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Distúrbios Circulatórios: Isquemia, Infarto e Choque Luciano Sampaio Guimarães - Medicina UFPE 144 Isquemia: redução ou ausência do suprimento sanguíneo; gera, por isso, um comprometimento do aporte de O2 (hipóxia) e um comprometimento do aporte de nutrientes. O normal é o equilíbrio entre a oferta e as necessidades metabólicas do órgão; Patogênese Redução da oferta de sangue (mais comum) e/ou aumento da demanda (geralmente associada à ↓ do fluxo basal); Causada por: Obstrução do fluxo sanguíneo arterial (por compressão extrínseca, espessamento da parede vascular, trombose/embolia, vasoespasmo); Diminuição da diferença entre pressão arterial e venosa (por queda da PA ou por ↓ drenagem venosa); Fisiopatologia ↓ fluxo (obstrução de +/- 70% da luz vascular) → respiração anaeróbica (↓ eficiente) → ↓ fornecimento de ATP → alteração da função celular → atinge o limite crítico de tolerância à isquemia (fase isquêmica pré-necrose) → morte celular de causa isquêmica → infarto (necrose isquêmica) Fatores determinantes que influenciam o desenvolvimento do infarto Tipo de circulação local (terminal ou dupla, determina se há um suprimento sanguíneo alternativo, como a circulação do pulmão – art. pulmonares + art. brônquicas; fígado – art. hepática + veia porta) Circulação colateral Velocidade da oclusão Oclusão de desenvolv. lento → ↓ risco de infarto Dá tempo de desenvolver suprimento sang. colateral Grau de obstrução arterial Vulnerabilidade do tecido à isquemia Neurônios duram de 3-4 min; Miocardiócitos dura de 20-30 min; Células dos túbulos renais duram de 60-180 min; Situação funcional (se o tecido está sobrecarregado, como na hipertrofia cardíaca) Conteúdo de oxigênio sanguíneo (alterado no enfisema, anemia, tuberculose) – hipoxemia OBS: uma obstrução pode, por meio dos fatores induzidos por hipóxia (por ↓ fluxo ou ↑ demanda), estimular o desenvolvimento de vasos da circulação colateral. Consequências Atrofia, adaptação à isquemia crônica; Lesão reversível funcional, que gera alterações funcionais, pode causar angina e perda de consciência e pode evoluir para infarto; Infarto (necrose isquêmica) OBS: a irreversibilidade da lesão celular ocorre quando a disfunção mitocondrial não pode ser revertida e há alterações profundas na membrana. Infarto Área de necrose tecidual causada por isquemia devido à obstrução do suprimento vascular (distúrbio arterial ou venoso, 99% dos casos são eventos trombóticos ou embólicos) Tipos de Infarto Vermelho/Hemorrágico Ocorre em tecidos com circulação dupla/anastomoses (ex: pulmão, fígado, intestinos); Em órgãos frouxos, onde o sangue pode se acumular em zonas infartadas (ex: pulmão); Em tecidos previamente congestionados (hiperemia passiva), devido ao lento efluxo venoso; Em oclusões venosas, como na compressão do pedículo vascular (ovariana/testicular/intestinal) – torção; Em áreas de infarto com fluxo reestabelecido, após ocorrer dissolução/migração do trombo/êmbolo; As hemácias extravasadas são fagocitadas pelos macrófagos e seu ferro heme é convertido em hemossiderina. Branco/Anêmico Ocorre em tecidos com circulação arterial terminal (única, endarterial. EX: coração, rim, baço); Em órgãos sólidos; Morfologia do Infarto Aspecto em cunha; As margens são indistintas e ligeiramente hemorrágicas, com o tempo a margem torna-se definida devido à hiperemia por conta da inflamação – halo hiperêmico; Na maioria dos tecidos, o achado histológico é de necrose isquêmica coagulativa, exceto no cérebro, que será necrose liquefativa. Evolução do Infarto Há uma reação inflamatória na margem, ação de neutrófilos e macrófagos; Em tecidos lábeis/estáveis, há regeneração parenquimatosa parcial: divisão contínua, como pele, mucosa; A “regra” é a cicatrização em tecidos com menor capacidade regenerativa: deposição de colágeno; OBS: no coração, essa cicatrização reduz a contratilidade. Para compensar, há hipertrofia para restaurar a frequência cardíaca. No rim, há hipertrofia do néfron e multiplicação de células dos túbulos proximais. OBS²: no cérebro, um infarto antigo (necrose liquefativa) forma uma cavidade. Choque É a hipoperfusão sistêmica dos tecidos, causado por ↓ débito cardíaco ou distribuição inadequada do fluxo As consequências são o comprometimento da perfusão tecidual e a hipóxia celular Existem 3 grandes categorias do choque, as 2 primeiras sendo por ↓ DC e a última por distribuição inadequada do fluxo: choque cardiogênico, choque hipovolêmico, choque distributivo (séptico, neurogênico e anafilático) Classificação Choque cardiogênico A redução do débito cardíaco é devido à falência da bomba do miocárdio; Pode ocorrer por fatores intrínsecos, como infartos ou arritmias; Compressão extrínseca, como ocorre no tamponamento cardíaco (trauma que levou ao acúmulo de fluido na cavidade pericárdica, pode ser exsudato, derrame pericárdico ou cardite); Obstrução ao fluxo, como na embolia pulmonar que obstrui mais de 60% do fluxo sanguíneo, ocorrendo um cor pulmonale agudo; Choque hipovolêmico A redução do débito cardíaco ocorre por perda do volume sanguíneo ou plasmático; A perda sanguínea pode ser devido a uma hemorragia grave; A perda de líquidos pode ser devido a queimaduras graves, desidratação. Choque neurogênico (distributivo) Distribuição inadequada do fluxo, havendo perda do tônus vascular e acúmulo de sangue periférico; Causado por lesão da medula espinal, anestesia Choque anafilático (distributivo) Distribuição inadequada do fluxo por vasodilatação generalizada (sistêmica), acúmulo de sangue periférico e aumento da permeabilidade; Causado por reação de hipersensibilidade mediada por IgE Choque séptico (distributivo) Distribuição inadequada do fluxo pelos mesmos fatores do anafilático, mas causado por reação inflamatória sistêmica a uma infecção bacteriana ou fúngica Infecções localizadas em um tecido específico podem causar a sepse, não precisa da disseminação O endotélio assume um padrão pró-inflamatório e antifibrinolítico, favorecendo a coagulação intravascular disseminada (CIVD). Quando se completa, há consumo de fatores de coagulação e plaquetários, havendo sangramento e hemorragia. Morfologia (CIVD): microtrombos disseminados, petéquias hemorrágicas na pele e serosas, hemorragia adrenal Morfologia do Choque Rim: necrose tubular aguda; Pulmão: dano alveolar difuso Estágios do Choque Não-progressivo: inicial, são ativados mecanismos compensatórios reflexos para manter a perfusão dos órgãos vitais; Progressivo: hipoperfusão tecidual, início de piora circulatória, desarranjo metabólico (acidose); Irreversível: lesão celular grave, mesmo corrigindo os efeitos hemodinâmicos não reverte. O choque leva à falência de múltiplos órgãos, como rim, pulmão, coração, SNC, TGI e fígado, culminando no óbito.
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