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Fisiologia Renal Os rins filtram o sangue, excretam os dejetos metabólicos e retêm as substâncias filtradas necessárias ao organismo, incluindo água, glicose, eletrólitos e proteínas de baixo peso molecular. Os rins respondem a distúrbios hídricos, eletrolítico e acidobásicos, alterando especificamente a taxa de reabsorção ou secreção destas substâncias. Os rins também produzem hormônios que regulam a pressão arterial sistêmica e a produção de eritrócitos. Essas diversas funções são desempenhadas por uma extensa variedade de tipos celulares, cada qual com respostas específicas a sinais diretos e indiretos, dispostos em um padrão particular que forma a unidade funcional do rim, o néfron. O néfron é composto pelos glomérulos, onde o sangue é filtrado, e por seus segmentos renais associados, de onde as substâncias filtradas são absorvidas e para onde os componentes plasmáticos são excretados, o fluido tubular. No córtex renal, os néfrons intercalam o sistema de ductos coletores que atravessa o rim e desembocam na pelve renal. A primeira etapa da função renal é a filtração do sangue pelo glomérulo. O glomérulo é uma compacta rede de capilares que retém os componentes celulares e as proteínas de peso molecular médio a elevado nos vasos, enquanto expele um fluido quase idêntico ao plasma em sua composição hídrica e eletrolítica. Este fluido é o filtrado glomerular; e o processo de sua formação é a filtração glomerular. A taxa de filtração glomerular é uma medida clinicamente útil da função renal. A taxa de filtração glomerular (TFG) é expressa em milímetros de filtrado glomerular formados por minuto por quilograma de peso corporal (mL/min/kg). Para entender a TFG, pode ser útil pensar nesses números em termos mais tangíveis. Um cão beagle de tamanho médio com 10 kg de peso corporal, com uma TFG típica de 3,7 mL/min/kg, produziria aproximadamente 37 mL de filtrado glomerular por minuto ou 53,3 L (cerca de 14 galões) de filtrado glomerular por dia, o que corresponde a quase 27 vezes o volume de líquido extracelular de um beagle. O tufo glomerular é composto de uma rede de capilares. Nos mamíferos, o sangue da artéria renal flui para a arteríola aferente, que se divide em inúmeros capilares glomerulares. Os capilares se anastomosam, formando a arteríola eferente, que conduz o sangue filtrado para fora do glomérulo. O tufo glomerular é envolto pela cápsula de Bowman, que é revestida por uma camada única de células, o epitélio parietal. A área entre o tufo glomerular e a cápsula de Bowman é o espaço de Bowman. É aí que o filtrado glomerular aparece pela primeira vez. A partir daí ele entra no lúmen do primeiro segmento do túbulo proximal. A estrutura dos capilares glomerulares é importante na determinação da taxa e da seletividade da filtração glomerular. A parede dos capilares é composta por três camadas: o endotélio capilar, a membrana basal e o epitélio visceral. O endotélio capilar é uma camada única de células muito delgadas que está voltada para o sangue no lúmen capilar. As fenestras endoteliais (“janelas”) são poros transcelulares que conduzem água e componentes não celulares do sangue para a segunda camada da parede dos capilares glomerulares, a membrana basal glomerular (MBG). O terceiro compartimento da parede dos capilares glomerulares é o epitélio visceral, que é uma camada de células aglomeradas, entrelaçadas, denominadas podócitos. TAXA DE FILTRAÇÃO GLOMERULAR OU RITMO DE FILTRAÇÃO GLOMERULAR A taxa de filtração glomerular é determinada pela pressão média de filtração líquida, a permeabilidade da barreira de filtração e a área disponível para filtração. A parede dos capilares glomerulares cria uma barreira às forças que favorecem e se opõem à filtração do sangue. As forças que favorecem a filtração — ou seja, a movimentação de água e solutos através da parede dos capilares glomerulares — são: A pressão hidrostática do sangue dos capilares (que tende a fazer o líquido sair do capilar para o interstício) e a pressão oncótica do fluido no espaço de Bowman (o ultrafiltrado) – (pressão resultante da atração da agua pelas proteínas plasmáticas). Normalmente, a pressão oncótica do ultrafiltrado é irrelevante, pois as proteínas de peso molecular médio a elevado não são filtradas. Portanto, a principal força diretriz da filtração é a pressão hidrostática dos capilares glomerulares. As forças que se opõem à filtração são: A pressão oncótica plasmática nos capilares glomerulares e a pressão hidrostática no espaço de Bowman. A pressão de filtração líquida em qualquer ponto ao longo do capilar glomerular é a diferença entre a pressão hidrostática capilar, que favorece a filtração, e a pressão oncótica capilar adicionada à pressão hidrostática do ultrafiltrado, que se opõem à filtração. A taxa de filtração glomerular (TFG) ou RFG é o produto da pressão média de filtração líquida, a permeabilidade da barreira de filtração e a área de superfície disponível para a filtração. A permeabilidade da barreira de filtração é determinada pelas características estruturais e químicas da parede dos capilares glomerulares. As características estruturais e químicas da parede dos capilares glomerulares estabelecem a permeabilidade seletiva da barreira de filtração. A permeabilidade seletiva da barreira de filtração é responsável pelas diferenças na taxa de filtração dos componentes séricos. Normalmente, essencialmente todos os componentes celulares e proteínas plasmáticas do tamanho das moléculas de albumina ou maiores são retidos na corrente sanguínea, enquanto a água e os solutos são espontaneamente filtrados. Em geral, as substâncias com raio molecular maior ou igual a 4 nm não são filtradas, enquanto as moléculas com raio menor ou igual a 2 nm são filtradas sem restrição. No entanto, outras características além do tamanho interferem na capacidade dos componentes sanguíneos de cruzar a barreira de filtração. A carga elétrica líquida de uma molécula possui um efeito expressivo em sua taxa de filtração. O formato e a deformabilidade da molécula também interferem em sua capacidade de cruzar a barreira de filtração. A taxa ou o ritmo de filtração glomerular é regulada por fatores sistêmicos e intrínsecos. Em condições normais, os rins mantêm a TFG (RFG) em um nível relativamente constante, apesar das alterações na pressão arterial sistêmica e no fluxo sanguíneo renal. A RFG é mantida dentro da variação fisiológica pela modulação renal da pressão arterial sistêmica e do volume intravascular e pelo controle intrínseco do fluxo sanguíneo renal, e da pressão dos capilares glomerulares. Os efeitos renais na pressão e volume arteriais sistêmicos são mediados pelo sistema renina-angiotensina-aldosterona. O controle intrínseco da perfusão dos capilares glomerulares é mediado por dois sistemas autorreguladores, que controlam a resistência ao fluxo nas arteríolas aferente e eferente: o reflexo miogênico e a Retroalimentação tubuloglomerular. O sistema renina-angiotensina-aldosterona é um importante regulador da TFG e do fluxo sanguíneo renal. A renina é um hormônio produzido, sobretudo, por células localizadas na parede da arteríola aferente, as células mesangiais extraglomerulares granulares, que são células justaglomerulares especializadas. A liberação de renina é estimulada pela redução na pressão de perfusão renal, mais frequentemente causada por uma hipotensão sistêmica. A renina catalisa a transformação do angiotensinogênio,que é produzido pelo fígado em angiotensina I. A angiotensina I é convertida em angiotensina II, mais ativa, pela enzima conversora de angiotensina (ECA), que se localiza principalmente no endotélio vascular dos pulmões. A angiotensina II é um potente vasoconstritor e, portanto, aumenta diretamente a pressão arterial sistêmica e a pressão de perfusão renal. A angiotensina II ativa a captação de sódio em vários túbulos renais, incluindo o túbulo proximal, o túbulo contorcido distal e o ducto coletor, além de estimular a liberação de aldosterona da glândula suprarrenal e vasopressina da glândula hipofisária, outros hormônios que intensificam a reabsorção de sódio e água renal. Portanto, a angiotensina II aumenta a retenção de sais e água, o volume intravascular e a resistência vascular, fatores que contribuem para a elevação da pressão arterial sistêmica e da pressão de perfusão renal. A liberação de renina é suprimida pela melhora da perfusão renal e também pela elevação da angiotensina II plasmática, criando um sistema de feedback negativo que mantém a perfusão renal e a TFG dentro da variação fisiológica. No interior do rim, há um controle direto da perfusão capilar glomerular por dois sistemas previamente mencionados: o reflexo miogênico e o Retroalimentação tubuloglomerular. O reflexo miogênico é um mecanismo autorregulatório desencadeado por alterações na perfusão glomerular, enquanto o Retroalimentação tubuloglomerular é um mecanismo autorregulatório desencadeado por alterações na provisão de fluido tubular O reflexo miogênico regula o fluxo sanguíneo renal e a TFG por constrição arteriolar aferente imediata após um aumento na tensão da parede arteriolar, aumentando, assim, a resistência ao fluxo sanguíneo em resposta à pressão de perfusão aumentada. Por outro lado, a dilatação arteriolar ocorre quase imediatamente após uma diminuição na tensão da parede arteriolar, reduzindo, assim, a resistência ao fluxo quando a pressão de perfusão vascular diminui. Essas alterações na resistência vascular contribuem para a manutenção da TFG e do fluxo sanguíneo renal a um nível constante, apesar das alterações acentuadas da pressão sanguínea na artéria renal. O segundo mecanismo de controle intrínseco é o Retroalimentação tubuloglomerular. O néfron distal está intimamente associado ao glomérulo do mesmo néfron. Um grupo anatomicamente distinto de células epiteliais, a mácula densa, localiza-se na porção distal do ramo ascendente espesso da alça de Henle. A mácula densa situa-se entre as arteríolas aferente e eferente. Essas quatro estruturas juntas são conhecidas como o aparelho justaglomerular. O aumento da TFG aumenta a taxa de fluxo de fluido tubular; o aumento do fluxo no membro ascendente espesso aumenta o fornecimento de NaCl à mácula densa; o aumento da captação de NaCl na MD causa a liberação de ATP basal; a liberação de ATP suprime a liberação de renina por parte das células justaglomerulares (JG) na arteríola aferente, causa constrição arteriolar aferente, contração da célula mesangial e, desse modo, redução do Kf. O resultado é a redução da TFG de um único néfron. O que impede que as taxas de fluxo do fluido tubular excedam a capacidade de transporte do túbulo e, consequentemente, evita uma perda excessiva de fluido e solutos. Além dos controles renais intrínsecos, fatores sistêmicos podem contribuir para alterações na TFG por meio da regulação do volume sanguíneo e do tônus vascular. Diversos hormônios regulam o volume sanguíneo. A angiotensina II, a aldosterona e a vasopressina (hormônio antidiurético) acentuam a reabsorção de água e solutos pelos rins e, portanto, aumentam o volume sanguíneo. Os peptídeos natriuréticos atriais, produzidos nos átrios cardíacos, levam à natriurese (eliminação de sódio) e à diurese (eliminação de água), reduzindo o volume sanguíneo. Os fatores sistêmicos que afetam o tônus vascular também afetam a pressão arterial sistêmica, a perfusão renal e a ultrafiltração. A vasopressina e as catecolaminas circulantes podem causar vasoconstrição sistêmica e aumentar a pressão arterial. A estimulação beta-adrenérgica pode ativar o sistema renina- angiotensina e a estimulação alfa-adrenérgica pode causar vasoconstrição renal, que pode tanto reduzir quanto redistribuir o fluxo sanguíneo renal. Além de alterar a perfusão renal, os vasoconstritores podem afetar outro determinante da TFG, o coeficiente de ultrafiltração Kf. Os vasoconstritores podem levar à contração das células mesangiais do glomérulo e, portanto, reduzir a área disponível para a filtração. Pelo fato de o Kf ser o produto da área disponível para a filtração e da permeabilidade hidráulica, a contração das células mesangiais in vivo reduziria o Kf e, consequentemente, a TFG. Outros fatores que aumentam a TFG incluem o fator de crescimento semelhante à insulina e proteína dietética elevada. O fator de crescimento semelhante à insulina aumenta a TFG em rins normais e isquêmicos. Uma única refeição rica em proteínas causa elevações transitórias no fluxo sanguíneo renal e na TFG; uma dieta rica em proteínas praticada de forma crônica causa aumentos contínuos no fluxo sanguíneo renal e na TFG. Essas observações são clinicamente relevantes no tratamento da insuficiência renal crônica e da perda da função renal. Embora possa parecer desejável aumentar a TFG de qualquer forma em pacientes com doença renal crônica, de fato o aumento na TFG proveniente de algumas dietas ricas em proteínas pode levar a uma progressão mais rápida da lesão glomerular e da insuficiência renal em animais e humanos Nos cenários experimentais e na prática clínica, a TFG é um dos parâmetros mais importantes da função renal. A determinação da TFG está condicionada ao conceito de depuração, que é a taxa em que o plasma é depurado de uma substância. A taxa de depuração é aferida pela taxa de eliminação de uma substância dividida por sua concentração plasmática, matematicamente expressa da seguinte forma: Onde CX é o volume de plasma depurado de uma substância X por unidade de tempo, UX é a concentração da substância X na urina, V é o volume da urina coletada dividido pelo período de tempo da coleta e PX é a concentração plasmática da substância X. A taxa de depuração líquida de uma substância é a soma das taxas de filtração e secreção menos a taxa de reabsorção da substância. Isso é realizado de modo ordenado, utilizando-se a inulina como a substância para aferição da depuração. A inulina é espontaneamente filtrada pelo glomérulo mas não é reabsorvida nem secretada pelas células do túbulo renal. Devido a essas propriedades e pelo fato de a inulina não ser produzida pelo organismo, a taxa do eu desaparecimento no sangue após a injeção intravascular está estritamente relacionada à taxa de filtração glomerular. Embora o método-padrão para se determinar a TFG seja a avaliação da taxa de depuração da inulina do sangue, a TFG pode ser aferida de várias formas. Em situações clínicas, a medida de filtração glomerular mais utilizada é a depuração da creatinina endógena. A creatinina é um subproduto do metabolismo muscular gerenciado de forma similar à inulina pelos rins. É espontaneamente filtrada, não é reabsorvida pelo túbulo, e, pelo menos nos cães, não é excretada pelo túbulo. Em algumas espécies, no entanto, aproximadamente 10% da creatinina excretada é secretada pelo túbulo. Nas aves, a depuração da creatinina não pode ser utilizada para a determinação da TFG, pois os túbulos renais das aves podem secretar a creatinina quando o nível plasmático é elevado, podendo tambémreabsorver a creatinina quando o nível plasmático se encontra normal. Reabsorção de solutos A maior parte do ultrafiltrado formado no glomérulo deve ser reabsorvida pelos túbulos renais, ao invés de excretada na urina. Para compreendermos a importância de reabsorção tubular das substâncias filtradas, consideremos o cão beagle de 10 kg, que produz 53,3 L de filtrado glomerular a cada dia. O ultrafiltrado contém, virtualmente, a mesma concentração de sais e glicose do plasma; sem a reabsorção tubular, a perda urinária de sódio, cloro, potássio, bicarbonato e glicose, isoladamente, totalizaria mais de 500 g de soluto. Na ausência de reabsorção tubular, o beagle necessitaria repor essas substâncias químicas constantemente durante todo o dia, ingerindo mais de 454 gramas de sais e bebendo mais de 50 L de água, à mesma taxa da perda urinária, para manter o equilíbrio entre líquido e sais. Felizmente, o túbulo renal repõe, de maneira eficaz, estes e outros componentes do ultrafiltrado. A taxa de reabsorção e secreção de substâncias filtradas varia entre os segmentos do túbulo renal. Em geral, o túbulo proximal reabsorve mais do ultrafiltrado do que outros segmentos combinados do túbulo, ou seja, pelo menos 60% das substâncias mais filtradas. A estrutura do túbulo proximal e sua proximidade aos capilares peritubulares facilitam a movimentação dos componentes do fluido tubular para o sangue através de duas vias: a via transcelular e a via paracelular. O fluido tubular flui sobre a superfície apical da célula epitelial do túbulo proximal. As substâncias transportadas pela via transcelular atravessam a membrana plasmática apical, citoplasma e membrana plasmática basolateral no fluido intersticial. O movimento através das membranas plasmáticas apical e basolateral ocorre, predominantemente, por transporte mediado por carreadores. A vasta área superficial da membrana plasmática do túbulo proximal contribui para o transporte transcelular. A membrana plasmática apical tem microprojeções extensas, chamadas de microvilosidades, que criam coletivamente a borda em escova. No lado sanguíneo da célula, a membrana plasmática basolateral tem invaginações complexas que aumentam a área de superfície; a área de superfície basolateral é igual a área de superfície apical em porções do túbulo proximal. Os benefícios da área expandida da superfície da membrana plasmática incluem o aumento da capacidade para a multiplicidade de transportadores de soluto e aumento de exposição aos fluidos luminais e intersticial. A segunda via de transporte no túbulo proximal é a via paracelular. As substâncias passam por meio da via paracelular do fluido tubular através da zônula de oclusão, uma estrutura permeável que adere às células do túbulo proximal entre si na junção dos domínios das membranas plasmáticas apical e basolateral. O transporte paracelular ocorre por difusão passiva ou por arrasto por solvente, que é a suspensão do soluto pelo fluxo de água. As substâncias que atravessam a zônula de oclusão atingem o espaço intercelular lateral, o qual se acredita comunicar livremente com o fluido intersticial; a partir daí, as substâncias reabsorvidas podem ser absorvidas do capilar peritubular. A movimentação de água e solutos do fluido intersticial para a corrente sanguínea é orientada pelas forças de Starling, sendo auxiliada pela proximidade com o capilar peritubular. Nos mamíferos, o capilar peritubular origina-se na arteríola glomerular eferente, subdivide-se e envolve intimamente o aspecto basal do túbulo proximal. O plasma que deixa o glomérulo possui uma elevada pressão oncótica, pois a água e os sais são filtrados, mas as proteínas são retidas no capilar. O capilar peritubular possui baixa resistência e, consequentemente, sua pressão hidrostática é baixa. Ambas as condições — pressão oncótica plasmática peritubular elevada e baixa pressão hidrostática do capilar peritubular — favorecem a absorção de fluido e solutos do interstício para a corrente sanguínea. A reabsorção de solutos ocorre por inúmeros mecanismos, incluindo o transporte ativo primário e o transporte ativo secundário mediado por transportador, arrasto de solvente e difusão passiva. No túbulo proximal, a maior parte da reabsorção de soluto é realizada pelo transporte ativo de íons de sódio (Na+), pela bomba de Na+, K+-ATPase que se encontra na membrana do plasma basolateral. A Na+,K+-ATPase expulsa três íons Na+ e leva dois íons K+ em cada rotação da bomba. A atividade da Na+,K+-ATPase reduz a concentração intracelular de Na+ e aumenta a concentração intracelular de K+. A difusão externa de K+ aquém de seu gradiente químico pelos canais de K+ faz com que a porção interna da célula torne-se eletricamente negativa em relação à porção externa. Estes dois fatores criam um gradiente eletroquímico para Na+ através da membrana plasmática apical, favorecendo a absorção de Na+ do fluido tubular para a célula. A captação de Na+ através da membrana plasmática apical é facilitada por transportadores específicos na membrana, que conjugam o movimento de outros solutos na mesma direção do Na+ (cotransporte) ou na direção oposta (contratransporte). Transportadores dependentes específicos de Na+ para glicose, aminoácidos, fosfato, sulfato e citrato medeiam sua captação do fluido do túbulo proximal através deste mecanismo de transporte ativo secundário. A captação dessas substâncias aumenta a concentração intracelular desses elementos que se movem através da membrana plasmática basolateral para o sangue, diminuindo seu gradiente elétrico ou químico, facilitados por transportadores específicos de soluto e parcialmente por difusão passiva. A reabsorção de bicarbonato (HCO3-) no túbulo proximal também é orientada pelo gradiente de Na+, embora indiretamente. O gradiente químico do Na+ impulsiona o contratransporte de Na+ e íon hidrogênio, H+ através da membrana plasmática apical por meio de um permutador de Na+/H+. O H+ secretado se combina com o HCO3- filtrado no fluido tubular, formando água (H2O) e dióxido de carbono (CO2), catalisado pela enzima anidrase carbônica na membrana plasmática apical das células do túbulo proximal. O CO2 entra na célula através da membrana plasmática apical, em parte facilitado pela proteína de membrana integral, aquaporina 1. A anidrase carbônica citoplasmática catalisa a hidroxilação do CO2 com OH– doado da H2O, formando H+ e HCO3- na célula. O HCO3- atravessa a membrana plasmática basolateral através de um cotransportador de Na+ 3HCO3– e um permutador Na+dependente HCO3-/Cl-. A reabsorção do íon cloreto (Cl–) no túbulo proximal também é indiretamente potencializada pela bomba Na+,K+-ATPase e ocorre tanto pela via paracelular quanto pela transcelular. Como ocorre com o Na+ o HCO3–, a glicose, aminoácidos e outros solutos são reabsorvidos seletivamente e a água é absorvida junto com estes solutos, a concentração de Cl– no fluido tubular é elevada, estabelecendo um gradiente químico para a movimentação de Cl– em direção ao lado sanguíneo do epitélio. Além disso, no túbulo proximal inicial a absorção seletiva de Na+ excede a de ânions, resultando em uma carga líquida positiva do lado sanguíneo. Este processo gera um pequeno gradiente elétrico que favorece a reabsorção de ânions. Portanto, no túbulo proximal inicial, os gradientes químico e elétrico favorecem a reabsorção de Cl–. A zônula de oclusão é altamente permeávelao Cl–, portanto há uma transferência passiva e paracelular de Cl– do lúmen tubular para o fluido intersticial. A absorção transcelular de Cl– também ocorre no túbulo proximal. O Cl– acoplado a cotransportadores nas membranas plasmáticas apical e basolateral e os canais de Cl– na membrana plasmática basolateral facilitam o transporte de Cl- através da membrana, que também é orientado por gradientes elétricos e químicos estabelecidos pela atividade de Na+,K+-ATPase. As proteínas de baixo peso molecular são avidamente reabsorvidas pelo túbulo proximal, mas por um mecanismo diferente. As proteínas filtradas, como insulina, glucagon, paratormônio e muitas outras são absorvidas na membrana plasmática apical por endocitose mediada por receptadores. Os receptadores de ligação de proteínas (megalina e cubilina) na membrana do plasma, são endocitados, e entregues pelas vesículas endocíticas às organelas intracelulares chamadas lisossomos, enquanto os receptores são reciclados para a membrana plasmática apical. As enzimas proteolíticas dos lisossomos degradam as proteínas reabsorvidas; os aminoácidos resultantes são transportados para o fluido intersticial e devolvidos ao sangue. O túbulo proximal secreta uma grande variedade de íons orgânicos no fluido tubular. Diversos íons orgânicos, incluindo tanto os produtos de resíduos endógenos quanto medicamentos ou toxinas exógenas, são ligados a proteínas no plasma e, portanto, são pouco filtrados pelo glomérulo. No entanto, o túbulo proximal limpa essas substâncias do sangue por meio de absorção basolateral e secreção apical no fluido tubular por processos mediados por carreadores. Os componentes orgânicos endógenos secretados pelo túbulo proximal incluem sais biliares, oxalato, urato, creatinina, prostaglandinas, epinefrina e hipuratos. Os medicamentos e as toxinas secretados pelo túbulo proximal incluem antibióticos (p. ex., penicilina G, trimetoprim), diuréticos (p. ex., clorotiazida, furosemida), agentes antivirais (por exemplo, aciclovir, ganciclovir), a morfina analgésica e vários de seus derivados. Imediatamente abaixo da porção reta do túbulo proximal encontra-se o ramo delgado da alça de Henle, que é um epitélio baixo, com poucas mitocôndrias e poucas invaginações membranosas. O transporte ativo de solutos neste segmento é praticamente inexistente. A função do ramo delgado é determinada pela distribuição segmentada de transportadores específicos de água e solutos, por suas propriedades de permeabilidade passiva e por sua orientação espacial na medula. No ramo ascendente da alça de Henle, o epitélio baixo do ramo delgado é abruptamente alterado para um epitélio relativamente alto do ramo ascendente espesso (RAE). O ramo ascendente espesso tem diversas mitocôndrias e invaginações na membrana plasmática basolateral, refletindo sua alta capacidade para o transporte ativo de solutos. O túbulo contorcido distal segue com um epitélio ainda mais alto e uma densa matriz mitocondrial. O ramo ascendente espesso da alça de Henle e o túbulo contorcido distal reabsorvem Na+, Cl– e os cátions divalentes Ca2+ e Mg2+. Estes segmentos reabsorvem solutos contra um gradiente elevado. No momento em que o fluido tubular deixa o túbulo contorcido distal, mais de 90% dos sais filtrados foram reabsorvidos. Como no túbulo proximal, a reabsorção de sais no ramo ascendente espesso e no túbulo contorcido distal é orientada pela Na+, K+ -ATPase na membrana plasmática basolateral. Nas RAE, o gradiente eletroquímico de Na+ determinado pela atividade basolateral Na+,K+-ATPase direciona a captação de íons por meio do cotransportador Na+,K+,2Cl- (NKCC2) na membrana plasmática apical. O Cl– intracelular difunde-se para o fluido intersticial por meio de canais de Cl– na membrana plasmática basolateral. O K+ reduz seu gradiente de concentração através de canais K+ apicais, portanto, é reciclado para o lúmen. A absorção de Cl- e a secreção de K+ causam uma tensão positiva no lúmen em relação ao interstício. O gradiente elétrico do lúmen para o sangue impulsiona a difusão dos cátions bivalentes, o Ca2+ e Mg2+, bem como o Na+ através de canais paracelulares seletivos de cátions formados por junções firmes de proteínas conhecidas como claudinas. O cotransportador apical de Na+,K+, 2Cl– no ramo ascendente espesso é inibido pelos diuréticos de alça (nomeados para a alça de Henle), como a bumetanida e a furosemida, que são frequentemente utilizados em medicina veterinária clínica. O túbulo contorcido distal contém um cotransportador (NCC) apical de NaCl que medeia a circulação de Na+ a partir do fluido tubular em direção do gradiente químico para o Na+ gerado pela Na+, K+-ATPase basolateral. Cl- sai através dos canais basolaterais direcionados pelo gradiente elétrico. O cotransportador de NaCl é inibido pelos diuréticos tiazídicos. O ramo ascendente espesso e o túbulo contorcido distal são impermeáveis à água. A ávida reabsorção de sais sem água resulta em um fluido tubular hipotônico; portanto, esses segmentos algumas vezes são denominados segmentos diluidores. A diluição do fluido tubular ocorre independentemente da condição volumétrica do animal. É um componente importante de regulação do volume de fluido, permitindo que os rins eliminem o excesso de água sem sal, impedindo, assim, a sobrecarga da água e a hipotonicidade plasmática, gerando um interstício medular hipertônico, que é necessário para a concentração de urina e conservação de água. Os túbulos coletores iniciais convergem no ducto coletor, que atravessa o córtex e a medula, atingindo o ápice papilar, onde o fluido tubular (urina) é secretado na pelve renal. Na maior parte do sistema do ducto coletor, existem dois tipos celulares principais: a célula intercalada, que possui diversas vesículas intracitoplasmáticas e mitocôndrias, e a célula principal, que possui menos vesículas intracitoplasmáticas e mitocôndrias, mas extensas invaginações na membrana plasmática basolateral. A reabsorção de NaCl no ducto coletor é primariamente uma função das células principais e é impulsionada pela Na+,K+-ATPase basolateral. Como em outros segmentos tubulares, o Na+ é transportado ativamente por sua bomba para o fluido intersticial, que estabelece um gradiente eletroquímico para a absorção de Na+ através dos canais do epitélio apical de Na+. O potencial elétrico negativo luminal resultante orienta a absorção de Cl– pela via paracelular. Controle da excreção líquido renal de potássio é uma outra função do ducto do coletor. O K+ é bombeado ativamente para a célula pela Na+,K+-ATPase, elevando a concentração de K+ acima daquela do fluido intersticial e do fluido tubular. O K+ intracelular deixa a célula, abaixo do gradiente químico, através dos canais de K+ presentes nas membranas plasmática, apical e basolateral. Sob circunstâncias normais, no entanto, a secreção líquida de K+ ocorre por duas razões: (1) o canal apical de K+, ROMK, é mais permeável do que o canal basolateral de K+ e (2) o potencial elétrico negativo do lúmen favorece a secreção de K+. O ducto coletor também pode reabsorver o K+. O potássio intracelular é ativamente transportado em troca de íons de hidrogênio no fluído tubular pela H+,K+-ATPase apical. Quando o potássio da dieta é restrito, a atividade H+,K+-ATPase e expressão no ducto coletor são reguladas e a atividade do canal apical K+ (ROMK e BK) é inibida; estes efeitos melhoram a absorção K+ líquida do lúmen e favorecem a saída de K+ através de canais K+ basolaterais, promovendo assim a reabsorção de K+. No túbulo proximal,a maioria dos solutos filtrados e água são reabsorvidos, independentemente do estado fisiológico do animal, mas a taxa de reabsorção do sódio, cloreto, fosfato, e outros solutos é regulada por hormônios específicas. O túbulo distal e o ducto coletor controlam a taxa terminal de excreção de eletrólitos e água, mantendo a homeostase, apesar das variações na ingestão dietética e das perdas extrarrenais de sais e água. A angiotensina II aumenta diretamente a reabsorção de sódio no túbulo proximal, no ramo ascendente espesso da alça de Henle, no túbulo contorcido distal e no ducto coletor. Esses segmentos contêm receptores específicos de angiotensina II que, quando ativados, aumentam o transporte de Na+. A aldosterona é um hormônio mineralocorticoide, secretado pelo córtex adrenal. A liberação de aldosterona é estimulada pela hipotensão sistêmica, através do sistema renina-angiotensina. A aldosterona atua nas células do segmento conector e nas células principais do ducto coletor para aumentar a reabsorção de Na+ , o que, por sua vez, eleva a reabsorção de água, a fim de aumentar o volume de fluido. Em nível celular, a aldosterona aumenta a permeabilidade dos canais de Na+ da membrana plasmática apical (ENaC) e estimula a atividade da Na+,K+-ATPase, consequentemente elevando a reabsorção de Na+. Estimulação crônica da aldosterona provoca proliferação da membrana plasmática basolateral e elevada abundância de Na+,K+-ATPase. A liberação de aldosterona também é estimulada pela hipercalemia (nível plasmático elevado de K+) e possui um papel importante na regulação da homeostase de K+. A aldosterona aumenta a entrada basolateral de K+ nas células principais através da estimulação da atividade de Na+,K+-ATPase. O aumento da atividade ENaC apical e a absorção de Na+ luminal criam um gradiente elétrico favorável para a secreção de K+ através de canais apicais K+ e, assim, aumenta a excreção urinária de K+. Em algumas espécies, o hormônio antidiurético (ADH, vasopressina), que é liberado quando o animal apresenta uma depleção volumétrica, está desidratado ou hipotenso, aumenta a reabsorção de sais a partir do ramo ascendente espesso e do ducto coletor. Os rins reabsorvem a maior parte do cálcio filtrado (Ca2+) e contribui significativamente para a regulação do equilíbrio sistêmico de Ca2+. Aproximadamente 65% do Ca2+ filtrado são absorvidos no túbulo proximal; a maior parte da reabsorção de Ca2+ no túbulo proximal é paracelular e passiva, orientada pelos gradientes elétrico e químico. Aproximadamente 20% do Ca2+ filtrado é reabsorvido no ramo ascendente espesso da alça de Henle. A reabsorção de Ca2+ neste segmento ocorre principalmente por meios passivos e paracelulares, impulsionados por gradientes eletroquímicos. A hipocalcemia (nível plasmático baixo de Ca2+) estimula a liberação de paratormônio, o que estimula os ossos, os intestinos e os rins a elevaram o nível plasmático de Ca2+. Equilíbrio Acidobásico O pH normal do sangue é de aproximadamente 7,4; o funcionamento celular normal requer um pH próximo deste valor. Três sistemas mantêm a homeostase acidobásica: os tampões intra e extracelulares, os pulmões e os rins. Os dois primeiros realizam rápidas correções no pH sanguíneo, enquanto os rins controlam a homeostase acidobásica de forma mais lenta excretando o excesso de íons de hidrogênio (H+). A manutenção do equilíbrio acidobásico requer a prevenção do excesso de ácido no organismo. O ácido é produzido constantemente pelo organismo como um subproduto do metabolismo. A quantidade de ácido produzida varia dependendo de alterações na dieta, exercícios, outras funções orgânicas e, nas aves, das fases do ciclo de postura de ovos. Portanto, os sistemas que mantêm a homeostase acidobásica devem se adaptar às alterações na carga ácida. Vários tampões intra e extracelulares titulam o H+ para manter um pH fisiológico. Estes incluem hemoglobina e outras proteínas, carbonato ósseo, fosfato e bicarbonato (HCO3-). Estes tampões normalizam o pH rapidamente após alterações agudas na carga ácida, a menos que a capacidade de tamponamento seja excedida. Além disso, durante a acidose metabólica crônica, os ossos fornecem um reservatório de tampão que é mobilizado para ajudar a normalizar o pH sistêmico. O excesso de H+ e a redução de HCO3– no fluido extracelular promovem a dissolução óssea, tanto a físico-química quanto a mediada por osteoclastos, liberando carbonato, que tampona o H+. Na acidose crônica, isso pode resultar em densidade mineral óssea anormalmente baixa. O sistema respiratório também responde rapidamente para manter o pH sanguíneo normal alterando a taxa de remoção do dióxido de carbono (CO2) do sangue. A enzima anidrase carbônica (CA), presente nos eritrócitos e em várias outras células, catalisa a seguinte reação: A remoção de CO2 do sangue pela respiração altera esta reação para a esquerda e a concentração de H+ é, consequentemente, reduzida (o pH é aumentado). Portanto, o pulmão é uma importante via de estabilização do pH sanguíneo, particularmente em resposta a alterações rápidas na carga ácida. Os rins são a terceira linha de defesa do equilíbrio acidobásico. Embora os sistemas de tamponamento e respiratório sejam capazes de estabilizar o pH sanguíneo, os rins são responsáveis pela excreção real da maioria do H+ excedente. Os rins excretam ácido de forma eficaz pelos efeitos combinados de (1) anidrases carbônicas que disponibilizam prótons e bicarbonato para o transporte, (2) transportadores que movem o H+ das células epiteliais para o fluido tubular e bicarbonato para o fluido intersticial, e (3) tampões que minimizam as elevações na concentração de H+ no fluido tubular. Os rins excretam ácido pela secreção de H+ primariamente no túbulo proximal, no ramo ascendente espesso da alça de Henle e no ducto coletor. Estes segmentos utilizam diferentes mecanismos para excretar o ácido excedente e para controlar o pH sanguíneo de forma precisa. O túbulo proximal secreta a maioria do ácido excedente, enquanto o ducto coletor controla a excreção líquida de ácido e o pH final da urina. A maior parte do H+ secretado é transportada através da membrana plasmática apical pelos três transportadores. Os rins controlam a concentração de íons hidrogênio do líquido extracelular ao excretarem urina ácida ou básica. A excreção de urina ácida reduz a quantidade de ácido nos líquidos extracelulares, enquanto a excreção de urina alcalina remove a base dos líquidos extracelulares. Os meios pelos quais o organismo determina se a urina será ácida ou alcalina são os seguintes: grandes quantidades de íons bicarbonato são filtradas continuamente no filtrado glomerular, removendo base do sangue. Por outro lado, grandes quantidades de íons hidrogênio são secretadas ao mesmo tempo no lúmen tubular pelo epitélio tubular, com conseqüente remoção do ácido. Se a secreção de íons hidrogênio for maior que a filtração de íons bicarbonato, haverá perda efetiva de ácido dos líquidos extracelulares. Por outro lado, se a filtração de bicarbonato for maior que a secreção de hidrogênio, haverá perda efetiva de base. As seções que se seguem descrevem os diferentes mecanismos renais que atuam nesses processos. As células epiteliais de todo sistema tubular, à exceção do ramo grosso da alça de Henle, secretam íons hidrogênio para o líquido tubular. Todavia, em diferentes segmentos tubulares, existem dois mecanismos muito diferentes, cada qual com características próprias e finalidades distintas. Transporte ativo secundário de íons hidrogênio nos segmentos tubulares iniciais. As células epiteliais do túbulo proximal do segmento grosso doramo ascendente da alça de Henle e do túbulo distal secretam íons hidrogênio para o líquido tubular por transporte ativo secundário. O processo secretor começa com o dióxido de carbono, que se difunde para o interior das células ou que é formado pelo metabolismo das células epiteliais tubulares. O dióxido de carbono, sob influência da enzima anidrase carbônica, combina-se com água para formar ácido carbônico. A seguir, este se dissocia em íon bicarbonato e íon hidrogênio. Por fim, os íons hidrogênio são secretados no túbulo por um mecanismo de contra-transporte de Na+-H+. Isto é, quando o sódio se desloca do lúmen do túbulo para o interior da célula, ele se combina inicialmente com uma proteína transportadora na borda luminal da membrana celular, e, ao mesmo tempo, um íon hidrogênio no interior da célula se combina com a extremi- dade oposta da mesma proteína transportadora. A seguir, como a concentração de sódio é muito mais baixa dentro da célula do que no lúmen celular, isso determina o movimento de sódio ao longo de seu gradiente de concentração para o interior, proporcionando ao mesmo tempo a energia necessária para mover o íon hidrogênio na direção oposta (a direção "contra") para o lúmen tubular. Transporte ativo primário de íons hidrogênio na porção terminal dos segmentos tubulares. Começando na porção terminal dos túbulos distais e prosseguindo por todo o resto do sistema tubular até a pelve renal, os túbulos secretam íons hidrogênio por transporte ativo primário. As características desse transporte diferem muito do sistema de transporte ativo secundário nos segmentos tubulares iniciais. O mecanismo do transporte ativo primário de íons hidrogênio ocorre na membrana luminal da célula tubular, onde os íons hidrogênio são transportados diretamente por proteína transportadora específica, a adenosina trifosfatase transportadora de hidrogênio (H+ATPase), Os íons hidrogênio bombeados por este processo são gerados no interior da célula nas duas etapas seguintes: O CO2 dissolvido combina-se com a água no interior da célula, formando-se ácido carbônico (H2CO3); a seguir, o ácido carbônico se dissocia em íons bicarbonato, que são absorvidos pelo sangue, e em íons hidrogênio (H + ), que são secretados na urina. Na acidose, a proporção entre dióxido de carbono e íons bicarbonato no líquido extracelular aumenta. Por conseguinte, a intensidade da secreção dos íons hidrogênio eleva-se até um nível superior à filtração dos íons bicarbonato nos túbulos. Em conseqüência, ocorre secreção de excesso de íons hidrogênio nos túbulos, enquanto quantidades diminuídas de bicarbonato penetram no filtrado glomerular, de modo que, nesse estágio, existe um número muito pequeno de íons bicarbonato para reagir com os íons hidrogênio. Esses íons hidrogênio em excesso combinam-se com os tampões existentes no líquido tubular, sendo então excretados na urina. Toda vez que um íon hidrogênio é secretado nos túbulos, ocorrem simultaneamente dois outros efeitos: em primeiro lugar, forma-se um íon bicarbonato na célula epitelial tubular; e, em segundo lugar, ocorre absorção de um íon sódio do túbulo para a célula epitelial. O íon sódio e o íon bicarbonato são então transportados juntos da célula epitelial para o líquido extracelular. O metabolismo renal de amônia é o principal componente na manutenção do equilíbrio acidobásico. Nas células do túbulo proximal, o aminoácido glutamina é metabolizado, produzindo NH4+ (Este processo é denominado amoniogênese). O NH4+ intracelular entra no fluido tubular por meio do transporte ativo secundário pela substituição do H+ no permutador de Na+/H+. O metabolismo da glutamina também produz novos ânions de bicarbonato, que são transportados através da membrana plasmática basolateral. Assim, a amoniogênese do túbulo proximal permite a produção de bicarbonato e a absorção e distribuição distal da amônia. A amoniogênese renal é aumentada pela acidose, constituindo uma importante resposta renal a uma elevação na carga ácida. A taxa de secreção ácida pelo ducto coletor determina o pH final da urina e a excreção líquida de ácido pelos rins. Apesar da secreção forte de ácido no túbulo proximal e a contribuição adicional no ramo ascendente espesso, devido ao tamponamento luminal, o pH do fluido tubular que atinge o segmento conector ainda é semelhante ao do filtrado glomerular, com o pH de aproximadamente 7,4. No entanto, o pH normal da urina dos carnívoros varia de 5,5 a 7,5, o dos ruminantes varia de 6 a 9, e valores ainda mais extremos de pH ocorrem em resposta à acidose e à alcalose. O ducto coletor é responsável por sua capacidade de excretar urina com um pH extremamente diferente daquele do plasma. Ao contrário do túbulo proximal, que é um sistema de alta capacidade e de baixo gradiente para secreção de H+, o ducto coletor possui uma menor capacidade de secreção e H+, mas pode gerar um gradiente de concentração de H+ acentuado. A secreção de ácido, na maior parte do sistema de ductos coletores, é primariamente uma função de um grupo especializado de células epiteliais, as células intercaladas. As células intercaladas contêm uma quantidade abundante de anidrase carbônica citoplasmática, que catalisa a formação de H+ e HCO3– intracelular a partir de H2O e CO2. Nestas células, o H+ é secretado para o fluido tubular e o O HCO3– é transportado para o lado sanguíneo da célula. A secreção de ácido no ducto coletor é geralmente aumentada pela acidose e suprimida pela alcalose. O túbulo proximal reabsorve HCO3– e secreta H+ independentemente da concentração plasmática de HCO3– e do pH sanguíneo. De fato, conforme a concentração plasmática de HCO3– aumenta, sua concentração no filtrado glomerular aumenta e a quantidade de reabsorção de HCO3– pelo epitélio do túbulo proximal também aumenta. Entretanto, o ducto coletor é capaz de secretar HCO3– líquido em resposta à alcalose, mas isto só ocorre no segmento conector e no ducto coletor cortical.
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