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1 ASSOCIAÇÃO DE ENSINO SUPERIOR – UNICARIOCA KATHERINE FRAGA SERPA MIRIAN FRANCISCO DA SILVA PRISCILA MARTINS COELHO PRISCILLA CHAGAS F. DA SILVA SAMIRA MARTINS AGUIAR HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO (T823): A EDUCAÇÃO NO CONTEXTO DA DITADURA CIVIL – MILITAR NO BRASIL Rio de Janeiro 2019.2 2 O contexto Educacional na conjuntura da Ditadura Civil-Militar brasileira (1964–1985): O regime militar no Brasil ficou caracterizado pela presença de um Estado burocrático e uma doutrina de segurança nacional. Além disso, existia um forte consenso anticomunista e uma “demonização” dos governos populistas antecessores. Dentro desse panorama, devemos considerar também, as ações repressivas que reproduziram centenas de mortes e um número ainda maior de torturados. A implementação de um Estado autoritário, a partir de 1964, teve também transformações significativas na área educacional. O modelo político tinha como alicerce fundamental um projeto desenvolvimentista que buscava acelerar o crescimento socioeconômico do país. Dentro desse contexto, a educação vai ter um papel importante para adequar o capital humano às necessidades advindas da crescente industrialização (educação tecnicista). Entre os anos de 1964 e 1968, os presidentes militares fizeram acordos entre o Ministério da Educação (MEC) e a United States International for Development (USAID), o que propiciou reformas significativas na área educacional. A partir desses acordos entre o MEC e USAID, foram implementadas medidas que visavam o fortalecimento do ensino primário e aperfeiçoamento do ensino médio, bem como um projeto de modernização universitária. Os acordos entre o MEC e USAID, justificados pela crise no setor de educação, resultaram em uma dependência técnica e financeira da política educacional brasileira em relação aos americanos, sendo assim, o novo sistema educacional possui um tom autoritário e domesticador, possuindo os seguintes pilares ideológicos: educação e desenvolvimento; educação e segurança; educação e comunidade. As escolas do regime militar aumentaram a disparidade entre quem planeja e quem executa, as ciências humanas tiveram o seu papel reduzido, além disso, era possível observar um engessamento do senso crítico e do desenvolvimento da relação professor-aluno. Dessa forma, o ensino deveria se orientar visando o desenvolvimento científico e tecnológico, resultando no cientificismo, isso produziu uma visão restrita onde a ciência exata se configura como o único saber válido. A educação tecnicista é orientada pelos ideias do racionalismo que objetiva alcançar organização e eficiência. Nesse modelo de educação, o ensino é adaptado a uma concepção taylorista fazendo com que o trabalho pedagógico se volte para a organização racional e operacionalização das objetividades desejadas. O educador dessa forma, é mero 3 instrumento e executor dos objetivos institucionais, sendo a alienação entre teoria e prática cada vez mais fortalecida. O contexto educacional em 1964 sugere uma educação voltada para o mundo do trabalho, onde as áreas de ensino servem como instrumento ideológico e doutrinário da sociedade. Sendo assim, surge a necessidade de formar mais professores e “cursos de licenciatura curto” começam a ser implementados. Durante o período destacam-se mudanças no ensino do 1º e 2º graus, bem como um projeto que visava integrar a realidade acadêmica à vida econômica nacional. Nesse contexto, é necessário criar uma alternativa em relação às universidades, o que resultou em cursos profissionalizantes de nível médio (escolas polivalentes). As reformas do ensino do 1º e 2º graus aumentaram de quatro para oito anos a obrigatoriedade de permanência na escola, além disso, é feita a integração do antigo primário ao ginasial. Em relação ao currículo, existia um núcleo obrigatório comum constituído pelas disciplinas de Educação Moral e Cívica, Educação Física, Educação Artística, Programas de Saúde e Religião (obrigatória para a escola e optativa para o aluno) e o outro núcleo era voltado para a formação profissional. Observa-se também que esse núcleo obrigatório comum resultou em prejuízos inestimáveis à educação ao não incluir disciplinas como: Sociologia e Filosofia, bem como a junção entre História e Geografia. Dessa forma, podemos compreender que a educação durante o período militar foi marcada pela doutrinação nos currículos escolares, perseguição e repressão à lideranças estudantis, além de grande exaltação ao nacionalismo e ao civismo. Durante esse período obscuro da história brasileira, a educação era mera ferramenta para fortalecer o ideal do regime, sendo a liberdade de expressão, o pensamento crítico e qualquer forma de questionamento consideradas como uma postura subversiva que deveria ser duramente reprimida. É preciso destacar também que muitas pesquisas estão sendo feitas com o objetivo de problematizar e rever a histografia do golpe civil-militar de 1964 e consequente instalação desse regime, entretanto, muitas fontes continuam ocultas ou são liberadas aos pesquisadores de maneira lenta, o que dificulta o andamento desses trabalhos. 4 Reforma Universitária na Ditadura Civil-Militar: Para o regime militar era muito preocupante notícias de cunho político e social que mostrassem o Brasil de fato, como por exemplo, todos os atos repressivos; a reação da esquerda, assaltos a bancos, sequestros, organização em guerrilhas e as condições desumanas em que viviam muitos trabalhadores. Eram notícias que, de certo modo, difamariam a imagem de um regime instaurado, que pregou a transformação, a elevação da condição social dos brasileiros, sendo assim, essas informações serem veiculadas. Exemplo disso, forma os atos repressivos contra políticos, intelectuais, artistas e estudantes, que a questão a ser proibida ou controlada era a política e o social, pois não se aceitava contestações ou atitudes contrárias. E foi com esse pano de fundo que o governo edificou e autorizou as reformas educacionais, sendo elas a Reforma Universitária (4.024/68) e a Reforma do 1° e 2° graus (5.692/71). [...] ao se revestir de legalidade [Lei n° 5.540/68 e do Decreto 464/69], possibilitou o completo aniquilamento, por parte do Estado de Segurança Nacional, do movimento social e político dos estudantes e de outros setores da sociedade civil. A ordem foi restabelecida mediante a centralização das decisões pelo Executivo, transformando a autonomia universitária em mera ficção, bem como pelo uso e abuso da repressão político-ideológica. A institucionalização das triagens ideológicas, a cassação de professores e alunos, a censura ao ensino, a subordinação direta dos reitores ao Presidente da República, as intervenções militares em instituições universitárias, o Decreto-lei 477/69 como extensão do AI-5 ao âmbito específico da educação e a criação de uma verdadeira polícia-política no interior das universidades, corporificada nas denominadas Assessorias de Segurança e Informações (ASI), atestam o avassalador controle exercido pelo Estado Militar sobre o Ensino. Essa reforma deu-se, além de manter certos limites aos “subversivos” e o movimento estudantil no âmbito das universidades, no momento em que a educação foi compreendida, pelos militares, como um importante mecanismo de transmissão da ideologia estabelecida pela Escola Superior de Guerra calcada nos princípios de Segurança Nacional. 5 Por que a educação é mais transformadora em regimes democráticos? O regime militar volta-se para uma modalidade de educação bancária, como diria PauloFreire. Esse modelo educacional, ao fortalecer a reprodução de automatismos, leva a mera repetição de saberes e, consequentemente, restringe de maneira significativa o potencial psicológico, humano e social inerente à educação. O ensino técnico ensina a ler, mas não a interpretar, bem como faz com que o aluno retenha informações sem dar opção do mesmo ser construtor do seu próprio conhecimento, sendo assim, na prática, temos um contingente populacional inerte pois é desconhecedor das ferramentas capazes de transformar a realidade social na qual se inserem. A educação dessa maneira é mais transformadora em regimes democráticos pois privilegia o questionamento e o desenvolvimento do senso crítico, além disso produz um sentimento de incômodo perante as desigualdades econômicas e sociais que assolam o país. Não há transformação significativa sem educação humanizadora, só uma educação voltada e centrada no humano é capaz de olhar para as mazelas sociais sem privilegiar uma visão fatalista e conformada. Os regimes democráticos são muito importantes pois optam por um modelo de educação libertadora (problematizadora), ou seja, existe uma renúncia da fragmentação do conhecimento enquanto predomina um esforço sincero pela lógica planetária. Essa postura é muito importante, porque uma educação dualista que se serve de uma visão fatalista de mundo só servirá para aumentar a disparidade entre quem produz e que consome, entre dominantes e dominados. Sendo assim, a educação é mais transformadora em regimes democráticos porque a autoridade, diferente do autoritarismo, estabelece limites sem traumas, onde é possível ver as diferenças como um fator agregador e propulsor de mudanças ao invés de a colocar meramente como um instrumento que rompe a harmonia da estrutura social. 6 Referências bibliográficas: FONSECA, Bianca Trindade. REFLEXÕES ACERCA DA EDUCAÇÃO DURANTE A DITADURA MILITAR BRASILEIRA (1964-1985). Disponível em: https://monografias.brasilescola.uol.com.br/educacao/reflexoes-acerca-educacao-durante- ditadura-militar.htm. Acesso em: 15 de outubro de 2019. MOTTA, Rodrigo Patto Sá. A ditadura que mudou o Brasil: 50 anos do golpe militar de 1964. In: A modernização autoritária-conservadora nas universidades e a influência da cultura política (pág. 48 – 65). TORRES, Paulo Magno da Costa. Como era a educação na ditadura militar. Disponível em: https://www.coladaweb.com/historia-do-brasil/como-era-a-educacao-na-ditadura- militar. Acesso em: 15 de outubro de 2019. https://monografias.brasilescola.uol.com.br/educacao/a-reestruturacao-ensino-superior- no-regime-militar-.htm. Acesso em 22 de outubro de 2019.
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