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4.6 Pluralidade de Partes (ou Litisconsórcio) 
 
a) Conceito e previsão legal 
É o fenômeno processual consistente na pluralidade de partes litigantes no mesmo 
pólo da relação processual, ou seja, a possibilidade de duas ou mais pessoas litigarem, no 
mesmo processo, em conjunto, ativa ou passivamente. 
De acordo com o art. 113 do NCPC, isso é possível quando: 
I - entre elas houver comunhão de direitos ou de obrigação relativamente à lide => aqui é o 
direito material, que lhes são comuns que vai permitir a formação do litisconsórcio. Ex: 
solidariedade ativa ou passiva, vários credores solidários acionam do mesmo devedor, ou 
vários devedores solidários sendo acionados pelo credor comum. 
 
II) entre as causas houver conexão pelo pedido ou pela causa de pedir => basta a coincidência 
com o objeto ou com a causa de pedir. Isso para evitar decisões contraditórias e também por 
razão de economia processual. Ex. vítimas de um mesmo acidente automobilístico 
demandando contra o responsável por perdas e danos. 
 
III) ocorrer afinidade de questão por um ponto comum de fato ou de direito => não se trata do 
mesmo fato, mas de fatos semelhantes, análogos. Ex: Ações de cobrança movida pelo síndico 
de condomínio em face de dois ou mais condôminos. 
 
b) Espécies de litisconsórcio: 
 
b.1) quanto ao número de litigantes: 
- ativo: mais de um litigante no pólo ativo (A, B x C); 
- passivo: mais de um litigante no pólo passivo (A x B,C); 
- misto: mais de um litigante em ambos os pólos do processo (A, B x C,D). 
 
b.2) quanto ao momento em que se forma: 
- inicial: concomitante com o processo - é a regra; 
- ulterior: se forma no curso do processo. Ex: aquele que ocorre quando falece uma parte e se 
habitam vários herdeiros, em sucessão causa mortis. 
 
 
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b.3) quanto à uniformidade da decisão para os litigantes: 
- unitário: quando a decisão deva ser dada de modo uniforme para todos os litisconsortes. Isso 
ocorre pelo fato de os litisconsortes participarem da mesma relação jurídica material cujo 
objeto seja indivisível. Ex: dois proprietários de uma vaca; ação reivindicatória por pessoas 
casadas em regime de comunhão; ação de obrigação de fazer contra dois arquitetos 
contratados para elaborar um projeto. 
- simples: quando a decisão não tenha que ser uniforme para todos os litisconsorciados. 
 
Interpretando o art. 117 do NCPC, conclui-se que, no litisconsórcio simples, cada um é 
considerado como litigante distinto (as condutas de um não beneficiam nem prejudicam o 
outro); não se podendo afirmar o mesmo em relação ao litisconsórcio unitário, onde os atos e 
as omissões de um não prejudicam os outros, mas podem beneficiar. 
 
b.4) quanto à obrigatoriedade de sua formação: 
- necessário: quando somente se pode formar validamente o processo com a presença de todos 
os litisconsortes no processo. Sua formação é obrigatória. De acordo com o art. 114 do NCPC, 
isso ocorrerá quando: 
 a lei prever (Ex: art. 73, §1º, NCPC – cônjuges nas ações ali previstas); 
 a relação jurídica controvertida assim exigir: é o caso do litisconsórcio unitário 
(se a decisão deva ser dada de modo uniforme a todos os litisconsortes, por 
consequência, a sua formação é obrigatória). 
 
Conclui-se, assim, que todo litisconsórcio unitário é necessário1, mas nem todo 
litisconsórcio necessário é unitário. É possível que ele seja necessário e simples (Ex:. 
usucapião – a ação é necessariamente promovida contra o proprietário do bem usucapiendo e 
seus confrontantes, mas a decisão será diversa para cada qual deles). 
 
- facultativo (art. 113): é contrário ao necessário, ou seja, é aquele cuja formação não é 
obrigatória; é determinado pelas partes por razões de economia processual. Isso significa que, 
 
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 Exemplo de litisconsórcio unitário e facultativo seria nas ações coletivas (ação popular, ação civil pública etc) 
em que os co-legitimados, apesar de poderem ou não se consorciarem no pólo ativo (Ex: MP e Defensoria 
Pública), estão em substituição processual defendendo o direito do mesmo substituído, a coletividade. Ora, a 
decisão, nesse caso, deve ser a mesma a todos aqueles que pertencem à coletividade (não é possível, por 
exemplo, garantir a proteção ao meio ambiente a uns, e não a outros, pertencentes ao mesmo grupo). 
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se o autor preferir, poderá entrar sozinho com sua ação ou demandar contra cada réu 
separadamente em ação distintas. 
ATENÇÃO: Vale registrar que não existe litisconsórcio necessário ATIVO, mas só 
passivo, pois ninguém é obrigado a ir a juízo juntamente com o outro, sob pena de violação ao 
princípio constitucional do acesso ao Judiciário (ademais, o direito de ação é uma faculdade 
para o seu titular). Por outro lado, quanto ao litisconsórcio simples, poderá este ser ativo ou 
passivo. 
 
c) Limitação do número de litigantes (litisconsórcio multitudinário) 
 
De acordo com o §1º do art. 113, o juiz poderá, de ofício ou a requerimento, limitar o 
número de litigantes, na fase de conhecimento, na liquidação de sentença ou na execução, 
quando este comprometer a rápida solução do litígio ou dificultar a defesa ou o cumprimento 
da sentença. 
Obviamente que essa limitação só pode ocorrer no litisconsórcio facultativo, e o 
pedido de limitação INTERROMPE o prazo para a resposta, que só recomeçará a fluir da 
intimação da decisão que o solucionar (art. 113 §2º). 
Mas, enfim, o que o referido dispositivo prevê é o DESMENBRAMENTO do processo 
com litisconsórcio multitudinário em tantos outros processos, que continuarão a tramitar no 
mesmo juízo, em conexão. 
 
d) Contagem de prazo processual para litisconsortes passivos: 
 
- a partir da juntada do último AR ou do último mandado citatório cumprido (art. 231, §1º); 
- aplicação do artigo 229 (prazo em dobro se os litisconsortes estiverem litigando com 
advogados diferentes pertencentes a escritórios de advocacia distintos), salvo embargos do 
executado (artigo 915, § 3º, NCPC).

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