-> A semente ainda não é uma árvore, porém, em potência é uma árvore pois poderá se tornar uma. Aula 2: Sócrates e os Sofistas Sócrates I. Antropologia É importante estabelecer a principal diferença da filosofia socrática e a dos filósofos pré-socráticos. Sócrates se diferencia por buscar estender a reflexão filosófica para assuntos que envolvem as relações humanas, como a ética e a política. Por esse motivo, podemos chama-lo de filósofo antropológico ou antropocêntrico. II. A verdade Sócrates é um filósofo que defenderá a existência de uma verdade capaz de revelar e explicar a realidade em si, sem a interferência daquilo que é aleatório e passageiro. Porém, existe uma grande possibilidade de nossas crenças sobre essa realidade não passarem de opiniões não fundamentadas, sendo assim, crenças que apenas aparentam ser a verdade. Sócrates chama essas crenças e opiniões não fundamentadas de Dóxa. Dóxa: Opinião não fundamentada. Dito isto, nota-se que o principal objetivo de Sócrates é então definir uma verdade absoluta que não se confunde com nossas falsas crenças sobre a realidade, a dóxa. III. Reconhecer sua própria ignorância: Segundo Sócrates, o primeiro passo parra alcançar a verdade é admitir a própria ignorância sendo essa postura que motiva o próprio ato de se fazer filosofia. IV. Maiêutica Para Sócrates, a verdade é algo que está em nosso interior. Por esse motivo, somente o próprio indivíduo é capaz de encontrar a verdade. Diante disso, Sócrates ajudava seus discípulos através do seus método pedagógico chamado de Maiêutica que significa, literalmente, parto de ideias. A Maiêutica consiste no uso de tais técnicas: o Dialética: Oposição de ideias. Sócrates confrontava seus discípulos com ideias que contrariavam suas crenças. o Ironia: Provocação para fazer seu discípulo desconfiar dos seus próprios preconceitos. Sofistas Os sofistas eram intelectuais, contemporâneos de Sócrates, que não acreditavam na existência de uma verdade absoluta. Para eles, a verdade é algo relativo que irá depender sempre da capacidade de convencimento daquele que fala. Por esse motivo, os sofistas valorizavam o uso da retórica, que é a arte de falar bem. Retórica: Arte de falar bem.
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