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N° 27 • Novembro / Dezembro • 2010 | Gestão de Resíduos | 3 Chegamos ao final de 2010. O ano, que começou com todas as dúvidas trazidas pela crise econômica internacional, termina melhor do que os mais otimistas esperavam. A Copa do Mundo não nos trouxe a felicidade sonhada; as eleições tiveram novidades, boas e ruins, mas o que realmente vale comemoração é a mudança histórica do nosso setor, que ganhou origem, identidade e classe. A aprovação da Política Nacional de Resíduos Sólidos desper- tou investimentos estrangeiros e avanços tecnológicos, desvendando a obsolescência da infraestrutura e a ausência de metas na limpeza pública; sem investimentos públicos esta- remos atrelados ao passado. O ano também ficou marcado como o início das grande fusões no setor. Na matéria de capa a RGR mostra a importância da sustentabilidade na cultura das empresas e como a Tetra Pak se transformou num ícone de sucesso em reciclagem e logística reversa. Em entrevista especial, Ian Cooper fala do interesse e das dificuldades da Ener-G para competir no mercado brasileiro de geração de bioenergia. Boas Festas e Feliz Ano Novo 2010 O ANO DA V IRADA EDITORIAL EXPEDIENTE Walter Capello Junior Eduardo Capello Célia Salles Rodrigo Zevzikovas – MTB 51.109 Eduardo Capello Rogério Abreu Simone Paschoal Nogueira, Rose Gottardo, Emiliano M. Graziano da Silva, Anderson B. Costa e Cássio Peixoto Terra Marcelo Abad Bimestral 8.000 exemplares Vox Editora Publisher Diretor Comercial Diretora Executiva Jornalista Responsável Gerente Comercial Diagramação e Arte Colaboradores Assinatura Periodicidade Tiragem Impressão A revista não se responsabiliza por conceitos ou informações contidas em artigos assinados por terceiros. Redação e Publicidade Rua Turiaçu nº 143 - Cj 124 05005-001 - São Paulo, SP Telefones: 11 2614-1978/11 2615 1978 E-mail: info@gestaoderesiduos.com.br Site: www.gestaoderesiduos.com.br 4 | Gestão de Resíduos | N° 27 • Novembro / Dezembro • 2010 N° 27 • Novembro / Dezembro • 2010 | Gestão de Resíduos | 5 SUMÁRIO SUMÁRIO Gestão de Resíduos | nº 27 Especial | PÁG. 24 Eletroeletrônicos – O gerenciamento dos resíduos eletroeletrônicos em contraponto com o emergir do poder de compra das classes sociais Capa | PÁG. 8 Links do Portal | PÁG. 30 Gestão de Resíduos Online Expansão e Desempenho As mais recentes informações do setor no Brasil e exterior Entrevista | PÁG. 6 Ian Cooper, executivo da Ener-G, empresa britânica, fala das tentativas e entraves para entrar no mercado de geração de bioenergia no Brasil Embalagem Longa Vida A sustentabilidade na cultura empresarial coloca a Treta Pak na vanguarda da logís- tica reversa das embalagens longa vida Colunas 22 Ponto de Vista Prof. Anderson Borges Costa Sólidos Resíduos da Educação Ambiental 26 Parecer Técnico Walter Capello Junior A questão RCD na demolição dos edifícios São Vito e Mercúrio 28 Olhar Jurídico Dra. Simone Paschoal Nogueira A Política Nacional de Resíduos Sólidos sob a ótica das obrigações e responsabilidades instituídas 32 Ação Social Engº Emiliano Milanez Graziano da Silva A inclusão social de políticas como o PPCS 34 Razão Ambiental Rose Gottardo A democratização da informação ambiental Eventos 20 FIMAI 2010 – Apresenta novidades Aprovação da PNRS empolga empresas que investiram em lançamentos Revista Gestão de Resíduos – Porque a Ener-G escolheu o Brasil? Nós já tentamos fazer negócios no Brasil, no início da década, mas não tivemos sucesso. Porém, nesse meio tempo, nós passamos por seis outros países e, em todos, em seis meses já conseguíamos começar a operar. Mas, no Brasil ainda está muito duro de entrar no mercado. Estamos voltando para tentar, pela última vez, senão não compensa continuar ‘quebrando a cara’. RGR - Quais são os principais problemas? Apesar de ter muito campo para trabalhar com energia gerada pelo lixo, o Brasil não tem incentivo suficiente. Aqui tem muito mercado e falta muita tecnologia, muito ex- pertise. Por isso, estamos de volta ao Brasil, para tentar ampliar o mercado brasileiro de energia renovável. RGR - O que a Ener-G poderia fazer para ajudar? O que falta? A empresa elabora os projetos, acom- panha todo processo de licitação, além de montar os equipamentos necessários para operação. Porém, é muito difícil uma empresa estrangei- ra entrar no Brasil. Por isso, estamos iniciando um trabalho, conversas com pessoas influentes, para, quem sabe, chegar no governo federal. E ai sim, tentar nas outras esferas de governo e começar o trabalho. A única coisa que precisamos é de incentivo fiscal. Diminuir a taxa de impostos, que impede a entrada no Brasil. RGR - A Ener-G já cogitou a possibilidade de fazer parcerias com empresas brasileiras? A empresa não necessita de parceria, pois já está em outros países e, sem- pre sozinha. Nós já temos a expertise desejada. Mas, no Brasil, com certe- za, precisaremos fazer parceria com alguma companhia para entrar no mercado, que é muito fechado. RGR - Vale a pena só vender o projeto? Não. Pois aqui não há como escapar dos problemas fiscais, tudo passa pela legislação e vão ser cobradas essas taxas, não tem como escapar. RGR - O fato da energia elétrica normal ser subsidiada pelo governo federal atrapalha o mercado? Que tipo de incentivo o governo poderia dar também para a energia gerada em aterro? No Reino Unido, por exemplo, não podemos ter energia só de ater- ros, eles precisam ter outros tipos de energia para manter o equilíbrio no fornecimento de energia. Por isso, implementaram a diversificação das fontes de energia, e limitaram o aproveitamento de energia do aterro. RGR - Quantos anos o Brasil está atrasado? O Brasil tem todo o potencial, fa- cilita para algumas coisas, mas é como se não quisesse entender, para outras. O País está muito bem em algumas áreas, mas em outras coisas o que pega é a legislação. A burocracia, a coisa de importação. Por exemplo, a empresa veio ao Brasil e quer aju- dar, mas o que impede são as taxas exorbitantes do governo. O que falta é incentivar e abrir mais para o mer- cado, pois eles têm a tecnologia, só falta o Brasil abrir as portas. ENTREVISTA ENTREVISTA Anos de atraso 6 | Gestão de Resíduos | N° 27 • Novembro / Dezembro • 2010 Ian Cooper é diretor da divisão de desenvolvimento da Ener-G. A empresa britânica existe desde 1997, quando começou a construir e operar projetos de geração portáteis e modulares de energia a partir do lixo. Cooper está em sua segunda tentativa de começar operar no Brasil, por isso participou da Feira Internacional de Meio Ambiente Industrial e Sustentabilidade (FIMAI). Lá, o executivo recebeu a reporta- gem da Revista Gestão de Resíduos para um bate papo sobre as diferenças de se trabalhar no Brasil e em diversos outros países do mundo. Legislação brasileira por Rodrigo Zevzikovas Aliás, essa nova feição da responsabilidade ambiental na gestão dos resíduos prevista na PNRS é a maior esperança para que possamos construir uma correta e eficiente gestão dos resíduos. O ciclo desta gestão deve começar desde o ponto zero, ou seja, da produção. E é talvez ai que esteja o grande problema, conscientizar os empresários da responsabili- dade sobre seu produto até o seu descarte final. Muito já se falou dos problemas e contrapontos, mas como exem- plo de sucesso em todos os âmbitos temos de ressaltar a Tetra Pak, empresa que na vanguarda da logística reversa acompanha todo o ciclo de vida do seu produto: de berço a berço. Atuando eficientemente em todas as etapas do gerenciamento de resíduos das embalagens que produz, no entendimento de que reciclagem é transformá-loem matéria-prima para novos produtos, retornando sempre ao processo produtivo. São muitas as vantagens desse pro- cesso, sendo o principal deles, reduzir a exploração de recursos naturais minimizando o impacto ambiental. Criada nos princípios da segurança alimentar, as embalagens longa vida ganharam o mercado de produtos alimentícios. É completa e complexa porque envasa, protege com seguran- ça e evita o desperdício, outro importante fator para a preser- vação do meio ambiente, dos recursos naturais e da saúde do consumidor. “A Filosofia do fundador já era de que deveria custar mais barato que o produto envasado.” A Tetra Pak possui metas ambientais internacionais que envolvem o aumento da taxa de reciclagem de suas em- balagens, diminuição da pegada de carbono, uso de matérias-primas certificadas, redução do consumo de água e energia, otimização dos processos de fabricação e envase, en- tre outras. A certificação FSC (Forest Stewardship Council) de suas embalagens é um exemplo da preocupação ambiental da empresa garantindo que as florestas plantadas para obten- ção da celulose e que compõem 75% das embalagens longa vida, são manejadas dentro dos padrões internacionais de preservação ambiental. A logística reversa é um dos principais pontos da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), recentemente aprovada no Congresso Nacional e que ainda aguarda regulamentação. Isto porque, trará pequenas modificações no perfil da responsabili- dade ambiental relativamente aos resíduos produzidos no Brasil, já que obriga o fabri- cante a disponibilizar infraestrutura e canais para recolhimento e destinação adequada dos produtos e resíduos por ela gerados, após o uso pelo consumidor. Sinônimo de embalagem longa vida e exemplo em sustentabilidade segue na vanguarda da logística reversa CAPACAPA Por Rodrigo Zevzikovas N° 27 • Novembro / Dezembro • 2010 | Gestão de Resíduos | 98 | Gestão de Resíduos | N° 27 • Novembro / Dezembro • 2010 Tetra Pak Instalações da Klabin O transporte de embalagens da fábrica da Tetra Pak para seus clientes é feito de forma otimizada, em bobinas o que garante um mínimo de impacto am- biental no transporte, acrescentando que após o envase, 75% da carga trans- portada é produto e apenas 5% do peso corresponde às embalagens. Em outras palavras, há menor consumo de combustível fóssil, consequentemente menor emissão de CO2 na atmosfera, reduzindo o impacto ambiental. Embalagens como ferramenta de comunicação A empresa ainda acredita que embala- gem longa vida também funiona como uma excelente ferramenta de comuni- cação, desde que pode e deve conter informações sobre a origem e a desti- nação das embalagens pós-consumo, padronizar mensagens de embala- gem reciclável, assim como, os selos e certificações ambientais, além dos rótulos obrigatórios e informações sobre o produto envasado. Origem do papel certificado gera embalagens certificadas Fernando von Zuben, diretor de Meio Ambiente da Tetra Pak faz questão de frisar que, na realidade, a embala- gem é 75% composta de papel cartão. Números reciclagem 53 mil toneladas / ano - quantidade reciclada atualmente pelas 32 fábricas recicladoras 80 mil toneladas / ano - capacidade produtiva das 32 fábricas recicladoras Grau de reciclagem das embalagens Tetra Pak - 100% Taxa de reciclagem das embalagens longa vida no Brasil - 25% Expectativa da taxa da reciclagem das embalagens longa vida no Brasil até 2014 – 40% Empresas recicladoras de embalagens longa vida no Brasil (2010) | 32 mil Capacidade de processamento da planta de reciclagem térmica | 8 mil toneladas de plástico e alumínio, que correspondem a 32 mil toneladas de embalagens do tipo longa vida / mês Peso da embalagem cartonada de 1 litro | 28 g Inauguração da primeira planta de reciclagem térmica com total separação do plástico e alumínio no Brasil | 2005 Ano de obtenção da certificação ambiental ISO 14001 | 1997 Produção de embalagens certificadas pelo FSC no Brasil | 100% Produção de embalagens identificadas com selo FSC no Brasil até 2009 | 2.103.000 Expectativa de embalagens com selo FSC no Brasil até dezembro de 2010 | 4 bilhões Investimentos e gastos em proteção ambiental em 2009 | R$ 11,4 milhões NúMEROS DA TETRAPAK PARA O MEIO AMBIENTE 10 | Gestão de Resíduos | N° 27 • Novembro / Dezembro • 2010 CAPACAPA 12 | Gestão de Resíduos | N° 27 • Novembro / Dezembro • 2010 CAPA “A produção florestal da Klabin nos dá muito orgulho e é certificada pelo FSC, selo mundialmente reconhecido, conferido pela WWF e que tem três vertentes uma social, econômica e ambiental, no modo como a certificação é feita,” como afirma von Zuben. Consequentemente, as embalagens também são certificadas. A Tetra Pak ainda garante aos seus clientes máquinas de processamento e envase de alta performance e com tecnologia de ponta, desenvolvidas dentro do conceito “design for environment”, o que significa que cada novo desenvolvimento deve passar por uma rígida avaliação ambiental antes de ser colocado no mercado. Pioneirismo na reciclagem das embalagens longa vida A embalagem longa vida é 100% reciclável, e o Brasil é referência mundial no que diz respeito às tecnologias de reciclagem desenvolvidas e imple- mentadas no país desde a década de 90. O processo consiste em separar a polpa celulósica, que é usada para a fabricação de diversos produtos como, por exemplo, caixas de papelão, tubetes, telhas de fibro-cimento em substituição à celulose virgem ou amianto, papel para impressão, etc. O site Rota da Reciclagem é mais uma ação da Tetra Pak a favor da reciclagem e em defesa do meio ambiente. O site foi criado para apontar, de forma didática, como qualquer pessoa interes- sada pode participar do processo de separação e entrega das embalagens longa vida para a reci- clagem. Informa ainda onde estão localizadas as cooperativas de catadores, as empresas comer- ciais que trabalham com compra de materiais re- cicláveis e os pontos de entrega voluntária (PEV) que recebem embalagens da Tetra Pak. O serviço está em constante atualização e todos podem contribuir bastante para isso. Se alguém conhecer alguma iniciativa de coleta seletiva, seja ela Cooperativa, Comércio ou PEV, que não esteja listada; basta informar ao site para que seja incluído. NúmEros do sITE roTA dA rECICLAGEm Comércios cadastrados: 806 Cooperativas cadastradas: 950 PEV’s (Pontos de Entrega Voluntária): 1.136 ROTA DA RECICLAGEM 14 | Gestão de Resíduos | N° 27 • Novembro / Dezembro • 2010 CAPA CAPA Após a separação da fibra de celulose, que corresponde a 75% em peso da composição da embalagem, ainda restam o polietileno e o alumínio que compõem a embalagem, respectiva- mente 20 e 5% do peso total. Até meados da década de 90 a desti- nação deste material reduzia-se à re- ciclagem energética, até que a equipe de engenheiros de desenvolvimento ambiental da Tetra Pak no Brasil buscou alternativas viáveis para a reci- clagem desse material. Telhas, placas, canetas, capas de caderno, sacolas, porta-canetas, para citar alguns dos diversos produtos que podem ser produzidos a partir de processos de termo-formação, extrusão, injeção, rotomoldagem, entre outros Além de todos os esses processos já de- senvolvidos e implementados, a Tetra Pak do Brasil investiu também no de- senvolvimento de uma nova tecnologia que permite a recuperação do alumínio metálico com a produção de parafina a partir do polietileno. A nova unidade tem capacidade para processar 8 mil toneladas/ano de plástico e alumínio – o que equivale à reciclagem de 32 mil toneladas de embalagens longa vida. A emissão de poluentes na recuperação dos materiais é próxima de zero, feita na ausência de oxigênio, sem queimas e com eficiência energética próxima de90%. O objetivo principal da nova planta sempre foi de ampliar ainda mais o volume de reciclagem das embalagens longa vida pós-consumo e, conse- qüentemente, da cadeia de reciclagem, com a geração de emprego e renda. “A nova planta é um marco no ciclo de reciclagem das embalagens longa vida. É um efeito cascata: a embalagem passa a valer mais para o reciclador e auto- maticamente passa a valer mais para o catador, que irá buscar mais e mais embalagens”, afirma o diretor de Meio Ambiente. FERNANDO VON ZUBEN DIRETOR DE MEIO AMBIENTE DA TETRA PAK RESPONDE O que explica o sucesso da Tetra Pak em relação à recicla- gem e ao ciclo de vida do seu produto? No Brasil, as práticas de gestão da Tetra Pak demonstram que é possível conciliar sucesso empresarial com uma pos- tura social e ambientalmente responsável. Nos últimos anos, a empresa tem investido no fomento às iniciativas de coleta seletiva das embalagens pós-consumo, no desenvolvimento de tecnologias de reciclagem e sua transferência para empre- sas recicladoras, assim como na educação ambiental e na busca pela utiliza- ção de fontes de energia limpas e matérias-primas renováveis. Ao beneficiar as pessoas e o meio ambiente, o resultado acaba se refletindo também no desempenho da empresa. A vivência empresarial no setor direcionou a Tetra Pak para reciclagem das embalagens, sua decomposição e o retorno ao processo produtivo como ma- téria-prima para outros tipos de embalagem. Explique-nos esta trajetória? Desde sua criação, a Tetra Pak, líder mundial em soluções para processamento e envase de alimentos, tem a premissa da sustentabilidade em seu DNA. Assim, a empresa acredita em uma liderança industrial responsável, gerando crescimento com rentabilidade em harmonia com a sustentabilidade ambiental e boa cida- dania corporativa. Partindo do princípio de que uma embalagem deve econo- mizar mais do que custa, a empresa investe, há 50 anos, em ações em prol da preservação do meio ambiente. Este trabalho inclui inovações tecnológicas para reciclagem, e do repasse destas para empresas recicladoras, atitude fundamen- tal para aumentar a coleta seletiva e a taxa de reciclagem das embalagens. A embalagem longa vida é formada por três materiais: papel, alumínio e polietileno. A primeira etapa da reciclagem consiste em separar o papel dos demais elementos. O trabalho é feito em um equipamento denominado Hidra- pulper, uma espécie de grande liquidificador que solta as fibras de papel com água. Elas seguem para processamento, onde se transformam em bobinas para a fabricação de caixas e papel para impressão (feito a partir da mistura de uma porcentagem das fibras recicladas com papel sulfite). O que sobra é uma massa de plástico e alumínio. O material é enfardado e encaminhado para empresas que irão transformá-lo em produtos como telhas, placas, pellets (grãos) para injeção ou para laminação de peças plásticas e parafina, recuperando o alumínio na forma metálica. No primeiro caso, a mistura é triturada e prensada até a eliminação de toda a água. Em seguida, o material é fundido e depois resfriado para, então, adquirir o formato desejado, como: telhas ou placas para construção civil. Essas peças vêm conquistando um mer- cado cada vez maior, graças a sua alta durabilidade e seu valor agregado. Outra vantagem é que elas são leves, flexíveis e possuem boa absorção acústica. No caso das telhas, elas são mais resistentes à degradação e oferecem melhor conforto térmico em comparação com as telhas comuns (o ambiente fica mais confortável, uma vez que o alumínio reflete os raios infravermelhos do sol, di- minuindo a absorção de calor). Já a técnica de peletização foi desenvolvida no Brasil pela Tetra Pak e vem sendo aplicada desde 1998. A transformação da mistura de plástico e alumínio em grãos permitiu ampliar a forma de utilização do material, que hoje é matéria-prima para a fabricação de peças plásticas – vassouras, bolsas, sacolas, embalagens, canetas, capas de cadernos, pastas e objetos de escritório, entre outras. Hoje, mais de dez empresas fabricam peças a partir dos pellets, que, por sua vez, são produzidos por duas recicladoras no estado de São Paulo. Em 2005, a Tetra Pak também desenvolveu, em parceria com as empresas Klabin, Alcoa e TSL Ambiental, a tecnologia de reciclagem do alumínio das embalagens, que consiste na separação total das camadas de alumínio e plástico. O alumínio pode ser comercializado na forma de pó ou barras (lingotes), e o polietileno é transformado em parafina, que é utilizada na produção de impermeabilizantes, lubrificantes ou como matéria-prima para a indústria química. A reciclagem no Brasil ainda é incipiente, de que estrutura necessitamos para alavancá-la a níveis consideráveis? O maior desafio está em desenvolver toda a cadeia de reciclagem, com foco no apoio às cooperativas de catadores voltadas à coleta seletiva e na educação ambiental da população. Uma das contribuições da Tetra Pak para auxiliar as pessoas a encontrar pontos de coleta seletiva foi a criação do site Rota da Reciclagem. Para viabilizar o projeto, a empresa desenvolveu uma ferramenta de busca com mapas, utilizando a tecnologia do Google Maps™. Ao digitar um endereço no site, o mapa mostra, em alguns segundos, todas as iniciativas localizadas nas proximidades. A ideia surgiu a partir da vontade da Tetra Pak de divulgar o enorme banco de dados que reuniu ao longo dos anos em que vem oferecendo apoio às atividades de coleta e reciclagem de suas embalagens pós-consumo. Além de organizar e disponibilizar essas informações, o site é uma ferramenta de trabalho que ajuda a identificar demandas, uma vez que permite visualizar, por exemplo, cidades e regiões onde faltam iniciativas de coleta e, a partir daí, desenvolver estratégias na tentativa de atender a tais demandas. Como o Senhor vê as divergências significativas entre as cooperativas, aparis- tas e a informalidade do mercado de recicláveis, quais os pontos vulneráveis dessa relação? Com um esforço conjunto de empresas e associações, após 19 anos de trami- tação, a Política Nacional de Resíduos Sólidos foi aprovada e sancionada pelo Presidente Lula. A nova lei institui as diretrizes para a gestão e gerenciamen- to dos resíduos do país, não apenas estabelecendo as responsabilidades de cada um dos agentes envolvidos no ciclo de vida dos produtos - fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes, consumidores e poder público - como também apontando os instrumentos e meios para a execução dessas responsabilidades. Desta forma, com cada agente assumindo sua responsabilidade, o mercado crescerá, gerando ganhos para toda a cadeia. Os benefícios ambientais virão com o incentivo à coleta seletiva e à reciclagem; os sociais, com a geração de emprego e migração de milhares de pessoas para a formalidade; e os econômi- cos, com o incentivo à indústria de reciclagem. A PNRS institui para as empresas uma responsabilidade que a Tetra Pak tomou para si há duas décadas, que mensagem o Senhor deixaria para os empresários brasileiros? Desde que surgiu o conceito de desenvolvimento sustentável, uma ideia consoli- dada durante a ECO-92, no Rio de Janeiro, nós, da Tetra Pak, entendemos que, se quiséssemos sobreviver, precisaríamos exercer um papel ativo na educação ambiental e no desenvolvimento de tecnologias de reciclagem de nossas em- balagens. Por isso, desde muito cedo, tivemos a coragem de inovar, investindo em uma liderança forte na área ambiental. Nossa visão de sustentabilidade é representada pela figura de um templo. Quando os gregos, romanos e outros povos antigos construíram seus templos, criaram estruturas extremamente sólidas porque desejavam que essas construções permanecessem firmes para várias gerações ao longo dos sécu- los. Nós também desejamos que o templo da Tetra Pak seja sustentável no longoprazo. Para isso, ele precisa estar apoiado em três pilares fundamentais: econômico, social e ambiental. A ideologia em cadeias diferenciadas de produção e comercialização A Tetra Pak fortalece suas parcerias e busca, em comum acordo com seus fornecedores, a excelência ambiental. A Klabin, por exemplo, na década de 60 tinha um con- sumo de água por tonelada de cartão vendidos de 300m³, hoje, com as máquinas mais modernas, está na faixa de 28-30m³. “Tivemos uma redução de 90% do consumo de água, isto é só uma mostra de como a gente trabalha com a cadeia e como eles são nossos clientes a gente tem uma certa força de convencimento. Isto é importante para mover a cadeia nos dois sentidos. Trabalhamos no mesmo esquema com outros clientes, Coca-cola, Unilever, clientes regionais, clientes menores, todos são clientes, estamos tentando melhorar o processo existente, como proibir de jogar leite ou suco no rio e o uso de madeira ilegal nas caldeiras, ter unidade de tratamento de água, essas atitudes básicas,” finaliza Fernando von Zuben. Plástico de fonte renovável da Braskem, mais um passo para excelência Nos últimos cinco anos, a Tetra Pak iniciou uma parceria com a Braskem, maior petroquímica das Américas e ter- ceira maior produtora de polipropileno do mundo, que re- centemente inovou ao lançar uma tecnologia de fabricação do chamado plástico verde, fabricado a partir do etanol da cana de açúcar, e 100% baseado em matéria prima renovável. “Hoje a questão ambiental deixou de ser nicho de mercado e está dominando toda a sociedade brasileira. E isso deve-se em grande parte à questão amazônica. As grandes queimadas, os grandes projetos durante o governo militar e também os grandes projetos na era democrática. A população foi tomando consciência no sentido de minimizar o impacto ambiental da sociedade”, acredita Von Zuben. A relação com o consumidor O executivo conta que a Tetra Pak realiza pesquisas a cada dois anos em 20 países do mundo, entre eles o Brasil, e os resultados são surpreendentes. “O consumidor está muito interessado na questão da sustentabilidade. Trabalha muito na questão da reci- clagem, sabe bem separar o lixo, mas não tem muita noção de como tem de fazer e tem a percepção de que o poder público não está tratando o lixo reciclado, que não é mais lixo, de uma forma adequada. Isto a gente detecta muito bem nas nossas pesquisas.” De acordo com Fernando von Zuben, é muito importante inte- grar a sustentabilidade ao meio ambiente dentro do negócio da empresa, se isso não estiver integrado ao negócio, por experiência própria, é muito difícil alavancar recursos humanos, projetos den- tro da corporação. “Por isso, nós tratamos a questão de reciclagem como um negócio, se a cadeia não ganhar dinheiro, obviamente ela não irá para frente.” 16 | Gestão de Resíduos | N° 27 • Novembro / Dezembro • 2010 CAPACAPA Fardos de embalagens longa vida Produção de Papel reciclado Para as principais empresas, que já estão acostumadas a marcar presença, a Fimai é um momento especial para receber os clientes e os convidados, revela Fran Mozzart, gerente de comunicação da Estre Ambiental. “No ano passado, a empresa com a possibilidade de trazer ao Brasil uma máquina que gera energia a partir de lixo. Essa máquina chegou, está pronta e vamos inaugurar as operações amanhã, em nosso aterro de Paulínia.” Fran aponta que as vantagens desta nova tecnologia começam quando os resíduos sólidos chegam ao aterro Sanitário. “Até hoje, a Estre só conseguia dar o destino final e não deixar que polua o meio ambiente nem o solo. A nossa nova máquina vai fazer a separação do lixo da coleta, que não é separado. Ou seja, ela entra numa grande máquina, vai separando todo o ma- terial energético, para geração de energia”, garante. Já Ag Solve utilizou os três dias de evento para apresentar ao público uma grande variedade de equipamentos para a investigação e remediação de água e solos. Atualmente, a Ag Solve possui uma linha completa de soluções para as áreas de hidrologia, meteorologia e gases, com equipamentos de alta confiabilidade e robustez. Segundo Mauro Banderali, espe- cialista em instrumentação ambiental da empresa, participar da FIMAI é uma ótima oportunidade para alavancar negócios e realizar networking. “A feira recebe um público altamente especializado, que busca tecnologias de ponta para a área ambiental. Participar desta feira é uma grande oportunidade para atender clientes, expor os produtos e gerar novos negócios”, afirma Banderali. A Essencis Soluções Ambientais também aproveitou sua par- ticipação na Feira para apresentar todo o portfólio de inova- ções tecnológicas alinhadas à Política de Resíduos Sólidos. “A Essencis procura sempre estar na Feira e a cada edição mostrar todas as tecnologias e serviços prestados, para as indústrias e para o público em geral”, completa Fernanda Pincinatto, consultora comercial da empresa. Para este ano, a Essencis está apresentando a recuperação de metais em lodo, uma tecnologia que vai começar no início do ano que vem. Outra novidade apresentada é a manufatura reversa, que transforma produto acabado em matéria prima. A Eurovix é uma empresa italiana com mais de trinta anos no mercado de Biotecnologia. E, pela terceira vez, a empresa participa da Fimai. “É importante pela divulgação do assunto biotecnologia que ainda é novo. Aqui colocamos os principais benefícios do nosso produto, nossa tecnologia. Por que ela se diferencia dos chamados concorrentes”, Eduardo Barbosa, diretor técnico da Eurovix. Líder no mundo em Biotecologia, a empresa está no Brasil há três anos: “tempo necessário para conseguir registro e licenças que o produto necessita.” Já a Bioland veio para a Fimai 2010 com uma expectativa diferente após a aprovação da Política Nacional de Resíduos Sólidos. “Agora, com certeza, o setor vai crescer, novas tec- nologias serão desenvolvidas e quem vai ganhar é a sociedade como um todo. Por que essas externalidades que a gente vê na questão de resíduos vão acabar cessando com es- sas novas tecnologias”, acredita Débora Cardoso, engenheira ambiental, que completa. “A Bioland tem esse objetivo, mostrar essa tecno- logia desenvolvida, já testa- da e aprovada há treze anos com grandes parceiros que estão preocupados com a imagem e ação na socie- dade e mostrar para que a gente tenhas essa destinação mais sustentável para resíduos orgânicos. É transformar esses resídu- os em fertilizantes orgânicos para que sejam usados na agricultura. Entre os diversos segmentos do setor de resíduos presentes na Fimai, um que se destacou foi o de trituradores. A Bano Eco, por exemplo, participa pela quarta vez da feira. De acordo com Luciano Barros, engenheiro ambiental da empresa, o evento é importante para envio de informações e troca de idéias ”É bom pra divulgar os tipos de equipamentos e apresentar no- vas tecnologias para reciclagem de materiais”. Para exposição, a empresa trouxe equipamentos para redução de volume e pneumático, que é a reciclagem do pneu inteiro. Outra empresa trituradora é a Hummel, uma empresa alemã, com mais de 25 anos no mercado mundial, que atua no Brasil há oitos anos. “estamos na Fimai para mostrar um produto focado no meio ambiente, uma solução a mais no meio de todas que estão oferecidas aqui”, Antonio Carlos Marques, gerente comercial. EVENTOSEVENTOS A 12ª Feira Internacional do Meio Ambiente Industrial e Sustentabilidade (Fimai), realizada no início de novem- bro, no Expo Center Norte, em São Paulo, registrou mais de R$ 1,1 bilhão em negócios fechados, o que supera a marco dos R$ 800 milhões comercializados na edição anterior. Cerca de 400 empresas, entre elas 120 estrangeiras, de 16 países, levaram ao evento máquinas, equipamentos e soluçõesde tecnologias voltadas para a produção sustentável. Segundo Julio Tocalino Neto, presidente da Fimai, os crescimento do volume de negócios mostra a preocupação dos grupos empre- sariais com a questão da sustentabilidade. “Em meados dos anos 1990, apenas uma empresa, a Bahia Sul Celulose e Papel, tinha o certificado ISO 14001”, diz. “Hoje já são 4 mil companhias.” Neste ano, a feira contou não só com as empresas do setor, mas também outras do porte da Pirelli, Petrobrás, Usiminas, Votorantim, Mercedes Benz e GM, entre outras. Empolgadas com a aprovação da Política Nacional de Resíduos Sólidos, empresas investiram em lançamentos Fimai 2010 apresenta diversas novidades 20 | Gestão de Resíduos | N° 27 • Novembro / Dezembro • 2010 N° 27 • Novembro / Dezembro • 2010 | Gestão de Resíduos | 21 A educação é, segundo o Aurélio, “o processo de desenvol- vimento da capacidade física, intelectual e moral do ser huma- no”, que visa à sua melhor integração individual e social. O meio ambiente é o pano de fundo no qual este processo ocorre. Nada mais natural, portanto, que e educação e o meio ambiente se- jam encarados pela esfera pública como elementos indissociáveis em uma sociedade que muito ainda tem a aprender no âmbito da política ambiental e da administração dos resíduos sólidos. O Brasil parece caminhar com passos conscientes nesta direção. A Política Nacional de Educação Ambiental (lei de 27 de abril de 1999) e a Política Nacional de Resíduos Sólidos (lei de 02 de agosto de 2010) foram aprovadas durante os governos dos dois últimos presidentes (eleitos e reeleitos) antes de Dilma Rousseff. Portanto, são políticas que resultam, acima de tudo, de um pro- cesso democrático. Embora elaboradas por governos de orienta- ção política distinta, a PNRS se articula com a PNEA. Isso não significa, porém, que o Brasil seja considerado parte do primeiro mundo em termos de gestão do meio ambiente. Olhe ao seu redor. É preciso ser muito otimista para achar que somos ambientalmente educados. A consciência ambiental ainda engatinha nos trópicos (cada vez mais aquecidos). No entanto, é bom que se diga, maltratar o ambiente ou ignorar a sua relevân- cia é ilegal no Brasil. É dever nosso, de educadores e gestores de resíduos, garantir que a lei seja cumprida. A educação é o ponto-chave da PNEA, que se refere, em seu Artigo 3, à “sociedade como um todo”. A escola, portanto, é apenas um dos galhos para onde aponta o tronco da Política Ambiental; porém, esta deve ser entendida como um dos sus- tentáculos sociais deste universo a ser educado. Embora não seja isenta de críticas, a PNEA tem, em seu Artigo 4, uma janela re- frescante, pois prevê a “permanente avaliação crítica do processo educativo”.Neste sentido, como educador, gostaria de propor um olhar que leve em conta uma política de educação ambiental em paralelo a uma política do ambiente educacional. A escola precisa ser um laboratório para a educação ambiental. E é preciso entender a escola não como um espaço que se encerra dentro das quatro paredes de uma sala de aula. A escola é a sala de aula, é a cantina, é a quadra de esportes,é a perua que trans- porta o aluno desde a porta de sua casa. A escola é também a comunidade - composta de alunos, professores, pais e entidades – todos atores participantes do processo educacional e, portanto, sujeitos aos mesmos direitos e às mesmas responsabilidades ambientais. Ações como coleta seletiva, desenvolvimento susten- tável e controle social estão previstas na PNRS e devem ser abor- dadas na escola, como prevê a PNEA. No entanto, ao contrário do que recomenda a PNEA, a educação ambiental merece, desde o ensino fundamental, uma matéria específica no currículo, para que seja internalizada e praticada pelos jovens com consciência e responsabilidade. A inter, multi e transdisciplinaridade (tam- bém prevista na PNEA) não elimina a possibilidade da existência de uma disciplina específica que dialogue com as outras, que tenha existência própria não apenas em cursos de pós-graduação, como diz seu Artigo 10. Geografia, Artes, Literatura, Matemáti- ca, História e Tecnologia da Informação: as disciplinas podem e devem ser incluídas em discussões sobre educação ambiental nos mais diversos projetos pedagógicos. Mas ela será ainda mais relevante se deixar de ser apenas um apêndice de outras matérias (como prevê a PNEA) e passar a fazer parte da pauta curricular, com professores bem preparados e que envolvam toda a comu- nidade escolar. O Brasil, por seu gigantismo econômico, geográfico, ecológico e (agora) político, deve ser visto como um País-escola em ter- mos ambientais. Nosso país diariamente ganha mais destaque no mundo, que, cada vez mais, olha para nós com interesse e respeito. Que os grandes eventos esportivos que o Brasil irá se- diar em 2014 (Copa do Mundo de Futebol) e 2016 (Olimpíada no Rio de Janeiro) sirvam não como vitrine para o mundo ver como somos evoluídos ambientalmente, mas que sejam um es- pelho permanente (e sempre sujeito a avaliações críticas) para que nossos próprios olhos estejam constantemente atentos aos movimentos que criamos. A PNEA e a PNRS merecem nossa aprovação. Mas ainda falta muito para o Brasil se graduar. sólidos resíduos da Educação Ambiental PNEA x PNrs Anderson Borges Costa, é coordenador do Departamento de Português da escola internacional Saint Nicholas, onde também atua como professor de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira. É professor de Inglês no curso de idiomas Cel Lep. Pós- graduado em Letras (Português/Inglês/ Alemão) pela Universidade de São Paulo.” 22 | Gestão de Resíduos | N° 27 • Novembro / Dezembro • 2010 PONTO DE VISTA por Anderson Borges Costa até pouquíssimo tempo. Identifica-se assim, uma “bolha” explosiva de consumo imoderado, bus- cando sanar um apetite voraz, represado por anos. Conclui-se que, se tudo está bem para economia, à materialidade será aperfei- çoada no acesso aos bens desejados. Neste momento é que se inicia o grande debate, quando se identifica os bens mais desejados e adquiridos pela população. Sim, são eles, os produtos eletroeletrôni- cos como: televisores, microcomputado- res, celulares e congêneres. Vejamos que o fato não apenas significa a necessidade de exploração crescente, dos recursos naturais para atender a demanda, mas, significativa gera- ção de resíduos eletrônicos ou tecnológicos. Talvez este seja este o maior desafio da década e a situação se agrava, na incapacidade de gestão dos resíduos por parte do poder público, que não consegue acompanhar esse movimento crescen- te de forma ajustada. Neste particular, a PNRS nomeou em seu art. 33, IV, os produtos eletro eletrônicos como aqueles que estão obrigados a estruturar e implementar sistemas de logística reversa, mediante retorno após seu uso pelo consumidor. Uma vez relacionado neste dispositivo, a lei atribui à regulamentação, aos acordos setoriais e a termos de compromisso, o equacionamento da logística reversa destes produtos bem como, suas embalagens. Vale ressaltar que, embora carente de maior clareza quando da sua regulamenta- ção, os pilares estão bem delineados e as medidas introdutórias merecem atenção imediata. Parte-se da premissa que os resíduos eletro- eletrônicos já são significativos em nossa sociedade, com grau de risco dimensionado pelas suas características físico-químicas, residindo ai, a necessidade de negociar os acordos setoriais e realizar estudos prévios para definição da responsabilidade compar- tilhada, construção dos planos de geren- ciamento de resíduos sólidos, criação de uma malha eficaz para a logística reversa de forma continuada e economicamente sustentável. Não há mais como colocar produção de um lado e meio ambiente de outro, como figuras antagônicas. A conformi-dade legal é o caminho adequado de um bloco único, defendendo as mesmas ações e posições. Gerenciamento dos Resíduos Eletrônicos em contraponto ao emergir do poder de compra das classes sociais 24 | Gestão de Resíduos | N° 27 • Novembro / Dezembro • 2010 ESPECIALESPECIAL Diversas normas, tanto federais quanto estaduais, já vinham incorporando os resíduos sólidos como item significativo em suas políticas de saneamento, contudo, a questão tomou maior destaque, neste ano de 2010, com a sanção da Lei nº 12.305 que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Vários especialistas respeitados consideraram este diploma legal desnecessário, defendendo o entendimento que os resíduos sólidos já vinham sendo tratados como apêndice às normas de saneamento, com destaque para a Lei nº 11.445/2007, que dis- põe sobre as diretrizes da política de saneamento. Além disso, Estados e alguns municípios já haviam normatizado o assunto internamente, porém, com focos bem diferenciados em função de suas características industriais, áreas disponíveis e adensamento populacional, corroborado pelas dimensões territoriais do País, suas diversidades regionais e, suas características econômicas e sociais. Na prática, o fato relevante é que os resíduos ganharam notorie- dade e volume com a explosão do consumo nas últimas décadas, em especial nos últimos anos, provocando maior preocupação, a ponto de descolar-se do saneamento, exigindo independência legislativa. Mesmo com toda a demora em seu trâmite nas casas legislativas, sua importância tornou-se flagrante. A nova legislação surge em um novo momento econômico que, por si só, justifica tal relevância. Mesmo assim, outros, mas não menos importantes fatores, passaram a influir com expres- sivo relevo, porém, até agora, pouco discutidos como: O apelo social inserido na legislação para alcance de outros resultados só- cio-ambientais, distribuição e compartilhamento das responsabi- lidades com os empreendimentos e stakeholders, dentre outros. Indiscutivelmente estamos na era do consumo, e o Brasil em uma fase particular deste fenômeno. Com o emergir de classes D e E, que se encontravam submersas economicamente, surge um novo desafio – administrar a redenção destas classes. Trata-se de um fato econômico que reflete diretamente no gerenciamento dos resíduos sólidos, uma vez que as classes começam a serem vistas como potenciais consumidores. A relevância maior está no peso populacional que estas classes emergentes representam, somada por sua avidez em adquirir produtos e bens inalcançados Cássio dos Santos Peixoto cpeixoto.bms@terra.com.br cpeixoto@bmsempresarial.com.br Advogado – Consultor de Empresas Professor de Legislação e Direito Ambiental da Pós-Graduação em Gestão Ambiental da Faculdade SENAC MG. Pós Graduado em Direito Tributário, Pós-Graduado em Direito Empresarial, Pós-Graduado em Direito Ambiental, Pós-Graduado em Gestão Ambiental por Cássio dos Santos Peixoto Os restos de material serão usados principalmente na sub-base do asfalto. É feita uma triagem inicial, depois uma trituração, e os pedregulhos são então misturados a uma massa asfáltica mais homogênea. Depois, é aplicada outra camada de 10 a 15 cm de asfalto normal, e uma última, com cerca de 5 cm de espessura. É a primeira vez que a técnica é usada em São Paulo. Só o São Vito deve produzir material suficiente para ser usado em 30 km de pavimentação. A meta é demolir três andares a cada 15 dias. Com mini- tratores e miniescavadeiras, a equipe faz pequenos bura- cos nas lajes que, aos poucos, vão cedendo. Dia a dia a estrutura dos edifícios está sumindo. O entulho é jogado no poço do elevador e forma grandes montes de madeira, concreto e ferrugem. Todo o material é levado para uma empresa que faz a reciclagem e o resto da demolição é moído, se transfor- mando em um material usado na pavimentação das ruas. Um projeto em desenvolvimento pela Prefeitura pre- vê a criação de uma praça, um estacionamento e um equipamento complementar ao mercado municipal na região dos edifícios São Vito e Mercúrio. Para que tudo isso efetivamente aconteça, é necessário o estabelecimento de um Projeto de Gestão de RCD da obra, elaborado e documentado pela empresa responsável pelas operações de demolição e construção, bem como fiscalizado pelo órgão municipal competente, tudo como previsto na mencionada legislação. A promulgação da Lei Federal 10.257, de 10 de junho de 2001, que estabeleceu o Estatuto das Cidades definiu novas e importantes diretrizes para um equilibrado desenvolvimento do meio ambiente urbano, quer natural ou construído, que permitiu alem de sua proteção e preservação a geração de novos aglomerados humanos, mas agora sustentáveis. O município é constitucionalmente e em última es- tância o promotor das ações práticas de fomento e atendimento desses processos, portanto devendo promover os instrumentos jurídicos, administrati- vos, econômicos e sociais necessários as articulações de políticas públicas, as quais são as ferramentas de materialização desses processos. Entre os setores de infraestrutura que muito necessita disso está o do Manuseio de Resíduos Sólidos Urba- nos, cujos objetivos de gestão há muito, e por muitos, é perseguido. Nesse caminho os Resíduos Sólidos Domiciliares sempre representaram os primeiros passos, depois os gerados nos estabelecimentos de saúde, nas indústrias e agora, mais recentemente nas obras da construção civil, quer nas edificações, re- formas ou demolições, mais conhecidos por RCD – Resíduos da Construção Civil e de Demolição. As cidades são altamente dinâmicas e continuada- mente passam por modificações estruturais quer para adequação, modernização ou expansão, sempre ge- rando enormes quantidades de entulho. E como está previsto no Estatuto das Cidades, suas Administrações Públicas devem estar preparadas, se orientando e planejando, sobretudo de acordo com a Resolução CONAMA 307 de 2002. Várias cidades já seguiram as orientações da Resolução e criaram suas legislações próprias e específicas. A maior do País, São Paulo, esse cenário já é fato, como mostra o processo de demolição dos edifícios São Vito e Mercúrio. Situados no Parque Dom Pedro, região do Centro antigo de São Paulo, esses antigos e tradicionais prédios da zona cerealista paulistana, que por suas irregulares ocupações e usos, foram apelidados de “treme-treme”. Após longa caminhada jurídica de desa- propriações e desocupações, eles vão ser demolidos. Serão milhares de toneladas de entulho que deverão vir abaixo numa demolição controlada, não só no aspecto de derrubar, mas ser, como também definido nos artigos da Lei Municipal n.º 14.803 de 2008, que criou o Plano de Gestão de RCD da cidade de São Paulo. A Prefeitura de São Paulo vai usar restos de concreto da demolição para produzir asfalto e pavi- mentar oito ruas da cidade. O projeto começa em ruas pequenas, cobrindo 2,6 km de vias nos bairros do Butantã, Brasilândia e Jardim Romano. O investimento inicial é de R$ 2 milhões. Para o meio ambiente, o benefício é a reutilização de entulhos que teriam como destino final os aterros sanitários. Para a Prefeitura, a vanta- gem é uma economia de cerca de 40% nos custos de produção do asfalto. A questão rCd na demolição dos edifícios são Vito e mecúrio Resíduos de Construção e Demolição PARECER TÉCNICO por Walter Capello Junior 26 | Gestão de Resíduos | N° 27 • Novembro / Dezembro • 2010 PARECER TÉCNICO Walter Capello Junior Colaborador da Gestão de Resíduos walter@gestaoderesiduos.com.br A Política Nacional de resíduos sólidos sob a ótica das obrigações e responsabilidades instituídas OLhAR JURíDICO por Simone Paschoal Nogueira 28 | Gestão de Resíduos | N° 27 • Novembro / Dezembro • 2010O novo marco legal estabelecido pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) trouxe diversas discussões e ques- tionamentos quanto às obrigações e responsabilidades de cada ente envolvido: Poder Público, Setor Produtivo e Sociedade. A PNRS, ao dispor sobre seus princípios e objetivos, estabelece que o Poder Público deve agir em consonância com os padrões de consumo social ambientalmente corretos. Dentre os objetivos previstos pela lei, cabe mencionar a pro- teção à saúde pública e a não geração, redução, reutilização, reciclagem e tratamento dos resíduos, bem como a disposição final adequada. Nesse sentido, a norma direciona a sociedade ao consumo consciente e sustentável e à preservação dos recursos naturais. Contudo, o poder de polícia a ser exercido pela Administração Pública na fiscalização e operacionalização da Política, visando o correto gerenciamento dos resíduos sólidos, não poderá ser apenas mais uma prerrogativa em prol do interesse público, mas deverá compreender, também, treinamento, orientação e disciplina dos servidores públicos para com a sociedade. A exemplo disso, vale mencionar iniciativas como as da Prefeitura do Rio de Janeiro, chamada operação “choque de limpeza pública” , que premiará a região que mais conseguir diminuir o descarte de lixo. Para tanto, os servidores públicos receberão treinamento de profissionais especializados (pedago- gos, sociólogos, etc.) para a referida operação, além de aulas de ética e legislação. Os Estados e Municípios tem, a partir da publicação da lei, o dever de elaborar seus Planos de Resíduos Sólidos, no prazo de dois anos. No entanto, não foi estabelecido prazo para a elaboração do Plano pela União Federal, ente federativo basilar na formulação de diretrizes e direcionamento dos demais Pla- nos de resíduos. A ausência de prazo para elaboração do Plano Nacional prejudica a instrução dos Estados e Municípios na elaboração dos seus respectivos planos. Vale mencionar, ainda, que os Estados e Municípios somente poderão ser beneficiados com acesso aos recursos do Governo Federal para a implantação de projetos de limpeza pública e manejo de resíduos sólidos, após aprovação de seus planos de resíduos. Além disso, foi estabelecido que todos os entes deverão manter conjuntamente um Sistema de Informações sobre a Gestão dos Resíduos Sólidos (Sinir), articulado com o Sistema de Informa- ções em Saneamento Básico (Sinisa – Ministério das Cidades) e o Sistema Nacional de Informação sobre Meio Ambiente (Sinima – Ministério de Meio Ambiente). Com efeito, os Estados, Distrito Federal e Municípios deverão fornecer todas as informações relativas à gestão dos resíduos, sob sua esfera de competência, ao órgão federal responsável pela coordenação do Sinir, na forma e periodicidade que serão estabelecidas em regulamento. Ainda, dentre as responsabilidades do Poder Público, a lei es- tabelece a obrigatoriedade de eliminação ou recuperação dos lixões no prazo de dois anos, com a implantação de aterros sanitários ambientalmente adequados. Sobre o tema, a Política prevê apenas a possibilidade de depósi- to de resíduos nos aterros, quando não houver possibilidade de reaproveitamento ou compostagem, ou seja, quando o seu retorno ao ciclo produtivo for economicamente inviável. Do contrário, nos termos da lei, somente rejeitos poderão ser dispostos em aterros. No caso de áreas contaminadas cujos responsáveis pela dis- posição não sejam “identificáveis” ou “individualizáveis”, denominadas áreas órfãs, o Governo Federal deverá estruturar e manter instrumentos e atividades voltados para sua descon- taminação. A lei estabelece, ainda, que caso haja identificação dos responsáveis pela descontaminação, estes deverão ressarcir o Poder Público integralmente. Portanto, sem prejuízo da importância das obrigações instituí- das ao setor produtivo e sociedade, a atuação do Poder Público em conformidade com o previsto na Lei é fundamental para a via- bilidade da efetiva aplicação da PNRS, com todos os seus desdo- bramentos previstos. Simone Paschoal Nogueira sócia responsável pelo setor ambiental da Siqueira Castro Advogados e coordenadora de Legislação da ABLP Associação Bras. de Resíduos Sólidos e Limpeza Pública LINKS DO PORTAL LINKS DO PORTAL Gestão de resíduos online Expansão e desempenho O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social (BNDES) aprovou financiamento de R$ 33,9 milhões para investimentos da Estre Ambiental, empresa nacional de gestão de resíduos sólidos e tratamento de áreas degradadas. Os recursos serão usados na implantação de uma uni- dade de processamento de resíduos, com capacidade de produção de 450 toneladas anuais de combustível deri- vado de resíduos (CDR). O CDR é um combustível em forma de flocos que pode ser usado na alimentação de caldeiras e fornos industriais. Esta é a primeira vez que o BNDES financia um projeto na área de resíduos sólidos para transformação de lixo urbano em energia. O projeto da Estre prevê a expansão dos aterros sanitários de Itapevi e Paulínia, no Estado de São Paulo, a captação de biogás com geração de crédito de carbono e a produção de combustível derivado de resíduo sólido. O governador do Estado do Paraná em exercício, Nelson Justus, encaminhou no início de dezembro à Assembleia Legislativa mensagem para que todos os municípios possam cobrar a taxa de recolhimento de lixo na conta de água da Sanepar. “É uma maneira de facili- tar a vida das prefeituras, que não dis- põem, muitas vezes, de estrutura para fazer esta cobrança.” Segundo Justus, o futuro presidente da empresa, Fernando Ghignone, foi consul- tado e disse estar de acordo com a medida. Ele relatou que muitos prefeitos o procura- ram e expuseram esta necessidade. “É mais um apoio aos pequenos e médios municí- pios do Paraná”, avaliou. Hoje, a legislação permite que apenas os municípios com menos de 50 mil habitantes efetuem a cobrança por meio da conta de água. Depois de mais de um mês desde que o pre- feito de Santo André, Aidan Ravin, anunciou a reabertura do aterro sanitário de Santo André, o local continua interditado pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb). O prefeito havia informado que o aterro se- ria reaberto em 12 de novembro. No dia do anúncio, Ravin explicou que faltavam apenas alguns documentos, sobre impermeabilização do solo e estabilidade das pilhas de lixo, para que o órgão estadual liberasse a abertura e a ampliação do local. Esses documentos seriam entregues no dia seguinte da coletiva, mas isso ainda não aconteceu. Nos primeiros seis meses em que o aterro esteve fechado, o município gastou R$ 9 milhões ao recolher e transportar o lixo para outros três aterros licenciados pela Cetesb: Lara (Mauá), Essencis Soluções Ambientais (Caieiras) e CDR Pedreira (Capital). Normal- mente, o valor utilizado com o aterro munici- pal em funcionamento no mesmo período seria de R$ 1 milhão. O Piauí se prepara para criar uma lei estadual como forma de se adequar à Lei 12.305/10 do governo federal que trata sobre a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Para tanto, vão ser realizados seminários de discussões envolvendo as prefeituras municipais, entidades ligadas à sociedade civil orga- nizada, entidades ligadas à pesquisa e ao ensino, além de representantes da área técnica das secretarias e dos ministérios das Cidades e Meio Ambiente. O objetivo é desenvolver a construção de um modelo de gerenciamento dos resíduos sólidos e também a constituição dos con- sórcios entre os municípios, bem como fazê-los funcionar. Os municípios só vão poder captar recursos federais se participa- rem das atividades dos consórcios. A Enfil S/A Controle Ambiental fechou parceria com a fornecedora alemã Fisia Babcock Environment para trazer a Américado Sul tecnologia de ponta para a cogeração de energia a partir do lixo urbano. A empresa alemã é detentora da mais avançada tecnologia no setor, usada em seu país e em outras nações da Europa. O processo traz dois benefícios para a comunidade: transforma grandes volumes de lixo em poucos quilos de cinza, evitan- do os lixões, e gera energia elétrica. Segundo Franco Tarabini Jr., diretor da Enfil, no passado a empresa já havia ava- liado a possibilidade de atuar no setor, e se viu confrontada com o conceito ge- neralizado de que a solução mais adequada era destinar o lixo para aterros sanitários. “Hoje, o cenário é muito mais promissor, pois existe a clara percepção que não existem locais para esses aterros próximos aos grandes centros e a legislação está se tornando cada vez mais exigente”, comen- ta Franco. Segundo ele os clientes para esse novo serviço da Enfil são os atuais gestores públicos e privados de sistemas de coleta de lixo e de aterros sanitários. A cidade de Curitiba foi eleita a metrópole verde entre outras 17 cidades da América Latina, segundo um estudo sobre meio ambiente apresentado pela em- presa alemã Siemens e a unidade de estudos da revista britânica The Economist. No marco da Cúpula Climática Mundial de Prefeitos (CCLIMA), realizada no México, se apresentou pela primeira vez o Green City Index (GCI) da América Latina, classificando Curitiba, com 1,7 milhão de ha- bitantes, como a única cidade “muito acima” da média quanto a normas ambientais. Seguida dela, no segundo dos cinco níveis, ficaram outro grupo de cidades como Bogotá, capital da Colômbia; e Brasília, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo. BNDES financia projeto da Estre Ambiental Governo do Paraná quer padronizar a cobrança da taxa do lixo Curitiba é cidade mais verde da América Latina Aterro continua interditado pela Cetesb Piauí se prepara para criar consórcios de resíduos sólidos Novo foco da Enfil é geração de energia pela queima de lixo 30 | Gestão de Resíduos | N° 27 • Novembro / Dezembro • 2010 www.ges taode res iduos . com.b r O governo brasileiro, em mais uma ousada e ino- vadora atitude, lançou para consulta pública neste final de ano o Plano de Produção e Consumo Sustentáveis, definido acima de tudo como uma agenda positiva. É uma mudança de paradigma. No seu texto de apresentação, a Secretária de Articula- ção Institucional e Cidadania Ambiental e sua grande idealizadora - Samyra Crespo – coloca que “Em essência, este não é um plano governamental, ou do Ministério do Meio Ambiente, uma vez que não se estrutura somente em ações governamentais. É um plano que abriga e agrega também ações importantes do setor produtivo e da sociedade civil, valorizando esforços que têm por base o bem público, o princípio da parceria e da responsabilidade compartilhada. O Plano é totalmente convergente com as finalidades e linhas programáticas, tanto da Política Nacional de Resíduos Sólidos quanto da Política Nacional sobre Mudança do Clima”. Ao tomar como princípios a parceria e a responsabilidade compartilhada, o governo se coloca no seu verdadeiro papel de articulador e fomentador de iniciativas sustentáveis de longo prazo e que tenham efeitos profundos no modo com que a sociedade atua e se relaciona. Os efeitos de um Plano como este no campo do desenvol- vimento social e humano são potencialmente imensos mas ao mesmo tempo contém uma sutileza que nos faz enganar. Como colocado na apresentação do documento de 95 pági- nas, disponível no site www.mma.gov.br, “sem um esforço considerável para alterar os atuais padrões de produção e consumo não é realista almejar uma sociedade mais justa e mais responsável”. Penso que este Plano tem como o seu principal mérito esta nova visão de caminharmos juntos – sociedade civil, ini- ciativa privada e governo – no sentido de um novo modelo de desenvolvimento mais justo e menos degradador seja do ponto de vista ambiental, ou social ou mesmo econômico. Aqueles que se interessarem em participar desta construção coletiva do PPCS, mesmo após o final do período de con- sulta pública poderão continuar participando ativamente do processo, seja através de entidades da sociedade civil or- ganizada – as famosas ONGs – ou mesmo individualmente em seus microcosmos. Se tomarmos para o nosso dia-a-dia mesmo que apenas al- gumas das seis prioridades colocadas no PPCS (aumento da reciclagem; educação para o consumo sustentável; agenda ambiental na administração pública; compras públicas sus- tentáveis; construções sustentáveis; varejo e consumo sus- tentáveis) com suas necessárias adaptações de terminologia, o avanço será indiscutível. Desta forma, a inclusão social, o desenvolvimento econômico com respeito ao meio ambiente e a preservação ambiental serão fatos. A responsabilidade compartilhada pelo sucesso deste plano, assim como o estabelecimento de um novo modelo de desenvolvimento está dada e as ferra- mentas iniciais para isso também. A inclusão de setores marginalizados das políticas públi- cas ou das benesses do desenvolvimento econômico serão conseqüências imediatas deste novo modelo que, mais uma vez, coloca a participação ci- dadã em seu cerne. Cabe agora a cada um de nós fazer a sua parte e, por que não, deixar filhos melhores para o mundo. A inclusão social de políticas como o PPCs Eng. Agrônomo Emiliano Milanez Graziano da Silva Consultor da FAO/ONU, UNESCO e Diretor da Tulipe Consultoria em Projetos Sustentáveis www.tulipeconsultoria.com.br AÇÃO SOCIAL por Emiliano Milanez Graziano da Silva AG Solve www.agsolve.com.br agsolve@agsolve.com.br Tel. 19-38251991 Anderson B.Costa andbcosta@hotmail.com Anggulo Comunicação www.anggulo.com.br transito@anggulo.com.br Tel. 11 5031-2707 Bentonit www.bentonit.com.br engenharia@bentonit.com.br Tel. 11-21126600 Cássio Peixoto Terra cpeixoto@bmsempresarial.com.br BMS Gestão Empresarial bms@bmsempresarial.com.br Cetco.Bun www.cetcobun.com.br eng.@cetcobun.com.br Tel. 11-211-26600 Constroeste www.constroeste.com.br constroeste@grupofaria.com.br Tel. 17-2136-2200 Eco Business www.ecobusiness.net.br mes@meseventos.net.br Tel.: 55-11-3060-2270 Emiliano M. 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Simone Pascoal Nogueira snogueira@siqueiracastro.com.br Tel. 11-3704-9840 11-3594-0972 Selur – Sindicato das Empresas de Limpeza Urbana no ESP www.selur.com.br selur@selur.com.br Tel.: 11 3171-0727 Stralu www.juliosimoes.com.br Sistema Transparente Limpeza Urbana www.stralu.com.br Teknoval www.teknoval.com tekonval@terra.com.br Tel. 11-43612677 Tetra Pak www.tetrapak.com.br www.rotadareciclagem.com.br Tel.: 55 11 5501-3200 Vox Editora www.voxeditora.com.br Tel. 11 – 3871-7300 32 | Gestão de Resíduos | N° 27 • Novembro / Dezembro • 2010 N° 27 • Novembro / Dezembro • 2010| Gestão de Resíduos | 33 34 | Gestão de Resíduos | N° 27 • Novembro / Dezembro • 2010 Legislações Arquivo das leis e resoluções que regem o setor nos âmbitos municipal, estadual e federal. Notícias Noticiário atualizado diariamente com as principais novidades do setor em todo o Brasil. Artigos Análise e opinião de especialistas, além de trabalhos técnicos e acadêmicos sobre resíduos. denuncie/reclame Espaço destinado aos leitores apontarem problemas que ocorrem no seu dia a dia em relação aos serviços de limpeza pública. Agenda Calendário com os melhores e maiores eventos, feiras, palestras relacionadas a Resíduos Sólidos. PdFs Versão digital de todas as edições da Revista Gestão de Resíduos. Para sugestões, comentários ou outras informações escrevam rose.gottardo@economni.com.br Apesar de estar na Constituição Federal garantir que to- dos têm direito à informação, 23,3% da população brasileira se reconhece “mal” e “muito mal” informada sobre as questões ambientais e 50% sentem-se “mais ou menos informados” e apenas 21,6% acham-se “muito bem” e “bem informados” sobre Meio Ambiente. Constatamos que, ONGs (organização não-governamental), governos e empresas não têm sido eficazes na democratiza- ção da informação ambiental, pois as Ongs falam de desastres ambientais, o governo dedica-se a campanhas pontuais, sem explicar em profundidade os problemas e desafios de ordem ambiental e, grande parte das empresas usam suas ações como estratégia de marketing. Além desses fatores que impedem entendermos e discutirmos a causa dos problemas ambientais, temos o problema da população que não compreende o significado das informações apresentadas. Outro fator que merece destaque, os meios de comunicação que relatam desastres ambientais ou algum tema de interesse geral do público, no caso a fauna e flora existente no mundo, levando a sociedade a associar o meio ambiente como bichos e plantas. Vale lembrar que, somente a democratização da informação não é capaz de enfrentar os grandes problemas ambientais, mas com certeza somará a outras iniciativas, pois a destruição da natureza está relacionada com o que o indivíduo aprendeu ao longo da sua história e a cultura do seu povo, refletida nas rela- ções sociais e tecnológicas de sua sociedade. Assim, notamos que, não é pela quantidade de informação que a população aprende a pensar criticamente e atuar em seu mundo para transformá-lo. É necessário desenvolver uma base educacional crítica e partici- pativa, adequada à realidade local, caso contrário, às palavras per- dem significado e importância. É impossível estimular a participação popular, sem garantir os instrumentos, direitos e acesso à participação e interferência nos centros decisórios. O papel da comunicação é contribuir para o exercício da cidadania, aprofundando as causas dos problemas ambientais, estimulando mudança de comportamento e novas tecnologias. Ressaltamos que, não basta estar consciente dos problemas ambientais, há necessidade do indivíduo agir para transformar. O comportamento dos indivíduos em relação ao meio ambiente é indissociável do exercício da cidadania. É fundamental a informação ter uma linguagem que seja com- preendida por todos, para atingirmos a transformação social e entendermos que muitas vezes, a mobilização da sociedade por melhores condições de trabalho, fim das valas de esgotos a céu aberto - são lutas ambientais. Constatamos que a influência dos nossos hábitos, padrões de consumo e comportamentos são baseados nos diferentes tipos de mídia que nos cercam como: televisão, rádio, jornal, revis- tas, entre outros. E, nos últimos cinqüenta anos, a televisão, foi o veículo de massa que alcançou os resultados mais im- pressionantes em termos de abrangência e prestígio e reforçou sua posição como principal meio de comunicação de massa, depois do rádio, no mundo. Uma pesquisa recente sobre mídia e meio ambiente mostrou que, apenas 15% dos entrevistados liam jornal diariamente e 90% têm na televisão a principal fonte de informação sobre, porém, vinculavam o meio ambiente aos temas de flora e fau- na. Realmente, a televisão tem dado altos pontos de audiência sobre as questões ambientais, com imagens exóticas e sons da vida selvagem, reforçando a imagem preservacionista e de destruição da fauna e flora. Assim, para a mídia e para muitos brasileiros, meio ambiente é ainda uma questão periférica, porque não alcançou esse sen- tido mais amplo, que extrapola a fauna (bicho) e flora (flores, árvores). Há necessidade de jornalistas e responsáveis pelos meios de comunicação, de traduzir, desmistificar e entender os jargões ecológicos como: manejo sustentável, emissão dos gases es- tufa, ecoeficiência, transgênicos, entre outros. Uma das coisas mais importantes da comunicação ambiental é perceber a realidade que nos cerca numa visão sistêmica, privilegiando a qualidade de vida no planeta e do planeta. A Internet revela-se também como um poderoso instru- mento de mobilização na área ambiental, apesar de elitista, pois grande parte da população brasileira não tem o equipa- mento. Finalizando, os meios de comunicação, jornais, televisão, rádio e outros mais, são essenciais para que as pessoas fiquem informadas sobre a temática ambiental e transformem a realidade local. A democratização da informação ambiental RAZÃO AMBIENTAL por Rose Gottardo Rose Gottardo, mestre em Educação, pós-graduada em Educação Ambiental pela FSP-USP. É coordenadora do MBA em Gestão Ambiental do Instituto Nacional de Pós-Graduação. Professora de Responsabilidade Social do MBA em Recursos Humanos. Foi diretora de Educação Ambiental das Secretarias do Verde e do Meio Ambiente na PMSP e Sócia-diretora da Economni Consultoria.
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