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Ecopedagogia 2ª edição Francisco Carlos Franco Brazcubas Mogi das Cruzes - SP 2018 Reitor: Prof. Maurício Chermann EQUIPE PRODUÇÃO CORPORATIVA Gerência: Adriane Aparecida Carvalho Coordenação de Produção: Diego de Castro Alvim Coordenação Pedagógica: Karen de Campos Shinoda Equipe Pedagógica: Alessandra Matos, Graziela Franco, Rúbia Nogueira, Vania Ferreira Coordenação Material Didático: Michelle Carrete Revisão de Textos: Adrielly Rodrigues, Aline Gonçalves, Claudio Nascimento, Telma Santos Diagramação: Amanda Holanda, Douglas Lira, Fábio Francisco, Nilton Alves, Priscila Noberto Ilustração: Everton Arcanjo, Noel Gonçalves Impressão: Grupo VLS / Gráfica Cintra Imagens: Fotolia / Acervo próprio Os autores dos textos presentes neste material didático assumem total responsabilidade sobre os conteúdos e originalidade. Proibida a reprodução total e/ou parcial. © Copyright Brazcubas 2017 Av. Francisco Rodrigues Filho, 1233 - Mogilar CEP 08773-380 - Mogi das Cruzes - SP Sumário Sumário Apresentação 5 O Professor 7 Introdução 9 1Unidade I O mundo atual e a sustentabilidade 11 1.1 O mundo contemporâneo 11 1.2 Sustentabilidade e desenvolvimento 15 1.3 As reações aos dilemas socioambientais e a educação 18 1.4 A Carta da Terra 20 Referências da unidade I 24 2Unidade II A Ecopedagogia 25 2.1 Conceito de Ecopedagogia 25 2.2 A Cidadania Planetária 29 2.3 A educação cidadã 31 Referências da unidade II 38 3Unidade III Princípios para uma ação pedagógica em ecopedagogia 39 3.1 A interdisciplinaridade e a transversalidade 43 3.2 Os Parâmetros Curriculares e os Temas Transversais 46 3.3 Possibilidades Pedagógicas 53 Referências da unidade III 56 4Unidade IV Temas e Debates em Ecopedagogia 57 4.1 A Terra é uma unidade única 57 4.2 O ser humano é parte da natureza 59 4.3 Aprender a viver juntos 66 4.4 Aprender a cuidar de todos 68 Referências da unidade IV 70 5 Apresentação Apresentação Olá! Seja bem-vindo(a) à disciplina de Ecopedagogia. Estaremos juntos nessa jornada pensando sobre nosso papel no mundo como seres viventes e como futuros professores que ensinarão nossas crianças a ver o planeta Terra de uma nova forma. É muito importante que você se dedique às leituras e às vídeoaulas com afinco, utilizando ao máximo seu material de estudo. A temática que discutiremos é muito importante para a compreensão e a refle- xão sobre os caminhos que a humanidade vem trilhando e de como podemos cuidar do nosso planeta de uma forma mais sustentável e que faça com que todos os seres viventes sejam importantes e possam continuar a partilhar da vida na Terra. Nosso trabalho estará pautado no objetivo da disciplina de Ecopedagogia que é: 9 Contribuir para o desenvolvimento de valores, habilidades, atitudes e competências pautadas nos princípios da sustentabilidade e para a com- preensão das relações estabelecidas entre os indivíduos, a sociedade e a natureza, entendendo o ambiente em suas dimensões – social, política, cultural, ética e ecológica. Para isso, as discussões irão girar em torno de assuntos que tratem do conheci- mento sobre a finitude do Planeta Terra, da utilização de metodologias diferenciadas pautadas nos Parâmetros Curriculares Nacionais e nos Temas Transversais da sus- tentabilidade e da globalização. Durante o percurso indicarei leituras complementares e vídeos disponíveis na internet muito interessantes e que serão muito importantes para a compreensão dos assuntos tratados, não deixe de lê-los ou assistí-los, pois eles terão um papel de esclarecimento sobre os assuntos tratados e de aprofundamento para a sua forma- ção, além de fazer parte do conteúdo das avaliações. Vamos juntos!? 6 Apresentação Objetivos da Unidade: • Contribuir para o desenvolvimento de valores, habilidades, atitudes; • Desenvolver competências pautadas nos princípios da sustentabili- dade; • Incentivar a compreensão das relações estabelecidas entre os indi- víduos, a sociedade e a natureza; • Apresentar o ambiente em suas dimensões – social, política, cultu- ral, ética e ecológica. Competências e Habilidades da Unidade: • Reconhecimento da globalização como elemento dificultador para um mundo sustentável; • Compreensão do sentido da Cidadania Planetária e sua relação com a saúde do planeta; • Reconhecimento do potencial transformador e inovação pedagógica pautada na ecopedagogia ou na pedagogia da Terra; • Planejamento e o desenvolvimento de situação de aprendizagem que possam atender aos princípios da cidadania planetária, da sustentabilidade e da ecopedagogia. 7 O Professor O Professor Prof. Francisco C. Franco Doutor e Mestre em Educação: Psicologia da Educa- ção pela Pontifícia Universidade Católica – PUC de São Paulo. Atualmente é professor do Programa de Mestrado em Políticas e no curso de Pedagogia. É au- tor e coautor de livros e artigos sobre educação e cul- tura em instituições de educação formal e não formal e sobre formação de professores. 9 Introdução Introdução O desenvolvimento sustentável tem um componente educativo formidável: a preservação do meio ambiente depende de uma consciência ecológica e a formação da consciência depende da educação. É aqui que entra em cena a ecopedagogia. Ela é uma pedagogia para a promoção da aprendizagem do sentido das coisas a partir da vida cotidiana (GADOTTI, 2000). Começamos aqui nossa jornada em busca de compreender a importância de uma educação para todos e que tenha como objetivo a sustentabilidade, no sentido de garantir a sobrevivência do planeta e de todos os seres nele viventes de uma forma ética e justa. Não se trata apenas de pensar em sustentabilidade dentro de uma perspecti- va isolada, mas de pensar sobre ela atrelada a um mundo justo, ético, que promova condições de igualdade e como já disse Leonardo Boff, não é possível ter um mundo ecologicamente equilibrado sem justiça social. A Ecopedagogia é um conceito ainda em construção e pode ser melhor defini- do como um movimento educacional do que uma teoria da educação. No Brasil, podemos considerar o Instituto Paulo Freire como o maior centro de estudos sobre ecopedagogia. Foi a partir do Fórum Global 92, evento que ocorreu no Rio de Janeiro, paralelamente à Conferência das Nações Unidas sobre Meio Am- biente e Desenvolvimento de 1992, que o conceito e fundamentos da ecopedagogia começaram a ter destaque. Estaremos aqui discutindo seus conceitos e buscando trazer para esta discus- são formas de concretizar ações educativas para um mundo melhor. Para que você tenha um bom desempenho nesta direção, é muito importante assistir às videoaulas e realizar uma leitura atenta do seu livro, dedicando uma aten- ção especial aos textos e vídeos complementares que irão enriquecer seus conheci- mentos e subsidiar a sua aprendizagem. Participe dos Fóruns, realize as atividades do AVA e continue sempre pesquisando sobre o assunto. Em nossas aulas os conteúdos estarão divididos em quatro unidades temáti- cas, distribuídas da seguinte forma: 9 O mundo atual e a sustentabilidade, englobando o mundo contem- porâneo, os dilemas socioambientais da atualidade e as questões que en- volvem a sustentabilidade e o desenvolvimento. Além de um estudo sobre a Carta da Terra. 9 A Ecopedagogia, discutindo a cidadania planetária, a saúde da Terra e a educação cidadã. 9 Princípios para uma ação pedagógica em ecopedagogia, buscando a compreensão dos valores em ecopedagogia, da interdisciplinariedade e da transversalidade, a partir dos estudos dos Parâmetros Curriculares Na- cionais e dos Temas Tranversais e as possibilidades pedagógicas. 9 Temase debates em ecopedagogia desenvolvendo estudos como: A Terra é uma unidade única; O ser humano é parte da natureza; Aprender a viver juntos e aprender a cuidar de todos. Estaremos juntos nesse estudo! 11 O mundo atual e a sustentabilidade unidade I 1Unidade I O mundo atual e a sustentabilidade 1.1 O mundo contemporâneo Começaremos traçando uma breve descrição de como se configura o mundo em que vivemos na contemporaneidade: O momento atual é permeado por mudanças culturais, sociais, econômicas e políticas significativas, que se intensificaram a partir da crise do socialismo e com as novas configurações que o capitalismo assumiu, com um processo de globalização que se expandiu e se consolidou a partir das últimas décadas do século XX, sendo que: A globalização do mundo expressa um novo ciclo de expansão do capitalismo, como modo de produção e processo civilizatório de alcance mundial. Um processo de amplas proporções envol- vendo nações e nacionalidades, regimes políticos e projetos na- cionais, grupos e classes sociais e culturas e civilizações (IANNI, 1996, p.11). 12 O mundo atual e a sustentabilidadeUnidade I Para Ianni (1996): O modelo atual de globalização Apoia-se em um discurso unificado política e economicamente, tendo como objetivo impor uma dominação de mercados e de culturas por meio de um sistema mundial conectado, com vistas a se constituir em um espaço único. Para tanto, utiliza os meios de comunicação de massa e as novas mídias com o intuito de incrementar o consumo e expandir o mercado como forma de manutenção do status quo, processo em que impõe às pessoas representações, crenças e valores comuns, associados ao consumo, aos bens materiais, que transcende as necessidades básicas, como alimentação, vestuário etc., pois se orientam no acúmulo de bens como forma de reconhecimento social. A busca pela constituição de uma “Al- deia Global”, que visa à integração econômi- ca, social e cultural desencadeada pela glo- balização, propiciou uma nova organização e centralização do capital, o que agravou ainda mais as injustiças sociais e as desigualdades, que intensificou a pobreza, a exclusão social e a marginalização em vários países, atingindo de forma mais intensa os países mais pobres. 13 O mundo atual e a sustentabilidade unidade I A globalização que atinge o mundo contemporâneo desqualifica os povos e as culturas periféricas visando suprimir as expressões culturais locais, para que sejam substituídas por novos modelos, novos valores e crenças que estejam em consonância com a constituição de um mundo que se torne unificado. Desta forma, desvaloriza os saberes e conhecimentos locais, ao mesmo tempo em que não democratiza os novos conhecimentos e dificulta o acesso aos bens e ser- viços para boa parte das pessoas, principalmente para os mais empobrecidos, pois: Os conhecimentos priorizados pelas novas formas de vida são distribuídos de maneira muito desigual entre os diferentes se- tores da população segundo critérios como o de grupo social, gênero, etnia e idade. Ao mesmo tempo são desqualificados os conhecimentos dos setores marginalizados, ainda que sejam mais ricos e complexos que os priorizados. Desta maneira, dá-se mais aos que mais tem e menos a quem menos tem, configuran- do um círculo fechado de desigualdade cultural (FLECHA, 1996, p.36). É nesse contexto se instaurou uma crise moral e ética, visto que a globalização nos moldes atuais interfere nas formas de ser, estar e atuar no mundo no âmbito pessoal e coletivo. Tal realidade incentiva o isolamento, a competição, a solidão, o que compromete o desenvolvimento do sentimento de pertencimento e de corres- ponsabilidade das pessoas para com os outros seres humanos e para com o meio em que vive. 14 O mundo atual e a sustentabilidadeUnidade I Boff (2013) defende que o tipo de sociedade que temos desenvolvido nas últimas décadas coloca em risco a essência humana, pois enfrentamos uma crise, que é fruto de um projeto de conhecimento material ili- mitado, que vem degradando o planeta e as formas de viver e conviver entre as pessoas, questões que ficam evidentes ante o descuido, o descaso e o abandono que são perceptíveis nas relações que estabelecemos com o mundo e com as pessoas, o que evidência que: Enfrentamos uma crise civilizacional generalizada. Precisamos de um novo paradigma de convivência que funde uma relação mais benfazeja para com a Terra e inaugure um novo pacto so- cial entre os povos no sentido de respeito e de preservação de tudo o que existe e vive (BOFF, 2013, p.18). Para o autor, o fenômeno do descuido, a falta de cuidado, é o sintoma do impasse civilizatório que passamos hoje, o que se constata no descuido pelo destino dos pobres e marginalizados, com os sonhos, a generosidade e a solidariedade entre os seres humanos, com os processos de sociabilidade nas cidades, relacionados com as questões de moradia, saúde, educação etc., com os empobrecidos, que geralmente não são contemplados nas políticas públicas, entre outros aspectos. 15 O mundo atual e a sustentabilidade unidade I 1.2 Sustentabilidade e desenvolvimento As crescentes descobertas científicas e tecnológicas agravaram ainda mais este cenário, visto que o consumo de bens materiais vem crescendo drasticamente, toda- via, as matérias-primas, das quais são feitas, não estão acompanhando o mesmo rit- mo, desta maneira, há a necessidade de pensarmos essa realidade, pois os recursos naturais que dispomos não durarão para sempre. Alguns estudos nos trazem dados importantes quanto à utilização dos recur- sos do planeta e as consequências deste avanço inconsequente do homem no meio ambiente e à qualidade de vida, entre os quais destacamos: Apresenta que a pegada ecológica da humanidade, desde 1996 mais que duplicou, considerando-se que em 1961 o ser humano necessitava de 63% da Terra para atender as demandas humanas, pas- sando em 1975 para 97%, chegando em 2011 a 170%, com uma previ- são de que em 2030 precisaríamos de pelo menos três planetas Terra para manter a vida humana. Relatório Living Planet (Planeta Vivo) – de 2010 Realizada pela ONU no período entre 2001 e 2005, com a parti- cipação de 1300 cientistas de 95 países, 850 personalidades li- gadas à ciência e à política, em que aponta que dos 24 serviços am- bientais fundamentais para a manutenção da vida (água, controle do clima, energia, alimentos, entre outros), estão em crescente processo de degradação. O estudo também destaca que 60% dos ecossistemas do planeta estão em processo de destruição e, em alguns casos, já se perderam o que evidencia um acelerado processo de esgotamento dos bens naturais. Avaliação Ecossistêmica do Milênio 16 O mundo atual e a sustentabilidadeUnidade I Uma publicação de 2005 da ONU, com reedição de 2010, aponta que já não temos recursos necessários para suprir as necessida- des humanas no atual padrão de consumo, sendo que o homem con- some 20% a mais da capacidade de recomposição dos bens naturais, merecendo destaque os EUA, Canadá, Europa e Japão, que consomem 80% deste montante, enquanto que a África, a América Latina e a Índia usufruem 20% deste total. O estado do mundo Estudo contido no livro “O terremoto populacional”, que aponta que os 7% mais ricos da população mundial são os responsáveis por 50% da emissão de gases que desencadeiam o efeito estufa, en- quanto que a população mais pobre, cerca de 3,4 bilhões de pessoas, emitem apenas 7% dos gases responsáveis pelo aquecimento global. Fred Pierce Uma publicação do IPEA, que apresenta um estudo sobre a con- centração de renda em nosso país, em que 5 mil famílias contro- lam 46%do produto interno bruto e que 1% da população detêm 46% das terras brasileiras. Atlas social do Brasil Temos vários outros estudos que, somando-se a esses, demonstram que o avanço do capitalismo aos moldes da globalização vigente no planeta, coloca em risco o futuro do planeta nos âmbitos cultural, econômico e ambiental, questões que colocam em risco a continuidade da vida na Terra. Boff (2013), ao se reportar às dinâmicas ambientais e culturais do mundo con- temporâneo, destaca que a questão ecológica não deve se restringir ao puro e sim- ples ambientalismo, o que seria um reducionismo que dificultaria a compreensão mais ampla do entendimento de sustentabilidade em sua complexidade, que abran- ge várias dimensões que se inter-relacionam e se influenciam mutuamente. Para o autor, ecologia compreende vários aspectos, como: 17 O mundo atual e a sustentabilidade unidade I O meio social (ecologia social) A mente humana (ecologia mental) A produção industrial (ecologia industrial) A qual Boff (2013) deno- mina ecologia urbana. Löwy (2015) e Boff (2013) entendem que não basta pensar a questão ambiental de forma isolada, com reformas e ações paliativas com alcance limitado, uma vez que o momento atual exige outro modelo de civilização que reveja a expansão ilimi- tada do sistema capitalista e do acúmulo de lucros. É fato que a crise é fruto da ação predatória do sistema capitalista, que põe em risco a continuidade da vida humana no planeta. É nesse contexto que se instau- rou uma crise moral e ética, visto que a globalização nos moldes atuais interfere nas formas de ser, estar e atuar no mundo no âmbito pessoal e do coletivo. Tal realidade incentiva o isolamen- to, a competição, a solidão, o que compromete o desenvolvimento do sentimento de pertencimento e de corresponsabilidade das pessoas para com os outros seres humanos e para com o meio em que vive. 18 O mundo atual e a sustentabilidadeUnidade I 1.3 As reações aos dilemas socioambientais e a educação Dé cad e d e 6 0 O despertar de uma consciência crítica voltada às questões am- bientais e as possíveis consequências da ação desenfreada do ho- mem na natureza, começam a se consolidar no âmbito educacional em meados da década de 1960, com a denominação Educação Ambiental (EA), expressão apresentada pela primeira vez na Conferência de Educação, rea- lizada em 1965, na Grã Bretanha, em que se definiu que a Educação Am- biental deveria se parte fundamental na formação das futuras gerações. Entretanto, só em 1972, na cidade de Estocolmo, na Suécia, em uma conferência organizada pela ONU que a proposta da Educação Ambiental repercutiu mundialmente: Este evento teve impacto global, em função da se- riedade dos conteúdos discutidos e internalizou, nas agências internacionais, a necessidade de repensar o desenvolvimento sob uma nova perspectiva, capaz de inserir as questões ambientais e sociais aos processos em curso (IRVING & OLIVEIRA, 2012, p.22). As reflexões sobre a questão avançaram com a realização da Primeira Con- ferência Intergovernamental sobre a Educação Ambiental, realizada de 14 a 26 de outubro 1977, em Tbilisi, na Rússia, encontro em que se propõe que a Educação Ambiental deveria ter um enfoque educativo multidiscipli- nar e integracionista. Décade de 70 19 O mundo atual e a sustentabilidade unidade I Dé cad e d e 9 0 Porém, só em 1992, com a realização da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, a Rio-92, também conhecida como Cúpula da Terra, que se ampliou o debate sobre o desenvolvimento sustentável. Nesse encon- tro participaram 180 chefes de Estados para debater e estabelecer metas sobre o crescimento econômico menos consumista, em consonância com uma proposta de equilíbrio ecológico. É nesse evento que surge a Agenda 21, um programa de ação que visava um novo padrão de desenvolvimento sustentável, assinado por 173 países que assina- ram as propostas e estratégias contidas no documento com vistas a alcançar um desenvolvimento ambiental sustentável. Nesta ocasião, paralelamente ao Rio-92, Organizações não Governamentais realizaram o Fórum Global, que desencadeou na elaboração de um documento in- titulado “Carta da Terra”, que estabelece princípios éticos essências para a conso- lidação de uma sociedade mais justa, sustentável e pacífica no século XXI. Em seu preâmbulo estabelece: Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro reserva, ao mesmo tempo, grande perigo e gran- de esperança. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio de uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos nos juntar para gerar uma sociedade sustentável global fundada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade de vida e com as futuras gerações. (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE) 20 O mundo atual e a sustentabilidadeUnidade I 1.4 A Carta da Terra Na Carta da Terra alguns aspectos despontam como metas educacionais a se- rem atingidas, como: Reduzir, reutilizar e reciclar mate- riais utilizados na produção e no consumo; Oferecer aos indivíduos , em especial às crianças e jovens, tempos e espaços educativos que os for- mem para contribuir de fo rma consciente com o desenvolvimento sustentá vel; Reconhecer a relevância de uma formação moral e espiritual para uma subsistência sustentável; Estimular e valorizar entend imentos mútuos, a cooperação e a solidarie- dade entre os indivíduos; Gerar uma sociedade que vise uma vida sustentável, que oriente-se pelo respeito à natureza, aos direitos humanos, na justiça e na paz, considerando que os povos da Terra assumam a responsabilidade uns para com os outros, com a continuidade da vida e com as gerações futuras etc. A Carta da Terra é uma leitura essencial e está disponível na íntegra na midiateca. 21 O mundo atual e a sustentabilidade unidade I Fica evidente que a Educação Ambiental entendida de forma simples e apar- tada de outras dimensões que constituem a realidade não basta para entendermos a complexidade da questão da sustentabilidade, sendo a Carta da Terra uma das ferramentas para implantar uma proposta educativa mais consistente e alinhada aos princípios e fundamentos que proporcionem um acréscimo de conhecimento e uma mudança de hábitos, como aponta Gadotti: A Carta da Terra tem um grande potencial educativo ainda não suficientemente explorado, tanto na educação formal, quanto na educação não formal. Por meio de sua proposta de diálogo intertranscultural, pode contribuir na superação do conflito civi- lizatório que vivemos hoje (GADOTTI, 2008, p. 11). Fica evidente que a Rio-92 avançou no debate e nas propostas e, em nosso país, acabou sendo responsável pela criação do Ministério do Meio Ambien- te, também no ano de 1992, que teve como meta promover a preservação ambiental no Brasil. Ampliando o conhecimento sobre o tema e fiscalizando as políticas ambientais e sua execução segundo os princípios de proteção ambiental e das culturas a ela associadas. Além disso, também institui-se em 1996 o Programa Nacional de Educação Am- biental – PRONEA, proposta elaboradapelo governo federal que objetivou ofe- recer a Educação Ambiental nos diversos níveis de ensino para ampliar a conscien- tização como forma de garantir um meio ambiente ecologicamente equilibrado. 22 O mundo atual e a sustentabilidadeUnidade I Assim sendo, ao possibilitar às crianças e jovens o acesso aos conhecimentos que constituem sua realidade em uma perspectiva crítica, o educando desenvolve- rá uma postura autônoma para pensar, refletir e atuar junto ao mundo vivido, nas relações que estabelece com as pessoas e com o ambiente em prol de uma vida sustentável, na construção de um mundo saudável, pacífico, permeado pela ética e pelo bem comum, pois: Hoje tomamos conhecimento de que o sentido das nossas vi- das não está separado do sentido do próprio planeta. (...) Fa- zemos escolhas! Nem sempre temos clareza delas. A educação carrega de intencionalidade nossos atos. Precisamos ter cons- ciências das implicações de nossas escolhas. O processo educa- cional pode contribuir para humanizar o nosso modo de vida. Temos que fazer escolhas. Elas definirão o futuro que teremos (GADOTTI, 2008, p.62). Enfim, a Educação Ambiental é vital para nos apropriarmos, de forma correta, dos recursos desta Terra em que vivemos e que tão abundantemente nos oferece. Como seres histórico-sociais, temos que aprender a pensar coletivamente, ao con- trário do que a realidade capitalista que nos rodeia ensina, temos que aprender que precisamos preservar hoje para usufruir amanhã, e entender que, ao aprendermos, estaremos em uma situação de poder; poder para mudar, para agir e transformar. Entretanto, atualmente os conceitos e concepções sobre educação e meio am- biente se apresentam em várias perspectivas, orien- tando-se por princípios ligados a muitas concepções sobre a questão ambiental e a educação, sendo que algumas destas propostas amparam-se em uma edu- cação ambiental de forma descontextualizada, ou en- tão associada ao desenvolvimento econômico, defen- dendo ações paliativas que não comprometam a estrutura econômica capitalista vigente. Por outro lado, temos as tendências críticas, sendo a ecopedagogia uma das mais recentes (GUTIÉRREZ & PRA- DO, 2013), que entende uma educação relacionada ao am- biente de forma mais ampla e contextualizada, aspectos que discutiremos no próximo capítulo. 23 O mundo atual e a sustentabilidade unidade I Conheça mais: Saiba mais sobre a globalização assistindo ao vídeo: “A história das coisas – globalização + capitalismo e seus efeitos”. Dis- ponível em: <https://youtu.be/x_PmgSf3LSs>. Interessante vídeo que aborda questões sobre globalização e seus efei- tos, capitalismo e sustentabilidade. Confira o texto “Traçando nosso caminho na direção de um plane- ta resiliente”, que é parte do Planeta Vivo – Relatório 2016 – Risco e resiliência, em uma nova era. Leia as páginas de 6 a 15, pois essas informações servirão de base para o debate em nossos fóruns e de outras questões reflexivas. Esse material está disponível na midiateca. Além disso, esse relatório traz discussões muito atuais e interessantes sobre as condições e o destino do mundo, dê uma olhada nos temas oferecidos e escolha algum de seu interesse para se atualizar, acredito que ficará surpreso(a) com os temas abordados. Aprendemos que: Vivemos uma crise moral e ética, visto que a globalização nos moldes atuais interfere nas formas de ser, estar e atuar no mundo no âmbito pessoal e do coletivo e que esta realidade incentiva o isolamento, a competição, a solidão, o que compromete o desenvolvimento do sen- timento de pertencimento e de corresponsabilidade das pessoas para com os outros seres humanos e para com o meio em que vive. Como seres histórico-sociais, temos que aprender a pensar coletivamente, ao contrário do que a realidade capitalista que nos rodeia ensina, temos que aprender que precisamos preservar hoje para usufruir amanhã, temos que aprender que, ao aprendermos, estaremos em uma situa- ção de poder; poder para mudar , para agir e transformar. 24 O mundo atual e a sustentabilidadeUnidade I Referências da unidade I BOFF, Leonardo. Sustentabilidade: o que é - o que não é. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013. ______. Saber cuidar. 19. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010. GADOTTI, Moacir. Educar para a sustentabilidade. São Paulo: Ed. Instituto Paulo Freire, 2008. GUTIÉRREZ, Francisco; PRADO, Cruz. Ecopedagogia e cidadania planetária. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2013. IRVING, Marta de A.; OLIVEIRA, Elizabeth. Sustentabilidade e transformação social. São Paulo: Senac, 2012. LÖWY, Michael. O que é o ecossocialismo? São Paulo: Cortez, 2014. 25 A Ecopedagogia unidade II 2Unidade II A Ecopedagogia 2.1 Conceito de Ecopedagogia O conceito de Ecopedagogia foi elaborado por Francisco Gutiérrez, pesquisa- dor do pensamento de Paulo Freire, e segue os princípios da “Carta da Terra”, já citada na unidade anterior. 26 A Ecopedagogiaunidade II Ecopedagogia Esse conceito está pautado na id eia de que é primor- dial a formação de uma consciê ncia ecológica e de que a formação dessa consciência de pende da educação. Dentro do ideário dessa proposta está a defesa de que é preciso dar sentido às ações dos homens, que como seres vivos devem compartilhar com os demais seres viventes a experiência do planeta Terra, apren- dendo sobre o sentido das coisas e do cotidiano, ob- jetivando a promoção de uma sociedade sustentável. Assim, segue como fundamentação teórica à “cidadania planetá- ria”, que defende a ideia de mudança nas relações humanas, so- ciais e ambientais, por meio de movimentos políticos e educativos. E como diz Moacir Gadotti em seu texto: “A Ecopedagogia como pedagogia apropriada ao processo da Carta da Terra”, (disponível em: <http://www.ufmt.br/re- vista/arquivo/rev21/moacir_gadotti.htm>): O conceito de Ecopedagogia está relacionado com a sustenta- bilidade, para além da economia e da ecologia. A ecopedagogia inclui abordagens da planetaridade, educação para o futuro, ci- dadania planetária, virtualidade e a Pedagogia da Terra. A meta deste enfoque é discutir os paradigmas da Terra como uma co- munidade global. Os princípios da Ecopedagogia são mais am- plos do que a educação ambiental, desde que seu debate inclui processos de “coeducação”, no marco da cultura de sustentabi- lidade, dentro e fora das escolas. A sustentabilidade educativa está além das nossas relações com o ambiente – ela se insere desde o cotidiano da vida, o profundo valor da nossa existência e nossos projetos de vida no Planeta Terra. Neste sentido, a Eco- pedagogia, ou Pedagogia da Terra, é algo mais apropriado para a construção coletiva da Carta da Terra. 27 A Ecopedagogia unidade II Para Gadotti (2000), a ecopedagogia almeja reeducar o olhar dos seres humanos, habitantes do planeta, para a tomada de atitudes que amenizem as agressões ao meio ambiente, que ampliem a diminuição de desperdício, num novo reconheci- mento de si próprio e na promoção do respeito ao próximo. E para isso o papel da escola é essencial, pois, segundo Gadotti (2000, p.48); [...] não se trata de reduzir a escola e a pedagogia atual a uma tábula rasa e construir por cima de suas cinzas a escola cidadã ideal e a ecopedagogia. Não se trata de uma escola e de uma pedagogia alternativas, isto é, construída separadamente da es- cola e da pedagogia atuais. Trata-se de, no interior delas, a partir da escola e da pedagogia que temos, dialeticamente, construir outras possibilidades sem aniquilar as presentes. O futuro não é o aniquilamento do passado, mas a sua superação. A educação é promotora de elementos para formação crítica, em que o desenvolvimentosustentável pode se tornar uma consciência ecológica e a Pedagogia da Terra, a ecopedagogia, são movimentos de promoção da aprendizagem. E segundo Gadotti, citando Leonardo Boff: Precisamos de uma ecopedagogia e uma ecoformação hoje, pre- cisamos de uma Pedagogia da Terra, justamente porque sem essa pedagogia para a reeducação do homem/mulher, principal- mente do homem ocidental, prisioneiro de uma cultura cristã predatória, não poderemos mais falar da Terra como um lar, como uma toca, para o “bicho-homem”, como fala Paulo Frei- re. Sem uma educação sustentável, a Terra continuará apenas sendo considerada como espaço de nosso sustento e de domí- nio técnico-tecnológico, objeto de nossas pesquisas, ensaios, e, algumas vezes, de nossa contemplação. Mas não será o espaço de vida, o espaço do aconchego, de ‘cuidado’ (BOFF, Leonardo. Saber cuidar. Petrópolis: Vozes, 1999). 28 A Ecopedagogiaunidade II Para isso precisamos sentir a Terra, segundo o autor “não aprendemos a amar a Terra lendo livros sobre isso, nem livros de ecologia integral.” É preciso vivenciar as experiências, conhecer o rio, saber do crescimento das plantas e da vida, é preciso enxergar a cidade, caminhar sobre suas ruas e ob- servá-la. É preciso aprender a ver a vida, ouvir os pás- saros, sentir as borboletas e os aromas, olhar o céu, observar o sol e as estrelas, observar a luz da lua sobre as plantas e também a sentir o vento, e cuidar para que não haja a destruição, a degradação e para que todos aprendam a compartilhar a vida. [...] Estou abençoando a terra pela alegria do ip ê. Mesmo roxo, o ipê me transporta ao círculo da alegria, Onde encontro, dadivoso, o ipê amarelo. Este me dá as boas-vindas e apresenta: - Aqui é o ipê-rosa. Mais adiante, seu irmão, o ipê branco. Entre eles os ipês de agosto que deveriam ser de outubro Mas tiveram pena de nós e se anteciparam Para que o Rio não sofresse de desamor, tumulto, inflação, mortes. Sou um homem dissolvido na natureza. Estou florescendo em todos os ipês. Estou bêbado de cores de ipês, estou alcanç ando a mais alta copa do mais alto ipê do Corcovado . Não me façam voltar ao chão, Não me chamem, não me telefonem, não m e deem dinheiro, Quero viver em bráctea, racemo, panícula, u mbela. Este tempo de ipê. Tempo de glória. Carlos Drummond de Andrade 29 A Ecopedagogia unidade II 2.2 A Cidadania Planetária A noção da Cidadania Planetária pauta-se na visão unificadora do planeta e de uma sociedade mundial. Esse conceito traz com ele um conjunto de princípios, valo- res, atitudes e comportamentos e busca alertar para uma nova percepção da Terra como uma única comunidade. Sustentada numa visão unificadora de planeta, a noção de cidadania planetá- ria almeja uma sociedade pacífica, sustentável e socialmente justa, partindo de um conjunto de princípios, valores, atitudes e comportamentos a partir de uma nova compreensão do planeta. “Na base da proposta de ‘educar para a cidadania planetá- ria’, está o paradigma Terra, isto é, a concepção de uma comunidade humana una e diversa. Está o desafio de realizar uma profunda revisão dos nossos currículos e dos processos educativos.” (PADILHA, 2001, p. 15). Segundo Francisco Gutiérrez e Cruz Prado (2013), essa ideia está pautada em três principais conceitos emergentes que se inter-relacionam e se complementam: A ecologia profunda A pedagogia como promoção da aprendizagem A planetaridade como dimensão política A ecologia profunda nos indica os fundamentos científicos que irão embasar as mudanças individuais e sociais que devemos buscar, se opondo à ecologia superficial que não reconhece os vínculos do ser humano com a natureza, atribuindo a ela um valor de uso e consumo. Segundo Capra (1998, p.56), “a ecologia profunda por não separar os humanos - nem qualquer outra coisa – do entorno natural, vê o mun- do não como uma coleção de objetos isolados, mas como uma rede de fenômenos fundamentalmente interligados e interdependentes”. Nesse sentido, Gutiérrez e Prado (2013,p14) utilizam o pensamen- to de Capra (2006) para esclarecer que; 30 A Ecopedagogiaunidade II Estar ecologicamente educado (alfabetizado) sig- nifica precisamente compreender esses princípios ecológicos e utilizá-los para criar comunidades hu- manas sustentáveis. É necessário reinstalar nos- sas comunidades – incluindo as educativas, as de negócios e as políticas -, de modo que os princípios de ecologia se manifestem nesses princípios de educação, empresa e política (CAPRA, 2006, p.307). A pedagogia visa o aprofundamento da aprendiz agem a partir de to- dos os recursos possíveis para a promoção d a aprendizagem, entendendo que aprender é “uma propriedade inerente a todos os seres vivos, o que se torna possível graças ao princípio da auto-or ganização da vida” (GUTIÉR- REZ e PRADO, 2013, p.14). Para esse conceito, Gutiérrez e Prado se uti lizam dos pensamentos de Perez e Castilho para esclarecer que: [...] aprender é a propriedade emergente que todos os seres vivos têm em seu processo de auto-org anizar a vida. A autopoesis dá lugar a estados impre visíveis como resultado da busca do equilíbrio dinâmi co ine- rente às inter-relações com o meio. Apren der será, em consequência, a capacidade de recriar n ovas rea- lidades das múltiplas possíveis que a busca p elo equi- líbrio dinâmico dos seres leva consigo e, co nsequen- temente, significam o desenvolvimento das próprias capacidades como potencial para a plena su stenta- bilidade do eu ao nível pessoal e social. Capac idades como a de sentir e imaginar, a de localizar, p rocessar e auto-organizar a informação; a de relacio nar-se e pensar a totalidade; a de se expressar e se comuni- car; a se avaliar, criticar e tomar decisões; a d e buscar causas e prever consequências; a de passar d e um ho- rizonte de compreensão a outro (PEREZ e C ASTILHO, 1996, p.05). 31 A Ecopedagogia unidade II E por fim, a planetariedade que se distancia do conceito de glo- balização, na medida em que segundo Gutiérrez e Prado (2013, p.16), um de seus aspectos básicos “é sentir e viver o fato de que somos parte constitutiva da Terra: esse ser vivo e inteligente que nos pede re- lações planetárias, dinâmicas e sinergéticas”. Assim, o conceito de pla- netariedade implica em tratar o planeta como um ser vivo inteligente, buscando a harmonia cotidiana com os outros seres que o habitam. Essa condição nos obriga a vislumbrar novas formas de se ver no mundo e a criar novas formas de proteção para todas as vidas que habitam o planeta, e para isso é necessário compreender que: A dimensão planetária reflete e requer uma pro- funda consciência ecológica, que é, em definitivo, a formação da consciência espiritual como único requisito no qual podemos e devemos funda- mentar o caminho que nos conduz ao novo pa- radigma (GUTIÈRREZ e PRADO, 2013, p.40). Dentro da perspectiva da cidadania planetária, não podemos conceber um mundo dividido em territórios, pois as questões refe- rentes à cidadania, direitos humanos e meio ambiente são transna- cionais, pois os problemas que afetam a humanidade e o planeta não estão divididos por fronteiras. 2.3 A educação cidadã A proposta de uma educação para a cidadania planetária parte da preocupa- ção em pensar nos conflitos globais, nesse sentido, educar significa discutir questões que envolvam o meio ambiente, as desigualdades sociais e as dificuldades relacio- nadas ao cumprimento dos direitos humanos e da saúde do planeta, buscando uma 32 A Ecopedagogiaunidade II compreensão global dos conflitos e de tudo que a eles estiver relacionado,com- preendendo assim os atos e os fatos como interdependentes, e a partir daí, deste olhar, criar formas de agir, numa atitude de pensar global e agir local. Para Gadotti (2000, p.142), a educação para a cidadania planetária: Educar para a cidadania planetária implica muito mais do que uma filosofia educacional, do que o enunciado de seus princí- pios. A educação planetária implica em uma revisão de nossos currículos, uma reorientação de nossa visão de mundo da edu- cação como espaço de inserção do indivíduo não numa comuni- dade local, mas numa comunidade que é local e global ao mes- mo tempo. Na intenção de orientar o trabalho com a educação para a cidadania planetá- ria, Moacir Gadotti elaborou uma relação de itens que podem servir como referência para pensar este novo modo de ver o papel do mundo, ele revela que ainda são referências imprecisas e derivadas de muitas fontes, entre elas os pensamentos de Paulo Freire, considerado como um dos inspiradores desse ideário e da aprendiza- gem a partir do cotidiano. Assim, para Gadotti, são princípios da Ecopedagogia ou da Pedagogia da Terra: O planeta como uma única comunidade; A Terra como mãe, organismo vivo e em evolução; A ternura para com essa casa. Nosso endereço é a Terra; Uma nova consciência que sabe o que é sustentável, apropriado, e faz sentido para a nossa existência; A justiça sócio cósmica: a Terra é um grande pobre, o maior de todos os pobres; 33 A Ecopedagogia unidade II Uma concepção do conhecimento que admite só ser integral quando compartilhado; Cultura da sustentabilidade: ecoformação. Ampliar nosso ponto de vista. O caminhar com sentido (vida cotidiana); Uma racionalidade intuitiva e comunicativa: afetiva, não instrumental; Novas atitudes: reeducar o olhar, o coração; Uma pedagogia biófila (que promove a vida): envolver-se, comunicar-se, compartilhar, problematizar, relacionar-se, entusiasmar-se; Outras mídias: Para conhecer uma experiência de aplicação desse conceito você pode acessar o material “Educação para a cidadania planetária” e com- preender como isso se deu na prática em uma experiência realizada na cidade de Osasco, no estado de São Paulo. Além dos principais conceitos de Educação Planetária, traz a descrição de todos os passos dados para a implantação, o retrato do processo e o resultado obtido em algumas escolas. Leia, principalmente, a apresentação feita por Gadotti e Emídio, e você entenderá muitos dos conceitos tratados. Assim, podemos dizer que o ser humano está sempre em relação com a natu- reza, e mesmo que ele não tenha consciência dessa condição é assim que todas as coisas acontecem . A pessoa planetária deve se perceber em comunhão com a na- tureza e com a sua diversidade. “Na sociedade planetária deve-se viver a vida como processo, como fluxo permanente de energias, situações, de um transcorrer relativa- mente imprevisível” (GUTIERREZ e PRADO, 2002, p. 41). 34 A Ecopedagogiaunidade II Tomando de Francisco Vío Grossi, Gutierrez e Prado citam as dez característi- cas que indicam o perfil das pessoas da sociedade planetária: 1 - Em primeiro lugar, as pessoas se caracterizam por buscar e sentirem-se em contato com a natureza, sentem-se parte dela, mas não seus donos. Nesse sentido, em sua vida prática, não estão em acordo com o mandamento bíblico de “contro- lá-la e colocá-la a seu serviço”, mas sim de respeitá-la e desen- volver sua diversidade. 2 - Vivem a vida como processo, como fluxos permanentes de energias, de situações, de um transcorrer relativamente imprevisível. São capazes de viver a incerteza e se afastam de concepções rígidas e estáticas de vida. 3 - Preocupam-se e suspeitam do poder, da hierarquia e de sua utilização para dominar os demais. Propõem para si um tipo de educação que permita construir o poder, a partir de si mesmo, de modo que todos sejam capazes de “controlar sua própria vida”. Por isso, em geral se preocupam com a construção de comunidades humanas que sejam veículos adequados de “dis- tribuição social do poder”, antes que concentradores dele. 4 - São pessoas que procuram a integração de elementos que andam, em geral, dispersos e que se consideram de forma isolada: ciência e senso comum, ação e reflexão, homem e mulher, mente e corpo, razão e sentimento, objetividade e subjetividade, seriedade e frivolidade, sensatez e loucura. 35 A Ecopedagogia unidade II 5 - Interessam-se muito mais em fazer perguntas que em dar por aceitas as respostas. Pesquisam de forma permanente, buscando o lado oculto da vida, o não dito, o não proposto, as histórias não contadas. Sua crítica permanente, em geral, conduz a uma busca espiritual. 6 - Comumente os bens materiais, como símbolos de status social, são menos absorventes e dominantes. 7 - São pessoas abertas ao novo, isto é, não são dogmáticas nem rígidas; permitem-se avançar por novos territórios igno- tos do conhecimento e da vida. 8 - São solidárias, com vontade de colaborar com os outros, tentam ser menos egoístas e paternalistas. 9 - Desconfiam da burocracia como forma institucional que privilegia o benefício dos burocratas sobre os outros. 10 - Têm autoconfiança no valor de sua própria experiência e desconfiam da autoridade que erige como superior. (Disponível em:< http://melodiadashoras.blogspot.com.br/2012/09/>. Acesso em: 10/05/2017). 36 A Ecopedagogiaunidade II Como uma síntese do que falamos aqui, e para complementar seu estudo, você deve ler o artigo de Moacir Gadotti: “Ecopedagogia, Peda- gogia da Terra, Pedagogia da Sustentabilidade, Educação Ambiental e Educação para a Cidadania Planetária: Conceitos e expressões di- ferentes e interconectados por um projeto comum”, que também está disponível na midiateca. Em seu artigo “Pedagogia da Terra: Ideias centrais”, disponível no site do Instituto Paulo Freire, Moacir Gadotti nos diz que “A Carta da Terra, concebida como um código de ética global por um desenvolvimento sustentável e apontando para uma mudança em nossas atitudes, va- lores e estilos de vida, envolve três princípios interdependentes”, sendo eles: • I - Os valores que regem a vida dos indivíduos; • II - A comunidade de interesses entre Estados; • III - E a definição dos princípios de um desenvolvimento sustentá- vel. Atenção: Agora realize a leitura complementar sugerida, asssita às videoaulas e o vídeo sugerido, pesquise sobre o assunto e participe do fórum. Caminharemos assim, mais conhecedores do assunto, para dar início a nossa Unidade III, que fará uma ponte entre a ecopedagogia e as práticas pedagógicas. Conheça mais: Para compreender a relação entre ética e ecologia, assista ao vídeo disponível na midiateca de Leonardo Boff, que fala de Ética e Ecologia – Desafios do século XXI. Ele lhe fará pensar em nosso papel diante da Terra, do outro e de si mesmo. 37 A Ecopedagogia unidade II Dica de Leitura: Sobre esse assunto você pode encontrar disponível para download o livro interessantíssimo de Fritjof Capra – “Alfabetização Ecológica: A educação das crianças para um mundo sustentável”, da editora Cul- trix. Busque por ele, escolha histórias para ler, tenho certeza de que vai gostar muito. Busque também pelo texto “A Ecopedagogia como pedagogia apro- priada ao processo da Carta da Terra”, disponível na midiateca. Aprendemos que: A Ecopedagogia defende que é preciso dar sentido às ações dos ho- mens, que como seres vivos devem compartilhar com os demais seres viventes a experiência do planeta Terra, aprendendo sobre o sentido das coisas e do cotidiano, objetivando a promoção de uma sociedade sustentável. A propostade uma educação para a cidadania planetária parte da preocupação em pensar nos conflitos globais, nesse sentido, educar significa discutir questões que envolvam o meio ambiente, as desi- gualdades sociais e as dificuldades relacionadas ao cumprimento dos direitos humanos e da saúde do planeta, buscando uma compreen- são global dos conflitos e de tudo que a eles estiver relacionado, com- preendendo assim os atos e os fatos como interdependentes, e a partir daí, deste olhar, criar formas de agir, numa atitude de pensar global e agir local. 38 A Ecopedagogiaunidade II Referências da unidade II CAPRA, Fritjof. La trama de la vida. Uma Nueva Perspectiva de los sistemas vivos. Barce- lona: Ed. Anagrama, 1998. ______ et al. Alfabetização ecológica: a educação das crianças para um mundo sus- tentável. São Paulo: Cultrix, 2006. GADOTTI, Moacir. Pedagogia da Terra. São Paulo: Editora Peirópolis, 2000. PADILHA, Paulo Roberto et al. Educação para a Cidadania Planetária: currículo in- tertransdisciplinar em Osasco . São Paulo: Editora e Livraria Instituto Paulo Freire, 2011. 39 Princípios para uma ação pedagógica em ecopedagogia unidade III 3Unidade III Princípios para uma ação pedagógica em ecopedagogia Há muito tempo que o mundo vem sofrendo os efeitos da devastação causada pelos processos civilizatórios, mas desde o advento da industrialização a situação tem se agravado. A Ecopedagogia tem uma preocupação com o planeta como um todo, englo- bando todos os seres viventes sobre o planeta Terra. E o que podemos ver é que muito se tem discutido sobre ecologia e sustentabilidade, os problemas ambientais são reconhecidos, comentados... 40 Princípios para uma ação pedagógica em ecopedagogiaunidade III ... Mas, e o desenvolvimento de posturas e ações críticas que se mostrem realmente capazes de transformar essa realidade so- cioambiental, quando serão instituídas? Dentro de um quadro como este, o papel da educação se torna primordial para contribuir com a formação de cidadãos que possam contribuir para a solução desta crise ambiental que nos atinge. Assim, é nosso papel como educadores, procurar um novo sentido para educar para a preservação e para a sobrevivência do planeta, uma educação que vá além da sensibilização sobre o problema, ou que se satisfaça em discutir o que é certo e o que é errado em relação ao meio ambiente, é preciso incluir as pessoas nesse meio ambiente e desenvolver em nossos alunos o sentido do cuidar, de integração e de pertencimento à natureza. Em nosso dia a dia, podemos observar que as coisas não acontecem separada- mente, elas se intercalam, são interdependentes ou por vezes nem seriam possíveis de existir sem um complemento de suas partes. Por exemplo, para que seja possível que você tome uma simples xícara de chá já pensou quantos processos e pessoas estão envolvidas nessa ação? Desde a produção do chá, da produção da caneca, do tratamento da água, das diferentes possibilidades de aquecimento e dos estudos realizados para que tudo isso esteja à disposição? E na área de prestação de serviços então? 41 Princípios para uma ação pedagógica em ecopedagogia unidade III E isso não acontece apenas com as “coisas” nossas decisões e ações, também são frutos de um sistema que se inter-relaciona alimentado por nossas crenças, con- vicções, experiências que são formadas ao longo de nossa vida e de nossas aprendi- zagens tanto teóricas quanto práticas. Existe um movimento que nos envolve e que faz com que busquemos todos os recursos para solucionar, desde nossos pequenos problemas cotidianos até a defesa das grandes causas da humanidade, e o que torna possível toda essa mobilização é o exercício de uma aprendizagem integrada. Depende do pressuposto de que existe todo um organismo em trabalho de cooperação global para que essa aprendizagem aconteça. No cam- po cognitivo isso dependerá de evolução conjun- ta do pensamento, da consciência, da inteligência e da sensibilidade. Aprendizagem Integrada, Integral ou Integradora Assim para Moraes e La Torre (2004), as situações de aprendizagem estão in- terligadas a diferentes processos, pois: A aprendizagem humana não é um processo mecânico median- te o qual nos tornamos donos simbolicamente da realidade, não é um processo que possa ser reduzido a componentes intelec- tuais. A aprendizagem humana, quando é integrada, comporta elementos emocionais, intuitivos, atitudinais e, inclusive, sociais. Compromete a totalidade do ser em sua relação com o mundo. Não é um mero ato individual, embora também o seja desde a identidade biológica, mas é fruto das interações com a cultura socialmente enriquecida. A educação varia com os contextos e respectivos valores. As aprendizagens variam com as pessoas que vivem no entorno, com a motivação intrínseca, com o clima de interação criado e com o próprio conteúdo, objeto da apren- dizagem. Assim, pois, a aprendizagem integrada tem sua razão de ser nos componentes cognitivos, socioafetivos e culturais. (MORAES e LA TORRE, 2004, p.85) 42 Princípios para uma ação pedagógica em ecopedagogiaunidade III Para que isso ocorra, é fundamental que na esco- la o conhecimento não seja tratado apenas de for- ma compartimentada, é preciso criar situações de vida, cenários, hipóteses, diálogos, relações com o real e com a imaginação que possibilitem o en- cantamento e a inter-relação das aprendizagens. Na verdade, sabemos que o mundo é uma totalidade, mas sendo ele tão gran- de e complexo, acabamos por adotar a ideia de que fragmentar seus conhecimentos facilita a compreensão das coisas e foi essa ideia que orientou a elaboração dos cur- rículos escolares. Porém, essa fragmentação acabou por dificultar a compreensão de fenômenos mais complexos e assim, a única maneira que temos para solucionar esse impasse é reconhecer a necessidade de implantar em nossa forma de ensinar e aprender maneiras de inter-relacionar os conteúdos e isso pode ser realizado de diferentes maneiras, aqui abordaremos apenas três níveis de relação ente as disci- plinas, os mais comuns em nossas escolas: Multidisciplinaridade Interdisciplinaridade Transdisciplinaridade No primeiro caso, o nível mais simples, a multidisciplinaridade, acabamos por recorrer a conteúdos de várias disciplinas para estudar um determinado problema sem que com isso haja uma preocupação em interligar esses conhecimentos ou dis- ciplinas entre si, existindo assim uma temática em comum, mas não necessariamen- te uma relação ou cooperação entre as disciplinas. Segundo Piaget, acontece quando a solução de um problema exige a utilização de informações de uma ou mais ciências ou áreas do conhecimento, sem que as disciplinas em questão ou seus conteúdos sejam alterados, sendo assim, cada disciplina contribui com as informações da sua área sem que haja uma integração entre os conhecimentos. Os outros dois casos, trataremos no item a seguir. 43 Princípios para uma ação pedagógica em ecopedagogia unidade III 3.1 A interdisciplinaridade e a transversalidade Segundo Ivani Fazenda, Teve origem na França e na Itália na me- tade da década de 1960, como resposta a movimentos estudantis que reivindicavam um ensino mais ligado às questões de or- dem social, política e econômica da época. No Brasil, o conceito chegou ao final da década de 1960 e contribuiu na elabo- ração da Lei de Diretrizes e Bases Nº 5.692/71, tendo se fortalecido com a nova LDB Nº 9.394/96 e com os Parâ- metros Curriculares Nacionais (PCNs). Interdisciplinaridade Segundo os PCNs: A interdisciplinaridade questiona a segmentação entre os dife- rentescampos de conhecimento produzidos por uma aborda- gem que não leva em conta a inter-relação e a influência entre eles — questiona a visão compartimentada (disciplinar) da reali- dade sobre a qual a escola, tal como é conhecida, historicamente se constituiu. A transversalidade diz respeito à possibilidade de se estabelecer, na prática educativa, uma relação entre aprender conhecimentos teoricamente sistematizados (aprender sobre a realidade) e as questões da vida real e de sua transformação (aprender na realidade e da realidade). E a uma forma de siste- matizar esse trabalho e incluí-lo explícita e estruturalmente na organização curricular, garantindo sua continuidade e aprofun- damento ao longo da escolaridade. (BRASIL, 1997, p.30) 44 Princípios para uma ação pedagógica em ecopedagogiaunidade III Uma mudança de atitude para a compreensão do conhecimento e em busca de aprendizagem integral. A p r e n d i z a g e m Integrada, Integral ou Integradora Visa garantir a construção de um conhecimento global, rompendo com os limites das disciplinas. Interdisciplinaridade Fazenda (1994) fortalece essa ideia quando fala das atitudes de um “professor interdisciplinar”: Entendemos por atitude interdisciplinar, uma atitude diante de alternativas para conhecer mais e melhor; atitude de espera ante os atos consumados, atitude de reciprocidade que impele à troca, que impele ao diálogo – ao diálogo com pares idênticos, com pares anônimos ou consigo mesmo – atitude de humildade diante da limitação do próprio saber, atitude de perplexidade ante a possibilidade de desvendar novos saberes, atitude de desafio – desafio perante o novo, desafio em redimensionar o velho – atitude de envolvimento e comprometimento com os projetos e com as pessoas neles envolvidas, atitude, pois, de compromisso em construir sempre da melhor forma possível, atitude de responsabilidade, mas, sobretudo, de alegria, de re- velação, de encontro, de vida (FAZENDA, 1994, p. 82). Já o conceito de... 45 Princípios para uma ação pedagógica em ecopedagogia unidade III Assim para trabalharmos de uma maneira transdisciplinar, em que sejam abordados conteúdos que se coloquem para além das disciplinas e para o espaço, para além da sala de aula, em que o estudo não destaque uma ou outra área como sendo a mais importante, mas o resultado global como foco do interesse. Engloba não só os conteúdos disciplinares, mas ações e conhecimentos que se colocam entre, através e além das disciplinas. Refere-se à aplicação daquilo que está ao mesmo tempo entre as disciplinas, através das diferentes disciplinas e além de qualquer disciplina. Está envolvida com a compreen- são do mundo presente a partir de vários olhares, que se alimenta dos conhecimentos de várias áreas. Transdisciplinaridade Interdisciplinaridade e transversalidade como dimensão da ação pe- dagógica de Marcos Clair Bovo, disponível na midiateca. Além de ser uma leitura essencial, ela irá complementar seus conheci- mentos e fará parte de nossas discussões nos Fóruns. Os conceitos de interdisciplinaridade e transdisciplinaridade ainda são muito discutidos e muitas vezes uma mesma prática pedagógica pode ser analisada ou classificada por alguns, como sendo interdisciplinar e por outros como transdiscipli- nar, pois, ainda não se tem um consenso sobre quais seriam os critérios para classi- ficar, em educação, uma prática como sendo transdisciplinar. Porém, os temas transversais podem ser trabalhados de forma inter ou trans- disciplinar. O que podemos considerar como diferença básica é a forma como os professores trabalham. Pois, a transversalidade abre espaço para a inclusão de sabe- res extraescolares, possibilitando a referência a sistemas de significado construídos na realidade dos alunos. Veremos agora o que nos sugere essa transversalidade. 46 Princípios para uma ação pedagógica em ecopedagogiaunidade III 3.2 Os Parâmetros Curriculares e os Temas Transversais Em 1997, o Ministério da Educação elaborou os PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais) em que, o Meio Ambiente foi considerado um Tema Transversal e assim, passa a ser compreendido como um assunto a ser integrado em todos os níveis do ensino formal. Desta forma, os Parâmetros Curriculares Nacionais, quando propõem uma educação comprometida com a cidadania, elegeram, com base no texto da Consti- tuição, princípios que deveram orientar a educação escolar sendo eles: • Dignidade da pessoa humana - Implica em respeito aos direitos huma- nos, repúdio à discriminação de qualquer tipo, acesso a condições de vida digna, respeito mútuo nas relações interpessoais, públicas e privadas. • Igualdade de direitos - Refere-se à necessidade de garantir a todos a mesma dignidade e possibilidade de exercício de cidadania. Para tanto há que se considerar o princípio da equidade, isto é, que existem diferenças (étnicas, culturais, regionais, de gênero, etárias, religiosas etc.) e desigual- dades (socioeconômicas) que necessitam ser levadas em conta para que a igualdade seja efetivamente alcançada. • Participação - Como princípio democrático, traz a noção de cidadania ativa, isto é, da complementaridade entre a representação política tradi- cional e a participação popular no espaço público, compreendendo que não se trata de uma sociedade homogênea e sim marcada por diferenças de classe, étnicas, religiosas etc. É, nesse sentido, responsabilidade de todos, a construção e a ampliação da democracia no Brasil. • Corresponsabilidade pela vida social - Implica em partilhar com os po- deres públicos e diferentes grupos sociais, organizados ou não, a respon- sabilidade pelos destinos da vida coletiva. (BRASIL, 1997, p.16) 47 Princípios para uma ação pedagógica em ecopedagogia unidade III Essa intenção pedagógica passa pela necessidade de que exista assim, uma relação de transversalidade, de forma que os assun- tos abordados se inter-relacionem com a prática pedagógica e sejam desenvolvidos de tal maneira que atendam a visão global e complexa das questões que envolvem o meio ambiente. Incorporando os aspectos físicos, his- tóricos e sociais, envolvendo os temas em estudos que abranjam tanto uma escala local como uma escala planetá- ria dos problemas abordados. Em seu texto sobre a transversalidade o PCN se refere aos Temas Transversais esclarecendo que: Por serem questões sociais, os Temas Transversais têm nature- za diferente das áreas convencionais. Tratam de processos que estão sendo intensamente vividos pela sociedade, pelas comu- nidades, pelas famílias, pelos alunos e educadores em seu coti- diano. São debatidos em diferentes espaços sociais, em busca de soluções e de alternativas, confrontando posicionamentos diversos tanto em relação à intervenção no âmbito social mais amplo quanto à atuação pessoal. São questões urgentes que interrogam sobre a vida humana, sobre a realidade que está sendo construída e que demandam transformações macrosso- ciais e também de atitudes pessoais, exigindo, portanto, ensino e aprendizagem de conteúdos relativos a essas duas dimensões. Nas várias áreas do currículo escolar existem, implícita ou ex- plicitamente, ensinamentos a respeito dos temas transversais, isto é, todas educam em relação a questões sociais por meio de suas concepções e dos valores que veiculam nos conteúdos, no que elegem como critério de avaliação, na metodologia de trabalho que adotam, nas situações didáticas que propõem aos alunos. Por outro lado, sua complexidade faz com que nenhu- ma das áreas, isoladamente, seja suficiente para explicá-los; ao contrário, a problemática dos temas transversais atravessaos diferentes campos do conhecimento (BRASIL, 1997, p.26). 48 Princípios para uma ação pedagógica em ecopedagogiaunidade III Assim, podemos inferir que estas questões são sociais e que, portanto são pro- cessos relacionados a diferentes áreas do conhecimento e que devem ser discutidos intensamente pela sociedade, em suas diferentes áreas, sempre em busca de novas alternativas que possam trazer soluções para tais problemas, que certamente de- mandam ações de grande abrangência, mas também atitudes pessoais e que tanto uma dimensão como a outra podem ser desenvolvidas a partir da aprendizagem dos conteúdos trabalhados. A ética, o meio ambiente, a orientação sexual, a pluralidade cultural e a saúde. Foram eleitos como Temas Transversais: Ligados pela cidadania e sempre apontando para a necessidade de que tais temas fossem trabalhados de forma contínua, sistemática, abrangente e integrada e não como áreas ou disciplinas, recomendando que sejam integrados ao currículo por meio da transversalidade, o que traria condições para que estivessem presentes em todas as áreas e pudessem relacionar as questões da atualidade ao contexto e convívio escolar. Segundo o PCN (1997), os temas eleitos tem por objetivos, possibilitar uma visão ampla e consistente da realidade brasileira e sua inserção no mundo, além de desenvolver um trabalho educativo que possibilite uma participação social dos alu- nos, e para a eleição dos Temas Transversais foram utilizados os seguintes critérios: Temas que abrangessem questões graves que estivessem envolvidos com a concretização da cidadania, colocando em risco a dignidade das pessoas e deteriorando sua qualidade de vida. Urgência Social 49 Princípios para uma ação pedagógica em ecopedagogia unidade III Uma preocupação com a escolha de temas que fossem pertinentes a todo o território nacional, estando assim em condições de serem relacionados a realidade local. Abrangência Nacional Escolhendo temas possíveis de serem desenvolvidos nesta etapa da escolarização. Possibilidade de ensino e aprendizagem no ensino fundamental Esse critério está relacionado ao objetivo final de todo o trabalho: que os alunos possam desenvolver a capacidade de posicionar-se frente a questões que interferem na vida coletiva, superar a indiferença e intervir de uma forma responsável. Favorecer a compreensão da realidade e a participação social O PCN (1997) considera ainda que devido à importância da temática ambiental, que se torna imprescindível oferecer condições para que cada um dos alunos possa compreender os fatos naturais e humanos relacionados ao Meio Ambiente adotando posturas pessoais e comportamentos sociais de respeito e colaboração com a cole- tividade e consigo mesmo, buscando uma sociedade que seja ambientalmente sus- tentável e socialmente justa, esse conceito não está apenas relacionado à temática do Meio Ambiente, mas também a Ética, a Pluralidade Cultural, a Orientação Sexual e a Saúde. 50 Princípios para uma ação pedagógica em ecopedagogiaunidade III Dica de Leitura: É essencial para sua formação de educador, que você conheça os Te- mas Transversais, eles podem ser encontrados em qualquer escola e também estão disponíveis na internet no portal do Ministério de Edu- cação e Cultura (http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/ttransver- sais.pdf) , mas enquanto isso não acontece, reflita sobre a importân- cia de cada um desses assuntos a partir da leitura dos trechos, um referente ao Meio Ambiente, outro à Saúde e por fim, sobre Ética, os três foram extraídos do volume dos PCNs referente aos Temas Trans- versais: A vida cresceu e se de- senvolveu na Terra como uma trama, uma grande rede de seres interligados, interdependentes. Essa rede entrelaça de modo intenso e envolve conjuntos de seres vivos e elementos físicos. Para cada ser vivo que habita o planeta existe um espaço ao seu redor com todos os outros elementos e seres vivos que com ele interagem, por meio de rela- ções de troca de energia: esse conjunto de elementos, seres e relações cons- titui o seu meio ambiente. Explicado dessa forma, pode parecer que, ao se tratar de meio ambiente, se está falando somente de aspectos físicos e bio- lógicos. Ao contrário, o ser humano faz parte do meio ambiente e as relações que são estabelecidas — relações sociais, econômicas e culturais — também fazem parte desse meio e, portanto, são objetos da área ambiental. Ao longo da história, o homem transformou-se pela modificação do meio ambiente, criou cultura, estabeleceu relações econômicas, modos de comunicação com a natureza e com os outros. Mas é preciso refletir sobre como devem ser es- sas relações socioeconômicas e ambientais, para se tomar decisões adequa- das a cada passo, na direção das metas desejadas por todos: o crescimento cultural, a qualidade de vida e o equilíbrio ambiental. MEIO AM BIENTE Fonte: Brasil. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais : apresentação dos temas transversais, ética / Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília : MEC/SEF, 1997. 146p. 1. Parâmetros curriculares nacionais. 2. Ética : Ensino de primeira à quarta série. I. Título. CDU: 371.214 – página 33. 51 Princípios para uma ação pedagógica em ecopedagogia unidade III O nível de saúde da s pessoas reflete a mane i- ra como vivem, num a interação dinâmica ent re potencialidades indi viduais e condições de vida. Não se pode compreen der ou transformar a s ituação de um indivídu o ou de uma comunidade se m levar em conta que e la é produzida nas relaç ões com o meio físico, soc ial e cultural. Falar de saúde implica levar em conta, por exemplo, a qualida de do ar que se respir a, o consumismo dese nfreado e a miséria, a degrada ção social e a desnutr ição, formas de inserç ão das diferentes parcelas da população no mundo do trabalho, estilos de vida pes- soal. Atitudes favoráv eis ou desfavoráveis à saúde são construídas desde a infância pela identifica ção com valores obse rvados em modelos e xternos ou grupos de referência . A escola cumpre papel destacado na formação dos cidadãos para uma vid a saudável, na medida em que o grau de esco laridade em si tem associação comprovada com o ní vel de saúde dos indiv íduos e grupos populacionais. Mas a explicitação da educação para a Saúd e como tema do currículo eleva a escola ao papel de f ormadora de protagon istas — e não pacientes — c apazes de valorizar a s aúde, discernir e partic ipar de decisões relativas à sa úde individual e coletiv a. Portanto, a formaçã o do alu- no para o exercício da cidadania compreende a motivação e a capacit ação para o autocuidado, a ssim como a compree nsão da saúde como direito e responsabilidade pesso al e social. SAÚDE Fonte: Brasil. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais : apresentação dos temas transversais, ética / Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília : MEC/SEF, 1997. 146p. 1. Parâmetros curriculares nacionais. 2. Ética : Ensino de primeira à quarta série. I. Título. CDU: 371.214 – página 34. 52 Princípios para uma ação pedagógica em ecopedagogiaunidade III A Ética diz respeito às reflexões sobre as con- dutas humanas. A per- gunta ética por excelência é: “Como agir perante os outros?”. Verifica-se que tal pergunta é ampla, complexa e sua resposta implica tomadas de posição valorativas. A questão central das preocupações éticas é a da justiça enten- dida como inspirada pelos valores de igualdade e equidade. Na escola, otema - Ética encontra-se, em primeiro lugar, nas próprias relações entre os agentes que constituem essa instituição: alunos, professores, funcioná- rios e pais. Em segundo lugar, o tema - Ética encontra-se nas disciplinas do currículo, uma vez que, sabe-se, o conhecimento não é neutro, nem imper- meável a valores de todo tipo. Finalmente, encontra-se nos demais Temas Transversais, já que, de uma forma ou de outra, tratam de valores e normas. Em suma, a reflexão sobre as diversas faces das condutas humanas deve fazer parte dos objetivos maiores da escola comprometida com a formação para a cidadania. Partindo dessa perspectiva, o tema - Ética traz a proposta de que a escola realize um trabalho que possibilite o desenvolvimento da autonomia moral, condição para a reflexão ética. Para isso foram eleitos como eixos do trabalho quatro blocos de conteúdo: Respeito Mútuo, Justiça, Diálogo e Solidariedade, valores referenciados no princípio da dignidade do ser humano, um dos fundamentos da Constituição brasileira. ÉTICA Fonte: Brasil. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais : apresentação dos temas transversais, ética / Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília : MEC/SEF, 1997. 146p. 1. Parâmetros curriculares nacionais. 2. Ética : Ensino de primeira à quarta série. I. Título. CDU: 371.214 – página 31. Mas ao final de toda essa conversa, o importante é reconhecer que tanto a transversalidade como a interdisciplinaridade, traz a possibilidade de que temas tão importantes possam ser vistos de maneira integradora, fazendo parte de todas as disciplinas, mas não podemos esquecer de que é essencial que se planeje bem este trabalho, que se escolha técnicas, procedimentos e possibilidades pedagógicas para que esse espaço seja bem ocupado e que traga questões ambientais abordadas por diferentes olhares, diferentes saberes e enfoques como os relacionados a ética e a cidadania, os sociais, os ambientais, os culturais, os econômicos e todos os outros que possam surgir durante o percurso. 53 Princípios para uma ação pedagógica em ecopedagogia unidade III 3.3 Possibilidades Pedagógicas E na hora de aplicar esse conhecimento, como devemos proceder? Como trabalhar de forma significativa com os Temas transversais? Como tratar do assunto Meio Ambiente na escola? Os PCNs nos trazem algumas sugestões: Caberá aos professores mobilizar tais conteúdos em torno de temáticas escolhidas, de forma que as diversas áreas não repre- sentem continentes isolados, mas digam respeito aos diversos aspectos que compõem o exercício da cidadania. Ao invés de se isolar ou de compartimentar o ensino e a aprendizagem, a relação entre os Temas Transversais e as áreas deve se dar de forma que: • as diferentes áreas contemplem os objetivos e os conteúdos (fatos, conceitos e princípios; procedimentos e valores; nor- mas e atitudes) que os temas da convivência social propõem; • haja momentos em que as questões relativas aos te mas sejam explicitamente trabalhadas e conteúdos de campos e origens diferentes sejam colocados na perspectiva de respon dê-las. (BRASIL, 1997, p.28) 54 Princípios para uma ação pedagógica em ecopedagogiaunidade III Uma proposta que se utiliza da transversalidade exige que se tenha consciên- cia de que o trabalho com os conteúdos deve ser sistematizado no entorno de qua- tro pontos: • os temas não constituem novas áreas, pressupondo um tra- tamento integrado nas diferentes áreas; • a proposta de transversalidade traz a necessidade de a es- cola refletir e atuar conscientemente na educação de valores e atitudes em todas as áreas, garantindo que a perspectiva político-social se expresse no direcionamento do trabalho pedagógico; influencia a definição de objetivos educacionais e orienta eticamente as questões epistemológicas mais ge- rais das áreas, seus conteúdos e, mesmo, as orientações di- dáticas; • a perspectiva transversal aponta uma transformação da prá- tica pedagógica, pois rompe o confinamento da atuação dos professores às atividades pedagogicamente formalizadas e amplia a responsabilidade com a formação dos alunos. Os Temas Transversais permeiam necessariamente toda a prá- tica educativa que abarca relações entre os alunos, entre professores e alunos e entre diferentes membros da comu- nidade escolar; • a inclusão dos temas implica a necessidade de um trabalho sistemático e contínuo no decorrer de toda a escolaridade, o que possibilitará um tratamento cada vez mais aprofundado das questões eleitas. (BRASIL, 1997, p.28-29) Como metodologias podem ser adotadas discussões sobre o que veiculam jor- nais, revistas, livros, fotos, propagandas ou programas de TV, fazendo uso de aná- lises críticas dos diferentes materiais usados em situações didáticas, discutindo-os com os alunos, elencando outras possibilidades. E sob a orientação dos PCNs, pode- mos compreender que: Assim, não se trata de que os professores das diferentes áreas devam “parar” sua programação para trabalhar os temas, mas sim de que explicitem as relações entre ambos e as incluam como conteúdos de sua área, articulando a finalidade do estu- 55 Princípios para uma ação pedagógica em ecopedagogia unidade III do escolar com as questões sociais, possibilitando aos alunos o uso dos conhecimentos escolares em sua vida extraescolar. Não se trata, portanto, de trabalhá-los paralelamente, mas de trazer para os conteúdos e para a metodologia da área a perspecti- va dos temas. É importante salientar que os temas formam um conjunto articulado, o que faz com que haja objetivos e conteú- dos coincidentes ou muito próximos entre eles. Por exemplo, a discussão sobre o consumo traz objetivos e conteúdos funda- mentais para a questão ambiental, para a saúde, para a ética. Os valores e princípios que os orientam são os mesmos (os da ci- dadania e da ética democrática) e as atitudes a serem desenvol- vidas nos diferentes momentos e espaços escolares, ainda que possam ser concretizadas em atividades diferentes, são também fundamentalmente as mesmas, fazendo com que o trabalho dos diferentes educadores seja complementar. (BRASIL, 1997, p.27) E finalmente, o melhor foco a se contemplar é o da aprendizagem para a par- ticipação, com a utilização de formas de ensinar que incluam atividades em que os alunos possam opinar, se responsabilizar, refletir sobre as consequências de seus atos e dos atos dos outros e propor soluções para problemas e conflitos. Segundo os PCNs (1997): A formação da cidadania se faz, antes de mais nada, pelo seu exercício: aprende-se a participar, participando. E a escola será um lugar possível para essa aprendizagem se promover a convivência democrática no seu cotidiano. No entanto, se a escola negar aos alunos a possibilidade de exercerem essa capacidade, estará, ao contrário, ensinan- do a passividade, a indiferença e a obediência cega. (p.37) Conheça mais: Acesse a revista Nova Escola, pelo link que está disponível na midiate- ca e conheça uma experiência interdisciplinar realizada por um grupo de professores de uma escola, certamente você vai aprender refletindo sobre os avanços e dificuldades desse grupo. 56 Princípios para uma ação pedagógica em ecopedagogiaunidade III Aprendemos que: O compromisso com a construção da cidadania depende de uma prá- tica educacional voltada para a compreensão da realidade social e dos direitos e responsabilidades em relação à vida pessoal, coletiva e ambiental. Os temas transversais se apresentam como um recurso para a Ecopedagogia e para a muldisciplinaridade, para interdiscipli- naridade e para a transdisciplinaridade de acordo com as áreas do conhecimento,sendo importante os conteúdos ligados a prática da vida real, social e comunitária do aluno. A ética e a cidadania são te- mas que devem estar inter-relacionados aos que são tratados em eco- pedagogia contribuindo para a qualidade da construção de saberes e valores cognitivos, afetivos e sociais. Referências da unidade III BRASIL, Ministério da Educação e Cultura. PCNs: apresentação dos Temas Transver- sais. Secretaria de Educação Fundamental, Brasília, MEC/SEF, 1997. FAZENDA, Ivani C. A. Interdisciplinaridade: história, teoria e pesquisa. 4. ed. Campi- nas: Papirus, 1994. MORAES e TORRE, S. DE LA. Sentipensar: fundamentos e estratégias para reencan- tar a educação. Petrópolis: Vozes, 2004. PAVIANI, Jayme. Interdisciplinaridade: conceitos e distinções. Ed. rev. 2. Caxias do Sul: Educs, 2008. 57 Temas e Debates em Ecopedagogia unidade IV 4Unidade IV Temas e Debates em Ecopedagogia 4.1 A Terra é uma unidade única Quando pensamos em uma educação que contemple o meio ambiente em toda a sua complexidade, devemos ter clareza que isto só se concretizará se conse- guirmos contagiar os currículos escolares no entendimento de que somos parte de um todo, que abrange todas as formas de vida e todas as coisas que habitam um mesmo lugar, o Planeta Terra. Nesse contexto, emerge o conceito de susten- tabilidade, que tem sido foco de debates e es- tudos, com vistas a procurar alternativas para reorientar os modos como o ser humano mo- vimenta suas formas de ser, estar, fazer, agir e pensar no e sobre o mundo, entendendo que: 58 Temas e Debates em Ecopedagogiaunidade IV Sustentabilidade é toda ação destinada a manter as condições energéticas, informacionais, físico-químicas que sustentam to- dos os seres, especialmente a Terra viva, a comunidade de vida, a sociedade e a vida humana, visando sua continuidade e ain- da atender as necessidades da geração presente e das futuras, de tal forma que os bens e serviços materiais sejam mantidos e enriquecidos em sua capacidade de regeneração, reprodução e coevolução. (BOFF, 2012, p.07) Implantar uma ação educativa que aborde estas questões é urgente, o que não pode, segundo Boff (2012, p.97), se restringir ao puro e simples ambientalismo, o que seria um reducionismo que dificultaria a compreensão mais ampla do entendimento de sustentabilidade em sua complexidade, que abrange diversas dimensões que se inter-relacionam e se influenciam mutuamente. Assim, o autor destaca que: A ecologia Abrange também • O meio social (ecologia social), • A mente humana (ecologia mental), • A produção industrial (ecologia industrial), • As cidades as quais Boff (2012, p.97), denomina “ecologia urbana”, • Entre outros aspectos, questões que ainda se mostram como um desafio no âmbito da educação básica. A maneira predatória que o sistema capitalista, apoiado no consumo de bens e serviços, coloca em risco a continuidade da vida humana no planeta Terra, perspectiva essa apontada por vários estudos e pesquisas, questões que nos desafiam a repensar as nossas formas de viver, habitar e explorar o plane-ta, em pensar como queremos nossa relação com o ambiente que nos cerca. 59 Temas e Debates em Ecopedagogia unidade IV É comum que nos contextos escolares tais aspectos sejam contemplados de forma superficial, acrítica, de maneira “romântica” ao apresentar as questões am- bientais de maneira fragmentada, descontextualizada, sem correr o risco de ampliar o debate que colocaria em foco os sistemas de produção, a distribuição do capital etc., que estão intimanete ligadas a uma visão de sustentabilidade séria e compro- missada com o planeta. Uma educação que vise proporcionar ao aluno formas de perceber, desvelar, descobrir, refletir sobre estas questões é fundamental para que a crítica se es- tabeleça o que potencializa as mudanças de posturas, atitudes, crenças e valores que podem desencadear processos de mudanças e transformações objetivando mostrar o pla- neta como um espaço/universo sustentável, em que se respeite a vida humana e de todos os seres vivos. Tais aspectos nos reportam a pensar nos valores éticos que devem permear uma educação que vise à constituição e a construção de um mundo sustentável e que promova uma vida de qualidade para todos, o que só será possível se o homem se sentir parte deste todo e por ele se responsabilizar. 4.2 O ser humano é parte da natureza Entendemos que educar para a sustentabilidade consiste em desenvolver as potencialidades humanas, formar o “ser” como um agente participativo, correspon- sável pelo mundo do qual é parte, visto que: a sensação de pertencimento à Terra não se inicia na idade adul- ta e nem por ato de razão. Desde a infância, sentimo-nos ligados com algo que é muito maior que nós. Desde criança nos senti- mos intimamente ligados ao universo e nos colocamos diante dele num misto de espanto e respeito. E, durante toda a vida buscamos respostas ao que somos, de onde viemos, para onde vamos, enfim, qual o sentido da nossa existência. É uma busca incessante e que jamais termina. A educação pode ter um papel nesse processo se colocar questões filosóficas fundamentais, 60 Temas e Debates em Ecopedagogiaunidade IV mas também se souber trabalhar ao lado do conhecimento essa nossa capacidade de nos encantar com o Universo. (GADOTTI, 2007, p.66) Segundo o autor, hoje temos consciência de que o sentido de nossa existência não está apartado do sentido do próprio planeta, o que possibilita pen- sar no desenvolvimento sustentável de forma críti- ca como um componente educativo, visto que “[...] a preservação do meio ambiente depende de uma consciência ecológica e a formação da consciência depende da educação” (GADOTTI, 2007, p.67). Esta formação que visa o desenvolvimento de uma educação sustentável pode ser desencadeada de várias formas, que segundo Gadotti (2207), transcende a leitu- ra de textos e produções sobre o tema, sendo essencial propiciar aos educandos experiências de aproximação com o mundo circundante, por meio de: Plantar e seguir o crescimento de uma árvore ou de uma planti- nha, caminhando pelas ruas da cidade ou aventurando-se numa floresta, sentido o cantar dos pássaros nas manhãs ensolaradas ou não, observando como o vento move as plantas, sentindo a areia quente de nossas praias, olhando para as estrelas numa noite escura. Há muitas formas de encantamento e de emoção frente às maravilhas que a natureza nos reserva. É claro, existe a poluição, a degradação ambiental para lembrar que podemos destruir essa maravilha para formar nossa consciência ecológica e nos mover à ação. (GADOTTI, 2007, p.68) É por meio de vivências de aproxima- ção sensível perante a natureza e o meio social que entendemos que uma educação para a sustentabilidade pode desencadear processos educativos que possibilitem ao aluno, reflexões sobre o seu estar no mun- do, ser parte dele, compreendendo que ele também é de sua responsabilidade. 61 Temas e Debates em Ecopedagogia unidade IV Nessa perspectiva, a educação para a sustentabilidade pode abordar a questão em duas dimensões: Educação socioambiental Global Local Educação socioambiental Que explore temáticas mais abrangentes como mudanças climáticas, rompimento da camada de ozônio, chuva ácida, destruição de ecossistemas, perda da biodiversidade, desertificação, poluição dos oceanos, falta de água doce, destruição da diversidade da fauna e da flora, entre outros. Que aborda os problemas mais próximos vivenciados pelas pessoas, como a poluição do ar, sonora e visual, o abastecimento de água, a questão do lixo, as enchentese deslizamento de encostas etc. Pensando a educação por estas duas vias, que se entrelaçam, se influenciam e estão intimamente relacionadas, uma forma de potencializar os processos educativos seria por meio de estudos voltados para a cidade, o que proporciona múltiplas possibilidades para estabelecer debates e reflexões que contemplem as relações entre o macro e o micro universo e suas relações com o ambiente. A cidade é um ecossistema urbano instável, heterogêneo e complexo, que tem um dinamismo, que pode gerar contribuições para uma Educação Ambiental por meio do contexto urbano, partindo da premissa de que: 62 Temas e Debates em Ecopedagogiaunidade IV [...] o(a)s citadino(a)s são o(a)s verdadeiro(a)s responsáveis por dar vida á cidade, fazendo-a e refazendo-a, dando vida à um con- tínuo movimento construtivo de sua essência, entende-se que seja possível, então, analisar a contextura urbana e as possibili- dades de atuação/inserção da Educação Ambiental nesta a par- tir da análise das práticas intersubjetivas e de conviviabilidade entre seus membros (CARVALHO, 2014, p.14). Para o autor é fundamental que se ofereça uma formação para as novas ge- rações que possibilite a constituição de uma consciência ecológica, que estimule a preservação do ambiente e do território urbano, que objetive a busca de qualidade de vida e bem estar das pessoas que a habitam, pela busca de um “[...] trabalho con- junto e solidário, onde todos tenham a oportunidade de participar na luta por um ambiente melhor” (CARVALHO, 2014, p.15) Ao contemplar a cidade como foco do processo educativo provoca-se uma aproximação do educando às questões mais presentes de suas experiências e vi- vências cotidianas o que permite o diálogo e a reflexão sobre a realidade ambiental, social, cultural etc., que constitui sua localidade e suas relações com o seu país, com outros países e com as questões planetárias, que se interferem mutuamente e em que estabelecem múltiplas relações. Desta maneira, ao se estudar a sustentabilidade a partir da cidade abre-se um leque de possibilidades de um vasto campo de conhecimentos a partir do mundo real, do mundo vivido em várias dimensões problematizadoras, entre as quais des- tacamos: A cidade... ...como um ambiente sustentável O estudo dos bens e serviços presentes na cidade e suas implicações ambien- tais; organização dos espaços; os equipamentos públicos (praças, parques etc.), a estrutura dos bairros e a segregação espacial; as indústrias e a questão ambiental etc. 63 Temas e Debates em Ecopedagogia unidade IV ...como território e sua materialidade As poluições sonoras e visuais; a poluição do ar; o consumo e o lixo urbano; a questão da água e do esgoto no espaço urbano; a preservação ambiental dos rios e matas que compreendam o espaço da cidade etc. ...como espaço para a organização da vida social Espaços de inclusão e exclusão social; espaços em que as tensões sociais se apresentem, nas diversas formas de violência, conflitos; a saúde pública e a degradação ambiental peceptível na falta de saneamento básico; avanço imo- biliário em áreas de proteção ambiental etc. Vale lembrar que a Ecopedagogia estruturada pelos princípios da sustentabili- dade ambiental compreende que as questões ambientais não devem ser entendidas de maneira isolada, e sim de forma que as diversas relações entre as dimensões so- ciais, econômicas, culturais etc., em diálogo com o meio ambiente urbano, rural, das florestas, da nossa casa, do nosso bairro, da nossa cidade e do planeta. Estas dimensões, entre tantas outras possíveis, podem articular um currículo voltado para a sustentabilidade, orientando-se por alguns princípios que favoreçam o desenvolvimento de uma formação crítica e sensível perante o meio ambiente, entre estes princípios destacamos: A complexidade do território, da vida urbana e as questões ambientais em uma perspectiva crítica por meio de questionamentos e problematizações com o objetivo de construir no educando uma consciência crítica planetária; Contemplar 64 Temas e Debates em Ecopedagogiaunidade IV Nos processos educativos relações entre o local e o global para que o aluno amplie o seu olhar perante os problemas, impasses e dilemas ambientais mais abrangentes, planetários, como também das de- mandas de seu país, de sua região, da cidade em que mora; Estabelecer A ação educativa na organização de tempos, espa- ços e recursos para que a escola, os professores, os alunos e a comunidade local possam aprofundar seu conhecimento sobre as questões ambientais e, sempre que possível a partir de estudos que envol- vam o entorno da escola, do bairro, da cidade, por meio de visitas para a exploração in loco das ques- tões dos ambientes mais próximos do educando e da comunidade em que está inserido. Potencializar Toda esta ação educativa que propomos visa à ampliação do conhecimento dos educandos amparada por princípios éticos que explicitem as bases nas relações que teremos com a natureza. Segundo Puig (2007), só é legítimo atuar no mundo se considerando os efeitos que nossas ações interferir no mundo, ou seja, que nossas atitudes e comportamentos sejam compatíveis com a permanência da vida humana no planeta, pois: Essa é uma ética preocupada com o futuro, com as gerações que ainda não chegaram, com as condições de vida que legaremos a eles e com a própria natureza. É preciso inocular responsabilida- de por nós mesmos, pelos que estão por vir e pelo conjunto do planeta Terra (PUIG, 2007, p.75). Para o autor, aprender a habitar o mundo exige uma mudança de hábitos na vida cotidiana que envolve, entre outros aspectos a reaprender a viver, aprender uma maneira sustentável de habitar o mundo, o que também envolve a forma como 65 Temas e Debates em Ecopedagogia unidade IV nos vemos no mundo, o quanto nos responsabilizamos por ele e o como nos relacio- namos em sociedade, aspectos que discutiremos a seguir. Mas antes: Conheça mais: Acesse: A carta da Terra como instrumento educativo e inspirador na construção de sociedades sustentáveis, de Valéria Viana, disponível na midiateca. Nele você vai encontrar um material riquíssimo sobre Edu- cação Ambiental e Ecopedagogia. Um livro no formato digital que se chama Histórias de aprender-e- -ensinar para mudar o mundo. O livro descreve um Projeto chamado Jovem cidadão amigo da natureza: um projeto em permanente cons- trução. Você encontra o histórico, textos de embasamento teórico, um caderno de atividades e sugestões de atividades. Não é necessário que você faça a leitura dele como um todo, de uma vez só, procure conhecê-lo e leia alguma das partes que lhe interessar mais, certamente se sentirá motivado a ler mais. Ao logo desta unidade recomendarei dois textos para você compreen- der melhor o assunto. Leia o texto: As relações entre a educação para a sustentabilidade, transdisciplina- ridade e organização em redes sociais ou uma escola possível. – Valé- ria Viana Labrea. (páginas de 41 a 45) no projeto citado acima. Este texto também será utilizado em nossas questões de avaliação e para discussão nos fóruns. 66 Temas e Debates em Ecopedagogiaunidade IV 4.3 Aprender a viver juntos Guitiérrez e Prado (2013) defendem que os seres humanos devem estar em processos de criação e recriação permanentes por meio das relações entre os indiví- duos, com os grupos, com as instituições e governos locais etc., com vistas a concre- tizar uma cidadania ambiental. É no âmbito das relações, por meio do debate, do diálogo, pela participação efetiva das pessoas nas questões que afetam o mundo, seu país, sua cidade, suacomunidade, que mudanças de posturas e de comportamentos podem se efetivar, ou seja, pelo processo de conscientização de que a responsabilidade por tudo o que nos cerca e dos rumos do planeta Terra nos impõe uma nova forma de nos relacio- narmos com os outros, com o meio social e com o planeta que nos acolhe. Nesse sentido, a educação também deve se preocupar com a formação ética das novas gerações, tendo a clareza que os processos educativos também educam para formas de ser e de conviver em sociedade, visto que: O ser humano é uma obra aberta. Ele pode estar sempre se re- criando. Ele deve estar sempre se recriando. Ele está sempre se recriando. O ser humano é o autor ou coautor da obra de si mesmo. O ser humano é uma vocação para o diálogo. Pois, é no enconto, é na comunicação, é na interação solidária consigo mesmo e com os outros – outros seres humanos e outros seres de vida -, é no diálogo com o seu mundo e com os seus misté- rios, que ele realiza a si mesmo, realizando-se com o outro e no outro (BRANDÃO, 2005, p.108-109). A partilha da vivência neste local e o estabelecimento de padrões éticos para a convivência com os outros, com o mundo e com o planeta necessita de parâmetros e apren- dizagens, para a constituição de uma ação humanizadora e responsável no âmbito social, visto que necessitamos supe- rar o impasse ético que se instituiu com a crise de valores e a crise de sentido as quais estamos expostos na atualidade. 67 Temas e Debates em Ecopedagogia unidade IV Puig (2007) entende que aprender a conviver com o outro, o que de- nomina de alter-ética, consiste em reconhecê-lo, aceitá-lo e acolhê-lo como ele se mostra, como ele é. Isso compreende aceitar suas formas de ser, sentir, fazer as coisas, enfim de viver, em uma convivência permeada pelo respeito mútuo, aceitação, soli- dariedade, confiança e diálogo. A educação para se constituir como um espaço de formação em uma perspec- tiva democrática, que instige o educando a participar do debate, a construir ações em defesa da vida e do ambiente de forma crítica, sensível e criativa só se efetiva se considerar no trabalho pedagógico relações interpessoais humanizadas, uma vez que nos ambientes educativos não aprendemos só os conteúdos escolares, aprende- mos também a ler o mundo, a viver nele, a conviver com os outros. Espera-se que as relações entre os sujeitos que transitam na escola sejam am- paradas por princípios éticos e por valores que aprimorem o viver coletivo, o senti- mento de solidariedade, de respeito, de inconformidade com as desumanidades pre- sentes no mundo contemporâneo, para que se consiga desvelar o mundo em suas grandezas, incoerências, inconsistências, contradições etc. e que assim se prime pela busca de um mundo melhor para todos, em que se respeite todas as formas de vida e o planeta como um todo. Para continuar esse assunto siga as orientações contidas nos ícones a seguir. 68 Temas e Debates em Ecopedagogiaunidade IV Conheça mais: Assista ao vídeo: A carta da Terra – do Instituto Akatu, disponível na midiateca. Você vai compreender um pouco mais sobre isso. Leia o texto: A carta da Terra como instrumento educativo e inspirador na constru- ção de sociedades sustentáveis. – Mirian Vilela. (páginas 77 a 81) Este texto também será utilizado em nossas questões de avaliação e para discussão nos fóruns. Pense sobre o que leu, pense sobre o que viu! Pense sobre o planeta e sobre como você pode fazer para participar desse movimento tão importante. Uma dica está na animação - Meio ambiente pequenas ações e gran- des preocupações, disponível na midiateca. 4.4 Aprender a cuidar de todos Se buscamos uma educação que colabore para a construção de um mundo mais solidário, humanizado e justo, é preciso que sejam garan- tidos tempos e espaços no âmbito educacional que ampliem o debate sobre que tipo de mundo gostariamos de construir e como nos vemos nele. Tais aspectos se voltam para o cuidar, o cuidar de si, cuidar do outro, das relações que estabelece- mos com o mundo físico e social. Boff (2013) destaca que o cuidar nas relações sociais se efetiva pelo diá- logo, pelo o qual o ser humano constrói suas relações com outro humano, que é concreto, que tem um ros- to, uma história, sendo que: 69 Temas e Debates em Ecopedagogia unidade IV O rosto possui um olhar e uma irradiação da qual ninguém pode subtrair-se. O rosto e o olhar lançam sempre uma pro-posta em busca de uma res-posta. Aqui encontramos o lugar do nascimen- to da ética, que reside nessa relação de res-ponsa-bilidade dian- te do rosto do outro, [...]. É na acolhida ou na rejeição, na aliança ou na hostilidade para com o rosto do outro que se estabelecem as relações mais primárias do ser humano e se decidem as ten- dências de dominação ou de cooperação (BOFF, 2013, p.163). Assim, o cuidar do outro consiste em acolhê-lo, zelar pelo seu bem estar, esta- belecer um compromisso ético de não dominação que, a partir das diferenças entre as pessoas, as una, tendo como perspectiva priorizar o social sobre o individual ob- jetivando a constituição de pessoas mais sensíveis para com o outro, com todas as formas de vida e com o planeta como um todo. Há a necessidade de sentir o mundo, sentir o outro, sentir as formas de in- tervenção que estão presentes no mundo e em nossa vida cotidiana. Precisamos potencializar nossa capacidade de sentir, uma vez que a repressão da sensibilidade humana, que vem se consolidando desde a sociedade industrial e se intensifica na contemporaneidade, foi o que, segundo Duarte Jr (2003), proporcionou certa aneste- sia no ser humano, ou seja, a negação do sensível, o que gerou uma incapacidade ou impossibilidade de sentir, pois: [...] não basta a estimulação desenfreada dos sentidos e dos sentimentos sem o contraponto da reflexão acerca deles. É pre- ciso sentir, ser estimulado nas múltiplas formas sensoriais pos- síveis, mas é necessário prestar atenção ao que se sente, pensar naquilo que os estímulos provocam em nós e no papel desses sentimentos no correr de nossa vida em sociedade (DUARTE JR, 2003, p.218). O cuidar está associado às formas como o mundo nos afeta, ao como sentimos o mundo, aos valores éticos e morais que orientam nossas ações e atitudes, visto que, como explicíta Boff (2013), sentimos a falta de cuidado por toda a parte, questões estas que afetam todas as dimensões que cons- tituem a vida, e que necessitam uma reorienta- ção com o intuito de construir uma sociedade que valorize as questões éticas nas relações com o outro, com a sociedade e com a Terra. 70 Temas e Debates em Ecopedagogiaunidade IV É nesse contexto que evidenciamos a relevância de se pensar na formação das futuras gerações segundo estes princípios, como forma de humanizar a vida, as relações, que necessitam de cuidado, acolhimento e zêlo perante aos problemas que vivenciam e às respostas que precisam ser dadas para a consolidação de um ambien- te mais saudável e de uma vida digna para todos. Dica de Filme: Pense sempre em seu papel como ser humano e como educador, disso dependerá muitas das mudanças que esperamos ver. Assista a animação: HOMEM, disponível na midiateca. Aprendemos que: O planeta depende das ações dos homens, sua preservação depende- rá da mudança nas formas de pensar o consumo, a sustentabilidade e a preservação. Precisamos entender que cuidar de nossa parte faz muita diferença no resultado final, entender o que acontece perto da gente faz com que também possamos entender os macros problemas do planeta. O cuidar implica numa atitude de afeto, solidariedade e zêlo, pelo outro e por tudo que vive noplaneta Terra. A sustentabi- lidade é o caminho para a preservação ambiental. Precisamos com urgência mudar nossos hábitos e atitudes. A educação é o caminho para que a mudança aconteça, precisamos cuidar do Planeta e das novas gerações. Referências da unidade IV BOFF, Leonardo. Saber cuidar. Petrópolis, RJ: Vozes. 2013. _____. Sustentabilidade: o que é, o que não é. Petróplolis, RJ:Vozes, 2012. BRANDÃO, Carlos R. A canção das sete cores: educando para a paz. São Paulo:Con- texto, 2005. CARVALHO, Vilson S. de. Educação ambiental urbana, Rio de janeiro:Wak, 2014. 71 Temas e Debates em Ecopedagogia unidade IV DUARTE JR, João Francisco. O sentido dos sentidos: a educação (do) sensível. Curiti- ba:Criar, 2003. GADOTTI, Moacir. A ecopedagogia como pedagogia apropriada ao processo da Carta da Terra. In: Marinho, K.M.; LABREA, V.V. Histórias de aprender e ensinar para mudar o mundo. Paulinia, SP: Instituto BIOMA, 2007. PUIG, Josep. M. Aprender a viver. In: ARANTES, V. A.(org). Educação e Valores. São Paulo:Summus. 2007. Apresentação O Professor Introdução 1Unidade I O mundo atual e a sustentabilidade 1.1 O mundo contemporâneo 1.2 Sustentabilidade e desenvolvimento 1.3 As reações aos dilemas socioambientais e a educação 1.4 A Carta da Terra Referências da unidade I 2Unidade II A Ecopedagogia 2.1 Conceito de Ecopedagogia 2.2 A Cidadania Planetária 2.3 A educação cidadã Referências da unidade II 3Unidade III Princípios para uma ação pedagógica em ecopedagogia 3.1 A interdisciplinaridade e a transversalidade 3.2 Os Parâmetros Curriculares e os Temas Transversais 3.3 Possibilidades Pedagógicas Referências da unidade III 4Unidade IV Temas e Debates em Ecopedagogia 4.1 A Terra é uma unidade única 4.2 O ser humano é parte da natureza 4.3 Aprender a viver juntos 4.4 Aprender a cuidar de todos Referências da unidade IV