Buscar

Violência Doméstica

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 20 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 20 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 20 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA: QUANDO A VIOLÊNCIA CHEGA ATÉ OS FILHOS 
Aline Dias[1: Acadêmica do 9º semestre do Curso de Psicologia da URI/FW. E-mail: alini_dias@hotmail.com]
Helena [2: Professora orientadora do Trabalho de Conclusão de Curso em Psicologia da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões/URI – Campus Frederico Westphalen/RS. E-mail]
Resumo: A violência doméstica cada vez mais presente nos lares, deixa marcas tanto em suas vítimas, quanto em que a presencia. A presente pesquisa buscou compreender o motivo que leva as mulheres, vítimas de violência doméstica, a realizarem a denúncia contra seus agressores somente após a violência chegar até seus filhos, através de uma analise documental de prontuários encontrados no Centro de Práticas Psicossociais e uma pesquisa em campo, realizada por meio de entrevistas com as vítimas, tornando a pesquisa quanti-qualitativa. A pesquisa foi realizada em uma cidade do noroeste do estado do Rio Grande do Sul no ano de 2018. Foram encontrados 180 prontuários e destes, 28 a denúncia contra o agressor teve envolvimento dos filhos, e por meio das entrevistas, criou-se três categorias, o contexto da violência doméstica, o motivo da denúncia e a vida após a violência doméstica, está dividida em duas subcategorias, para as mulheres e para os filhos. A pesquisa apresentou relevância na medida em que possibilita olhar para os motivos que levam as vítimas a denunciar seus agressores.
Palavras – Chave: Violência Doméstica; Relação Familiar, Consequências da Violência.
1 INTRODUÇÃO
A origem da família está ligada diretamente à história da civilização, uma vez que surgiu como um fenômeno natural, oriundo da necessidade do ser humano em estabelecer relações afetivas e de reprodução. A instituição familiar modificou-se muito com o transcorrer dos anos, visto que sua composição antiga apresentava-se completamente diferente da atualidade, já que o casamento desempenhava domínio absoluto sobre as demais composições familiares (OLIVEIRA, SANTANA e NASCIMENTO, 2015).
No decorrer dos séculos, as crianças e adolescentes passaram a ter prioridade integral diante dos interesses dos adultos, e as mães já poderiam ter a guarda dos filhos, sozinhas ou em união estável. Desta forma, as alterações nas tradições, costumes e também na cultura trouxeram significativas mudanças não só no âmbito familiar, como também na sua percepção legal (OLIVEIRA, SANTANA e NASCIMENTO, 2015). A concepção de família também passou a ser vista para além de relações heterossexuais, sendo reconhecidas as relações homoafetivas como composições familiares.
A família da pós-modernidade é sustentada em laços de afetividade, sendo este sua causa originária e final. A finalidade da família para a sociedade é permitir que seus integrantes desenvolvam de forma plena a sua personalidade para que possa assim, cada qual com sua individualidade, mas alicerçados em elos comuns e indissociáveis – o afeto, atingir a felicidade.
A cada ano aumenta o número de mulheres vítimas de violência doméstica, em que maridos, companheiros ou familiares são os agressores. Esse tipo de violência, compreendida por violência de gênero, ocorre quando o gênero do agressor e o da vítima estão intimamente ligados à explicação desta violência, vem tomando não apenas proporções crescentes nos casos documentados pela mídia, mas também crescente importância nas discussões de estudiosos da área e na elaboração de políticas públicas (SOUZA E NERY, 2014). 	
 	A violência praticada contra a mulher é fruto de uma construção cultural, política e religiosa, pautada nas diferenças entre os sexos. Essa construção se naturalizou e legitimou a assimetria de poder, justificando o domínio do homem sobre a mulher. Assim, a forma mais comum de violência contra a mulher é a praticada por parceiro íntimo, a qual ocorre entre pessoas de diferentes raças, religiões, classe econômica e social (ACOSTA, GOMES, BARLEN, 2013).	
	Pesquisas apontam a magnitude desta forma de violência em nível mundial. Mulheres com idade entre 15 e 44 anos possuem maior risco de estupro e violência doméstica do que de sofrerem acidentes, desenvolverem câncer, contraírem malária ou, ainda, serem vitimadas na guerra (ACOSTA, GOMES, BARLEN, 2013). 	
 	Waiselfisz (2012), em seu estudo denominado “Mapa da Violência 2012 Atualização: Homicídio de Mulheres no Brasil” apresentou uma taxa de 4,4 homicídios em 100 mil mulheres. O Brasil ocupa a sétima posição no contexto dos 84 países do mundo com dados homogêneos da Organização Mundial de Saúde - OMS compreendidos entre 2006 e 2010. Destacou ainda que, nos 30 anos decorridos entre 1980 e 2010, foram assassinadas no país cerca de 92 mil mulheres, 43,7 mil só na última década. 	
 	As mulheres muitas vezes se submetem a uma relação de violência por não terem condições de manter um nível adequado de vida ou até mesmo de subsistência para os mesmos e com isso acabam permanecendo na relação mesmo diante do sofrimento (MIZUNO, FRAID, CASSAB, 2010). A partir da compreensão que temos da violência doméstica, a presente pesquisa teve como objetivo compreender porque uma parcela de mulheres só procura atendimento ou faz denúncia quando a agressão real ou ameaça chega até os filhos. 
2 A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E A FAMÍLIA 
2.1 A concepção familiar e o papel da mulher na sociedade
	Ao longo dos anos as relações humanas têm sofrido grandes mudanças e isso afeta diretamente a concepção de família, tornando ela assim, mutável. A família pode ser compreendida através de uma construção social, podendo ter representações diferentes, conforme a cultura onde está inserida (SAGIM e ANDRADE, 2008). 	
 	Para Rodrigo e Palácios (1998 p.46)
A família é um conjunto organizado e interdependente, unido ligado entre si por regras de comportamento e por funções dinâmicas em constante interação entre si e um intercâmbio permanente com o exterior. 
 	A situação da mulher no Brasil até o início do século XIX, não era favorável, visto que os casamentos eram arranjados e impostos, tratando-se de um contrato conjugal onde cabia aos pais e/ou padrinhos escolherem um noivo/marido para elas, prevalecendo sempre o interesse familiar (SAGIM e ANDRADE, 2008). Em razão disso, os meninos e meninas eram criados de forma diferente. As meninas eram educadas para serem, educadas, amáveis, compreensivas, prendadas e boas donas de casa. Já os meninos eram ensinados para assumirem as responsabilidades da casa e da vida familiar, sendo responsáveis pela transmissão de valores a sua prole (BIASOLI-ALVES, 2000).
 	Biasoli-alves (2000) ao traçar o histórico das mudanças no papel da mulher, afirma que os padrões rígidos vão sendo alterados, vagarosamente, fruto “macro variáveis” do social, como a crescente industrialização e urbanização, até mesmo em países onde a economia era primordialmente agrária. A partir dessas mudanças, a concepção de família passa a ter alterações em suas estruturas, nos papeis desempenhados por seus membros, e também no tamanho familiar.
 	A família é considerada agente primário na socialização, sendo assim, ela molda comportamentos, personalidades e transmite valores (NEWCOMBE, 1999), nesse sentido, a família torna-se um espaço importante para o desenvolvimento do ser humano, uma vez que nela inicia-se o processo construção e socialização de cada pessoa. 
2.2 A importância do afeto na infância
	É por meio da constituição familiar que as crianças adquirem valores, afeto, regras, princípios, desenvolvem seu caráter, a autoestima entre outras capacidades. Através da família adquirem conhecimentos sobre sua história de vida, experiência na resolução de problemas cotidianos internos e reproduzem hábitos formais e informais. É esta instituição que vai desenvolver no indivíduo as capacidades primordiais que serão passadas de geração em geração.
 	A afetividade está diretamente ligada às emoções, por isso pode determinar a maneira como as pessoas vêem as situações e como se manifestam a seu respeito. Desdea infância, a autoestima é alicerçada pela afetividade, pois uma criança que recebe afeto se desenvolve com muito mais segurança e determinação. A base para a construção da personalidade de um indivíduo está na família. É nela que se busca encontrar referências, carinho e proteção. Segundo Chalita, “A preparação para a vida, a formação da pessoa, a construção do ser são responsabilidades da família” (2004, p.21).
 	Nada pode suprir ou substituir o amor e a atenção familiar. O vínculo afetivo é muito mais intenso do que em outros casos. Um indivíduo pode até encontrar alternativas que amenizam a carência provocada pela ausência de uma família, mas certamente não a substituirá. Cury diz que “Abraçar, beijar e falar espontaneamente com os filhos cultiva a afetividade, rompe os laços da solidão. [...] O toque e o diálogo são mágicos, criam uma esfera de solidariedade, enriquecem a emoção e resgatam o sentido da vida” (2003, p.45).
2.3 A definição de violência e suas formas
 O termo “violência” de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) refere-se ao “uso intencional de força física ou do poder real ou ameaça contra si próprio, contra pessoa, ou contra um grupo ou uma comunidade, que resulte ou tenha possibilidade de resultar em uma lesão, morte, dano psicológico, deficiência ou privação de liberdade” (BRASIL, 2006). Especificamente, violência intrafamiliar configura-se como as variadas formas de violência interpessoal que prejudicam o bem-estar de outro membro da família. A violência doméstica difere-se da violência intrafamiliar por abarcar como agressores, além dos membros da família, empregados ou outras pessoas sem função parental. Contudo, o fato de ser chamada de violência doméstica não significa que a mesma deva ocorrer necessariamente apenas dentro do domicílio (BRASIL, 2011).	
 	 As formas de violência podem ser variadas, indo desde a agressão física, passando pela violência ou abuso psicológico até a negligência e são realizadas por autores que possuem laços consanguíneos ou parentesco por afinidade com a vítima. Além disso, também é considerada violência doméstica quando o autor possui vínculos afetivos ou relação de poder sobre a vítima (BRASIL, 2011).
“Violência que se pratica no seio da relação familiar em sentido amplo, independentemente do gênero e idade da vítima ou do agressor. [...] Estes comportamentos podem ser exercidos de forma direta ou indiretamente sobre a vítima, sendo maus tratos físicos ou psicológicos, incluindo castigos corporais, privações da liberdade e ofensas sexuais”. (MAGALHÃES, 2010 p. 22)
A violência psicológica consiste em desprezar, menosprezar, criticar, insultar ou humilhar a vítima, podendo ocorrer de forma privado e/ou em público, através de palavras e/ou comportamentos. O agressor pode ainda, ameaçar que vai maltratar ou maltratar efetivamente os filhos, outros familiares ou amigos da vítima e realizar perseguições ao seu local de trabalho ou lazer, causando-lhe constrangimento com acusações falsas de traições (CENTRO DE ESTUDOS JUDICIÁRIOS, 2016).	
 	É considerada violência física quando o agressor usar a força física com o objetivo de ferir e/ou causar dano físico ou orgânico, deixando ou não marcas evidentes. Esse tipo de violência engloba atos como empurrar, puxar o cabelo, dar estaladas, murros, pontapés, apertar os braços com força, apertar o pescoço, bater com a cabeça da vítima superfícies duras, dar-lhe cabeçadas, socos e/ou pontapés, queimar, atropelar resultando em lesões graves, incapacidade permanente ou até mesmo a morte da vítima (CENTRO DE ESTUDOS JUDICIÁRIOS, 2016).	
 	A Violência sexual também presente nas formas de violência doméstica, se caracteriza por toda forma de imposição de práticas sexuais contra a vontade da vítima, recorrendo a ameaças e coação ou, muitas vezes, à força física para obrigá-la, ou ainda, causar danos físicos aos órgãos sexuais (CENTRO DE ESTUDOS JUDICIÁRIOS, 2016). 	
 	A violência doméstica pode ocorrer com qualquer mulher, sendo ela rica ou pobre, branca ou negra, jovem ou idosa, com deficiência, lésbica, indígena, estando vivendo no campo ou na cidade, independente da religião ou escolaridade, toda mulher pode sofrer esse tipo de agressão (BRASIL, 2016). Em 2006 foi sancionada a Lei Maria da Penha (Lei n° 11.340/2006) que foi uma lei escrita por mulheres e para mulheres. A lei define que a violência doméstica contra a mulher é crime e aponta formas de evitar, enfrentar e punir a agressão (BRASIL, 2016).	
 	A lei indica a responsabilidade que cada órgão público tem para ajudar a mulher que está sofrendo a violência. Com a Lei Maria da Penha, o juiz passou a ter poderes para conceder as chamadas medidas protetivas de urgência. Como o próprio nome diz, essas medidas servem para proteger a mulher que está sofrendo violência e são aplicadas quando o juiz concorda com o pedido feito pela mulher (BRASIL, 2016).	
 	O abuso econômico ou a violência patriarcal outra forma de violência sofrida pelas mulheres, ocorre quando o agressor faz com que a vítima se isole socialmente, sendo assim, uma forma de controle através do qual o agressor nega à vítima o acesso a dinheiro ou, mesmo, a bens de necessidade básica. Quando a vítima possuiu emprego, a tendência é o agressor controlar o salário e a conta bancária da vítima (CENTRO DE ESTUDOS JUDICIÁRIOS, 2016). 	
 	Como muitas vezes a mulher depende economicamente da pessoa que a agride, o juiz pode determinar, como medida protetiva, o pagamento de pensão alimentícia para a mulher e/ou filhos/as. Além disso, quando a violência é conjugal (marido-mulher, companheiro-companheira, companheira-companheira), o juiz pode tomar providências para evitar que a pessoa que agride se desfaça do patrimônio do casal e prejudique a divisão de bens em caso de separação (BRASIL, 2016).	
 	Com relação à proteção à mulher, a lei prevê as medidas protetivas de urgência, que devem ser solicitadas na delegacia de polícia ou ao próprio juiz, e este tem o prazo de 48 horas para analisar a concessão da proteção requerida. (BRASIL, 2012). Para além da prevenção e proteção o Estado também tem a responsabilidade de ajudar na reconstrução da vida das mulheres. Para isso, prevê a assistência de forma articulada entre as áreas de assistência social, com inclusão da mulher no cadastro de programas assistenciais dos governos federal, estadual e municipal; atendimento especializado na saúde, com objetivo de preservar a integridade física e psicológica da vítima; além de assegurar a manutenção do vínculo trabalhista, caso seja necessário o afastamento do local de trabalho. (BRASIL, 2012).	Apesar das leis que protegem as mulheres, o número de vítimas que procuram ajuda ainda é muito pequeno, o que faz com que se reflita a respeito do motivo pela não procura de auxilio. Os motivos que mantêm as mulheres inseridas nos contextos do relacionamento violento são a convivência com o medo, a dependência financeira e a submissão, e o sentimento de pena do marido, do tempo de vida juntos e da anulação durante o relacionamento (SOUZA, ROS, 2006).		
 	Para Mizuno, Fraid, Cassab (2010) muitas vezes as vítimas de violência doméstica não realizam a denúncia por sentirem vergonha. “Os sentimentos envolvidos neste processo, para os que se sentem agredidos, oscilam entre o medo em relação ao agressor e a vergonha, principalmente quando os episódios acontecem em público” (MIZUNO, FRAID, CASSAB, 2010, pág 20). Muitas vezes, as vítimas explicitam um sofrimento imediato à agressão, relatando, inclusive, choro e angústia, principalmente quando os filhos estão envolvidos nas ocorrências violentas (MIZUNO, FRAID, CASSAB, 2010).	
 	Com relação à violência sofrida pelo companheiro, as crianças aparecem, neste cenário, como vítimas. A mãe percebe que a denúncia contra o pai poderá afetar gravemente a segurança e o bem-estar do filho. O sentimento de culpa, já presente ao denunciar, é acrescido pelo sentimento de responsabilidade por privar o filho de um lar estável. Diante dos filhos, a mulher teme ser julgada.Ao pretender poupá-los, resolve esquecer o acontecido e fazer valer as partes saudáveis do relacionamento familiar. Ao mesmo tempo, ela teme possíveis danos decorrentes da violência sobre a criança (JONG, SADALA, TANAKA, 2008).	
3 MÉTODO 
	
A pesquisa realizada teve como objetivo compreender porque uma parcela de mulheres só procura atendimento ou faz denúncia quando a agressão real ou ameaça chega até os filhos. Esta se caracteriza como uma pesquisa qualitativa, descritiva e exploratória, e esta pautada nos procedimentos éticos na pesquisa com seres humanos, sendo que passou pela avaliação e aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) – CAAE nº (ver número) da instituição da qual está vinculada.
 	A escolha da temática da pesquisa se deu pelo interesse da pesquisadora em compreender as questões voltadas para a violência doméstica e a percepção das vítimas com relação não só a violência sofrida, mas também com relação a seus filhos. Para a coleta de dados foi realizada a pesquisa documental e de campo.
 	A referida pesquisa foi realizada com base nos dados encontrados nos prontuários arquivados no Centro de Práticas Psicossociais (CPP) da URI – Universidade Regional Integrada e do Alto Uruguai e das Missões, qual serão, mediante aprovação, estudados e analisados. Posteriormente foram realizadas entrevistas com mulheres vítimas de violência doméstica, quais foram indicadas pelo responsável pelo CPP. As entrevistas foram realizadas no CPP, mediante agendado prévio. As mulheres que aceitaram participar da pesquisa assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
As participantes da pesquisa foram mulheres vítimas de violência doméstica atendidas no Centro de Práticas Psicossociais, e que somente fizeram denuncia na delegacia de polícia após perceberem risco para seu(s) filho(s). Foram excluídas da amostra as mulheres menores de 18 anos e as que decidiram denunciar por outros motivos que não o risco de violência aos filhos. 
As entrevistas foram previamente agendadas, de forma individual; foram gravadas e posteriormente transcritas, respeitando a fidedignidade do conteúdo apresentado. Cabe evidenciar que o material coletado será arquivado e armazenado pela pesquisadora responsável, por um período de cinco anos, para depois desse tempo, ser incinerado conforme preconiza o Código de Ética Profissional do Psicólogo.
Foram entrevistadas 2 mulheres, pois, não houve tempo para entrevistar mais mulheres e também porque se entendeu que as respostas apresentavam muitas semelhanças tornando os resultados saturados, as participantes foram identificadas pelos nomes E1 e E2. A pesquisa documental foi realizada utilizando os dados sobre o foco da pesquisa colhidos nos prontuários do Centro de Práticas por um período de 1 ano. Dessa forma, analisados todos os prontuários no prazo de maio de 2017 a maio de 2018, sendo levantados aqueles que preenchem os critérios anteriormente descritos, totalizando 180 prontuários analisados.
Após a transcrição das entrevistas e classificação das respostas foi realizada a Análise de Conteúdo baseado no método proposto por Bardin (1977), mediante a construção de categorias que propiciem a análise dos achados com base cientifica e técnica, dando validade ao estudo proposto.
Ao longo desta pesquisa não foram evidenciados riscos aos participantes, em relação aos benefícios desta pesquisa, salienta-se que a pesquisa contribuiu para o desenvolvimento da ciência, bem como, refletiu sobre a relação familiar perante a violência doméstica e como a violência intrafamiliar afeta a vida dessas mulheres e seus filhos.
A pesquisa realizada atendeu as diretrizes da Resolução 466/12 do Conselho Nacional da Saúde (CNS) e pela postura ética do profissional da Psicologia. A pesquisa somente foi realizada após o projeto ter sido submetido à análise do Comitê de Ética em Pesquisa da URI (Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões-Campos Frederico Westphalen) e autorização do local.	
4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS 
	A análise documental foi construída através dos materiais colhidos nos prontuários do Centro de Práticas Psicossociais por um período de 1 ano, assim, analisados todos os prontuários no prazo de maio de 2017 a maio de 2018. Durante a análise dos prontuários foram encontrados e organizados o total de 180 prontuários destes, foram encontrados 28 denúncias realizadas após as agressões chegarem até os filhos, 20 pelo fato dos filhos estarem presentes durante as agressões e 8 após o companheiro ameaçar a vítima e os filhos. Obtendo assim o valor percentual de 15,55% das denúncias realizadas após envolvimento dos filhos nas agressões.
	Após a leitura dos prontuários, realizou-se as entrevistas com as vítimas de violência doméstica, essas entrevistas, foram analisadas de acordo com o discurso apresentado pelas pesquisadas. Após a transcrição das entrevistas e lidas, foram encontradas e destacadas as falas repetidas por ambas as participante, e a partir disso criou-se duas categorias, sendo a primeira, o contexto da violência doméstica e o momento da denúncia e a segunda, a vida após a violência doméstica, sendo dividida em suas subcategorias, para as mulheres e para os filhos.
4.1 O contexto da violência doméstica 
	No contexto familiar, a violência doméstica apresenta-se como negligência, abuso sexual, violência física, violência patriarcal e/ou violência psicológica contra crianças e adolescente, contra mulheres, idosos e pessoas com necessidades físicas e mentais, constituindo um importante impacto no bem-estar físico e emocional dessa população (SOUZA, 2009). 
“De uns dois anos pra cá, o pai das meninas começou a ficar muito agressivo sabe, ele bebia e batia em mim e nas crianças também” (E1).
 	A violência psicológica compromete a autoestima, levando à distorção do pensamento na construção de crenças de desvalor e autodepreciação, interferindo no bem-estar e no desenvolvimento da saúde psicológica da mulher, como nas unidades temáticas abaixo citadas (FONSECA ET. AL. 2012). Aspectos da violência psicológica podem ser vistos na fala da entrevista E2, quando ela diz que “chegou num ponto que eu comecei a tomar antidepressivo porque eu tava achando que eu era louca mesmo” (SIC). A entrevistada, devido a violência psicológica, chegou a acreditar que estava “louca” por não estar bem com a relação conjugal.
 	A ausência de sofrimento físico não significa ausência de sofrimento, pois as sequelas deixadas pela violência psicológica são profundas, com marcas que vão muito além das lesões mais aparentes (PARENTE, NASCIMENTO, VIEIRA, 2009). “Pior não era mais a agressão física, eu tinha medo claro, o cara me ameaçava, mas o pior de tudo e o psicológico, a dor física da e passa, mas o psicológico fica ali martelando na tua cabeça” (E2). A violência psicológica se torna mais difícil de ser evidenciada, porque ao contrário da violência física, não deixa marcas visíveis, entretanto, causam danos que podem vir a ser permanentes.
 	As crianças são vítimas da violência doméstica quando apanham, são xingadas ou recebem tratamento negligente dos pais, por exemplo. Quem assiste às cenas de violência acontecendo entre outras pessoas também é vítima dessa violência (MIÃO, WILIAM e GALLO, 2004). Durante a entrevista, E1 relata que as filhas presenciavam o tio tirar a roupa, e se ela reclamasse, era agredida. “Nós morava com meu sogro, ai tinha que aguentar assim se quisesse ter onde morar tinha que aguentar, tem um irmão do meu marido que tem problema na cabeça ele tirava roupa perto das meninas eu reclamava e começa a agressão”, a narrativa aponta que a violência ocorre de duas formas, a primeira através da exposição das filhas a nudez do tio, e a segunda quando a mãe sofria violência física ao reclamar da conduta familiar.
Antoni e Koller (2000) afirmam que a comunicação aberta entre pais e filhos é um indicador de proteção e contribui para o desenvolvimento saudável da criança e do adolescente. Adolescentes que são estimulados a expressarsuas opiniões, em um contexto familiar amoroso e seguro, desenvolvem maior auto-estima e melhor habilidade para lidar com problemas. As práticas familiares muito influenciam os comportamentos das crianças; a disciplina parental ineficaz e a falta de monitoramento dos pais em relação aos comportamentos dos filhos são as principais falhas.
 	A violência psicológica inclui toda ação ou omissão que causa ou visa a causar dano à autoestima, à identidade ou ao desenvolvimento da pessoa (DAY, ET. AL. 2003), pensando nisso, pensando nisso, pode-se citar o trecho da entrevista em que E2 relata “ele entrou porta dentro do meu trabalho e ele fez um escândalo e me ameaçou” (SIC) coagindo não só a vítima como também as pessoas do seu circulo de trabalho e o trecho em que afirma que o agressor lhe dizia: “tu é louca precisa se tratar, se eu te matar aqui, vão achar que tu se matou de tão louca que tu é” (SIC), momento este em que este além de ameaçá-la, a ofende. 
 	Às vezes a denuncia não é realizada por parte da vítima, pois, ela acaba sendo dependente do agressor, por não ter outro local para morar, ou condições financeiras que permitam que ela saia de casa. Isso pode ser visto no relato abaixo, onde E1 acabava permanecendo num ambiente agressivo, por depender daquele local para morar. 
“Ele me bateu e bateu na netinha dele, a nenê que estava no meu colo, ela caiu no chão bateu rosto dela, cortou tudo a boca dela por dentro, eu fiz corpo de delito e pedi medida protetiva pra mim e pra menina”. (E1). 
 	O contexto em que a violência se apresenta, mostra que o agressor não precisa ser somente o conjugue, como se pode ver no relato da entrevistada E1, quando afirma que sofria violência oriunda de seu sogro, e isso pode ser visto também na fala da participante E2: “além da agressão dele, começou a agressão do irmão dele, entrava dentro da minha casa pra me agredir, tanto quebrar minhas coisas quanto a me agredir verbalmente” (SIC). 
 	Contexto familiar da violência doméstica é hostil e solitário, pois, muitas vezes a violência é cometida por vários membros da família, e a vítima por depender da moradia ou financeiramente dos agressores permanece no mesmo vínculo, mesmo que este há cause sofrimento.
	
4.2 O momento da denúncia
 	Segundo Cardoso (1997), a mulher tem necessidade de manter a relação, nem que para isso tenha de assumir a responsabilidade de tudo que ocorre no relacionamento. Isso está associado à cultura feminina tradicional, a qual coloca que, para a mulher ser considerada completa, deve ter um companheiro permanente. 
 	Insistir num relacionamento após sucessivos episódios de violência ou retornar à relação após a separação é constante na vida de mulheres que sofrem violência conjugal. Quando, no entanto, a mulher consegue enfrentar o medo e separa-se do marido, inicia-se um jogo emocional, no qual ocorre uma suposta mudança de comportamento do companheiro, o que a faz sentir-se mais confiante e dedicar-se mais, reiniciando-se o ciclo da violência (CARDOSO, 1997). 
 	Um grande número das mulheres que sofre violência doméstica sabe que têm direitos, mas, pelo fato de viverem sob dependência econômica de seus companheiros, submetem-se anos a fio a todos os tipos de violência, e somente procuram lutar por esses direitos quando a situação fica de fato intolerável (PALLOTA e LOURENÇO, 1999). Essa situação pode ser visualizada na situação da participante E1, que acabava se sujeitando as agressões, pois, dependia do conjugue e da família deles, por residirem na casa dos pais do marido.
 	As entrevistas relaram que decidiram por fazer a denúncia contra o agressor quando seus filhos foram envolvidos e sofreram com a violência, e diante disso não aceitavam ver que as crianças estavam em situação de risco. Como pode ser visto nas falas E1 e E2: 
“Eu pedi pra minha irmã fazer fotos, assim como outras fotos que eu estava juntando porque eu não queria mais guarda compartilhada, eu não aceitava por elas em risco” (E1).
 
“Ai quando eu consegui sair me separar e eu achei que ele ia para de me incomodar, e ele continuou que foi quando eu fiz, porque eu não aceitava ele por a vida das crianças em risco” (E2).
 	A partir do momento em que essas mulheres, mesmo estando em dependência financeira ou emocional com a desestruturação da própria vida e da família, perceberam a situação concreta de possível morte, surgiu a capacidade de enfrentamento dessa situação (OLIVEIRA, ET ALT, 2015). E1 relata que decidiu sair de casa ao ver que a violência estava fazendo mal para os filhos, “As crianças vendo a mãe apanhar e não poder fazer nada, apanhavam também, isso é ruim pra cabeça delas. Ai resolvi sair de casa, denunciar quero que tenha lei né” (SIC). Holden (1998) afirma que a criança que viu ou ouviu um episódio agressivo sofrido pela mãe, viu seu resultado ou que vivenciou seu efeito na interação com os pais é uma criança exposta à violência.
 	O sentimento que leva mulheres à denúncia é a exaustão com a situação de agressão, especialmente a vergonha diante dos filhos. Outro sentimento detectado é o medo de que a situação se agrave mais (ACETI, 1999). “Ele bebia e batia em mim e nas crianças também, e dai devido à violência contra mim e as meninas eu tinha que sair de casa né, ai vim registrar ocorrência” (E1). Foi possível observar nas entrevistas que as entrevistadas chegaram no seus limite, conviveram anos com a violência doméstica, até não aguentar mais.
 	À medida que as agressões se tornaram mais frequentes, elas acabaram atingindo os filhos das vítimas, tanto de forma direta quanto indireta, levando assim a vítima a sair de casa e a denunciar as agressões. Tendo como principal motivação para a realização da denúncia, a segurança dos filhos.
4.3 A vida após a violência doméstica
4.3.1 Para as mulheres
 	As consequências da violência doméstica contra a mulher são inquestionáveis, sejam psicológicas, ou físicas. A própria Maria da Penha, homenageada pela Lei Maria da Penha, sofre até hoje com as sequelas (violência deixou a vítima paraplégica) decorrentes da violência sofrida (CIDREIRA, 2017).
 	Segundo Silva Et. Alt. (2015) um estudo identificou que a violência doméstica contra a mulher causa efeitos como: depressão, ansiedade, infecções urinárias de repetição, dor pélvica crônica, transtorno do estresse pós-traumático, síndrome do intestino irritável, entre outros sinais e sintomas. A participante E2 ao falar sobre como vivenciou a violência doméstica após separação, afirma: “eu fiquei dois anos tendo crise de pânico, sem conseguir dormir com ninguém, eu ficava com as pessoas e entrava em pânico” (SIC), através da fala dela, é possível perceber que as consequências da violência doméstica, vão além do momento em que sofrem as agressões, pelas podem perdurar por anos, ou até mesmo, a vida toda.
 	Oliveira (2009 apud Reis, Carolina da Rosa 2013, p.3) refere que “as mulheres vítimas de violência têm queixas, distúrbios e patologias, físicas e mentais, e utilizam os serviços de saúde com maior frequência do que aquelas sem esta experiência”. As consequências negativas da agressão atingem a saúde física e emocional das mulheres, o bem-estar de seus filhos e até a conjuntura econômica e social das nações, seja imediatamente ou a longo prazo (DAY, ET AL. 2003).
 	 A violência pode trazer prejuízos à saúde, mas, também, marca as relações interpessoais, as instituições sociais e a sociedade como um todo, na medida em que essas mulheres percebem modificação nas relações sociais, principalmente, em relação aos amigos e aos vizinhos (LETTIERE e NAKANO, 2011). Mesmo após a separação, as vítimas ainda sentem medo dos agressores, E1 afirma “foi difícil né, porque tenho medo ainda, tenho medo deles, quero que eles paguem pelo que eles fizeram, foi o vó e o pai das crianças né que fizeram violência” (SIC). O desejo de justiça se mistura com o medo da reincidência da violência, por parte dos agressores. 
 	Oliveira, et. al. (2015) afirma que quando a vítima de violência doméstica consegue falarsobre o que vivenciou, expondo sua subjetividade, essa vivência lhe atribui uma nova concepção, de que é possível mudar essa significação do sofrimento e, assim, pode superá-la.
Pensando nisso, as vítimas ganham forças para retomar as rédeas de suas vidas, para a mulher, a denúncia à polícia significa rompimento de sua parte com a reciprocidade familiar, como resposta às rupturas causadas pelos homens nesse contexto que, por sua vez, remetem à preeminência do grupo familiar em relação à posição da mulher (OLIVEIRA, ET. AL., 2015).
Segundo Ribeiro e Coutinho (2011), a vivência da violência doméstica diminui drasticamente a qualidade de vida dessas mulheres, atingindo negativamente sua saúde física e psicológica, fazendo as vítimas se isolarem cada vez mais, e perderem gradativamente sua rede de apoio, tornando-se vulneráveis e com poucas estratégias de enfrentamento, sendo cada vez mais difícil quebrar este ciclo. Após a denúncia a vítima reaprende a ver o mundo apesar da violência vivida, pois, nesse momento de exposição do fenômeno e decisão de denunciar a violência sofrida, a mulher sai do sofrimento, para a atitude de se enxergar como ser que sofre internamente com essa condição/situação e perceber uma mudança possível do estado de inércia e submissão à agressão (OLIVEIRA, ET ALT, 2015).
Mesmo após a denúncia e ao distanciamento do agressor, os efeitos podem ser vistos através dos relatos das vítimas, que encontram dificuldades em se relacionar novamente com outras pessoas. Ainda, é perceptível que as crianças são castigadas como forma de punição à mulher, pela separação.
4.3.2 Para os filhos
Há algumas décadas, a maneira de se educar os filhos vem se modificando em função de alterações ocorridas nos campos da educação e das relações humanas ao longo do século XX. Antes, pensava-se que as crianças nada sabiam e por isso precisavam aprender; cabendo, portanto, aos adultos a tarefa de ensinar, muitas vezes, de forma autoritária. Os pais puniam e castigavam exercendo um direito legítimo que lhes cabia tendo poder absoluto sobre a criança, que, por sua vez, não podia questionar as regras ditadas pelos adultos (Gomide, 2004).
Para Winnicott (1997), a criança pode nascer sadia, mas dependerá de um ambiente facilitador proporcionado inicialmente pela mãe, por meio de sua sensibilidade e intuição, para que favoreça a saúde mental do filho. A qualidade do vínculo com a criança depende dessa sensibilidade.
 	As consequências da violência física conjugal sobre a saúde e a vida das crianças ou dos adolescentes são várias, segundo Sinclair (1995), que aponta: dificuldades na área psicológica (como isolamento, agressividade, depressão, transtorno do sono, déficit em habilidades sociais, problemas em relação à aprendizagem escolar entre outros) e na área física (doenças psicossomáticas). 
 	As consequências às vitimam de violência física são diversas podem ser visíveis como a principais características desta violência como também ser psicológica. A violência contra crianças contém tanto impactos imediatos como danos posteriores em longo prazo que se projetaram em sua adolescência e vida adulta. Muitos pais usam a violência física e psicológica como um processo disciplinador. Porém, muitas vezes, exageram em suas punições, podendo ocasionar riscos à saúde física e mental da criança e isto pode ser visto na fala abaixo:
 “Ela sentou assim em cima de umas das macas, e olhou pra uma cliente e disse, tia tu sabia que meu pai me tranca num quarto escuro e eu tenho medo” (E2). 
 	A violência doméstica contra a criança, além de se constituir em uma realidade dolorosa, ao revelar os maus-tratos perpetrados no mundo intrafamiliar, traz prejuízos a curto, médio e longo prazo, tanto de ordem física como psicossocial, que podem ser devastadores, já que as experiências vividas na infância refletem na vida adulta (MONTEIRO, ET. AL. 2018). “Eu noto quando ele chega ali pra buscar as crianças, ela me esconde (a filha mais velha), assim e diz que tem medo que o pai bata na mãe” (E2). O relato também mostra que mesmo após não conviver mais com o contexto da violência, a filha mais velha, ainda carrega como consequência, o medo da convivência com o pai.
 	Para Reichenheim, Hasselmann e Morais (1999), as consequências emocionais das vivencias das crianças com situações em que presenciou frequentes conflitos de violência, podem ser piores do que quando elas mesmas são as vítimas da violência. E2, narra o momento em que o ex-marido busca a filha mais velha para passar o final de semana com ele, “a maior morre de medo dele, que quando ele vai buscar ela, ela tem saudade dele, mas ela começa com dor de barriga, se mija nas calças” (E2). Sendo possível observar as consequências dos anos em que vivenciou a violência doméstica.
 	Day et. al. (2003) divide as manifestações psicologias em imediatas que são: pesadelos, sentimentos de ansiedade, culpa, raiva, vergonha, medo do agressor e de pessoas do mesmo sexo, quadros fóbico-ansiosos e depressivos agudos, queixas psicossomáticas, isolamento social e introversão. E manifestações tardias: transtornos psiquiátricos, dissociação afetiva, pensamento invasivos, ideação suicida, cognição distorcidas, síndromes do pânico, imagens distorcidas, pensamentos confusos, dificuldade na percepção de papeis, dificuldade na resolução de problemas e agravos das consequências imediatas.
 	Ao ser questionada sobre como está sendo para as filhas, não presenciarem mais a violência doméstica, E1 afirma:
“Olha agora elas não vendo mais né, elas estão mais alegres, antes estavam sempre tristinhas, choravam ,queriam brincar o pai delas batiam nelas o sogro também e dai era difícil sabe a vida” (SIC). 
 	Se a criança conviver num ambiente onde recebe carinho, atenção, seu desenvolvimento será saudável; todavia, se crescer num ambiente onde convive ou é vítima de violência, ficará mais vulnerável a essa violência, que, certamente, influenciará sua conduta e seu desenvolvimento tanto na infância, quanto na fase adulta (GOTTARDI, JUNIOR, 2016). Ao sair de um ambiente violento, para um ambiente acolhedor e terno, é possível observar que as vítimas de violência doméstica, apresentam modificações em seus comportamentos e estados de humor.
 	Os efeitos da violência domésticos em crianças são observáveis em seus medos, reações físicas e falas. O ambiente hostil da violência doméstica deixa marcas que podem ou não ser permanentes nestas crianças. 
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
 	A partir dessa pesquisa, ficou evidente que há uma complexidade das questões que envolvem a dinâmica da violência doméstica e suas vítimas. Foi possível observar os fatores transgeracionais que envolvem as agressões, vistos que foram constatadas agressões tanto do conjugue quanto de seu pai. 	
 	Os filhos dos agressores ficam no centro da violência doméstica, na medida em que, sofrem agressões como punição às conjugues dos agressores. E isso acaba levando as vítimas a sair de casa e a denunciar as agressões. É importante destacar, que a pesquisa não generaliza a situação de todas as vítimas de violência domésticas, e sim uma parcela destas.
 	Os efeitos da violência doméstica nas mulheres e seus filhos penduram apesar de saírem do ambiente da violência, as consequências podem ser visualizadas em seus relacionamentos, comportamentos e percepções.
 	Assim, este estudo possibilitou refletir sobre os processos que envolvem a violência doméstica, os motivos que levam as mulheres a denunciarem os agressores somente após a agressão causar consequência nos filhos e os efeitos pós-violência doméstica, e evidencia-se que estudos nessa área tendem a contribuir a novos olhares para as esse tipo de violência.
DOMESTIC VIOLENCE: A LOOK THROUGH THE VICTIMS REPORT
Abstract: The Domestic violence increasingly present in homes, leaves marks both on its victims, and on what the presence. The present research sought to understand the reason why women, victims of domestic violence, to make a complaint against their aggressorsonly after the violence reaches their children, through a documentary analysis of medical records found in the Center for Psychosocial Practices and a research in field, conducted through interviews with victims, making quantitative-qualitative research. The research was carried out in a city in the northwest of the state of Rio Grande do Sul in the year 2018. There were 180 medical records and of these, 28 the complaint against the aggressor had involvement of the children, and through the interviews, three categories were created , the context of domestic violence, the motive for denunciation and life after domestic violence, is divided into two subcategories for women and children. The research presented relevance in that it allows to look at the reasons that lead the victims to denounce their aggressors.
Keywords: Domestic Violence; Family Relationships, Consequences of Domestic Violence. 
 	
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ACOSTA, D. F.; GOMES, V. L. de O. G.; BARLEM, E. L. D. Perfil das ocorrências policiais de violência contra a mulher. Revista Acta Paulista de Enfermagem. 2013; 26(6): 547-56. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ape/v26n6/07.pdf . Acesso em: 03 set. 2017.
ANTONI, C. & KOLLER, S.H., Vulnerabilidade e resiliência familiar: um estudo com adolescentes que sofreram maus tratos intrafamiliares. Psico. Porto Alegre. V. 31, nº 1, 2000.
BIASOLI-ALVEZ, Z. M. M. Continuidades e Rupturas no Papel da Mulher Brasileira no Séc. XX. Psicologia: Teoria e Pesquisa, Brasília, v.16, n.3, 2000.
BRASIL. Ministério da saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de ações programáticas estratégicas. Atenção integral para mulheres e adolescentes em situação de violência doméstica e sexual: matriz pedagógica para formação de redes. Brasília: 2006. 
BRASIL. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Análise de Situação de Saúde.Viva: instrutivo de notificação de violência doméstica, sexual e outras violências. Brasília: Ministério da Saúde, 2011.
BRASIL. Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres Ministério da Justiça e Cidadania. Viver sem violência é direito de toda mulher, entenda a Lei Maria da Penha. 2016, Disponível em: http://www.spm.gov.br/assuntos/violencia/lei-maria-da-penha/spm_livretomariadapenha2015-1.pdf. Acesso em: 07 set. 2017.
BRASIL, Lei Maria da Penha Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006: Conheça a lei que protege as mulheres da violência doméstica e familiar. Secretaria de Políticas para as Mulheres. 2012. Disponível em: http://www.compromissoeatitude.org.br/wp-content/uploads/2012/08/SPM-publicacao-Lei-Maria-da-Penha-edicao-2012.pdf. Acesso em 13 set. 2017.
CARDOSO, N. M. B. Psicologia e Relações de Gênero: A Socialização Do Gênero Feminino E Suas Implicações Na Violência Conjugal Em Relação Às Mulheres. In: ZANELLA, A. Et. Al. (Orgs). Psicologia e Práticas Sociais.19 ed. Porto Alegre, Abraposul, 1997.
CENTRO DE ESTUDOS JUDICIARIOS Violência Doméstica - implicações sociológicas, psicológicas e jurídicas do fenómeno. Manual PLURIDISCIPLINAR 2016. Disponível em: http://www.cej.mj.pt/cej/recursos/ebooks/outros/Violencia-Domestica-CEJ_p02_rev2c-EBOOK_ver_final.pdf. Acesso em 10 set. 2017. 
CIDREIRA, Maria Carolina Castelo Branco Cicatrizes Da Dor: as consequências da violência doméstica na saúde física da mulher. VIII Jornada de Políticas Públicas, 2017. Disponível em: < http://www.joinpp.ufma.br/jornadas/joinpp2017/pdfs/eixo6/cicatrizesdadorasconsequenciasdaviolenciadomesticanasaudefisicadamulher.pdf>. Acesso em: 16. Jun. 2018.
CHALITA, Gabriel. Educação: a solução está no afeto. 17. ed. São Paulo: Gente, 2004. 
CURY, Augusto J. Pais brilhantes, professores fascinantes. Rio de Janeiro: Sextante, 2003.
DAY, Viviam Peres; Et. Al. Violência doméstica e suas diferentes manifestações. R. Psiquiatr. RS, 25'(suplemento 1): 9-21, abril 2003. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/rprs/v25s1/a03v25s1> Acesso em: 15 Jun. 2018.
GERHARDT, Tatiana Engel e SILVEIRA, Denise Tolfo; Métodos de pesquisa. Coordenado pela Universidade Aberta do Brasil – UAB/UFRGS e pelo Curso de Graduação Tecnológica – Planejamento e Gestão para o Desenvolvimento Rural da SEAD/UFRGS. – Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2009. Disponível em: http://www.ufrgs.br/cursopgdr/downloadsSerie/derad005.pdf. Acesso em 06 set. 2017.
FONSECA, Denise Holanda da; Et. Al. Violência Doméstica Contra A Mulher: Realidades E Representações Sociais. Psicologia & Sociedade; 24 (2), 307-314, 2012. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/psoc/v24n2/07.pdf> Acesso em: 17. Jun. 2018.
GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999.
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2008. Disponível em <http://wp.ufpel.edu.br/ecb/files/2009/09/Tipos-de-Pesquisa.pdf> Acesso em 13 set. 2017.
LETTIERE, Angelina; NAKANO, Ana Márcia Spanó. Violência doméstica: as possibilidades e os limites de enfrentamento. Rev. Latino-Am. Enfermagem, nov.-dez. 2011. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/rlae/v19n6/pt_20.pdf> Acesso em: 16. Jun.2018.
MAGALHÂES, Tereza. Violência e Abuso. Respostas Simples para questões complexas. Coimbra, 2010.
MIZUNO, Camila; FRAID, Jaqueline Aparecida; CASSAB, Latif Antonia. Violência contra a mulher: Por que elas simplesmente não vão embora?. Anais do I Simpósio sobre Estudos de Gênero e Políticas Públicas, ISSN 2177-8248 Universidade Estadual de Londrina, 24 e 25 de junho de 2010 GT 5. Gênero e Violência – Coord. Sandra Lourenço. Disponível em: http://www.uel.br/eventos/gpp/pages/arquivos/3.CamilaMizuno.pdf. Acesso em 12 set. 2017
MONTEIRO, Ana Claúdia de Souza; Et. Al. Olhares maternos acerca da violência contra a criança: constituindo significados. Rev Bras Enferm [Internet]. 2018. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/reben/v71n1/pt_0034-7167-reben-71-01-0034.pdf> Acesso em 15/06/2018.
NEWCOMBE, N. Desenvolvimento Infantil: Abordagem de Mussen. 8ed. Porto Alegre: Artes Médicas do Sul, 1999. 
OLIVEIRA, Clara Vanessa Maciel de; SANTANA, Rocha; NASCIMENTO, Luciana Rodrigues Passos. A Família Na Atualidade: Novo Conceito De Família, Novas Formações E O Papel Do Ibdfam (Instituto Brasileiro De Direito De Família). Aracaju 2015. Disponível em: < http://openrit.grupotiradentes.com/xmlui/bitstream/handle/set/1649/TCC%20CLARA%20MODIFICADO.pdf?sequence=1> Acesso em: 18 de Jun. 2018.
OLIVEIRA, Patrícia Peres de; ET. ALT. Mulheres Vítimas De Violência Doméstica: Uma Abordagem Fenomenológica. Texto Contexto Enferm, Florianópolis, 2015 Jan-Mar; 24(1): 196-203. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/tce/v24n1/pt_0104-0707-tce-24-01-00196.pdf> Acesso em: 16. Jun. 2018.
OLIVEIRA (2009 APUD REIS, C.R. ) Violência doméstica contra mulher: Reflexões a partir da análise de documentos de uma unidade básica de saúde da Zona Norte de Porto Alegre/RS. Programa de Residência Integrada em Saúde do Grupo Hospitalar Conceição/Ministério da Saúde, Porto Alegre, 2013.
PALLOTA, M.; LOURENÇO, M. Violência. 1999. Disponível em: < http:/ /209.143.148.118/adv-pl> . Acesso em: 13 Jun. 2018.
PARENTE EO, NASCIMENTO RO, VIEIRA LJES. Enfrentamento da Violência doméstica por um grupo de mulheres após a denúncia. Rev Estud Fem. 2009. 
REICHENHEIM M.E.; HASSELMANN M.H.; MORAES C.L. Consequências da violência familiar na saúde da criança e do adolescente: contribuições para a elaboração de propostas de ação. Ciência & Saúde Coletiva, 4(1):109-121, 1999.
RIBEIRO, C. G. & COUTINHO, M. L. L. (2011). Representações sociais de mulheres vítimas de violência doméstica na cidade de João Pessoa-PB. Psicologia e Saúde, 3(1), 52-59.
SAGIM, Mírian Botelho; ANDRADE, Antônio dos Santos. Violência Doméstica Observada e Vivenciada por Crianças e Adolescente no Ambiente Familiar. Ribeirão Preto, 2008.
SILVA, Susan de Alencar; Et.Alt. Análise da violência doméstica na saúde das mulheres. Universidade Federal da Paraíba, 2015. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S0104-12822015000200008&script=sci_arttext&tlng=pt>. Acesso em: 16. Jun. 2018.
SOUZA, Dalva Inês de. et al. Manual de orientações para projetos de pesquisa– Novo Hamburgo: FESLSVC, 2013. 55 p. ; 21 cm.
SOUZA; Patrícia Alves de; ROS, Marco Aurélio Da. Os motivos que mantêm as mulheres vitimas de violência no relacionamento violento. Revista de Ciências Humanas, Florianópolis, EDUFSC, n. 40, p. 509-527, Outubro de 2006. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/revistacfh/article/viewFile/17670/16234. Acesso em 14 set. 2017.
SOUZA ER, ET AL. O tema violência intrafamiliar na concepção dos formadores dos profissionais de saúde. Ciência & Saúde Coletiva. 2009. 
WAISELFISZ, J. J. Mapa da Violência 2012 Atualização: homicídios de mulheres no brasil. Centro brasileiro de estudos latino-americanos – cebela. Flacso brasil: agosto, 2012. Disponível em: http://www.mapadaviolencia.org.br/mapa2012_mulheres.php. Acesso em: 08 set. 2017.
 
WINNICOTT, DW. Os bebês e suas mães. São Paulo: Martins Fontes; 1994.

Continue navegando