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3 CONTESTAÇÃO COM RECONVENÇÃO

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LEANDRO MOREIRA DA LUZ OAB/PR n°. 00001
Avenida: Goioerê, 1980, Campo Mourão (PR). Mobile: (44) 9999-81001. E-mail: professorleandromoreira@gmail.com
MERITÍSSIMO JUÍZO DA PRIMEIRA VARA CÍVEL DA COMARCA DE CAMPO MOURÃO-PR
Autos: 0005432-44.2016.8.16.0018
ALEXANDRA GOMES DE LIMA, já qualificada nos autos da ação de cobrança n° 0005432-44.2016.8.16.0018 que lhe move J.C. SANCHES & VIEIRA LTDA – ME, igualmente qualificada, por intermédio de seu procurador judicial, advogado regularmente inscrito na OAB-PR sob o n° 00001, com escritório profissional na Avenida Goioerê, 1980, apto 203, Centro, Campo Mourão-PR, e-mail: professorleandromoreira@mail.com, onde recebe notificações e intimações, vêm com fundamento nos artigos 335 do Código Civil apresentar tempestivamente:
	contestação com reconvenção
pelos fatos e fundamentos a seguir, aduzidos.
	FATOS
Dos Fatos
A Requerida está sendo cobrada por uma dívida de R$ 100.000,00 (cem mil reais) referente às compras de materiais realizadas em 15/09/2012 para a construção de casas geminadas.
Referida ação ajuizada pelo Requerente foi autuada sob n° 0005432-44.2016.8.16.0018 e foi instruída por 5 (cinco) cheques no valor de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) cujas datas pré-datadas foram as seguintes:
15 de outubro de 2012;
15 de novembro de 2012;
15 de dezembro de 2012;
15 de janeiro de 2013; e
15 de fevereiro de 2013.
A ação foi ajuizada em 16/02/2018.
Importante se faz observar nos autos que os cheques não foram assinados pela Requerente.
E, além disso, esta conta já foi quitada. A requerente apresenta recibo de quitação no valor da dívida, assinado pelo sócio da empresa Requerente, João Carlos Sanches Vieira - anexo.
	 2. PRELIMINARMENTE 
Da prejudicial de mérito
Requer a Requerida a aplicação da prescrição quinquenal conforme o artigo 206, § 5°, I, do Código Civil (CCB):
Art. 206. Prescreve
[...]
§ 5° Em cinco anos
I – a pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes de instrumento público ou particular.
Nos termos e documentos da inicial observa-se que o último cheque pré-datado tem como data o dia 15/02/2013, e a ação proposta no dia 16/02/2018, ou seja, a prescrição quinquenal se deu um dia antes da propositura da ação.
Outro fator importante a frisar refere-se à Lei 7.357, de 2 de setembro de 1985, a “Lei do Cheque”. 
No Capítulo X “Da Prescrição”, art. 59, na referida lei pode ser constatado que:
Art. 59. Prescrevem em 6 (seis) meses, contados da expiração do prazo de apresentação, a ação que o art. 47 desta Lei assegura ao portador.
	
Como se pode ver, não é mais assegurada ao portador do cheque com prazo superior a 6 (meses) a promoção da execução – art. 47 da lei Lei 7.357/85.
Portanto, nos termos do artigo 487, II, do Código de Processo Civil, requer a extinção do feito com resolução de mérito.
Caso vossa excelência não entenda a prejudicial de mérito alegada, o que não se espera, passa-se então à análise do mérito da demanda.
	3. DO MÉRITO 
Da inexistência da obrigação
Inicialmente, apresenta-se o que o artigo 940 do Código Civil dispõe:
Art. 940. Aquele que demandar por dívida já paga, no todo ou em parte, sem ressalvar as quantias recebias ou pedir mais do que for devido, ficará obrigado a pagar ao devedor, no primeiro caso, o dobro do que houver cobrado e, no segundo, o equivalente que dele se exigir, salvo se houver prescrição.
Exatamente o que ocorreu nos autos. Pois se verifica claramente no recibo apresentado nesta contestação, que a integralidade da dívida já foi paga, nos moldes acertados e diretamente para o Requerente.
Maria Helena Diniz, em sua doutrina jurídica expressa no seu entender que 
Esse artigo estabelece uma sanção civil de direito material ou substantivo, e não de direito formal ou adjetivo contra demandantes abusivos. Trata da responsabilidade civil do demandante por dívida já solvida, punindo o ato ilícito da cobrança indébita. Essa responsabilidade civil constitui uma sanção civil, por decorrer de infração de norma de direito privado, cujo objetivo é o interesse particular e, em sua natureza, é compensatória, por abranger reparação de dano, sendo uma forma de liquidação do prejuízo decorrente de cobrança indevida. Por isto tem dupla função: garantir o direito do lesado à segurança, protegendo-o contra exigências descabidas e servir de meio de reparar o dano, exonerando o lesado do ônus de provar a ocorrência da lesão�.
Nesta perspectiva, o posicionamento doutrinário tem evoluído para rechaçar a hipótese incabível de cobranças indébitas. 
Também, neste diapasão, tem se inclinado as Decisões dos Tribunais:
Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. EXECUÇÃO DE TÍTULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL. CHEQUE. PRELIMINARES AFASTADAS. COBRANÇA DE DÍVIDAS JÁ PARCIALMENTE ADIMPLIDA. PENALIDADE DO ART. 940 DO CÓDIGO CIVIL. MÁ-FÉ CONFIGURADA. INSISTÊNCIA DOS AUTORES, NA RÉPLICA, EM COBRAR DÍVIDA COMPROVADAMENTE PAGA DE MANEIRA PARCIAL. HONORÁRIOS CORRETAMENTE ARBITRADOS SOBRE O VALOR DA CONDENAÇÃO. RECURSO NÃO PROVIDO. SENTENÇA MANTIDA. (TJ-BA – Apelação APL 00002438120008050113 (TJ-BA) RS, Relator: Sandra Inês Moraes Rusciolelli Azevedo, Terceira Câmara Cível, Data de Julgamento: 30/05/2014, Quarta Turma Recursal Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 03/04/2018).
Considerando as normas jurídicas vigentes, a doutrina nacional e, mormente, o posicionamento do TJ-BA, fica claro aqui o não cabimento de cobrança de despesas indevidas e, também, a penalidade referente ao art. 940 do CCB.
Da falsidade documental
O Requerido teve contra si aforada a ação supracitada, onde o Requerente pretende exercer cobrança de cheques que não foram assinados por ela. Inobstante, dito documento contém falsidade material, posto que as assinaturas presentes nos cheques não pertencem à Requerida.
O artigo 298, caput do Código Penal (CP), neste contexto, dispõe: 
Art. 298. Falsificar, no todo ou em parte, documento particular ou alterar documento particular verdadeiro:
Pena – reclusão, de um a cinco anos e multa.
Assim visando comprovar a falsidade dos referidos documentos, requer que seja promovido, no mesmo, exame pericial, citando-se o Requerente para responder aos termos da presente arguição, pronunciando-se quando a mesma, se quiser, no prazo da lei.
Requer seja suspenso o curso do processo até sentença que julgue o incidente e reconheça a falsidade do documento antes apontado, condenando-se o autor no pagamento das despesas a que deu origem, de acordo e na forma da lei.
Requer, outrossim, sejam extraídas cópias do presente processo e remetidas ao Ministério Público para que sejam tomadas as medidas criminais cabíveis.
	4. DA RECONVENÇÃO
Da reconvenção: repetição do indébito
O autor da ação alega ser credor do valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais) cristalizados em cinco cheques pós-datados no valor de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) cada.
No entanto, a pretensão autoral não prospera, tendo em vista que a ré reconvinte comprova nos autos que a dívida já fora paga – cfe recibo de quitação anexo.
Como supracitado, o art. 940 do Código Civil Brasileiro é pontual quando impõe a um demandante que pede algo que já foi pago, seja no todo ou em parte, ou pedir mais que o devido, a obrigação de pagar ao devedor o dobro do que houver cobrado e, segunda hipótese, o equivalente do que dele indevidamente exigiu.
Além do mais, resta comprovada, conforme documento anexo, a má-fé do Requerido em buscar a Justiça para exigir um valor do qual não tem direito. E se, para tanto, não for suficiente, e se fizer necessário abrir mais ainda a ideia de má fé, explicitando ato ilícito pautado pelo abuso do direito, toma-se aqui as palavras do jurista e Procurador do Ministério Público do Estado de Minas Gerais, Nelson Rosenvald: 
Não incide violação formal a uma norma, porém um desvio do agente às suas finalidades sociais (art.5º da LICC), mediante a prática de uma conduta que ofenda os limites materiais impostos pelo ordenamento jurídico [...] Isto é, enquanto o ato ilícito subjetivo é um ato ilegal, pois o infrator viola efetivamente uma regra, no abuso do direito, o agente aparentemente exerce um direito subjetivo de sua titularidade, mas, em verdade, ultrapassa os limites éticos para os quais ele foi concedido pelo ordenamento, ao infringir a sua função social. Não pratica propriamente um ato ilegal, mas antijurídico, pois todo direito é concedido para a realização de uma finalidade socialmente satisfatória, e não para o atendimento de pretensões egoísticas, em detrimento das expectativas coletivas de realização do Direito [grifo nosso]�.
Vale ressaltar que cabe ao Estado, dentro de sua função jurisdicional, exercer a pretensão punitiva para preservar a segurança jurídica defendida pelo art. 5° da nossa Constituição Federal.
Nesta toada, para se cumprir a pretensão de um conceito fundamental do nosso Direito, vale cumprir, do mesmo modo, a pretensão formulada no art. 940 do Código Civil. Trocando em miúdos, corre o risco aqui de ser írrito o não destaque aos pensamentos do exímio jurista José de Aguiar Dias, ao qual se manifesta nas palavras:
“O art. 940 é harmonioso com o sistema do Código Civil brasileiro e não era necessário que o viesse declarar. O que fez – para resultar, afinal, na confusão que o julgou uma exceção a esse sistema – foi estabelecer indenização especial, previamente liquidada, para o caso da cobrança indevida. Tivesse o Código, por um desses excessos verbais em que cai freqüentemente o legislador melhor informado, na preocupação de prevenir toda a casuística possível, tivesse o Código, ao estabelecer o art. 940, especificado apenas um exemplo a arrolar entre os outros aos ilícitos de que trata o Título III do Livro II, deixando que a liquidação do dano se fizesse pelo sistema comum, e não haveria – perece-nos – nenhuma discrepância na interpretação: ninguém exigiria da vítima da cobrança indébita prova de malícia do autor. Bastaria que se caracterizasse a sua leviandade, negligência ou imprudência, para que surgisse a sua responsabilidade, porque não há princípio nem argumento capaz de justificar a opinião de que existe, em favor do que cobra dívida já paga, esse privilégio inexplicável, pelo qual possa impunemente agir de certa forma que, demonstrada no procedimento de qualquer outro agente – patrão, motorista, pai, médico etc., - dá lugar à obrigação de reparar. Nós vamos além. Consideramos que existe uma presunção júris tantum contra o autor da cobrança, cabendo-lhe demonstrar que o seu erro é escusável, para que escape ao dever de reparar [grifo nosso]�
É oferecido aqui, também, o entendimento jurisprudencial acerca do tema em pauta, coadunando com o entendimento doutrinário já exposto. 
Todo entendimento até então apresentado foi brilhantemente utilizado pelo Relator César Loyola, da 2a Turma Recursal do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, na Apelação Cível n° 2006.09.1.013221-9, conforme transcrito abaixo:
Ementa: CIVIL. COBRANÇA INDEVIDA DE DÍVIDA. REPETIÇÃO DO INDEBITO EM DOBRO. CÓDIGO CIVIL – ARTIGO 940. LITIGÂNCIA DE MÁ FÉ. CONSTATAÇÃO. Não constitui exercício regular de direito a cobrança judicial feita de forma precipitada e descuidada, de dívida cujo pagamento poderia ter sido facilmente constatado pelo exame do extrato bancário. Ao contrário do sistema do Código de Defesa do Consumidor, a condenação a devolver em dobro o que foi indevidamente cobrado, com fundamento no artigo 940 do Código Civil, não reclama que tenha havido o pagamento, basta, como decorre dos próprios termos do referido dispositivo legal, demandar por dívida já paga. A análise do caso concreto evidencia que o recorrente agiu mesmo com vontade livre e consciente de praticar uma das condutas descritas no artigo 17, do Código de Processo Civil, pois a prova do adimplemento da obrigação estava facilmente ao seu alcance e, no Juízo de origem chegou a alegar, sem fundamento em provas, que a recorrida tinha fraudado os depósitos, ao entregar, no caixa eletrônico do banco, envelopes sem o respectivo valor. Recurso conhecido e não provido, condenando-se o recorrente nas custas e honorários, estes arbitrados em 15% (quinze por cento) do valor da condenação. (TJDFT – Proc. nº 2006.09.1.013221-9 – 2ª Turma Recursal – Relator César Loyola – Publicação em 04/05/2009.)
Portanto, de forma conclusiva, o reconhecimento, bem como a aplicação, em seu inteiro teor, do art. 940 do Código Civil Brasileiro, deve levar à condenação ao demandante, a pagar ao demandado o dobro do que houver exigido. 
Dessa forma, requer a condenação do Requerido no pagamento do quantum de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais) face à aplicação legal do art. 940 do Código Civil Brasileiro.
	 5. DOS PEDIDOS
Diante do exposto requer digne-se o Juiz em reconvenção:
Seja julgado IMPROCEDENTE os pedidos da presente ação inicial;
Haja o reconhecimento da prescrição e, também, a extinção do feito com resolução de mérito;
Requer a expedição de ofício para a 16a SDP/Civil para a instauração de inquérito policial para a apuração do crime de falsidade;
Requer a condenação da autora/reconvinda ao pagamento de indenização correspondente ao dobro do valor cobrado na peça de ingresso, ou seja, no valor de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais);
Pede-se a condenação da autora ao pagamento de todas as despesas processuais e aos honorários advocatícios nos termos do art. 85, § 2°, CPC; e
A dispensa da realização de Audiência de conciliação, conforme protocolo de pedido de dispensa – anexo;
Atribui-se a reconvenção o valor de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais).
Requer, igualmente, a condenação do Reconvindo no pagamento das despesas processuais e honorários advocatícios em relação à reconvenção.
Protestando provar o alegado por todos os meios de prova, especialmente pelo depoimento pessoal do Reclamante e do Reconvindo sob pena de confissão, oitiva de testemunhas e demais provas pertinentes ao deslinde da questão.
Pede deferimento.
Campo Mourão, 17 de Abril de 2018.
Advogado
OAB 00001
Rol de documentos:
Procuração;
� DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. 11a ed. São Paulo: Saraiva, 1996, p. 594.
� ROSENVALD, Nelson. Direito das Obrigações. 3ª Ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2004, p. 39. 
� DIAS, José de Aguiar. Da responsabilidade civil. 11ª Ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2006, p. 672-674.
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