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Psicodrama: Fundamentos e Aplicações

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PSICODRAMA 
1 INTRODUÇÃO 
A construção deste texto discute fundamentos importantes da aplicação da psicologia em especifico o psicodrama no cotidiano humano, principalmente nas relações de trabalho para resolver conflitos e desenvolvimento de estratégias que possibilite as pessoas em viver e harmonia em determinado ambiente. 
Psicodrama psicanalítico é um método psicoterapêutico com profundas raízes no teatro, psicologia e sociologia e tem a dramatização como núcleo. Neste sentido, difere das psicoterapias puramente verbais, no facto de lhe ser inerente uma visão não-cartesiana, segundo a qual a linguagem e a ação se agrupam enquanto comportamento. Nomeadamente, a própria raiz etimológica da palavra Psicodrama, em que ‘psyché’ quer dizer alma e ‘drama’ quer dizer ação ou realização, é mais um fator que concorre para a unicidade dual destes dois aspectos dentro desta técnica psicoterapêutica.
Moreno afirma que o propósito da psicoterapia deixa ser o de curar as perturbações mentais, para voltar-se para a transformação do sujeito, compreendido a partir de um contexto relacional, a fim de possibilitá-lo assumir a sua existência; uma vez que o sujeito é compreendido a partir dadinâmica de relações de seu átomo social. 
As intervenções psicodramáticas em organizações empresarias define-se por uma construção em grupo, o que implica em vários tipos de consequências, ou vários tipos de riscos, envolvendo surpresas sobre o trabalho, impasses éticos do psicodramatista e dos outros participantes. Portanto, pesquisar a afetividade através das intervenções psicodramáticas abre a possibilidade de atender às necessidades de uma prática social engajada com a liberdade e a felicidade humanas, além de revelar suas tramas de poder.
O psicodrama e a educação sosiocomunitária, tem expressão mais dinâmico no posicionamento psicodrama Pedagógico, O Psicodrama Pedagógico, formulado pela pedagoga argentina Maria Alicia Romanã, é a aplicação na relação ensino-aprendizagem de pressupostos do que Moreno denominou Psicodrama, e fomenta ações intencionais em detrimento à conserva cultural
2 PSICODRAMA PSICANALÍTICO
Psicodrama psicanalítico faz intervir um novo elemento que se manifesta na psicoterapia, o espaço. Ou seja, a criação de um cenário, o palco, em que é possível representar o mundo e os objetos internos do paciente. O que antes da técnica psicodramática só era possível ser expressado, através da linguagem verbal, passa a ser possível num espaço que é quase-real e quase-imaginário. Este ponto é interessante, porque o espaço em Psicodrama, mais propriamente o espaço na dramatização, sendo definido como espaço de ‘como se’, faz a ponte entre o real e o imaginário, porque abre as portas à identificação projetiva, ao mesmo tempo que é um espaço onde o que é representado não faz parte da experiência ‘real’ das pessoas que nele intervêm. Espaço aberto e como que preso entre dois planos de existência, o espaço no Psicodrama é um portal de equilíbrio, talvez instável, entre mundo interno e mundo externo. Adam Blatner (1988) define o Psicodrama como sendo um esforço em sintetizar alguns princípios:
1) Uma filosofia fenomenológica, orientada a nível processual que enfatiza a importância da criatividade. 
2) A natureza da espontaneidade, o seu valor e as maneiras de a desenvolver, como uma chave para se ser mais criativo. 
3) Maior autenticidade das relações, usando métodos que promovem o encontro e uma mudança social coletiva. 
4) Teatro de improvisação, como veículo para a revitalização das artes e como fonte de ‘terapia das massas’.
5) Métodos para a investigação e futura aplicação destes princípios. 
Sendo uma técnica psicoterapêutica direta ou experiencial, o processo terapêutico realiza-se no aqui-e-agora: no aqui, enquanto espaço relacional, onde, tal como veremos mais à frente, existe o eterno jogo interconexos dentro do qual estão o espaço e o contexto dramático; e no agora, onde se vive no momento presente uma ligação com narrativas pertencentes ao contexto social do paciente, as quais, quer sejam presentes, passadas ou futuras, são dramatizadas no presente. 
Ou seja, este aqui-e-agora não impede que a narrativa do paciente, ou que o questionamento do terapeuta, não possam conduzir a questões do passado ou a projeções no futuro; o comportamento, esse sim, é que é obrigatoriamente agido e pensado no presente e no espaço psicodramático. 
No que diz respeito ao alcance do Psicodrama, este vai do individual até ao social, tal como é referido por Moreno (1980), tendendo as características inerentes ao Psicodrama, nomeadamente, a amalgamar o individual e o social, ao ponto de os tornar inseparáveis, embora, paradoxalmente, se encontrem em rigor separados. Carlos Amaral Dias define, precisamente, o Psicodrama, enquanto Psicoterapia Individual em Grupo, no sentido em que o Grupo existe como coesão de indivíduos, unidos na mesma tarefa, que é o crescimento dos indivíduos que constituem o grupo. 
Este processo é, por outro lado, diferente do crescimento do Grupo, enquanto Grupo, embora esse crescimento a nível grupal se possa observar, à medida que os indivíduos que o compõem vão fazendo o seu trabalho psicoterapêutico individual. 
Enquanto espaço de espontaneidade, o Psicodrama, tem, como meta, uma dramatização, em que o papel seja representado, possuindo, como único guião, o mundo interno da pessoa que o representa. 
Comparativamente, é como a situação do escritor que, perante a folha em branco, só poderá preenchê-la com algo que lhe é interno. No entanto, esta espontaneidade psicodramática não é suposta nascer de uma forma tão rápida ou evidente quanto se possa pensar, por exemplo, como quem entra pela manhã no chuveiro antes de ir para o trabalho. 
O indivíduo não entra em palco para desempenhar um papel sem que muito tenha sido realizado no processo terapêutico. Apesar de Moreno ter usado, vezes sem conta, as expressões: espontaneidade, espontâneas e espaço de liberdade, entre outras, ele prevê este problema contraditório da espontaneidade psicodramática. 
A ausência de uma forte teorização do Psicodrama – o espaço de liberdade que foi deixado a cada Psicodramatista e a espontaneidade que lhe é inerente enquanto técnica psicoterapêutica – permitiu um grande ecletismo de técnicas que se reagrupam sobre o nome de Psicodrama. Esta ausência de teorização deveu-se, principalmente, a uma escolha pessoal de Moreno, afirmando que a teoria não passava de uma espécie de lata de conserva que não favoreceria nunca uma técnica que se queria livre de constrangimentos teóricos. 
Assim, nos desenvolvimentos do Psicodrama, um pouco por todo o mundo, foram surgindo psicodramatistas com diferentes formações teóricas, encontrando no terreno psicodramático uma terra fértil para o florescimento de diferentes corpos teóricos ligados à esfera psicoterapêutica. 
Apesar do confronto feito pelo jovem Moreno a Sigmund Freud em Viena, e apesar de Moreno ter realizado um esforço considerável ao longo da sua vida para demarcar a técnica psicodramática da teoria psicanalítica – sendo que o ponto mais alto deste esforço foi a criação do conceito de tele, que mais não é que uma aglomeração num único conceito dos conceitos psicanalíticos de transferência e contratransferência – também a Psicanálise, enquanto teoria, viria a ser aplicada à técnica psicodramática de Jacob Levy Moreno. 
3 MORENO E SUA CONTRIBUIÇÃO AO TRATAMENTO DA PSICOSE 
Moreno alinha-se a fenomenologia e ao pensamento existencialista, adotando uma suspensão de valores ao lidar com os fenômenos humanos e sociais, inclusive no âmbito da saúde mental.
Não há como negar que, por influência da metodologia fenomenológica e do existencialismo, desenvolveram-se vários modelos terapêuticos bem definidos, dentre eles, a obra de Moreno, visando proporcionar à pessoa um autoconhecimento e uma autonomia psicológica que a possibilitasse assumir livremente a sua existência. Neste aspecto, o foco deixade ser o modelo médico-higienista e a perturbação mental e passa a ser o indivíduo situado em um contexto de relações sócio afetivas. Contra a perspectiva do “homem doente”, o método fenomenológico, o pensamento existencialista e a obra de Moreno surgem como uma nova percepção e outra maneira de lidar com o homem.
É a partir da leitura de homem acima que se concebe a saúde mental. A reforma psiquiátrica em três aspectos: propiciar um novo estatuto social do “doente mental”; ressignificar saúde e doença e, substituir o modelo manicomial por um modelo de atenção integral à saúde mental. Torres e Amarante (2001), ao discorrerem sobre a proposta da reforma psiquiátrica, definem a necessidade de uma mudança de paradigma do papel dos técnicos, aqueles que passam a não usar mais a técnica normativa do saber psiquiátrico tradicional, mas, que trabalham de forma coletiva para mudar as relações, possibilitar a expressão da loucura e reconhecer o ‘louco” como um sujeito social e político.
Moreno, em sua obra, deixa explícita a sua compreensão do homem com um ser social e, consequentemente, relacional que se caracteriza pela espontaneidade e capacidade de perceber ao outro. Espontaneidade é a capacidade de dar respostas inovadoras e transformadoras diante de situações novas ou antigas. Essa capacidade de criar e recriar respostas está vinculada à espontaneidade criadora, estimulada na dramatização. Define como seu objeto de estudo a interação entre pessoas, ou seja, o indivíduo com o coletivo, destacando o grupo sócio afetivo como a base para a construção da existência emocional do sujeito. 
Como Moreno (1992, 1993) compreende o homem como ser essencialmente social, considera que é justamente nas interações sociais que as relações entre os indivíduos se tornam saudáveis ou patológicas. Se Moreno concebe o homem como ser social, em constante relação, sua concepção de saúde também é relacional. Trata-se da possibilidade de transitar nas dimensões fantasia e realidade e, assumir diferentes papéis conforme os variados contextos. Conseguir jogar personagens, assumir-se e circular no seu átomo social e entre grupos. Não se cristalizar, reduzir-se a uma faceta, uma posição, em um número reduzido de papéis. 
Marra (2006) define átomo social como o núcleo de relações que se desenvolve ao redor do indivíduo; assim, cada indivíduo tem o seu átomo social. Circular entre grupos, ou seja, participar de diferentes contextos relacionais, envolve um exercício de sociabilidade que implica em um jogo de criação e/ou desenvolvimento de personagens, conforme o cenário e enredo em questão. Nesse sentido, transitar em diferentes ambientes sociais não só aumenta a rede relacional, como estimula a maleabilidade emocional ao lidar com diferenças. Alves (2006, p.3) deixa esta concepção de Moreno clara quando diz: “(...) as inter-relações, condição mínima para a existência grupal, são, na verdade, as grandes determinantes para apontarmos o grupo como lócus da saúde e da doença do homem.”
Para Alves (2006), o grupo tem uma forma de funcionamento que é funcional ou disfuncional e, por isto, pode se tornar lócus de saúde ou de doença. O adoecimento da relação envolve um conjunto de díades de vínculos e, o transtorno psíquico é a doença da inadequação, da não espontaneidade. O autor elenca alguns itens que são necessários para manter o grupo como lócus de saúde em que se destacam: possibilitar escolhas e liberdade sociométrica; promover equilíbrio (introversão x extroversão e homogeneidade x heterogeneidade); liberar a espontaneidade contida pelas conservas; desvendar tramas ocultas. Entende-se conserva cultural como tudo que é pronto, um conceito dialético à espontaneidade criadora, que delineia a nossa subjetividade e pode nos cristalizar. Desempenhar diversos papéis sociais relaciona-se com saúde, pois, o indivíduo terá um maior grau de liberdade, considerando liberdade como possibilidade de escolhas e de criação de novos personagens. 
4 INTERVENÇÕES PSICODRAMÁTICAS EM ORGANIZAÇÕES EMPRESARIAIS 
A intervenção psicodramática é uma metodologia que segue a base teórico-metodológica da socionomia, mas que não tem um “script” predeterminado; ela varia em sua realização influenciada pela espontaneidade e criatividade do grupo que está em ação. Esse processo, por sua vez, resgata a essência da identidade dos indivíduos, integrando verdadeiramente sua razão e sua sensibilidade, potencializando um estado que poderia ser chamado de espontaneidade ética. 
Questões sobre sua identidade, sua consciência e suas representações sociais ficam mais evidentes. A relação entre significado e sentido pode ser revista como uma relação entre ideologia e afetividade, pois que a complementaridade da expansividade afetiva é a estruturação da autoridade e poder, entendendo que, toda movimentação dos sentimentos é uma explicitação ideológica, assim como, toda explicitação ideológica é uma movimentação dos sentimentos. 
Pensar o homem como um ser integral, tal qual propõe o psicodrama, é aceitar que os aspectos psicológicos humanos precisam ser entendidos em seu processo de desenvolvimento e que, portanto, sua identidade pode ser reconhecida a partir do movimento que o humano realiza com outro humano. Assim entendida, a ação humana é reflexiva e não reflexa, sua expressão está contida na representação espontânea e criativa dos papéis, o que por outro lado revela que é na identidade que se encontra a síntese da relação do sujeito com a sociedade, ou seja, suas narrativas mostram como seu cotidiano foi construído pela história, pelo concreto de suas relações afetivo-sociais. 
A organização dos vínculos grupais produz e é produzida por um sistema de autoridade e poder em que se entrelaçam os papéis sociais e suas complementaridades, tal qual um sistema lógico que permite articular as produções organizativas, que dão “corpo” à ação, com as produções vinculativas, que dão “vida” às relações, ordenando espaços e atribuições, criando alianças e oposições, facilidades e obstáculos, enfim, constituindo o tecido afetivo-social que é a rede sociométrica das relações de poder. Assim, as representações que os sujeitos fazem de seu mundo são efetivadas a partir da ocorrência de muitos mediadores, manifestadas a partir do conteúdo de sua consciência, evidenciando que sua representação social não corresponde à sua prática cotidiana, principalmente se essa representação social for ideológica e, enquanto tal, não permitir que o sujeito mantenha-se na sua espontaneidade-criadora. 
Ao sentir-se impedido de representar seus papéis de forma espontânea e criativa, o sujeito assume a atuação desses papéis, como forma de atender as exigências sociais sobre ele, porém, transformando-se em um indivíduo-clichê. Se o conceito de trabalhador se apresenta como um conceito valorativo, com referência a um tempo e a um lugar, então, é também ideológico, quer dizer, representa a ideia que socialmente é construída sobre o trabalhador, que são assimilados socialmente, sem muita consciência ou atitude reflexiva sobre os mesmos. (FATOR, 1997) 
A ideia de dever-se presente nos trabalhadores é socialmente construída, ou como diz Moreno (1992), é uma conserva cultural, na medida em que é um fruto cristalizado pelos valores da sociedade que a produz e é, pode-se dizer assim, vazia de sentimentos. O que se sabe é que os trabalhadores já nasceram inseridos em seu cotidiano. Sua vida diária não está fora da história, mas, ao contrário, está no centro do seu acontecer histórico. No seu cotidiano eles trabalham com estas duas forças; a conservadora, que vem da generalização da sua função e a espontânea criativa que parte dele enquanto individualidade. 
Nem sempre ambas caminham no mesmo sentido e, muitas vezes, é do conflito entre elas que se origina a mudança do seu papel. A superação desta crise como um salto qualitativo será o resultado de pequenas mudanças lentas e graduais, que provavelmente ocorrerão ao longo de sua história de vida. Não se trata, portanto, de negar a identidade-clichê,pois, é fundamental para a segurança e a confiança interpessoais, mas sim, integrá-la com a identidade-espontânea, que juntas permitirão um estado de tensão existencial propício para o movimento constante de emancipação. É possível considerar que os resultados conseguidos pela metodologia psicodramática sejam limitados pelas características das relações de poder, incluída aí, a postura ética do psicodramatista. 
É Moreno (1972) quem diz: [...] se o cientista é parte implicada na própria realidade social, ele que se valha de sua posição como uma abertura e uma estratégia metodológica; se não é nada mais que um sujeito, lançado na interioridade e no entrecruzamento de correntes intersubjetivas, isso significa tão somente que sua posição não o privilegia mais do que aos outros sujeitos implicados e que, nesse sentido, o experimento tem que ser um projeto movido do interior e, envolvendo a participação conjunta de todos (MORENO, 1972, p. 130).
5 PSICODRAMA E A EDUCAÇÃO SOCIOCOMUNITÁRIA 
A psicodrama e a educação sociocomunitária tem como principal exemplos as metodologias utilizadas na alfabetização de jovens e adultos, apresento o Psicodrama Pedagógico como uma alternativa metodológica voltada à formação do Homem no que se refere ao autoconhecimento, à iniciativa, à autonomia, à liberdade, à emancipação, à espontaneidade, à criatividade, à transformação. 
O Psicodrama Pedagógico, formulado pela pedagoga argentina Maria Alicia Romanã, é a aplicação na relação ensino-aprendizagem de pressupostos do que Moreno denominou Psicodrama, e fomenta ações intencionais em detrimento à conserva cultural, que segundo Aguiar (1988) e Fonseca Filho (1980) se referem à cristalização do produto da criação, cujo efeito danoso seria impedir o fluxo criativo da vida humana. 
A conserva cultural limita a criação, imortalizam-na, não permite novas perspectivas de mudança. Diante desta constatação, este estudo busca relacionar a ação do Psicodrama Pedagógico com uma possível opção dos docentes enquanto metodologia de ensino voltada à alfabetização de jovens e Adultos. O aluno da Educação de Jovens e Adultos é o jovem e o adulto que não usufruíram o direito à educação escolar em idade assegurada, legalmente. O retorno deste aluno aos bancos escolares é uma decisão que pode ter sido adiada por inúmeros fatores, especialmente, os da subsistência. 
A escola que ora o recebe, frente ao propósito da alfabetização, deve pensar em metodologias que acolham, incluam e que partam das muitas memórias, vivências acumuladas, que asseguraram estratégias de engajamento social, no trabalho, para além da aprendizagem formal. 
O ato de ler não se limita ao mero relacionamento da fonética dos códigos escritos aos signos que os representam. 
O homem só se humaniza por meio das relações interpessoais que estabelece. É preciso mediatizar a leitura de mundo para que os alunos saiam do papel de vitimizados e assumam os rumos de suas vidas, em condições de escolha e não como determinismo. Para Freire (1978) através das experiências vividas, os indivíduos vão cunhando leituras de mundo que precedem a leitura da palavra. O conceito de letramento alarga a concepção da alfabetização tradicional, pois, trata do uso funcional da leitura e da escrita no cotidiano, fazendo do leitor/escritor um sujeito com maiores condições de ser inserido na sociedade. 
Portanto, o domínio de códigos não assegura o uso da língua em práticas de interpretação de diferentes gêneros de textos, escrita de mensagens, entendimento de notícias, tão comuns, aos centros urbanos. Não limitando a função da escola apenas ao favorecimento das atividades que envolvem o letramento, percebese que as pessoas que foram excluídas das várias esferas da participação da vida moderna precisam de outra “alfabetização”, isto é, de uma alfabetização que as incluam de modo voluntário, ao exercício de sua autonomia, de sua liberdade. Para Freire (1974), a existência humana, não se pode ser muda, silencio sa, nem tampouco se nutrir de falsas palavras, mas de palavras verdadeiras, assim pode modificar o mundo: não há palavra verdadeira que não seja práxis. “Existir, humanamente, é pronunciar o mundo, é modificá-lo. 
O mundo pronunciado, por sua vez, se volta problematizado aos sujeitos pronunciantes, a exigir deles novo pronunciar” (FREIRE, 1974, p. 92). As palavras verdadeiras são fortes para transformar o mundo. Coloca como tarefa do educador a investigação das palavras significativas, ou seja, palavras geradoras, que se segue com a investigação do tema gerador. O levantamento dessa temática envolve a investigação do modo de pensar do povo, em sua realidade. Esta investigação não se dá sem o povo, pois “os temas, em verdade, existem nos homens, em suas relações com o mundo, referidos a fatos concretos” (FREIRE, 1974, p. 116). 
Deste modo, um mesmo fato objetivo pode ou não, provocar um conjunto de temas geradores, dependendo da percepção que dele tenham esses homens. Captar os temas, enredos os quais vivem os alunos, faz com que haja uma aproximação entre os homens, ou seja, professor e alunos frente à realidade. O ato educativo, por ser um ato político, (FREIRE, 1997) deve comprometer-se com a libertação dos homens, pois: “A libertação autêntica, que é a humanização em processo, não é uma coisa que se deposita nos homens. 
Não é uma palavra a mais, oca, mitificante. É práxis, que implica na ação e na reflexão dos homens sobre o mundo para transformá-lo” (FREIRE, 1974, p. 77). Uma convergência com este conceito de liberdade é possível encontrar em Moreno, (apud AGUIAR, 1988, p. 143), o criador do Psicodrama. Para ele, a espontaneidade e a 4 liberdade se constituem como complementos uma da outra. Assim, “o homem que não encontrou sua liberdade, subordinando-se, impotente e inerte, às forças externas que o determinam, é o homem amarrado, travado, repetitivo: não espontâneo”. 
O Psicodrama pode constituir um recurso pedagógico para o trabalho com jovens e adultos, à medida que reconstrói contextos, revela conflitos latentes, dá oportunidade de rever passagens (cenas) de uma vida e novamente, reconduzi-la para uma segunda escolha do autor, com a participação de um coletivo (classe) que acolhe e apoia seu autor. Mediados pelo Psicodrama, a apropriação da autoria dos atos pelos alunos da EJA reportará a alfabetização a um diferencial em suas vidas: “[...] uma das funções, se não a principal, de qualquer trabalho de reflexão é pensar o impensado que existe num determinado sistema teórico-prático e que o impensado nas proposições morenianas é justamente a história [...]” (NAFFAH NETO,1980, p. 51,) 
A história se faz pela constante superação de uma situação de fato, buscando enfrentamento. A História não se faz pela passividade, mas quando o sujeito atinge consciência. Ao desenvolver maior consciência, o sujeito age de modo a transformar sua história pessoal e grupal. A construção de textos coletivos com os alunos da EJA, com sua posterior ação dramática, possibilita novo contato e novo encaminhamento de vivências passadas. Não se trata de simples representação, mas de uma forma de avançar, rumo ao fortalecimento de novas atitudes, frente à própria vida. Segundo Aguiar (1988), o teatro espontâneo tem duplo desiderato: que os sujeitos sejam investigadores e que será na ação que se realizará a transformação da realidade. 
O teatro espontâneo, ou teatro da espontaneidade, não segue texto preestabelecido, e sua composição (tema, personagens, enredo), acontecem simultaneamente à sua ação, decorrente da pesquisa do diretor, que vê emergir da plateia os elementos que darão sequência às cenas. Os atores emergem da plateia e qualquer participante pode subir ao palco e reconduzir os enredos propostos. “Na ausência de um texto prévio, tudo se improvisa. Autor e ator se fundem numa mesma pessoa: palco e plateia se acumpliciam para produzir o espetáculo” (AGUIAR, 1988, p. 23). 
A partir da afirmação de Paulo Freire (1976) sobre a leitura de mundo, a problematização da realidade, preceder ao ato de lere escrever, e sendo o Psicodrama um meio de se qualificar sentidos ao mundo, a utilização do psicodrama, como ferramenta pedagógica, busca integrar esses dois vieses e estruturar uma prática educativa que prima pela valorização da história de vida do aluno, da memória oral, da expressão de diferentes pontos de vista, sobre um mesmo objeto de estudo e provocar novas experiências de vida. O próprio exercício de narrativas pautadas em memórias, o resgate de sentidos atribuídos à vida em diferentes momentos da história pessoal de cada aluno, de descobertas, dúvidas, são também Pesquisas do Si Mesmo, possíveis pela utilização do Psicodrama Pedagógico, tal como foi empregado nas aulas.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
O desenvolvimento deste trabalho nos permite concluir que os contextos psicodramáticos são, ainda que não do ponto de vista teórico, o aspecto fundamental no qual toda a técnica Psicodramática se baseia, e a sua presença é tão notória que os torna ‘entidades’ sempre presentes e sempre atuantes como qualquer outro dos atores deste Teatro da Espontaneidade. 
Contexto Social Este contexto deverá ser tomado como a área de representação das relações pessoais do sujeito e que correspondem à estrutura vivencial do mesmo, nas suas vertentes amorosa, filial, profissional, etc. É aqui o lugar onde estas narrativas e representações se moldam e são expressas. Este é o contexto inicial da sessão de psicodrama em que um grupo de pessoas se encontra numa atividade comum e comunica, usando os seus papéis sociais usuais. É também o contexto de saída da sessão, para o qual os pacientes são remetidos e ao qual são devolvidos, regressando à sua estrutura vivencial extra-grupo. 
Para compreender este contexto social, porém, não é apenas relevante a descrição da pessoa sobre o que se passa, uma vez que há que ter em atenção a natureza do que se passa na vida do sujeito, e o seu modo interno de funcionamento. Aquilo que permite distinguir, com muita clareza, o contexto social psicodramático do contexto social de um qualquer outro grupo de pessoas é que, no grupo psicodramático, não seremos somente um eu-social, mas teremos também um eu-social. Esta compreensão simples ajuda à determinação do trabalho a efetuar e constitui uma das várias originalidades do pensamento de Carlos Amaral Dias sobre a prática e o significado do psicodrama.
REFERÊNCIAS
AGUIAR, Moysés. Teatro da Anarquia: Um resgate do Psicodrama. Campinas, SP: Papirus, 1988. 
BERMUDEZ, R. 1980. Introdução ao Psicodrama. São Paulo: Ed. Mestre Jou. 1997 Teoria y Técnica Psicodramáticas. Barcelona: Paidós.
ELLER, A. - Sociologia de la vida cotidiana. Barcelona: Espana, 1989. 
FATOR, T. Razão e sensibilidade: os resultados de intervenções psicodramáticas em organizações empresariais. Dissertação de Mestrado; PUC-SP, 1997. 
FONSECA FILHO, José de Souza. Psicodrama da Loucura-Correlações entre Buber e Moreno. São Paulo: Ágora, 1980.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1974. 
______. Ação Cultural para a Liberdade e outros escritos. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976. 
______. Cartas a Guiné-Bissau: Registros de uma experiência em processo. 2ª. Ed., Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.
 ______. Educação e Mudança. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983. 
______. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1997. 
MORENO, J.L.. Fundamentos do Psicodrama. São Paulo: Summus Editorial Limitada, 1983. 
MORENO, J.L. Psicodrama. São Paulo: Cultrix, 1992.
NAFFAH NETO, Alfredo. Psicodramatizar-Ensaios. São Paulo: Ágora, 1980.

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