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Prévia do material em texto

LEANDRO BISPO DA SILVA 
 
 
 
 
 
 
 
 
TRÁFICO DE PESSOAS PARA FINS DE EXPLORAÇÃO SEXUAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PALMAS-TO, 2019 
 
LEANDRO BISPO DA SILVA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TRÁFICO DE PESSOAS PARA FINS DE EXPLORAÇÃO SEXUAL 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso 
apresentado ao Curso de DIREITO da 
FACULDADES OBJETIVO FAPAL como 
requisito à obtenção do grau de 
bacharelado em Direito. 
 
Orientadora: Profa. Maria de Fátima Xavier 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PALMAS 
2019 
TERMO DE APROVAÇÃO 
 
 
LEANDRO BISPO DA SILVA 
 
 
 
TRÁFICO DE PESSOAS PARA FINS DE EXPLORAÇÃO SEXUAL 
 
 
Monografia intitulada “ TRÁFICO DE PESSOAS PARA FINS DE EXPLORAÇÃO 
SEXUAL” apresentado ao Curso de Direito da Faculdades Objetivo como requisito à 
obtenção do grau de bacharelado em Direito, pela seguinte banca examinadora: 
 
 
 
Profa. Mestre Maria de Fátima Xavier 
Orientadora – Educação Profissional na Instituição. 
Faculdades Objetivo Fapal, Palmas-TO 
 
 
 
Prof. Mestre 
 
Educação Profissional na Instituição. 
Faculdades Objetivo Fapal, Palmas-TO 
 
 
 
Prof. Mestre 
Educação Profissional na Instituição. 
Faculdades Objetivo Fapal, Palmas-TO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Palmas - To, 06 de Fevereiro de 2019 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aos nossos pais e familiares, que foram grandes incentivadores e que sempre 
acreditaram nos nossos sonhos 
AGRADECIMENTOS 
 
A Minha orientadora, Profa. Maria de Fátima Xavier Ribeiro, pelo 
acompanhamento, orientação e amizade. Ao Curso de Direito, da Instituição 
Faculdades Objetivo Fapal, na pessoa de seu Coordenador Prof. André 
Vanderlei Cavalcanti Guedes, pelo grande trabalho realizado nestes cinco longos 
anos. Ao colegiado do Curso de Direito, pela compreensão aos momentos 
difíceis. Agradecimentos aos meus colegas de sala, foram anos difíceis mais 
vencemos mais uma etapa das nossas vidas. Meus singelos agradecimentos a 
toda instituição, pelos serviços prestados, pelo apoio incondicional, todos fazem 
parte dessa nova história de nossas vidas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O que for a profundeza do teu ser, assim será teu 
desejo. 
O que for o teu desejo, assim será tua vontade. 
O que for a tua vontade, assim serão teus atos. 
O que forem teus atos, assim será teu destino. 
 
Brihadaranyaka Upanishad 
RESUMO 
 
A presente monografia, pautada no direito penal, e no princípio da dignidade 
humana, discorre sobre o tráfico de pessoas para fim de exploração sexual, tendo 
em vista o consentimento da vítima maior e capaz. Para tanto, foi feita uma análise 
introdutória do direito penal sexual, buscando identificar o bem jurídico tutelado 
hodiernamente sem a influência de conteúdo estritamente moral, pois no tráfico de 
pessoas deve prevalecer a proteção da liberdade sexual. Foram examinados os 
principais acordos internacionais afeitos à matéria, em especial o Protocolo de 
Palermo, e também a legislação de países como Alemanha, Portugal, Espanha, 
Itália, Estados Unidos e Argentina. Neste contexto, fez-se uma leitura crítica da 
legislação brasileira (mormente o art. 231 do Código Penal), que está em falta com 
a agenda internacional por se limitar a tutelar o tráfico internacional quando se 
trata de exploração de índole sexual. Além disso, o dispositivo se mostra falho em 
sua essência, por não enxergar o tráfico como um fenômeno, um processo delitivo 
complexo e multifacetado. À ineficácia legislativa se soma a insuficiência das 
políticas públicas nesta seara para o efetivo enfrentamento do tráfico de pessoas, 
visando a sua prevenção, punição e também a proteção às vítimas. 
 
 
PALAVRAS-CHAVE: Tráfico de pessoas. Tráfico internacional de pessoas. 
Prostituição. Direito penal sexual. Lenocínio. Exploração sexual. Consentimento. 
ABSTRACT 
 
The present monography, based on criminal law and the principle of human dignity, 
deals with the international trafficking of persons for the purpose of sexual exploitation, 
in view of the consent of the largest and most capable victim. In order to do so, an 
introductory analysis of the sexual criminal law and of prostitution was carried out, 
seeking to identify the juridical right protected without any influence of strictly moral 
content, since the protection of sexual freedom should prevail in trafficking in persons. 
The main international agreements related to the matter, in particular the Palermo 
Protocol, as well as the legislation of countries such as Germany, Portugal, Spain, Italy, 
the United States and Argentina were examined. In this context, a critical reading of 
Brazilian legislation was made (mainly article 231 of the Penal Code), which is lacking in 
the international agenda because it is limited to protecting international trafficking when 
it comes to exploitation of a sexual nature. In addition, the device is flawed in its 
essence, for not seeing the trafficking as a phenomenon, a complex and multifaceted 
deli process. Legislative inefficiency adds to the insufficiency of public policies in this 
area for the effective confrontation of trafficking in persons, aiming at their prevention, 
punishment and also the protection of victims. 
 
KEY WORDS: Trafficking in persons. International traffic of people. Prostitution. 
Sexual criminal law. Littering. Sexual exploitation. Consent. 
LISTA DE 
ILUSTRAÇÕES/IMAGENS 
FIGURA 1 -................................................................................................. 49 
FIGURA 2 -................................................................................................. 50 
FIGURA 3 - ........................................................................... ..................... 51 
LISTA DE ABREVIATURAS 
 
PNETP: Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de 
Pessoas. 
PNC: Panorâmica. 
PG: Plano Geral. 
PP: Primeiro Plano. 
FAPAL: Faculdade de Palmas. 
LISTA DE SÍMBOLOS 
 
@ - arroba 
© - copyright 
® - marca registrada 
¶ - parágrafo 
β - beta 
SUMÁRIO 
1. INTRODUÇÃO. ..................................................................................................................... 15 
2. ASPECTOS HISTÓRICOS DO TRÁFICO DE PESSOAS PARA FINS SEXUAIS ............... 16 
2.1 O Que é Tráfico de Pessoas - Panorama Geral..................................................................16 
2.2 Como Surgiu o Tráfico de Pessoas......................................................................................17 
2.3 A partir de quando foi proibido o tráfico de pessoas............................................................18 
2.4 A Sociedade Contemporênea e o Tráfico de Pessoas para fim de Exploração Sexual......19 
3. LEGISLAÇÃO EM VIGOR.................................................................................................... .21 
3.1 Constituição Federal............................................................................................................ 22 
3.2 Princípios Constitucionais.................................................................................................... 24 
3.2.1 Príncipio da Dignidade da Pessoa Humana................................................................. 24 
3.2.2 Princípio da Liberdade................................................................................................. 25 
3.2.3 Legislação Penal..........................................................................................................25 
3.2.3.1 Lei 13.344/16 Tráfico de Pessoas”...............................................................................26 
4. TRÁFICO DE PESSOAS PARA FINS DE EXPLORAÇÃO SEXUAL.................................29 
4.1 Evolução Legislativa: das Ordenações Filipinas à Reforma Penal de 2009..................... 29 
4.2 Bem Jurídico Tutelado.......................................................................................................29 
4.2.1 Sujeito Ativo................................................................................................................31 
4.2.2 Sujeito Passivo............................................................................................................31 
4.2.3 Tipo Objetivo................................................................................................................32 
4.2.4 Elemento Subjetivo..................................................................................................... 34 
4.2.5 Consumação e Tentativa.............................................................................................35 
4.2.6 Finalidade de Lucro, Lavagem de Dinheiro e Crime Organizado................................36 
4.2.7 Ação e Competência...................................................................................................39 
4.2.8 Panorama Atual do Tráfico de Pessoas...................................................................... 39 
4.2.8.1 A Politíca Nacional no Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas.....................................40 
4.2.8.2 Rede de Cooperação Júridica Internacional................................................................ 41 
4.2.9 Volta ao Tempo, Resgate Histórico do Tráfico de Pessoas..........................................42 
4.2.9.1 Extensão e Rota do Tráfico..........................................................................................43 
4.2.9.2 Repressão, Denúncia, e Monitoramento do Tráfico.....................................................43 
4.2.9.3 Elementos Fundamentais Constitutivos para a Definição do Tráfico de Pessoas........44 
4.2.9.4 A Questão do Consentimento......................................................................................44 
4.2.9.5 Situação de Vulnerabilidade.........................................................................................45 
4.2.9.6 Modalidade do Tráfico de Pessoas...............................................................................46 
* Tráfico de Pessoas para Fins de Exploração Sexual ............................................................ 46 
4.2.9.7 Prostituição e Tráfico de Pessoas. .............................................................................. 46 
4.2.9.8 Perfil das Vítimas. ....................................................................................................... 47 
4.3 Dados Sobre Tráfico de Pessoas no Brasi ......................................................................... 48 
4.3.1 GRÁFICOS .................................................................................................................. 49 
Figura 1 .......................................................................................................... ....49 
Figura 2 ............................................................................................................. 50 
Figura 3 ............................................................................................................. 51 
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................52 
REFERÊNCIAS....................................................................................................................53 
APENDICE 1 BRIEFING......................................................................................................54
15 
 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
O tráfico de pessoas não é um crime recente. Ao analisarmos a história das civilizações 
encontraremos várias passagens em que esse delito se fez presente, desde a escravidão 
por dívida na antiguidade até o tráfico negreiro da idade moderna, a diferença em relação 
a este último se faz porque os contemporâneos traficantes não fazem distinção de cor ou 
raça, o ser humano é a mercadoria exposta em prateleiras nas favelas e guetos. Esse crime 
revela-se um fenômeno multifacetado, razão pela qual também podemos relacioná-lo ao 
fenômeno das migrações. Os anseios por uma vida melhor levam inúmeras pessoas a 
mudarem de cidade, estado ou país e tornam esse migrantes vulneráveis a ação criminosa 
dos aliciadores, que se aproveitam dos seus sonhos para iludir e aprisionar suas vítimas a 
partir da retenção dos seus documentos pessoais, violência, ameaças constantes, 
inclusive, a familiares etc. Importante se faz diferenciar conceitualmente o contrabando 
de migrantes e o tráfico de pessoas. Com base na doutrina podemos conceituar o 
contrabando ou tráfico de migrantes como a prática ilegal de fazer o transporte 
clandestino de pessoas entre as fronteiras de países, esse transporte é consensual e 
verifica-se a ausência de violação dos direitos humanos, ocorrendo sim, o desrespeito as 
leis migratórias do país de destino. Diferentemente, o tráfico de pessoas apesar de 
também envolver o deslocamento, seja dentro de um mesmo território nacional, seja 
entre países, faz uso da ameaça ou da força ou a outras formas de coação para fins de 
exploração dos seres humanos traficados. 
 
As mulheres, meninas e travestis são as principais vítimas do tráfico de pessoas para 
fim de exploração sexual. Apesar de todos os avanços conquistados pelos movimentos 
feministas do século XX, as desigualdades entre homens e mulheres ainda são frequentes 
nas sociedades modernas, principalmente, em países com baixo índice de 
desenvolvimento humano. Infelizmente, a realidade para os travestis não é diferente, 
estes vivenciam no cotidiano de suas relações o preconceito e a falta de humanidade. Não 
são poucos os que chegam a ser expulsos de suas próprias famílias, ou os que sofrem 
constantes humilhações, além disso, para quase a totalidade é negado acesso a empregos 
com carteira assinada. Diante desse quadro, a prostituição surge como a única e/ou 
melhor oportunidade para viver com dignidade, contudo, a partir dessa situação de 
vulnerabilidade, tornam-se facilmente vítimas dos traficantes de seres humanos. Essas 
desigualdades de poder baseadas no gênero fragilizam os direitos das mulheres e dos 
transgêneros, assim, é imperioso que a sociedade internacional conheça plenamente o 
significado desse crime e coopere para a sua prevenção, efetiva repressão dos criminosos 
e assistência às vitimas. Neste diapasão, o presente artigo científico busca analisar os 
aspectos criminológicos, jurídicos e as políticas públicas de enfrentamento ao tráfico de 
pessoas para fim de exploração sexual, com o escopo de desenvolver um trabalho que 
sirva de parâmetro para novas discussões sobre o assunto. Para tanto, fez uso da 
abordagem de pesquisa fenomenológica (qualitativa), onde foram analisados os 
fundamentos doutrinários, conceituais, teóricos e legislação que fundamentam a 
aplicação de políticas públicas no combate ao tráfico de pessoas. Inicia-se a discussão a 
partir de uma analise geral sobre o crime de tráfico de pessoas, detendo-se em seguida a 
uma analise mais específica sobre o tráfico de pessoas para fim de exploração sexual. Em 
um terceiro momento, passa-se a discutir o contexto nacional de enfrentamento ao 
tráfico de pessoas, principalmente, em seu aspecto legal. Por fim, trazemos a lume uma 
analise das políticas públicas nacionais de enfretamento dos delitos tipificados nos artigos 
231 e 231-A do Código Penal brasileiro. 
16 
 
 
2. ASPECTOS HISTÓRICOS DO TRÁFICO DE PESSOAS PARA FINS 
SEXUAIS: 
 
Otráfico internacional de pessoas para fins sexuais nos moldes como o conhecemos 
hoje é recente. Porém, a análise histórica mostra que desde os tempos de Colônia o Brasil 
padece desse mal. Dos séculos XVI a XIX as escravas negras foram obrigadas a se prostituir 
pelos seus senhores. Finda a escravidão negra, os fluxos migratórios trouxeram ao País as 
escravas brancas para serem exploradas sexualmente. Hoje, de local de destino, o Brasil 
tornou-se primordialmente exportador de escravos sexuais. 
 
 
 
 
2.1 O QUE É TRÁFICO DE PESSOAS - PANORAMA GERAL. 
 
A Organização das Nações Unidas (ONU), no Protocolo de Palermo (2003), define 
tráfico de pessoas como o “recrutamento, transporte, transferência, abrigo ou 
recebimento de pessoas, por meio de ameaça ou uso da força ou outras formas de 
coerção, de rapto, de fraude, de engano, do abuso de poder ou de uma posição de 
vulnerabilidade ou de dar ou receber pagamentos ou benefícios para obter o 
consentimento para uma pessoa ter controle sobre outra pessoa, para o propósito de 
exploração“. 
 
De maneira geral, o tráfico de pessoas consiste no ato de comercializar, escravizar, 
explorar e privar vidas, caracterizando-se como uma forma de violação dos direitos 
humanos por ter impacto diretamente na vida dos indivíduos. Se houver transporte, 
exploração ou cassação de direitos, o crime pode ser classificado como tráfico de 
pessoas, não importa se há supostamente um consentimento por parte da vítima. 
 
 
 
“O tráfico de pessoas é, em todo o mundo, o terceiro negócio ilícito mais 
rentável, logo depois das drogas e das armas. Essa prática não exclui 
nenhum país, nem indivíduos, mesmo que mulheres, crianças e 
adolescentes sejam as principais vítimas. Os países mais vulneráveis ao 
tráfico de seres humanos e à exploração sexual são os marcados pela 
pobreza, instabilidades políticas, desigualdades econômicas, países que 
não oferecem possibilidade de trabalho, educação e perspectivas de futuro 
para os jovens” ( Livro: A História do Tráfico) 
17 
 
 
 
 
2.2 COMO SURGIU O TRÁFICO DE PESSOAS. 
 
 
Seja nos limites nacionais ou por caminhos internacionais, o tráfico vem se 
avolumando em número de rotas para circulação, vítimas de distintos lugares e 
movimentação financeira. No entanto, o tráfico de pessoas, apesar de atual, 
acontece há séculos. Quando voltamos os olhos para a história percebemos que o 
tráfico de seres humanos, para distintas finalidades, está presente em diversas 
fases do desenvolvimento da humanidade. Existem relatos da comercialização de 
pessoas para trabalho escravo na Idade Média (de 476 a 1453), durante a 
república romana. Com as lutas entre diferentes povos para conquistar novas 
terras, os vencedores passavam a possuir formas de dominar os perdedores, que 
eram transformados em escravos para atuar na construção de cidades, na 
realização de serviços domésticos, dentre outras atividades. Durante os séculos 
das grandes navegações e das colonizações (XV a XVII), o trabalho escravo se 
tornou fundamental pois novas terras precisavam ser conquistadas e visando lucro 
rápido ao menor custo, a utilização do trabalho escravo era a saída ideal. O tráfico 
negreiro representa, portanto, o mais notório tráfico de pessoas com fins lucrativos. 
 
 
Por aproximadamente 400 anos (1501 a 1875), foi uma das principais 
atividades comerciais administradas pelos impérios inglês, português, francês, 
espanhol, holandês e dinamarquês. Durante essa fase, os negros africanos foram 
trazidos da África para serem suprimento da mão-de-obra não remunerada em 
diversas colônias, como ocorrido no Brasil, onde a escravidão foi base da 
economia durante os quatro séculos o recrutamento, o transporte, a 
transferência, o alojamento ou o acolhimento de pessoas, recorrendo à ameaça 
ou uso da força ou a outras formas de coação, rapto, fraude, ao engano, ao abuso 
de autoridade ou de situação de vulnerabilidade ou à entrega ou aceitação de 
pagamentos ou benefícios para obter o consentimento de uma pessoa que tenha 
autoridade sobre outra, para fins de exploração. A exploração incluirá, no mínimo, 
a exploração por prostituição de outrem ou outras formas de exploração 
sexual, trabalho forçado ou serviços, escravidão ou práticas análogas à 
escravidão, servidão ou a remoção de órgãos; 
O consentimento de uma vítima do tráfico de pessoas para a exploração descrito 
na alínea (a), do presente artigo é irrelevante quando qualquer um dos meios 
previstos na alínea (a) têm sido utilizados. O recrutamento, o transporte, a 
transferência, o alojamento ou o acolhimento de uma criança para fins de 
exploração serão considerados "tráfico de pessoas", mesmo que isso não envolva 
qualquer um dos meios referidos na alínea do presente artigo. Criança” entende- 
se qualquer pessoa com menos de 18 anos de idade. 
18 
 
 
 
 
2.3 A PARTIR DE QUANDO FOI PROIBIDO O TRÁFICO DE PESSOAS. 
 
A partir do século XIX, a legislação internacional passou a voltar seus esforços na 
proibição desse tráfico já que, com o tráfico negreiro, mulheres europeias eram trazidas 
por redes internacionais de traficantes para a Europa e Estados Unidos da América e 
para as colônias para trabalhar como prostitutas. O “tráfico de escravas brancas” se 
tornou preocupante devido a um pânico moral nesses locais, que passaram a reivindicar 
mecanismos de erradicação da prática. Surgem a partir de 1904 os primeiros 
instrumentos legais para combater o tráfico nacional e internacional de mulheres, que 
mais tarde foi chamado de tráfico de pessoas. As convenções compreendiam o tráfico 
como todo ato de captura ou aquisição de um indivíduo para vendê-lo ou trocá-lo. No 
século XX, a Organização das Nações Unidas (ONU) manteve a construção de diversas 
convenções e discussões sobre as ramificações do tráfico de pessoas. Em 1956, a 
Convenção de Genebra repetiu os conceitos que já tinham sido construídos no passado e 
ampliou o foco para outros pontos importantes, como o casamento forçado de mulheres 
em troca de vantagem econômica; a entrega, lucrativa ou não, de menores de 18 anos a 
terceiros para exploração. 
 
A Convenção de Genebra também confirmou a importância de os países membros 
estabelecerem medidas administrativas para modificar as práticas ligadas à escravidão, 
assim como definir como crime essa e outras condutas ligadas ao transporte de pessoas 
de um país a outro e a privação de suas liberdades. 
Em 1998 o Estatuto do Tribunal Penal Internacional passou a definir a escravidão 
sexual e a prostituição forçada como crimes internacionais de guerra, contra a 
humanidade. Assim, a Assembléia Geral da ONU criou um comitê intergovernamental 
para elaborar uma convenção internacional global contra esses crimes e examinar a 
possibilidade de elaborar um instrumento para tratar de todos os aspectos relativos ao 
tráfico de pessoas, em especial de mulheres e crianças. O comitê apresentou uma 
proposta intensamente discutida durante o ano de 1999, que foi aprovada 
como Protocolo de Palermo (2000) por meio do qual o tráfico de pessoas se tornou um 
crime organizado transnacional, ou seja, comum a várias nações. 
 
 
 
 
“A partir de 2000, vários protocolos e convenções foram 
adicionados a mecanismos da ONU para que os Estados- membros 
mantenham esforços de combater o tráfico de seres humanos. O 
Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), 
criado em 1999, passou a ressaltar também o envolvimento do 
crime organizado na atividade e promover medidas eficazes para 
reprimir ações criminosas relacionadas, passando a se basear em 
alguns mecanismos.” 
19 
 
 
 
 
2.4 A SOCIEDADE CONTEMPORÊNEA E O TRÁFICO DE PESSOAS PARA 
FIM DE EXPLORAÇÃO SEXUAL. 
 
 
O século XX observou uma inversão dos fluxos migratórios,separados pelo interregno 
que se estendeu da Segunda Guerra Mundial aos anos 80. Se, no início do século a 
preocupação era com as escravas brancas, as europeias trazidas para a prostituição nas 
capitais sul-americanas como Rio de Janeiro e Buenos Aires, desde o final do século XX o que 
se vê são os países pobres e subdesenvolvidos como fornecedores de pessoas para a 
exploração sexual em nações ricas, especialmente para o mercado europeu- ocidental164. 
Embora os tempos sejam outros, muitas características do tráfico de outrora se mantiveram. 
Segundo Lená Medeiros de Menezes165, algumas práticas e algumas razões guardam 
semelhanças impressionantes, como se tivessem permanecido congeladas no tempo. São 
elas: caráter transnacional, vítimas vulneráveis; engodo durante o aliciamento; situação de 
escravidão por dívida no local de destino etc. 
 
Hoje a globalização põe à disposição dos traficantes de pessoas todas as suas 
ferramentas utilizadas para fins lícitos, como a revolução dos meios de comunicação e a 
facilidade de transpor fronteiras. O tráfico é tratado como um negócio qualquer, e suas 
vítimas se transformaram em commodities. Os traficantes buscam suas mercadorias em 
ambientes vulneráveis, e as vendem nos mercados mais promissores. 
 
Diante desse cenário estarrecedor, hoje muito se fala em tráfico de pessoas, porém não 
há estatísticas167 suficientes para informar seu montante ou suas características. 
Lamentavelmente, trata-se ainda de um crime invisível. “Os dados existentes decorrem de 
diferentes fontes, colhidos por diferentes metodologias, em diferentes épocas, usando 
definições divergentes de tráfico de pessoas, por diferentes agências e por motivações 
muito diversas”168 e 169 A título ilustrativo, segundo dados disponíveis no site da 
Organização Internacional para as Migrações – OIM170, o tráfico internacional de pessoas é 
uma das três atividades mais lucrativas do crime organizado. Em 2005 se calculavam 2,4 
milhões de vítimas de tráfico de pessoas trabalhando em condições de exploração no 
mundo todo. 
20 
 
 
 
 
O pesquisador Siddharth Kara171 afirma que em 2006 havia cerca de 28,4 milhões de 
pessoas vivendo como escravos em todo o mundo. São crianças indianas roubadas das 
famílias trabalhando 16 horas por dia no cultivo do chá ou na confecção de tapetes; 
adultos e crianças trabalhando no cultivo da cebola, abacate e milho nos Estados do Texas, 
Califórnia, Flórida e Carolina do Norte e do Sul; ou no cultivo do cacau na Costa do Marfim, 
do café na Etiópia e no Quênia e nas carvoarias no Brasil. Desses 28,4 milhões, Kara afirma 
que aproximadamente 1,2 milhão são jovens mulheres e crianças exploradas sexualmente. 
Segundo dados fornecidos em 2010 pelo Escritório das Nações Unidas contra Drogas e 
Crime – UNODC172, a movimentação financeira envolvida no delito de tráfico de pessoas 
com fim de exploração sexual para a Europa alcança 3 bilhões de dólares anuais, e o 
número de novas vítimas é 70.000 por ano. Ainda segundo dados do UNODC, 84% das 
vítimas traficadas para a Europa ocidental e central são destinadas à exploração sexual173. 
 
 
“Desse número, a maior parte174 é do leste europeu, em função 
dos problemas político-sociais que atingem essa região175. Das 
vítimas com origem na América do Sul, é cada vez maior o 
número de brasileiras, incluindo transexuais, provenientes 
principalmente das regiões mais pobres do País. Em segundo 
lugar aparecem as paraguaias176. e Suíça”. 
21 
 
3. LEGISLAÇÃO EM VIGOR. 
 
Os direitos humanos surgiram de lutas e exigências da sociedade frente ao Estado. 
Dentro de um contexto histórico, Pérez Luño (1979) afirma que eles consistem em “ um 
conjunto de faculdades e instituições que, em cada momento histórico, caracterizam as 
exigências da dignidade, da liberdade e da igualdade humana, as quais devem ser 
reconhecidas positivamente pelos ordenamentos jurídicos em nível nacional e 
internacional.” Dentro da evolução da humanidade, pode-se afirmar que os direitos 
humanos foram conquistados pelas guerras, revoluções e movimentos anárquicos, 
passando-se por três gerações distintas (BONAVIDES, 1996). Em um primeiro momento, o 
homem se opôs ao Estado, isto é, o direito inicialmente concebido foi o direito à liberdade. 
Em seguida, em um segundo momento, o homem procurou o seu bem-estar material, 
fazendo nascer os direitos sociais, culturais e econômicos. No terceiro estágio, ele buscou 
preservar a espécie humana, como decorrência do movimento denominado globalização 
(VIEIRA, 1998), que faz surgir na sociedade a busca das liberdades individuais e coletivas, 
não mais se restringindo ao seu território, mas ultrapassando as barreiras nacionais, 
sempre com uma visão universal. 
 
Em consequência desta evolução, depara-se com o surgimento dos direitos 
denominados de terceira geração (ALMEIDA, 1996). Princípios de Proteção à Pessoa 
Humana e sua Relação com o Tráfico Humano A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO TRÁFICO DE 
PESSOAS. Para Bobbio, os direitos fundamentais são direitos históricos. Os direitos humanos 
fundamentais deixaram de ser apenas questões filosóficas para estarem presentes nas 
Constituições modernas, fruto do movimento denominado constitucionalismo social, 
compondo-se, assim, um rol restrito de direitos fundamentais, conforme observou Alexy 
(1997), fazendo com que a matéria passasse para a interpretação do Direito Positivo, 
integrando a moderna interpretação constitucional. As Constituições não mais se 
destinaram a proporcionar uma proteção do indivíduo frente ao Estado. Visaram a informar 
os princípios do constitucionalismo moderno, do Estado Democrático de Direito, 
apresentando as linhas gerais para a atividade estatal e social, no sentido de promover o 
bem comum individual e coletivo dos indivíduos sujeitos à sua égide. 
22 
 
 
3.1 CONSTITUIÇÃO FEDERAL. 
 
 
Direito à vida: Bem de maior valor para o homem. Sua tutela jurídica encontra-se 
presente na essência de todos os ordenamentos, pois só há direito se houver vida. A tutela 
à vida está presente no Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, que em seu artigo 
6º dispõe: “ o direito à vida é inerente à pessoa humana ”. Esse direito deverá ser protegido 
por lei, e ninguém poderá ser arbitrariamente dela privado. No ordenamento interno, da 
Constituição Federal, no artigo 5º , caput, há garantia do direito à vida a todos os brasileiros 
e estrangeiros residentes no Brasil. 
 
Direito à liberdade: O conceito de liberdade varia conforme o momento histórico em 
que se encontra. A liberdade constitui um valor social, tendo conquistado progressos no 
transcorrer da história, fortalecendo-se à medida que a atividade humana se alarga. A 
liberdade tem um profundo enraizamento na cultura humana como valor; constitui-se em 
um dos fundamentos da Revolução Francesa e da Revolução Norte-Americana (GRECO 
FILHO, 1989). O liberalismo moderno colocou a liberdade como um bem irrecusável, e a 
partir dela se edificaria o progresso social, a justiça política e o equilíbrio das instituições. 
Constitui-se um direito da pessoa humana (FARIAS, 1996), tendo constado na Declaração 
de Direitos do Homem e do Cidadão. 
 
Direitos de liberdade no âmbito da classificação dos direitos fundamentais: Segundo 
Jellinek, foram objeto do trabalho de Magalhães (1992) que os classificou em quatro 
grupos: Direitos individuais, Direitos sociais, Direitos econômicos e Direitos políticos. 
Direito à dignidade de pessoa humana A busca de preservação da pessoa humana respalda- 
se no princípio jurídico da dignidade da pessoa humana. A dignidade está presente no 
ordenamento constitucional brasileiro. Borba (2001) ressalta que “ a dignidade da pessoa 
humana e os valores sociais do trabalhosão garantias que transcendem os direitos sociais 
para se constituir fundamentos da República, na forma do artigo 1º , incisos III e IV, da 
Constituição Federal. 
23 
 
 
 
24 
 
 
3.2 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS. 
 
A CONSTITUIÇÃO FEDERAL de 1988, prevê no seu artigo 1 que a República Federativa 
do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, 
constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: a soberania; a 
cidadania; a dignidade da pessoa humana; os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; 
o pluralismo político. No próprio preâmbulo da Carta Constitucional está descrito: “Nós, 
representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para 
instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e 
individuais” (...). Não há como falar em Estado Democrático de Direito sem relacioná-lo aos 
direitos e garantias fundamentais, tais como: o direito à liberdade e a dignidade da pessoa 
humana. A dignidade da pessoa humana é o valor-fonte de todos os direitos fundamentais. 
Esse valor se apresenta como fundamento e fim último de toda a ordem política brasileira. 
José Afonso da Silva caracteriza a dignidade da pessoa humana como valor superior, que 
atrai o conteúdo dos outros direitos fundamentais, desde o direito a viver. O valor da 
dignidade humana tem a missão de reconhecer não apenas que a pessoa é sujeito de 
direitos e créditos diante dessa ordem política, mas que é um ser individual e social ao 
mesmo tempo. Todos, quaisquer indivíduos, sem qualquer distinção, são detentores de 
direitos humanos. Liberdade significa o direito de ir, vir e permanecer, de acordo com a 
própria vontade, desde que não prejudique outra pessoa, é a sensação de estar livre e não 
depender de ninguém. A liberdade está relacionada com a condição de ser livre. 
 
 
 
 
 
3.2.1 PRÍNCIPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. 
 
 
Temos por dignidade da pessoa humana a qualidade intrínseca e distintiva de cada ser 
humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da 
comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais 
que assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, 
como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudável, além 
de propiciar e promover sua participação ativa co-responsável nos destinos da própria 
existência e da vida em comunhão dos demais seres humanos. A dignidade da pessoa 
humana, prevista no artigo 1º, inciso III da Constituição Federal, constitui um dos 
fundamentos do Estado Democrático de Direito, inerente à República Federativa do Brasil. 
Sua finalidade, na qualidade de princípio fundamental, é assegurar ao homem um mínimo de 
direitos que devem ser respeitados pela sociedade e pelo poder público, de forma a 
preservar a valorização do ser humano. Sendo a dignidade da pessoa humana um 
fundamento da República, a essa categoria erigido por ser um valor central do direito 
ocidental que preserva a liberdade individual e a personalidade, portanto, um princípio 
fundamental alicerce de todo o ordenamento jurídico pátrio, não há como ser mitigado ou 
relativizado, sob pena de gerar a instabilidade do regime democrático, o que confere ao dito 
fundamento caráter absoluto. 
25 
 
 
 
3.2.2 PRINCÍPIO DA LIBERDADE: 
 
Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte 
para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais 
e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a 
justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, 
fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a 
solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte 
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. 
 
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos 
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à 
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: 
 
XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da 
tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como 
crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo 
evitá-los, se omitirem. 
 
 
 
 
3.2.3 LEGISLAÇÃO PENAL. 
 
O Tráfico de Pessoas é um dos crimes mais repugnantes e assume dimensões 
transnacionais. Segundo o artigo 3º., alínea a do Protocolo de Palermo, constitui “Tráfico de 
Pessoas”: o recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento de 
pessoas, recorrendo à ameaça ou ao uso da força ou a outras formas de coação, ao rapto, à 
fraude, ao engano, ao abuso de autoridade ou de situação de vulnerabilidade ou à entrega 
ou aceitação de pagamentos ou benefícios para obter o consentimento de uma pessoa que 
tem autoridade sobre outra, para fins de exploração. A exploração deverá incluir, pelo 
menos, a exploração da prostituição de outrem ou outras formas de exploração sexual, o 
trabalho ou serviços forçados, a escravatura ou práticas similares à escravatura, a servidão 
ou a extração de órgãos”. A Lei 13.344/16, por seus artigos 13 e 16, alterou o Código Penal 
Brasileiro, inserindo o artigo 149 – A com o “nomen juris” de “Tráfico de Pessoas” e 
revogando expressamente os artigos 231 e 231 –A, CP que anteriormente tratavam da 
matéria. 
26 
 
 
 
3.2.3.1 LEI 13.344/16 TRÁFICO DE PESSOAS. 
 
A matéria já possuía disciplina em tratado internacional, sendo combatido pelo 
Protocolo Adicional à Convenção da ONU contra o Crime Organizado relativo à Prevenção, 
Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas, ratificado pelo Brasil e promulgado pelo Decreto 
5.017/04. Todavia, em que pese o compromisso assumido pelo Brasil na órbita 
internacional, o tráfico de pessoas era reprimido criminalmente pelo ordenamento jurídico 
nacional apenas em sua forma de exploração sexual, por meio de crimes 
hospedados no próprio Código Penal (arts. 231 e 231-A do CP). Esse cenário mudou 
com a edição da nova lei, de modo que o Brasil, que estava em mora com a comunidade 
internacional, desonera-se dessa obrigação e estabelece mecanismos de prevenção e 
repressão do tráfico de pessoas. Passam a ser punidas outras formas de exploração 
(remoção de órgãos, trabalho escravo, servidão e adoção ilegal), o que representa inegável 
avanço no combate ao tráfico de pessoas, respeitando-se o disposto no art. 3º do pacto 
internacional. Interessante constatar que a Lei 13.344/16, na linha do que dispõe o tratado 
de direitos humanos, é calcada em 3 eixos, a saber, prevenção, repressão e assistência à 
vítima (art. 1º, parágrafo único). Segundo o novel art. 149-A do CP, configura tráfico de 
pessoas agenciar, aliciar, recrutar, transportar, transferir, comprar, alojar ou acolher pessoa, 
mediante grave ameaça, violência, coação, fraude ou abuso. Trata-se de tipo misto 
alternativo, crime de ação múltipla que pode ser praticado mediante a prática de qualquer 
das condutas. Há atos que denotam permanência, tais como transportar e alojar, casos em 
que a consumação se prolonga no tempo. É um crime bicomum, não existindo condição 
especial do agente ou da vítima. Como elemento subjetivo do tipo, demanda-se a finalidade 
especial, não necessariamente a exploração sexual, mas alternativamente a remoção de 
órgãos, trabalho escravo, servidão ou adoção ilegal. A consumação do delito independe da 
efetiva concretização da vontade específica, bastando a realização de um dosnúcleos do 
tipo mediante violência física ou moral, fraude ou abuso. Enquanto nos crimes dos arts. 
231 e 231-A a violência ou fraude atuava como majorante, no crime de tráfico de pessoas 
passa a fazer parte do próprio tipo penal. Se o dissentimento é requisito do crime, o 
consentimento válido do ofendido exclui a tipicidade da conduta (não atuando como causa 
supralegal de exclusão da ilicitude). 
 
Não deve ser considerada válida a concordância de pessoa vulnerável, entendida 
como o menor de 18 anos. O critério corresponde ao conceito de vulnerável emoldurado no 
art. 218-B do CP, que protege o menor de 18 anos contra a exploração sexual, e não o 
patamar de 14 anos definido no art. 217-Ado CP, que tipifica o crime de estupro de 
vulnerável. Afinal, se o menor de 18 anos não pode consentir na sua exploração sexual, 
também não pode aquiescer validamente para seu tráfico com outras finalidades. Esse é o 
entendimento que se coaduna com o compromisso internacional assumido pelo Brasil, que 
especificamente remete à essa idade (art. 3º, d). Diferentemente do tratado internacional, a 
Lei 13.344/16 não listou o pagamento de benefícios como meio de execução do delito, o 
que significa que em tese seria lícito o tráfico de pessoas mediante contraprestação aceita 
pelo indivíduo, muito embora seja difícil essa situação não envolver abuso ou fraude. Cabe 
tentativa do delito Foram revogados os arts. 231 e 231-A do CP (tráfico internacional e 
interno para fim de exploração sexual). Não se cuida de abolitio criminis, pois houver apenas 
a revogação formal do tipo penal, mas não a supressão material do fato criminoso. É dizer, 
ocorreu na verdade a incidência do princípio da continuidade normativo-típica, pois a 
conduta continua sendo definida como crime, muito embora tenha havido a alteração 
topográfica do tipo penal. 
27 
 
 
 
 
A legislação tornou mais rigorosas as penalidades. Logo, em se tratando de lex gravior, a lei 
não pode retroagir para prejudicar o réu. As majorantes (1/3 a 1/2) definidas no § 1º 
incidem no caso de (a) crime cometido por funcionário público, (b) contra criança, 
adolescente ou pessoa idosa ou com deficiência, (c) prevalência de relações de parentesco, 
domésticas, de coabitação, de hospitalidade, de dependência econômica, de autoridade ou 
de superioridade hierárquica inerente ao exercício de emprego, cargo ou função, (d) 
retirada da vítima do território nacional. Fácil notar que o tráfico internacional de pessoas, 
em vez de constituir crime próprio, traduz uma causa de aumento de pena. 
 
O problema é que o legislador considerou como majorante apenas a retirada da vítima 
do país, olvidando-se de sua colocação no território nacional, em lamentável equívoco. No 
§ 2º está estampada a figura do tráfico de pessoas minorado (1/3 a 2/3), cabível ao agente 
primário que não integra organização criminosa. O dispositivo se parece com o tráfico de 
drogas privilegiado (art. 33, § 4º da Lei 11.343/06 – que na verdade também é uma causa 
de diminuição de pena), aplicável caso o agente seja primário e não integre organização 
criminosa, e além disso tenha bons antecedentes e não se dedique às atividades 
criminosas. O delito de tráfico de pessoas, em que pese não hediondo ou equiparado, sofre 
uma restrição relativa àquela categoria de crimes: requisito temporal mais severo 
(cumprimento de mais de 2/3 da pena) A ação penal é pública incondicionada. A 
atribuição para investigação é da Polícia Civil, salvo se houver repercussão interestadual ou 
internacional (art. 144, § 1º da CF), ocasião em que a apuração será deslocada para a 
Polícia Federal. Já a competência é da Justiça Estadual, em regra, devendo atuar a Justiça 
Federal em caso de transnacionalidade (art. 109, V da CF). Quanto aos aspectos 
investigativos e processuais penais, vale destacar um dispositivo singelo, mas de 
extrema importância. O art. 9º dispõe que “Aplica-se subsidiariamente, no que couber, o 
disposto na Lei no 12.850, de 2 de agosto de 2013”. Se é permitida a aplicação subsidiária 
da Lei de Crime Organizado, isso significa que estão à disposição do Estado-Investigação os 
meios extraordinários de obtenção de prova lá albergados, tais como colaboração 
premiada, ação controlada e infiltração de agentes e captação ambiental de comunicações. 
Essas técnicas especiais de investigação revelam-se imprescindíveis no combate à 
criminalidade moderna, que se mostra cada vez mais organizada e sofisticada. Crimes 
graves exigem emprego de estratégias investigativas diferenciadas e por vezes mais 
intrusivas, [1] que não se limitem a testemunhas e perícias. Iniciativa importante que 
auxiliará nas investigações do tráfico de pessoas é a criação pelo Poder Público de sistema 
de informações visando à coleta e à gestão de dados que orientem o enfrentamento ao 
tráfico de pessoas (art. 10). Tendo em vista que a atribuição investigativa é tanto da Polícia 
Federal e da Polícia Civil, é imprescindível que haja um adequado compartilhamento dos 
dados entre as Polícias Judiciárias, e também com o Ministério Público. Modificação 
sensível ocorreu através do art. 11 da Lei 13.344/16, que acrescentou 2 dispositivos no 
CPP. Segundo o art. 13-A do CPP, nos crimes de sequestro e cárcere privado (art. 148 do 
CP), redução a condição análoga à de escravo (art. 149 do CP) e tráfico de pessoas (art. 
149-A do CP), sequestro relâmpago (art. 158, § 3º do CP) e extorsão mediante sequestro 
(art. 159 do CP) e envio ilegal de criança ou adolescente para o exterior (art. 239 do ECA), o 
membro do Ministério Público ou o delegado de polícia pode requisitar, de quaisquer 
órgãos do poder público ou de empresas da iniciativa privada, dados e informações 
cadastrais da vítima ou de suspeitos. Chama a atenção, além do exíguo prazo de 24 horas 
para atendimento da requisição, o fato de poder ser referir a dados não só do investigado, 
mas da própriavítima. 
28 
 
 
 
Vale lembrar que a requisição de dados cadastrais pela Polícia Judiciária ou Ministério 
Público no âmbito da persecução penal possui previsão também na Lei do Crime 
Organizado (art. 15 da Lei 12.850/13) e na Lei de Lavagem de Capitais (art. 17-A da Lei 
9.613/98), que se referem expressamente ao investigado, e não estipulam prazo para 
cumprimento. Especificamente quanto ao delegado de polícia, cabe mencionar também o 
chamado poder geral de requisição constante na Lei de Investigação Criminal (art. 2º, § 2º 
da Lei 12.830/13), válido para quaisquer delitos, que apesar de não definir prazo, não limita 
a requisição ao suspeito. Não é demais ressaltar que dados cadastrais referem-se à própria 
identidade (nome, nacionalidade, naturalidade, data de nascimento, estado civil, profissão, 
RG, CPF, filiação e endereço), e sua requisição é facultada pelo legislador à autoridade 
policial para municia-la dos meios necessários para coletar provas de forma célere e 
eficaz.[2] Importante grifar que nem toda medida investigativa está sujeita à cláusula de 
reserva de jurisdição. É perfeitamente possível que o legislador atribua à autoridade policial 
a possibilidade de adotar manu propria uma série de ações, pois o desenho constitucional 
adotado nem sempre exige prévia chancela do Judiciário para os atos investigatórios, o que 
em nada prejudica o controle judicial posterior. Destarte, enquanto as comunicações de 
dados demandam anterior autorização judicial, os dados em si mesmos podem ser 
acessados por autoridades investigativas. 
 
Por isso é que não há óbice para a apreensão e análise de agenda com dados 
sigilosos.[4] E, quanto ao aparelho celular, pode a autoridade policial acessar diretamente a 
agenda eletrônica e registros de ligações (histórico de chamadas), [5] não possuindo 
autorização apenas para verificar em tempo real as mensagensenviadas e recebidas e 
chamadas efetuadas e recebidas.[6] De igual forma, é lícita a requisição junto à operadora 
de telefonia, pelo delegado de polícia, de informações pretéritas das ERBs utilizadas pelo 
investigado.[7 De outro lado, o art. 13-B. Do CPP causa perplexidade. Segundo a regra, no 
crime de tráfico de pessoas, o membro do Ministério Público ou o delegado de polícia pode 
“requisitar, mediante autorização judicial”, às empresas prestadoras de serviço de 
telecomunicações e/ou telemática que disponibilizem imediatamente os meios técnicos 
adequados – como sinais (ERBs), informações e outros – que permitam a localização da 
vítima ou dos suspeitos do delito em curso. Salta aos olhos a falta de técnica legislativa ao 
fazer menção à requisição mediante autorização judicial. Se há necessidade de ordem 
judicial, obviamente não se trata de requisição do Ministério Público ou Polícia Judiciária, 
mas sim requerimento ou representação, respectivamente. 
 
 
De acordo com o § 4º do art. 13-B do CPP, não havendo manifestação judicial no prazo 
de 12 horas, a autoridade competente requisitará às empresas prestadoras de serviço de 
telecomunicações e/ou telemática que disponibilizem imediatamente os meios técnicos 
adequados – como sinais, informações e outros – que permitam a localização da vítima ou 
dos suspeitos do delito em curso, com imediata comunicação ao juiz. Cuida-se de cláusula 
de reserva de jurisdição temporária, verdadeira inovação no mundo jurídico, em que o 
decurso de lapso temporal (bastante apertado – 12 horas) faz desaparecer a necessidade de 
autorização judicial. Trata-se de previsão dúplice, exigindo-se no início ordem judicial e 
passando a dispensá-la pelo decurso de tempo. A sistemática se apresenta do seguinte 
modo: num primeiro momento o delegado representa ou o membro do MP requer ao 
Judiciário a aplicação de medida. Caso não seja apreciado com celeridade, dispensa-se a 
ordem judicial e a obtenção da informação passa para a esfera de requisição, ou seja, a 
Polícia Judiciária ou o Ministério Público determinam diretamente ao detentor da 
informação que remeta os dados diretamente ao órgão requisitante. 
29 
 
 
 
 
4. TRÁFICO DE PESSOAS PARA FINS DE EXPLORAÇÃO SEXUAL. 
 
 
O tráfico de pessoas para fim de exploração sexual é tutelado no Brasil pelo art. 231 do 
Código Penal, com as alterações da Lei n. 12.015/2009. Neste tópico proceder-se-á à 
análise doutrinária e crítica desse dispositivo, mencionando o entendimento 
jurisprudencial dominante, quando pertinente. 
 
 
4.1 EVOLUÇÃO LEGISLATIVA: DAS ORDENAÇÕES FILIPINAS À REFORMA PENAL. 
 
 
O tráfico de pessoas é tipo penal de recente criação, fruto da cooperação internacional 
sobre a matéria289. As Ordenações Filipinas e o Código Criminal do Império dispunham 
apenas sobre o lenocínio de forma ampla, sem mencionar o tráfico. Como o direito penal 
reflete o momento histórico de casa país, o legislador de outrora não via a necessidade de 
tutelar tal delito. 
O Código Penal de 1890 foi o primeiro a contemplar esse delito, porém de forma 
equívoca. O dispositivo que tratava da matéria era o art. 278, localizado no Capítulo III – 
Do lenocínio do Título VIII – Dos crimes contra a segurança da honra e honestidade das 
famílias e do ultraje público ao pudor: 
A expressão “Induzir mulheres *...+ a empregarem-se no tráfico da prostituição” pode 
induzir a erro. Na verdade, quem se empregava no tráfico não era a mulher, que era a 
vítima ou objeto deste, mas sim o traficante. 
 
 
 
4.2 BEM JURÍDICO TUTELADO. 
 
Conforme dispõe Marco Antonio Marques da Silva293, o tráfico de pessoas e a 
escravatura resultam na violação dos mais elementares direitos da pessoa e no total 
desprezo pela dignidade humana. Mas, como delimitar esse bem jurídico? 
A Exposição de Motivos do Código Penal de 1940, quanto aos crimes contra os costumes, 
afirmava que o direito penal não poderia abdicar de sua função ética para “acomodar-se 
ao afrouxamento dos costumes”. A doutrina entendia que o bem jurídico tutelado por este 
delito era a moralidade pública e os bons costumes294, ou nas palavras de Magalhães 
30 
 
Noronha295, “a honra sexual contra os assaltos dos lenões internacionais”. 
Alguns autores, no entanto, mesmo com as alterações ocorridas na legislação e pela 
modernização da sociedade, preservaram o entendimento de que o bem jurídico 
protegido é a moralidade pública sexual296. Para Paulo José da Costa Júnior297, tutelam-se 
os bons costumes, a dignidade sexual e a liberdade sexual. Celso Delmanto298 entende 
como objeto jurídico a moralidade pública sexual, mas no caso do art. 231, § 2º, I a III, 
protege-se também a dignidade sexual, e no caso do art. 231, § 2º, IV, tutela-se também a 
liberdade sexual. 
 
 
Para Cezar Bitencourt299 o bem jurídico tutelado também é a moralidade pública sexual. 
Para o autor, a dignidade sexual do ser humano, como parte integrante da personalidade 
do indivíduo, é tutelada genericamente para todos os crimes contra a dignidade sexual. Na 
sua visão, o intuito desse artigo é impedir que prostitutas estrangeiras ampliem o grande 
problema ético-social que é a prostituição. Ele chega a afirmar que, em uma visão bem- 
humorada, isso poderia parecer uma espécie de reserva de mercado, impedindo que a 
concorrência estrangeira ingresse no mercado nacional da prostituição. 
Maria Elizabeth Queijo e João Daniel Rassi300, discorrendo sobre o delineamento dos 
possíveis bens jurídicos protegidos no delito de tráfico internacional de pessoas, afirmam 
que existem teorias conciliadoras que situam o tráfico como delito pluriofensivo que afeta 
diversos bens jurídicos, inclusive os direitos humanos das pessoas traficadas. 
Na opinião de Daniel de Resende Salgado301 o bem jurídico tutelado pelo art. 231 do 
Código Penal é a dignidade humana dos trabalhadores sexuais, a liberdade da pessoa, o 
direito à sexualidade, que deve ser protegida de qualquer exploração. 
Para Renato Silveira302, a tutela deve ser da liberdade de autodeterminação sexual, 
justificando-se o crime apenas quando verificadas a violência e a grave ameaça. No mesmo 
 
 
 
“Nesse sentido: Damásio de Jesus, Direito penal, v. 3, p. 
199: “Objeto jurídico são os bons costumes, protegendo-se 
a honra sexual contra lenões internacionais”. 297 COSTA 
JÚNIOR, Paulo José da. Curso de direito penal, p. 711. 298 
DELMANTO, Celso et. al. Código Penal comentado, p. 720.
 
31 
 
 
4.2.1 SUJEITO ATIVO. 
 
O tráfico de pessoas é crime comum quanto ao sujeito ativo, sem distinção de qualquer 
natureza. O autor do delito pode ser o homem ou a mulher, e não é necessária a 
habitualidade. Nas palavras de Hungria304, os traficantes aparecem como fornecedores do 
mercado sexual. 
 
Porém, se o agente for ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, 
companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou se assumiu, por lei 
ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância, a pena será aumentada 
metade, nos termos do art. 231, § 2º, III, do Código Penal. 
 
Trata-se de crime unissubjetivo, mas que admite coautoria ou participação, nos termos 
do art. 29 do Código Penal305. Além disso, esse delito pode ser cometido por pequenas 
quadrilhas ou bando, e também por grandes organizações criminosas, com divisão clara de 
tarefas entre seus integrantes, que é justamente o foco do Protocolo de Palermo. 
 
 
 
 
 
4.2.2 SUJEITO PASSIVO. 
 
 
 
Pode ser vítima de tráfico de pessoas qualquer ser humano, homem ou mulher. Em sua 
redação original, o Código Penal de 1940 trazia como sujeito passivo apenas a mulher. O 
próprio nomen juris do delito era tráfico de mulheres. Com o adventoda Lei n. 11.106, de 
2005, o delito passou a tratar do tráfico de pessoas. Embora pareça evidente, ainda hoje é 
necessário afirmar que qualquer tipo de pessoa pode ser vítima do crime, inclusive 
prostitutas306 e 307. 
 
A lei não exige a pluralidade de vítimas, embora esta seja a prática mais comum. A 
rubrica do artigo fala em tráfico de pessoa, no singular. Elas podem ser aliciadas ou 
transportadas juntas ou separadamente, a depender do modus operandi da organização. 
Para os autores que consideram a moralidade pública o bem jurídico tutelado pelo delito, 
32 
 
o sujeito passivo é também a coletividade. 
 
 
Nos termos do § 2º do art. 231 do Código Penal, a condição particular da vítima justifica o 
aumento da pena. Quando for menor de 18 anos (inciso I), ou quando por enfermidade ou 
deficiência mental não tiver o necessário discernimento para a prática do ato (inciso II), a 
pena deverá aumentar da metade. 
 
 
 
“Para Cezar Bitencourt, op. cit., p. 184, o sujeito passivo 
poderá ser tanto o homem quanto a mulher, 
independentemente de sua honestidade sexual”.Sobre 
o assunto, assistir o documentário: Cinderelas, lobos e 
um príncipe encantado. Direção e Produção Executiva: 
Joel Zito, Brasil, 2008.” 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4.2.3 TIPO OBJETIVO. 
 
 
O tipo previsto no art. 231, caput, do Código Penal pune aquele que promove ou facilita a 
entrada de alguém (homem ou mulher) no território nacional, que venha a exercer a 
prostituição ou outra forma de exploração sexual. A segunda parte do caput visa coibir a 
facilitação ou promoção da saída de alguém para a mesma finalidade em território 
estrangeiro. Promover significa organizar, dar causa, dar impulso, oferecer recursos para 
determinada atividade. Facilitar consiste em tornar algo mais fácil ou acessível, favorecer, 
proporcionar meios para que algo se realize. 
 
 
A saída da vítima para o exterior exige uma série de providências, como passaporte, visto, 
passagem, roupas e dinheiro para a viagem. Promover e facilitar se enquadram nesse 
contexto. Segundo Rogério Greco316, promover é uma conduta ampla, podendo até 
mesmo abranger a facilitação. Aquele que facilita ou promove a ida de alguém ao exterior 
para exercer a prostituição, que é uma atividade lícita no Brasil e em diversos outros 
países, é punido com reclusão de 3 a 8 anos. Da forma como está redigido o dispositivo 
legal, enquadra-se na conduta aquele que empresta o dinheiro da passagem a alguém 
sabendo que a finalidade da viagem é exercer a prostituição no exterior. Se a prostituição 
33 
 
no país de origem e destino não for crime, por que falar em crime daquele que facilita ou 
promove a viagem, Deve-se observar nesta questão a tipicidade material, e não 
simplesmente a formal. Assim, além da conduta se adequar ao tipo, precisa ser 
materialmente lesiva ao bem jurídico tutelado. 
 
 
Entende-se que uma interpretação possível e mais justa seria punir o crime de tráfico para 
fim de prostituição apenas quando esta se apresentar efetivamente como forma de 
exploração, ou seja, quando o autor do delito auferir vantagem de forma ilícita da 
prostituição de outrem, mediante violência, ameaça, ardil ou abuso de situação de 
vulnerabilidade. Se a entrada no país se der de forma irregular, violando normas de 
imigração, com o uso de documentos falsos ou outras práticas, o traficante responderá em 
concurso de crimes. O § 1º do art. 231 equipara as condutas agenciar, aliciar, comprar, 
transportar, transferir ou alojar a vítima às condutas previstas no caput, aplicando-lhes a 
mesma pena. 
 
 
As condutas previstas no § 1º, que prescinde do uso da violência, fraude ou ameaça, 
apresentam diferentes esferas de gravidade, o que gera uma grande desproporcionalidade 
no tipo. Aquele que compra um ser humano sofre a mesma pena daquele que o 
transporta, por exemplo317. 
 
 
Agenciar significa intermediar um negócio; providenciar, obter ou buscar algo para 
alguém. É a conduta daquele que coloca a vítima em contato com o explorador. O verbo 
aliciar denota a conduta daquele que atrai, convence ou estimula a vítima a viajar. O § 1º 
não exige, mas em regra esse convencimento se dá por meio de ardil, de falsas promessas 
de um trabalho bom e rentável no exterior. A promessa de uma vida melhor. 
 
 
317 Segundo Guilherme Nucci, op. cit., p. 159: “Soa-nos 
desmedida a comparação em iguais termos entre aliciar 
e comprar, por exemplo. Quem seduz alguém à prática 
de algo realiza ação inferior, em gravidade, do que o 
comprador da pessoa traficada. Não haveria de existir a 
equiparação, visto que o aliciador poderia, até mesmo, 
ser considerado um partícipe de menor importância. 
34 
 
 
 
 
4.2.4 ELEMENTO SUBJETIVO. 
 
 
É o dolo, ou seja, a vontade livre e consciente de praticar o tráfico internacional de pessoa 
para fim de exploração sexual. Existem duas correntes: a que aceita o dolo genérico e a 
que exige o dolo específico. Para alguns doutrinadores325, basta o dolo genérico de praticar 
uma das ações típicas com o conhecimento de que a pessoa é traficada para exercer a 
prostituição ou ser explorada sexualmente. O desconhecimento a respeito da atividade a 
ser exercida é erro de tipo e exclui o dolo. Para Guilherme Nucci326 e Cezar Bitencourt327, 
exigi-se o especial fim de agir ou dolo específico328, ou seja, o sujeito atuar com o intuito de 
ver a vítima submetida à prostituição ou a outra forma de exploração sexual. Para 
qualquer conduta descrita no caput ou § 1º do art. 231 do Código há essa exigência. 
Se o delito for praticado com o intuito de obter vantagem econômica, aplica-se também a 
pena de multa, nos termos no art. 231, § 3º, do Código Penal. Não é necessário que a 
vantagem seja efetivamente obtida. 
 
Não é admitida a modalidade culposa. 
 
 
 
 
“325 Nesse sentido: Júlio Fabbrini Mirabete e Renato N. Fabbrini, 
Código penal interpretado, p. 1.440; Damásio de Jesus, op. cit., 
vGreco, op. cit., p. 190; Tadeu Dix Silva, op. cit., p. 
35 
 
 
4.2.5 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA. 
 
No tocante à consumação, existem também duas correntes. A primeira330 delas entende 
que o delito é instantâneo e se consuma com a entrada da vítima no País, ou com a sua 
saída rumo ao exterior, independentemente do efetivo exercício da prostituição331. Basta 
que a entrada ou saída do território seja feita com esse propósito. 
 
O exercício da prostituição no Brasil ou no exterior constitui o exaurimento do crime, 
quando este alcança suas últimas consequências, e pode influenciar no quantum da pena. 
Em sentido contrário, a corrente defendida por Guilherme Nucci332 e Rogério Greco333 
entende que existe necessidade do efetivo exercício da prostituição para que o crime se 
consume. 
 
A finalidade do tráfico é a exploração, que pode ocorrer em bordéis, dance clubs, casas 
de massagens, apartamentos, hotéis e nas ruas. Locais com muitas ou poucas vítimas. Não 
há regras. Contudo, a exploração em si não é tutelada pelo art. 231. No tocante à 
tentativa, para a tese majoritária334 esta é perfeitamente admissível335. Como se trata de 
crime plurissubsistente, cuja conduta apresenta fracionamento, o deslocamento completo 
do sujeito de um país a outro pode não se consumar por circunstâncias alheias a sua 
vontade. Em sentido contrário, Guilherme Nucci336 afirma que a tentativa é inadmissível, 
por se tratar de crime condicionado. Nas modalidades equiparadas do § 1º do art. 231, o 
delito se consuma com o agenciamento, aliciamento ou compra da pessoa traficada, ou 
com seu transporte, transferência ou alojamento, sendo as três últimas modalidades de 
crime permanente, admitindo o flagrante a qualquer tempo337. Para todas as modalidadeshá necessidade da ciência da condição de pessoa traficada338. 
 
 
”Quando uma coisa tem um preço, pode pôr-se em vez 
dela qualquer outra como equivalente, mas quando uma 
coisa está acima de todo o preço, e portanto não permite 
equivalente, então tem ela a dignidade... Esta apreciação 
dá pois a conhecer como dignidade o valor de uma tal 
disposição de espírito e põe-nainfinitamente”. 
36 
 
 
4.2.6 FINALIDADE DE LUCRO, LAVAGEM DE DINHEIRO E CRIME ORGANIZADO. 
 
 
O § 3º do art. 231 do Código Penal menciona que se o crime for cometido com o fim 
de obter vantagem econômica, aplica-se também multa. Para Renato Marcão e Plínio 
Gentil339 a vantagem econômica inclui qualquer benefício que possa representar 
expressão econômica, seja dinheiro, bens, favores. Além disso, não é necessário que a 
vantagem se destine ao agente, tampouco seja efetivamente obtida. Basta que haja o dolo 
mercenário. 
 
um esboço delas. Bento de Faria343 menciona uma perigosa associação internacional de 
traficantes – Zwig Migdal344, fundada na Polônia, com várias ramificações e dispondo de 
grande O fenômeno do tráfico, de forma geral, só pode ser concebido quando presente a 
vantagem econômica. Esta é, na verdade, a finalidade do delito. Trata-se de mais um 
negócio. Hoje essa modalidade de tráfico aparece como uma das atividades mais lucrativas 
das organizações criminosas, ao lado do tráfico de armas e de drogas. 
Como negócio ilícito, surge a necessidade para as organizações criminosas de realizar as 
operações de “lavagem” de dinheiro, ou seja, transformar recursos oriundos de atividades 
ilícitas em ativos com origem aparentemente legal. Contudo, o delito de tráfico de pessoas 
não consta na lista de crimes antecedentes do art. 1º da Lei n. 9.613, de 1998 (Lei de 
“Lavagem” de Dinheiro), como ocorre com o tráfico de drogas (inciso I) e o tráfico de 
armas (inciso III). O inciso VII do art. 1º da referida norma abre uma possibilidade para a 
sua aplicação ao crime de tráfico de pessoas, pois inclui os delitos praticados por 
organização criminosa ao rol de crimes antecedentes. Para Damásio de Jesus340 a 
aplicação desse dispositivo é difícil e não resolve o problema, pois a legislação brasileira 
ainda não definiu “organização criminosa”. Além disso, o tráfico pode ser cometido 
individualmente, em concurso de agentes ou por quadrilha ou bando, fugindo assim ao 
âmbito de aplicação do mencionado inciso. O ideal seria a inclusão do crime de tráfico de 
pessoas no rol de crimes antecedentes341. A Convenção de Palermo dispõe sobre a 
criminalização da “lavagem” do produto do que crime, que ficará a critério de cada país342. 
37 
 
 
 
O tráfico de pessoas para fim de exploração sexual, desde quando tomou relevo no final 
do século XIX, esteve associado ao crime organizado. Não as organizações criminosas no 
formato que conhecemos hoje, mas capital. Na América Latina ela teria se instalado em 
Buenos Aires, até ser fechada pela polícia em 1930. Essa organização era reconhecida pela 
crueldade no trato com suas escravas e também com seus membros. Seus agentes iam 
para as aldeias polacas, húngaras, ucranianas, lituanas, onde a miséria chegava a ser 
lúgubre, e de lá traziam as vítimas, com a promessa de trabalharem em ateliês, 
companhias teatrais e cabarés. Porém, para Nélson Hungria345 a existência da Zwig Migdal 
nunca foi provada. 
 
Hoje a delinquência organizada transnacional tem uma ligação estreita com a 
globalização, podendo ser considerada sua infeliz consequência. O crime organizado 
usufrui da abertura de fronteiras e mercados, do avanço tecnológico e da jurisdição 
limitada dos países e das falhas dos sistemas jurídicos internos e incompatibilidades entre 
Estados. 
 
A Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado, também conhecida como 
Convenção de Palermo346, tem como objetivo promover a cooperação para prevenir e 
combater mais eficazmente a criminalidade organizada transnacional. O Protocolo de 
Palermo347 completa esta Convenção no tocante ao tráfico de pessoas. Assim, conforme o 
art. 4º do mencionado Protocolo, o seu âmbito de aplicação inclui as infrações de natureza 
transnacional e que envolverem grupo criminoso organizado. 
A Convenção de Palermo, em seu art. 2º, busca definir grupo criminoso organizado nos 
seguintes termos: “grupo estruturado de três ou mais pessoas, existente há algum tempo 
e atuando concertadamente com o propósito de cometer uma ou mais infrações graves ou 
enunciadas na presente Convenção, com a intenção de obter, direta ou indiretamente, um 
benefício econômico ou outro benefício material;”. Contudo, essa definição não obtém 
acolhimento pacífico na doutrina nacional. Segundo leciona Vicente Greco Filho348, não há 
no Brasil definição legal de organização criminosa, já que a Lei n. 9.034, de 1995, 
38 
 
 
estabelece apenas medidas de ordem processual, investigativa e administrativa no 
combate a essas organizações, sem dar-lhes uma conceituação. Continua afirmando que a 
definição da Convenção de Palermo se mostra imprestável para o direito brasileiro, eis que 
não estabelece a distinção entre quadrilha ou bando e grupo criminoso organizado. Além 
disso, um conceito legal engessaria a aplicação da norma, já que as organizações são muito 
diferentes entre si. Para o autor, devem-se extrair da doutrina as características básicas de 
uma organização criminosa, pois “o conceito deve manter-se fluido, como fluido é o 
próprio modo de ser de uma societas sceleris”349. 
 
Em delitos dessa espécie, em que inúmeros agentes contribuem na produção do 
resultado, propicia-se o anonimato, dificultando-se a atribuição de responsabilidades, o 
estabelecimento do nexo causal e a delimitação da culpa350. Esse é um dos motivos do 
pequeno número de processos relativos ao tráfico internacional de pessoas no Brasil. 
Desta forma, é imperioso e urgente que tanto os países isoladamente, como toda a 
comunidade internacional aprendam a lidar com essas novas formas de criminalidade. 
Segundo Alessandra Greco e João Daniel Rassi351, as organizações criminosas atuais não 
podem mais ser associadas aos tradicionais conceitos de crime organizado, que se 
referiam a um grupo familiar ou étnico que se dedicava a uma atividade ilícita específica. 
Hoje elas são multiétnicas e muitas vezes compostas por grupos provenientes de 
diferentes países, pulverizando-se pelo mundo todo. 
 
 
 
“350 PRADO, Stela; CAPEZ, Fernando. Considerações 
sobre o tráfico de pessoas e organizações 
criminosas. In: CARNEIRO, José Reinaldo; MESSA, 
Ana Flávia (coord.). Crime organizado, p. 541. 
GRECO, Alessandra Orcesi Pedro; RASSI, João Daniel. 
Crime organizado transnacional e o tráfico 
internacional de pessoas no direito brasileiro. In: 
CARNEIRO, José Reinaldo; MESSA, Ana Flávia 
(coord.). Crime organizado, p. 618.” 
39 
 
 
4.2.7 AÇÃO E COMPETÊNCIA. 
 
A ação penal para o crime de tráfico internacional de pessoas para fim de exploração 
sexual é pública incondicionada. A regra do art. 225 do Código Penal – ação penal pública 
condicionada à representação – não se aplica a esse delito. A competência para propor a 
ação é do Ministério Público Federal. 
 
O art. 109 da Constituição brasileira determina a competência ratione materiae da 
Justiça Federal. Nos termos do seu inciso V, aos juízes federais compete processar e julgar 
os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no 
País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente. Assim, 
como o tráfico internacional de pessoas é um delito transnacional, previsto no Protocolo de 
Palermo352, é fixada a competência da Justiça Federal353. Nostermos do art. 234-B do 
Código Penal os processos que apuram os crimes contra a dignidade sexual correrão em 
segredo de justiça. 
 
 
 
 
4.2.8 PANORAMA ATUAL DO TRÁFICO DE PESSOAS. 
 
 
Atualmente, o quadro do Tráfico Internacional de Pessoas. Obtidos, realizam-se 
medidas concretas, como o aperfeiçoamento da regulação nas principais rotas utilizadas 
pelos traficantes fortalecimento de políticas públicas e redes de atendimento; capacitação 
de pessoal; disseminação de informação e mobilização de pessoas.No Brasil, em 2006, o 
Decreto n. 5.948/06, aprovou-se a Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de 
Pessoas, que tem por finalidade estabelecer princípios, diretrizes e ações de prevenção e 
repressão ao tráfico de pessoas e de atendimento às vítimas. Em 2008, pelo Decreto n. 
6.347/08, foi instituído o Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, com 
vistas a concretizar as diretrizes da Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de 
Pessoas. 
 
Em 2013 foi instituída a Coordenação Tripartite da Política Nacional de Enfrentamento 
ao Tráfico de Pessoas, para coordenar a gestão estratégica e integrada da Política Nacional 
de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, através do Decreto n. 7.901/13. A coordenação é 
formada pelo Ministério da Justiça; pela Secretaria de Políticas para as Mulheres da 
Presidência da República e pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da 
República. 
No mesmo ano, realizou-se o II Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas 
(Portaria Interministerial nº 634/2013), cujos avanços parecem ser positivos: 
40 
 
 
As 115 metas previstas no II PNETP, foram avaliadas em quatro categorias: ótimo, 
bom, ruim e péssimo, sendo 54 metas consideradas com ótimo progresso, 28 com bom 
progresso, 12 com um progresso ruim e, somente, duas com péssimo progresso. Com o 
resultado, foi possível, então, identificar que metas o governo federal deve seguir 
avançando e quais devem receber especial atenção nos próximos dois anos de vigência do 
plano. Da análise geral das 14 atividades previstas no II PNETP, a avaliação foi positiva e 
demonstrou que o II PNETP está com progresso de 81,8% da média geral, o que equivale a 
um ótimo e bom avanço intermediário de implementação do plano. (BRASIL, 2013). Não 
obstante, um ponto que dificulta gravemente a identificação dos crimes é o fato de que as 
vítimas, ou seja, as pessoas traficadas, muitas vezes possuem consciência e vontade de que 
imigrarão em outros países para executarem trabalhos marginais. O erro em que incidem, 
no caso, é no tocante ao modo como serão as atividades realizadas, cobranças, regime de 
trabalho, remuneração e, por óbvio, a total situação degradante de submissão ao traficante. 
 
Muito embora o consentimento da vítima seja irrelevante para a caracterização do 
tipo penal (art. 2º, §7º, PNETP,), obsta demasiadamente à efetiva solução, de modo 
preventivo e permanente, do fenômeno. Muitas vezes as próprias vítimas, inocentes, 
desinstruídas e despreparadas, buscam pelas chamativas oportunidades apresentadas pelos 
traficantes. 
 
 
 
4.2.8.1 A POLITÍCA NACIONAL NO ENFRENTAMENTO AO TRÁFICO DE PESSOAS. 
Outro destaque é a criação da Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de 
Pessoas. Aprovada pelo Decreto nº 6347, de 8 de janeiro de 2008, assinada por treze 
Ministérios, em parceria com o Ministério Público Federal (MPF) e do Trabalho (MPT), 
associações civis além de vários organismos internacionais. Buscou-se através dessa política 
efetivar o enfrentamento ao tráfico de pessoas no Brasil, através da conscientização do 
problema em âmbito nacional e, principalmente, do estabelecimento de uma parceria entre 
a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios. Nesse sentido, a própria ONU 
incentivou a criação dessa Política Nacional, funcionando como fomentadora da divulgação 
do tráfico de pessoas, buscando sua repressão em todos os níveis globais (BRASIL, 2008). 
41 
 
 
 
4.2.8.2 REDE DE COOPERAÇÃO JÚRIDICA INTERNACIONAL. 
 
Para imprimir maior efetividade ao enfrentamento da questão, há previsão legal para 
jurisdicionalizar casos envolvendo o tráfico de pessoas. Para isso, existem duas Convenções 
e um Protocolo que atuam de forma multilateral, entre vários Estados: Convenção das 
Nações Unidas Contra o Crime Transnacional (Palermo, 2000); Convenção Americana Sobre 
Assistência Mútua em Matéria Penal (Nassau, 1992); Protocolo de Assistência Jurídica 
Mútua em Assuntos Penais (Mercosul, 1996). a) Tráfico de pessoas para exploração sexual O 
Protocolo de Palermo prevê como essa uma das formas de direcionamento da exploração 
das vítimas do tráfico de pessoas. De acordo com dados do Relatório Global sobre Tráfico de 
Pessoas do Escritório sobre Drogas e Crimes das Nações Unidas (UNODC) - estatísticas do 
ano de 2012 – o fim mais comum para exploração no que concerne o tráfico de pessoas é a 
exploração sexual. É, infelizmente, uma indústria que movimenta bilhões de dólares. De 
todo o lucro gerado pelo tráfico de pessoas, o da exploração sexual representa 85% do 
montante (UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME, 2014). Grande parte das 
pessoas que são traficadas para esse fim já possuíam o desejo de migrar de país, e acabam 
por acreditar que poderão ter melhores condições de vida caso aceitem a proposta. Há 
casos em que o aliciador se utiliza de mentiras para atrair a vítima. No entanto, fatores 
como a pobreza e a falta de perspectivas profissionais pode fazer com que a vítima consinta 
até mesmo com a exploração sexual, o que não retira o caráter ilícito da exploração. 
 
A grande problemática é que a maioria das vítimas não consegue evadir-se da situação 
de exploração, justamente pelo fato de que os aliciadores se colocam em uma posição de 
credores, ou seja: a exploração se torna um meio de pagamento da suposta dívida que as 
vítimas geram, que muitas vezes começa a ser cobrada desde o momento em que são 
recrutadas e transportadas, além de gastos ordinários como alimentação, entre outros. 
Dessa maneira, o lucro auferido com a exploração aumenta de maneira inversamente 
proporcional à dívida acumulada pela vítima. Uma das principais discussões acerca da 
prostituição é se a sua regulamentação facilitaria ou pioraria a situação do tráfico para fins 
de exploração sexual. Daniela Muscari Scacchetti (2011), em seu artigo O tráfico de pessoas 
e o protocolo de palermo sob a ótica de direitos humanos traz a ponderação de alguns 
argumentos favoráveis e desfavoráveis à regulamentação da prostituição como forma de 
combater o tráfico de pessoas. Dialogando com a obra de Kamala Kempadoo, traz a 
seguinte reflexão 
 
 
 
“Um dos argumentos levantados é de que a proibição pode contribuir 
para o enfrentamento ao tráfico na medida em que torna ilícita 
também a atividade-fim, facilitando o seu combate sem haver a 
necessidade de distinção entre a pessoa que trabalha de maneira 
voluntária e aquela que é ameaçada por um ofensor, ou seja, ambas 
devem ser protegidas e afastadas de tal atividade. 
42 
 
 
4.2.9 VOLTA AO TEMPO, RESGATE HISTÓRICO DO TRÁFICO DE PESSOAS. 
 
O tráfico de seres humanos é uma prática muito antiga existindo desde a Antiguidade 
Clássica, primeiramente na Grécia e, posteriormente, em Roma. Nesse período, o tráfico se 
dava com o fim de obter prisioneiros de guerra para serem utilizados como escravos. 
Salienta-se que o trabalho escravo era respaldado pelos pensadores da época, apontando 
Aristóteles que havia homens escravos por natureza, pois existiam indivíduos tão inferiores 
que estariam destinados a empregar suas forças corporais e que nada melhor poderiam 
fazer (Ary apud GIORDANI,1984,P.23) Apenas durante o período renascentista, por volta dos 
séculos XIV ao XVII, o tráfico ganhou feição de prática

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