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AULA 1 RELAÇÃO PROFESSOR- ALUNO-CONHECIMENTO Profª Renata Burgo 2 CONVERSA INICIAL Independentemente da faixa etária ou da formação, a relação do aluno com o professor é de extrema importância para a construção do saber aprender e saber viver do discente. Um questionamento que deve acompanhar o docente por toda a sua carreira é: “como está a convivência com seus alunos”? A pedagogia é uma prática educativa que oferece condições de capacitação do ser humano em todas as esferas do meio social em que ele atua. Porém, ainda é um desafio diário o bom relacionamento entre professor e aluno. Nesta aula, vamos analisar como está essa relação e o que nela pode ser construído. CONTEXTUALIZANDO Seria possível que o relacionamento entre professor e aluno mudasse algo para melhor no aprendizado de um indivíduo? Ao se falar em aprendizado, parece que dois mais dois são quatro. Como, então, isso pode ser afetado por relações pessoais? Interessante que encontramos consequências de fatos que não parecem ter ligação. Porém, é necessário entendermos que a afetividade, o respeito e a dedicação do professor ao ensinar um aluno desde sua infância até o período acadêmico o influencia na sua capacidade de aprender, de desenvolver seu potencial e de conviver com a sociedade. TEMA 1 – PRÁTICA PEDAGÓGICA NO ENSINO SUPERIOR O contexto da relação professor–aluno–conhecimento levanta questões de grande importância para os processos pedagógicos no ensino superior. Os estudos na área indicam a necessidade de se considerar as relações interpessoais como a direção certa para alcançar o objetivo nessa relação (Suhr; Silva, 2010). O modo de ensinar e aprender desde sempre exigiu a relação professor– aluno, no entanto, em tempos remotos, essa relação era muito distanciada, uma vez que o professor era autoridade máxima e se fazia respeitar por meio da arbitrariedade. 3 Se fizermos um resgate da vida escolar das pessoas, veremos que elas guardam na memória momentos frustrantes e alegres desse tempo, uma mistura de rejeição, conquistas, saberes e incertezas (Suhr; Silva, 2010). O autor ainda afirma: Nos diferentes níveis de ensino, da educação infantil ao ensino superior, as relações interpessoais estão presentes na vida escolar e se constroem de diferentes formas, de acordo com os diversos elementos que constituem a organização escolar: conteúdos, metodologia, currículo, concepção de educação e outros. (Suhr; Silva, 2010, p. 20) O ensino superior, quando o aluno ainda amplia a sua autonomia intelectual, deve ser considerado na questão das relações interpessoais e na sua mediação de ensino-aprendizagem. Os professores que acompanham os alunos do nível superior relatam não só o seu desenvolvimento intelectual, mas também a construção afetiva e social desses alunos (Suhr; Silva, 2010). Daí nascem as dificuldades no aprendizado, no relacionamento entre os colegas de escola e no convívio social. Diante dessa problematização, podemos observar a importância do relacionamento professor e aluno. No ensino superior, quando o aluno ainda amplia a sua autonomia intelectual, deve ser considerada a questão das relações interpessoais na sua mediação de ensino-aprendizagem. Os professores que acompanham os alunos do nível superior relatam não só o seu desenvolvimento intelectual, mas também a construção afetiva e social desses alunos (Suhr; Silva, 2010). Portanto, mediante essas afirmações, concluímos o quanto são significativas e deixam vestígios, em toda a vida do indivíduo, as relações professor-aluno, desde a infância até a idade adulta. Contudo, indagam Suhr e Silva (2010, p. 21): “Mas o que existe de instigante nesse processo? O que permeia essas relações e faz com que os vínculos sejam de suma importância no processo de ensinar-aprender?”. E respondem que, “por um longo tempo, essa a discussão não se estendeu ao ensino superior, pois a própria concepção que norteia esse nível de ensino tem suas origens no saber livresco, [...] em que a transmissão do conhecimento tem suas bases numa organização hierárquica [...]” (Suhr; Silva, 2010, p. 21). A relação professor-aluno muito tem mudado ao longo do tempo, e a sociedade exerce um papel de grande influência sobre essa relação. 4 Assim, “o modo como cada sociedade organiza a produção dos bens por meio do trabalho orienta como se dará a educação e, consequentemente, o papel da escola e a relação entre os sujeitos do processo ensino-aprendizagem (Suhr; Silva, 2010, p. 22). Voltando no tempo, podemos notar que a escola também cometeu discrepâncias quando se tornou, na época, privilégio das classes dominantes (Aranha, 1996). Nas antigas civilizações orientais, as pessoas dotadas de saber passam a ser de domínio de algumas pessoas, como “escribas no Egito, mandarins na China, magos na Babilônia e brâmanes na Índia, que exercem suas funções monopolizando a escrita em meio à população analfabeta” (Aranha, 1996, p. 33). Cria-se, então, a divisão entre os que sabem e os que não sabem: o conhecimento é dominado por poucos que sabem e que detêm o poder de ensinar ou não o outro. Assim, as mudanças pelas quais a sociedade, entre elas as pessoas, passam na vida privada ou na comunidade, no trabalho e em todos os aspectos, acabam por determinar os relacionamentos entre as pessoas, não ficando a escola fora desse processo (Suhr; Silva, 2010). Entre as mudanças, Aranha cita que: As transformações técnicas e o aparecimento das cidades em decorrência da produção excedente e da comercialização alteram as relações entre os homens. As principais mudanças são: na organização social homogênea, na qual antes havia divisão, surgem hierarquias por causa de privilégios de classes; aparecem formas de servidão e escravismo; as terras de uso comum passam a ser administradas pelo Estado, instituição criada para legitimar o novo regime de propriedade; a mulher, que na tribo desempenhava destacado papel social, fica restrita ao lar, submetida a rigoroso controle da fidelidade, a fim de se garantir a herança apenas para os filhos legítimos (Aranha, 1996, p. 28) O autor ainda situa o papel da escola: o saber, antes aberto a todos, torna-se patrimônio e privilégio da classe dominante. Nesse momento surge a necessidade da escola, para que apenas alguns iniciados tenham acesso ao conhecimento. Se analisarmos atentamente a história da educação, veremos como a escola tem desempenhado um papel de exclusão da maioria, elitizando o saber (Aranha,1996, p. 28) Observamos, então, que a escola está diretamente ligada às vontades da sociedade. Por isso é fundamental que os educadores conheçam a história de como a escola foi organizada. “A concepção de ‘escola para todos’ foi se modificando à medida que a burguesia se consolida no poder. Essa mudança 5 afeta diretamente as relações que se estabelecem no espaço escolar e na própria organização da escola como um todo” [...] (Suhr; Silva, 2010, p. 28). Saviani aborda: Na organização da sociedade moderna, o saber é “força produtiva” e como tal deve ser propriedade privada da burguesia, ou seja, não diferente de outras sociedades, o saber é uma “forma de poder” na medida em que o saber se generaliza e é apropriado por todos, então os trabalhadores passam a ser os proprietários de meios de produção. Mas é que da essência da sociedade capitalista que o trabalhador só detenha a força do trabalho. Aí está a contradição que se insere na essência do capitalismo: o trabalhador não pode ter meios de produção, não pode deter o saber, mas, sem o saber, ele também não pode produzir, porque para transformar a matéria precisa dominaralgum tipo de saber. (Saviani, 1999, p. 160-161) É difícil imaginar uma sociedade justa e igualitária, se o saber se restringe a poucos. Snyders (1988, p. 11) afirma que “toda escola se define pelos conteúdos que seleciona, propõe, privilegia assim como pelos os que silencia, e é daí que decorrem as abordagens correspondentes, porque é o que define o tipo do homem que se espera ver sair da escola”. A maneira como são abordados os conteúdos escolares está intimamente ligada à construção das relações interpessoais que definem os pressupostos teóricos da concepção pedagógica que orienta as práticas escolares (Suhr; Silva, 2010). A primeira concepção pedagógica com o nome de “tradicional” tinha o conhecimento enciclopédico como verdade absoluta: O aluno era passivo, absorvia os ensinamentos sem questionar. O docente transmitia o saber de forma lógica e por meio da exposição oral. Mantinha-se a ênfase no trabalho individual. Não existia comunicação entre os alunos. Não era permitido ao aluno apresentar novas formas de pensar. Libâneo afirma: Predomina a autoridade do professor que exige atitude receptiva dos alunos e impede qualquer comunicação entre eles no decorrer da aula. O professor transmite o conteúdo na forma de verdade a ser absorvida; em consequência, a disciplina imposta é o meio mais eficaz para assegurar a atenção e o silencio. (Libâneo, 1990, p. 24) De acordo com Suhr e Silva (2010), na escola “tradicional” o questionamento do aluno soava como uma afronta ao mestre, isso se dava no 6 século XIX e início do século XX, e ainda é possível observar seus reflexos na atualidade. No ensino superior, ainda se nota alunos que esperam a autoridade do professor para conseguir a disciplina na sala de aula, ou a transmissão oral de certos conceitos e saberes, e até mesmo a cobrança de silêncio. Essa postura de aluno é o de que deseja ser moldado e não a de quem é sujeito de sua própria aprendizagem. Assim, também ainda existe o professor que espera dos alunos obediência, silencio e que este faça exatamente o que lhe foi solicitado. Vasconcellos (2000, p. 38) questiona: Que conceito de disciplina tem a maioria dos educadores? Geralmente, disciplina é entendida como a adequação do comportamento do aluno àquilo que o professor deseja. Só é considerado disciplinado o aluno que se comporta como o professor quer. A questão que poderia ser colocada é a seguinte: que comportamento deseja o professor? É frequente o desejo do professor que o aluno fique quieto, ouça as explicações que tem para dar, [...] se isto acontecer, sentir-se-á realizado. A concepção tradicional foi sucedida pela “escola nova”. Segundo Aranha (1996, p. 263), “a escola nova caracteriza-se por desenvolver a individualidade, a autonomia, o que só seria possível em uma escola não autoritária que permitisse ao educando aprender por si mesmo, a aprender fazendo”. Cabe ao professor hoje facilitar a aprendizagem do aluno, desafiar seus limites, oferecer outras maneiras de pensar, permitir questionamentos, fornecer materiais para o desenvolvimento do aluno, facilitar a comunicação interpessoal. Hoje o professor não deve se ater apenas ao que é considerado necessário, mas estimular a curiosidade e o interesse do aluno para todo o contexto (Suhr; Silva, 2010). No decorrer da ditadura militar, surgiu a concepção tecnicista de educação, que pretendia, segundo Suhr e Silva (2010): Tornar a escola mais eficiente e produtiva; Buscar a eficiência, a racionalidade e a produtividade; Obter respostas do que se espera. Enfim, era uma escola que deveria funcionar como uma empresa, sendo o processo produtivo modelo de qualidade e eficiência (Gazim et al., 2005). 7 1.1 Pedagogias Duas pedagogias tiveram um maior número de professores: pedagogia libertadora, de Paulo Freire, e pedagogia histórico-crítica, Dermeval Saviani. Para a pedagogia libertadora, que surgiu em 1950 e foi encabeçada por Freire, “o fundamental na educação é que os educandos se reconheçam enquanto sujeitos históricos-sociais, capazes de transformar a realidade” (Gazim et al., 2005, p. 49). Freire propõe uma educação problematizadora, conscientizadora, em que aluno e professor são companheiros. Porém, suas ideias foram pouco compreendidas e passou-se erroneamente a imagem de que a autoridade era algo tóxico na relação pedagógica (Suhr; Silva, 2010). A pedagogia histórico-crítica compreende a escola como espaço social, que possui uma articulação entre o ato pedagógico e o ato político. Ainda, de acordo com Suhr e Silva (2010), há, portanto, um saber pedagógico organizado e planejado, em que o professor é mediador entre aluno e conhecimento, tendo em mente o conhecimento prévio do discente. Caberá ao professor adequar situações de ensino adequadas aos diferentes níveis, em que o aluno supere o senso comum e avance no seu aperfeiçoamento afetivo, intelectual e potencial humano por meio do saber científico. 1.2 Educação acadêmica É preciso entender o papel da universidade hoje, a dimensão das relações do seu espaço, o significado dos seus conteúdos e de sua realização na sala de aula (Suhr; Silva, 2010, p. 70). O aluno deverá ser ativo, realizar estudo autônomo e buscar sua superação. Professor e aluno devem ser ativos na busca do conhecimento (Suhr; Silva, 2010). Foi analisado, nesse contexto, as diversas formas de ensino-aprendizagem já aplicadas – algumas com maior êxito, outras nem tanto –, porém, foram tentativas e acertos que se somaram às propostas pedagógicas atuais. Segundo Pimenta e Anastasiou (2005), são as seguintes ações que orientam a docência no ensino superior: Levar o aluno à conquista da sua autonomia para buscar o conhecimento; 8 Considerar o processo de ensinar e aprender como atividade integrada à investigação; Buscar, criar e recriar situações de aprendizagem; Reconhecer a avaliação diagnóstica e compreensiva de atividade mais do que a avaliação como domínio; Buscar conhecer o universo cognitivo e cultural dos alunos e, assim, desenvolver processos de ensino e aprendizagem interativos e participativos. A partir da segunda metade do século XX, tem ocorrido várias mudanças que exigem uma nova postura do ensino superior. Segundo Kuenzer (2001, p. 18), exige-se cada vez mais o [...] desenvolvimento de competências cognitivas superiores e de relacionamento, tais como análise, síntese, estabelecimento de relações, criação de soluções inovadores, rapidez de resposta, comunicação clara e precisa, interpretação e uso de diferentes formas de linguagem, capacidade para trabalhar em grupo, gerenciar processos para atingir metas, trabalhar com prioridades, avaliar, lidar com as diferenças, enfrentar os desafios das mudanças permanentes, resistir a pressões, desenvolver o raciocínio lógico-formal aliado à intuição criadora, buscar aprender permanentemente, e assim por diante. Diante disso, busca-se hoje um maior domínio por parte dos alunos nos caminhos do aprendizado. Segundo Masetto (2003, p. 14), o ensino superior percebe a necessidade de se abrir para o diálogo com outras fontes de produção de conhecimento e de pesquisa, e os professores já se reconhecem como não mais os únicos detentores do saber a ser transmitido, mas como um dos parceiros a quem compete compartilhar seus conhecimentos com outros e mesmo aprender com outros, inclusive com seus próprios alunos. É um novo mundo, uma nova perspectiva na relação entre o professor e o aluno no ensino superior. Segundo Suhr e Silva (2010), nessa nova realidade, o professor do ensino superior deve se aprofundar nodomínio dos conteúdos – os conteúdos são formas culturais primordiais para o exercício de uma profissão no futuro dos alunos do ensino superior. É necessário um desenvolvimento mental do indivíduo que aprende sobre o objeto a ser conhecido, mediado pelo docente. “O reconhecimento de que o papel do professor supera a mera transmissão de conceitos indica a presença de uma relação com o saber e com os estudantes na qual já não cabe mais na mera aula expositiva onde o aluno assume o papel passivo” (Suhr; Silva, 2010, p. 74). 9 Confirmando a necessidade da participação ativa do aluno na aprendizagem, Masetto (2003, p. 43) é elucidativo quando destaca que Aprendizagem significativa é aquela que envolve o aluno como pessoa, como um todo (ideias, sentimentos, culturas, valores, sociedade, profissão). Ela se dá quando: o que se propõe para aprender se relaciona com o universo de conhecimento, experiências e vivências de aprendiz; permite a formulação de perguntas e questões que de algum modo o interessem e o envolvam ou lhe digam respeito; lhe permite entrar em confronto experimental com problemas práticos de natureza ética, profissional que lhe são relevantes; permite e ajuda a transferir o aprendizado na universidade para outras circunstancias da vida; suscita modificações no comportamento e até mesmo na responsabilidade do aprendiz. Ainda, segundo Masetto, citado por Campos (2003, p. 1), há algumas técnicas em que o professor pode se apoiar para desenvolver mais amplamente a sua metodologia. Observe alguns pontos: Interação – Professores da mesma disciplina podem trocar ideias visando ao que melhor é necessário apresentar aos alunos. Fixação – Professor e alunos podem firmar um pacto no primeiro dia de aula, visando trabalharem em parceria, e para apurar as condições iniciais de seus alunos, o professor verifica seus conhecimentos prévios e interage para superar as dificuldades apresentadas. O professor pode, nessas condições, ministrar aulas expositivas, seminários, tarefas grupais, estudos de caso. Interação entre alunos – Por meio de debates, discussões e troca de conhecimentos entre os alunos, atinge-se um melhor estágio de assimilação do conteúdo aplicado. Monitoria – Para auxiliar o professor nas atividades de grupo, no planejamento e no feedback das atividades aplicadas. Snyders (1988, p. 14) ainda afirma que, “na escola, trata-se de conhecer alegrias diferentes que as da vida diária; coisas que sacodem, interpelam a partir do que os alunos mudarão algo em sua vida”. O que muitas vezes é desconsiderado pelos professores, é o conhecimento científico, porém, a formação continuada é de extrema importância para a docência. Muitos docentes têm dificuldade em transpor para seus alunos os conteúdos específicos em uma linguagem que seja apreendida pelos estudantes (Suhr; Silva, 2010). É importante destacar que em uma sala de aula em que o professor procura um melhor relacionamento interpessoal, o aluno não deve confundir esse contato 10 com o professor como uma simples amizade. Ele deve ser instigado ao diálogo, à interação, porém, não deve se esquecer de que o relacionamento com o professor tem um objetivo específico: a aprendizagem. Alguns alunos tendem a confundir seu bom relacionamento com o professor e acabam percorrendo um caminho de intimidade que não existe na realidade. Esse percalço pode comprometer o objetivo efetivo do professor e dificultar a aprendizagem e a comunicação em sala de aula. Suhr e Silva (2010, p. 78) esclarecem: Há diferentes grupos dentro da sala, pois os alunos se aproximam e/ou se afastam entre si dirigidos pelos preconceitos, vivências, saberes, afinidade. A ação dos alunos uns em relação aos outros e ao professor se pauta por estas percepções que refletem as relações de poder presentes na sociedade como um todo. É imprescindível que o aluno compreenda que o relacionamento com o professor está primeiramente ligado ao aprendizado. Seguido a este, pode vir a amizade, porém, sempre será uma relação de respeito e ordem. TEMA 2 – APRENDIZAGEM DO ADULTO A aprendizagem do adulto está ligada à experiência tanto profissional como pessoal. Assim, o modo de compreensão de cada um é singular, vai depender da sua vivência e motivação, as quais poderão influenciar positiva ou negativamente o nível de aprendizagem. Alguns alunos aprendem de maneira diferente; uns se adaptam mais à parte visual, outros à audição. Os alunos que têm a parte da visão mais desenvolvida apreciarão mais as aulas de vídeos, leituras e observação. Os alunos que têm a parte auditiva mais desenvolvida, aprenderão melhor com uma aula discursiva. Com base nessas constatações, pode-se afirmar que uma das habilidades que precisa ser desenvolvida pelo professor, visto que compõe as relações situacionais, é a de conhecer melhor os seus alunos. Observe a reflexão de Freire (2005, p. 97): A percepção que o aluno tem de mim não resulta exclusivamente de como atuo, mas também de como o aluno entende como atuo. Evidentemente não posso levar meus dias como professor a perguntar aos alunos o que acham de mim ou como me avaliam. Mas devo estar atento à leitura que fazem de minha atividade com eles. Precisamos aprender a compreender a significação de um silêncio, ou de um sorriso ou de uma retirada da sala. O tom menos cortês com que foi feita uma 11 pergunta. Afinal, o espaço pedagógico é um texto para ser constantemente lido, interpretado, escrito e reescrito. Suhr e Silva (2010, p. 83) afirmam que as relações interpessoais influenciam nas ações: “o amplo domínio de determinada área do conhecimento e o envolvimento com pesquisas não exclui o ‘ser humano professor’ de reações positivas ou negativas ao desenrolar dos contatos em sala de aula”. Assim, ainda continuam os autores: “o domínio do conhecimento e os procedimentos didáticos cuidadosamente planejados neutralizam situações coletivas de insatisfação por parte dos alunos” (Suhr; Silva, 2010, p. 83). Não existe uma receita básica para o bom entendimento entre o professor e aluno, porém, sabe-se que o uso de estratégias, uma aula planejada antecipadamente, uma discussão em torno do assunto discorrido, são fatores que abrem caminhos para uma relação interpessoal bem definida. É necessário que o professor crie a sua identidade profissional. Suhr e Silva (2010, p. 84), reforçam os elementos constitutivos da profissão docente: Formação acadêmica; Conceitos; Conteúdos específicos; Ideal; Objetivos; Regulamentação da ética. Relacionar-se com qualidade é um processo de aprendizado e construção para todos os envolvidos no processo educativo. TEMA 3 – ALTERNATIVAS NA SALA DE AULA A realidade nas salas de aula são, muitas vezes, grandes desafios a serem enfrentados. Há professores que não se comprometem com seus alunos, deixando de oferecer uma boa didática em sala de aula, e dificultam o aprendizado ou criam obstáculos para que o aluno explore o seu potencial. Vários são os motivos para que isso aconteça, mas tais ações infelizmente fazem parte do cotidiano do professor. Ao aluno também cabe sua parcela de responsabilidade para que a dificuldade no relacionamento interpessoal não interfira no aprendizado. 12 Observe alguns temas, segundo Suhr e Silva (2010, p. 94), que dizem respeito ao trabalho pedagógico no ensino superior: Domínio de estratégias de intervenção didática; Análise dos problemas de aprendizagem e desenvolvimento do aluno universitário; Desenvolvimento de habilidades e estratégias na comunicação; Desenvolvimento de habilidades de pesquisas; Formação de valores culturais e de ética profissional; Mobilização de atividades para relacionar teoria e prática. Segundo Suhr e Silva (2010, p. 95): Há questões que, embora aparentemente operacionais e advindas de regras preestabelecidas (entrega de trabalhos, atrasos em aula, materiais de apoio, notas, entre outras), possuem relação direta com valores e atitudes que envolvem ética, justiça, responsabilidade e respeito entre os partícipes no processo educativo. Os autores continuam: “é preciso ter clareza da concepção de sociedade e da educação que almejamos e, consequentemente, buscar a resposta sobre quais habilidades desejamos desenvolver em nossos alunos”. Para que se possa atenuar a preocupação a respeito de ser um bom professor ou não, é interessante, ocasionalmente, se questionar, como o exemplo que Suhr e Silva (2010, p. 95) citam: “Como desenvolver o potencial que o aluno adulto nos traz? Que aspectos consideramos essenciais no processo educativo? Qual será a atuação desse profissional no mercado de trabalho, considerando a formação acadêmica que ele teve?”. Muitas vezes, os professores estão envolvidos com as tarefas do dia a dia, não as consideram importante o suficiente, e deixam de solucionar algum conflito dentro da sala de aula. Nesse cenário, algum conflito ou questão que fosse de fácil resolução pode se agravar pela falta de enfrentamento. O professor deve estar ciente de que não deve ficar alheio às situações pedagógicas que exigem seu posicionamento, evitando, assim, problemas maiores no decorrer do processo (Suhr; Silva, 2010). Nossa sociedade ainda impõe muitas pressões aos professores: Horário de trabalho estendido; Formação continuada deficitária; Salários abaixo da expectativa. 13 Esses fatores, somados aos desajustes da sala de aula, podem levar o professor a atitudes inadequadas. No entanto, é imprescindível que o professor não se esqueça da faixa etária do aluno universitário, evitando assim as “chamadas de atenção” e os sermões, pois não são mais eficientes; quando necessário, o melhor é detectar o problema e resolvê-lo (Suhr; Silva, 2010, p. 96). TEMA 4 – RELAÇÕES INTERPESSOAIS POSITIVAS O planejamento criterioso no início do ano letivo, como a organização meticulosa do calendário de trabalho e do plano de ensino, com base nos itens que o compõem, como ementa, objetivos, estratégias, abordagem interdisciplinar, avaliação, entre outros, não assegura, por si só, um trabalho competente com os alunos (Suhr; Silva, 2010). Segundo Melo e Urbanetz (2009, p. 39): É para alcançar êxito na relação didática que o professor é levado a planejar a disciplina, de modo que possa viabilizar as ações durante um período suficiente para que ele e seus alunos, ambos conscientes do plano, possam melhor se posicionar com relação a este e às exigências que dele advêm, ou seja, o planejamento possui um caráter pragmático, que facilita e organiza a vida acadêmica de professores e alunos, servindo [...] de guia para o trabalho docente. O professor deve aproveitar as primeiras aulas do ano para esclarecer aos alunos como serão realizados o sistema de avaliação, o plano de ensino, e como serão desenvolvidos os trabalhos, os prazos de entregas das atividades etc. Masetto (2003, p. 50) afirma que esse diálogo inicial é o momento de envolver a classe na discussão de programação dos trabalhos que poderão se realizar. Ouvir as expectativas e necessidades dos alunos quanto ao que poderiam aprender naquela disciplina, conhecer seus interesses, identificar a falta de motivação, demonstrar a relação da disciplina com outras do curso e com a vida profissional, responder às dúvidas e outras questões que os alunos possam ter, saber se já ouviram falar do conteúdo da disciplina, que tópicos conhecem e de onde obtiveram essa informação. Apesar de os alunos estarem na fase adulta, eles não adentram o ensino superior com a autonomia desenvolvida, nem mesmo com os requisitos necessários para a realização do curso e com a compatível independência acadêmica (Suhr; Silva, 2010). Cabe ao professor ajustar o comportamento e a suscetibilidade do aluno, auxiliando-o a desenvolver seus potenciais e sua autonomia com parâmetros que o conduzam ao seu amadurecimento pessoal e profissional. 14 Pimenta e Anastasiou (2005, p. 238-239) deixam a sua contribuição: Sobre hábitos de estudo insuficientes, dificuldades de raciocínio e falta de tempo para estudar, é necessário deixar claro que aprender a estudar é sempre possível. Muitas vezes falta a orientação básica sobre como estudar um texto, como trabalhar com os modelos matemáticos, como encaminhar um trabalho, como consultar um fichário de biblioteca [...] É fundamental que o aluno desenvolva a sua autonomia em busca do seu potencial, indo ao encontro da sua intelectualidade por meio de seus estudos e pesquisas. Aprender a estudar é uma forma de alcançar a sua autossuficiência. TEMA 5 – POLÊMICA DA AVALIAÇÃO O sistema de avaliação vinculado a resultados é motivo de muita controvérsia em sala de aula. Suhr e Silva (2010, p. 99) afirmam que “os processos avaliativos no ensino superior apresentam fragilidades que não podem ser desconsideradas e, sem dúvida, refletem nas relações interpessoais que se constroem em sala de aula”. Os autores continuam: ainda que cercado por limites, é imprescindível que o professor tenha como horizonte a avaliação diagnóstica e que “leia” nos resultados dos alunos indicativos para uma autoavaliação. Concomitante a isso, é importante que os alunos tenham clareza dos instrumentos de avaliação da disciplina, critérios de correção, assim como do cálculo da nota da disciplina. (Suhr; Silva, 2010, p. 99) Quanto a trabalhos e provas, vale deixar claro as indicações. Trabalhos: organização em equipes, procedimentos para apresentação oral, esclarecer data para entrega de trabalhos escritos, extensão ou não de prazos, informar como será a composição de notas dos trabalhos e a exigência das normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Provas: agendamento prévio e indicação do conteúdo a ser avaliado, que deve ser expressões das atividades realizadas em sala de aula, fruto dos registros, das discussões, das leituras, dos conceitos aprofundados e das relações estabelecidas entre a teoria e a prática. Em se falando de uma turma de adultos, parece tão desnecessário esse tipo de informação, mas o cotidiano das salas de aula apresenta o contrário. Situações como a entrada após o início da aula, saídas antes do término da aula, faltas – com abono, com justificativa, sem justificativa, por motivo de trabalho ou 15 problemas na família – segunda chamada de avaliação, são questões relacionadas a esse assunto. O importante para que tudo ocorra de forma tranquila é respeitar os acordos feitos inicialmente (como foi dito, nos primeiros dias do ano letivo) (Suhr; Silva, 2010). Atitudes inadequadas, como conversas, respostas agressivas, o uso do celular em sala de aula, perguntas para desestabilizar a aula e afronta ou desrespeito aos colegas/professor são atitudes que não condizem com uma turma de adultos e ao convívio social. Cabe ao professor equilíbrio e sensatez para a resolução dessas questões, usando de destreza para tomar a atitude certa na hora certa. Uma boa regra é “elogiar em público e repreender em espaço privado individualmente” (Suhr; Silva, 2010). O professor deve ser o mentor de todas as situações, ele é o profissional em meio aos aprendizes. E, como lembra Freire, é preciso reinsistir em que não se pense que a prática educativa vivida com afetividade e alegria, prescindada formação científica séria e da clareza política dos educadores ou educadoras. A prática educativa é tudo isso: afetividade, alegria, capacidade científica, domínio técnico a serviço da mudança. (Freire, 1996, p. 161) Enfim, a paixão pela docência está na alma do educador, seu comprometimento e doação pela profissão garantem o seu diferencial. FINALIZANDO Como vimos nesta aula, a profissão de educador é muito abrangente e atinge âmbitos, às vezes, surpreendentes. Sua função percorre caminhos muito além do ensino: por exemplo, fomentar dentro da sala de aula o trabalho em grupo, com o intuito do aprender e de desenvolver o aluno cuja timidez e falta de autonomia limita sua busca por conhecimentos. Pudemos estudar, nesta aula, vários temas interessantes que com certeza somarão na formação do educador. Todo professor deve ter a consciência de que seu trabalho não é unidirecional, assim ele tem o compromisso que vai muito além do ensinar: ele forma valores éticos e culturais também. 16 LEITURA OBRIGATÓRIA Texto de abordagem teórica Capítulo 3, “Avaliação: uma questão de bom senso”, do livro Avaliação planejada, aprendizagem consentida, de Ivo José Both, publicado pela Editora InterSaberes. Texto de abordagem prática PAIVA, M. L. M. F.; DEL PRETTE, Z. A. P. Crenças docentes e implicações para o processo de ensino-aprendizagem. Psicol. Esc. Educ., Campinas, v. 13, n. 1, p. 75-85, jun. 2009. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S1413-85572009000100009&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 8 jul. 2018. Saiba mais MARIO Sergio Cortella – A relação entre professor e aluno. Disponível em: <http://mariosergiocortella.com/relacao-professor-e-aluno-por-mario-sergio- cortella/>. Acesso em: 8 jul. 2018. 17 REFERÊNCIAS ARANHA, M. L. História da educação. 2. ed. São Paulo: Moderna, 1996. CAMPOS, C. T. P. Competência pedagógica do professor universitário. São Paulo: [S.n.], 2003. FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 7. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996. GAZIM, E. et al. Tendências pedagógicas brasileiras: contribuições para o debate. Revista Chão da Escola, Curitiba, n. 4, p. 41-52, out. 2005. KUENZER, A. Z. O que muda no cotidiano da sala de aula universitária com as mudanças no mundo do trabalho? In: Castanho, S.; CASTANHO, E. M. Temas e textos em metodologia do ensino superior. Campinas: Papirus, 2001. LIBANEO, C. J. Democratização da escola pública: a pedagogia crítico-social dos conteúdos. 9. ed. São Paulo: Loyola, 1990. MASETTO, T. M. Competências pedagógicas do professor universitário. São Paulo: Summus, 2003. 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