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FINANÇAS PÚBLICAS_ ALVES DA ROCHA(2)-1

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bUNIVERSIDADE CATÓLICA DE ANGOLA 
 
FACULDADE DE ECONOMIA E GESTÃO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FINANÇAS PÚBLICAS 
 
SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PREPARAÇÃO E SISTEMATIZAÇÃO: ALVES DA ROCHA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Luanda, Janeiro de 2004 
FINANÇAS PÚBLICAS: SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS ALVES DA ROCHA 
 2 
40 
 
 
 
 
ESTRUTURA INDICATIVA DO PROGRAMA 
 
 
 
 APRESENTAÇÃO 
 
I.- MACROECONOMIA E FINANÇAS PÚBLICAS 
 Breve introdução 
 Objecto da macroeconomia e controvérsias teóricas 
 Escolas do pensamento económico 
 Conceitos-chave 
 
II.- CONTABILIDADE NACIONAL – SUMÁRIA ABORDAGEM 
 
III.- FINANÇAS PÚBLICAS – ASPECTOS INTRODUTÓRIOS 
 
 Actividade financeira do sector público 
 Finanças públicas e finanças privadas 
 Dimensão do sector público: principais indicadores 
 
IV.- FUNÇÕES FISCAIS: UMA VISÃO GERAL 
 
 Introdução 
 A função alocativa ou de afectação 
 A função distributiva 
 A função estabilizadora 
 A função de coordenação e o conflito de funções 
 
V.- ORÇAMENTO 
 
 Noção e funções do orçamento. As funções orçamentais modernas. 
Funções orçamentais e sistemas político-económicos 
 Regras de organização do orçamento 
 Equilíbrio orçamental 
 Preparação do orçamento 
 Votação do orçamento 
 Execução do orçamento 
 Fiscalização da execução orçamental 
 
VI.- TEORIA DA DESPESA PÚBLICA 
 
 Despesas públicas: conceito e classificações. Tipos de despesa 
pública. 
FINANÇAS PÚBLICAS: SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS ALVES DA ROCHA 
 3 
 Teorias explicativas do crescimento das despesas públicas: a lei de 
Wagner, o efeito de Peacok e de Wiseman, a revolução keynesiana. 
 Efeitos económicos das despesas 
 Despesa por razões de eficiência e de equidade. Fracassos de 
mercado e eficiência. Conceito de falhas de mercado: bens públicos, 
externalidades, imperfeições da concorrência (assimetria da 
informação). O conflito equidade-eficiência. O bem estar social. 
 Crescimento e estrutura das despesas públicas em Angola (time-
series e cross-section). 
 
VII.- AS RECEITAS PÚBLICAS 
 
 Conceito e classificações 
 Modelos explicativos da sua evolução e comportamento 
 Receitas fiscais e equidade (impostos progressivos, regressivos e 
proporcionais, princípio do benefício e da capacidade de pagar) 
 Fiscalidade: medição e limites. O nível de fiscalidade. O esforço 
fiscal. O limite da fiscalidade. 
 As características desejáveis dum sistema fiscal: transparência e 
simplicidade, flexibilidade, responsabilidade política, eficiência e 
equidade 
 Efeitos económicos da tributação 
 Estrutura e evolução das receitas públicas em Angola 
 
VIII.- DÍVIDA PÚBLICA 
 
 Empréstimos públicos 
 Espécies de dívida pública 
 Operações sobre a dívida pública: amortização e conversão 
 O peso da dívida pública. Ónus da dívida para as várias gerações. 
Os limites da dívida pública. 
 Estrutura e evolução da dívida pública em Angola. Factores 
determinantes para a sua constituição. 
 
IX.- POLÍTICA ORÇAMENTAL E NÍVEL DE ACTIVIDADE 
 
 O modelo simples 
 Introdução do Estado no modelo e abertura da economia 
 Estabilização activa 
- Natureza da política de estabilização activa 
- Política de estabilização em condições de incerteza 
- Política fiscal de estabilização e modernas teorias da função 
consumo 
- Conflito entre pleno emprego e estabilidade dos preços 
- Problemas e limites da política de estabilização activa 
 Estabilização automática 
- Impostos 
- Despesas Públicas 
- Limitações da política de estabilização automática 
FINANÇAS PÚBLICAS: SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS ALVES DA ROCHA 
 4 
 Os programas económicos de estabilização em Angola: uma visão 
retrospectiva 
 
 
 
ANEXOS 
 
 Anexo 1.- De Solow a Solow 
 Anexo 2.- O Modelo IS-LM e as implicações da política 
orçamental 
 
 
 
 
 
FINANÇAS PÚBLICAS: SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS ALVES DA ROCHA 
 5 
APRESENTAÇÃO 
 
O conteúdo destas folhas de auxílio para os alunos da disciplina de Finanças 
Públicas do 3º ano do Curso de Economia da Universidade Católica de Angola 
deve ser considerado exactamente e apenas como um guia orientador para a 
abordagem das importantes matérias que constituem objecto das aulas. Todos 
os necessários aprofundamentos e explicações adicionais ou complementares 
têm de ser procuradas pela consulta da bibliografia seleccionada. 
 
O principal objectivo destas folhas de auxílio é o de expor a um nível intermédio 
a teoria das Finanças Públicas, fazendo realçar que se trata duma disciplina 
importante para a política económica dos países. Pressupõe-se adquirido o 
conhecimento das matérias que habitualmente fazem parte dos cursos 
introdutórios de Macroeconomia e alguma familiarização com a análise dos 
problemas económicos numa perspectiva matemática. Apesar desta 
conjectura, decidiu-se que os dois primeiros capítulos desta Sebenta de 
Finanças Públicas versassem temáticas relacionadas especificamente com a 
Macroeconomia e a Contabilidade Nacional. Fica o professor mais seguro de 
que 
 aspectos basilares e fundamentais da Teoria Económica são tratados com um 
mínimo de desenvolvimento e também mais à vontade para aprofundar 
questões relativas às relações importantes entre as Finanças Públicas e a 
actividade económica. Também servem estes dois primeiros capítulos para 
conformar a disciplina de Finanças Públicas aos característicos propósitos dum 
Curso que pretende formar economistas. 
 
Naturalmente que todos os capítulos que integram a disciplina de Finanças 
Públicas apresentados sob a forma de sumários desenvolvidos, são 
importantes. Uns porque são iniciadores das problemáticas que encerram, 
outros porque procuram fazer entender a importância da actividade do Estado 
na economia, outros ainda porque relacionam a política orçamental com outros 
domínios económicos importantes. 
 
A bibliografia seleccionada para esta disciplina encontra-se descrita em cada 
capítulo. Porém, não se pode considerar esgotada, reflectindo, apenas, as 
obras, os artigos e outras fontes que foram utilizadas para a sistematização das 
respectivas matérias. Assim, a bibliografia geral relacionada com esta disciplina 
é a seguinte: 
 
 Lições de Finanças Públicas, José Joaquim Teixeira Ribeiro, 
Coimbra Editora Limitada, 1977 
 Finanças Públicas e Política Macroeconómica, Aníbal Cavaco Silva e 
João Luís César das Neves, Universidade Nova de Lisboa, 1992 
 Public Finance in Theory and Pratice, Richard A. Musgrave e Peggy 
B. Musgrave, 5ª edição, McGraw-Hill International Edition 1989 
 Modern Public Finance, Bérnard P. Herber 
 Public Finance, Richard D. Irwin 
 Finances Publiques, Maurice Duverger, Press Universitaires de 
France, 1971 
FINANÇAS PÚBLICAS: SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS ALVES DA ROCHA 
 6 
 Manual de Finanças Públicas e Direito Financeiro (1º volume), 
António Luciano de Sousa Franco, Manuais da Faculdade de Direito 
de Lisboa, 1974 
 Alguns Efeitos Económicos da Tributação e da Inflação sobre os 
Rendimentos do Trabalho, José Carlos Gomes Santos, Cadernos de 
Ciência e Técnica Fiscal, Centro de Estudos Fiscais, Direcção Geral 
das Contribuições e Impostos, Portugal, 1985 
 Economia Pública, António S. Pinto Barbosa, McGraw-Hill, 1997 
 Macroeconomics, Rudiger Dornbusch e Stanley Fischer, 5ª edição, 
Macron Books, 1991 
 Macroeconomia, 7ª edição, Robert J. Gordon, Bookman, 2000 
 Macroeconomia,2ª edição revista e actualizada, José Alfredo A. 
Leite, Atlas Editora, 2000 
 Macroeconomics, N. Gregory Mankiw, Worth Publishers, Inc., 1997 
 Análise Macroeconómica, Edward Shapiro, Atlas Editora, 1979 
 Analyse Macroéconomique, Jacques Lecaillon, Cujas, 1969 
 A Política Orçamental é Necessária? E é Desejável?, Robert M. 
Solow, Economia Pura nº 53, Dezembro, 2002 
 
Naturalmente que outras referências bibliográficas caberiam no escopo desta 
disciplina. No entanto, as que ficam são mais do que suficientes para o nível 
intermédio que se pretende dar às aulas e às matérias. 
 
 
 
 
FINANÇAS PÚBLICAS: SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS ALVES DA ROCHA 
 7 
 
I – MACROECONOMIA E FINANÇAS PÚBLICAS 
 
Sumário 
 
 1.- Breve introdução 
 2.- Objecto da Macroeconomia e controvérsias teóricas 
 3.- Escolas do pensamento económico 
 4.- Conceitos-chave 
 
 
Referências: Texto sistematizado a partir de: Macroeconomics de Robert Gordon, Bookman 
Editores, 1998, capítulos 1 e 2; Macroeconomics de Gregory Mankiw, Worth Publishers, 1997, 
capítulos 1 e 2; Manual de Economia de uma Equipa de Professores da Universidade de São 
Paulo, Brasil, Editora Saraiva, 2001, capítulo 12; Macroeconomics de Rudiger Dornbush e 
Stanley Fischer, Makron Books, 2003, capítulos 1 e 2; Introdução à Economia de João César 
das Neves, Editorial Verbo, 1997, capítulos 1, 2 e 3. 
 
 
 
1.- Breve introdução 
 
A macroeconomia trata da economia como um todo. Estuda e interpreta a 
produção total de bens e serviços, a inflação e o desemprego, a balanço de 
pagamentos e as taxas de câmbio. Igualmente analisa o crescimento 
económico, os seus períodos de recuperação, crescimento e recessão, as 
flutuações de curto prazo e o ciclo de negócios. 
 
A macroeconomia é, na realidade, um todo e talvez daí o seu fascínio. A 
macroeconomia abrange o comportamento económico e as políticas que 
afectam o consumo e o investimento, as taxas de câmbio e a balanço 
comercial, os determinantes das variações nos preços e salários, as políticas 
fiscal e monetária, o “stock” de moeda, o orçamento de Estado, as taxas de 
juro e a dívida pública. 
 
Em síntese, a macroeconomia lida com as principais e mais importantes 
variáveis económicas e com os problemas do dia-a-dia. 
 
A macroeconomia é interessante porque lida com tópicos relevantes e é 
desafiante porque reduz os detalhes complicados da economia a pontos 
essenciais que são as interacções entre o mercado monetário, o mercado de 
trabalho e o mercado de bens e serviços e nas interacções entre economias 
que têm relações comerciais entre si. 
 
Fica, assim, evidente que de acordo com a perspectiva conceptual 
anterior, os assuntos tratados pela macroeconomia deverão, na prática 
concreta da direcção dos processos económicos, ser repartidos por 
diferentes instituições do Estado. Mas fica também claro que as 
interacções tratadas pela macroeconomia deverão ser inteiramente 
respeitadas pelas instituições nas suas articulações inter-departamentais 
e na sua organização interna. 
 
FINANÇAS PÚBLICAS: SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS ALVES DA ROCHA 
 8 
Quando se lida com a macroeconomia devem-se deixar de lado detalhes 
referentes ao comportamento das unidades económicas individuais, tais como 
as famílias e as empresas, ou a determinação dos preços em mercados 
específicos. Estes são os problemas da microeconomia. A macroeconomia 
aborda o mercado de bens como um todo, analisando todos os mercados de 
bens diferentes como um único mercado. Do mesmo modo se trata o mercado 
de trabalho como um todo, não se explicitando, por exemplo, as diferenças 
entre o mercado de trabalho da construção civil e o mercado de trabalho de 
serviços bancários. Nesta mesma direcção se estuda o mercado de títulos, 
como um todo, abstraindo-se das diferenças entre os mercados de acções e os 
mercados das obrigações. Os detalhes de todos estes e outros aspectos são o 
campo privilegiado de análise e teorização da microeconomia. 
 
Constata-se, portanto, que o terreno onde a macroeconomia se movimenta é o 
da abstracção do particular e o da concentração no global (no todo). 
Naturalmente que a abstracção implica um custo traduzido nas distorções 
causadas pela omissão de alguns detalhes. O contraponto - ou seja, os 
benefícios da abstracção - está na melhor compreensão das interacções vitais 
entre os mercados de bens e serviços, de trabalho e de capitais. 
 
Apesar do contraste entre macro e microeconomia não existe nenhum conflito 
entre elas. A diferença é, primordialmente, uma questão de ênfase e de 
exposição. Por exemplo, num estudo de determinação dos preços na indústria 
de construção civil a microeconomia considera os preços nas outras indústrias 
como dados, enquanto a macroeconomia ignora as variações nos preços 
relativos entre as diferentes indústrias. Ainda outro exemplo: na microeconomia 
é conveniente considerar como um dado o rendimento dos consumidores - num 
estudo de mercado para o lançamento duma nova indústria o que interessa à 
microeconomia é como os consumidores afectam em despesas de consumo 
um dado rendimento - enquanto que para a macroeconomia é, justamente, o 
processo de formação do rendimento ou dos gastos agregados um dos seus 
objectivos. 
 
2.- Objecto da Macroeconomia e controvérsias teóricas 
 
A macroeconomia trata da economia como um todo. Estuda e interpreta a 
produção total de bens e serviços, a inflação e o desemprego, a balanço de 
pagamentos e as taxas de câmbio. Igualmente analisa o crescimento 
económico, os seus períodos de recuperação, crescimento e recessão, as 
flutuações de curto prazo e o ciclo de negócios. 
 
A macroeconomia é, na realidade, um todo e talvez daí o seu fascínio. A 
macroeconomia abrange o comportamento económico e as políticas que 
afectam o consumo e o investimento, as taxas de câmbio e a balanço 
comercial, os determinantes das variações nos preços e salários, as políticas 
fiscal e monetária, o stock” de moeda, o orçamento de Estado, as taxas de juro 
e a dívida pública. 
 
Em síntese, a macroeconomia lida com as principais e mais importantes 
variáveis económicas e com os problemas do dia-a-dia. 
FINANÇAS PÚBLICAS: SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS ALVES DA ROCHA 
 9 
 
A macroeconomia é interessante porque lida com tópicos relevantes e é 
desafiante porque reduz os detalhes complicados da economia a pontos 
essenciais que são as interacções entre o mercado monetário, o mercado de 
trabalho e o mercado de bens e serviços e nas interacções entre economias 
que têm relações comerciais entre si. 
 
Fica, assim, evidente que de acordo com a perspectiva conceptual 
anterior, os assuntos tratados pela macroeconomia deverão, na prática 
concreta da direcção dos processos económicos, ser repartidos por 
diferentes instituições do Estado. Mas fica também claro que as 
interacções tratadas pela macroeconomia deverão ser inteiramente 
respeitadas pelas instituições nas suas articulações inter-departamentais 
e na sua organização interna. 
 
Quando se lida com a macroeconomia devem-se deixar de lado detalhes 
referentes ao comportamento das unidades económicas individuais, tais como 
as famílias e as empresas, ou a determinação dos preços em mercados 
específicos. Estes são os problemas da microeconomia. A macroeconomia 
aborda o mercado de bens como um todo, analisando todos os mercados de 
bens diferentes como um único mercado. Do mesmo modo se trata o mercado 
de trabalho como um todo, não se explicitando, por exemplo, as diferenças 
entre o mercado de trabalho da construção civil e o mercado de trabalho de 
serviços bancários. Nesta mesma direcção se estuda o mercado de títulos, 
como um todo, abstraindo-se das diferenças entre os mercados de acções e os 
mercados dasobrigações. Os detalhes de todos estes e outros aspectos são o 
campo privilegiado de análise e teorização da microeconomia. 
 
Constata-se, portanto, que o terreno onde a macroeconomia se movimenta é o 
da abstracção do particular e o da concentração no global (no todo). 
Naturalmente que a abstracção implica um custo traduzido nas distorções 
causadas pela omissão de alguns detalhes. O contraponto - ou seja, os 
benefícios da abstracção - está na melhor compreensão das interacções vitais 
entre os mercados de bens e serviços, de trabalho e de capitais. 
 
Apesar do contraste entre macro e microeconomia não existe nenhum conflito 
entre elas. A diferença é, primordialmente, uma questão de ênfase e de 
exposição. Por exemplo, num estudo de determinação dos preços na indústria 
de construção civil a microeconomia considera os preços nas outras indústrias 
como dados, enquanto a macroeconomia ignora as variações nos preços 
relativos entre as diferentes indústrias. Ainda outro exemplo: na microeconomia 
é conveniente considerar como um dado o rendimento dos consumidores - num 
estudo de mercado para o lançamento duma nova indústria o que interessa à 
microeconomia é como os consumidores afectam em despesas de consumo 
um dado rendimento - enquanto que para a macroeconomia é, justamente, o 
processo de formação do rendimento ou dos gastos agregados um dos seus 
objectivos. 
 
 
 
FINANÇAS PÚBLICAS: SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS ALVES DA ROCHA 
 10 
3.- Escolas do pensamento económico 
 
Desde há muito que o pensamento económico se divide em duas tradições 
intelectuais na macroeconomia. Uma escola de pensamento defende que os 
mercados funcionam melhor se forem regidos pelos seus próprios mecanismos 
- que se resumem na lei da oferta e da procura. A outra sustenta que a 
intervenção do Estado pode melhorar significativamente o funcionamento da 
economia. Naturalmente que há posições que defendem o doseamento entre 
estas duas correntes (extremas?) do pensamento macroeconómico. 
Infelizmente, nem esta, nem a segunda corrente de pensamento é perfilhada 
pelas instituições de Bretton Woods, para quem deverão ser os mecanismos de 
mercado a regerem o funcionamento dos mercados e das economias. 
 
Durante os anos 60 e mesmo parte dos 70 o debate em torno daquelas 
questões envolveu, de um lado, os monetaristas, liderados por Milton 
Friedman, e do outro, os keynesianos, com Franco Modigliani e James Tobin 
à cabeça. A partir de meados dos anos 70 o debate trouxe à cena um novo 
grupo - os macro-economistas neoclássicos. 
 
 3.1.- A escola de pensamento neoclássica 
 
Esta nova forma de se pensar a macroeconomia iniciou-se na segunda metade 
da década de 70, projectou-se pela década de 80 e mesmo durante boa parte 
dos anos 90 exerceu a sua influência nas políticas económicas de muitos 
países. Os vultos mais salientes desta escola do pensamento macroeconómico 
são Robert Lucas, Robert Barro, Robert Solow, Robert Hall e Thomas Sargent, 
os quais dividem com Milton Friedman muitos pontos de vista da política 
económica. O expoente mínimo desta corrente é o da rejeição total e 
categórica da intervenção do Estado, mesmo para fazer política económica. 
Esta posição contrasta radicalmente com as posições da macroeconomia 
tradicional, que reconhece um papel útil para a acção do Estado na economia, 
que se equilibra lentamente, com ajustamentos vagarosos nos preços, pouca 
informação e determinados hábitos sociais que impedem a desobstrução dos 
mercados. 
 
Os pressupostos centrais da escola de pensamento neoclássica são: 
 
 * os agentes económicos têm um comportamento tendente a 
maximizar as suas escolhas. As famílias e as empresas tomam decisões 
óptimas, na base da utilização de toda a informação disponível sobre mercados 
e preços. Por outro lado, estas decisões (escolhas, opções) são as melhores 
dentro dos contextos em que são tomadas; 
 
 * as decisões são racionais e tomadas levando em consideração 
toda a informação relevante. Este axioma equivale a considerar que as 
expectativas são racionais quando são estatisticamente as melhores previsões 
do futuro que podem ser feitas com a informação disponível. Deste ponto de 
vista, a escola neoclássica é, por vezes, descrita como a escola das 
expectativas racionais. A consequência prática das expectativas racionais é a 
de que os agentes económicos se antecipam sempre a qualquer decisão/acção 
FINANÇAS PÚBLICAS: SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS ALVES DA ROCHA 
 11 
do Estado, pelo que a própria eficácia da política económica está posta em 
causa. De facto, se as decisões privadas são racionais, então elas são as 
melhores, quer dum ponto de vista individual, quer colectivo, pelo que não há 
lugar para a política económica - que no fundo procura influenciar a tomada de 
decisões pelos agentes económicos. Os mercados onde esta teoria das 
expectativas racionais é actualmente utilizada são os financeiros, quer 
nacionais, quer sobretudo o mercado financeiro internacional, onde as 
cotações dos respectivos títulos se estabelecem, não em função do seu valor 
actual, mas em função do valor futuro que os “especuladores” entendem que 
podem vir a ter dentro de alguns meses ou anos; 
 
 * os mercados para funcionarem segundo os seus mecanismos 
racionais têm de estar desobstruídos, ou seja, não deve haver 
impedimentos de qualquer espécie - por exemplo, salário mínimo, subsídio de 
desemprego, preços mínimos ou mínimos - para que trabalhadores e 
empresários não ajustem os seus preços para cima ou para baixo para se 
atingirem os equilíbrios. Esta desobstrução ou desregulamentação dos 
mercados é uma condição básica desta escola de pensamento. 
 
Os axiomas anteriores têm, como seria de esperar dada a drasticidade com 
que costumam ser impostos, consequências dramáticas. Uma delas é a de que 
não existe nenhuma possibilidade de ocorrer o desemprego involuntário (de 
natureza friccional, por exemplo), que a abordagem keynesiana defende. De 
acordo com os axiomas anteriores, qualquer pessoa desempregada que 
realmente pretenda emprego basta baixar suficientemente o preço da sua força 
de trabalho - e não fazer exigências relacionadas com a sua profissão ou 
experiência, ou o seu grau académico, o que equivale a transformar todos os 
trabalhadores em indiferenciados - para atrair algum empregador interessado. 
Do mesmo modo, aos empresários com excesso de “stocks” de bens será 
suficiente baixar os preços para que se reduzam ou desapareçam, 
independentemente das modas e das preferências dos consumidores, que 
supostamente agem apenas em função dos preços. 
 
Ou seja, a flexibilidade no ajustamento dos salários e preços deixa 
trabalhadores e empresários numa situação na qual os primeiros trabalham o 
tempo que quiserem e os segundos produzem o que quiserem. 
 
A essência do modelo das expectativas racionais é a de que os mercados 
estão sempre em equilíbrio. Em particular os macro-economistas da escola 
neoclássica consideram como incompleta ou insatisfatória qualquer teoria que 
deixe aberta a possibilidade de os agentes económicos satisfazerem melhor as 
suas necessidades pela via do relacionamento económico directo entre si. 
 
 3.2.- A escola neokeynesiana 
 
Esta nova geração de intelectuais surgiu na década de 80 e tem estendido a 
influência do seu pensamento até aos dias de hoje. Este grupo de macro-
economistas inclui, entre outros, James Tobin, Greg Mankiw, Larry Summers, 
Paul Krugman, Franco Modigliani e toda a escola francesa com pontificação 
para Malinvaud. O traço comum a estes pensadores é o seu descrédito quanto 
FINANÇAS PÚBLICAS: SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS ALVES DA ROCHA 
 12 
à habilidade de os mercados equilibrarem sempre e a sua pesquisa assenta na 
explicaçãodo porquê de os mercados falharem. 
 
Para os neokeynesianos os mercados às vezes não equilibram, mesmo 
quando os agentes económicos estão apenas preocupados com os seus 
interesses. Razões? Certamente que muitas: problemas de informação - quase 
nunca ela é suficiente, adequada e está disseminada em termos de acesso - 
custos de alterações dos preços, dificuldades estruturais de mobilidade 
sectorial e espacial, criam ambiente para flutuações macroeconómicas na 
produção e no emprego. Por exemplo, no mercado de trabalho as empresas 
que baixarem os salários não apenas reduzirão os custos da mão-de-obra, 
como também e provavelmente favorecerão o aparecimento duma força de 
trabalho menos qualificada. O que em termos de competitividade poderá ser 
fatal. Donde, portanto, haver uma certa relutância no corte dos salários apenas 
por uma questão de equilíbrio dos mercados. 
 
 3.3.- Controvérsia económica 
 
A descrição das duas vertentes do pensamento macroeconómico actual pode 
sugerir que o campo de estudo, pesquisa e análise é pouco mais do que uma 
batalha de palavras e ideias entre escolas de pensamento implacavelmente 
opostas. Claro que existem conflitos profundos de opinião que não vale a pena 
disfarçar e naturalmente, porque a macroeconomia lida com os problemas do 
dia-a-dia, as diferenças têm de se reflectir sobre a natureza das políticas 
económicas. 
 
Deve, no entanto, ser assinalada a existência de áreas do pensamento 
macroeconómico de convergência e acordo e a circunstância de, através da 
discussão e pesquisa, se estar a chegar a novos domínios de consenso e a 
ideias mais precisas sobre o real cerne das diferenças. Por exemplo, parece 
consolidar-se o consenso sobre a importância dos problemas da informação 
para a fixação dos salários e preços e para a compreensão da razão de ser das 
flutuações económicas. 
 
4.- Conceitos-chave 
 
Uma vez que a macroeconomia trabalha com os agregados económicos, 
existem conceitos básicos que devem estar presentes. Estes conceitos básicos 
vão circunscrever-se aos três tópicos essenciais com que trabalha a 
macroeconomia e que foram apontados no parágrafo 2. Serão mais adiante 
aprofundados e desenvolvidos. 
 
 4.1.- Produto Nacional Bruto 
 
O Produto Nacional Bruto (PNB) é o valor de todos os bens finais e serviços 
produzidos na economia num dado período de tempo (normalmente um ano, 
mas hoje já também numa base trimestral). Esta produção respeita às 
actividades desenvolvidas por todos os agentes económicos nacionais, no país 
ou no estrangeiro. O PNB é a medida básica da actividade económica. 
 
FINANÇAS PÚBLICAS: SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS ALVES DA ROCHA 
 13 
A sua medição começa pelo Produto Interno Bruto (PIB), que reflecte o valor de 
todos os bens finais e serviços produzidos internamente, por agentes 
económicos nacionais e estrangeiros. A passagem do PIB para o PNB 
processa-se pela subtracção do valor da actividade final dos agentes 
económicos estrangeiros no país, e pela soma do valor da actividade final dos 
agentes económicos nacionais no estrangeiro. 
 
Três importantes distinções devem ser feitas quanto ao PNB: 
 
 * PNB real versus PNB nominal 
 
 * Níveis do PNB, nominal ou real, versus crescimento do PNB 
 
 * PNB versus PNB per capita 
 
O PNB nominal mede o valor de toda a produção de bens finais e serviços aos 
preços prevalecentes no período durante o qual a actividade económica foi 
exercida pelos agentes económicos. O PNB real, por seu turno, mede o 
produto efectuado em qualquer período aos preços de algum ano-base. 
 
O PNB real avalia, assim, o produto efectuado em diferentes anos aos mesmos 
preços, o que implica uma estimativa da variação real ou física no produto 
entre anos específicos. 
 
Reduzindo as duas grandezas a uma fórmula simples ter-se-á: 
 
PNB nominal =  Pt x Qt 
 
PNB real =  P0 x Qt 
 
e em termos de taxas de crescimento, 
 
Taxa de crescimento do PNB nominal = Pt x Qt /  Pt-1 x Qt-1 
 
Taxa de crescimento do PNB real = P0 x Qt / P0 x Qt-1 
 
Uma outra medida do PNB real respeita ao rendimento per capita, que 
corresponde a um ajustamento do produto por intermédio do tamanho da 
população. 
 
 (a) Inflação e PNB nominal 
 
O PNB nominal aumenta mais rapidamente do que o PNB real. Esta diferença 
ocorre devido à subida dos preços dos bens e serviços finais. A inflação é 
definida como o aumento do nível geral de preços da economia durante um 
determinado período. 
 
A taxa de crescimento do PNB nominal resulta do produto entre as taxas de 
crescimento do PNB real e da inflação, isto é, 
 
FINANÇAS PÚBLICAS: SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS ALVES DA ROCHA 
 14 
(1+pnb) = (1+pnbr) * (1+ti), ou ainda, 
 
pnb = pnbr + ti 
 
para economias estabilizadas e com taxas de inflação inferiores a 10% ao ano, 
e 
 
pnb = pnbr + ti + pnbr*ti 
 
para economias com acentuado crescimento dos preços (inflação anual 
superior a três dígitos). 
 
ESTIMATIVAS DO PIB NOMINAL E DO PIB REAL EM ANGOLA 
(preços de 1987) 
 
VARIÁVEIS 1997 1998 1999 
PIB nominal (10^9kzr) 1753430 2488621 14607630 
PIB real (10^9 kzr) 228,0 233,8 235,7 
índice de preços implícito 7690,5 10644,2 61975,5 
Fontes: MODANG e Contas Nacionais 
 
 (b) PNB real e crescimento 
 
A taxa de crescimento duma economia é assimilada à taxa de crescimento do 
PNB real. Em média, a maior parte das economias crescem poucos pontos 
percentuais por ano. Por exemplo, o PIB real angolano cresceu a uma taxa 
média de 1,1% entre 1997 e 1999, com taxas parciais de 2,5% em 1998 e 0,8% 
em 1999. 
 
Que factores contribuem para que as economias cresçam, ou seja, para que o 
PNB real aumente de ano para ano? 
 
A primeira razão está no volume disponível de recursos. Estes são divididos 
em trabalho, capital e terra. A força de trabalho é constituída tanto pelas 
pessoas que trabalham num determinado momento, quanto pelas que estão à 
procura de trabalho. A quantidade de umas e outras cresce ao longo do tempo, 
donde uma razão para que o produto das economias cresça também. O 
mesmo ocorre com o “stock” de capital fixo duma economia (equipamentos, 
instalações, estradas, pontes, etc.) e com as terras aráveis. 
 
A segunda razão para que o PNB real varie positivamente é a eficiência com 
que os factores de produção são usados. Quando se fala de eficiência fala-se 
de produtividade. Ao longo do tempo, as mesmas quantidades de factores, se 
utilizadas com eficiência, podem produzir maiores quantidades de bens e 
serviços finais. Estes aumentos de produtividade/eficiência resultam dos 
progressos ocorridos no conhecimento, na destreza, na tecnologia (inovações) 
e na experiência. 
 
A terceira razão tem a ver com a quantidade disponível de recursos num dado 
momento. Com efeito, a população pode crescer, mas manter-se relativamente 
a mesma quantidade de população activa (guerra, peso significativo de 
estudantes do secundário e do superior, proporção de idosos, etc.). Do mesmo 
FINANÇAS PÚBLICAS: SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS ALVES DA ROCHA 
 15 
modo, das terras agricultáveis nem todas poderão estar disponíveis num 
determinado momento (acessibilidade difícil) e para um determinado fim 
(produção de trigo). Do volume de “stock” de capital fixo nem todo é utilizado 
num determinado momento (capacidade produtiva ociosa). 
 
As observações anteriores sugerem que a cada momento do processo de 
evolução das economias existe uma certa proporção de recursos disponíveis 
que não está a ser utilizada. Ou seja, existem recursos ociosos ou 
desempregados. 
 
 4.2.- Emprego e desemprego 
 
A taxa de desemprego da força de trabalho é dada pela fracção da força de 
trabalho que não consegue empregar-se num determinadomomento. A taxa de 
desemprego em Angola não é conhecida, porquanto faltam mecanismos e 
instrumentos estatísticos para a sua medição. As aproximações existentes 
referem uma taxa de desemprego urbano entre 35% e 40%, limites 
expressivos duma enorme quantidade de recursos humanos completamente 
desutilizados. A análise estatística de muitos países mostra uma associação 
relativamente estreita entre diminuição da taxa de desemprego e aumento da 
taxa de crescimento do PNB real, para níveis mais ou menos constantes da 
produtividade. Esta ligação pode ser expressa por uma relação matemática 
simples 
 
(1+pnbr) = (1+e) * (1+E), 
 
onde e - taxa de crescimento da produtividade (os ganhos anuais de 
produtividade) e E- a taxa de crescimento do emprego. Manifestamente que, 
 
pnbr = e + E 
 
ou seja, para níveis constantes de produtividade, o crescimento económico 
depende da redução da taxa de desemprego. 
 
Esta taxa de desemprego permite, também, avaliar o grau de ociosidade 
produtiva das economias. Na verdade, se uma parte significativa do “stock” de 
capital produtivo estiver por utilizar, a taxa de desemprego da economia será 
elevada. 
 
O desempenho macroeconómico é avaliado por três grandes medidas: a taxa 
de inflação, a taxa de crescimento do produto e a taxa de desemprego. 
 
Sempre que a taxa de crescimento da economia for alta, a produção de bens e 
serviços disponível em cada ano aumenta, tornando possível uma elevação do 
padrão de vida dos cidadãos. Altas taxas de crescimento do produto real são, 
normalmente, acompanhadas de baixo desemprego e de maiores 
disponibilidades de empregos. 
 
A taxa de crescimento do PNB per capita é o mais importante dos indicadores 
macroeconómicos pelos quais se avalia a performance a longo prazo das 
FINANÇAS PÚBLICAS: SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS ALVES DA ROCHA 
 16 
economias (este indicador sintético tem sido complementado pelo índice de 
desenvolvimento humano). O PNB per capita é multiplicado por dois a cada 
trinta e cinco anos se crescer a uma taxa média anual de 2%. Neste caso, cada 
geração pode esperar que o seu padrão de vida duplique em relação ao 
auferido pelos seus antecessores. Se crescer ao ritmo de apenas 1% ao ano, 
serão necessários 70 anos para que o padrão de vida duplique. 
 
No caso de Angola e atendendo às suas potencialidades é factível um 
crescimento do PIB per capita de cerca de 7% ao ano, o que significa que a 
sua duplicação é possível entre 10 e 11 anos. Dito de outro modo, os mais de 
vinte e cinco anos consecutivos de guerra podem ter significado a perda da 
possibilidade de se ter multiplicado o rendimento médio por habitante por 2,8 
já descontado o crescimento verificado. 
 
Elevadas taxas de desemprego, para além dum desperdício económico - 
oportunidades de crescimento perdidas - são um problema social. Quando a 
taxa de desemprego alcança dois dígitos, então o problema é económico, 
social e político. 
 
 4.3.- O ciclo de negócios e o hiato do produto 
 
A inflação, o crescimento e o desemprego estão relacionados com o ciclo de 
negócios. O ciclo de negócios é um padrão mais ou menos regular de 
expansão (recuperação) e de contracção (recessão) da actividade 
económica em torno de uma trajectória tendencial de crescimento. O 
caminho tendencial do PNB é a trajectória que a produção de bens e serviços 
finais tomaria se os factores de produção fossem integralmente utilizados. 
 
Num auge cíclico, a actividade económica é alta em relação à tendência. Em 
declínio cíclico pode ser alcançado o ponto mais baixo da actividade 
económica. Inflação, crescimento e desemprego têm, cada um deles, padrões 
cíclicos bem claros (ver Boletim Trimestral nº 8, de Maio de 2000, do Ministério 
do Planeamento, onde estão identificados, desde 1991, os ciclos económicos 
verificados para Angola). 
 
O pleno emprego dos factores de produção é um conceito económico e não 
físico. Do ponto de vista físico, o trabalho está totalmente empregado se 
determinada pessoa trabalhar 40 horas por semana durante todo o ano. Do 
ponto de vista económico, o pleno emprego da força de trabalho ocorre quando 
alguém necessita de um emprego e pode encontrá-lo num período de tempo 
razoável. Uma vez que a definição económica não é precisa, geralmente 
considera-se o factor trabalho em pleno emprego quando a sua taxa de 
desemprego for da ordem dos 5,5%. 
 
Do mesmo modo, o capital nunca é totalmente usado num ponto de vista 
estritamente físico: os equipamentos industriais e agrícolas, os edifícios 
industriais e de escritórios, os meios rolantes, etc., são utilizados apenas 
durante uma parte do dia. Do ponto de vista económico, o “stock” de capital fixo 
está em pleno emprego se a sua taxa de utilização corresponder, por exemplo, 
a dois turnos de trabalho físico diário. 
FINANÇAS PÚBLICAS: SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS ALVES DA ROCHA 
 17 
 
O produto não se encontra sempre no seu nível tendencial, isto é, o nível 
correspondente ao pleno emprego económico dos factores de produção. Pelo 
contrário ocorrem sempre flutuações em torno da sua tendência de longo 
prazo. Durante uma fase de expansão ou de recuperação, o emprego dos 
factores de produção aumenta, donde o aumento do produto (“coeteris 
paribus”). O produto pode aumentar para um nível acima do tendencial, pelo 
facto de as pessoas oferecerem mais trabalho (horas extraordinárias) e dos 
equipamentos industriais ser utilizado por três turnos diários. 
 
Durante uma fase recessiva, o desemprego dos factores de produção aumenta 
e, consequentemente, menos produto é produzido relativamente ao possível 
com os recursos e a tecnologia disponíveis. 
 
Assim sendo, o hiato do produto mede a diferença entre o produto real e o 
produto potencial - aquele que a economia poderia fornecer com o pleno 
emprego dos recursos existentes. O produto de pleno emprego é, também, 
chamado produto potencial. 
 
HP (hiato do produto) = PNBp - PNBr 
 
Fica, então, claro que podem ocorrer hiatos positivos e hiatos negativos do 
produto. O hiato do produto é positivo se o produto potencial for superior ao 
produto real, ou seja 
 
PNBp - PNBr  0 
 
O hiato do produto é negativo nos casos contrários, isto é, 
 
PNBp - PNBr  0 
 
Nestes casos costuma dizer-se que as economias estão em fase de 
sobreaquecimento, sendo, portanto, mais prováveis os fenómenos 
inflacionistas. 
 
O hiato positivo do produto aumenta durante as fases recessivas das 
economias, ocorrendo que maiores quantidades de recursos deixam de ser 
economicamente utilizados e o produto real situa-se a níveis mais baixos do 
produto potencial. Contrariamente, durante uma fase de expansão/recuperação 
o hiato do produto diminui, podendo, em determinadas circunstâncias, ser 
negativo. 
 
É muito difícil definir o nível de produção potencial duma qualquer economia. 
Por exemplo, nos anos 60 acreditava-se que o pleno emprego correspondia a 
uma taxa de desemprego entre 4 e 4,5% da força de trabalho. Variações na 
composição da força de trabalho - por exemplo, maior proporção de 
trabalhadores mais jovens e de mão-de-obra feminina - fizeram surgir na 
década de 80 a convicção de que o pleno emprego corresponderia a uma taxa 
de desemprego em torno dos 5,5%. 
 
FINANÇAS PÚBLICAS: SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS ALVES DA ROCHA 
 18 
Os dados de produção potencial são calculados de diferentes maneiras. Uma 
delas identifica como PNB potencial o nível de produção que existiria se a taxa 
de desemprego fosse de 6%. Outra forma é por intermédio da determinação da 
tendência de longo prazo do produto. 
 
Relativamente ao primeiro caso, uma das fórmulas a ser utilizada poderia ser, 
 
PNBp = e * E 
 
sendo neste caso e - valor da produtividade e E - volume deemprego 
correspondente a uma taxa de desemprego de pleno desemprego de 6%. 
 
Os últimos dois séculos e meio do segundo milénio foram caracterizados por 
dois fenómenos novos na história económica da humanidade: 
 
 * o crescimento económico moderno, designação pertencente a Simon 
Kuznets (Modern Economic Growth Rate, Structure and Spread, New Haven, 
Yale University Press, 1966), e segundo a qual este fenómeno resulta da 
aplicação sistemática do conhecimento científico à resolução dos problemas 
económicos e conducente a um processo sustentável de melhoria das 
condições de vida da população; 
 * as flutuações económicas, de tipo diferente das ocorridas até então 
que tinham sido de baixa intensidade e próprias de economias de forte pendor 
agrário e de troca, que vieram a ser denominadas de ciclos económicos, no 
sentido científico que foi referido mais atrás, ou seja, alternância de fases de 
expansão com fases de regressão da actividade económica. Os ciclos 
económicos foram identificados durante os referidos dois séculos e meio por 
economistas de grande nomeada, tendo os ciclos recebido os seus nomes: 
ciclos de Juglar para referir as alternâncias de crescimento e recessão de 
aproximadamente 8-10 anos, os ciclos de Schumpeter de aproximadamente 
4 anos e os ciclos longos de Kondratiev de 50 anos de duração. 
 
Tal como nas questões teóricas abordadas até aqui, também nesta importante 
matéria dos ciclos económicos as escolas de pensamento não são 
convergentes quanto às suas causas científicas e, por consequência, quanto 
às soluções - políticas económicas - a adoptar. 
 
Importa começar por entender quais os factores que as diferentes correntes do 
pensamento económico identificam como explicativos do crescimento 
económico, na acepção de Simon Kuznets. 
 
As explicações clássicas para o crescimento económico moderno são a 
acumulação de capital e o progresso técnico. Joseph Schumpeter tem uma 
visão um pouco diferente. Distingue o crescimento do desenvolvimento. O 
primeiro como resultado apenas da acumulação de capital, enquanto o 
segundo como uma consequência das inovações tecnológicas, das inovações 
organizativas e das inovações de espaço (resultantes das vantagens 
comparativas e da dimensão do mercado). 
 
FINANÇAS PÚBLICAS: SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS ALVES DA ROCHA 
 19 
As escolas clássica e neoclássica e a chamada nova escola clássica sustentam 
que os ciclos resultam de perturbações (positivas ou negativas, mas 
passageiras) do equilíbrio geral dos mercados, seja por razões relacionadas 
com as variáveis da procura e da oferta (teoria dos ciclos reais), seja por 
causas relativas com as variáveis monetárias e financeiras (teoria dos ciclos 
monetários). O cerne destas abordagens é o equilíbrio em que os mercados se 
têm de encontrar, sendo que as situações de desajustamento são passageiras 
e se compensam pela actuação dos mecanismos automáticos de mercado. O 
argumento básico pode ser assim sintetizado em termos de equilíbrio 
económico geral: como a procura agregada tem de ser igual à oferta agregada 
e os mercados têm de estar em equilíbrio, os excessos parciais da procura 
sobre a oferta têm de ser compensados por excessos parciais da oferta sobre a 
procura. A existência de funções de produção e de utilidade bem comportadas 
(ou seja, de acordo com os pressupostos neoclássicos, ver parágrafo 3.1) e os 
mecanismos automáticos de mercado (aumentos dos preços quando a procura 
supera o oferta e reduções dos preços quando a oferta excede a procura) 
levarão à coincidência precisa entre a oferta e a procura em todos os 
mercados. Trata-se do processo de “tâtonnement” de Léon Walrass. Tal como 
todos os outros, os mercados dos factores de produção têm, também, de estar 
em equilíbrio, pelo que não haverá desemprego de factores e a produção 
efectiva coincide com a produção potencial (hiato do produto nulo). 
 
A contestação mais radical desta perspectiva da corrente dominante do 
pensamento sobre os ciclos económicos provém das correntes keynesianas e 
neokeynesianas. A principal novidade destes pontos de vista é a de que 
existem pelo menos algumas situações depressivas que não podem ser 
ultrapassadas pelos mecanismos automáticos aceites pela corrente dominante. 
Nomeadamente quando as suas amplitude e profundidade são de grande 
envergadura. Ou seja, os mecanismos automáticos de mercado poderão ser 
suficientes para ultrapassar crises de pequena dimensão. A grande depressão 
de 1929-32 aparece como o exemplo ilustrativo das contestações keynesianas 
e neokeynesianas. Daí que nestas situações se defenda a intervenção do 
Estado sob a forma de políticas monetárias e orçamentais de curto prazo com 
o objectivo de se pôr termo à fase depressiva do ciclo económico (de frisar que 
também a intervenção do Estado exactamente nestas mesmas áreas é 
reclamada para garantir a estabilidade e o equilíbrio económico). 
 
Pelo contrário, para Karl Marx e os marxistas - que também dedicaram 
extensas reflexões sobre o comportamento económico do capitalismo a longo 
prazo - o esquema básico clássico de interpretação das crises está correcto e é 
aceite. A principal diferença em relação às correntes dominantes não tem a ver 
com a teoria dos ciclos, mas com a visão sobre a dinâmica de desenvolvimento 
a longo prazo do capitalismo. A tese principal é a da baixa tendencial da taxa 
de lucro, expressa pela relação entre a mais-valia e a o “stock” de capital fixo e 
circulante, 
 
TL = S / C + V 
 
Dado que se assume que a tendência do capitalismo, na sua trajectória de 
crescimento, é a de utilizar comparativamente mais capital do que factor 
FINANÇAS PÚBLICAS: SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS ALVES DA ROCHA 
 20 
variável - força de trabalho que gera a mais-valia - a composição orgânica do 
capital tem tendência a aumentar, 
 
COC = C / (C + V) , 
 
e a taxa de lucro de diminuir, donde, como resultado final e atendendo a que o 
móbil do modo de produção capitalista é o lucro o desaparecimento deste 
sistema de produção, acabando-se, simultaneamente, o problema dos ciclos 
económicos que é inerente à natureza intrínseca do capitalismo. O 
planeamento central da economia, inerente a um modo de produção socialista, 
é suposto conter todos os ingredientes de superação das flutuações 
económicas. 
 
A outra visão é a de Schumpeter (Business Cycles: a Theoretical, Historical 
and Statistical Analysis of the Capitalist Process, New York-London, McGraw-
Hill, 1939). Seguramente a que importantes novidades trouxe à interpretação 
das flutuações económicas e geralmente aceite como a mais científica e, por 
consequência, a de maior aceitação. A ideia central do pensamento deste 
grande economista é a de que as inovações que permitem o desenvolvimento 
económico, são, também, causa das flutuações económicas. O raciocínio 
schumpeteriano é encadeado da seguinte maneira: toda a inovação com 
sucesso é base para uma vaga expansionista primária, à qual é, geralmente, 
adicionada uma vaga expansionista secundária, baseada na difusão da 
inovação e em iniciativas económicas que encontram um enquadramento 
favorável nos efeitos da primeira vaga. Diferentes inovações terão, 
naturalmente, diferentes impactos na actividade económica, o que justifica a 
existência dos ciclos económicos, com diferentes períodos e amplitudes. O 
consequente esgotamento dos processos que estão na base da onda 
expansionista secundária provoca, por sua vez, a depressão. 
 
Retêm-se do pensamento de Schumpeter duas ideias fundamentais: 
 
 * a primeira é a de que o motor das transformações do sistema 
económico são as inovações e de que sem elas as sociedades não se 
desenvolvem, no sentido de Kuznets; 
 * a segunda é a de que tem de haver um controlo dos efeitos das vagas 
de inovações, de modo a conseguir-seo mínimo prolongamento da fase 
ascendente dos ciclos económicos. 
 
A questão que se deve colocar perante as diferentes explicações para as 
flutuações económicas e a constatação de que os últimos 250 anos foram 
pródigos em ciclos económicos de expansão e depressão, é a de se saber se 
no novo milénio os ciclos vão continuar a existir. As respostas são várias: 
 
 * enquanto existirem razões para esperar que o fluxo de inovações de 
base científica continue, então também as flutuações económicas existirão. E 
as razões são: o crescimento económico moderno fornece condições para um 
desenvolvimento crescente da investigação científica (crescimento económico 
endógeno), porque existem recursos financeiros para a financiar; tendência da 
economia mundial explorar novos espaços (os mares abissais, o espaço aéreo 
FINANÇAS PÚBLICAS: SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS ALVES DA ROCHA 
 21 
e dos satélites, novos planetas, etc.); balanço recursos-população 
tendencialmente desequilibrado (a quantidade de recursos naturais por 
habitante tem vindo a diminuir significativamente ao longo das últimas 
décadas), o que vai implicar alterações significativas no paradigma tecnológico 
futuro; finalmente, a própria solução dos problemas ecológicos vai exigir 
crescentes inovações; 
 * os ciclos económicos do futuro já não serão os mesmos do passado, 
porque, entretanto, a economia criou mecanismos de actuação e de 
ultrapassagem muito menos dolorosos. Mecanismos como a segurança social, 
o subsídio de desemprego e o apoio a empresas em dificuldades 
momentâneas, constituem formas de se reduzirem os custos da recessão 
económica. Deste modo, as dificuldades das crises são hoje muito mais 
amaciadas do que o foram nos tempos anteriores. 
 
 4.4.- Relações entre as variáveis macroeconómicas 
 
De tudo o que foi dito até aqui presume-se que se estabelecem importantes 
relações entre a maioria das variáveis macroeconómicas de crescimento, 
desemprego e inflação. 
 
 (a) Crescimento e desemprego 
 
Já foi referido que variações no emprego de factores de produção são uma das 
fontes do crescimento económico (PNB real). As evidências teóricas são no 
sentido de que altas taxas de crescimento do PNB real sejam acompanhadas 
de decrescimento do desemprego, porquanto o trabalho é um dos factores de 
crescimento das economias. As evidências empíricas, porém, não costumam 
ser, exactamente, neste sentido, encontrando-se com bastante frequência 
situações de elevado crescimento económico com incremento acentuado do 
desemprego. O caso de Angola é paradigmático a este propósito. Desde que 
os dois fenómenos passaram a ser estimados com alguma aproximação 
(Janeiro de 1991) tem-se constatado que o crescimento do PIB é muito 
irregular, fortemente dependente da produção do sector petrolífero e do que os 
mercados internacionais decidirem sobre os respectivos preços. O desemprego 
não tem cessado de aumentar a uma cadência anual crescente, mesmo nos 
anos em que o PIB apresentou apreciáveis impulsos positivos. O estudo 
comparado entre o comportamento do PIB e do emprego em Angola não 
permite detectar nenhum limiar a partir do qual as dinâmicas das duas variáveis 
sejam ascendentemente positivas. Em economias mais estruturadas as 
evidências empíricas apontam para uma taxa média anual de crescimento do 
PNB de 2,5% como o limite inferior a partir do qual o emprego se ressentirá 
positivamente. Ou seja, abaixo de 2,5% o crescimento económico não é 
extensivo à massa de trabalhadores que aflui ao mercado de trabalho, o que 
em termos relativos significa aumento do desemprego. Para que o crescimento 
económico gere emprego (redução do desemprego) é necessário que a 
variação do PNB seja tal que o coloque perto do seu nível potencial. E a razão 
é simples: o investimento privado só aumentará de forma sistemática se as 
expectativas sobre o crescimento económico forem positivas. 
 
FINANÇAS PÚBLICAS: SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS ALVES DA ROCHA 
 22 
A relação entre o crescimento económico e a taxa de desemprego é conhecida 
como a lei de OKUN (Arthur Okun da Brookings Institution e durante algum 
tempo presidente do Conselho de “Economic Advisers” do Presidente dos 
Estados Unidos). A lei de OKUN estipula que a taxa de desemprego declina 
quando a taxa de crescimento do PNB real se situar acima da sua taxa 
tendencial de crescimento (não confundir com taxa potencial de crescimento). 
Esta taxa tendencial depende de país para país e do respectivo estado da sua 
economia. Por exemplo, para as mais fortes economias da União Europeia a 
taxa tendencial de crescimento do PNB é calculada em 2,8%, enquanto que 
para os Estados Unidos é um pouco mais baixa, em torno dos 2,5%. Estes 
valores têm a seguinte interpretação prática: por cada ponto percentual de 
crescimento do PNB real acima da sua taxa tendencial, a taxa de desemprego 
cai 0,357 e 0,4 pontos percentuais, respectivamente na Europa e nos Estados 
Unidos. Em termos matemáticos a relação de Okun apresenta a seguinte 
configuração, 
 
u = -1 / pnbt (pnbr - pnbt) 
 
onde u - taxa de desemprego, pnbt - taxa de crescimento do PNB real 
tendencial e pnbr - taxa de crescimento real do PNB efectiva. A expressão 
numérica –1/pnbt pode ser considerado um parâmetro, já que se refere à 
tendência de crescimento de longo prazo duma economia. 
 
Supondo que o crescimento tendencial duma economia se processa a uma 
taxa de 5% ao ano, o parâmetro assume o valor constante de 0,2 e só 
incrementos anuais da ordem dos 20% no PNB real seriam suficientes para 
induzirem decréscimos interessantes na taxa anual de desemprego (mais ou 
menos 3 pontos percentuais)1. 
 
No caso de Angola, em que o crescimento tendencial da sua economia e 
devido às circunstâncias aberrantes conhecidas não deve suplantar os 0,7%2 
em taxa anual entre 1990 e 2000, seria necessária, para o futuro, uma taxa de 
crescimento real do PNB de pelo menos 10% em média anual, para se 
induzirem decréscimos anuais na taxa de desemprego na ordem dos 13,3 
pontos percentuais. É por isto que muitos investigadores da realidade 
económica de Angola argumentam que numa situação de paz, de estabilidade 
democrática e de transparência das contas públicas, se podem reunir as 
condições mínimas necessárias para uma redução expressiva do desemprego, 
atendendo aos elevados índices de ociosidade das capacidades instaladas3, 
responsáveis pela baixa tendência de crescimento depois da independência. 
74 
 
1
 Este valor elevado para a taxa de crescimento real do PIB pode dever-se à circunstância do crescimento 
tendencial estar próximo do crescimento potencial. 
2
 Segundo o African Development Indicators, Banco Mundial, 2002, a taxa de crescimento do PIB de 
Angola a preços constantes de 1985, entre 1990 e 2000 foi de 0,7% ao ano, o que se pode considerar a sua 
taxa de crescimento tendencial (não potencial). Se forem considerados os anos de 2001 e 2002 esta taxa 
pode subir para 1,25%. 
3
 Esta é uma matéria de grande controvérsia. Os empresários afirmam-se peremptoriamente pela 
existência dum elevado índice de desutilização da capacidade instalada. Alguns investigadores duvidam, 
porque, entretanto, ocorreu uma forte desvalorização tecnológica e de conhecimentos técnicos dos 
trabalhadores. 
FINANÇAS PÚBLICAS: SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS ALVES DA ROCHA 
 23 
 
A fórmula matemática da lei de Okun pode, também, ser usada para se indagar 
quanto de crescimento económico real é requerido para se reduzir a taxa de 
desemprego em um ponto percentual. 
 
Para Angola - admitindo que a taxa tendencial de crescimento foi, 
efectivamente, de 0,7% entre 1990 e 2000 - os cálculos conduziriam ao valor 
de cerca de 1,4%.-1 = -1,43 * (pnbr - 0,7) 
 
A lei de Okun é um guia útil para as políticas económicas, pelo facto de permitir 
descortinar como um alvo particular de crescimento económico poderá afectar 
a taxa de desemprego ao longo do tempo. Admitamos que para Angola a taxa 
de emprego de pleno emprego (ou a taxa natural de desemprego, ou ainda, a 
“non accelerating inflation rate of unemplyment” - NAIRU) seja, actualmente, de 
10% (atendendo à desindustrialização que o país sofreu, à destruição das infra-
estruturas, à descapitalização de conhecimentos e de “know-how” dos 
trabalhadores, etc.) e que face aos actuais 35% de taxa de desemprego se 
pretenda saber em quantos anos o país poderá voltar a trabalhar em situação 
próxima do pleno emprego. A resposta depende da velocidade a que a 
economia pode crescer. Por exemplo, para um crescimento real de 10% ao ano 
e um modelo de crescimento extensivo que priorizasse a criação de emprego, 
levar-se-iam cerca de 3 a 4 anos. Só que, a uma cadência de 10% a própria 
taxa tendencial de crescimento se elevaria, sendo, por isso, necessários mais 
anos para a obtenção do desiderato pretendido. Com efeito, bastaria que a 
taxa tendencial se situasse nos 2,5% para serem necessários cerca de 12,5 
anos para se atingir o valor da NAIRU4. 
 
 (b) Inflação e ciclos económicos 
 
A doutrina clássica e neoclássica postula que políticas expansionistas do lado 
da procura agregada tendem a produzir inflação. Pelo contrário, períodos 
caracterizados por um baixo valor relativo da procura agregada tendem a 
reduzir a taxa de inflação. 
 
A inflação e o desemprego são os maiores problemas macroeconómicos dum 
país. Qualquer um destes fenómenos tem custos económicos e sociais 
evidentes. No entanto, os custos da inflação são muito menos óbvios do que os 
do desemprego. Neste caso, fica claro que o produto potencial é, em parte 
desperdiçado, sendo, portanto desejável a sua redução. Em relação à inflação 
não existe nenhuma perda óbvia do produto, manifestando-se as suas 
consequências mais evidentes no poder de compra dos salários e rendimentos. 
 
 (c) Desemprego e inflação 
74 
 
4
 (-1=-0,4(pnbr-2,5)), donde pnbr=5%, ou seja, para reduzir em 1 ponto percentual o desemprego seriam 
necessários 5% de crescimento económico. Se a taxa projectada de crescimento for de 10% ao ano, então 
o desemprego é reduzido em 2 pontoa em cada ano. Reduzir o desemprego de 35% para próximo da 
julgada taxa de desemprego natural de 10%, isto é, 25 pontos, levaria 25/2=12,5 anos. 
FINANÇAS PÚBLICAS: SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS ALVES DA ROCHA 
 24 
 
Existe uma relação clássica que descreve a relação entre a inflação e o 
desemprego, conhecida como relação de PHILIPS e que descreve 
empiricamente a relação entre salários e preços, ou entre inflação e 
desemprego: quanto mais alta a taxa de desemprego, menor será a taxa de 
inflação. Esta relação ficou célebre nos anos 50 no Reino Unido tendo-se 
tornado, desde então, uma das pedras angulares da discussão 
macroeconómica. A curva de Philips sugere que menor desemprego pode ser 
sempre obtenível à custa de mais inflação, ou então que menor inflação é 
possível só que à custa de maior desemprego. Ou seja, a curva de Philips 
sugere uma relação (ou troca, “trade-off”) entre inflação e desemprego. Cumpre 
aos decisores públicos arbitrar este conflito entre objectivos cruciais das 
políticas económicas. 
 
A relação de Philips tem duas perspectivas de análise. Uma de curto prazo e 
que postula que a correspondente curva não permanece estável, deslocando-
se de acordo com as variações nas perspectivas inflacionistas. A longo prazo 
parece não existir um “trade-off” significativo entre inflação e desemprego, uma 
vez que a taxa de desemprego é basicamente independente da taxa de 
inflação num período longo. Os “trade-off” de curto prazo e de longo prazo 
entre inflação e desemprego são uma das grandes preocupações dos 
responsáveis pelas políticas económicas e são os determinantes básicos do 
sucesso potencial das políticas de estabilização. 
 
Muito recentemente têm ocorrido factos que desafiam a relação de Philips, 
pondo em causa as suas conclusões. Estes factos estão, neste momento, 
restringidos à economia americana e prendem-se com uma situação de 
crescimento económico sem desemprego e sem pressões inflacionistas que 
decorre há quase 110 meses consecutivos desde 1991. Parece que estas 
evidências colocam definitivamente em causa a relação de Philips, que desde 
1958 tem sustentado as políticas económicas, ao estabelecer a oposição entre 
inflação e desemprego com o crescimento (políticas “stop and go”). A essência 
do debate actual prende-se com o motor desse crescimento e do papel do 
progresso técnico nessa dinâmica. 
 
A verdade é que o crescimento económico nos Estados Unidos entre 1990 e 
2000 evitou o desemprego - taxa actual de 4,1%, a mais baixa dos últimos 30 
anos - e a inflação. Os defensores da Nova Economia argumentam que se 
deve ao efeito das novas tecnologias que, ao permitirem rendimentos 
crescentes, consentem que as empresas aumentem os salários dos seus 
trabalhadores, sem aumentar o preço dos produtos, evitando-se, assim e por 
esta via, a factura inflacionista do (sobre)aquecimento económico. 
 
 4.5.- Oferta e Procura agregadas 
 
Os dois conceitos-chave na análise do produto, inflação, crescimento e na 
definição das políticas económicas são a procura agregada e a oferta 
agregada. A procura agregada pode ser definida como constituída pelos gastos 
de consumo privado, gastos de consumo público, pelo investimento público e 
pelo investimento privado. Também pode ser abordada como o lugar 
FINANÇAS PÚBLICAS: SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS ALVES DA ROCHA 
 25 
geométrico das combinações de níveis de preços e níveis de produto para as 
quais os mercado real e monetário estão simultaneamente em equilíbrio. 
 
A oferta agregada corresponde à produção de todos os mercados e de todas 
as empresas, podendo, por isso, ser representada pelo PIB. 
 
O nível de produção e o nível de preços são determinados pela interacção 
entre a oferta e a procura agregadas. 
 
Que relações se estabelecem entre a oferta e procura agregadas, produto e 
emprego e os preços? A procura agregada é a relação entre gastos em bens e 
serviços e o nível de preços. Se a produção for relativamente elástica - se não 
se apresentarem limites ao seu aumento - o incremento da procura agregada 
fará aumentar o produto e o emprego, com pequenos efeitos sobre os preços. 
Esta forma de abordar o sistema económico e em termos da actuação concreta 
sobre os seus mecanismos é conhecido como o “demand side economics”, 
sendo, particularmente indicado para as fases decrescentes - depressivas - do 
ciclo económico. 
 
Porém, se a economia estiver próxima do pleno emprego, o aumento da 
procura agregada não poderá ser satisfeito pela produção, que na zona de 
pleno emprego ou na zona de produto potencial se torna rígida, e o equilíbrio 
só poderá ser alcançado pelo deslocamento dos preços. As políticas que visam 
aumentar a produção de modo a que as tensões inflacionistas sejam evitadas 
são conhecidas por supply side economics” e utilizam instrumentos do domínio 
fiscal (redução dos impostos sobre os lucros empresariais) e de 
desregulamentação dos mercados para se aumentar a produtividade. 
 
A figura seguinte apresenta as curvas de oferta e procura agregadas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O eixo vertical P é o nível geral de preços e o eixo horizontal representa o nível 
de produto real ou o rendimento nacional. 
 
A procura agregada (DA) é a procura total de bens e serviços na economia e 
depende do nível agregado dos preços. O nível da procura agregada pode ser 
influenciadopela política fiscal (mais impostos menor rendimento disponível e 
Y 
P 
DA 
OA 
p0 p0 
FINANÇAS PÚBLICAS: SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS ALVES DA ROCHA 
 26 
menor procura agregada) e pela política monetária (mais restrições ao crédito 
menor procura de investimento). 
 
A curva de oferta agregada mostra o nível de preços associado ao nível do 
produto. A oferta agregada pode, em certos limites, ser influenciada pela 
política fiscal. 
 
A procura e a oferta agregadas interagem para determinar o nível de preços e 
de produto. Na figura anterior p0 é o nível de preços de equilíbrio e Y0 o nível 
de produto de equilíbrio. Se a curva DA se deslocar para cima e para a direita a 
quantidade de ajustamento no produto e nos preços dependerá da inclinação 
da curva da oferta agregada (estas relações de maior ou menor 
proporcionalidade dependem da elasticidade das curvas). Se a curva OA da 
oferta agregada for muito inclinada (rigidez da produção) então a variação dos 
preços será grande, enquanto que a variação do produto será pequena. Se 
pelo contrário a curva OA se aproximar da horizontal (produção abaixo do 
pleno emprego, hiato do produto positivo) a variação da procura agregada 
induzirá fortes aumentos do produto e fracos aumentos nos preços. 
 
Um dos pontos cruciais do ajustamento macroeconómico é o de que a curva de 
oferta agregada não é uma linha recta. 
 
A figura seguinte pretende justamente traduzir este facto: para baixos níveis de 
produto, inferiores ao nível do produto potencial, a curva de oferta agregada é 
quase plana. Quando o produto efectivo está abaixo do produto potencial Y*, 
há uma tendência ténue para que os preços dos bens e os salários caiam. Em 
caso contrário, a tendência é para o aumento dos preços dos bens e dos 
factores de produção. Donde os efeitos das variações da procura agregada 
sobre o produto e os preços dependem do nível relativo do produto potencial. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A ideia de que o produto aumenta para se alcançar o nível da procura sem 
incremento dos preços leva à aplicação de políticas económicas activas. Sob 
estas circunstâncias, os responsáveis pelas políticas económicas têm 
tendência a aplicar políticas expansionistas como forma de aumentar a 
DA 
OA 
Y 
P 
Y* 
FINANÇAS PÚBLICAS: SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS ALVES DA ROCHA 
 27 
procura, forçando-se a economia a movimentar-se em direcção a níveis mais 
altos de emprego e de produto. Estas políticas são aconselháveis sempre que 
o produto efectivo estiver substancialmente abaixo do produto potencial, 
havendo, portanto, recursos ociosos e défice de procura. Nos casos em que 
não exista nenhum hiato significativo do produto qualquer tentativa de expandir 
o produto pelo lado da procura encontra sérias restrições do lado da oferta e 
força os preços no sentido da alta. Nestes casos, um modelo de política 
económica que assuma que o produto é determinado pela procura e que, 
portanto, uma expansão desta expandirá, também, o produto pode ser 
simplesmente desapropriada. 
 
 4.6.- Política macroeconómica 
 
A breve análise sobre a procura agregada e a oferta agregada sugeriu que em 
determinadas circunstâncias existe espaço para a política macroeconómica 
actuar no sentido da expansão ou contracção da procura e, por arrastamento, 
do produto. Dispõem, para isso os responsáveis da política económica, de dois 
instrumentos, a saber, a política monetária e a política fiscal. 
 
A política monetária deve ser da exclusiva responsabilidade dos Bancos 
Centrais - Banco Nacional de Angola no caso de Angola - devendo, para o 
efeito, utilizarem instrumentos indirectos, tais como o “stock” de moeda, a taxa 
de redesconto, as taxas de juro e os limites de crédito. 
 
A política fiscal (orçamental) deve ser da competência dos Ministérios das 
Finanças e ser controlada pelos Parlamentos. Dois instrumentos se destacam 
neste tipo de política, os impostos e os gastos do Estado (consumo público). 
 
Apesar destas duas políticas serem das mais usadas, os seus efeitos sobre a 
economia (procura e oferta agregadas) não são totalmente previsíveis, na sua 
duração e intensidade. Estas duas incertezas estão no âmago dos problemas 
das políticas de estabilização. As políticas de estabilização utilizam as 
políticas monetárias e fiscais para moderarem as flutuações da economia, 
especialmente nos domínios do crescimento do PNB real, do desemprego 
e da inflação. As políticas de estabilização são também conhecidas por 
políticas anticíclicas, isto é, que visam moderar o ciclo de negócios. Políticas 
de estabilização bem sucedidas suavizam o ciclo, enquanto que as mal 
sucedidas agravam as flutuações económicas. Os monetaristas entendem 
que as causas das flutuações das economias têm a ver com a intervenção 
do Estado na economia - através, sobretudo, dos seus gastos - e não com 
a instabilidade da economia do sector privado. 
 
Os insucessos das políticas de estabilização são devidos a dois tipos de 
razões: incerteza quanto aos efeitos reais sobre a procura e a oferta agregadas 
e escala de preferência pública quanto ao desemprego e à inflação. 
II – CONTABILIDADE NACIONAL – SUMÁRIA ABORDAGEM 
 
 
Referências: Texto sistematizado a partir de: Macroeconomics de Rudiger Dornubush e 
Staneley Fischer, capítulo 2; Finanças Públicas e Política Macroeconómica de Aníbal Cavaco 
Silva e João Luís César das Neves, Universidade Nova de Lisboa, 1992, capítulo 1. 
 
 
A Macroeconomia preocupa-se, principalmente, com a determinação do 
produto nacional, o nível dos preços, os índices de desemprego, as taxas de 
juro e com outros assuntos discutidos no capítulo I. Uma etapa necessária à 
compreensão de como estas variáveis são estabelecidas é a da determinação 
do Produto Nacional ou do Rendimento Nacional, o que é feito pela 
Contabilidade Nacional. 
 
A Contabilidade Nacional deve fornecer regularmente estimativas dos 
agregados macroeconómicos, como o Produto Nacional Bruto, que é a medida 
básica do desempenho económico dos países. Além disso, a Contabilidade 
Nacional é, também, útil por nos fornecer um acervo conceptual para a 
descrição e compreensão das relações entre as três variáveis económicas 
mais importantes: produto, rendimento e despesa nacional. Estas relações 
costumam ser descritas por intermédio dos modelos económicos. 
 
 1.- Produto Nacional Bruto e Produto Nacional Líquido 
 
São duas grandezas macroeconómicas fundamentais para a compreensão do 
funcionamento dos mecanismos da economia. 
 
 1.1.- Cálculo do Produto Nacional Bruto 
 
O Produto Nacional Bruto é o valor de todos os bens e serviços que os factores 
de produção nacionais produziram no decurso de um determinado período. A 
actividade destes factores de produção é avaliada aos preços correntes de 
mercado. 
 
Todos os países devem ter disponíveis estatísticas sobre o Produto Nacional 
ou do Produto Interno. Em Angola e de acordo com informações do Instituto 
Nacional de Estatística - organismo responsável por todas as estimativas dos 
agregados da contabilidade nacional - o Produto Interno Bruto apresentou os 
valores seguintes (em milhões de dólares dos Estados Unidos): 
 
 
 1991........................... 12,127 
 1992........................... 8,702 
 1993........................... 6,645 
 1994........................... 4,706 
 1995........................... 5,365 
 1996........................... 6,535 
 1997........................... 7,645 
 1998........................... 6,449 
 1999........................... 5,669 
FINANÇAS PÚBLICAS – SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS ALVES DA ROCHA 
 29 
 
Recordando que uma das grandes finalidades da macroeconomia é, 
justamente, a de investigar ascausas do crescimento económico, certamente 
que seria interessante tentar compreender porque razões o PIB em Angola 
declinou, entre 1991 e 1999, mais de 50%. 
 
Existem vários aspectos a considerar no processo de estimativa do Produto 
Nacional Bruto. 
 
 (a) Bens finais e valor acrescentado 
 
O PNB é o valor dos bens e serviços finais produzidos. Por exemplo, se 
considerarmos a actividade de construção de automóveis, o valor que é 
projectado no PNB é o preço final do automóvel e não os preços dos pneus, 
das baterias e outros materiais que terão sido vendidos aos produtores dos 
automóveis. Estes componentes necessários àquelas produções são 
chamados de bens intermédios e os seus valores não são incluídos no PNB. 
Outro exemplo de bem intermédio é a farinha de trigo usada na fabricação de 
pão. Esta preocupação em separar convenientemente bem os produtos finais 
dos de natureza intermédia é justificada pelo risco da dupla contagem, que 
não se está totalmente certo de evitar no processo de cálculo do PNB. 
 
Na prática o problema da dupla contagem pode ser evitado trabalhando-se com 
o valor acrescentado. Em cada estádio da produção de um determinado bem 
apenas o valor que foi adicionado ao bem nesse estádio deve ser considerado 
como parte do PNB. Se este processo for seguido até ao fim, a soma dos 
valores acrescentados em cada estádio do processo geral de produção 
traduzirá o valor final correspondente à actividade económica dum determinado 
período de tempo. 
 
 (b) Produção corrente 
 
O PNB consiste no valor do produto produzido correntemente. Significa que se 
excluem as transacções de mercadorias já existentes. Por exemplo, o valor da 
construção duma nova casa deve entrar no cálculo do PNB do período a que a 
construção respeita, não se passando o mesmo se o edifício, entretanto, for 
vendido a outra entidade. Neste caso, apenas se considerará no cálculo do 
PNB eventuais comissões que a transacção tenha originado, uma vez que o 
corretor oferece um serviço corrente ao proporcionar um encontro entre 
vendedor e comprador. 
 
 (c) Preços de mercado 
 
O PNB avalia os bens e serviços finais aos preços de mercado. Este preço de 
mercado incluí, naturalmente, os impostos indirectos e eventuais subsídios à 
produção, donde o preço de mercado ser diferente do preço à saída da fábrica. 
O preço à saída da fábrica é o preço ao custo dos factores, ou seja, ao preço 
recebido pelos factores de produção que manufacturaram os bens. Assim, o 
PNB pode ser calculado aos preços de mercado e ao custo dos factores, de 
acordo com a fórmula seguinte 
FINANÇAS PÚBLICAS – SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS ALVES DA ROCHA 
 30 
 
PNBpm = PNBcf + Ti - S 
 
A avaliação a preços de mercado é um princípio que não se pode aplicar 
uniformemente, porque existem muitos componentes do PNB difíceis de 
avaliar. Não há um meio totalmente seguro de se avaliarem os serviços 
prestados pelas forças armadas ou forças policiais, ou mesmo os serviços 
gerais prestados pelo Estado. Outras actividades são, pura e simplesmente, 
omitidas do cálculo do PNB, como os serviços domésticos. Os serviços 
prestados pelo Estado são avaliados ao custo dos factores, donde serem os 
salários dos funcionários públicos considerados para representarem a 
contribuição do Estado para o PNB. 
 
 (d) PNB e o Produto Interno Bruto 
 
A medição da actividade económica num país pode ser feita de três maneiras 
distintas, correspondentes a três tipos de actividade: produção, despesa (nos 
bens e serviços produzidos) e distribuição do rendimento (gerado na 
produção). 
 
 - óptica da produção 
 
Ao valor dos bens e serviços (produtos) finais, líquidos da sua componente 
importada produzidos num país chama-se produto interno bruto. Bens e 
serviços finais são os que se destinam a ser consumidos, investidos ou 
exportados e não a serem consumidos na produção de outros produtos. 
 
Na produção interna, realizada dentro das fronteiras nacionais, são utilizados 
factores de produção propriedade de não residentes, assim como factores de 
produção de residentes são utilizados no estrangeiro. Se ao produto interno 
bruto adicionarmos os rendimentos transferidos para Angola de factores de 
produção que os nacionais residentes possuem no estrangeiro e subtrairmos 
os rendimentos transferidos para fora do país de factores de produção de não 
residentes, obtém-se o produto nacional bruto, concluindo-se que o que 
distingue o PNB do PIB é o critério da residência e não o da nacionalidade. 
 
Durante o processo produtivo o equipamento utilizado na produção desgasta-
se (deprecia-se). À redução do valor do equipamento chama-se amortizações. 
Assim, se ao produto interno bruto subtrairmos as amortizações, obtém-se o 
produto interno líquido ou produto nacional líquido. 
 
Já se sabe que o produto interno ou nacional pode ser valorizado ao custo dos 
factores ou a preços de mercado, incluindo aquele apenas as remunerações 
dos factores de produção. 
 
 - óptica da despesa 
 
Chama-se despesa interna (DI) à despesa feita em bens e serviços finais 
produzidos internamente. Não se deve confundir despesa interna com procura 
interna, que é a despesa feita pelos residentes em produtos de origem interna 
FINANÇAS PÚBLICAS – SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS ALVES DA ROCHA 
 31 
e de origem externa. A despesa realizada em bens e serviços finais compõem-
se dos elementos seguintes: 
 
 - consumo privado (C) que é a despesa das famílias residentes; 
 - consumo público (G) que é a despesa feita pelo sector público 
administrativo (vulgo despesas do Estado ou ainda do Governo), sendo, 
essencialmente, constituída em serviços (educação, saúde, policiamento, 
defesa, segurança, justiça, recolha de lixo, etc.) fornecidos gratuitamente ou 
não; 
 - investimento (I) que se divide em formação bruta de capital fixo (toda 
a despesa em maquinaria, edifícios e outro capital produtivo) e variação de 
existências (quantidade de bens produzidos mas ainda não vendidos). Esta 
variável, normalmente designada por VE é de capital importância para a 
antevisão dos movimentos de ascensão ou de recessão do ciclo económico, 
detendo na análise da conjuntura um papel fulcral; 
 - exportações (EX), que é a despesa feita pelos não residentes em 
bens e serviços vendidos por residentes. 
 
Nesta conformidade, a procura interna é a soma do consumo privado, do 
consumo público e do investimento. A procura externa é dada pelas 
exportações. A soma da procura interna e da procura externa constitui a 
procura total ou global. A despesa interna e de acordo com a sua definição é 
igual à procura global subtraída das importações (IM), ou seja, 
 
DI = C + G + I + EX - IM 
 
onde, 
 
C + G + I é a procura interna que contém as importações, EX a procura externa 
e a procura interna líquida de importações C + G + I - IM. 
 
A despesa interna é valorizada a preços de mercado (já incluindo os impostos 
indirectos líquidos de subsídios) e por isso e pela sua definição é igual ao 
produto interno bruto a preços de mercado. 
 
Adicionando à despesa interna os rendimentos líquidos recebidos do resto do 
mundo obtém-se a despesa nacional (DN) que é igual ao produto nacional 
bruto a preços de mercado: 
 
DI = PIBpm 
 
DN = PNB pm 
 
 
 - óptica do rendimento 
 
Como se viu a diferença entre as vendas e os consumos intermédios é o valor 
acrescentado bruto duma qualquer actividade económica. Este agregado da 
contabilidade nacional é valorizado pelas remunerações dos factores de 
produção utilizados, sendo por isso designado de custo de factores, uma vez 
FINANÇAS PÚBLICAS – SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS ALVES DA ROCHA 
 32 
que os impostos indirectos e os subsídios apenas afectam o que o utilizador 
final paga e não o que o produtor recebe. Deste valor acrescentado

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